Capítulo 8 – Um batedor para o Chuddley Cannons
O mês de outubro passou depressa. A festa de Dia das Bruxas serviu para que aquele grupinho que volta e meia aumentava esquecesse um pouco das atrocidades do mundo e se divertisse. Pedrinho, como sempre, passou mal no fim da festa, de tanto que comeu; Lupin ficou bastante tempo conversando com Bonnie Kudrow, sua parceira em DCAT, porém falando de coisas mais felizes que magia negra. Tiago e Lily aproveitaram o tempo livre (nem tão livre assim, pois ela era monitora e festas como aquela eram sinônimo de trabalho) para namorar mais um pouco, enquanto Longbottom esqueceu de suas responsabilidades e ficou batendo papo com Sophie na mesa da Corvinal. Sirius passou a festa toda cercado por suas fãs da Grifinória, entre elas, Julianne Andrews, colega de quarto de Lily. Helen não chegou nem perto da mesa da Grifinória naquela noite: passou a festa toda conversando com Severo Snape, o monitor-chefe de Hogwarts e pela cara de sono que a menina fazia, a monotonia parecia reinar naquele diálogo-monólogo.
Uma semana, duas, três... O tempo passava e mais manchetes sobre assassinatos de trouxas apareciam no Profeta Diário. Frank Longbottom ficava indignado com a própria impotência diante daquilo tudo. Chegou a sugerir que deviam começar a caçar comensais por conta própria, no que foi apoiado por Sirius e Tiago e vetado pelos membros sensatos do grupo:
- Ficou doido, Frank? Se um deles te coloca sob a maldição Império? Ou pior, a Cruciate? – Lily ralhou com o amigo e olhou torto para o namorado e Sirius.
Mas o tempo não trazia apenas coisas ruins. E agora, que já estavam quase em novembro, o quadribol tomava conta de vida de muitos dos alunos de Hogwarts, fosse pelos treinos, fosse pelas apostas que faziam entre si sobre qual time seria campeão naquele ano. Tiago Potter era apanhador e capitão do time da Grifinória; Sirius Black e David Sandford, um aluno do 5º ano, eram os batedores; Florence Stuart, Serenity Osmond, também do 5º ano, e Neil Finnigan, do 6º, eram os responsáveis por acertar a goles nos aros; e, por último, Melissa Jones, ex-namorada de Potter, era a autora de defesas magníficas na posição de goleira.
O primeiro jogo da temporada - Sonserina X Lufa-lufa - fora bastante violento. Era uma grande desvantagem para qualquer time começar jogando contra o time de Sean Avery; não porque os sonserinos fossem bons, mas por que deixavam a equipe adversária desfalcada para os jogos seguintes. Neste último jogo a vítima havia sido a artilheira Bea Pearl que foi derrubada da vassoura de uma altura de dez metros por um balaço de Avery, após mandar cinco bolas indefensáveis contra os aros da Sonserina. Com uma jogadora a menos, a Lufa-lufa amargou uma derrota por 230 a 110.
Era um resultado particularmente bom na visão de Tiago: desde que entrara para o time de quadribol, ele nunca perdera uma partida para a Sonserina. Além do mais, a Grifinória tinha Sirius, que podia ser tão violento quanto Avery quando queria. O que estava deixando Tiago preocupado era o jogo com a Corvinal, marcado para o fim-de-semana seguinte. O time azul tinha sido campeão invicto no ano anterior, e Tiago sabia que se não ganhassem deles, seria muito difícil ganhar o campeonato das casas. Mas o tempero que daria um sabor diferente àquele jogo chegou aos ouvidos do capitão da Grifinória através de uma sexto-anista que vivia na cola de Sirius, Julianne Andrews:
- Sirius! Sirius! – a menina de cabelos castanhos compridos chegou ansiosa e esbaforida à mesa da Grifinória – Você já está sabendo?
- Sirius Black e suas fãs! – Tiago falou baixinho para que a garota não ouvisse e deu uma piscadela para o amigo.
- Que houve, July? Parece que você acabou de percorrer os 10 mil metros rasos sobre vassoura?
A menina sentou-se ao lado de Sirius:
- Eu queria ser a primeira a te contar. Isso se você já não souber – e um ponto de interrogação e desapontamento se instalou na testa da menina.
- Se você não contar logo, ele não vai saber se ele já sabe. – e Tiago pareceu ficar confuso com as próprias palavras.
A menina e Sirius olharam para Tiago e riram:
- O sol dos treinos de quadribol devem estar fundindo teu cérebro, Tiago... Mas qual é a novidade, gatinha?
Julianne Andrews se envaideceu toda ao ser chamada de gatinha por Sirius.
- Ah, Sirius, é simplesmente a melhor coisa que podia acontecer para você! – ele e Tiago se olharam imaginando o que é que ela poderia considerar assim tão bom para ele, mas ela não notou o deboche e continuou: - O treinador do Chuddley Cannons... Ele vem assistir a partida entre Grifinória e Corvinal!
Tiago deu um pulo e bateu o joelho na mesa, e ao mesmo tempo que fazia uma careta de dor, bombardeou a aluna do sexto ano de perguntas:
- Onde você ficou sabendo isso? Por que é que não me contaram? Afinal eu sou o capitão dessa droga de time e ninguém me avisa uma coisa dessas? Eles vão ter que nos dispensar das aulas para treinos extras, vou exigir isso de Madame Hooch. Essa é uma oportunidade incrível para qualquer um dos jogadores do time...
- Não é, não, Potter! – ela interrompeu os resmungos de Tiago. - Só pro Sirius aqui – e deu um sorriso derretido.
Sirius acompanhava a cena atônito:
- Por que só para mim?
- É verdade, por um acaso eles estão procurando batedores? – Tiago concluiu, meio desconfiado de que o que a garota queria era um pretexto adular o amigo.
- Exatamente. – mas quem respondeu não foi Julianne.
Carol Stuart, capitã e artilheira do time da Corvinal, chegava à mesa da Grifinória acompanhada por Rod Bennings, um dos batedores daquela casa.
- "timo. E será que eu posso saber por que vocês foram avisados e eu não? –
Tiago tinha cara amarrada.
- Eu acabei de ser avisada, Potter. Madame Hooch me encontrou a caminho do Salão Principal e pediu para que eu o avisasse, que ela ainda tinha que preparar uma aula e mais tarde nos chamaria para dar os detalhes.
- Não disse que era a melhor coisa do mundo? – Julianne tentava chamar a atenção do jogador da Grifinória, que tinha o olhar fixo na artilheira da Corvinal. – Quando ouvi Carol falando pro Bennings, não consegui pensar em outra coisa senão lhe contar, Sirius!
- É, Black, a empreitada vai ser dura. Eles querem um aluno que já esteja formado no próximo ano, para jogar na próxima temporada. Ou seja, somos só eu e você. – Rod Bennings o encarava desafiadoramente.
- Você esqueceu do Avery. – Sirius comentou. – É o último ano dele em Hogwarts também.
- Ora, Sirius, eles querem um batedor de quadribol, não um lutador de boxe. - Carol soltou, esquecendo-se que nenhum dos presentes tinha família trouxa como ela. – Ah, esqueçam o comentário... O Avery é violento demais, eles não vão querer. Além do mais, ele não vai estar jogando sábado!
Carol era a garota mais bonita de toda Hogwarts, na opinião de Sirius. Filha de trouxas, tinha duas irmãs, Margot e Florence, mas o batedor da Grifinória achava que nenhuma das duas chegava a seus pés – a opinião de Remo era que Margot era a mais bonita das três. Os olhos extremamente azuis se destacavam na pele negra; os cabelos invariavelmente divididos em trancinhas (imaginem a Naomi Campbell de trancinhas!). Além disso, era a melhor artilheira de Hogwarts, sem exageros! A graça e a habilidade com que voava numa Shooting Aster sempre polida e de palha bem cortada desviava a atenção dos adversários, e ela sabia usar isso a seu favor. Também sabia comandar cada um dos seus jogadores, e podia-se dizer que a vitória da Corvinal no campeonato do ano passado era um mérito mais seu que dos outros jogadores do time. A irmã mais nova de Carol jogava pela Grifinória, também na posição de artilheira, mas ainda faltava muito para que alcançasse os passos da outra.
Logo a artilheira e o batedor se retiraram; tinham que separar o material para aula de poções e deixaram um Tiago eufórico e um Sirius nem tão empolgado assim acabando de tomar o café-da-manhã. Julianne também voltou para a Sala Comunal: era uma boa caminhada até a sala de Adivinhação, onde ela teria a primeira aula do dia.
- Eu ainda não estou acreditando. Meu melhor amigo vai ser batedor do Chuddley Cannons, vai jogar num time profissional! – Tiago não conseguia parar de sorrir. A raiva de não ter sido avisado já tinha passado.
- Calma aí, Tiago! Eles nem me viram jogar. E o Bennings é ótimo batedor.
- Ah, Sirius, modéstia nunca foi seu forte. Vou convocar o time para treinar esta noite mesmo. Aliás, vamos fazer treinos diários. A Madame Hooch não vai negar e... – ele continuou, enquanto se levantava disposto a falar com cada jogador naquele instante. Foi Lily que o acordou do transe:
- TIAGO! – ela berrou no ouvido dele. – Cê não tá me ouvindo, não?
- Lily? Ah, desculpa, mor. Já tá sabendo da novidade?
- Tô, sim. Encontrei com a Andrews no corredor.
- Você não tem aula de Adivinhação também? – Sirius estranhou ela estar ali; Lily e Julianne eram colegas de quarto.
- Deus me livre! Agüentei um ano inteiro daquilo. Foi o máximo que consegui...
- Bom dia! – Remo e Pedrinho juntaram-se aos três.
- Vocês já tão sabendo que... – Tiago queria contar a novidade para alguém.
- O Sirius pode ser o novo batedor do Chuddley Cannons? Tamos, sim. Mas parece que cê não tá muito animado, não. Que houve, Sirius? – Remo estranhou o comportamento do amigo; ele deveria estar dando pinotes de felicidade.
- Ele tá achando que pode perder a vaga pro Bennings. Já falei para você parar com essa preocupação idiota...
- Eu não tô preocupado... – Sirius emburrou.
- Imagina se tivesse... – Rabicho alfinetou.
- Será que não se pode ter sono, não. Eu ainda não acordei direito, tô mal-humorado...- ele inventou uma desculpa.
- Mal-humorado? Com uma notícia dessas, Black? – Tiago estava inconformado. – Se fosse comigo eu estaria falando disso para todo mundo.
- Mas isso você já tá fazendo, mor! – Lily tirou uma de Tiago. Ele devolveu um sorriso.
- Oi! – Helen se aproximou do grupo.
- Helen, você...
- Ela também já deve saber, Tiago! – Lily não agüentava mais a ansiedade do namorado.
- Saber do quê? – ela olhou para o bando, intrigada.
- Viu? Ela não sabia. O Sirius aqui vai ser o novo jogador do Chuddley Cannons.
- Quer parar de apressar as coisas, Tiago? Nós nem jogamos ainda...
- Não entendi nada.
- O treinador do Cannons vem assistir à partida de sábado, Silver. – Remo começou a explicar. - E vai escolher um dos batedores do 7º ano para fazer parte do time.
Ao ouvir aquilo, a menina desembestou a rir. A rir, não, a gargalhar, deixando todos na mesa boquiabertos. Todos menos Tiago, que estava louco de raiva:
- Que foi? Acha que o Sirius não pode conseguir? Ele é o melhor batedor de Hogwarts! – ele começou a defender o amigo.
- Desculpe, mas isso o Sirius não é mesmo!
- Valeu pelo apoio! – Sirius não sabia se ficava com raiva ou achava aquilo engraçado.
- Não leve a mal, Sirius. – ela foi diminuindo o riso. - Eu não tava rindo de você... Mas sábado tem Grifinória versus Corvinal, não é?
- É, sim. E o que isso tem a ver? – Tiago continuava irritado com a garota.
- É que eu tô imaginando a cara do Avery! Ele vai ficar louco da vida de não poder mostrar seus "dotes" de batedor! – ela começou a rir outra vez, e desta vez até Tiago acompanhou a menina.
- Então você acha que o Bennings ganha essa? – a cara de Sirius melhorou um pouco.
- Ah, não sei. Para mim vocês dois estão no mesmo nível...
- Ué, você não falou que o Bennings era o melhor batedor de Hogwarts? – Rabicho olhou surpreso com a resposta da garota.
- Eu não. O melhor batedor de Hogwarts é Ludo Bagman, da Lufa-lufa. E o mais bonito também, ai, ai! – ela deu um pequeno suspiro.
- Cuidado, heim? Aliciar menores dá cadeia! – Sirius tirou sarro da garota, porque Ludo era mais novo do que ela. Ele estava no 5º ano.
- Eu só acho ele bonito, dá licença? – ela respondeu num tom irritado.
- Ah, eu prefiro os apanhadores. Se for da Grifinória, então... – Lily olhou para o namorado e deu uma piscadela.
- Bom, Sirius, de qualquer forma, boa sorte! E Lily, acho bom a gente ir para aula de Aritmancia, né? Você sabe que a professora Vector não gosta de atrasos.
E as duas garotas deixaram os rapazes e o Salão Principal em direção à ala Norte do castelo.
- SIRIUS!!!
- Que foi agora, Tiago?
- Isso é jeito de rebater um balaço?
Sirius revirou os olhos. Tiago era seu melhor amigo, mas em treinos em véspera de jogo ele virava o cara mais chato de Hogwarts.
- Liga não, Black! Sabe como o Potter é: acha que é ele que tá concorrendo à vaga no Chuddley. – Serenity Osmond, uma das artilheiras, emparelhou a vassoura com a de Sirius.
- Potter, dá um tempo! Tá todo mundo exausto. – Neil Finnigan, outro artilheiro, reclamou.
- Exaustos? Mas estamos treinando só faz três horas! Vocês querem ganhar esse campeonato ou não?
Melissa Jones, a goleira, olhou para os colegas que voavam para o centro do campo:
- Tiago, é só mais um jogo!
- Lógico que não é só mais um jogo, Melissa!. Vamos enfrentar o melhor time que a Corvinal já teve. E só isso já bastava para treinarmos duro. E não se esqueça do Sirius.
- Ah, esqueçam, sim. Eu não agüento mais isso, Tiago! Cê tá reclamando porque a minha bola passou um milímetro além do necessário...
- Sirius, - Tiago ficou sério – esse é o jeito que podemos te ajudar. Você tem que ser perfeito depois de amanhã!
- Ele não tem que ser perfeito, Potter! Ninguém é! – Florence Stuart interpelou o capitão.
- Que é isso agora, Florence? Tá torcendo pelo namorado da sua irmã, é?
- O Bennings não é namorado da minha irmã!
- Tiago, pára com isso! – Melissa estava ficando irritada. – Você só está deixando o Sirius mais nervoso...
- Ei, eu não tô nervoso...
- Ah, não? Então você desaprendeu a jogar, de repente... – Melissa ficava indignada com garotos que não admitiam o que estavam passando.
- Não! - Sirius agora estava furioso. – Eu só estou um pouco... desconcentrado.
- Então tá merecendo os meus puxões de orelha. – Tiago concluiu. – Espero que você não esteja desconcentrado no sábado.
- Tá, tá! – Sirius amarrou a cara e saiu andando com a vassoura nas costas em direção ao castelo. Os outros iam começar a segui-lo quando Tiago soltou:
- Ei, o treino ainda não terminou!
Os outros seis jogadores do time da Grifinória viraram-se para Tiago. Nenhum deles respondeu nada com palavras, porém os gestos foram os mais expressivos possíveis: Serenity e Florence mostraram-lhe a língua; Neil Finnigan e David Sandford deram uma banana para Tiago; Melissa e Sirius foram mais diretos e precisaram apenas de um dos dedos da mão para mandar o capitão da Grifinória para aquele lugar...
- Ah, que bom! Todos os estudantes do sétimo ano estão aqui? – Annie Preston estava quase berrando para fazer uma chamada em meio a tanto burburinho.
- É o que parece, né? Será que não dá para gente ir logo com isso? – Narcisa parecia extremamente irritada em desperdiçar seu valioso tempo na companhia de corvinais, grifinórios e lufa-lufas.
- Preston, mande-os assinar uma lista de chamada. É mais fácil! - sugeriu Mundungous Fletcher, que ajudava a monitora-chefe a organizar a reunião de formatura.
- O Snape sempre some quando se precisa dele! – ela resmungou e então tomou uma atitude. – Será que dá para vocês todos calarem a boca!
Os sétimo-anistas ficaram assustados. Nunca tinham visto Annie Preston gritar com ninguém. Aliás, nenhum deles nunca tinha imaginado que ela poderia perder a calma. Assim, todos ficaram quietos, mais pelo choque do que pela ordem em si.
- Bom, eu preciso de um casal de representantes de cada casa. Não vou ficar discutindo com quase quarenta alunos que não calam a boca um único instante. – agora ela lembrava a professora McGonagall. - Quem se habilita?
A mão de Narcisa Boggs foi a primeira a se levantar no ar, seguida pela de Melissa Jones. Ao ver sua goleira procurando mais ocupações, Tiago não se agüentou:
- Nem sonha, Melissa. A gente tem jogo sábado!
- Se liga, Tiago! Eu não vivo pro quadribol, não. – e virando-se para a monitora-chefe: - Annie, anota aí, Melissa Jones e Sirius Black como representantes da Grifinória!
- Quê? – Black arregalou os olhos e Tiago ficou boquiaberto.
- Cê tá doida, garota!
- Eu não. O Sirius precisa desestressar! Vocês não concordam, garotas? – ela pediu a aprovação das colegas de casa - e obteve!
- Eu também acho que você é a pessoa mais indicada, Sirius! – quem falava agora era Remo, para o desapontamento de Tiago.
Ao lado deles briguinhas semelhantes aconteciam entre os alunos da Corvinal, Lufa-lufa e Sonserina. Na verdade, a temperatura estava realmente alta entre os alunos da casa da serpente: Narcisa e Meg Steels estavam quase se estapeando para decidir qual das duas seria a representante. Annie olhou para Mundungous e caiu sentada sobre uma das poltronas da sala dos monitores, desanimada. Após quase meia hora de discussões, as casas finalmente chegaram a um acordo: Narcisa Boggs e Sean Avery seriam os representantes da Sonserina; Melissa e Sirius, os da Grifinória; Carol Stuart e Mundungous Fletcher, os da Corvinal; e a própria Annie, junto com Patrick Leighton, os da Lufa-lufa. Ficou acertado que seria realizada uma nova reunião no domingo, caso o jogo de quadribol do sábado já estivesse terminado. Senão, o encontro ficaria para a segunda-feira à noite. Os representantes tinham que conversar com os outros alunos das casa e trazer sugestões para o tema do baile de formatura.
- Alohomorra! – Sirius não se preocupou em checar no mapa do maroto se havia alguém dentro da sala de Astronomia.
Estava tão nervoso que só conseguiu pensar numa coisa que o fazia se acalmar: olhar as estrelas. Parecia até que os pais tinham adivinhado a futura paixão do filho pelos astros quando lhe deram o nome de uma estrela.
- Lumos! - a sala estava deserta.
A sala de astronomia era o refúgio preferido de Sirius quando queria ficar sozinho ou acompanhado. Costumava trazer as suas "ficantes" (sei que não existiam ficantes nos anos 70, mas em fic tudo é permitido!) para aquele lugar, com o pretexto de mostrar-lhes a constelação que levava seu nome. Não deixava de ser um programa bastante romântico e agradava a todos. Astronomia era a matéria preferida de Sirius: filosofia, mitologia e um pouco de física se propunham em desvendar os maiores mistérios da natureza, com uma beleza que nenhum outro ramo da magia conseguia.
A sala circular ficava na torre Oeste do castelo e em frente a cada uma de suas janelas havia um telescópio ou luneta estrategicamente posicionado para focar esta ou aquela estrela. Estavam muito próximos do inverno e logo a Ursa Maior estaria bem visível. Vez ou outra a visibilidade era afetada pela neblina característica da Grã-Bretanha, mas naquela noite o céu estava absolutamente limpo. Sirius escolheu o telescópio que mostrava a constelação de Aracne. Enquanto mirava aquele conjunto de estrelas que pareciam formar o desenho de uma aranha lembrou-se que fora assim que escolhera o animal em que iria se transformar: Sirius fazia parte da constelação de Cão Maior.
- Black? – o rapaz levou um susto e bateu a testa no telescópio a sua frente. Foi pura sorte o instrumento cair em cima de um tapete coberto por almofadas. Certamente a professora estivera dando aulas para o 3º ano – sempre os mais desastrados e desacostumados a lidar com objetos tão delicados.
O rapaz virou-se e encontrou a professora Berenice Moonlight. Ele sempre achara que ela tinham mudado o próprio nome ou então escolhera a profissão por causa dele. Ela era bastante jovem, principalmente se comparada a professores antigos da escola, como Minerva McGonagall ou Filius Flinch. Talvez por isso fosse a professora mais amiga dos alunos:
- Black? Está tudo bem? Espero não estar atrapalhando...
Tinha graça. Aquela era a sala dela; quem estava atrapalhando era ele.
- Ah, desculpe, Srta. Moonlight. Achei que não ia precisar da sala esta noite...
- Marcou algum encontro romântico, foi? – ela deu um sorriso para o melhor de seus alunos.
- Não essa noite! – a professora o encorajara. Ele precisava desabafar e nenhum de seus colegas conseguiria compreender o que ele estava passando. Mas quem sabe ela?
- Hmmm... Você não deveria estar no treino de quadribol? – ela parecia adivinhar o que se passava na cabeça dele.
- É, devia.
- O Sr. Potter estava tendo um ataque no Salão Principal agora pouco. Creio que meia Grifinória está a sua procura.
O rapaz mordeu os lábios. Por sorte havia trazido o mapa do maroto com ele, ou Tiago já saberia onde ele estava.
- Eles ainda não foram treinar?
- Parece que sim. A Srta. Jones deu algumas respostas atravessadas ao seu amigo e ele resolveu começar o treino sem você. Mas ainda tem gente te procurando pelo castelo...
- Remo e Pedrinho...
- Porque você fugiu do treino, Black? – a professora sentou-se ao lado dele.
Fugir de um treino... Nunca, em seus cinco anos de time, Black imaginou que um dia mataria um dos treinos. Adorava quadribol desde que se conhecia por bruxo e não conhecia maneira melhor de passar o tempo – talvez as garotas pudessem atingir o mesmo nível do jogo, mas com certeza traziam mais aborrecimentos. Agora, o que ele não conseguia admitir, nem para si nem para os amigos, é que nunca cogitara a possibilidade de vir a ser um jogador profissional. Ele era um bom jogador, gostava daquilo, mas daí a ter que jogar quadribol para o resto da vida, como se fosse uma obrigação e não uma atividade prazerosa, isso ele não sabia se queria.
- Professora, a Sra. acharia muito estranho se eu dissesse que não quero a tal vaga no Chuddley Cannons?
- Na verdade, eu não deveria te dizer isso, mas acho que seria um desperdício você virar jogador de quadribol...
Black arregalou os olhos. Será que a professora não gostava de quadribol?
- Não pense que é preconceito, ou que não gosto de esportes. Mas, bem, acho que você daria um bom astrônomo...
Ele sorriu e olhou para uma das janelas. Os dois ficaram alguns minutos em silêncio. A sala tinha a iluminação de umas poucas velas e de todas as estrelas visíveis do universo. A lua era quarto crescente e clareava alguns pontos da sala circular, inclusive os rostos de Sirius e da professora.
- Você já pensou nisso, Black?
- Nisso o quê? – um não olhava para o outro enquanto conversavam, apenas admiravam as estrelas.
- No seu futuro.
- Bem que ele poderia estar escrito nas estrelas... Seria mais fácil de descobrir o que eu quero fazer quando sair de Hogwarts.
- Há muitas coisas escritas nas estrelas, querido! Mas elas dizem respeito ao passado. O futuro quem escreve somos nós!
Ele fechou os olhos, tentando absorver a verdadeira essência daquelas palavras. Não que houvesse segredos: a prof. Moonlight era sempre muito clara no que queria dizer. Mas ele precisava acreditar que saberia escrever seu destino.
- Tiago acha que é uma grande chance...
- E é, sem dúvida, para quem quer fazer isso. Mas me parece que você não está muito entusiasmado com a idéia... E eu tenho minhas dúvidas se Tiago não ficaria como você se isto estivesse acontecendo com ele.
- Imagine! Tiago tem obsessão por quadribol!
- Você tem certeza, Black? Pense bem, você é o melhor amigo dele...
- Hmmm, ele também tem obsessão pela Lily, mas não vejo como isso pode virar um emprego...
A professora riu. Depois continuou a conversa:
- Pode ser até que ele não seja obcecado... Mas ele vai ter que fazer alguma coisa com as lojas do pai dele. E um jogador de quadribol não tem tempo de administrar dezenas de boticas de alquimia espalhadas pela Inglaterra...
- É, verdade... Meu pai não vai me deixar nada nesse aspecto, porque eu não trabalho pro Ministério nem morto!
- Bem, pelo menos você já sabe o que você não quer...
Então os dois ouviram umas batidinhas leves na porta: "Sirius, você está aí?", era a voz de Remo! Antes que a professora chegasse até a porta, o rapaz abriu-a com um feitiço e ficou absurdamente envergonhado de encontrar Berenice Moonlight ali dentro:
- Desculpe, Srta. Moonlight. Achei que o Sirius pudesse estar aqui... – e então os olhos azuis de Remo repararam na figura de um jovem alto e forte iluminado apenas pelo luar.
- Eu tô aqui mesmo, Remo. – e Sirius se levantou. – Como é que tá o Tiago?
- Fulo da vida... – o amigo caminhou até uma das janelas e sorriu.
- Vou deixar vocês dois a sós. – e a professora se retirou
Remo olhou para lunetas e telescópios:
- Em qual eu posso ver Sirius?
- Na terceira janela. Não, à sua direita. Essa mesma.
Aquela luneta fora o próprio Black que ajustara durante uma das aulas no ano anterior. Não deixava ninguém tocar nela, nem mesmo a professora. Remo colocou o olho da abertura da luneta:
- Esse cachorro não tem cara de quem tem medo de um joguinho de quadribol... – Remo tentou descontrair o ambiente.
- Eu não tô com medo. Só que o Tiago tá exagerando dessa vez.
- Eu sei. A Lily brigou com ele hoje por causa disso. Na verdade ele brigou com a Helen primeiro...
- Com a Silver?
Remo apenas acenou com a cabeça:
- A baixinha teve um ataque quando ele começou a reclamar da sua demora.
- Foi é? – Sirius exibia o sorriso maroto que conquistara tantas garotas. – O que ela disse?
- Ah, isso você vai ter que perguntar para ela... Ou pro Tiago...
- Se eu pudesse eu pegava a capa da invisibilidade dele e ficava coberto até amanhã na hora do jogo, só para não ter que ouvir o monte de reclamação que me espera...
Remo andou até outra luneta e mudou a direção para a qual ela apontava:
- Eles ainda estão treinando... Por que você não vai falar com ele?
Sirius fez que não com a cabeça:
- Amanhã. Amanhã eu falo.
- Vai continuar escondido aqui?
- Não, vou descer... E seja o que Merlim quiser...
Eles saíram da sala em silêncio. Era pouco mais de nove horas da noite e havia apenas um ou outro aluno perambulando pelos corredores: todos se dirigindo às salas comunais de suas casas. Quando faltava pouco para alcançarem a Torre da Grifinória, Sirius perguntou:
- Você conseguiu ver a constelação de Cão Maior?
- Na verdade, não. Mas eu precisava de um pretexto para começar a conversa... Você sabe que eu não gosto muito das "luzes" da noite!
- É, porque eu tinha mesmo achado estranho... Não dá ver Sirius no céu da Inglaterra! Talvez se a gente estivesse no Brasil...
- Ué, mas você não vive levando as garotos àquela sala para ver a sua estrela?
- Ah, eu deixo focado na constelação do Cão Menor e aponto a estrela mais brilhante... Todas elas acreditam.
Eles riram e Lupin deu tapinhas nas costas do amigo.
Um balaço passou assobiando ao lado de Tiago; por um triz não o acertou. Abaixo dele doze manchas vermelhas e azuis cortavam o gramado em ziguezague. O outro balaço ia em direção à Carol Stuart, numa ótima rebatida de David Sandford. O garoto estava fazendo um bom trabalho para seu primeiro jogo no time, mas ainda tinha pouca experiência. Isso era o que não faltava à capitã do time da Corvinal, que jogava quadribol na escola havia seis anos. Ela foi perfeita ao desviar do balaço com um mergulho e efetuar o passe para Charlotte Bennings, que se encarregou de arremessar para um dos aros a sua frente. A bola só não entrou porque a Grifinória tinha uma das melhores goleiras de Hogwarts. Melissa Jones estava dando o que podia e o que não podia naquele jogo que já começara havia uma hora, defendendo a honra de uma Grifinória que estava longe de ser o time de vitórias costumeiras.
Tiago deu alguns volteios em pleno ar e se pôs a procurar a apanhadora do time adversário. Samantha Campbell estava um pouco acima dele, os olhos espremidos procurando pelo pomo. O cabelo preso num rabo de cavalo no alto da cabeça não deixavam ver a generosa falha que Lily tinha provocado com um feitiço um ano antes. Era a primeira vez que Samantha jogava contra a Grifinória, embora já estivesse no time há pelo menos dois anos.
Outro balaço tirou uma fina de Tiago que já estava estranhando o comportamento dos batedores da Corvinal. Que idéia era essa de mandarem balaços atrás dele, se ainda não tinha avistado pomo algum? Ele procurou o batedor para xingar, quando percebeu que quem tinha mandado a bola fora Sirius. Aquilo deixou-o ainda mais nervoso. Depois de uma discussão feia na noite anterior, ele prometera à namorada que não daria mais uma bronca sequer no amigo. Se era paz o que ele queria para voltar a ser o batedor de sempre, ele teria. Mas parecia que a trégua não estava ajudando: Black conseguia mirar qualquer coisa, menos os jogadores do time adversário!
Já era quase noite, o que tornou mais fácil para Tiago perceber um pequeno pontinho dourado brilhando do outro lado do campo; mas ele não foi o único a avistar o pequeno pomo-de-ouro. Samantha Campbell ia a toda a velocidade para aquele local. O grande problema é que o pomo estava no meio da confusão de bolas e jogadores, o que tornava Tiago e Samantha alvos fáceis dos batedores. Tiago só não pensava que seria alvo de um batedor de seu próprio time:
- TEMPO! – Tiago gritou depois de dar uma mergulho de quase 90º para desviar do balaço que Sirius mandara em sua direção. Por sorte David mandara o outro na direção de Samantha e, enquanto ela desviava, o pomo desapareceu de vista.
- Foi mal, Tiago! Eu tava tentando acertar a Campbell! – Sirius pôs a cabeça entre as mãos ao chegar bem perto do solo, como se estivesse com uma dor-de-cabeça insuportável.
Tiago não sabia o que dizer. Estava irritado demais, só conseguia pensar em por que Sirius não calava a boca.
- Então, chefe, quais as instruções? – Jones pousara perto deles, e logo os outros chegaram.
- As instruções? Eu só tenho uma instrução a passar: PAREM DE FAZER BESTEIRAS!!!
- Besteiras? Nós não estamos fazendo besteira nenhuma. – Florence Stuart tentou defender a si mesma e aos colegas.
- Ah, não, então talvez você queira me explicar como o placar chegou a 110 a 50 para eles? Se nós estamos jogando assim tão bem...
- Se você parasse de pensar na briguinha que teve com sua namorada ontem e orientasse o time, eu não teria que dar conta de tudo sozinha! – Melissa Jones estava abismada com a mania de Tiago de jogar a responsabilidade para cima dos outros.
- Escuta, Tiago, eu sei que eu não tô ajudando muito hoje, mas... – Sirius tentava se explicar.
- Não tá ajudando? Você tá fazendo pior que isso, Black! Você está atrapalhando o time!
Sirius apertou a vassoura e mordeu os lábios:
- Então acho que não vou fazer falta! – e começou a sair do campo, com a vassoura nas costas, sob os olhares atentos da torcida da escola.
O resto do time olhava boquiaberto para o batedor, com exceção de Tiago, que tinha rancor no olhar:
- Foi melhor assim. De volta ao jogo. – e ele subiu na vassoura, levantando vôo.
- Me empresta isso aqui, Frank. – disse Helen tomando o binóculo das mãos do ex-namorado. – Mas o que é que ele tá fazendo?
- O Black tá saindo do campo? – Lily não acreditava no que seus olhos diziam. – Mas ele tem que jogar.
- Para jogar do jeito que ele tá jogando... – Frank foi sincero. – Será que você pode me devolver? O jogo vai recomeçar...
- Ah, isso não vai ficar assim, não! Quem ele pensa que é? Eu apostei 10 galeões com a Sophie. Ele não vai me dar o desgosto de perder para aquelazinha...
Helen jogou o binóculo em cima de Frank e saiu empurrando todo mundo daquele camarote.
- Onde ela vai? – Lily estava de olhos arregalados.
- Fica com isso. - Frank entregou o binóculo a Lily. - Eu vou atrás dela. Do jeito que ela fica brava quando é contrariada, é capaz de ela falar alguma besteira pro Black.
Lily concordou e o rapaz saiu atrás da sonserina. Lily olhou para o objeto que estava em suas mãos e pensou: "Por que não?" E começou a procurar a Tiago no meio daquele monte de borrões.
- Sirius! Sirius!
O rapaz não queria falar com ninguém, muito menos com ela. Helen sabia ser absolutamente desagradável e ele poderia explodir com ela, tornando impossível que os dois reatassem a amizade mais uma vez.
- Sirius! – ela alcançou o rapaz com uma pequena corrida. - Você tem que voltar!
- Me deixa em paz! Não quero papo – ele estava amargo.
- Eu sei que você está nervoso...
- Se você sabe que eu estou nervoso, então me deixa sozinho. Não estou afim de brigar com você também. – ele continuava andando.
- Quer fazer o favor de parar e olhar para mim. Cada passo seu dá dois do meu...
- Não. – ele respondeu azedo.
- Sirius Black! Não me obrigue a usar a varinha!
- Como se você soubesse usar... Lily me contou que você é a pior aluna de feitiços do 6º ano. – ele queria magoá-la, quem sabe assim ela não ia embora?
Mas Helen não se rendia facilmente:
- Pois é exatamente por isso que você devia ter medo. Já imaginou no que eu posso te transformar tentando jogar um simples feitiço da perna presa?
Sirius parou. Não conseguiu conter o riso.
- Até que enfim. Depois eu é que sou teimosa.
- Anda logo. O que você quer?
- Te convencer a voltar.
- Não vai conseguir.
- Já consegui fazer você parar...
- E já foi muito.
- Você não pode fazer isso... Eles precisam de você.
- Não precisam, não. Tiago deixou isso claro!
- Tiago está nervoso por causa da Lily, não é com você.
- Pois eu tô me lixando pro Tiago. Não vou voltar. – e então ele caiu sentado na grama. – Eu tenho consciência de que não estou jogando bem. Não tô afim de ser humilhado, ok?
- Sirius, eu não sei o que tá te deixando assim tão mal para você não conseguir jogar. Mas sei que deve ser algo muito sério. Você queria tanto assim aquela vaga?
- Eu? – Sirius olhou dentro daquele par de olhos castanhos. Será que ela seria capaz de compreendê-lo? - Ou será que é justamente o contrário? Você não quer fazer parte do Chuddley Cannons?
Black enterrou o rosto nas mãos. Sim, ela o entendia. Mas será que ele conseguiria admitir?
- Se for por isso, Sirius, acho que você já pode voltar... Depois de tudo o que você fez hoje eles não vão te contratar! – ela deu um sorriso maroto.
- Você acha que eu estou jogando mal de propósito?
- Lógico que não! Se você estivesse fazendo isso eu te mataria!. Apostei 10 galões que vocês ganham da Corvinal! Não me faça perder uma aposta para Sophie...
O rosto dele, que há poucos segundos parecia recuperado, se desmanchou em desgosto outra vez...
- Ah, então é por isso... Você quer que eu volte para fazer vingancinha contra a nova namorada do Longbottom...
- Quê? Lógico que não! E eles não são namorados.
- Ah, vai dizer que você não percebeu o climinha? – Sirius precisava expulsar aquela raiva que tinha dentro de si. Sabia que ela não tinha culpa nenhuma da raiva que estava sentindo de Tiago e de si mesmo, mas ela procurara.
- Pare com isso, Sirius!
- Você não percebeu, não? Ah, você nunca se perguntou porque ele não voltou a te namorar? Se eu me lembro bem, vocês tinham brigado porque ele insistiu em investigar a morte da sua mãe e você era contra. Mas, agora, até você está ajudando... – ele tripudiava em cima da garota.
- Não foi nada disso! Para seu governo, Frank veio falar comigo depois – ela estava fora de si. - Mas eu não quis voltar com ele porque eu sou uma idiota. Uma idiota como Morgana foi um dia. Uma idiota porque eu gosto de você!
A garota disse isso e saiu correndo em direção ao castelo, chorando. Sirius ficou sem reação. Aquilo realmente o pegara de surpresa, mas não mais do que a voz que começou a falar logo atrás dele:
- Acho que agora você só tem um jeito de corrigir isso... – era Frank Longbottom.
- Eu vou atrás dela?
- Lógico que não! Volte pro jogo e JOGUE. Não pense que ela vai te perdoar se a Grifinória perder. – Frank falava com um certo aperto no coração. Ainda morria de ciúmes de sua sonserina preferida!
Sirius ficou em dúvida se fazia o que Longbottom estava falando ou não.
Os pensamentos de Tiago iam a um turbilhão por hora. O placar era cada vez mais desesperador, e se ele não encontrasse o pomo-de-ouro logo, ficaria impossível ganhar aquele jogo. Melissa fazia milagres em frente aos aros, mas não conseguia frear todas as bolas. Para piorar a situação, Neil Finnigan levara um balaço no braço direito enquanto fazia uma tabelinha com Serenity Osmond e estava tendo dificuldades para segurar a goles e se manter sobre a vassoura ao mesmo tempo. Ficar desfalcado de um jogador era horrível, ainda mais quando esse um jogador estava na posição de batedor, o principal encarregado de desarmar as jogadas do time adversário. Além da briga com Sirius, ainda tinha Lily. A menina avisara que se ele discutisse com mais alguém por causa de quadribol, ela terminaria com ele. E esse mais alguém aconteceu: e justo com a melhor amiga dela, Helen. O que aquela sonserina idiota tinha que se meter na história deles?
Tiago ficou divagando sobre os milhares de problemas que tinha na cabeça e não percebeu quando Samantha Campbell mergulhou de uma altura de 20 metros atrás de um pontinho dourado que se mexia sem parar rente ao solo. Foi Melissa Jones, que abandonou seu posto e jogou a goles em Tiago, acordando-o do transe:
- Ô, seu besta! Se mexe! Vai deixar eles ganharem fácil assim?
Então Tiago viu Samantha e saiu com tudo atrás dela. Sua vassoura era melhor mas ela estava muito na frente. Não havia como alcançá-la. Só podia torcer por um milagre... E o milagre veio em forma de um balaço numa velocidade altíssima, do qual a menina desviou no último segundo, fazendo a vassoura subir um pouco mais. Aquilo deu tempo a Tiago de recuperar a distância e ele sabia que, então, sua vassoura seria de grande valia. Quando o pomo deu um voleio em frente aos dois apanhadores, Samantha levantou uma das mãos para alcançá-lo.
PAF!
A garota caiu no chão, atingida por um balaço. Sorte que estavam numa altura bastante baixa, menos de um metro do campo e ela não se machucou. Tiago continuava com os olhos fixos na bolinha de asas. Só faltava mais um pouquinho...Ele acelerou mais um pouco e, enfim, o pomo estava entre seus dedos.
Ouviu-se muitos urros na torcida. Até mesmo alguns sonserinos aplaudiam – na ilusão de que seria mais fácil ganhar da Grifinória do que da Corvinal. A Grifinória ganhara o jogo por exatos 10 pontos. Não era lá uma grande vantagem, mas era uma vitória. Todos no campo, Tiago então lembrou-se de agradecer a David Sandford pelas ótimas rebatidas:
- Não fui eu, não, Potter! Foi o Black! Ele surgiu do nada!
Tiago então olhou para o time da Corvinal. Sirius estava ali, cumprimentando Rod Bennings que, ao que tudo indicava, seria o novo jogador do Chuddley Cannons.
- Você não acha que deve desculpas? – Melissa alfinetou.
Tiago não respondeu. Saiu andando em direção ao time adversário:
- Sirius?
O amigo virou. Potter levantou as sobrancelhas e deu um deu um sorriso acanhado. Sirius soltou uma risada:
- Quer dizer então que você levou uma bronca da namorada por minha causa?
- Nem me fale! – Tiago suspirou.
Os dois se abraçaram. Depois Tiago cumprimentou Bennings e recebeu os cumprimentos do resto do time da Corvinal. Então voltou a falar com Sirius:
- Eu e Lily terminamos...
- Quê?
- Eu devo ser mesmo um droga de capitão! Era o mais nervoso do time... – Tiago abaixou a cabeça, triste.
- Eu vou falar com ela, Tiago. Vocês não podem brigar por uma bobeira dessas...
- É, não podemos mesmo... – a florzinha escarlate de Tiago Potter estava atrás dos garotos.
- Lily!
- Eu queria pedir desculpas! Acho que exagerei ontem!
- Eu estava muito chato mesmo. Acho que mereci.
- Ei, por que vocês são sempre tão enrolados. Dêem um beijo logo e vamos comemorar!
- Mas você perdeu a vaga, Sirius! – Tiago olhava perplexo para o amigo.
- E quem disse que eu queria a vaga? E andem logo com essas pazes! Uma hora dessas Remo e Pedrinho já providenciaram a comida para festejar essa primeira vitória!
