Capítulo 13 – O beijo

- Você sabia, Tiago! Por que nunca me contou?

- Por que esse é um assunto dele. A única pessoa que pode sair contando uma coisa dessas é ele, não sou eu ou você.

Lílian e Tiago discutiam a altos berros dentro da sala de transfiguração, deserta àquela hora da noite.

- Eu pensei que enquanto namorávamos você confiasse em mim...

Tiago segurou o rosto entre as mãos. Ela não podia estar fazendo aquilo.

- Você quer falar mais baixo! O Filch pode nos ouvir.

- Eu tô me lixando se o Filch vai ouvir alguma coisa. Eu quero que o mundo se exploda. Porque você nunca confiou em mim! Não é só uma crise emocional que você está tendo, não! Você não quer me contar alguma coisa porque não confia em mim.

- LÍLIAN EVANS! Se aquieta, garota!

Nesse momento, Tiago segurava a garota forte pelos braços, impedindo-a de se mexer. Ele olhava com raiva para aquela menina de quem gostava tanto. Lílian era tão inteligente, por que tinha aqueles acessos de criancice de vez em quando?

- Você já sabe de tudo! Já sabe que o Remo é um lobisomem. E sabe porque ELE te contou. Eu jamais revelaria o segredo de um amigo!

Ela respirou fundo. No fundo ela sabia que não estava explodindo por causa da história de Remo ser um lobisomem. Tiago estava certo: um bom amigo jamais contaria algo daquele tipo, nem para a namorada! Ela não sabia o que dizer...

- Sabe, Lil, às vezes nós precisamos esconder certas coisas. Não por que não confiamos nas pessoas, mas porque é melhor para elas não saberem de nada. Vai me dizer que você não passou a ver o Remo com olhos diferentes?

- É estranho. Não consegui acreditar muito nessa história, mas o jeito dele nas noites de lua cheia... Ah, Tiago, não pode ser verdade...

- Mas é. E se você não está acreditando, imagine como os outros reagiriam... Os sonserinos, por exemplo... No mínimo fariam um abaixo-assinado pedindo a expulsão dele. E a Margot, então? Se você se sentiu enganada, imagine ela! Além disso, ela pode não ser madura o suficiente para encarar isso numa boa.

- E por isso Lupin vai terminar com ela...

- Não acho. Acho que quem vai terminar com ele vai ser a Margot, depois que ele perder a criatividade na hora de inventar desculpas para os sumiços... – Tiago falou em voz triste.

- Isso não é justo! Eles se gostam e vão ficar separados...

- Como nós! – o rapaz fitou os olhos verdes da garota.

Ela não desviou o olhar:

- Como nós... Que situação patética! – ela revirou os olhos.

- Bem, esse rolo todo do Remo ajudou numa coisa... – Tiago sorriu maroto.

- No quê? Na constatação de que Hogwarts tem o maior índice de casais que não se acertam do mundo mágico? – ela ironizou.

- Você perdeu o medo de falar comigo!

- Hã? Quem disse que eu tava com medo? – ela contestou ruborescendo e desviando o rosto para que Tiago não pudesse ver que ela estava envergonhada.

- Remo me contou que você foi me procurar e não quis esperar...

- Ah, - a vergonha foi substituída por um pequeno acesso de raiva. – ele me jurou que não ia te contar...

- Pois eu acho que alguns segredos não devem ser guardados! – ele sorriu novamente. – Eu sinto muito a sua falta, mocinha! – ele brincou com o nariz arrebitado da garota.

Ela suspirou, um pouco triste.

- Então, você ainda não teve o tempo que queria? – ela perguntou com uma pitada de amargura na voz.

- Na verdade sim. – ele deu as costas à menina, e passou a dar voltas na sala.

- Isso quer dizer...

- Não.

- Não o quê?

- Ainda não podemos voltar. – e ele virou-se novamente para Lílian. – Infelizmente esse é um segredo que eu ainda não posso revelar. Será que você consegue me entender?

- Não. Não consigo. Mas eu tento. Fazer o quê... – ela disse desgostosa.

Ele chegou perto dela outra vez e passou a mão pelos cabelos compridos de Lílian. A menina olhava fixo para ele, tentando descobrir a verdade que ele escondia dentro de si. Ele sabia que contar os últimos acontecimentos, só deixaria a garota mais preocupada, além de que isso poderia colocá-la em perigo. Já bastava Sirius.

- Vai para Hogsmead no próximo final de semana? – ele mudou de assunto.

- Lógico! – ela percebeu que lamentos não iriam levá-los a lugar nenhum. Ao menos Tiago estava mais feliz, mais confiante. – E como andam as aulas com Helen?

- Nossa, a sua amiga é mais brava do que pensava! – ele riu. – Mas sabe que ela está progredindo rápido? Já passamos todo o programa do quarto ano. Garanto que ela não machuca mais ninguém com um feitiço convocatório!

- O que é que vocês tavam discutindo hoje, antes da nossa reunião?

- Discutindo? – então Tiago se lembrou e ficou sério por alguns instantes. - Nada de importante...

- Sei... Mais um dos segredos irreveláveis...

- Irreveláveis? De onde você tirou essa palavra, Lílian? – ele riu da menina.

- Ora, você não sabe o que é licença poética, não? – ela deu um sorriso como há tempos Tiago não via.

- Você é linda, sabia? –ele fitava a garota encantado, deixando-a um pouco encabulada.

- Acho bom a gente voltar para torre da Grifinória... Se o Filch nos pega aqui...

- Um homem precavido vale por dois... Quer uma carona? – Tiago jogou sua capa da invisibilidade sobre os ombros.

- Desde que prometa que você não vai se aproveitar da situação... – ela brincou.

- Mas eu achei que era justamente isso o que você queria... – ele fez cara de desentendido...

- Tiago! – ela tentou ralhar com, ele, mas um acesso de riso a impediu.

O rapaz colocou o braço direito sobre os ombros de Lílian e num instante a sala ficou deserta.

- Tudo pronto? – Sirius perguntou a Pedrinho, que acenou com a cabeça que sim.

- Como é que você vai escapar da Silver? – o amigo baixinho perguntou.

- Ainda não sei. – ele olhou para Tiago. – Alguma sugestão?

- Estou absolutamente sem idéias.

- Você não tá pensando em contar para ela, né? – Rabicho arregalou os olhos.

- Não, lógico que não. Isso é assunto particular do Remo, a Helen não tem nada com isso. Além do mais, não quero que ela saiba que sou um animago. Pelo menos não ainda...

- Então pode ir preparando uma boa desculpa se você pretende ir com a gente para casa dos gritos em vez de dar passeios românticos em Hogsmead... – Tiago debochou do amigo.

- Aproveita, Tiago, porque quando você e a Lílian voltarem, você vai receber o troco! – Sirius piscou para amigo.

A neve já não forrava mais os jardins do castelo e o sol, ainda que tímido, deu o ar de sua graça naquele domingo tão esperado. Os alunos estavam em peso no Salão Principal, engolindo o café-da-manhã depressa, para que pudessem ir logo a Hogsmead. Helen estava sentada à mesa da Sonserina, como em todas as refeições, entretida numa discussão entre Igor Karkaroff e Evan Rosier sobre como uma derrota da Corvinal para a Lufa-lufa poderia ajudá-los caso ganhassem da Grifinória. E teria ficado assim até Sirius aparecer se a voz mais aguda e arrogante de toda a Sonserina não começasse a arreliá-la. A menina tinha estranhado a demora de Narcisa em incomodá-la: desde o dia do baile, a noiva de Lúcio Malfoy a ignorava. Não que Helen achasse isso ruim; muito pelo contrário, aquela paz era tudo o que ela queria. Mas parecia que a trégua finalmente tinha acabado:

- Ora, ora, Silver. Então, quem é que vai te acompanhar em Hogsmead hoje?

- Que ilusão a minha! Achei que você tinha se esquecido que eu existia! Já ia mandar uma coruja parabenizando o Malfoy por manter sua cabeça ocupada com essa droga de noivado e finalmente me deixar em paz!

- Ah, você pode falar com ele pessoalmente! Lúcio vem à Hogsmead hoje para me ver!

- Escuta, Boggs, você nunca foi minha amiga. Aliás, nós nunca ficamos jogando conversa fora e, com certeza, eu não dou a mínima para saber se você e o Malfoy vão se encontrar. Anda, desembucha, o que é que você quer comigo? – Helen se virou e encarou a loira do sétimo ano.

- Ora, só perguntei com quem você vai a Hogsmead... Com o monitor ou o batedor? Não me diga que você vai fazer revezamento... Uma hora com um, outra hora com outro... – Narcisa deu outro sorriso cínico.

Então Helen percebeu que outras três garotas do sétimo ano olhavam insistentemente de um pergaminho para ela, soltando risinhos. E não eram só elas: boa parte da mesa da Sonserina olhava para Helen com expressões irônicas nos rostos.

- O que foi que você andou espalhando dessa vez, Boggs? – Silver voltou a encarar Narcisa.

- Eu? Nada... Mas acho que você devia começar a ler o boletim editado pela Skeeter, Silver. Você sempre foi tão bem informada....

A baixinha olhou novamente para as formandas Meg Steels, Tiffany Smith e Hillary Watson, só que desta vez sua atenção estava voltada para o papel que uma delas segurava. Helen não teve dúvidas: levantou do banco onde estava sentada e caminhou até o grupinho.

- Me dêem isso aqui! – ela disse tomando o pergaminho das mãos de Meg Steels.

- É todo seu! – ela respondeu sorrindo com desdém, sem se abalar com a expressão de fúria no rosto da aluna do sexto ano.

E essa fúria só fez aumentar conforme a menina lia a matéria do jornalzinho distribuído quinzenalmente por Rita Skeeter:

A Serpente na Cova dos Leões

A irritante Helen Silver parece ter se tocado de uma vez por todas de que seu lugar não é na Sonserina. Há pouco mais de duas semanas, a bruxa mais desastrada do sexto ano finalmetne garantiu seus ingressos de entrada na Grifinória, assumindo um suposto romance com o batedor do time daquela casa, Sirius Black. A popularidade do rapaz tem feito com que seus amigos e admiradores se obriguem a aceitar a presença de Silver entre os leões. Mas parece que o rapaz vem sendo enganado descaradamente.

Todos sabem que a garota já havia tentado tática semelhante com Frank Longbottom, monitor do 6º ano. As relações entre os dois continuam fortes e, em situações extremas, eles não conseguem esconder os laços que os unem, como ficou comprovado outro dia, quando o monitor consolava a cobrinha em frente ao namorado. "Nunca sabemos o que esperar dela. Cada aula com Helen Silver é uma surpresa!", conta a grifinória Julianne Andrews, de quem Silver roubou o namorado.

Este aviso é para Sirius Black e suas fãs, que andam bastante descontentes com a escolha do batedor. Especula-se até mesmo que Silver tenha usado alguma poção do amor, hipótese descartada pelo verdadeiro desastre que a garota é nessa matéria – como em tantas outras, aliás. "Ela não é capaz nem de selecionar os ingredientes corretos, quanto mais preparar uma poção, revela a colega de quarto Chloe Millard.

O artigo ainda se estendia um pouco mais, com comentários de grifinórios e sonserinos a respeito do triângulo amoroso, nenhum deles favorável a Helen. Ela não terminou de ler; seus olhos furiosos procuravam a autora do artigo. Rita Skeeter já tinha percorrido quase todo o Salão Principal e, agora, estava na mesa da Grifinória, entregando seu informativo, chamado Focas & Fofocas (não sei se alguém sabe, mas foca é o nome dado aos jornalistas iniciantes, assim, tipo eu... ;) ). Além de Skeeter, outros três alunos da escola contribuíam periodicamente com textos para o jornal, entre eles, Berta Jorkins, da Grifinória. Mas as matérias que despertavam mais brigas e intrigas dentro do castelo eram as assinadas por Rita Skeeter, que tinha a incrível habilidade de distorcer os fatos. Helen andou rápido até onde a aspirante a jornalista estava. A mão da menina descarregava a raiva amassando o jornalzinho; ela toda tremia de tão irritada. Conforme avançava pelo salão, mais rostos se viravam para ela e mais risinhos e cochichos ecoavam pelo local. A "foca"ainda não notara que o alvo daquela semana estava indo tomar satisfações – ou melhor, dar o troco!

Rita entregava o informativo para Arthur Reynolds - um aluno do segundo ano que não sabia se segurava o papel ou pegava mais uma rosquinha - quando sentiu alguém lhe cutucar o ombro:

- Você vai se retratar agora ou eu vou ter que usar magia?

- Retratar? – Rita não parecia nem um pouco intimidada. – Ora, é meu dever levar a verdade para as pessoas...

A resposta da garota de óculos irritou Helen Silver ainda mais:

- Verdade? Você não pode ir inventando coisas sobre as pessoas e sair publicando por aí, sabia?

- Você não sabe o que é liberdade de imprensa, não? – Skeeter retrucou em tom petulante.

- Ora, sua # ¥©! (eu não vou colocar palavras de baixo calão aqui, mas ela xingou a Skeeter de tudo o que vocês puderem imaginar!) Você vai engolir cada palavra escrita aqui! – e Helen tentou enfiar o jornal amassado dentro da boca de Rita.

- Helen, o que é que tá acontecendo? – Sirius veio correndo separar as duas meninas.

Não fazia nem um minuto que o maroto entrara no salão acompanhado por Pedrinho, quando percebeu uma aglomeração na mesa da Grifinória. Não demorou muito para reconhecer sua namorada no meio da confusão: por mais baixinha que fosse, seus gritos podiam ser ouvidos a uma distância considerável. Ele não pensou duas vezes antes de agarrá-la pela cintura e puxá-la para longe da outra garota.

- Me larga, Sirius!

- De jeito nenhum!

- Ah, vai largar, sim! – ela deu uma cotovelada no estômago do namorado, que acabou soltando-a por causa da dor.

Helen voltou para o meio da aglomeração e encontrou uma Skeeter de varinha na mão, apontada para ela:

- Um passo e você vai passar o dia na enfermaria! – a jornalistinha ameaçou.

- Vou, é? – ela não saiu do lugar, mas tirou a própria varinha das vestes.

- Cuidado para não botar fogo da mesa da sua futura casa! Isso pode acabar com a sua reputação recém-conquistada de namorada do batedor... Ou será que é do monitor?

Skeeter provocou e conseguiu o que queria: Helen usou magia.

- Ferule! – e uma rajada vermelha saiu da varinha da menina em direção a outra sonserina.

Mas Rita Skeeter se abaixou antes que feitiço a atingisse, sobrando para a Arthur Reynolds, o segundo-anista preocupado em comer rosquinhas. No mesmo instante, começaram a brotar bolhas nas mãos do garoto, que não conseguia tocar em mais nada sem sentir uma dor profunda. A aspirante a jornalista olhava a cena com prazer, principalmente porque, naquele momento, Severo Snape surgia no meio da multidão:

- Você não consegue passar um dia sem arrumar confusão, é? – e ralhou com Helen, que estava boquiaberta, não sabia bem se por causa do que fizera com o garoto ou se era por estar levando uma bronca por conta de estúpida da Skeeter. – E vocês, estão olhando o quê? – Snape encarou os estudantes que formavam uma roda em torno das duas briguentas. – Sumam daqui se não quiserem pegar uma detenção agora mesmo! E alguém leve esse moleque para a enfermaria!

Ele não precisou dizer isso duas vezes: em poucos segundos a aglomeração havia se desfeito e até mesmo alguns grifinórios que estavam apenas tomando o café resolveram sair dali antes que o monitor lhes proibisse de ir a Hogsmead. Sirius, no entanto, voltou para perto da namorada e sua expressão era tão dura quanto a de Snape.

- Muito bem! Estou esperando as explicações. – Severo olhou para as duas.

- Essazinha aí anda escrevendo mentiras a meu respeito! Ela não tem esse direito!

- Ai, eu não acredito! – Snape estava inconformado. – Foi só a Narcisa passar a se comportar e você foi procurar outra pessoa para arranjar encrenca?

- Eu? Então leia essa droga de jornal para você ver se eu não tenho motivo para ficar irritada, Severo! – ela não se importava de falar alto com o monitor-chefe.

Helen nunca tivera medo de Snape, ao contrário da maioria dos alunos. Com detenções ela já estava acostumada e o fato de ter que conviver com ele em seus reforços de poções tornara os dois amigos. Uma amizade sonserina, é verdade, sem "carinhos" e com muitas repreensões, mas também de respeito mútuo. Além disso, Helen sabia que, se Narcisa Boggs não havia espalhado boatos sobre o fato de ela poder escolher sua casa, era porque Severo Snape fizera alguma coisa. A sua maior inimiga não deixaria uma informação daquelas passar desapercebida!

Snape pegou o papel que a menina lhe entregou e, numa situação rara, ameaçou sorrir enquanto lia certos trechos. Enquanto isso, Sirius continuava com os olhos fixos na namorada, tentando entender porque ela havia reagido daquela forma. Fazia tempo que Helen não explodia com ninguém... Talvez fosse energia acumulada. Mas ele não pôde deixar de pensar que as aulas com Tiago estavam dando certo: a menina não acertara o alvo, mas o feitiço saiu corretíssimo.

- E por um acaso isso justifica jogar um feitiço na sua colega? – Snape terminara de ler.

- Colega? Infelizmente eu sou obrigada a conviver com ela... E não foi nenhum feitiço exagerado – ela deu de ombros. – Só achei que ela devia ficar algum tempo sem segurar uma pena...

- E você achava que não teria problemas namorando alguém como ele? – Severo indicou Black com o olhar.

- Como é que é? – Sirius não estava entendendo nada, mas já tinha ouvido o suficiente para ficar irritado.

- Severo, eu não admito que você se intrometa na minha vida particular! – ela retrucou.

- Ora, você não vai se atrever a brigar comigo, vai, Helen? – ele ignorou a pergunta e o olhar raivoso de Sirius.

- Pode ser que ela não faça isso, mas eu sim! – Sirius procurava a varinha no bolso das vestes.

- Está querendo fazer companhia para a sua namorada na detenção, Black?

- Quê? Você não vai me dar uma detenção, vai? – a menina arregalou os olhos, perplexa, deixando de tentar segurar o braço de Sirius para que ele não pegasse a varinha.

- Vou sim! – o monitor respondeu convicto.

- Por que você tá tão preocupada, Helen? Você vive tomando detenção... – Sirius não entendeu a aflição da garota. - Além do mais, isso é o mínimo depois do que você fez com o Reynolds, né?

- Por favor, Severo! Você não vai me fazer cumprir a detenção hoje, né? Me diz que isso fica para amanhã!

- Pelo visto a Srta. Evans lhe passou a ordem do dia...

- Peraí, você tá querendo dizer... – a mente de Sirius começou a clarear.

- ..que eu não vou poder ir para Hogsmead... – ela olhava para o chão desconsolada, enquanto Rita Skeeter exibia um sorriso de prazer.

- Mas, e ela? – foi Sirius quem lembrou da pivô da história.

- Infelizmente, vou ter que descontar 30 pontos da Sonserina, quinze de cada uma – o monitor-chefe disse mal-humorado. Snape detestava tirar pontos de sua própria casa, e sempre era brando quando tinha que fazer esses descontos. Se um grifinório estivesse envolvido naquele caso, ele descontaria no mínimo 50. – Mas como a senhorita não fez nada de mais, está liberada para o passeio.

- Isso não é justo! Faça pelo menos com que ela queime essa porcaria que ela escreveu! Você pode fazer isso! – Helen quase implorou para Severo, que num ato quase que de bondade, atendeu ao pedido da garota.

- Unique! - e todos os outros jornaizinhos desapareceram, restando somente o que estava na mão de Severo Snape. – Esse eu tenho que guardar para anexar ao relatório da monitoria.

- Você não pode fazer isso! E a liberdade de imprensa? – Rita protestou.

- Você também está querendo ficar no castelo hoje, Skeeter? – Severo foi conciso.

A jornalistinha fechou a cara e saiu do salão. Severo também seguiu seu rumo, deixando o casal a sós (ou pelo menos, o mais sozinhos que podiam estar num refeitório em pleno horário do café-da-manhã).

- Afinal, o que é que a Skeeter escreveu de tão grave? – ele abraçou a namorada que estava cabisbaixa por causa da detenção que tomara.

- Nada, Sirius, nada! – ela não queria que ele soubesse. Tinha medo que aquilo pudesse despertar qualquer dúvida sobre o amor que ela sentia por ele.

- Como, nada? Você não armaria aquele pampeiro por nada! – Sirius detestava quando a menina tentava esconder a verdade dele.

- Mentiras, Sirius. Como o que ela escreve sobre todo mundo... Eu devia ter ignorado, mas você sabe, o sangue ferve...

- E o que é que o Snape quis dizer quando tocou no meu nome? – ele não estava nem um pouco satisfeito com as respostas evasivas da namorada.

- Eu não quero falar disso agora, Sirius. Vamos sair daqui... Eu perdi completamente a fome!

- Tudo bem. Eu não vou insistir, mas quero que você me conte essa história direito depois!

- Eu conto...

- Ah, mas antes deixe eu lhe dar os parabéns!

- Parabéns?

- Lógico! Você executou o Férula com uma perfeição inacreditável! – e, assim, Sirius conseguiu arrancar um sorriso da namorada.

- E aí, visitamos o Remo agora ou mais tarde? – Tiago perguntou aos colegas logo que chegaram a Hogsmead.

- Acho melhor agora! Depois o Três Vassouras esquenta! – disse Sirius esfregando as mãos.

- Ah, mas nós podíamos passar na Dedos de Mel primeiro, né? – Pedrinho sugeriu. – Aposto que o Remo iria gostar se levássemos alguns sapos de chocolate para ele...

- O Remo, né, sei... – Almofadinhas riu do amigo sempre preocupado com o estômago. – Acho que não tem problema, só não podemos demorar!

Depois de passarem pela loja de doces, os três marotos dirigiram-se à Casa dos Gritos. Eram poucos os alunos que se atreviam a chegar no local, mas Tiago, Sirius e Pedrinho tomaram cuidado para que nenhum curioso os visse pelos arredores. Só quando tiveram certeza de que não havia ninguém por ali, eles se aproximaram da casa mal-assombrada.

- Bom, Pedrinho, você já sabe o que fazer, né? – Tiago se certificou.

- 'Xá comigo! – e o garoto se transfigurou num rato, que rapidamente sumiu por uma fresta perto da porta.

Pontas e Almofadinhas olharam para todos os lados mais uma vez e, certos de que não havia ninguém ali, aparataram dentro da casa. Remo tinha o semblante abatido, de quem não tinha dormido nada durante a noite. Eram perto das três horas da madrugada quando os amigos deixaram-no naquela noite. Normalmente ficariam até o amanhecer, mas como no dia seguinte iriam a Hogsmead, acharam por bem dormir um pouco.

Mas a culpa da cara cansada de Lupin não era só do sono atrasado. A transformação pela qual passava nas noites de lua cheia esgotava-lhe física e mentalmente, impedindo-o de assitir as aulas mesmo sem estar em sua forma de lobo.. Ele apenas sorriu ao ver os colegas aparecerem dentro da casa, as olheiras acentuando-se.

- Cara, você tá um bagaço! – Rabicho fez o comentário animador.

Nenhum deles achou ruim, até porque Lupin realmente estava horrível.

- Achei que você não vinha, Almofadinhas! Fugiu da namorada? – ele esboçou um sorriso.

- Amigo, é melhor você nem tentar sorrir... Fica pior do que já tá! – Sirius tirou sarro da careta que Lupin fez ao sorrir. – Ainda bem que a SUA namorada não tá aqui!

- Fugindo da pergunta, Almofadinhas?

- A Helen foi detida por brigar com a Skeeter! – foi Tiago que respondeu.

- Nossa, com a Skeeter? Por quê?

- Como se a Silver precisasse de motivo para brigar com alguém... – Rabicho soltou.

- Rabicho, Rabicho! Ela não tá aqui mas eu tô, hein? – Sirius deu uma piscadela para Pedrinho.

- Tô dizendo alguma mentira? E, além do mais, ela vive implicando comigo. Por que é que eu não posso implicar com ela? – Rabicho emburrou.

Os outros três rapazes riram.

- A baixinha é brava mesmo... – Sirius concordou. - Eu que o diga! Mas ela tem certas qualidades que compensam o mau-humor...

- Tipo? – Tiago alfinetou.

- Tipo coisas que não são da conta de vocês. E acho bom a gente mudar de assunto. – disse Sirius fingindo aborrecimento.

- Ei, nós precisamos decidir onde vamos hoje à noite! – Lupin lembrou.

- Hmmm... Que tal no depósito da Dedos de Mel? – Rabicho lambeu os beiços pensando na infinidade de doces.

- Caramba! Nós acabamos de fazer uma compra imensa de doces e você ainda quer mais? – Tiago deu a bronca.

- Eu acho que a gente devia ficar na Floresta Proibida. – Sirius opinou. – Já percorremos Hogsmead ontem.

- A Flo-floresta p-proibida? – Rabicho odiava quando Sirius tinha essas idéias.

- Que é isso, Rabicho, até parece que você nunca entrou lá... Você é um homem ou um rato? – Tiago brincou.

- Em se tratando de Floresta Proibida, eu acho mais seguro ser um rato...

Eles estavam nessa discussão quando ouviram batidas na porta da casa.

- Você tá esperando visitas? – Sirius olhou para Lupin.

- Lógico que não. Além de vocês, só Dumbledore e Madame Pomfrey sabem que estou aqui... E eles não iam bater na porta da Casa dos Gritos, né?

- O Seboso Snape! Ele também sabe... – Rabicho se arrepiou todo só de imaginar que o monitor-chefe poderia estar ali.

- Ah, ele não iria me visitar... Deve ser algum dos alunos tentando descobrir se a casa é realmente mal-assombrada.

- Dá uns uivos aí que o fulano se manda. – Tiago sugeriu brincando.

- Lupin! Lupin, você tá aí? – alguém chamou de fora.

- Lílian? - Lupin e Tiago se entreolharam surpresos e sem saber o que fazer.

- Vocês contaram a ela? – Sirius estava pasmo.

- Eu só contei que era lobisomem. Não falei nada sobre a Casa dos Gritos – e os olhares de todos recaíram sobre Tiago.

- É... bem... talvez eu tenha deixado escapar... Mas ela já sabia o mais importan...

Tiago não conseguiu terminar de falar. Um forte tranco na porta fez os quatro ficarem apreensivos. Outro tranco veio em seguida e, depois de um terceiro, a porta veio abaixo.

- Sabia que vocês estariam aqui – a menina sorriu para os rapazes e depois se voltou para a porta, caída no chão: - Reparo!

A pesada porta e todas as tábuas que vedavam seu entrono voltaram a seus lugares; os pregos entraram automaticamente em seus respectivos buracos.

- Alguém te viu entrando? – Sirius perguntou desconfiado.

- Ei, vocês acham que eu sou tão descuidada assim? Tinha uns três ou quatro alunos do 3º ano rondando para ver se achavam fantasmas... Bem, eu dei um a eles... – ela voltou a sorrir.

- Tudo bom, Lílian? – Remo acenou de onde estava para a menina.

- Nossa! Você tá mesmo um trapo! – ela olhou espantada para a feição do amigo. – Será que um beijo ajuda?

Lílian se aproximou e deu um beijo na bochecha de Remo, deixando Tiago levemente irritado. O amigo percebeu:

- Ciúmes, Tiago? – Lupin sorriu sarcástico. Como ele não sabia quais os motivos que mantinham aquele casal separado, tentava reuni-los outra vez a qualquer custo.

- Eu? Não... – ele fingiu não se importar em ver a ex-namorada abraçada com Remo.

- Ah, Tiago! Eu posso te dar um beijinho também! – ela se levantou sorridente e procurou a face do rapaz, onde pressionou os lábios levemente.

- Ei, ei. Eu e o Pedrinho ficamos chupando o dedo, é? – Sirius brincou.

- Deixa a Helen saber disso... – Tiago ameaçou de brincadeira.

- Realmente, Sirius... No Pedrinho não tem problema, mas em você...

- Isso é discriminação! Você deu uma bitoca no Lupin e ele também tem namorada...

- Falando na Margot... – Lílian deixou Pedrinho de olhos fechados esperando pelo beijo e se dirigiu a Lupin: - Você tem que contar a ela, Remo... Fiquei sabendo pela Claire Sandford, monitora da Lufa-lufa, que ela armou um auê ontem na frente da ala hospitalar porque a Madame Pomfrey não deixou ela te ver. Eu tenho medo que ela tente entrar lá escondida...

- Bom, então vou ter que arranjar uma boa desculpa para justificar minha ausência, se isso for necessário. Eu não vou contar nada a ela. – ele disse sério.

- Mas, Remo...

Ela desistiu. Aqueles garotos eram cabeças-duras demais. Lílian começou a achar que teimosia era uma das características que o chapéu seletor levava em conta na hora de decidir quem ia para Grifinória.

- Tudo bem. O que é que vocês fazem para passar o tempo aqui dentro? – ela passou a observar todos os detalhes daquela casa, cujas portas e janelas estava todas fechadas.

- Falamos sobre garotas... – Sirius disse só para arreliar.

- Achei que vocês fossem comprometidos – ela retrucou.

- Só 50% dos presentes, mocinha... Eu e o Pedrinho estamos livres! – Tiago deu uma piscadela para a menina.

- E eu pretendo continuar assim! Mulher só dá trabalho!

- Pedrinho! – Lílian arregalou os olhos. – Pois saiba que podemos ser ótimas companhias.

- Hmmm... Companhias ruivas, então... – Sirius fez troça.

- Bobo! Vai dizer que você não gosta da companhia da Helen?

Os outros três rapazes olharam para Sirius segurando o riso.

- Tão rindo de quê? Eu realmente acho a Sala de Astronomia com a Helen muito mais interessante do que o dormitório masculino do sétimo ano!

- Hmmm, se ela for sempre tão carinhosa como foi hoje de manhã... – Rabicho desdenhou.

- Que foi que a baixinha fez? – Tiago não assistira à briga no Salão Principal.

- Ela me deu uma cotovelada na boca do estômago. – mas Sirius não parecia bravo com a lembrança de Rabicho; na verdade, estava preocupado: - A Skeeter escreveu alguma coisa que a deixou fora de si... A última vez que vi Helen daquele jeito, eu ganhei um tapa na cara!

- A Skeeter é terrível! A língua mais venenosa da escola... – Lílian comentou.

- Ah, mas a Jorkins não fica muito atrás! – Pedrinho lembrou da aluna da Grifinória.

- É diferente, Pedrinho! A Bertinha é fofoqueira, mas geralmente o que ela conta é verdade... A Skeeter espalha boatos, inventa coisas. E o pior é que, mesmo sabendo disso, todo mundo lê e comenta o que ela escreve.

- Lílian, o Snape guardou a única cópia que sobrou do tal jornaleco da Skeeter para colocar no relatório da monitoria. Será que você... – Sirius não precisou terminar de pedir:

- Posso dar uma olhada, mas, bem, se a Skeeter já tinha espalhado esse jornal...

- ... a uma hora dessas todo mundo já deve estar comentando! – Remo concluiu o pensamento de Lílian.

- Então nós só vamos precisar ir ao Três Vassouras para descobrir do que se trata... – Tiago raciocinou rápido.

- Ok. Mas, antes, que tal uma partida de snap explosivo? – e Remo conjurou um baralho.

Mais tarde, no Três Vassouras...

- Truco! – Fletcher berrou o mais alto que conseguiu.

- Pois eu quero seis! – Black desafiou, num tom de voz ainda mais alto.

Fletcher olhou bem para Black. Ele estava blefando. Tinha que estar. Para ganhar de sua carta, só se ele tivesse o zap... Além disso, pelos sinais que ele vira Pettigrew fazendo para Black, sabia que ele não tinha absolutamente nada. Se Tiago pudesse segurar a primeira rodada... Se pudesse fazer com que Black queimasse a carta que tinha (será que ele tinha mesmo?).

- Manda! – Tiago parecia compartilhar dos pensamentos de Mundungo. Sirius podia até ter o zap, mas ele estava com a mão recheada de cartas altas, entre elas uma manilha. E Mundungo sinalizara que tinha o copas. Eles não conseguiriam matar as três rodadas.

Sirius jogou um 3 de paus e Tiago precisou se desfazer de sua manilha para matar a carta do amigo. Pedro jogou uma daminha (sua mão estava terrível!), enquanto Fletcher descartou um Às só para cumprir função. O rapaz de óculos pensou bastante antes de mandar um 2 de espadas na mesa e Pedrinho novamente jogou uma carta qualquer, sem se dar ao trabalho de escolher, pois não faria diferença. Fletcher jogou um Às. Se a jogada desse certo, Sirius teria que mandar o zap. Mas ele não fez isso: mandou um 3 de ouros.

- Bah! Nem precisa continuar! – Tiago enfiou as cartas no meio do monte de qualquer jeito. – Vocês ganharam.

- Nossa, quem diria que um 4 teria tanta serventia! – Black comentou displicentemente mostrando a carta que restava em sua mão, justamente a de menor valor em todo o baralho.

- Não se vanglorie, Black. Segundo a Carol, um bom jogador nunca mostra que blefou! – Fletcher disse irônico.

- Ah, e qual é a graça de ganhar sem mostrar que vocês foram trouxas? – Pedrinho piscou para Sirius.

- Se fôssemos trouxas de verdade não tínhamos perdido esse raio de jogo! – Tiago reclamou de brincadeira. – Ô, Rosmerta, não sai mais uma rodada de cerveja para gente? – ele gritou para a balconista do lugar.

- Eta, folga, hein? Vem buscar! Não tá vendo que o lugar tá lotado?

A balconista não era muito mais velha que os quatro rapazes sentados naquela mesa. Tinha 21 anos e era muito bonita. Sirius ainda se lembrava dela em Hogwarts: era a única aluna que não morava na escola. Ela voltava todos os dias para a casa dos pais, em Hogsmead. Por isso vivia às voltas com encomendas de doces e joguetes que os alunos pediam para que trouxesse do lugar; ela, como filha de comerciantes, não deixava um cliente insatisfeito (desde que lhe pagassem pelo serviço, claro!).

- Ah, Rose! O Fletcher e o Potter acabaram de perder mais uma vez, faz essa caridade! - Sirius deu a derrota como desculpa.

- Vocês não se emendam mesmo... – ela veio carregando uma bandeja com quatro canecas as bebida. - Cadê o Lupin?

- Doente... – Tiago fez cara de sentido.

- Outra vez? Esse menino precisa se cuidar melhor! E você, Black? Fiquei sabendo que se amarrou outra vez...

- Ah, mas já tá largando de novo... – Fletcher respondeu pelo amigo, que se surpreendeu:

- Quê? Largando? Desde quando que eu não tô sabendo?

- Vicht! Já vi que a história vai dar pano para manga... Se eu não tivesse tão atolada de serviço ficava aqui ouvindo, mas... o dever me chama! – e a moça saiu de perto dos quatro jovens.

- Bom, eu achei que depois da matéria da Skeeter... – Mundungo não estava entendendo a reação de Sirius. – Você vai continuar com ela?

- Que raios estava escrito nesse jornal que deixou a Helen tão irritada?

- Você não leu? – Mundungo parecia ainda mais pasmo. – Eu achei que você não tinha vindo com ela por causa daquilo...

- Ela levou uma detenção por causa dessa porcaria... Mas o que é que isso tem a ver comigo? Que a Helen tá sempre arranjando encrenca, isso é normal, mas...

- ...mas descobrir que a namoradinha tá te passando a perna com outro não é... Estou certo, Black?

- Era tudo o que eu precisava... Dá o fora, Malfoy!

O noivo de Narcisa Boggs acabara de entrar no bar, acompanhado por outros alunos da Sonserina, além de Crabbe e Goyle, seus fiéis escudeiros enquanto estavam na escola...

- Uau! Achei que depois de noivar com a Boggs você ia terminar o triângulo amoroso com esses dois, Malfoy! – Fletcher alfinetou. O desprezo pelo ex-aluno da Sonserina era um sentimento mútuo entre aqueles quatro alunos.

- Se manda! Ninguém te chamou aqui. – Tiago estava irritado.

- Eu vou. Não porque vocês estão mandando, mas porque ficar muito tempo perto de ralé dá alergia!

Malfoy deixou a mesa dos quatro e sentou numa próxima, junto com Crabbe, Goyle, Avery, Lestrange, McNair e Snape. Narcisa estava de pé conversando com Meg Steels, na mesa ao lado.

- Continua, Fletcher... O que o tal artigo dizia? – Sirius encarou o amigo.

- Hmm... bem... em resumo, é o que o Malfoy falou: que a Silver tá te passando a perna.

- Me passando a perna de que jeito? – Sirius estava achando aquela conversa absurda.

- Hmmm... – Fletcher estava receoso. – Que, bem, que ela tá te usando para conseguir passe livre na Girfinória, já que ela tá mais queimada que pomba perto de dragão na Sonserina...

- Bah! E vocês acreditam nisso? – Tiago achou ridículo. – Faz pouco mais de duas semanas que eu tô convivendo com ela diariamente, e posso te garantir que aquela ali não sai da Sonserina nem sob ordens de Dumbledore.

- E mesmo que ela quisesse... Eu mesmo já falei que ela não devia ficar naquela casa... Qual é o problema nisso? – Sirius continuava sem entender.

- É que... na verdade... bem, esse é menor dos problemas... A tal matéria também falava que, bom, eu vou ser direto: que ela tá corneando você com o Longbottom!

- Quê? – Black caiu na risada. – Com o Longbottom? Sei... Por um acaso a Alethea não leu essa matéria, né?

- Acho que não, por quê?

- É que se ela tivesse lido a minha namorada ia ter companhia na detenção! A Alethea e o Longbottom estão namorando desde ontem à noite! E tiveram uma ajudinha de Helen para oficializar o romance, até onde eu sei...

- Sério? – os três perguntaram ao mesmo tempo.

- Ué, vocês podem ver com seus próprios olhos! – Black apontou para a entrada do bar.

Frank, Sophie, Lílian, Julianne, Paty e outros dois garotos da corvinal entravam no bar, conversando animadamente. Os dois monitores entraram de mãos dadas, mas pouca gente reparou, pois o lugar era uma confusão que só vendo. Os olhos de Lílian se mexiam rapidamente, procurando Tiago de mesa em mesa. Quando finalmente os olhares se encontraram, ela o cumprimentou com um sorriso e logo depois deu um aceno para todos na mesa em que ele estava. Para todos os efeitos, ela só os estava vendo agora.

- Falando em casais, eu não falei pra vocês quem terminou, né? – Fletcher parecia empolgado.

- Quem? – Pedrinho quis saber.

- A Carol e o Turlington...

- E qual foi o problema dessa vez? – Tiago perguntou.

- O Eddie acha que ela anda levando os estudos à sério demais. Tá bem que este ano tem o NIEMs, mas ninguém nem começou a estudar ainda...

- O casal que não sossega... – Sirius comentou.

- " quem fala... Nunca vi um namoro seu durar mais que dois meses, Black! – Fletcher lembrou do "passado negro" de Sirius.

- Fala isso baixo! Se a Helen fica sabendo duma coisa dessas, eu tô frito!

- E você acha que ela não sabe? – Tiago tirou uma com o amigo.

- Espero que ela nunca tenha se prestado a cronometrar meus namoros! – Sirius brincou, mas de uma certa forma, ele estava um pouco preocupado. Nunca tinha pensado nesse detalhe: seus namoros nunca duravam muito tempo.

Tiago continuava fitando Lílian insistentemente; a cada dia sentia mais a falta da garota. Mas ainda não era hora de eles voltarem. Ele poderia colocá-la em perigo ao revelar o pacto que fizera com Carol, Annie, Severo, Helen e Dumbledore, e ele não queria recomeçar o namoro tendo que esconder algo dela. Antes de reatarem ele precisava ter certeza de que ela estaria segura e algo lhe dizia que isso aconteceria logo. Lílian, por sua vez, devolvia os olhares insinuantes, às vezes acompanhados de um sorriso terno e malicioso ao mesmo tempo. Agora, mais do que nunca, ela tinha certeza de que estar novamente com Tiago era só uma questão de tempo, um tempo que infelizmente custava a passar.

Foi justamente no meio dessas trocas de olhares que Tiago percebeu que a menina ficou esquisita. Ela parou de olhar para ele e de prestar atenção às conversas dos amigos a seu redor. O rapaz teve a impressão de que ela estava isolada do mundo apesar de estar num lugar lotado como o Três Vassouras.

- Quê foi, Tiago? Tá passando mal? – Pedrinho foi o primeiro a notar as caretas que o rapaz fazia enquanto observava o estranho comportamento da ex-namorada.

- A Lílian... Ela tá esquisita... Ela parou de olhar para mim...

- Ah, larga de ser presunçoso, Potter! Cê dispensou a ruivinha e ainda quer que ela fique te admirando...

Tiago não gostou do comentário de Fletcher, mas ainda assim não desviou o olhar da menina:

- Eu vou lá falar com ela! – ele se levantou e, para sua surpresa, a garota fez o mesmo.

Isso já tinha acontecido muitas vezes, como se um adivinhasse o que o outro ia fazer e resolvesse fazer primeiro. Mas Tiago achou que o semblante de Lílian ainda estava estranho. Em todo caso, ele resolveu esperar ali, de pé, uma vez que ela caminhava em sua direção. Porém, pouco antes de chegar a mesa onde ele estava, ela desviou. A cara de Tiago não podia demonstrar maior perplexidade quando viu Lílian Evans parar junto à mesa de Malfoy e companhia.

- O que é que ela tá fazendo? – Sirius também se levantara. De onde estavam, forçando um pouco os ouvidos, podiam entender bem a conversa que se passava na mesa dos Sonserinos:

- Olá, Evans! – Malfoy cumprimentou-a, um gesto bastante estranho, pois enquanto ele ainda era estudante em Hogwarts, só se dirigia a ela para chamá-la de sangue-ruim.

- Oi. – os garotos não podiam ver a expressão no rosto da garota, que estava de costas, mas o tom de sua voz era de quem respondia automaticamente a uma pergunta, sem qualquer emoção.

- Ouvi dizer que você estava com saudades do Severo aqui, é verdade? – ele disse dando um tapinha nas costas do colega.

Tiago e Sirius não conseguiam ver a cara de Snape, que estava justamente em frente a Lílian, mas o ritmo da conversa estava lhes dando certeza de que aquilo não era normal.

- Estava. Eu estava com muitas saudades de Severo.

- Ela tá chamando ele pelo primeiro nome? – Tiago estava inconformado. – Tem alguma coisa aí! Eles enfeitiçaram ela!!

- Calma, Tiago!, - se Sirius não o tivesse segurado pelo braço, Potter já teria avançado em Severo Snape. – Vamos continuar ouvindo! Eles ainda não fizeram nada de errado com a Lílian.

- Mas...

O olhar severo de Sirius convenceu Tiago a se segurar mais um pouco, mas não muito. Quando ele viu Lílian sentando-se no colo de Snape – que, aliás, estava com a cara ligeiramente assustada -, não conseguiu pensar em mais nada. Avançou para a mesa e apontou a varinha para a menina: "Finite Incantatum!". O rosto de Lílian perdeu a rigidez e ela já ia sorrir para Tiago quando se deu conta da situação. Estava sentada e abraçada a Severo Snape, que não parecia muito confortável com a situação. Ela se levantou rapidamente, com cara de assustada.

- Ai, meu Deus! Como é que eu vim parar aqui? – ela andou em direção a Tiago.

- Como você é baixo! – Tiago olhava com nojo para Snape.

- Eu sou o monitor-chefe! – Snape se levantou; não ia ficar ouvindo desaforos de Tiago Potter. -Você não pode ir falando qualquer coisa pra mim! Não pense que toda essa sua pose de apanhador faz alguma diferença... E a Grifinória vai perder 40 pontos por esse seu atrevimento.

- Não diga besteiras, Snape! Todo mundo sabe que em Hogsmead ninguém pode ser autuado! – Fletcher, que tinha sido monitor no ano anterior, interveio.

- E você tem coragem de tentar descontar pontos da minha casa depois dessa baixaria? – Tiago não conseguia esconder sua incredulidade.

- E o Snape lá é responsável pelas atitudes da sangue-ruim da sua namorada? – Narcisa Boggs, que voltara à mesa do noivo, se intrometeu.

- Quem é que é sangue-ruim aqui? Só se for você, sua... – Lílian não teve coragem de dizer o palavrão que passou por sua cabeça naquele instante. – Deve correr veneno pelas suas veias em vez de sangue!

- Ei, ei, ei. O que é que tá acontecendo aqui? Não quero brigas no meu bar! – o pai de Rosmerta se aproximou do bando. A essa altura uma aglomeração de alunos prestava atenção nas duas mesas que se enfrentavam.

- O Potter e seus amigos encrenqueiros vieram provocar. Nós estamos na nossa. – Avery tomou a dianteira na defesa.

- Como é? – Sirius estava indignado. – Vocês enfeitiçam a Evans e a gente é que começa? Ninguém aqui tem sangue de barata, não!

- Ah, com certeza! O da Evans é pior que o de uma barata! – Narcisa aproveitou a deixa.

- Eu não quero saber quem começou. Todos para fora, agora! – o comerciante não quis saber de conversa.

Fora do bar, eles continuaram a discussão:

- Já que você não fez nada, Snape, então deixa a gente tirar a prova. – Fletcher desafiou. – Você deve saber que dá para descobrir qual foi o último feitiço de uma varinha!

- É lógico que eu sei. Só que eu não preciso provar nada para ninguém!

- Ah, precisa, sim! Para mim. Por que eu tenho certeza de que não fui caminhando de boa vontade até a mesa de vocês. – Lílian estava disposta a tudo. – Se nós estivermos errados, você tem o direito de pedir o que quiser de mim!

- Como é que é? – Snape achou que não tinha ouvido direito.

- É o que você ouviu. Eu faço que você quiser. Mas se estivermos certos, você pede demissão do seu cargo de monitor-chefe!

- Não delire, garota!

- O que foi que você usou para ter tanto medo, Snape? A maldição Imperius? – Tiago estava fora de si.

- Ora, Severo! Faça o que eles estão pedindo. Você não fez nada para sangue-ruim, fez? – Malfoy sugeriu.

- Ora, seu... Lave a boca antes de falar dela! – Sirius teve que segurar Tiago para que este não desse um bom soco no olho do rapaz.

- Eu topo! Mas você vai ter que cumprir sua promessa, Evans!

- Eu nunca faltei com a minha palavra!

Severo Snape entregou sua varinha à menina:

- É de corda de coração de dragão. A varinha de algum de vocês é feita desse material? – ele perguntou azedo como sempre.

- A minha! – Tiago respondeu secamente. Sirius nunca vira o amigo com tanto ódio no olhar.

Lílian passou a varinha para que Tiago realizasse o encantamento:

- Priori Incantatem!

Ao soar das palavras, um número sem igual de pergaminhos começou a aparecer e ser levado pelo vento: o informativo de Rita Skeeter.

- Satisfeitos! O último feitiço que executei hoje foi um pedido da namorada do Sr. Black! Aliás, ele me viu executando esse feitiço!

Sirius pegou um dos poucos folhetos esparramados pelo chão que ainda não tinham sido levados pelo vento e guardou-o num dos bolsos da veste, para ler mais tarde. Por mais que já soubesse o conteúdo, queria saber exatamente o que Skeeter escrevera.

- Não é possível... – Tiago olhava para a própria varinha inconformado.

- Bem, acho que lhe devemos desculpas! – Lílian estava sem graça ao devolver a varinha a Severo.

- Desculpas, não, você tem que cumprir sua promessa.

- É só pedir. – ela disse firme.

- Um beijo. - Snape encarou-a.

- Quê? – Tiago não acreditou no atrevimento de Snape. - Você não vai beijar a minha namorada!

- Ora, mas eu achei que ela não fosse mais sua namorada, Potter! – Snape respondeu num sorriso cínico.

- Está bem. – Lílian respirou fundo. – Como eu disse, costumo manter minha palavra.

A menina se aproximou do rosto do monitor-chefe e lhe deu um beijo no rosto.

- Ora, o que é que você está pensando? Eu quero um beijo de verdade! Na boca! – ele foi enfático.

Lílian achara que podia se fazer de desentendida e passar daquele jeito, mas ninguém passava a perna em Severo Snape. E ela não teve outra escolha... Tiago estava desesperado.

- Eu não vou ver isso! – e ele saiu de perto do amontoado de gente, Sirius atrás dele.

Na rodinha, os sonserinos sorriam com gosto vendo a menina se humilhar daquele jeito. Fletcher tinha a dó que sentia dela estampada na face; Pedrinho fazia uma careta de nojo. Lílian finalmente encostou seus lábios vermelhos na boca fina e seca de Severo Snape, tentando fingir para si mesma que era Tiago que estava ali.