Capítulo 9 – O aniversário de Lílian
- A sua amiga é louca! É isso que ela é!
Lílian e Tiago não conseguiam parar de rir da cara de Sirius. Uma semana depois do jogo contra a Corvinal ele resolveu ir atrás de Helen Silver, pois a menina parecia ter desaparecido de todos os lugares que costumava freqüentar. E como Tiago ia encontrar Lílian após a aula de Trato das Criaturas Mágicas, resolveu acompanhar o amigo. Antes não tivesse ido.
- Eu só imagino o que você deve ter aprontado para ela dessa vez... – Tiago ria gostoso.
Aquela fora a briga mais engraçada em que algum de seus amigos se metera. Lílian parou de rir e olhou para Sirius com uma expressão de dó, que só conseguiu deixá-lo mais irritado.
- Eu? Aprontado? Eu não cheguei nem a falar oi e ela foi apontando a varinha... Ah, quem entende as mulheres...
- Você não tá vendo as coisas pela perspectiva dela, Sirius. – Lílian tentava defender a amiga, mas sabia que Helen tinha exagerado. Se a garota não fosse tão ruim de pontaria, Sirius teria que passar um bom tempo na enfermaria.
- É lógico que não! A perspectiva dela deve ser vesga. Um dia ela fala que... – e então ele parou subitamente, lembrando-se que não tinha contado a ninguém sobre a revelação que Helen lhe fizera no dia do jogo. E nem pretendia contar.
- Ela falou o quê, Sirius? – Tiago estava curioso. Seja lá o que fosse que ela tivesse dito, deveria explicar por que a garota fora tão agressiva naquela tarde.
- Tiago, eu acabei de me lembrar. Esqueci minha varinha lá no picadeiro... Você não pega para mim?
- Vocês dois estão escondendo alguma coisa de mim? – Tiago olhou desconfiado para a namorada e o amigo.
Sirius não teve reação. Será que Lílian sabia? Bem, ela devia saber... Era a melhor amiga de Helen, não era?
- Ai, Tiago, que idéia. Que tipo de segredo eu ia ter com o Sirius?
- E eu que vou saber? Se é um segredo...
- Se você não pode fazer isso pra mim, tudo bem, eu vou sozinha! – a garota emburrou.
- Não, deixa que eu vou. – e Tiago saiu meio contrariado, dando uma última olhada nos dois.
Lílian olhou para Sirius com ternura, como se quisesse dizer que entendia o que ele estava passando. Mas ele não queria falar daquilo com ninguém, principalmente com uma garota. Então ela perguntou:
- O que é que você ia dizer para ela?
- Como assim o que eu ia dizer para ela? Nós somos amigos, ué? Ou éramos, vai saber o que se passa na cabeça daquela louca...
- Medo?
- Medo do quê? Pelo amor de Deus, Lílian, quem tem que ter medo dela sou eu! Ela joga um feitiço Zíperus (Nota da autora: Feitiço recém-inventado! Serve para zipar a boca das pessoas que não queremos ouvir!) em cima de mim e quase destrói uma árvore! Eu sabia que ela era ruim de feitiços, não que eles podiam ser catastróficos nas mãos dela.
- Não desvie do assunto... Você sabe muito bem que ela vai preferir morrer a ouvir você dizer o que pensa a respeito do que ela lhe falou sábado.
Lílian sabia. Era lógico que ela sabia...
- Então ela te contou? – ele desviou o olhar
- Não.
- Não?
- Quem acabou me contando foi Frank... Não pense que ele é um fofoqueiro – Lílian disse rápido ao ver a cara de Sirius se contorcer de raiva. - Na verdade, eu tirei dele à força ontem à tarde.
- Como?
- Ora, Sirius, o Frank tá arrasado e já faz dias. Aliás, ele está esquisito desde o dia do jogo. Lembra que ele nem ficou para festa?
Black fechou os olhos e mordeu o lábio inferior. Não era amigo de Frank Longbottom, mas o interesse deles pelas mesmas coisas (e, diga-se de passagem, pela mesma garota) fizera com que Sirius passasse a tratá-lo com um respeito maior do que tinha pelos outros alunos. Lílian continuou:
- Ele sabia que a Helen não tinha terminado com ele por causa das nossas... ahn... investigações. Se fosse por isso, ela também tinha deixado de ser minha amiga.
Ele concordou.
- Frank tem um ciúme doentio de você com ela... Sempre teve... Desde a época do tal ratinho... Como era mesmo o nome dele?
- Rabicho... Eu deixei ele em casa esse ano. – Sirius resolveu inventar uma desculpa antes que a menina perguntasse. – Mas, bem, eu não estava interessado nela. Só queria mesmo era... – ele não ia contar a Lílian que queria aprontar com Snape – era aprender a cuidar da pestinha. Mas eu desisti.
- Ah, Sirius. Eu não tô dizendo que você estava interessado. Aliás, isso me lembrou uma coisa... Você me deve uma resposta!
- Resposta?
- É. Lembra do dia em que recebi a notícia de que meu pai... – ela hesitou. Ele não quis provocar sofrimento a menina:
- Lembro. Você disse que respondia a minha pergunta se eu respondesse a sua...
- Pois eu vou fazer essa pergunta agora. É a mesma que queria fazer aquele dia: qual é o seu interesse na Helen?
- Tiago está voltando, Lílian. E parece que está bravo.
- Ande, Black, você prometeu.
- Você quer mesmo saber a verdade? Pois eu também gostaria de saber. Não sei responder a sua pergunta. Não sei o que eu ia dizer a ela hoje. Não sei se posso corresponder ao que ela sente.
- Pois então acho melhor você pensar bem antes de tentar falar com ela de novo. Porque na minha opinião ela agiu corretamente evitando ouvir esse monte de não seis. E eu falo isso também pelo Frank... Ele ainda gosta dela e não vai querer ver ela sofrer. – ele ia começar a protestar. - Isso não significa que você tenha que gostar dela também. Só não fique cozinhando ela em água morna, entendeu? Pense e decida-se, para que as outras pessoas também possam fazer o mesmo.
Mesmo que Sirius quisesse dizer alguma coisa a Lílian, agora seria impossível. Tiago chegara e sua fisionomia denunciava que ele estava furioso.
- Não tinha droga de varinha nenhuma lá!
- Nossa, que cabeça a minha! Está no meu bolso e eu nem percebi. – Lílian dissimulou.
- Não seja cínica, Lílian Evans. Você só queria um pretexto para eu sair daqui. Não sou idiota! – Tiago ia ficando cada vez mais vermelho.
- Muito bem. Eu tinha que falar com Sirius a sós, sim. Porque já que você não me diz o que vai me dar de aniversário, eu tinha que descobrir com algum de seus amigos, né?
- Quê? – o namorado estava aparvalhado.
- Pois é, Tiago. – Sirius era ótimo em improvisações. – Mas eu falei para Evans que não tinha a menor idéia. Só que ela não acredita...
- Lílian, ainda falta um mês pro seu aniversário! – Tiago não conseguia achar propósito num absurdo como aquele.
- Ora, falta S" um mês pro meu aniversário. Acho que você já devia estar providenciando o meu presente, não é? – ela fingiu que estava brava.
Tiago ficou sem graça:
- Eu, eu...
Então uma corujinha mínima pousou na cabeça do rapaz.
- Ela deve ter confundido sua cabeça com o ninho, Tiago! Você nunca penteia os cabelos, não? – Sirius fez troça com o amigo.
- Ah, você sabe muito bem que eu posso pentear o quanto eu quiser que eles voltam a ficar assim... – disse Tiago tirando a pequena ave da cabeça. – Ela tem um bilhete. É para você.
Sirius Black,
Por um acaso você se esqueceu que temos uma nova reunião da comissão de Formatura hoje? Mais precisamente AGORA? Pois acho bom o Sr. chegar à sala dos monitores em cinco minutos se não quiser que esta coruja lhe visite mais uma vez. E não se iluda: se isso acontecer, o envelope será vermelho!
Melissa Jones
- Hmmm, o dever me chama...
- Como é que você vai chegar lá em cinco minutos? Acho que o berrador vai te pegar no meio do caminho, hein?
- Hmmm... Já sei. Accio!
Em menos de trinta segundos a vassoura de corrida de Sirius Black estava em suas mãos:
- A sala dos monitores é no sexto ou no sétimo andar? – ele perguntou a Lílian.
- Quinto! – ela sorriu.
- Ala leste, né?
- Oeste!
- Tudo bem, eu acho...
Lílian e Tiago riram imaginando Black olhando por todas as janelas do castelo à procura da sala dos monitores. Ainda bem que as aulas de poções eram nas masmorras... Se o professor Montgomery visse Black dando voltas de vassoura em torno do castelo, seria detenção na certa.
O rapaz montou na vassoura e deu o impulso para deslizar pelo ar. Em alguns segundos o pontinho negro chamado Sirius Black desapareceu da vista do casal de namorados.
- Se ele não entrar por aquela porta em cinco segundos, eu mato o Black! – Melissa Jones estava furiosa.
- Não serve pela janela? – Sirius respondeu sorridente como sempre. Cumprimentou a todos com um aceno de cabeça e pousou a vassoura na sala dos monitores.
- Dez minutos atrasado, Black. Acha que temos a tarde toda? – um Snape mais azedo do que de costume perguntou.
- Vamos parar com isso agora mesmo! – Annie Preston, a monitora-chefe, começou a botar ordem na casa. – Na reunião passada não conseguimos decidir absolutamente nada, mas hoje vai ser diferente. Ninguém sai daqui até termos tudo definido.
Os rapazes se entreolharam. Eles não estavam ligando muito para a festa em si; o importante é que tivesse muita cerveja amanteigada. O resto só importava para as garotas. Sirius se juntou a Mundungo Fletcher e a Patrick Leighton e os três começaram uma conversinha sussurrada:
- Ei, Black, o que você fez com sua vassoura antiga? Podíamos fazer um bom negócio... – Fletcher tinha talento nato para o comércio: sempre conseguia fazer dinheiro naquilo em que investia.
- Dei pro Pedrinho...
- Você deu a vassoura? - Leighton estava indignado. - Mas era praticamente nova. Dava para pagar boa parte dessa aí. – ele disse apontando a vassoura atual de Sirius.
- Eu sei, mas é que...
- Ei, vocês, qual vocês preferem? – Carol Stuart perguntou.
- A nova, sem sombra de dúvidas, mas a outra também era muito boa... – Fletcher respondeu sem pensar.
- Do que é que vocês estão falando? – Melissa olhava para eles de olhos arregalados. – Não acredito que vocês não estavam prestando atenção!
- Lógico que estávamos! A proposta nova é melhor que a anterior. – Leighton tentou ajudar sem saber muito bem do que estava falando.
- Ah, é, Patrick, então qual é a proposta nova? – Annie desafiou.
- Hmmm... bem... é...
- Ok, nós admitimos... – Sirius engoliu seco. – Do que é que vocês estavam falando?
- Do tema da festa. – Melissa respondeu emburrada. – Não sei nem porque fizemos questão da sua presença.
- Ora, por quê? Porque vocês querem maioria de votos para essa idéia ridícula de baile trouxa! – Narcisa estava revoltada. Para ela era impensável transformar a festa de formatura num baile trouxa.
- Ah, eu gosto dessa idéia! – Leighton deu palpite. – Mas eu achava que isso já tinha ficado decidido na outra reunião...
- É lógico que não – Avery fazia seu protesto. – Existem idéias melhores que essas como...
- Como... – Carol Stuart lançou um olhar petulante ao batedor da Sonserina.
- Bruxos famosos dos contos de fadas. – Narcisa sugeriu.
- Blergh! – Mundungo e Sirius cuspiram. – Você tem coragem de dizer que esse é um bom tema? - o aluno da Corvinal a encarou.
Nesse momento Snape e Avery olharam para o teto evitando os olhares dos outros presentes. Narcisa não podia ter dado pior sugestão.
- Não! Mas os grandes jogadores de quadribol do milênio seria legal! – Avery tentou consertar.
Ele conseguiu agradar aos rapazes, mas as garotas, com exceção de Carol, torceram o nariz.
- Eu não acho legal! – Melissa reclamou.
- Mel, você é goleira de um time de quadribol e tá achando ruim? – Sirius estava desconcertado.
- Lógico! Isso é um baile, não um jogo. Imagina que coisa mais sem graça: todo mundo vestido com uniforme de quadribol... Eu quero me arrumar!
- Concordo plenamente! – Narcisa apoiou. – Já comprei meu vestido!
- Mas se for um baile trouxa você não vai poder usar! – Carol lembrou.
- Mas eu não quero um baile trouxa! – ela respondeu azeda. – Que coisa de mal gosto!
Snape e Annie olharam um para o outro desanimados; o aluno da Sonserina, aliás, já estava quase largando aquela reunião e indo fazer algo de útil, uma vez que não era representante de casa nenhuma. Estava ocasionalmente na sala dos monitores quando a cambada chegou e Annie insistiu para que ele a ajudasse.
- Vamos votar, então... Alguém tem mais alguma sugestão ou ficam só estas três mesmo? – Annie resolveu se certificar para que não houvesse problemas depois.
Os outros sete alunos se entreolharam. Ninguém tinha mais nenhuma proposta.
- Você anota, Snape? – Annie perguntou ao colega de monitoria. Ele concordou de má vontade. – Melissa, seu voto vai para qual?
- Baile trouxa, lógico! – ela sorriu.
- Sirius?
- Qua...AIIIII! Melissa! – a garota acabara de pisar no pé do amigo com toda a força que podia. – Tá bom, baile trouxa! – e ele abaixou para massagear o pé.
Narcisa fez cara de estupefata. E depois diziam que eram os sonserinos que trapaceavam!
- Carol?
Ela demorou um pouco para responder, como se não tivesse muita certeza do que queria.
- Hmmm... acho que o baile trouxa. Não tô fim de ficar carregando minha vassoura durante a festa toda.
- Ora, Carol, pense pelo lado positivo! – Fletcher brincou. – Se você não tiver um par, é só dançar com a vassoura!
- Até parece que a Carol não vai ter par... – Sirius achava aquela idéia descabida.
A garota sorriu.
- Sirius, eu tô tentando convencer ela a passar pro nosso lado! É lógico que eu vou ser o primeiro a convidá-la!
- Eu devo encarar isso como o convite? – ela sorriu marota.
- Vo-você não vai com o Eddie? – Fletcher estava assustado. Falara aquilo brincando; sabia que ela namorava Eddie Turlington, o goleiro da Corvinal.
- Ei, vocês podem resolver os pares mais tarde, não acham? – Sean já estava entediado.
- Concordo. Seu voto é para qual, Carol? – Annie insistiu.
- Baile trouxa.
- Fletcher?
- Quadribol. – e ficou parado, olhando embasbacado para a artilheira da Corvinal. Será que ela aceitaria?
- Patrick?
- Hmmm... não sei. Em qual você vai votar, Annie?
- Eu já disse na reunião passada que gosto da idéia do baile trouxa...
- Então eu vou de quadribol! Para equilibrar a votação.
- Como assim equilibrar? – Melissa não entendeu - O quadribol só teve um voto até agora.
- Dã! O voto do Avery é obvio, não é? Com o meu são três! Se a Narcisa votar em quadribol também, dá empate.
Todos olharam para a garota loira de olhos azuis, que parecia um tanto assustada com aquela responsabilidade.
- Ah, eu não quero nenhum dos dois!
- O que acontece se empatar? – Avery estava na mesma dúvida que todo mundo.
- Daí o Snape resolve – disse Annie na maior naturalidade.
- Que? Me tira dessa!
- Peraí, eu ainda nem votei!
- A Narcisa vota em quadribol, não é, Narcisa? – Avery olhou raivoso para a garota.
- Voto, né? Fazer o quê? Baile trouxa é que não dá...
- Não dá por que, queridinha? Algum problema com trouxas? – Carol tomou as dores. Ela era nascida trouxa.
Narcisa respondeu com um olhar de desprezo, como se Carol fosse muito inferior a ela para ter o deleite de ouvir sua voz.
- Snape? – Annie perguntou.
- Os dois temas são estúpidos!
- Mas são os únicos que temos.
- Eu não sou da comissão de formatura.
- Então, a gente decide no cara-ou-coroa... - Fletcher foi prático.
- É, parece que não há outro jeito. – Annie olhou emburrada para Snape, que não se incomodou.
- Cara é baile trouxa. Coroa, quadribol.
Fletcher tirou um galeão bastante luzidio de dentro do bolso e jogou-o para o alto. A moeda dourada rodopiou no ar e caiu novamente na mão do rapaz:
- Cara. – ele constatou desanimado.
As garotas deram vivas.
- Droga, Black, por que você não votou em quadribol? – Avery reclamou.
- Ah, para mim tanto faz! Pensando bem vai até ser engraçado!
- E não ia adiantar nada, Avery. Se o Black tivesse votado quadribol, eu votava nos trouxas, só pra tornar a decisão emocionante! – Leighton brincou.
- Ainda não acabou. – Annie resolveu reestabelecer a ordem naquela sala. – Falta decidir a data, os convidados, pares...
- Tem mesmo que ter par, é? – Leighton estava desanimado. Não fazia muito sucesso com as garotas. Era um cara legal, mas os atributos físicos não o ajudavam muito.
- Também acho isso uma besteira. – Snape resolveu opinar.
Sirius e Mundungo deram uma risadinha sarcástica. Se para o Leighton devia ser difícil arranjar um par, o Snape então... Nenhuma garota seria doida o suficiente de aceitar o convite daquele narigudo de cabelos ensebados.
- Isso depende. Se houver valsa, sim; se não, não é necessário. Eu acho que não precisa ser um par obrigatório, de ficar a festa toda com ele... Só para a dança.
- Hmmm. Essa é uma boa idéia! – Sirius comentou.
- Tinha que ser. – Melissa riu. – Vai convidar quantas ao mesmo tempo dessa vez?
- Ora, eu não fico com nenhuma ao mesmo tempo. Saiba que eu respeito as garotas, Mel! – ele sorriu irônico.
- Ah, nós sabemos... – Carol olhou para Melissa. As duas tinham namorado Sirius quando ainda estavam no quarto ano.
- Será que podemos continuar a reunião? – Snape acentuou o tom azedo de sua voz.
- Preston, podemos convidar gente de fora, né? – Narcisa parecia preocupada.
- E você acha que o Malfoy vai aparecer num baile trouxa, Narcisa? – Avery achava que a moça andava tendo idéias muito estúpidas ultimamente.
- Ele que ouse não aparecer. Vai descobrir do que uma Boggs é feita! Além do mais ele é meu noivo, tem a obrigação de comparecer a minha formatura.
- Pode, sim, Narcisa. Já conversei isso com Dumbledore. Também vou chamar o Cameron. – e Annie sorriu, provavelmente lembrando-se do namorado. – Se mais alguém quiser chamar algum bruxo formado... A única coisa é que tem que me avisar, para que alguém vá buscá-los em Hogsmead. Todos sabemos que não dá pra aparatar em Hogwarts.
- Vamos ter que ter pares mesmo? – Leighton parecia desolado.
- Mas é lógico! – Melissa respondeu. – Aliás, Patrick, você não quer ir comigo?
Aquela pergunta o pegou de surpresa. Ela não podia estar falando sério. Melissa Jones era uma das garotas mais bonitas da Grifinória, os cabelos loiros longos e encaracolados deixavam-na com a aparência de um anjo. Principalmente quando estava voando em sua vassoura.
- Ih, será que vou levar um fora assim de cara? – ela sorriu.
- Não, claro que não. – ele se apressou em dizer. - Lógico que eu quero ir com você.
- Ei, eu não acho que devemos ter valsa... – Snape não estava gostando nada daquela história.
- Achei que você não fosse da Comissão de Formatura, Snape! – Annie devolveu um sorriso sarcástico.
Ele fechou ainda mais a cara, como se isso fosse possível.
- Então está acertado. Todos os formandos deverão ter pares para dançar a valsa. E também podem convidar quem quiserem da escola, só acho bom estabelecer um limite. Que tal do 5º ano para cima? – Annie sugeriu
- Acho que está ótimo. Assim aquela pivetada do quarto ano para baixo não atrapalha. – concluiu Avery.
- Ah, mas tem uma garotas bonitinhas no 4º ano... – Mundungo lembrou.
- Achei que você ia comigo... – Carol deu uma bronca nele.
- Ah, Carol, mulher bonita nunca é demais! – Sirius piscou para o colega.
- Ainda falta a data... – Annie olhava o pergaminho todo rabiscado desanimada.
- Que tal na noite de Natal? – Leighton sugeriu. – Boa parte dos alunos vai embora mesmo, o que evita os penetras. E os convidados de fora também vão estar livres.
Aquela era a primeira vez em que todos concordavam de imediato.
- Então está decidido. – disse Annie exibindo um sorriso largo. – A festa fica marcada para o dia 24 de dezembro.
- Ei, Sirius, é sério que o baile vai ser no dia do meu aniversário?
Lílian, Tiago, Sirius e Frank caminhavam rumo à sala de DCAT. Já fazia uma semana que a data estava decidida, mas Lílian ainda não estava acreditando.
- Lógico que não. De onde você tirou essa idéia? – Sirius brincou. – Até onde eu sei a festa é no dia 24 e seu aniversário é só no dia 25!
- Ei, Lílian, não é ruim fazer aniversário no dia de Natal? – Frank perguntou.
- Sei lá. Nunca fiz aniversário em outro dia para saber! – Lílian achava que perguntas bobas deviam receber repostas bobas.
- Nossa, o humor tá bravo hoje, hein? – o amigo alfinetou.
- Cê você acha que eu tô mal-humorada então melhor nem chegar perto da Helen. Falei com ela rapidinho no almoço e já deu para ver que ela não tá num dos seus melhores dias...
- E quando é que ela tá num desses dias? – Sirius piscou para Frank.
- Hmmm, acho melhor vocês pararem de falar dela, a não ser que queiram ouvir umas boas. Já chegamos. – Tiago, que estava quieto até então, chamou a atenção dos três.
Lílian se adiantou e bateu devagarinho antes de abrir a porta da sala ocupada pela professora Arabella Figg. Apenas Sophie Alethea estava ali dentro, num papo animado com a professora. A última coisa que as duas pareciam estar discutindo eram as Artes das Trevas.
- Olá! Chegaram na hora. E Helen, onde está? – a professora parecia estar feliz.
- Não sabemos. – Lílian respondeu por todos.
- Hmmm, logo hoje que eu ia precisar da colaboração dela... Mas tudo bem, vamos começar a reunião assim mesmo. Vocês já decoraram o Manifesto de Morgana?
- Ah, bem, sabe como é... – Tiago parecia encabulado. – O jogo de quadribol...
- Isso já tem duas semanas, Ti... Sr. Potter. – volta e meia Arabella se esquecia de que ali ele era seu aluno, e não o filho de sua melhor amiga, Judy Potter.
- Eu, Helen e Lílian temos ele bem afiado, professora. – Sophie intercedeu. – Os meninos também precisam se preocupar com isso?
- Sim, querida. Não pensem que estou pegando no pé. – ela olhou para Tiago ao dizer isso. – É que acho que se tiverem memorizado bem os argumentos de Morgana para a separação dos mundos, será mais fácil identificar aqueles que compartilham ou discordam dessa opinião...
Então o ranger da porta se abrindo distraiu todos. Era Helen.
- Atrasada... – a tia da menina olhou para o relógio.
- Humpf! – ela não deu sequer "boa tarde" aos colegas e sentou-se numa cadeira mais afastada, com o gato no colo.
Sirius evitou olhar para ela. A verdade é que não se falavam desde o dia da reunião de formatura. E, ao que tudo indicava, não iam voltar a se falar tão cedo. Ele não estava com raiva dela, mas também não estava com paciência para agüentar o mal-humor de ninguém.
- Helen, foi bom você chegar. Vou precisar de Eros.
A menina não respondeu nada. Ficou olhando para a cara da tia que se ela tivesse dito algo estúpido. Afinal, para que é que ela precisava de um shadowcat? Não era professora de Trato das Criaturas Mágicas... Ela apertou a gato contra o peito.
- Eros, venha cá! – a professora chamou.
Para o espanto da menina, o gato se desenroscou de seus braços e deu um salto da cadeira para o chão, atendendo o chamado da senhora Figg.
- Ei! – ela olhou brava para a tia. – Eros, volte aqui.
O gato parou indeciso. A sra. Figg tinha sido dona daquele shadowcat até a sobrinha completar 7 anos, quando lhe deu o animal de presente de aniversário. Isso lhe dava um certo poder sobre o gato que nem Helen podia anular. Arabella Figg havia sido a primeira dona de Eros e, por isso, ele lhe devia certa obediência. Os outros cinco alunos ficaram ali, abobados, olhando as duas controlar o gato prateado como se ele fosse um fantoche.
- Helen! – a tia ralhou. – Não seja estúpida!
- Você me deu. Ele é meu agora!
- Eu estou pedindo a sua colaboração! O que está havendo com você? Brigou com o namorado, é?
A menina engoliu em seco. Sirius e Frank sentiram um friozinho na espinha. Muito a contragosto, Helen cedeu, querendo evitar uma discussão na frente de todos aqueles "estranhos":
- Pode ir, Eros.
Antes de receber o gato nos braços, Arabella resmungou:
- Não sei o que está acontecendo com você... Bem, eu vou ensinar vocês a extrair memórias. O processo é mais fácil quando tentamos extrair nossas próprias memórias, pois selecionamos o material que queremos. Vocês dois já devem ter aprendido isso... – ela olhou para Black e Potter. - É matéria do sétimo ano. Mas vocês três não vão ter muitos problemas em aprender. Quanto a você, Helen...
- Já sei, vou ter que procurar alguma boa alma disposta a me agüentar, e aprender a realizar pelo menos os feitiços elementares – ela disse sem titubear, como se repetisse algo que ouvia todos os dias.
- Bem, eu posso ajudar. – Frank se ofereceu.
Ela exibiu o primeiro sorriso do dia, mas a tia tinha planos para ela.
- Não. Quero que seja Sirius ou Tiago. Eles conhecem melhor o procedimento de depositar os pensamentos numa penseira.
Os dois rapazes olharam um para o outro, imaginando qual dos dois seria o mais azarado.
- Será que não dá para resolver isso mais tarde? – Helen queria mudar de assunto.
- Tudo bem. Mas você vai precisar mesmo de reforço. Acho que Dumbledore já lhe disse isso.
- Humpf.
- Mas voltando ao assunto principal, conversei com meu irmão, e, bem, achamos que seria interessante fazer investigações dentro de Hogwarts. A propaganda anti-trouxa tem seus adeptos aqui dentro. Vocês ficarão encarregados de fazer a leitura de Eros todo fim de tarde. Quero relatórios de tudo que aparentar relevância. O método não é difícil...
Arabella Figg puxou a varinha das vestes e, depois de colocar o gato prateado sobre a mesa, tocou as duas orelhas do bichinho. Começou então a acelerar esse movimento de ida e volta, e em menos de um minuto, um fio gosmento da mesma cor do gato surgia diante dos olhos dos seis alunos.
- Sophie, pegue aquela bacia na estante verde.
A corvinal obedeceu. A sala da professora Figg tinha três estantes e um armário fechado. Havia pouca coisa nesse móveis, reflexo do tipo incomum de aula que aquela bruxa dava. A bacia prata se destacava entre os outros objetos, em sua maioria, feitos de madeira ou barro. Sophie colocou a bacia sobre a mesa e, com um gesto brusco, Arabella Figg puxou a varinha, que tinha o tal fio de pensamento grudado na ponta e depositou-o no recipiente. Para espanto dos quatro bruxos mais jovens, aquele fio fino e gosmento começou a engrossar e, em pouco tempo, um líquido da textura do leite de unicórnio enchia a tal bacia até a borda. Tiago e Sirius já tinham visto isso numa de suas aulas de feitiços, por isso não se admiraram.
- Pronto! Agora cada um de vocês vai encostar a ponta do nariz nesse líquido, para conhecerem como funciona a memória de um shadowcat.
- Quê? - Helen deu um pulo da cadeira onde estava. – Mas não vão mesmo!
- Vão sim. - a tia desafiou.
- Tia Arabella, Eros passou o dia todo comigo! De certa forma, essas são as minhas memórias! – ela tentava mostrar à tia que aquilo era invasão de privacidade.
- Ora, Helen, você não tem nenhum grande segredo a ser revelado, tem, querida?
Aquilo enfureceu a menina. A tia sabia que ela tinha um segredo, sim. Algo que muito poucos sabiam: que ela podia escolher sua casa. Mas não era aquilo que afligia Helen. Ela sabia que o gato só podia relembrar os acontecimentos mais imediatos e ela não falava sobre seu dilema desde a visita a Dumbledore, no ano anterior. Porém, naquela manhã acontecera algo que ela não queria que ninguém soubesse, principalmente uma certa pessoa que estava ali.
- Bom, já que você não vai mudar de idéia, eu é que não vou ficar aqui para ser ridicularizada. Vem, Eros. – e o gato saltou da mesa e seguiu a menina, que bateu a porta com força ao sair.
- Humpf! Aborrescentes... Vamos, um a um. Quero que vocês olhem dentro da penseira. Prestem atenção aos sons. As imagens não vão ajudar muito. Lílian?
A ruivinha se aproximou da bacia e encostou a ponta do nariz arrebitado naquele líquido prateado. Então algo puxou seu rosto para dentro da bacia, assuntando Sophie e Frank. Tiago e Sirius já tinham isto aquilo acontecer tantas vezes que não se importaram. Ela ficou ali alguns segundos e então levantou o rosto. A franja parecia estar um pouco molhada; mas nada que atrapalhasse muito. Mas a cara da menina, que parecia um tanto assustada, intrigou Sirius. Ela olhou para ele rapidamente e ficou quieta. A próxima a conhecer a memória de Eros foi Sophie, mas, ao contrário de Lílian, esta estava segurando a risada ao tirar o rosto de dentro da penseira.
- Tiago?
A reação de Tiago foi parecida com a de Sophie. Só que ele não conseguiu segurar o riso. Começou a rir compulsivamente:
- Agora eu entendi porque é que ela está tão mal-humorada hoje! – ele tentou abafar o riso ao ver que a professora o olhava brava.
- Eu não quero que vocês prestem atenção ao que Helen fez ou deixou de fazer. Prestem atenção aos detalhes!
Frank e Sirius levantaram-se ao mesmo tempo dispostos a serem os próximos a conhecer aquele pequeno segredo. Longbottom acabou indo primeiro. Ao terminar o processo ele parecia um tanto surpreso. Nem assustado e nem divertido, apenas surpreso. Ao sentar-se, ele murmurou algo do tipo: "Por que será que ela fez isso?"
Enfim chegara a vez de Sirius. Ele estava um pouco nervoso. Quando viu o rosto de Lílian imaginou que as memórias do gato pudessem ser sobre o dia do jogo, mas, se fosse isso, Tiago não estaria rindo até agora. Sophie também achara engraçado, então deveria ser outro tipo de coisa. Ele deixou aquele líquido entrar em suas narinas e em pouco tempo estava num outro local. As imagens eram todas em preto-e-branco, além de totalmente embaçadas. As manchas mais escuras pareciam ser mesas circundadas por cadeiras... Provavelmente a biblioteca. Uma mancha maior começou a se aproximar:
- Que houve? Mais dúvidas?
- Não, bem, dúvidas eu tenho sempre. Mas desta vez não quero tirar dúvidas, não.
Sirius reconheceu as duas vozes instantaneamente: eram de Helen Silver e Severo Snape.
- Então o que você quer? Estou ocupado.
- Será que você não pode perder três minutos comigo? – a voz de Helen demonstrava que a menina estava irritada e impaciente.
- O primeiro minuto já passou. – Sirius não precisava ver para saber a cara de Snape naquele momento.
- Então tá. Vai ser na lata mesmo. Quer ir ao baile de formatura comigo?
- Como? – agora o tom de surpresa na voz do monitor-chefe era evidente.
- Quer ou não quer? – Helen parecia ainda mais irritada.
- Não devia ser eu a fazer essa pergunta?
- Quer ou não quer? – ela estava definitivamente perdendo a paciência.
Seguiu-se um silêncio dos dois a essa altura, e Black pode ouvir um emaranhado de vozes ao fundo, com certeza de outras pessoas que também estavam na biblioteca. Os avisos de silêncio pregados pelas paredes não tinham muito efeito sobre a jovem população de estudantes de Hogwarts.
- Está bem. – Snape finalmente respondeu.
- Era só isso. Obrigado!
Então Sirius começou a sentir a mesma sensação de ser engolfado por um redemoinho de quando encostou o nariz na substância prateada. Não demorou mais que alguns segundos para que estivesse de novo na sala de DCAT, com os colegas olhando para ele. Sentou-se ao lado de Tiago, que cochichou em seu ouvido:
- Então, ela não tinha motivo para ficar irritada? Quase levar um fora do Snape não deve ser fácil!
- Ei, eu não tenho roupa de gala trouxa!
- Agora que você lembrou disso, Pedrinho? – Tiago sabia que Pedro Pettigrew conseguia ser mais distraído do que ele, mas mesmo assim o amigo conseguia surpreendê-lo de vez em quando.
- Não tem problema! É só transfigurar suas vestes normais. A maior parte do pessoal tá fazendo assim... – Remo lembrou. – Na verdade, acho que só as garotas é que resolveram comprar vestidos trouxas!
- Típico! – Sirius deitou-se na cama, sem se preocupar com o tempo. Faltava apenas meia hora para que o baile começasse.
- Você não vai começar a se aprontar, não? – Pedrinho perguntou.
- Já tomei meu banho. Transfigurar as vestes vai ser fácil... – Black puxou um livro que estava no criado-mudo de Tiago. – Não sabia que você estava com dificuldades em poções, Tiago.
- E não estou. Na verdade eu queria achar uma poção para dar um jeito no meu cabelo, pelo menos por hoje. Mas acho que peguei o livro errado...
- Dar jeito no cabelo? – Remo riu da cara do amigo. – Tá querendo pedir a Lílian em casamento, é?
- Não seria uma má idéia! Desde que eu seja o padrinho, claro! – Sirius zombou de Tiago Potter.
- Hoje é um dia importante, sim. E vocês podem tirar todo o sarro do mundo que eu não tô ligando. – e realmente, ele não estava.
- Ei, o que é que vocês acham? – Pedrinho estava provando suas vestes de bruxo transfiguradas em roupas trouxas.
- Hmmm... São roupas trouxas, sem dúvida! – Sirius espiou de canto de olho. – Só acho que não são, exatamente, roupas de gala...
Rabicho conseguira transformar suas vestes azul-marinho numa camisa florida de cores berrantes e uma bermuda de xadrez escocês. Ele não costumava usar roupas trouxas nem durante as férias, afinal, vivia isolado numa fazendinha perdida a noroeste da Inglaterra, onde nunca nenhum trouxa tinha passado. Ele olhou para si mesmo e enfim perguntou:
- O que eu faço agora?
- Tira isso e desfaz o feitiço. Não dá pra transfigurar outra vez algo que já está transfigurado... – Sirius respondeu com toda a calma do mundo.
Rabicho repetiu o feitiço umas quatro vezes, até que Lupin ficou com dó e lhe arranjou uma camisa azul-claro e calças do mesmo tom da veste original. Tiago estava em frente ao único espelho do quarto, que tinha uma rachadura que ia dum extremo ao outro da moldura, escovando insistentemente os cabelos. De nada adiantava: os cabelos voltavam a espetar.
- Tiaguito, cê já tá parecendo a Nancy Reed! É só colocarem um espelho na frente dela e ela começa a puxar os próprios cabelos. Como se isso fosse resolver o problema dela. – Sirius observava o amigo sem muito interesse.
- Quer saber duma coisa? Eu desisto. Lílian sabe que meu cabelo é assim mesmo...
- Você ainda não disse por que está tão preocupado com a aparência hoje. – Remo insistiu vendo o amigo por e tirar os óculos em frente ao espelho. - Você nunca se preocupou com isso...
- Por nada. É que é a última festa que teremos em Hogwarts...
- Achei que você viria para a formatura de Lílian ano que vem... – Sirius estranhou, enquanto ajeitava o travesseiro.
- Ih, vocês não vão parar de pegar no meu pé?
- Ué, não foi você mesmo que falou que a gente podia te aporrinhar o quanto quiséssemos hoje? – Remo lembrou e deu uma piscadela para Sirius.
- Estou pronto! Encontro vocês lá embaixo.
Os outros três olharam Pedro Pettigrew de alto a baixo enquanto o rapaz loiro e gordinho saía do quarto.
- Nós deixamos ele sair assim?
- Melhor não. Vai chamar ele, Remo! – Sirius não levantaria cama nem por um decreto de Dumbledore.
Não demorou muito Remo voltou com o colega de quarto:
- Mas eu tenho certeza que já vi retratos de trouxas usando sapatos como este.
- É, eles usavam mesmo... – Tiago concordou, segurando o riso. - Lá pelo século XIV.
Com os pés dentro de um sapato tipo Luís XV, com direito à fivela e saltinho, Pedrinho reclamou:
- Droga! Vou parecer estúpido ao lado da Pimrose! Ela é pelo menos uns dez centímetros mais alta que eu...
- Pimrose? Você vai com a Olívia Pimrose? – Sirius engoliu a surpresa.
- É, foi a primeira que aceitou... – ele respondeu infeliz. - E sou obrigado a dançar com alguém, não é?
- Ahn, é... É, sim. – Sirius ficou tentado imaginar aquela garota alta e esquelética do 5º ano dançando com seu amigo baixinho e gordinho. Aquele baile ainda teria muitas cenas cômicas.
- Você vai com quem, Remo? – Tiago andara tão preocupado com o presente que daria de aniversário a Lílian que estava totalmente por fora dos casais formados para o baile.
- Com a Bonnie. – ele respondeu sem grande entusiasmo.
- Credo, Remo, que desânimo! Nem parece que você vai com uma das gracinhas da Grifinória. – Sirius cutucou o amigo.
- Hmmm... É que não era com uma grifinória que ele queria ir, né, Lupin? – Tiago começou a desforra.
- Ih, nem começa... – ele colocou o pé sobre a arca encostada em sua cama para fazer o laço do sapato.
- Oh, Remo, ainda na da Margot? Parte pra outra, meu velho... – Black sugeriu.
- Ei, vocês acabaram de me lembrar que estão me devendo uma armação contra o Seboso Snape.
- Opa, mesmo que não estivéssemos. Hoje é um dia bom pra fazer isso. – as idéias estavam brotando na cabeça de Sirius.
- Hoje? – Pedrinho estava assustado como sempre que os amigos sugeriam alguma pequena loucura.
- Hoje não. – Tiago foi taxativo. – Isso pode nos render um problemão e eu quero que esta noite seja perfeita. – os olhos castanhos do rapaz brilharam no instante em que ele disse esta palavra, como se ele já tivesse planejado todos os detalhes daquela noite.
Lupin passou o pente rapidamente nos cabelos para arrumar os cachos castanho-claros. Ao contrário de Tiago, ele não precisava de muito esforço para deixar os cabelos assentados. Estavam todos prontos, quer dizer, todos com exceção de Sirius.
- Cê vai ficar aí? Já são cinco para as nove! – Tiago avisou.
- É, acho bom eu me arrumar... – ele levantou da cama, não sem antes dar uma boa espreguiçada.
Na maior lerdeza do mundo Sirius abriu sua arca e puxou uma veste de gala verde.
- Ei, você não vai de trouxa? – Pedrinho estranhou ao ver o amigo colocar as vestes.
Sirius não se dignou a responder. Com um movimento da varinha transformou a veste a rigor em calças pretas e camisa vermelha de mangas compridas; os sapatos estavam caprichosaemente lustrados.
- Ei, eles vão climatizar o Salão Principal, né? – ele pediu a confirmação dos outros.
- A gente espera que sim... com essa nevasca aí fora, não quero nem imaginar se não fizerem isso. Acho que todo mundo vira picolé! – Pedrinho respondeu e os outros concordaram.
- Bom, por via das dúvidas vou transfigurar o uniforme num paletó...
Feito isso, os quatro rapazes desceram as escadas e chegaram ao salão comunal, onde outros rapazes aguardavam as garotas. Apenas duas das formandas já estavam prontas: Bonnie Kudrow, par de Remo, e Jane Winslet, que iria com Edgard Randy, do sexto ano.
- Nós temos que ir todos juntos, ou nos encontramos lá? – Sirius perguntou às duas, imaginando a eternidade que Melissa Jones e Sarah McLane levariam para se arrumar.
- Acho que podemos ir separadamente. – Bonnie respondeu, suave como sempre. – Até porque Melissa vai com o Leighton, que é da Lufa-lufa.
- Que pressa é essa, Sirius? Sua nova namorada ainda nem está pronta... – Jane alfinetou.
- Tá doida, menina? Quem disse que eu tenho namorada? Liberdade é meu bem mais precioso! – ele deu uma piscadela.
Então Sirius percorreu o salão com os olhos: nem sinal de Julianne Andrews.
- Vocês não sabem se a Lílian já terminou de se arrumar, né? – Tiago estava ansioso.
Elas disseram que não. Mas então a ruivinha desceu, num lindo vestido tomara-que-caia azul, acompanhada pelas colegas de quarto Julianne, Patty McCoy e Nancy Reed. Uma confusão de cores de cabelo: os de Lílian eram vermelhos como fogo; os de Julianne, longos e lisos, eram cor de chocolate; Patty era loira de cabelos curtos; e o negro azulado de Nancy era comum nas descendentes de orientais como ela. As quatro estavam muito bonitas, mas Tiago não tinha olhos para outra garota além de Lílian. Logo depois delas desceram Melissa e Sarah. Os outros rapazes que estavam esperando tomaram seus pares e começaram a sair do salão comunal aos poucos, enchendo os corredores do castelo com conversas animadas. Dos oito alunos do sétimo ano da Grifinória, três ainda estavam sozinhos: Melissa, Pedrinho e Sarah. Eles iriam se encontrar com seus pares na entrada do Salão Principal, onde aconteceria a festa.
- Ei, vocês dois estão namorando? – Julianne olhou bem para Remo e Bonnie.
- Não! – os dois responderam rápido.
- Sério? - comentou Sirius irônico – Achei que estavam. Vocês tem feito tudo junto ultimamente...
Tiago e Pedrinho seguraram a risada. Melissa lançou seu olhar mais incrédulo para Black.
- Ai, Sirius, esse é um pensamento normal para alguém que nunca consegue chegar perto de uma garota sem segundas intenções...
- Ah, tá? E você acha que o Leighton não tem nenhuma a seu respeito, né? Ô, ingenuidade...
A garota ruboresceu, e ninguém ali saberia dizer se de vergonha ou de raiva. O fato é que Melissa Jones nunca deixava uma insinuação sem resposta, mas ela não tinha nenhuma naquele momento. O jeito foi apelar:
- Bom, você já viu com quem é que você está indo a esse baile, Andrews. – ela se voltou para o par de Sirius.
- Ora, só porque você tem uma dor-de-cotovelo insuperável porque ele te largou para ficar com a Stuart, não quer dizer que ele vá fazer o mesmo comigo...
- Eu? Dor-de-cotovelo por causa do Sirius? Você anda muito desinformada, garotinha.
Sarah, a melhor amiga de Melissa, tentava acalmar a garota, como se isso fosse possível.
- Ah, não, claro que não. A história com o Sirius é antiga, né? – as amigas de Julianne estavam se surpreendendo. Ela sempre fora a criatura mais doce do sexto ano, ninguém imaginaria que pudesse destilar tal veneno. – O seu problema agora é ter perdido Tiago para a Lílian, né? – ao ouvir isso o casalzinho se entreolhou preocupado. Tudo o que não queriam era arranjar briga aquela noite. - Parece que as garotas do sexto ano andam fazendo mais sucesso que as do sétimo.
- Eu não preciso dizer nada a você. A noite vai fazer isso por mim. – Melissa falou olhando para os dois ex-namorados. – Não diga que eu não avisei... O Leighton está ali, vejo vocês mais tarde.
Eles tinham chegado à entrada do Salão Principal, como denunciava o burburinho ao redor. Todos os alunos de sétimo ano estavam ali, esperando que a professora Moonlight os chamasse para a valsa de abertura. Por esse motivo, muitos alunos de outros anos também se encontrava ali, pois seriam pares de dança dos formandos. Rabicho não demorou a achar Olivia Pimrose; provavelmente a garota mais alta das que estavam ali. Se não fosse o seu jeito desengonçado, poderia-se dizer que a garota estava bonita. Ele olhou meio constrangido para os amigos e sumiu no meio da multidão carregando a garota:
- Ele acha que vai conseguir se esconder carregando aquele poste com ele? – Sirius fez um comentário maldoso para Tiago.
- Tiago, vou falar com Helen, tudo bem? – Lílian pediu ao namorado, que respondeu num aceno positivo de cabeça.
Sirius olhou disfarçadamente para a direção que Lílian tomou. Helen Silver sozinha, olhando para o nada. Vendo que Julianne estava ocupada conversando com as amigas Patty e Nancy, Sirius comentou com Tiago?
- Ela está sozinha?
- Ela quem, Almofadinhas?
- A Silver.
- É o que parece... E pelo que a Lílian me falou, ela vai passar a maior parte da festa assim.
- Que?
- Os monitores vão ter que trabalhar na festa. E isso inclui o Snape.
- Mas então Lílian também vai ter que trabalhar...
- Não. – Tiago deu um sorriso. – Annie deu folga a ela por causa do aniversário. Aliás, parece que os monitores têm direito a tirar uma folga durante o ano, e Lílian já tinha pedido pra ficar livre no Natal desde o começo do ano letivo. Foi pura sorte o baile acontecer hoje.
- Mas então por que a Helen chamou o Snape?
- Sei lá. Vai ver ela queria ficar sozinha! Ou então ter tempo pro Longbottom.
- Mas ele vai trabalhar, não vai?
- Estou sentindo uma nota de preocupação na sua voz? – Tiago zombou do amigo.
- Lógico que não... É que não faz sentindo trocar um monitor por outro... – ele deu como desculpa.
Então a dúvida de Sirius foi respondida. Um garoto alto, de cerca de 1m85, e cabelos castanhos claros se aproximou por trás de Helen e abraçou-a pela cintura. Como a menina era muito baixinha, ele a suspendeu no ar e sem segurar o impulso, girou a no ar. Ela pedia rindo que o rapaz parasse, enquanto Lílian olhava a cena feliz:
- Cameron, que saudade! – ela disse quando o irmão finalmente a colocou no chão. – Como está papai?
- Teimoso como sempre. – ele respondeu sorrindo. – Como vai, Lílian?
- Tudo bem.
- Pronta pra dançar a noite inteira? – ele voltou-se para a irmã.
- Mas é claro! Já encontrou Annie?
- Correndo para arrumar os últimos detalhes. Estou vendo que só vou conseguir ficar com ela durante a valsa... – ele disse desanimado.
Então Lílian pareceu entender o porquê de Helen ter convidado Snape.
- Peraí, não em diga que você convidou Snape para...
- ...para poder fazer companhia a meu irmão. – ela confirmou. – Foi um pedido de Annie. Ela não queria deixar Cameron sozinho.
- Ufa! Por um instante eu achei que você tinha ficado louca quando vi... – ela olhou para Cameron que parecia interessado na conversa. – Ah, deixa pra lá.
- Lílian? – era Tiago. – Temos que formar uma fila. Tudo bom, Silver?
Sem saber para quem Tiago tinha perguntado os dois irmãos responderam que sim.
- A gente se vê! – Lílian despediu-se da amiga e do irmão dela e sumiu com Tiago no meio da multidão de alunos.
A professora Berenice Monnlight, paraninfa da cerimônia, começou a chamar os formandos por ordem alfabética, o que estava causando um grande problemas, pois havia casais de sétimo-anistas cujos sobrenomes não começavam com a mesma letra. Bonnie e Remo eram um exemplo dessa atrapalhação: o sobrenome dela era Kudrow e o dele Lupin, e por mais perto que K e L estivessem no alfabeto, ainda havia Lestrange entre eles (Leighton já havia entrado com Melissa e levou um susto quando chamaram seu nome novamente). Avery foi o primeiro a entrar, de braços dados a Chloe Millard, uma aluna do sexto ano da Sonserina. Em seguida, entraram Sirius e Julianne, e depois, Rod Bennings e Florence Stuart. A lista foi andando: Narcisa Boggs e Lucius Malfoy; Mundungo Fletcher e Carol Stuart; Melissa Jones e Patrick Leighton (ela já não estava tão enfezada agora...); Bonnie Kudrow e Remo Lupin; Pedro Pettigrew e Olivia Pimrose; Tiago Potter e Lílian Evans; Annie Preston e Cameron Silver, Severo Snape e Helen Silver... (ah, eu não vou colocar todo mundo não porque a maioria nem vai aparecer na história!).
Os casais tomaram seus lugares no salão e, ao primeiro acorde da banda Os Bizarros (uma banda bruxa que tocava música trouxa não podia ter outro nome, segundo Narcisa!), começaram a deslizar pelo salão. Alguns poucos pares não encontraram dificuldades nessa tarefa, entre eles, Sirius e Julianne, Narcisa e Malfoy, e Annie e Cameron. Tiago já havia pisado no pé de Lílian duas vezes, mas ao invés de se zangar, a menina achava graça. Lupin e Bonnie até começaram dançando bem, mas ao ver Pedrinho tentando valsar com Pimrose, Remo teve um acesso de riso que tornou impossível continuar a dança. Severo Snape e Helen Silver formavam um casal engraçado: a menina volta e meia parava a dança tentando ensinar os passos a ele. E até que ela parecia mais paciente do que de costume.
Terminada aquela abertura alguns grupinhos foram se juntando em torno de mesas redondas espalhadas pelo salão; apenas a região central estava vazia, para ser utilizada como pista de dança. A comida estava toda em duas mesas compridas, para que as pessoas se servissem à moda americana. A idéia fora de Mundungo Fletcher que, preocupado com o desperdício costumeiro das festas de Hogwarts, procurou uma maneira de fazer os elfos-domésticos trabalharem apenas para repor a comida que acabasse. A banda seguiu tocando. A primeira música era conhecidíssima dos nascidos trouxas e representava bem o clima de formatura: With a little help from my friends (pra quem não conhece de nome, é a mesma da abertura de Anos Incríveis). Era estranho para Sirius, Tiago, Remo e Pedrinho constatar que uma boa parte do salão cantava animada com a banda, enquanto a outra parte tentava se mexer ao ritmo da música meio desajeitadamente.
Lílian não quis ir para a mesa. Queria dançar, e mesmo que Tiago fosse um péssimo dançarino, ele era ótima companhia. A essa altura Annie Preston e Severo Snape já estavam às tontas pelo salão; sempre apareciam probleminhas de última hora, o que era ótimo para Helen, pois podia dançar com o irmão. E como os dois dançavam. Não havia música, agitada ou lenta, em que os dois ficassem parados; se não fossem irmãos, seriam um casal de dar inveja a qualquer um no salão, tal a sintonia em que se encontravam na pista de dança.
- Uau! Quem imaginaria que ela sabia dançar tão bem assim? – quem fez a constatação foi Julianne Andrews, chamando a atenção de Sirius para os dois irmãos.
- Acho que eu nunca vi a Silver com um sorriso desses! – Remo também estava admirado.
Os dois casais estavam sentados numa mesa com uma visão muito favorável da pista. Sirius tinha os olhos fixos em Helen, reparando no mesmo sorriso que Remo mencionara. Realmente ele nunca a vira daquele jeito. Parecia muito mais leve do que de costume. E ele imaginando que ela teria que aturar Snape a noite toda!
Mas os olhos de Remo já se preocupavam com outra coisa, na verdade, um outro casal, muito perto de Helen e Cameron Silver. Margot Stuart estava dançando com o ex-namorado da irmã, Eddie Turlington. Remo não pôde deixar de pensar que havia muitos casais trocados naquela festa. Nesse momento, os olhos cor-de-mel de Margot encontraram os dele. Eles passaram alguns segundos fitando um ao outro, mas aquele tempo curto pareceu-lhes uma eternidade. Remo lembrou-se do dia em que terminaram; já fazia tempo, mas o sentimento que ele tinha pela garota continuava igual. Bonnie era uma boa amiga, mas nem de longe existia a chama que os amigos imaginavam. A garota enfim desviou o olhar, nem tanto por querer, mas porque Turlington deu um pequeno rodopio que a colocou de costas para Lupin.
- Você está triste, Lupin. O que houve? – Bonnie, a amiga de todas as horas, tentava fazer com que ele desabafasse.
O rapaz tirou os olhos da pista de dança:
- Não é nada, não. Acho que estou um pouco cansado... – ele deu uma desculpa esfarrapada.
- Cansado, sei... – Sirius ergueu as sobrancelhas enquanto analisava o amigo.
- E você, não vai dançar, não?
Sirius olhou para seu par. Julianne lhe lançou em olhar de pesar.
- Minha sandália está me machucando horrores! – ele respondeu a Lupin. – Mas se você quiser dançar com outra pessoa, Sirius, não tem problema.
- Imagina, gatinha! Tá tudo bem. Mais tarde a gente tenta dar uns passinhos, quando seu pé não estiver doendo, certo?
Ela sorriu animada. Como é que Melissa Jones tinha coragem de falar mal de Sirius? Ele era o garoto mais fofo daquela escola (ai, ai, me desculpem as fãs de Remo, mas era mesmo!)! Os quatro estavam entretidos conversando quando um casal que se aproximou da mesa que ocupavam:
- Bonnie? Será que você aceita dançar com este ex-goleiro da Lufa-lufa? – Cameron Silver exibia um sorriso cativante; Bonnie não pôde recusar.
- Você se importa, Remo?
- Nem um pouco...
- Hmmm, Remo... – Helen começou. – Você não vai me deixar dançar sozinha, né?
- Sirius, por que você não dança com a Helen? – Julianne sugeriu. Nunca passara pela cabeça dela que alguém como Sirius poderia vir a se interessar por uma menina sem-graça como Helen, então não via problemas em juntar os dois para dançar. No fundo ela sentia-se culpada por fazer o rapaz ficar sentado durante sua própria formatura.
- Não! – Helen deu um gritinho baixo, de susto. – Eu... eu queria dançar com o Remo... – ela desviou o olhar, sem graça.
- Você ouviu, Remo, ela quer dançar com você. – Black respondeu disfarçando a raiva.
- Ah, Helen, eu realmente não estou a fim de dançar... – ele procurava Margot na pista de dança.
- Ah, você vai, sim. – o sorriso que há pouco era motivo de comentários naquela mesa, sumiu numa velocidade inimaginável. - Essa música é ótima! (estava tocando My Girl, aquela mesma, do filme Meu primeiro amor) – e saiu arrastando Remo, que deu uma última olhada para Sirius antes de sumir no meio da multidão dançante.
Sirius e Julianne ficaram conversando enquanto a menina não se sentia em condições de dançar. Chegaram a tentar algumas vezes, mas o sapato da garota estava-a torturando. Acabavam voltando à mesa antes que as músicas terminassem. Três ou quatro músicas depois do convite de Helen a Remo, o rapaz estava de volta com um sorriso que ia de um canto a outro do rosto.
- Nossa, o que foi que aconteceu? – Julianne estava abismada com a mudança na fisionomia e Remo.
- Hmmm, digamos que Helen realmente sabe convencer alguém a dançar... – Remo não conseguia conter o sorriso.
- Ora, então por que não continuou na pista? – Sirius soltou mal-humorado. Julianne era uma boa companhia, mas ele já estava cansado de ficar sentado.
- Adivinha... Snape me viu dançando com ela e veio tomar satisfações. Disse que não ia aturar ela dançando com um grifinório, ainda mais alguém como eu.
- Eu não entendo essa menina, sabia? – Julianne estava inconformada.
- E quem entende? – Sirius soltou.
- Por que ela veio com o Snape? Sabe, às vezes ela é muito legal, outras, é melhor nem chegar perto. Vocês não sabem o que é assistir aula na mesma sala que ela. Helen é imprevisível! – Julianne desabafou.
- Ela veio com o Snape para poder ficar com o irmão, já que a namorada dele é quem tá organizando a festa. – Remo tirou a dúvida da menina.
- Mas agora, finalmente, Annie está livre! – Bonnie disse, sentando-se ao lado de Remo. – Estou exausta! Helen falou com você? – a garota perguntou à Remo.
Ele só confirmou com a cabeça.
- Tem alguma coisa que nós ainda não sabemos? – Sirius estranhou aquela troca de olhares.
- Ah, pode ter certeza de que você não vai demorar muito pra saber! – Bonnie falou divertida. – Anda logo, Remo! Você não vai deixar ela esperando, né?
- Mas e você? – Remo olhou para a amiga.
- Eu estou tão cansada que vou querer ficar sentadinha aqui por um bom tempo. Pode ir!
Ele deu um sorriso de agradecimento e deixou Sirius e Julianne sem entender nada. Os dois iam perguntar de quem Bonnie estava falando quando Tiago e Lílian chegaram à mesa:
- Ufa! Estou morta! – Lílian estava ofegante. – Ah, que bom, água!
A garota se serviu e ofereceu o próprio copo para Tiago, que também estava com sede, mas de outra bebida:
- Não tem cerveja amanteigada, não?
- Olhe debaixo da mesa! – Sirius mandou e Tiago obedeceu. Debaixo da mesa circular havia pelo menos três caixas da bebida, envoltas por uma pequena névoa: um feitiço refrigerador. Tiago puxou uma das garrafas e repartiu o líquido com Sirius. As meninas não quiseram.
- Engorda! – reclamou Julianne.
Talvez atraído pela cerveja, Mundungo Fletcher se aproximou da mesa.
- Ei, estão a fim de encher a cara? – ele perguntou animado.
- O que é que você tem? – Sirius perguntou.
- Belinsky.
- Belinsky? Mas isso é o néctar dos deuses! Onde você arranjou? – Tiago estava impressionado. Nenhum menor de idade conseguia comprar belinsky no Três Vassouras. Ele e Sirius vez ou outra contrabandeavam a bebida para dentro do castelo, mas eles tinham o mapa do maroto.
- Tiago, você não vai misturar esse monte de bebida, vai? – Lílian olhou brava para o namorado.
- Lógico que não, amor. – ele piscou para Fletcher e Black.
- Eu conto como consegui essas garrafas se vocês me responderem como conseguiram esse pequeno carregamento aí debaixo da mesa... – Mundungo tinha visto as caixas quando Tiago levantou a toalha da mesa para olhar. - Até onde eu tô sabendo, essa festa é regada a ponche não-alcólico.
- Ok. Cada um com seus segredos. Liberamos nossa bebida se vocês deixar duas garrafas de belinsky. – Sirius fechou o negócio.
- Opa, então passa uma cerveja aí.
- A Carol não vai gostar nada disso! – Bonnie lembrou.
- A Carol... – ele respondeu amargo. – Ela tá ocupada numa reunião de família... Não deve nem ter percebido que não estou lá com ela.
As garotas ficaram sem graça, e Tiago e Sirius aproveitaram para derramar um pouco de belinsky no copo onde estavam tomando cerveja e virar o líquido rapidamente, antes que elas percebessem. Não havia nada melhor que virar um copo de belinsky num dia de inverno rigoroso como aquele. Também não havia nada melhor para ganhar coragem e era disso que Tiago precisava. Ele checou o próprio hálito antes de convidar a garota para dar uma volta pela festa. Pouco depois deles saírem, Helen voltou à mesa dos grifinórios com o tal sorriso invejável. Dessa vez o irmão não estava acompanhando-a.
- Oi! – ela sorriu para Bonnie, que respondeu com outro sorriso.
- Sozinha? – Fletcher olhou para a garota.
- Melhor só do que mal acompanhada, não é? Vocês não querem dançar?
- Ah, eu tô exausta! – Bonnie se espreguiçou.
- Que é isso? Só tem duas horas que a festa começou...
- O Snape sabe que você está aqui? – Sirius perguntou. Ele não sabia se a presença da garota ali o incomodava ou se o deixava contente.
- Ah, ele foi separar uma briga de duas garotas aí... Acho que eram a Pimrose e a Reed.
- O Pedrinho tá arrasando corações? – Sirius ouvia Helen surpreso. - Quem diria?
- Pedrinho? Cê tá falando do Pettigrew? Não, não tem nada a ver com ele, não. Aliás, eu não vi ele sair do lado da mesa de frios até agora! Elas tavam brigando por causa de um enfeite de cabelo. Parece que a Pimrose imitou o da Reed...
- Nossa! A Nancy falou semanas da tal presilha em forma de borboleta... – Julianne se lembrou. – Ela deve estar louca da vida!
- Parece que tá mesmo! Mas e então, vamos dançar? Essa música dá pra dançar em grupo. Olhem aquele pessoal da Corvinal lá do outro lado da pista.
Mundungo não quis olhar. Sabia que Helen estava falando do grupo onde estava Carol Stuart e o (novamente!) namorado dela, Eddie Turlington. Os dois sempre foram amigos, mas naquela noite ele podia jurar que odiava o goleiro da Corvinal.
- Ei, aquele ali é o Remo? – Sirius reconheceu o amigo no meio daquele burburinho.
- É, sim! – Bonnie e Helen responderam juntas. Eles estavam dançando e conversando com Margot Stuart. – Então, vamos dançar? Não precisamos nos juntar a eles. – ela disse isso especialmente para Fletcher. – Podemos ficar aqui perto da mesa mesmo... Aliás, onde estão Lílian e Tiago?
- Acabaram de sair. – Bonnie respondeu.
- Ah... – ela pareceu desapontada.
Os quatro que ainda estavam sentados levantaram e começaram a dançar Dancing Queen numa rodinha. Julianne dançava um pouco e sentava repetidas vezes; não agüentava ficar muito tempo de pé. Helen achava muito divertido ver seus amigos de famílias bruxas dançando músicas trouxas; eles não conseguiam acompanhar o ritmo da música muito bem. Volta e meia a garota olhava para os lados, parecendo um pouco preocupada. Então, de repente, ela botou a mão na orelha:
- Meu brinco! – e abaixou-se para procurar. - Ei, Black, seu sapato está desamarrado! – ela puxou a barra da calça do rapaz.
Sirius abaixou-se para amarrar o sapato e então Helen falou disfarçadamente: "Me encontre lá fora em dez minutos, por favor!".
- Achei. Ela levantou-se novamente e Sirius fez o mesmo, estranhando aquele pedido.
- Ei, Silver, tem urubu rondando! – Fletcher indicou Snape que procurava pela menina no meio da pista de dança.
- Brigadinho! Tá na hora de eu sumir de novo! Vejo vocês mais tarde! – e ela saiu de perto do grupo, sumindo pelo salão.
Tiago olhava ansioso para o relógio de cinco em cinco segundos. Estava um pouco alto da bebida, mas sabia que sem aquele copo de belinsky ele não teria coragem de fazer o que planejara.
- Lílian. – ele segurou a namorada antes que ela chegasse à pista de dança.
- Que foi, Tiago? Achei que queria dançar.
- Ahn, é... É, eu quero, mas daqui a pouco.
Ela franziu a testa. Ele estava estranho.
- Você bebeu, Tiago?
- Só cerveja amanteigada. – ele mentiu. – Eu... Eu quero te dar uma coisa...
- Meu presente? – ela abriu um sorriso. Não era interesse, apenas felicidade explícita. Aquela estava sendo a melhor festa de sua vida!
- É. – ele respondeu um pouco nervoso.
O rapaz começou a tatear os bolsos, em busca do pequeno pacote. Enfim, tirou uma caixinha preta com um bonito laço vermelho e entregou à namorada. Ela abriu rapidamente e encontrou o anel mais lindo que já vira em sua vida:
- Nossa, Tiago, eu não sei o que dizer...
- Diga que sim.
- Ãhn? – ela não entendeu.
- Lílian, isso não é só um anel... - ele procurava coragem no fundo de sua alma. - Isso é um pedido de casamento. Lílian Evans, você quer casar comigo?
Ela deixou a caixinha cair ao ouvir isso e soltou sem pensar:
- Não!
- Como? – Tiago estava passado. Jamais imaginara que ela pudesse recusar. Estava nervoso e tudo mais, mas tinha certeza de que ao ouvir o sim da namorada, aquilo iria passar. Mas agora parecia que seu pior pesadelo se tornara realidade.
- Tiago, eu vou fazer 16 anos daqui a uma hora. Ainda é muito cedo. – ela tirou o anel do dedo. – Eu não posso aceitar.
Ele não conseguiu responder nada. Ele não conseguia mais olhar para a garota.
- Tiago, nós não podemos tomar uma decisão precipitada dessas, você me entende, né?
Ele continuava sem reação. E então resolveu obedecer a única vontade de seu corpo e mente: sair dali o mais rápido possível. Já havia uma pequena aglomeração em torno do casal e Tiago teve que empurrar algumas pessoas para sair dali, diante dos olhos atônitos de Lílian:
- Tiago, onde você vai?
Ele não respondeu. Apenas saiu dali, deixando-a com lágrimas escorrendo pela face.
- Lílian? – Frank Longbottom chegou à amiga, atraído pela aglomeração em torno dela. – Você está chorando? O que houve? Cadê o Tiago?
- Ah, Frank, eu acabei de fazer a maior besteira da minha vida. – e ela se atirou nos braços do amigo, num choro sem fim.
Ele não sabia o que estava fazendo ali, no meio da neve esperando por ela. Como o frio estava apertando, transfigurou os sapatos em botas de couro de dragão e o paletó num sobretudo grosso de pele de javali. Não ficou muito bonito, mas era a única forma de suportar aquela noite gelada. Dera a desculpa de que ia buscar ponche para sair da mesa onde estavam Julianne, Bonnie e Mundungo; não podia demorar muito. Então ele viu Helen se aproximando, o nariz vermelho de frio e a boca tremendo. Ela estava apenas com o vestido longo de mangas compridas que usava dentro do castelo; na melhor das hipóteses, sairia daquela conversa com uma pneumonia. Foi pensando nisso que Sirius se adiantou até ela e, sem pedir permissão, transformou o xale que ela carregava nas costas num pesado manto de pele de urso.
- Obrigado! Snif! – ela fungou. Andar do Salão Principal até ali já a deixara resfriada.
- Levante o pé. Vou transformar seus sapatos em botas. – o rapaz pediu e ela obedeceu. – Você é louca, é? Por que não transfigurou suas roupas antes de sair do castelo?
- Do jeito que me dou bem com a varinha, era capaz de eu atear fogo em meu vestido com um simples feitiço de aquecimento.
Eles sorriram um para o outro. Era a primeira vez que isso acontecia desde o jogo.
- Então, o que você queria me dizer de tão importante para ter que sair do salão?
- É, bem, eu quis sair de lá porque Severo provavelmente atrapalharia nossa conversa. Tentei encontrar Lílian e Tiago, mas eles desapareceram; e Sophie e Frank estão realmente ocupados apagando um incêndio que um aluno bêbado começou. Então sobrou você...
- Nossa, muito legal da sua parte. Quer dizer então que eu sou a última alternativa? - ele perguntou com amargura na voz.
- Ah, eu não vou mentir. Você sabe que é. – ela desviou o olhar. – Acho que ainda não é a hora de a gente conversar...
Ele olhou bem para ela; Helen continuava fixando o olhar num montinho de neve qualquer.
- É uma pena. Porque eu não vejo motivos para perder uma amiga... – ele retorquiu sem saber direito se era uma amiga que ele queria.
- Eu não te chamei para falar, bem... de nós. Eu queria lhe mostrar isso. – ela tirou das vestes um pedaço de pergaminho cuidadosamente enrolado.
Sirius abriu-o:
- Muito interessante. O que eu faço com um pedaço de pergaminho em branco?
- Em branco? - ela pareceu surpresa. - Mas... – ela se aproximou de Sirius que se abaixou um pouco para que a garota pudesse ver o pergaminho. – Que piada mais besta, Sirius! Leia!
- Ler o quê? Não tem nada aqui.
- Mas é lógico que tem! Você é daltônico? Não consegue ler algo escrito em verde, é?
- Helen, não tem nada escrito aqui. Nem em verde, nem vermelho, nem azul, nem em cor nenhuma!
- Mas eu estou vendo! – ela estava exaltada. Tinha certeza que o rapaz estava caçoando dela.
- Então leia para mim, porque eu não estou enxergando nada. – ele disse sério e então ela percebeu que não era uma brincadeira.
- Bem, o pergaminho... – e a voz dela sumiu de repente, só que ela parecia não perceber, porque a boca da menina continuava a se movimentar enquanto ela apontava para o pergaminho e gesticulava. – É isso. – a voz dela voltou.
- A sua voz sumiu. – Sirius olhou para ela preocupado.
- Como assim sumiu? Eu estava me ouvindo... Tá dizendo que...
- Sumiu outra vez, Helen.
Ela parou de falar, ou melhor, de tentar dizer o que havia no pergaminho. Sirius tentou solucionar:
- Não há dúvidas de que o pergaminho está enfeitiçado. Tente me dizer o que está escrito aqui com outras palavras.
- Está bem. Isso é...
- Propaganda anti-trouxa?
- Você ouviu?
- Não, li seus lábios. – a menina suspirou desanimada, enquanto Sirius voltava a analisar o pedaço de pergaminho. – Será que não está escrito em tinta invisível.
- Eu não conseguiria ler tinta invisível, Sirius! Além do mais, está invisível para você, para mim está perfeito! Tem letras muito bem desenhadas. Algumas das palavras estão em prata.
- Quais?
A menina tentou dizer, mas não saiu nenhum som de sua boca.
- Você disse Salazar Slytherin? – Sirius lia os lábios de Helen com dificuldade. – Ei, talvez seja por isso... Talvez só alunos da Sonserina, de Salazar Slytherin, possam ler este comunicado.
- Ah, mas acho que aí eu não conseguiria ler também... – ele baixou os olhos tristes.
- Ora, e por que não? Você é uma sonserina!
- Ah, você sabe muito bem que eu sou uma sonserina fajuta...
Helen estava falando daquela vez em que Dumbledore pedira a eles que colocassem o chapéu seletor. Ela só estava na Sonserina porque pedira que o chapéu a colocasse naquela casa.
- Pois eu acho que não. – ele tentou animá-la. – Ou você seria menos birrenta!
Ela fez uma careta para ele, mas acabou rindo. Sirius gostava de vê-la sorrir; parecia outra garota.
- Bem, talvez seja isso mesmo porque diz... – e vendo que a cara de Sirius delatava que ele não estava ouvindo uma palavra, ela desistiu. – Tem que haver algum feitiço.
- Hmmm... Lupin é melhor nisso que eu. – e então Sirius se lembrou do mapa do maroto, em que eles haviam jogado um feitiço parecido – Mas quem sabe... Reveliate!
Quando Sirius tocou a ponta da varinha no pergaminho, uma luz verde apareceu e um desenho começou a se formar.
- Parece que está dando certo! – Sirius sorria.
- Não está, não! As palavras sumiram! – Helen não despregava os olhos do pergaminho.
- Mas eu estou vendo uma mancha...
A tal mancha finalmente tomou a forma de um crânio verde e brilhante como uma esmeralda, de cuja boca saia uma serpente negra. A imagem durou poucos segundos, suficientes para que Sirius e Helen não conseguissem esquecê-la, e finalmente desapareceu. O rosto de Helen estava em pânico, como se ela já tivesse visto aquilo em algum lugar e soubesse exatamente o que representava.
- Você sabe o que é isso? – ele perguntou segurando-a forte; parecia que a menina ia desmaiar de tão frágil.
- Ora, ora. A sangue-ruim resolveu procurar um par de sangue puro? – a voz azeda de Lucius Malfoy era mais cortante que o vento gelado. – Silver, você definitivamente não sabe o que é ser da Sonserina...
- De onde você surgiu? – vendo Helen assustada e muda como uma porta, Sirius achou que ele é quem teria que reagir.
- Ora, achei que encontraria algo interessante aqui fora... E não é que eu estava certo? – então Malfoy notou o pergaminho na mão de Sirius. – Me devolva isso.
Sirius olhou do pergaminho para Malfoy, sem deixar de segurar Helen. Por que será que ela ficara tão nervosa com aquele símbolo?
- Mas é lógico. Isso é seu, não é? De quem mais seria... Propaganda anti-trouxa... Só mesmo um ser imundo como você traria algo desse tipo para Hogwarts!
- Propaganda anti-trouxa? Accio! – ele chamou o pergaminho. - Pois eu não estou vendo nada. Está em branco! – e jogou seu olhar cínico para a menina, que finalmente conseguia ficar de pé sozinha outra vez.
- Se é só um pedaço de pergaminho sem importância, por que você está querendo de volta, Malfoy? – a birra da garota também voltara. - Você está com medo que isso possa te incriminar...
- Isso aqui, me incriminar? Ora, não seja tola! Ainda que alguém pudesse provar que existe uma propaganda anti-trouxa aqui, como disse o seu amigo, quem provaria que fui eu quem trouxe? Isso pode ser coisa sua...
- Quê? – aquilo pareceu ofender mais a menina que qualquer das vezes que alguém a chamara de sangue-ruim por causa da mãe trouxa. Ela não pensou duas vezes antes de empunhar a varinha e...
- Experliarmus! – a varinha de Helen saltou das mãos da garota para o meio da neve. Malfoy tinha sido mais rápido.
- Accio! – Sirius chamou o pergaminho de volta. – Com isso você não fica!
- Ora, seu... Cruc...
Os olhos de Sirius e Helen se arregalaram. Eles sabiam que Malfoy era um comensal da morte; mas daí a tentar usar uma das maldições imperdoáveis dentro de Hogwarts? Não podia ser sério, ele estava blefando... Mas a verdade é que Malfoy só não concluiu o feitiço porque alguém chegou naquele exato momento:
- O que está acontecendo aqui? – era Snape. E olhando para aquela cena, o monitor-chefe não demorou a tirar suas próprias conclusões.
- Severo... Malfoy... ele... – Helen parecia estar sem palavras.
- Malfoy tentou jogar uma maldição imperdoável em mim, Snape. – Sirius foi conciso.
- Maldição imperdoável? – o monitor-chefe levantou uma das sobrancelhas e entortou a boca. – De onde você tirou uma bobagem dessas, Black?
- Não é bobagem, Severo! - a voz de Helen denunciava um certo desespero.
O rosto de Malfoy estava impassível, como se ele tivesse certeza de que ninguém iria puni-lo.
- Ora, Helen, sua imaginação anda muito fértil ultimamente. Não existem maldições imperdoáveis.
- Mas é lógico que existem, Severo. Não é possível que você não as conheça. Você é o melhor aluno de toda a Sonserina! É assim que estão matando esse monte de trouxas...
- Ora, garota, eu não escondo de ninguém que não gosto de trouxas, mas daí a ser um assassino? Você podia ser processada por essas acusações sem fundamento, sabia? – Malfoy ameaçou.
- Sem fundamento, pois eu... – e então Sirius calou a boca, lembrando-se que se Snape descobrisse que ele, Tiago e Remo estiveram na Travessa do Tranco, o monitor-chefe faria de tudo para que fossem expulsos.
- Droga! Onde está Eros quando eu preciso dele...
- E no que um gato poderia ajudar você agora, menina? – Snape fitou-a com ar de desdém. – Vou descontar 30 pontos da Grifinória por importunar um convidado dos formandos.
- O quê? Você não pode fazer isso... Foi ele quem nos interrompeu... – Sirius tentou se defender.
- Interrompeu? – Snape tinha ódio no olhar que lançou à única menina do grupo. – Ora, e por que Malfoy faria isso?
- Na verdade, Snape, eles me roubaram um pedaço de pergaminho. – Malfoy se favoreceu da situação.
- É isso! Severo, olhe esse pedaço de pergaminho! Você também é da Sonserina! É impossível que você não consiga ver. – Sirius estava ficando desesperado com a confiança que Helen demonstrava ter em Snape. Será que ela não sabia que ele era tão vil quanto Malfoy?
- Este pergaminho está em branco, Helen. – e então ele virou-se para Malfoy. – Para que é que você queria um pedaço de pergaminho em branco?
Aquela pergunta pareceu desconcertar o ex-aluno da Sonserina:
- Para quê?
- Nós já perguntamos isso a ele... – Sirius disse aborrecido.
- Ora, eu estava anotando o meu novo endereço para Narcisa e essa garota me roubou o papel. Está em tinta invisível... – ele inventou a hora. - ...para que não caia em mãos erradas.
- Mentira! – Helen estava desesperada. – Eu posso ler para vocês... – ela tomou o pedaço de pergaminho das mãos de Snape e começou. Novamente Sirius não conseguiu ouvir qualquer palavra, mesmo com a boca de Helen se mexendo a uma velocidade vertiginosa.
- Se você parar de brincar de surda-muda, talvez nós possamos saber do que você está falando... – Malfoy reagiu com ironia.
Helen olhou para Sirius que confirmou que não ouvira absolutamente nada novamente.
- Você deve ter bebido muita cerveja amanteigada, Helen. Aliás, essa a única explicação que consigo ver para que você esteja aqui fora, nesse frio, acompanhada de um sujeito como Black! Agora vamos entrar! Não se esqueça que você veio comigo a este baile e já é a segunda vez que a encontro com um grifinório!
A menina fitou o chão coberto de neve, a infelicidade deformando seu rosto. Ela não disse mais nada, desiludida; talvez os grifinórios estivessem certos sobre Snape e só ela não conseguia enxergar como aquele rapaz que ela julgava um pouco "severo" demais era na verdade inescrupuloso e insensível. Ela saiu caminhando ao lado do monitor-chefe sem levantar o rosto, quando Sirius chamou-a:
- Ei, alguém precisa destransformar suas vestes!
- Pode deixar que eu faço isso. – Snape dispensou a ajuda de Black.
O rapaz acompanhou os três sonserinos entrarem no salão com o olhar. Absolutamente inconformado com o que havia acontecido, sentou-se no chão e se pôs a olhar para o céu, a cabeça apoiada nas mãos. O vento gelado cortava seu rosto. Um pouco mais além, ele percebeu um graveto de madeira escura meio enterrado na neve: era a varinha da garota. Então um sorriso se abriu no rosto de Black; se ela fosse ter aulas de reforço como a tia mandara, iria precisa da varinha outra vez. Quando se levantou para pegar o objeto, uma mancha amarelada no meio daquele tapete de neve chamou sua atenção: Helen deixara o pergaminho cair no chão sem que Malfoy e Snape percebessem.
- Sirius? – uma voz conhecida o chamou.
- Tiago? O que você tá fazendo aqui fora? Cadê a Lílian?
- Não tem mais Lílian, Almofadinhas... – ele respondeu amargo. – A gente terminou. Pela última vez. Quer? – ele ofereceu uma garrafa de cerveja amanteigada para o amigo.
- Vai afogar as mágoas na bebida?
- Melhor do que me afogar em lágrimas. – Tiago olhava para o horizonte.
- Parece que tem gente que pensa como você. – Sirius disse vendo Mundungo sair do castelo e entornar a garrafa de belinsky.
- Ah, vocês estão aí... – ele já estava trêbado. Vocês não vão se recusar a dividir essas duas garrafas de belinsky comigo, vão?
Sirius olhou para Tiago e Mundungo. Ele sabia que naquela hora a única forma de apoio que poderia dar era beber com os dois. Fletcher entregou uma garrafa a cada um e então, depis de uma pequena pausa, ele levantou a própria garrafa:
- Eu quero fazer um brinde!
- Manda! – Tiago levantou sua garrafa também.
- Às mulheres!
- Às mulheres! – Tiago e Sirius brindaram também.
E os três viraram as garrafas da bebida mais forte que o mundo mágico conhecia. De dentro do salão vinha a música baixinha... "Don't let me down! Don't let me down!"
