Capítulo 11 – Espírito de Hogwarts

- Que maravilha! – Helen resmungou. – É para eu vir para cá correndo mas ninguém se digna a deixar essa droga de passagem aberta.

Ela sentou em frente ao quadro tentando lembrar a senha que usara no ano anterior, quando teve que falar com Dumbledore por causa de uma briga com Black. Um sorriso teimou em querer aparecer, apesar de ela ter certeza de que aquela não era uma situação para sorrisos.

- Helen, o que você está fazendo aqui? – era Annie Preston.

- Dumbledore mandou me chamar.

- A você também? – ela olhou intrigada para a cunhada e uma idéia pareceu nascer ao mesmo tempo na cabeça das duas:

- Cameron!

Apavorada com a possibilidade de que algo tivesse acontecido ao namorado, Annie disse logo a senha para entrar no escritório do diretor. Ser monitora-chefe lhe dava essas pequenas vantagens. As duas aguardaram impacientes que a escada subisse até o cômodo escondido; parecia que aquilo estava durando uma eternidade. No local onde a escada ia dar, Arabella Figg as esperava com o semblante inconsolável. As garotas não tiveram coragem de perguntar nada. Apenas abraçaram a professora, que deixou uma lágrima escorrer pela face. Annie não conseguiu se segurar mais:

- O que aconteceu com Cameron?

- Ele ainda está vivo, querida! – uma voz de homem, um tanto abalada, respondeu de dentro do escritório.

Henry Silver tinha os olhos vermelhos e inconformados pousados nas duas garotas que acabavam de entrar. Tiago Potter estava jogado numa poltrona, os olhos fixos no nada. Helen não pôde deixar de se perguntar o que o namorado de Lílian estava fazendo ali. A não ser que...

- Voldemort atacou de novo? – ela não se conteve.

Todos os olhos da sala se voltaram para ela, inclusive os de Dumbledore, que, ao contrário da serenidade costumeira, pareciam lançar chamas de revolta.

- Srta. Preston e Srta. Silver, queiram fazer o favor de se sentar. Essa não vai ser uma conversa fácil. – o diretor praticamente ordenou.

O rosto de Arabella Figg se contorceu de angústia e agora ela já não conseguia segurar as lágrimas. Sua família estava desmantelada.

- O que houve com Cameron? – Annie insistiu, derramando algumas lágrimas no rosto pálido.

- Voldemort atacou nossa casa essa noite. – Henry Silver respondeu hesitante. – Judy e Richard estavam nos visitando.

Nesse momento os olhos de Tiago se fecharam. Já haviam lhe contado toda a história, mas ele estava triste demais para chorar. Um vazio tomou conta dele quando finalmente lhe disseram que seus pais estavam mortos.

- Eu tinha acabado de receber um chamado urgente do Ministério e aparatei de casa, deixando nossos convidados, Cameron e Bernard para trás. – a voz dele começou a tremular – Não levei quinze minutos para voltar. A mensagem que o Ministério tinha para mim era que um trouxa tinha visto a Marca Negra sobre nossa casa...

O rosto de Helen expressava o mais puro pavor. A primeira vez em que ela vira aquela caveira verde sobre sua casa, a mãe estava morta.

- Tio Bernard? – ela olhou desesperada para a tia. Arabella apenas acenou positivamente: sim, o marido dela havia morrido.

- Mas o senhor disse que Cameron não morreu... – Annie estava ainda mais desesperada que Helen.

Vendo que o homem não podia continuar, Dumbledore tomou a tarefa para si.

- Cameron está vivo, sim. Foi o único sobrevivente. Voldemort o deixou como garoto de recados. – a voz do diretor era amarga. – No entanto, é difícil saber se o estado em que o rapaz Silver se encontra é melhor ou pior do que a morte. A tortura foi muito forte. Ele só consegue repetir as palavras que Voldemort lhe incumbiu de dizer para o pai.

- Mas há um jeito de reverter, isso, não é? Tem que haver.

- Helen, Cameron foi torturado com a maldição Cruciate. – eram as primeiras palavras de Arabella desde que recebera a notícia.

Então a menina olhou para Tiago, apático, e para Annie, que chorava convulsivamente.

- Não é possível! Temos estudado tanto isso... Não...

- Dumbledore! – a professora Moolight entrou nervosa na sala. – As luas de Marte, eu disse que elas estava estranhas... – ela parecia não conseguir coordenar as palavras que saíam de sua boca.

- Sim, Prof. Moonlight. Voldemort cumpriu a profecia. Esta noite se iniciou a nova Era das Trevas. E ele não se limitou a matar um bruxo apenas para obter o controle de toda a magia negra que impregna o mundo mágico...

Então a professora reparou no apanhador da Grifinória, ainda em transe.

- Tiago! Ele-ele matou os Potter... – ela disse para si mesma, tomando consciência do estado de choque do rapaz.

- ...e Bernard Figg. – Dumbledore completou. – Além de ter causado sérios danos à saúde do jovem Cameron Silver.

- Tem que haver algum jeito. – Helen estava inconformada por não poder fazer nada. – Tia Arabella, nós estudamos tudo aquilo pra quê? Nós buscávamos uma saída. Nós íamos encontrar... Nós não podemos deixar que isso continue... – a menina tentava controlar o choro, mas uma ou outra lágrima começava a escorrer pelo seu rosto.

No entanto as palavras de Helen tiveram efeito sobre a senhora Figg. Aliás não apenas sobre ela, mas sobre Tiago, que pareceu despertar de repente. Arabella olhou para o irmão e para o diretor:

- Vocês têm que permitir. Esse não é mais um problema apenas do Ministério da Magia.

- Arabella, você não pode estar pensando... – Henry olhava a irmã espantado; ela sempre fora a primeira a descartar alternativas que envolvessem perigos de qualquer espécie. Ela sempre o acusara de irresponsável e agora iria colocar a própria sobrinha numa empreita que poderia por em risco sua vida.

- Pois eu também acho que demoramos demais, Arabella. – Dumbledore mantinha aquele ar de revolta em seus olhos. - Srta. Moonlight, será que poderia me fazer um favor? Preciso que chame os alunos Severo Snape, da Sonserina, e Carol Stuart, da Corvinal. Além disso deixe os todos os professores de sobreaviso. Assim que eu terminar com meus alunos, iremos fazer uma reunião sobre as medidas a serem tomadas.

A professora concordou e se retirou. Os seis bruxos que restaram na sala continuaram a dolorosa conversa...

- Eu não agüento mais esperar. Vou atrás dela...

- Sirius! O que é que você acha que vai poder fazer? É preciso de senha para entrar na sala de Dumbledore, lembra?

- Eu dou um jeito...

- Lógico, por que ninguém vai reparar num cara de 1m90de altura tentando derrubar uma gárgula... – Lupin achava que Sirius às vezes perdia a noção da realidade.

- Pode ser que sim, mas será que eles vão se preocupar se um cachorro entrar na sala? – a idéia surgiu de repente na cabeça de Sirius.

- Você não está pensando em...

Sirius deu a melhor resposta possível: transformou-se no cachorro negro que tantas vezes acompanhara Lupin em seus dias de martírio. O amigo olhou-o sair da sala com cara de desânimo. E quem é que conseguia tirar uma idéia da cabeça do teimoso Almofadinhas? O jeito era dar uma olhada nos livros que a professora Moonlight mencionara e tentar entender o que estava acontecendo...

O caminho da torre onde tinham aula de Astronomia até o escritório de Dumbledore não era assim tão longo, ainda mais para um cachorro de grande porte como ele. Quando Sirius entrou no corredor onde estava a entrada secreta, ouviu vozes familiares:

- Mas o que é que o diretor quer com a gente a essa hora, Srta. Moonlight? – era a voz de Carol Stuart.

- Para falar a verdade eu também não sei... – a professora estava apreensiva. Ela sabia que fosse lá o que fosse, era uma medida de emergência.

Black deu alguns passos para trás, suficientes para ser encoberto pela sobra de uma estátua que ficava naquele corredor. A professora de Astronomia disse a senha e mandou os alunos entrarem. Sirius não perdeu tempo: numa fração de segundos, em que a professora olhou para trás distraída por um barulho qualquer, ele correu até a passagem e entrou um momento antes que ela começasse a se fechar. A Srta. Moonlight não entrou com eles; foi cumprir a outra ordem de Dumbledore.

A escada em espiral começou a subir e nem Severo Snape, nem Carol Stuart se deram conta do enorme cachorro preto deitado no último degrau.

- Não será uma missão fácil. E vocês tem total liberdade para recusar... – Sirius ouviu a voz do diretor vindo de dentro do escritório. – Só não podem desistir no meio do caminho... Severo, Carolyn. Por favor, acomodem-se. Nossa conversa será longa e cansativa.

Os dois alunos procuraram poltronas vazias. Pelas caras desoladas dos presentes aquela conversa não seria nada agradável. O olhar de Tiago e Severo se cruzou e, por um segundo, o grifinório esqueceu da dor que sentia e teve raiva. Por que é que aquele sujeito tinha que estar ali? E então ele percebeu um vulto muito menor, logo atrás do seboso aluno da Sonserina. Seus olhos não acreditavam no que via:

- Almofadinhas? – ele tinha os olhos arregalados sobre o cachorro. Tiago denunciara seu amigo sem querer.

Nesse momento todos os olhos da sala se puseram sobre Sirius, que ficou sem reação.

- É seu cachorro? – Helen Silver arranjou a desculpa sem querer.

- É, é sim. Meu cachorro... Almofadinhas... Esse é o nome dele... – Tiago dizia aquilo para si mesmo. Sirius deu um latido de aprovação.

- Que ótimo! Então você traz animais de estimação para ouvir suas conversas com o diretor.

- Ora, cale a boca, Severo! – o aluno da Sonserina se espantou com a reação da colega de casa. Helen nunca faltara ao respeito com ele. – Será que você não percebe que o pobrezinho sentiu que Tiago está triste? – e voltando-se para Tiago. – Pelo visto você deve ter uma ligação muito forte com Almofadinhas... Aposto que ele veio te consolar – e ela deu um sorriso terno para o suposto dono do cachorro.

- É, temos mesmo! – Tiago deu um pequeno suspiro, enquanto Black chegava mais perto. Por fim, o cachorro negro deitou-se junto aos pés de Tiago, que lhe fez um afago na cabeça.

Dumbledore e os outros assistiam à cena sem comentar nada. Sabiam que aquele devia ser o momento mais difícil da vida do rapaz, e por isso, o diretor não implicou com a presença do cachorro:

- Bem, o amiguinho de Tiago me deu uma boa lembrança... – Dumbledore tentou descontrair o ambiente a medida do possível. – Gostaria que vocês não comentassem o que será falado nessa sala nem com seus melhores amigos. – e o diretor olhou seus alunos uma a um. – Nem mesmo aos namorados e namoradas.

- O Sr. quer que eu retire Almofadinhas da sala? – Tiago perguntou hesitante para Dumbledore, com os olhos postos em Sirius.

- Ora, rapaz, não acredito que seu cachorro possa sair contando por aí a conversa que teremos entre essas quatro paredes... – Henry Silver deu um sorriso triste para Tiago.

- É, acho que não... – Tiago olhou novamente para Sirius.

Ele latiu pedindo calma ao amigo. Bem, ao menos Tiago sabia que o amigo era uma pessoa confiável e o que quer que fosse ser dito ali, continuaria em segredo. Então, Dumbledore disse, parecendo adivinhar os pensamentos do rapaz:

- Essa não é uma questão de confiança. É uma questão de segurança. As pessoas que conhecerem o segredo que lhes será revelado hoje estão colocando suas vidas em perigo. É por isso que aceitarei a recusa de qualquer um de vocês a participar dessa... bem... dessa loucura.

A senhora Figg mordeu os lábios. Carol não se agüentou de impaciência:

- Não me leve a mal, diretor, mas não dá para acabar logo com esse suspense todo?

- Dá sim, Srta. Stuart. – o diretor não julgou aquilo uma impertinência. - Esta noite uma profecia maligna se cumpriu. Três bruxos foram assassinados para que um, de ambição sem igual, atingisse o auge da magia até hoje conferida a um único ser mágico. Esta noite teve início a nova Era das Trevas...

Os olhos dos quatro jovens do sétimo ano ficaram tensos. Todos eles sabiam o que as últimas palavras do diretor significava. Sirius procurou pelo rosto de Helen; aquilo não era uma novidade para os dois depois do que tinham visto na sala de Astronomia. Mas ela não percebeu o olhar dele: fitava insistentemente os próprios sapatos, como se o fato de não prestar atenção àquelas palavras pudessem apagar seu peso. Dumbledore continuou:

- Como bruxos quase formados vocês devem conhecer a história da primeira Era das Trevas. E por isso não pretendo me alongar nesse assunto. No entanto, eu gostaria que se lembrassem que haviam quatro figuras principais no desenvolvimento desse capítulo da História da Magia...

- Arthur, Morgana, Guinevere e Lancelot... – Annie murmurou para si mesma.

- Uma de sangue trouxa, dois bruxos de sangue híbrido e um de sangue puro. Assim como vocês quatro.

Os olhares de todos os jovens da sala (e do cachorro) caíram sobre Snape. Os adultos não achavam nada de estranho naquilo... Mas para Tiago, Helen, Sirius, Annie e Carol aquilo parecia impossível. Ele era filho de um bruxo e uma trouxa? Como é que ninguém nunca soubera daquilo? O rosto de Snape continuava impassível, aguardando pelas próximas palavras do diretor.

- Vocês são os alunos de maior destaque em suas casas e, a meu ver, aqueles que detém o maior equilíbrio entre emoção e razão.

Tiago pensou em protestar. Remo e Sirius eram tão bons alunos quanto ele, mas então, as últimas palavras de Dumbledore ecoaram em sua mente... Equilíbrio entre emoção e razão... Realmente, Sirius era explosivo, tinha as emoções à flor da pele, e Remo, não havia ninguém mais sensato e racional que ele. Talvez Dumbledore tivesse razão.

- Esses foram os motivos que me levaram a convocá-los para tomar parte nessa que acredito ser uma das poucas chances que temos de derrotar Voldemort...

- Quem? – Carol nunca ouvira falar de tal nome.

- Do bruxo responsável por todas as mortes de trouxas que têm acontecido nos últimos tempos... – Helen Silver resolveu responder - ...além de minha mãe, meu tio e os pais de Potter.

O rosto de Carol foi tomado por um constrangimento de ter feito tão dolorosa pergunta.

- Sr. diretor, de que forma quatro bruxos que ainda nem se formaram podem ajudar a derrotar um bruxo assim tão poderoso? – as lágrimas que até pouco tempo atrás escorriam pelo rosto de Annie enfim se secaram.

A resposta quem deu foi Arabella Figg:

- Recebendo a aura dos fundadores de Hogwarts, os maiores bruxos da Inglaterra nesse milênio! – ela não pareceu feliz em dizer tal coisa.

Helen olhou para o diretor apavorada. Ele não podia estar sugerindo...

- Vocês quatro juntos têm a força e as qualidades necessárias para fazer ressurgir o espírito de Hogwarts. Mas é preciso que vocês saibam que se aceitarem fazer parte disso, estarão entrando para a lista negra de Voldemort. É por isso que quero manter tudo em sigilo. Enquanto pudermos evitar que ele saiba, mais tempo vocês terão para se preparar e maior será a chance de obtermos sucesso nessa batalha.

Os quatro respiraram fundo.

- Se qualquer um de vocês preferir não participar, eu entenderei. Só peço que deixem essa opção clara agora e suas lembranças sobre esta conversa serão apagadas.

- Eu topo. – Tiago tinha o olhar decidido. Ele devia isso a seus pais, devia isso a Lílian, devia isso a ele mesmo. Não podia aceitar que alguém lhe tomasse as pessoas que ele mais amava impunemente.

- Eu também. – Annie não precisou de muito tempo para decidir. A lembrança de Cameron tornava-a forte.

Faltavam Sirius e Carol:

- Eu... Qual é o papel dela nessa história? – a corvinal apontou para Helen.

A menina apertou os olhos como se não quisesse que o diretor contasse a todos eles seu segredo. Há tempos vinha discutindo com a tia se aquela seria uma boa alternativa. Ambas não sabiam se valeria a pena arriscar a vida de tantos, principalmente porque Helen não era lá uma bruxa muito interessada em aprimorar seus conhecimentos em magia. Sempre soubera viver bem sem eles.

- Bem, - o pai de Helen começou a responder. – Nenhum de nós tem a condição essencial para a realização do feitiço que será jogado em vocês. Eu, Dumbledore, Arabella, todos nós pertencemos a uma casa de Hogwarts, e como vocês, tínhamos qualidades e defeitos que se encaixavam perfeitamente em determinados perfis. Nenhum de nós é neutro o suficiente para não alterar a proporção com que cada um dos fundadores vai atingi-los. Mas Helen... – ele olhou para a própria filha, depositando toda a sua confiança nela.

- Eu sou uma elementar... – ela respirou fundo antes de assumir, de cabeça erguida, a sua condição.

Sirius entendeu aquilo de imediato. Helen era o elemento neutro de que falavam, porque, afinal, ela não pertencia à casa nenhuma. Estava na Sonserina, mas poderia estar em qualquer outra, como ela demonstrara no ano anterior, naquela mesma sala. Ele olhou para Snape: o monitor-chefe fitava a pequena garota com certa admiração.

- E isso quer dizer... – Tiago não entendia como uma aluna da Sonserina poderia ser o tal elemento neutro.

- Bem... eu posso escolher a casa em que quero ficar. Quer dizer, eu pertenço a todas casas e a nenhuma delas... – ela sorriu sem graça. – Um elementar serve a todos sem servir a ninguém. Eu poderia estar na Grifinória, na Lufa-lufa, ou na Corvinal que qualquer um de vocês teriam a impressão de que eu não faria parte dali.

- Como os sonserinos sempre dizem... – Annie concluiu.

- Exatamente. – e então ela se voltou para Dumbledore e para a tia. – Mas eu acho isso muito arriscado. Quero dizer, eu sou péssima bruxa. Sou incapaz de fazer os feitiços mais simples... E sei que é preciso uma poção... Eu sou péssima em poções.

- Ora, agora você só explode um caldeirão por mês, Helen... – Snape fitou-a sorrindo, o que despertou a ira de Sirius, que só não começou a latir naquele instante porque não queria chamar a atenção para si. – Podemos aumentar o número de aulas particulares. – o monitor-chefe ofereceu, sério.

- Devo tomar essa proposta por um sim, Severo? – Dumbledore encarava o aluno.

- Deve. – ele estava decidido.

- Carol? Precisa de mais tempo para pensar?

A menina se lembrou de seus pais. Eram trouxas e provavelmente seriam presas fáceis de alguém com tanto ódio pelos seres não-mágicos:

- Não. Só me diga o que eu tenho que fazer. – o rosto da garota era firme e decidido.

- "timo. Ahn, Tiago, será que você poderia dar o reforço em feitiços para Helen? Eu já havia pedido isso a você outro dia, durante uma aula... – Arabella Figg refez o pedido.

Ele apenas acenou com a cabeça positivamente e sorriu para a garota, que retribuiu. Sirius pensou em pedir a Tiago para substituí-lo naquela tarefa, mais tarde.

Dumbledore foi então até sua escrivaninha e destrancou uma das gavetas com um feitiço, tirando de lá um livro pequeno. Ele apontou a varinha para o livrinho e murmurou qualquer coisa que nenhum dos presentes entendeu. Então ele abriu o livro e tirou quatro cordões dali de dentro:

- Vou lhes entregar as gemas das casas. Vocês devem usá-las o tempo todo. Sairá daqui o ingrediente principal para a poção necessária para a realização do feitiço.

Cada um dos pingentes tinha uma forma diferente; de acordo com o animal que representava cada casa. Assim, Snape recebeu uma cobrinha de vidro; Tiago, um leão; Annie, um texugo; e Carol, uma águia.

- Mas está vazio... – Tiago olhava para o pequeno pingente de vidro franzindo a testa.

- Vocês terão de enchê-lo.

- De que jeito? Não estou vendo nenhum orifício... – Carol examinava todos os cantinhos do pequeno vidrinho em forma de pássaro.

- Eles irão se encher quando vocês provarem que são verdadeiros membros de suas casas.

Os quatro tinham olhares interrogativos:

- E como faremos isso, diretor? – Snape perguntou.

- Vai acontecer, simplesmente.

Aquela resposta fora pior do que continuar sem nenhuma. Dumbledore e seus enigmas...

- Quando o último de vocês tiver realizado essa tarefa, começa a sua parte, Helen. Acha que consegue se preparar até lá? – Dumbledore pôs os olhos azuis em cima da menina.

Ela pensou alguns instantes antes de responder:

- Eu vou dar o melhor de mim. Pode ter certeza.

- Então estamos conversados por enquanto. Quando as gemas forem preenchidas, voltaremos a nos encontrar. Só quero pedir novamente que não contem a respeito dessa conversa para ninguém. Vocês assumiram esse risco; não coloquem mais pessoas em perigo. – ele disse em tom de advertência. Podem sair.

Os cinco alunos começaram a se retirar, seguidos por Almofadinhas. Tiago deu uma última olhada para o amigo. Não sabia se fizera bem em deixá-lo assistir àquela conversa. Mas como nunca tivera segredos para Sirius, sabia que mais cedo ou mais tarde o amigo ficaria sabendo.

- Pai, você não vem? – Helen chamou o Sr. Silver.

- Não, querida! Vou participar da próxima reunião... – e ele olhou para a irmã, Arabella, evitando o olhar temeroso da filha.

Os cinco se dividiram rapidamente e cada qual tomou o rumo de sua casa, com exceção de Helen, que deu uma desculpa qualquer para Snape e seguiu atrás de Tiago.

- Ei, Potter! – Tiago parou de andar, ainda acompanhado por Sirius em sua forma de cachorro. – Você se importa se eu lhe roubar mais alguns minutos?

- Não. O que é?

- Bem, é sobre as tais aulas de feitiços... Você acha que realmente pode me ensinar? Quero dizer, você acha que eu consigo aprender? – o tom de voz dela denunciava que a menina estava realmente aflita.

- Ora, você é uma bruxa, não é? Não vejo porque não pode aprender... – ele não entendia o porquê de tanto medo.

- Mas é que eu sou um desastre... Você já me viu fazendo feitiços...

Tiago sorriu. O primeiro sorriso sincero daquela noite.

- Silver, você sabe qual era a profissão de minha mãe?

Ele balançou a cabeça dizendo que não.

- Ela era psicostata. Você sabe que a psicostasia estuda os distúrbios de magia, não é? – ele esperou ela confirmar com um aceno de cabeça e continuou: - Bem, eu me lembro que um dos casos mais comuns dos pacientes dela era a disfunção na execução de algum tipo de magia. Era mais comum nos de sangue-trouxa, sabe, porque eles não tinham confiança de que realmente tinham sangue mágico...

A menina não dizia nada. Só o ouvia atentamente.

- Se tem uma coisa que me lembro bem que ela dizia é que era fácil identificar quando esse problema estava na cabeça da pessoa ou era realmente alguma disfunção. Abortos e pessoas com disfunções tem pouca carga mágica... Quero dizer, a mágica deles não funciona porque é pouca. Mas a julgar pela destruição que você causou àquela árvore outro dia, bem, acho que esse não é seu caso. Você só precisa ter força de vontade para controlá-la, porque magia você tem de sobra...

- Eu exagerei com o Sirius naquele dia, né?

Almofadinhas latiu.

- É, até meu cachorro sabe disso... – Tiago riu, um pouco mais leve por pensar que finalmente poderia reagir aos problemas que a vida lhe impunha.

- Eu não sabia que você tinha um cachorro. Lílian nunca disse nada... – ela começou a brincar com Almofadinhas, que lhe dava lambidas meladas no rosto.

- Na verdade, ela nem sabe. Ele gosta de andar livre por aí. Sabe como é, nem pára dentro do castelo...

- Bom, acho que já vou indo. – ela disse se levantando. – Amanhã a gente combina as aulas. Estou com pressa de aprender.

- Ah, Helen, você tem alguma idéia de como é que isso aqui vai se encher? – ele tirou o cordão de dentro da blusa.

Ela balançou a cabeça negativamente.

- Boa noite, Potter! Boa noite, Almofadinhas! – ela afagou a cabeça do cão e foi em direção às masmorras.

Tiago tirou o mapa do maroto do bolso e esperou até a menina estar longe para dizer:

- Acho que você já pode se destransformar...

Então o cachorro preto começou a tomar formas humanas e, em poucos segundos, Sirius Black estava de volta aos seus dezessete anos.

- Meus pêsames. – ele olhou nos olhos de Tiago.

O rapaz não respondeu nada.

- Por que foi que você apareceu lá?

- Estava preocupado com ela... Ahn, eu e Helen estamos namorando... – ele não conseguiu esconder o sorriso.

- Sério? Eu sabia que aí tinha. Depois eu é que enrolo com a Lílian...

- Ah, Tiago, você vai me dar licença, mas vocês dois batem todos os recordes...

E os dois seguiram conversando animados até a Grifinória, esquecendo-se por algum tempo de que as coisas ruins estavam só começando...