Capítulo 14 – Aquele em que todo mundo descobre alguma coisa...
O tempo ia correndo. Nos últimos dois meses o nome de Voldermort se tornara tão temido que a maioria da população bruxa da Inglaterra evitava mencioná-lo. Não havia mais grandes segredos: Bartolomeu Crouch e os aurores do Ministério vinham promovendo uma intensa caça às bruxas, que se preocupava mais em prender possíveis aliados de Voldemort do que investigar se eles realmente estavam envolvidos com as Artes das Trevas. Até mesmo bruxos acima de qualquer suspeita vinham sendo interrogados.
O clima em Hogwarts não era dos melhores. Tiago Potter fora apenas o primeiro a ficar órfão de pai e mãe por conta de Voldemort. A opinião dos alunos também era bastante diversa: uns achavam que os trouxas eram culpados, outros que Você-Sabe-Quem era um racista, e ainda havia aqueles que achavam que o mundo iria acabar.
- Que baboseira! – Helen lia com descaso o artigo de Jonathan Irving, da Corvinal, que escrevera sobre o Apocalipse do Mundo Mágico no Focas & Fofocas. – Esse povo devia estudar um pouco mais de História da Magia antes de se meter a escrever sobre o que não sabe.
A menina fechou o jornal e o jogou de lado: "E aí? O Profeta Diário trouxe alguma coisa de interessante?", ela perguntou a Frank Longbottom, que parecia estar lendo cada linha do jornal umas três vezes tal a sua demora. Os dois esperavam pelos colegas de pesquisa na biblioteca, pois andavam precisando de muitos livros e carregá-los para o Salão Principal todas as vezes que se reuniam tinha se tornado uma tarefa indigesta. A biblioteca estava ficando mais cheia com a proximidade dos exames para a obtenção dos Níveis em Magia e não era difícil encontrar alunos do 5º e 7º ano sempre às tontas em volta das prateleiras procurando livros, mesmo numa tarde de domingo como aquela.
Helen não esperava que Frank respondesse. Na verdade ela fizera a pergunta por impaciência e não por curiosidade. Sirius estava demorando mais do que de costume. Havia cerca de um mês que ele e Carol Stuart estavam estudando o Manifesto de Morgana juntos, porque a aluna da Corvinal percebera que era possível traçar previsões se combinassem os dados obtidos por aritmancia com a posição dos astros no céu. Como Sirius era o melhor aluno de Astronomia da escola, isso fazia com que os dois sétimo-anistas passassem mais tempo juntos do que a namorada dele achava que podia suportar.
- Tudo bem? – Lílian e Remo ocuparam duas cadeiras dispostas em torno da mesa circular.
Frank se limitou a dar um sorriso rápido como resposta, sem desviar os olhos do jornal. Helen não fez nem isso: batia os dedos freneticamente na mesa com o olhar fixo na entrada da biblioteca.
- Helen? – Lílian insistiu.
- Ãhn, oi! – a menina olhou rápido para os dois e voltou para a contemplar a grande porta de madeira da biblioteca.
Lílian e Remo deram de ombros e abriram dois dos livros que estava a sua frente, procurando algo que não tinha muito a ver com a pesquisa. Desde que descobrira o segredo de Lupin, a ruiva se propôs a ajudá-lo na procura de uma poção, erva, qualquer coisa que pudesse amenizar os efeitos da sua transformação mensal. Assim, Lupin poderia levar uma vida normal, ao menos durante o dia. Mas a consulta não se prolongou muito, pois Sophie Alethea não demorou a chegar, um tanto apreensiva. A mãe de sua melhor amiga havia sido torturada por comensais dois dias antes e a menina estava em estado de choque. Eles eram uma família puro-sangue, jamais imaginariam que poderiam ser atacados. Até aquele dia, a única família puro-sangue a ser atacada fora a Potter e, pelo que tinham pesquisado, isso só aconteceu porque Voldemort precisava de uma família mágica tradicional para realizar o feitiço que lhe tornaria imortal.
A monitora da Corvinal se sentou ao lado do namorado que, finalmente, deixou o jornal de lado:
- Como está a Janet? – ele perguntou apenas por solidariedade. Sabia que a menina não devia estar muito bem.
- Na mesma. E ainda por cima ela começou a chamar Voldemort por essas besteiradas de Aquele-que-não-deve-ser-nomeado... Têm medo que, se pronunciar o nome dele, ele apareça pra se vingar dela...
- Eles tratam esse rato como se fosse Deus sem perceber... Não dirás o nome d'Ele em vão. – acrescentou Lílian parafraseando um dos mandamentos da fé cristã.
- Dele quem? – Tiago pegou o bonde andando.
- Voldemort. – Lupin respondeu desgostoso.
- Ah, vocês tão falando dessa neurose de não falar o nome dele, né? – o atrasadinho concluiu, acabando de se sentar.
- Não é mais só falar... – Longbottom se dirigia ao grupo pela primeira vez naquela tarde. – Eles também não escrevem mais o nome dele... A reportagem inteira do Profeta Diário só o trata por Você-Sabe-Quem.
Com exceção de Helen, todos se interessaram pelo jornal. Ela continuava olhando para a porta da biblioteca.
- Ei, baixinha, por que é que você tá tão nervosa? – Tiago perguntou num tom de voz quase sussurrado, notando os dedos de Helen batendo com força na mesa redonda.
- Baixinha é a sua mãe...
- Bom, pelo que eu me lembro, minha mãe devia ser pelo menos uns 10 cm mais alta que você, mas isso não vem ao caso agora... Por que o nervosismo? – Tiago já conquistara um pouco de intimidade com Helen Silver. Fazia três meses que ele dava aulas de reforços diárias para a menina.
Então os olhos da Helen finalmente encontraram o que ela procurava. Sirius Black entrava na biblioteca acompanhado de Carol Stuart, com um sorriso escancarado no rosto.
- Ah, o Sirius... Eu devia ter imaginado! – Tiago deu um tapa na testa.
- Tudo bom com vocês? – Carol cumprimentou todos com um largo sorriso. Os olhos azuis brilhavam como nunca.
- Oi, baixinha! – Sirius sentou-se entre Tiago e a namorada, Então, procurou a boca dela para um selinho, mas mal conseguiu encontrar a face da menina. Helen se ergueu rapidamente e saiu da mesa sem olhar para trás. – O que deu nela? – o rapaz perguntou a Tiago.
- E eu que sei?
- Ih, não liga, não, Sirius! A Helen tem desses ataques repentinos... Você deve ter feito alguma coisa que ela não gostou... – Frank entrou na conversa.
- Mas eu acabei de chegar! – Sirius não conseguia imaginar um motivo para que a menina estivesse brava com ele.
- Ouve o que eu tô falando... Não pense em algo que tenha lógica! Helen não sabe agir logicamente! Conheço ela!
- É, conhece bem demais... – Sophie soltou com uma pontinha de raiva no tom de voz.
- Ah, não, Sophie, não começa... – Frank se arrependeu do que acabara de falar. Sabia que a namorada tinha ciúmes infundados de Helen Silver.
A monitora da Corvinal amarrou um pouco a cara, mas só até Carol e Sirius começarem a contar a boa notícia que os deixara radiantes:
- Descobrimos que alguém vai morrer em Hogsmead no próximo final de semana! – Sirius disse contente, para a surpresa de todos.
- Nossa, e isso é uma notícia boa? – Lílian arregalou os olhos, assustada.
- Ah, é que o Sirius é sutil como um elefante! – Carol debochou do rapaz. – A boa notícia é que finalmente conseguimos fazer uma previsão. Se ela se confirmar, isso quer dizer que estamos no caminho certo.
- Sem querer ser pessimista, Carol, mas mortes acontecem todos os dias e se, bem, se está "escrito nas estrelas", isso quer dizer que não há nada que possamos fazer para impedir, ou seja, que as previsões só vão permitir que nós saibamos das novas mortes antes que elas saiam no jornal...
- Isso porque você não queria ser pessimista, Remo... Imagine se quisesse! – Sirius retrucou.
- E quem disse que não podemos alterar o que está escrito nas estrelas? – Carol disse isso com tal confiança que todos eles passaram a acreditar que o destino era realmente uma página em branco, apesar do Manifesto de Morgana, aberto do centro da mesa, tentar provar justamente o contrário.
- Então podemos tentar evitar essa morte que vocês previram... – sugeriu Longbottom.
- Não! – Sirius e Carol responderam juntos.
- Como assim, não? – Tiago também não entendeu.
- Ora, se essa pessoa não morrer, então pode ser porque nós não fizemos a previsão corretamente... – Sirius tentou pensar na situação racionalmente.
- Isso é loucura! Então vamos deixar uma pessoa morrer só para tirar uma dúvida? – Lílian estava indignada.
- Não é bem assim. Vocês tem que pensar na situação como se fosse uma hipótese... – Sophie tentou intervir. Isolar o conteúdo emocional das situações era algo que os corvinais conseguiam fazer sem dificuldades. Ela tinha certeza que Sirius deveria ter tido uma reação semelhante à dos amigos e que Carol o convencera a mudar de opinião.
- Bom, a gente discute isso mais tarde. E vocês, como andam com a pesquisa? – Sirius resolveu acabar com aquela discussão.
- Muito mal... – Lílian olhou para a montanha de livros a seu lado desgostosa. - Até agora não descobrimos nada que possa anular os efeitos de uma maldição imperdoável...
- Quer dizer, quase nada, né, Lílian? – Remo a corrigiu.
- Ah, Remo, mas aquilo não é bem um antídoto. Ou as pessoas tem ou não tem...
- Aquilo o que? – Sirius quis saber.
- Existem pessoas que conseguem resistir à maldição império. – Remo respondeu. – Mas como a Lílian disse, é da pessoa, não existe como aprender...
- Pelo menos é isso que os livros dizem... Ah, e tem aquele feitiço, Remo!
Desde que Sophie e Frank começaram a namorar, Lílian passara a fazer as pesquisas em conjunto com Lupin. Assim, eles também aproveitavam o tempo em busca de poções e feitiços calmantes para o rapaz. Foi justamente quando procuravam esse tipo de coisa que depararam com aquele feitiço:
- É, bem, não é exatamente um feitiço... Aliás, tem uma série de regras e é muuuuito confuso... Além do mais tem aquele tal elemento neutro que, na minha opinião, não vamos conseguir encontrar.
- Do que é que vocês estão falando? – Frank e os outros estavam boiando na conversa dos dois grifinórios.
- É o seguinte, Frank. Existe um feitiço que não tem nada a ver com as maldições imperdoáveis. Como o Remo disse, ele não é um feitiço propriamente dito, porque envolve ainda uma poção e uma série de condições que, se não forem cumpridas, tornam o esforço inútil. Eu e Remo achamos que dá para cumprir quase todas as etapas, mas existe uma que pede um bruxo neutro...
- Bruxo neutro? Que conversa de doido... – Sophie exclamou.
Os rostos de Carol Stuart e Tiago Potter começaram a empalidecer. Eles não podiam estar falando...
- Esse encantamento se chama Espírito de Hogwarts, mas também é chamado de Feitiço das Casas, pelo que soubemos...
- Que besteira... – Carol tentou fingir que desprezava aquela idéia. Na verdade ela queria mudar de assunto.
- Não é besteira, Carol! – Lílian defendia a idéia a todo custo. – Se conseguíssemos levar isso adiante, teríamos quatro pessoas com poderes e conhecimento de magia igualáveis aos dos fundadores de Hogwarts. Voldemort não poderia vencê-los, entende? É como se juntássemos os quatro elementos da natureza: fogo, terra, água e ar.
- Lílian, nós não vamos conseguir fazer magia desse tipo... Onde foi que vocês leram sobre isso? Estão consultando a seção reservada? – Tiago mal conseguia disfarçar o nervosismo.
- Nenhum de nós poderia fazer essa magia mesmo, Tiago. – Remo deu um suspiro. – Não porque não temos conhecimentos suficientes de magia, mas porque seria preciso uma pessoa que não pertencesse a casa nenhuma para executar o feitiço. Talvez um bruxo de outra nacionalidade, que estudasse na Beauxbattons ou na Durmstrang...
- Então esse é o tal elemento neutro? – Sirius fingiu ter dúvidas.
- Peraí, - Longbotton interrompeu – e se, ao contrário do que vocês estão pensando, esse tal elemento neutro seja neutro justamente por ser de todas as casa ao mesmo tempo? – ele olhou para os amigos tentando descobrir se eles acompanhavam seu raciocínio.
- Isso é impossível, Longbotton... Ninguém pertence a todas a casas ao mesmo tempo. – Tiago tentou demovê-lo da idéia.
- Existe uma pessoa que sim...
Os corações de Carol e Tiago estavam na boca. Frank havia sido namorado de Helen, ela devia ter contado a ele que era uma elementar. Todo o cuidado que tinham tomado para que ninguém viesse a saber... Sirius tentava guardar sua preocupação para si, pois Carol não podia saber que ele tinha conhecimento de toda aquela história. Naquele momento ele odiou Frank Longbotton. Será que ele iria revelar o segredo de sua namorada?
- Dumbledore! – Frank completou seu raciocínio.
- Como? – Tiago, Carol e Sirius perguntaram ao mesmo tempo.
- Mas é lógico! – Lílian concordou. – Como foi que não pensamos nisso antes? Ele é diretor da escola, por isso, tecnicamente falando, não pertence a nenhuma casa.
Realmente aquele era um raciocínio correto. Mas Sophie se lembrou de um porém...
- Mas ele estudou na Grifinória! Isso quer dizer que ele não é assim tão neutro...
- Eu concordo com a Sophie – Remo disse. – A não ser que ele tenha escolhido estudar na Grifinória...
- Sem chances... – Tiago completou. – Dá para perceber que Dumbledore é um grifinório só de ver o jeito como ele dirige a escola.
- Droga! Esse era o feitiço perfeito... – Lílian emburrou.
- Acho que vamos ter que voltar a discutir se impedimos ou não o tal assassinato... – Longbotton encerrou o assunto.
- Quem disse que vai ser assassinato? Só dissemos que ia haver uma morte! – Sirius replicou.
Carol deu um suspiro. Aquele dia prometia ser comprido... Até ela convencer aquele bando de teimosos a deixarem a vida seguir seu curso natural... Ela apoiou os cotovelos na mesa e jogou o corpo um pouco para a frente, buscando o Manifesto que estava bem no centro. O movimento fez com que um cordão delicado saísse de dentro da blusa. O pingente de vidro com um líquido azul dentro chamou a atenção das outras meninas da mesa:
- Nossa, Carol! Que lindo! Onde foi que você comprou? É o símbolo da Corvinal, não é? – Sophie perguntou interessada em arranjar um para ela.
Só então a menina se deu conta de que o cordão estava à mostra. Ela precisava arranjar uma desculpa, e rápido.
- Foi... presente! Do Eddie!
- Achei que vocês tinham terminado outra vez... – Sophie estranhou a resposta de Carol.
- É, terminamos... Mas ele me deu antes disso... é, foi isso! - Carol olhou rapidamente para Tiago enquanto escondia a gema dentro da blusa.
- Ah, não esconde! É tão bonito! – Lílian deu força para que a menina andasse com o pingente a mostra.
- Sabe como é, não quero que o Eddie saiba que eu ainda uso os presentes dele...
Sirius segurou o riso. Não é que Carol Stuart sabia ser convincente? Lílian e Sophie pareciam achar aquela uma resposta satisfatória. Mas ainda havia Remo...
- Carol, desculpa me meter, mas esse pingente não era transparente? Quero dizer, a Margot queria porque queria um bibelô de vidro em forma de texugo para pendurar num cordão...
- Ah, não era esse, não. – ela se apressou em dizer. – Era outro... Mas quebrou... Foi por isso que o Eddie me deu esse, aliás...
- Hmm, acho que vou perguntar para ele onde ele comprou. Quem sabe não tem o de texugo?
- Não! – Tiago respondeu sem pensar.
- Ué, por que não?
- Ah, Lupin, você não conhece essas meninas? Daqui a pouco todas elas vão querer usar um também... E eu vou ter que ir atrás de um para Lílian e... – Tiago se atrapalhou todo na hora de responder.
- Você não tem que dar nada para mim, Tiago. Nós não somos mais namorados, esqueceu? – ela disse isso com uma pitada de tristeza na voz.
- É, mas...
- Mas eu e o Longbotton teríamos que comprar para Helen e para Alethea. - Sirius tentou ajudar. - E além do mais, se o Remo perguntasse pro Turlington, ele ia acabar deduzindo que ele viu o da Carol e que ela ainda tá usando. E ela não quer isso, não é, Carol?
- Exato. E minha irmã tem a mania de querer tudo o que eu tenho. Por favor, Lupin, eu tenho um carinho especial por esse pingente. Sei que parece futilidade, mas não quero que todo mundo tenha um igual...
- Tudo bem... Não está mais aqui quem falou.
- A conversa sobre brincos e pulseiras já acabou? – Longbotton parecia até que tinha sido estuporado; aquela conversa toda o tinha deixado enjoado.
- Já. E eu acabei de lembrar que preciso falar com a sua namorada, Sirius. Você tem idéia de onde ela possa estar?
- Não faço a mínima...
- Tudo bem, eu acho! Tchau para vocês.
- Mas a gente não ia discutir... – Frank ficou falando para o vazio. Carol Stuart sumiu pela porta biblioteca.
Sirius sentiu um cutucão e depois a voz de Tiago baixinha perto do seu ouvido. "Tem certeza que você não sabe onde a Helen está?". Então Sirius se lembrou que ele só precisava consultar o mapa do maroto para descobrir o paradeiro da menina. Ele sabia o que Carol precisava dizer a Helen: ela conseguira provar que era uma verdadeira corvinal. Enquanto andava pelos corredores do castelo atrás da garota, Sirius pensou que eles poderiam evitar a tal morte que aconteceria no final de semana. O pingente cheio era um indício mais que confiável de que a previsão que haviam feito estava correta.
Carol Stuart não demorou muito a chegar no banheiro feminino do primeiro andar. Sempre que podia evitava entrar ali, mas agora não tinha opção. Precisava falar com Helen:
- O que você quer aqui? – a Murta veio recepcioná-la. – Também vai bater a porta de um dos boxes na minha cara? – ela se lamuriou.
- Ué, eu pensei que você atravessasse a porta... – a menina replicou com estranheza.
A fantasma de óculos e maria-chiquinhas fez cara de indignada com a resposta da artilheira, mas, ao invés de responder alguma coisa, ela começou a chorar (ou ao menos tentar, porque fantasmas não tem lágrimas...).
- Murtinha, querida, você não viu uma garota baixinha, cabelo na altura do ombro, olhos castanhos quase cobertos pela franja...
- Aquela mal-educada? – a Murta parou de chorar imediatamente, como se Carol tivesse lhe proporcionada uma forma de vingar-se da menina. - Segunda porta a esquerda.
A corvinal ouviu um suspiro vindo do boxe que a fantasma indicou e não levou mais que alguns segundos para a porta ranger. Helen Silver saiu dali com os olhos vermelhos e inchados, os lábios ainda tremendo um pouco:
- Como é que você me achou aqui? – ela começou a bater os dedos na face, evidenciando que ainda estava nervosa.
- A autora desta fic me contou. Ela estava com preguiça de escrever a parte em que eu ficava te procurando por todo o castelo...
- Essazinha tem alguma coisa contra mim... Será que eu não posso mais nem chorar em paz? – Helen me encarou com fúria, mas eu não liguei. Fui eu que criei ela mesmo, já estou acostumada!
Carol continuou:
- Ah, isso é entre vocês. Acontece que eu tinha que te achar o mais rápido possível!
- Lógico... No mínimo ela quer escrever uma cena romântica entre você e o meu namorado, mas não quer que o Sirius passe por safado. Então ela te mandou para me avisar que o meu namoro acabou... – Helen balbuciou estas palavras numa altura que só ela pôde entender.
- O quê? Não entendi uma palavra do que você falou...
- Anda logo, menina! Eu não tenho o dia todo para ficar te ouvindo, sabia? – Helen respondeu mais mal-educada do que nunca.
As duas ouviram a porta do banheiro ranger.
- Caramba, Murta! Será que você não pode deixar ninguém ter uma conversa sem ser interrompido? – Helen reclamou para o vulto que entrava, sem olhar para ele.
- Eu tô aqui, queridinha! – a voz da Murta, vinda do lado oposto, respondeu.
- Putz, já me confundiram com muita gente, mas com a Murta que Geme... – Sirius entrou no banheiro alagado como sempre, estranhando cada detalhe daquele lugar.
- Eu tô dizendo que essa escritora tá de complô contra mim! Quer mandar ele embora? – ela exigiu, mas eu não obedeci.
- Ei, o que é que você tem? – Sirius não entendia por que a namorada estava agindo daquele jeito.
- Ahn, Sirius, não sei se você sabia, mas esse é um banheiro de meninas! Então acho melhor você esperar lá fora! – a sugestão foi da artilheira da Corvinal.
- Apoiado! – a Murta gritou de dentro do seu boxe.
- Pois eu concordo! – Helen disse
- São três contra um, Black! Você não tem opção.
- Tudo bem, eu espero lá fora. Mas você não pense em fugir, baixinha, porque eu tenho meios de descobrir onde você está!
- Já vi tudo... Você também é amiguinho da autora, né? – Helen concluiu enfezada.
- Como?
- Nada, Black! Espere lá fora! – Carol começou a empurrar Sirius para fora do banheiro.
Agora só restava as três garotas dentro do banheiro, se é que podemos considerar a Murta uma garota. Em todo caso, Helen não demorou muito para expulsá-la de lá.
- Dá o fora.
- Ei, esse aqui é o meu banheiro. Eu morri aqui primeiro. – a fantasma rebateu.
- Que sorte, hein? – Helen olhou a seu redor com nojo. – Um lugar perfeito para fantasmas maçantes como você...
O rosto da Murta começou a se deformar para se transformar numa expressão de choro e raiva mesclados. Ela voou em direção à menina com toda a velocidade que pôde e, ao ver que Helen continha um bocejo de tédio, percebeu que atravessá-la não tinha surtido efeito algum. Assim, ela mergulhou dentro da privada do último boxe, derramando mais água no chão molhado daquele banheiro. Depois disso, Helen encarou a corvinal:
- Muito bem, o que você quer de mim? – ela falou num tom amargo.
- Nossa, Sirius deve ter aprontado feio dessa vez, hein? – Carol imaginou que a raiva da menina era por causa do namorado.
- Como se você não soubesse... – Helen soltou entredentes...
A corvinal franziu a testa sem entender o que é que ela tinha a ver com Sirius, mas resolveu deixar a picuinha de lado:
- Eu vim lhe entregar isso. – ela tirou o cordão do pescoço.
O rosto de Helen estava pasmo. Ela sequer tinha pensado na hipótese de que Carol tivesse vindo lhe trazer a segunda gema. Estava tão cega pelo ciúme que só conseguia pensar que Sirius estava interessado na corvinal.
- Como você conseguiu? – ela perguntou enquanto olhava para o pingente de vidro em forma de pássaro repleto de um gás azulado.
- Não sei... Acho que deve ter sido por causa das previsões... Eu nem teria reparado se Sophie não tivesse me chamado a atenção.
- Sophie viu isso? – Helen estava assustada.
- Ela acha que é um enfeite, fique tranqüila. Vou dizer que quebrou quando eu tirava para o banho. Acho melhor você guardar junto com o outro.
- Claro! – Helen estava bem mais maleável agora.
- Bem, era só isso o que eu tinha a dizer. Acho que agora você e o Black podem tentar se entender. Tchauzinho!
Carol Stuart saiu do banheiro deixando Helen ali, sozinha, a contemplar o vidrinho. Agora faltavam apenas Annie e Tiago. Ela ficou preocupada. Tinha melhorado muito em feitiços, mas continuava tendo problemas com a poção e Snape andava um bocado sem paciência nos últimos tempos. O monitor-chefe sempre fora duro no tratamento com ela, mas ultimamente ele vinha pegando pesado. Helen desconfiava que o fato de estar namorando Sirius fosse um dos agravantes da implicância de Snape com ela. Ela guardou o vidrinho num dos bolsos das vestes bem a tempo: Sirius entrava novamente no banheiro.
- Todo mundo deu para me procurar hoje, é? – ele comentou brava, sem olhar para ele.
- Na verdade eu estava atrás da Carol...
- Ah, então você admite? – ela se virou furiosa.
- Admito o quê? – ele não estava entendendo nada daquela conversa de doidos. – Eu tava procurando ela para dizer onde você estava... Ela parecia tão... ansiosa!
- Sei...
- Helen, eu te fiz alguma coisa? Por que se eu fiz eu não tô sabendo... Você tá estranha hoje!
- E isso importa para você? Aproveita, vai atrás dela. Ainda dá tempo de alcançá-la.
- Peraí, eu tô entendendo direito? Você tá com ciúmes da Carol?
- Eu? Ciúmes? Você se acha mesmo... – ela fez cara de incrédula.
- Você tá com ciúmes!!! Que bonitinho! – Sirius abriu um sorriso largo e começou a se aproximar da namorada.
- Não tô nada! – ela não queria admitir.
Então os dois ouviram um ruído vindo de um dos boxes, barulho de algo caindo no chão.
- Você não andou contando nenhum segredo para Stuart sem checar os boxes antes, né? – Sirius tinha um ar de preocupação.
- Eu olhei todos logo que entrei no banheiro... Deve ter sido a Murta que voltou para encher o saco... – ela disse com descaso, mas Sirius não se convenceu.
O rapaz tirou um pergaminho de dentro do bolso e murmurou algumas palavras com a varinha apontada para ele. Helen franzia a testa achando o comportamento do namorado estranhíssimo:
- Eu sabia! – Sirius disse bravo. Ele caminhou rápido até o boxe de onde saíra o ruído e deu um pontapé na porta lascada, abrindo-a de uma vez. Rita Skeeter estava de pé sobre o assento, com pena e pergaminho na mão.
- Ei, você não pode fazer isso! – foi a única coisa que a sonserina conseguiu dizer. – Esse é um banheiro de garotas!
- Eu não acredito! Como foi que você entrou aqui? – Helen estava pasma.
Rita Skeeter fingiu não escutar Helen e continuou a discutir com Sirius Black.
- O que você acha que o diretor vai dizer se souber que você anda visitando os banheiros femininos?
- Provavelmente que ele devia ter pensado nisso quando era um estudante. – Sirius respondeu irônico. – Agora eu estou imaginando o que é que ele vai dizer quando souber que a Srta. se esconde em banheiros para ouvir conversas particulares de suas colegas.
- Ora, eu tenho direito de usar esse banheiro como qualquer outra garota. – ela desafiou.
- Se manda! – Sirius estava perdendo a paciência.
- Você não pode me mandar embora de um banheiro público! Ainda mais quando quem está errado é você! Vou repetir outra vez: esse é o banheiro feminino!
- Muito bem. Se você não sai, nós saímos! – e ele começou a se retirar puxando a namorada pelo pulso, enquanto Helen soltava mais uma rajada de ódio pelo olhar direcionada a aspirante a jornalista.
Logo que saíram do banheiro, Helen se recompôs:
- Eu não vou com você a lugar nenhum! Só saí dali de dentro para não tomar outra suspensão...
- Ah, você vai, sim!
Rita Skeeter já tinha levado a paciência de Black ao limite do tolerável; ele não ia ficar ali tentando convencer Helen a andar com suas próprias pernas. Achou mais prático carregá-la. Não havia um aluno pelo qual passassem que não olhasse aquela cena com espanto. Sirius Black carregava a namorada sobre o ombro, como se ela fosse uma saca de cereais, com a diferença que sacas de cereais não gritavam e esperneavam tanto quanto ela. Mas o rapaz não se importava: ele tinha que ter uma conversa longa e séria com ela. E não era sobre ciúmes!
Eles já tinham percorrido boa parte do castelo quando Helen finalmente se cansou e se deixou levar pelo namorado sem resistência. Nenhum dos dois trocou uma palavra até chegarem ao seu destino: a Sala de Astronomia. Quando Sirius colocou a menina no chão a única coisa que ela conseguiu fazer foi fitar a sala detalhe por detalhe, segurando uma lágrima que insistia em querer sair. Helen ficou de costas para enxugá-la:
- Você tinha que me trazer justo aqui?
- Achei que você gostasse da Sala de Astronomia! – ele deu de ombros.
- É, eu gostava... – ela respondeu ríspida.
Sirius andou até a menina e a virou, segurando-a fortemente pelos braços para que ela não tentasse se esquivar:
- Eu achei que esse negócio de ter ciúmes da Carol era de brincadeira... Ciuminho bobo, que toda garota tem... Não pensei que fosse sério... – ele olhava dentro dos olhos escuros da menina.
Ela não suportou mais: as lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto e ela finalmente se agarrou ao pescoço do rapaz, implorando silenciosamente que ele a abraçasse. Sirius apenas deixou que o corpo da garota se colasse no seu e começou a afagar seus cabelos.
- Ah, Sirius, é tão difícil! Eu sei como ela é linda... Qualquer carinha desta escola daria tudo para ficar com a Carol uma vez na vida...
- Se essa era sua preocupação, então pode relaxar. Eu já fiz isso... – ele disse calmamente.
A menina afastou o rosto do peito do rapaz e o encarou com os olhos arregalados. Ele se corrigiu rápido:
- Já fiz isso... Há uns três ou quatro anos atrás! Além do mais, por que é que eu me interessaria pela Carol se eu tenho a boquinha mais bem desenhada de toda Hogwarts a minha disposição? – ele declarou afetuosamente.
Helen ruboresceu um pouco. Ela não era uma garota bonita, mas também não era feia. Tinha olhos expressivos, mas a franja se encarregava de escondê-los. Era magra e baixinha, dando a impressão de fragilidade. Na verdade, ela era uma garota comum, sem grandes atrativos, com exceção da boca. Como Sirius dissera, a boca de Helen parecia ter sido desenhada, tal a simetria e harmonia dos lábios quase vermelhos. O rapaz fitou-os insistentemente antes de tocá-los com o dedo indicador e, então, as lágrimas cessaram. Dos lábios, os dedos de Sirius foram pousar no queixo da garota, fazendo uma leve pressão para que Helen inclinasse o rosto. Os olhos dos dois voltaram a se encontrar e se mantiveram abertos até as bocas se encostarem timidamente. Não foi um beijo longo, mas suficiente para a ela pensar no quanto estava sendo boba e infantil. Um arrepio lhe percorreu a espinha ao sentir a respiração quente de Sirius em seu ouvido: "Se você precisa de uma prova do meu amor, é só pedir. Eu faria qualquer coisa por você...", e ele começou a mordiscar a orelha da menina de leve.
- Eu não preciso de prova alguma... – ela disse se esquivando; Sirius já não a estava segurando. - É, que, bem, eu sei que estou sendo boba... Mas não consigo controlar... Vocês têm passado muito tempo juntos e, bem, eu no lugar dela...
- Posso garantir que a Carol não sente absolutamente nada por mim. Ela continua apaixonada pelo Turlington, só largou dele por causa...
Ele ia falar que a menina terminara com o namorado porque ela não podia explicar o que estava tomando tanto tempo dela: justamente o Feitiço das Casas.
- ... por causa dos exames dos Níveis Incrivelmente Exaustivos em Magia. Carol tem estudado muito e está sem tempo para namorar.
- Ah, sei. Lógico! – Helen deduziu que o problema de tempo de Carol estava na tentativa de provar que era uma verdadeira corvinal. E como ela finalmente conseguira preencher sua gema...
Essa conversa lembrou Sirius da sua verdadeira motivação para trazer a menina até aquela sala:
- Vocês duas não falaram nada demais lá no banheiro, né?
- Como assim? – Helen franziu a testa, intrigada.
- Quero dizer, vocês não estavam falando sobre nada secreto, estavam? – ele estava preocupado com a possibilidade de Rita Skeeter ter ouvido alguma coisa sobre o Feitiço das Casas.
- E que segredo eu poderia ter com a Carol? – ela se fez de desentendida. – Aliás, que foi aquilo que você fez antes de achar a Skeeter? Aquele pergaminho... – ela queria mudar de assunto e aproveitar para saciar sua curiosidade.
- Aquilo? Nada. É tique nervoso... Tenho mania de apontar a varinha para um pedaço de pergaminho e dizer umas palavras sem nexo quando estou raciocinando... – aquela fora a desculpa mais esfarrapada que Black já inventara, e não colou.
- Não minta pra mim, Sirius. Você falou em prova de amor... Pois você poderia conseguir a lua para mim, que eu não te perdoaria se descobrisse que você está mentindo! – ela se exaltou.
- Você fala de mim... E você, não está mentindo? – ele começou a ficar com raiva.
- Eu? Claro que não? Mentindo sobre o quê?
- A conversa entre você e a Carol! Espero que você não tenha sido estúpida o suficiente para dizer algo comprometedor ou eu não quero nem pensar no que vai sair no próximo jornalzinho da Skeeter!
- Mas é lógico que eu não disse nada! Você não estava ouvindo atrás da porta, estava?
- Se eu estivesse eu saberia sobre o que vocês estavam conversando! – Sirius respondeu irritado com o tom de voz que a menina estava usando para falar com ele.
- Então porque é que você tá insistindo tanto que nós duas temos um segredo?
- Porque... porque... – pela primeira vez na vida Sirius não conseguia pensar numa saída.
- Você sabe! – Helen olhou incrédula para o namorado. – Tiago te contou, não é? Bem que Severo falou...
- Ei, Tiago não me contou nada! Muito me admira a senhorita concordar com as idéias do Seboso Snape depois de tudo que Tiago tem feito por você...
- Se não foi o Tiago, então como foi que você descobriu? – ela estava mais nervosa do que quando imaginou que Sirius e Carol estavam tendo alguma coisa.
- É essa prova que você quer? Pois muito bem, eu disse que faria qualquer coisa por você e vou fazer. Vou revelar todos os meus segredos, só espero que você seja digna dessa confiança. – ele disse encarando a garota. – Tiago Potter nunca diria nada para mim ou para qualquer um de seus amigos. Você devia saber disso, afinal, ele só não voltou ainda com a Lílian porque não pode contar o segredinho de vocês para ela...
- Se não foi o Tiago, então quem foi? A Carol?
- Não diga besteiras, Helen! A Carol não faz a menor idéia de que eu sei sobre o Feitiço das Casas!
Ela engoliu em seco aquelas palavras. Sirius Black finalmente confirmara que sabia sobre aquele segredo.
- Eu sei de tudo porque eu estava lá naquela noite...
- Isso é impossível! Tenho certeza de que você não estava...
- A mesma certeza que você demonstrou hoje sobre não haver ninguém no banheiro... – ele descontou.
- Lá não havia um boxe para você se esconder... – ela replicou.
Sirius olhou para a garota chateado. Será que Helen não podia ser maleável nunca? Ainda assim ele estava decidido: naquela noite (porque as horas correram naquela tarde de domingo) ela saberia de todos os seus segredos.
- Eu estava lá! – ele repetiu e respirou fundo.
Então, Sirius fechou os olhos e, para o espanto de Helen, começou a diminuir de tamanho. Em poucos segundos, havia um cachorro negro sentado em frente a menina, com o mesmo olhar desapontado que Sirius demonstrava há pouco. Um cachorro que ela reconheceu de imediato:
- Almofadinhas!
Helen se ajoelhou e começou a passar a mão pelo pêlo brilhante do animal. "Era você...", ela balbuciou. O cachorro balançou a cabeça num movimento afirmativo e voltou a se transformar em humano.
- Eu estava preocupado com a sua demora... Entrei escondido... Tiago me reconheceu, mas, como é um bom amigo, não me dedurou.
- Por que você não me disse antes? – ela estava arrependida pela forma como tratara o namorado há pouco.
- Porque teria que contar que era um animago clandestino... – ele sorriu triste.
- Sabe, cachorros sempre foram meus animais preferidos...
- Eu pensei que fossem gatos...
- E eram... Até 20 segundos atrás. – ela piscou e sorriu para ele, selando o acordo de paz entre os dois.
- Helen, o pergaminho a que você se referiu...
- Esqueça! Você já me contou o suficiente por uma noite. Se você me contar todos os seus segredos vai acabar com o mistério que te torna ainda mais interessante.
Ele sorriu de volta para a garota, um sorriso malicioso...
- Deixa eu te mostrar o que é interessante de verdade! – e Sirius puxou Helen para seu colo, beijando-a furiosamente.
- Você vai visitar sua tia de novo, Remo?
Margot não estava acreditando que o namorado iria fazer mais uma daquelas viagens misteriosas. Ele preferiu mudar de desculpa depois do que Lílian contara sobre sua namorada querer entrar de qualquer modo na enfermaria. Mas já era a segunda vez que falava que ia visitar uma tia doente:
- E o que eu posso fazer? Mamãe tem certeza de que ela está nas últimas! Pode morrer a qualquer instante! – ele tentou ser dramático.
- Você já se despediu dela mês passado, Remo Lupin! E eu sou o menor dos seus problemas... Quero ver você convencer Dumbledore a te deixar viajar outra vez... – ela disse amarrando a cara.
- Por favor, Margot... A uma hora dessas meus pais já devem ter contatado Dumbledore. Você não vai criar caso com uma moribunda, vai? – ele deu um sorriso terno para a garota que não resistiu:
- Pare de fazer essa cara. Assim eu não consigo ficar brava!
- É justamente onde eu quero chegar.
O rapaz enlaçou a menina pela cintura e deu-lhe um beijo suave, fazendo-a esquecer que em menos de uma semana o namorado iria sumir outra vez. O casal de namorados trocava carinhos a menos de dez passos da entrada da Lufa-lufa. Margot tinha vindo buscar um livro que esquecera de colocar na mochila. Ela deu um último beijo rápido em Remo e disse a senha para entrar na casa:
- Já volto! Não saia daí! – ela deu uma piscadela para o namorado e sumiu pela passagem que se abriu atrás de um quadro.
Lupin estava tomando cuidado redobrado para não deixar a garota desconfiar dos verdadeiros motivos de sua ausência; queria adiar a verdade pelo máximo de tempo possível... Quem sabe depois da formatura? Assim, se Margot resolvesse terminar com ele, não precisaria encontrá-la todos os dias. Ele pensou que talvez Sirius pudesse ajudá-lo a inventar novas desculpas, não havia ninguém mais eficiente que ele nesse tipo de coisa. Todavia, o barulho do quadro se movendo outra vez despertou-o dos devaneios:
- Que rápido! Eu até...
Mas não foi Margot Stuart quem saiu pela passagem. Lupin demorou um pouco para reconhecer Annie Preston, tal seu abatimento e desleixo. A monitora-chefe não era nem sombra do que costumava ser. O sorriso costumeiro já não fazia parte de seu semblante e Remo poderia dizer que ela estava num estado pior do que ele em semana de lua cheia. Além disso, ela carregava um grande número de livros nas mãos e dentro da mochila e o peso fazia com que andasse toda desconjuntada. Ela devia ter emagrecido pelo menos uns 10 quilos desde o dia do baile. Aliás, ninguém diria que aquela era a mesma Annie Preston que deslizara pelo Salão Principal com o namorado pouco mais de três meses atrás.
- Preston, quer ajuda? – Remo se ofereceu, compadecido.
No que ela virou o rosto para o lugar de onde aquela voz vinha, uma zonzeira invadiu sua cabeça. Annie não sentiu mais os próprios pés e o peso do corpo era grande demais para que ela se mantivesse ereta. Desmaiou.
- O que houve com ela? – Margot saiu de detrás do retrato e se deparou com a figura pálida da monitora-chefe estendida no chão, com Remo a dar-lhe tapinhas no rosto, tentando acordá-la.
- Ela desmaiou. Temos que levá-la para a enfermaria. – ele olhou para a namorada que deu um breve aceno de cabeça, concordando. – Recolha os materiais dela, Margot.
A menina obedeceu, enquanto Remo virava a monitora-chefe para uma posição em que pudesse pegá-la com jeito. Foi assim que o cordão com um pingente amarelo em forma de texugo escorregou de dentro da blusa da menina. Ao bater os olhos naquele vidrinho colorido Remo ficou sem reação; lembrou-se imediatamente das palavras da irmã de Margot quatro dias antes. "Foi presente... do Eddie!"
- Tudo bem, Remo? – Margot juntara todos os livros em duas pilhas ao lado da garota. – Acho que não dá para levar isso tudo para enfermaria, não. É melhor guardar no salão comunal...
- Faça isso. Eu vou levando ela, está bem? – e Remo levantou Annie do chão, tomando o cuidado de esconder o pingente antes que a namorada o visse. Queria ter uma conversa com Carol antes de tomar conclusões precipitadas.
- Te encontro lá daqui a pouco! – e os dois saíram andando em direções opostas, o rapaz carregando Annie Preston e a menina com a primeira pilha de livros...
- Ela já está acordando.
Annie despertou, os olhos picando muito incomodados pela luz que entrava na enfermaria. Ainda assim conseguiu distinguir três sombras logo a sua frente.
- Onde eu estou? – ela se esticou sem tentar se levantar.
- Na enfermaria, querida! – ela reconheceu a voz suave porém firme da Professora Figg.
- Vou deixar vocês a sós! Tenho outros doentes para cuidar. – Madame Pomfrey se retirou.
- Como eu vim parar aqui? - Annie se recostou na cabeceira da cama finalmente enxergando Helen e a professora perfeitamente.
- Você passou mal, mocinha. Remo Lupin trouxe você para cá depois de um desmaio.
- Lupin? Eu não vejo Lupin há um tempão... – ela forçou a memória.
- Você não vê ninguém há um tempão... Só fica em cima daqueles livros! – Helen disse preocupada.
Isso pareceu lembrar a menina de algo importantíssimo:
- O livro! Onde vocês colocaram o livro? – ela falou nervosa, tentando levantar da cama.
- Nananina, mocinha! Você vai ficar deitadinha aí. Ainda não recebeu alta. – a professora a deteve.
- Vocês não entendem... Eu achei...
- Annie, você precisa descansar! – Helen deu a bronca. – O Leighton me contou que você não faz mais nada além de ler. Disse que nem tem prestado atenção às aulas, que não come, raramente dorme... Não foi à toa que você teve um treco.
- Helen, eu achei um meio de recuperar o Cameron! – Annie falou com felicidade e desespero misturados na voz.
Arabella Figg e a sobrinha olhavam atônitas para a monitora-chefe. Aquilo não era possível. Todos sabiam que não existia um meio de reverter as maldições imperdoáveis.
- Você deve ter sonhado isso, querida!
- Ela não sonhou, não, tia Arabella. – Helen tinha os olhos parados no colo da cunhada; o pingente estava completo. Então a menina se entusiasmou: - Que livro é esse? Eu vou procurá-lo agora mesmo... Se isso pode ajudar meu irmão...
- Mas tem um porém... – Annie disse triste para as visitas.
- Qual, querida? – Arabella ouvia apreensiva.
- O feitiço precisa ser desfeito pela mesma varinha que o realizou... – a menina disse com amargura. – Eu estava saindo para procurar um feitiço de identificação de varinhas, depois não lembro de mais nada.
- Hmmm... isso existe, - Arabela pensou em todos os encantamentos que conhecia - mas nós precisamos das varinhas suspeitas. E, bem, se a varinha que executou o feitiço em Cameron for a de Voldemort, vai ser muito difícil consegui-la.
- Não, tia, não vai ser. – Helen falava no tom de voz mais baixo que sua euforia permitia. – Agora só está faltando a gema de Tiago. Quando o feitiço das Casas estiver completo, eles derrotarão Voldemort e poderemos salvar Cameron.
Annie sorriu para a cunhada; ela pensava da mesma forma. Mas Arabella Figg tinha os pés no chão:
- Helen, tudo isso parece muito fácil à primeira vista. Mas mesmo com o feitiço, será difícil derrotar Voldemort. Além disso, você por um acaso já consegue preparar a poção?
- Hmmm... é... bem... – Helen soltou um suspiro de impotência. – Não...
- Tiago me contou que você está bem na execução dos feitiços. Vou pedir a ele para começar a lhe ajudar em Poções no lugar do Snape. Até porque o garoto anda muito sobrecarregado ultimamente...
- Severo está sobrecarregado? – Helen estranhou. – Mas ele não está fazendo nada além do que já fazia...
- Vou falar com Tiago. – Arabella Figg ignorou a sobrinha. - E Annie, querida, não se preocupe! Testaremos a varinha de cada comensal até achar aquela que desgraçou Cameron. Agora trate de descansar. Depois Helen vai atrás do livro que tem o feitiço de que você falou!
Já devia ser a vigésima vez que Remo lia as mesmas páginas naquele dia. E agora ele tinha certeza absoluta: Carol Stuart e Annie Preston tinham executado o feitiço das Casas. Só que ainda faltavam os representantes da Sonserina e da Grifinória, e o rapaz estava realmente aborrecido com a possibilidade de um de seus colegas terem assumido esse compromisso sem contar nada aos outros. Ele imaginava que, uma vez que compartilhara seu segredo mais importante com os três, eles também fariam a mesma coisa. Não era uma questão de curiosidade, mas de confiança. Remo interpretou aquele silêncio como falta de confiança dos amigos em sua pessoa. Por isso, não conseguiu desamarrar a cara quando Sirius e Tiago entraram no dormitório rindo de algo que acontecera com Filch no corredor.
- Remo, você perdeu a piada do ano! Aliás, você não vai jantar, não? Tá enfiado nesse quarto desde que saímos da aula de Transfiguração... – Tiago perguntou
Remo não respondeu, continuou fitando o guarda-roupa, com cara de poucos-amigos.
- A porta tá quebrada? – Sirius perguntou.
O despropósito da pergunta fez Remo esquecer que não queria falar com eles:
- Quê?
- A porta do armário... Você tá olhando fixamente para ela. – Sirius explicou.
- Bah! – Remo andou até uma das janelas, irritado.
- Você contou para Margot? – Tiago imaginou que o mau-humor do amigo era por causa da namorada.
- Não... – ele respondeu friamente.
- Então é por que amanhã é lua cheia? – Black deduziu.
Remo encarou os dois antes de responder com amargura:
- Acho que eu posso ter meus motivos para agir como quiser sem ter que contar nada para vocês, não é?
Tiago e Sirius franziram a testa, intrigados com o comportamento de Remo. Deixá-lo nervoso era algo que normalmente só o Seboso Snape conseguia fazer. Lupin podia ser triste e até um pouco melancólico às vezes, mas nunca bravo como estava agora. Os dois resolveram não falar mais nada. Enquanto trocavam os uniformes por vestes comuns, Sirius reparou no livro aberto sobre a cama de Remo.
- O que é isso que você tá lendo? – ele puxou o livro para si. – Você e a Lílian ainda não desistiram dessa história de Espírito de Hogwarts? É por causa disso que você tá aborrecido, né? Mas pensa direito, Remo, onde é que a gente ia arranjar esse tal elemento neutro?
- Você tem certeza que não sabe, Black? – aquela era a primeira vez em anos que Lupin chamava o amigo pelo sobrenome.
Sirius engoliu seco. Será que Remo tinha descoberto sobre Helen? Remo continuou:
- Sabe, algo me diz que vocês sabem mais do que querem dizer... - e então Lupin notou o cordão com o pingente de vidro no pescoço de Tiago, que estava sem camisa. – Não é mesmo, Potter?
Só então Tiago se deu conta da besteira que fizera. Ele olhou rápido para Sirius, sem saber o que fazer.
- Bom, acho que agora só tem uma saída, Tiaguito... Contar!
O rapaz não sabia se ria, chorava ou ficava bravo. Dumbledore lhe pedira segredo, mas naquela mesma noite Sirius ficara sabendo de tudo. Agora era a vez de Remo. Tiago pensou que não ficaria surpreso se Pedrinho viesse lhe dizer que descobrira sobre o encantamento.
- Acho que eu andei subestimando vocês.... – ele olhou para os amigos e deu um suspiro. – Posso saber como você descobriu?
- Não enquanto não me disser porque estava escondendo isso de mim. Achei que não tínhamos segredos uns para os outros. – Remo ainda tinha amargura na voz.
- Foi um pedido de Dumbledore, Remo. Eu descobri por acaso, na noite de Ano Novo.
- O entrão aí ouviu a conversa toda transformado em cachorro. – Tiago olhou para Sirius sorrindo e ao mesmo tempo desaprovando a imprudência do amigo. – E, bem, você e a Lílian já conhecem os procedimentos todos para se executar o feitiço... Quatro alunos, um de casa casa...
- Você, Carol, Annie e... Quem é o representante da Sonserina? Avery? Snape?
- Como você sabe das duas? – Sirius estranhou.
Remo começou a explicar:
- Primeiro foi o pingente da Carol e aquela estória toda que vocês inventaram que não me convenceu muito. E hoje à tarde, quando eu estava socorrendo a Annie, vi o pingente amarelo saindo da blusa dela...
- A gema dela está preenchida? – Tiago estava surpreso.
Remo confirmou:
- Bem, depois que vi o tal pingente da Annie eu já estava convencido de que havia alguma coisa errada, e sei lá porque fui mexer nesse livro. Só então eu prestei atenção na parte em que cada representante recebia um cordão com o símbolo de sua casa. Daí para imaginar que um de vocês dois seria o representante da Grifinória não foi muito difícil. O Pedrinho não participaria de um negócio desses nem sob tortura... – agora ele estava um pouco mais calmo. – Você ainda não conseguiu preencher o a sua gema, não é? – Lupin apontou para o vidrinho pendurado no pescoço do Tiago.
Tiago só balançou a cabeça negando.
- Você tem idéia de como vai fazer isso, Tiaguito? – Sirius perguntou.
- Se eu soubesse eu já tava com essa porcaria cheia... – ele pegou o pingente na mão, meio bravo consigo mesmo.
- Ora, coragem é a principal característica dos grifinórios. Talvez você tenha que salvar a Lílian do Seboso Snape da próxima vez que ele quiser beijá-la! – Remo disse rindo e totalmente descontraído.
- Nem me lembra disso!
- Não, Remo, segundo a Helen, a principal característica dos grifinórios é a teimosia! Talvez o Tiago só precise tentar deixar o cabelo assentado para realizar a tal tarefa!
- Dã! – Tiago arremessou a primeira almofada que viu na frente em Sirius.
- Ei, vocês não vão me contar quem é o representante da Sonserina? - Remo insistiu.
- Seboso Snape! – Sirius respondeu fazendo careta. E então um ponto de interrogação se formou na testa do rapaz: - Você não vai querer saber quem é o elemento neutro, Remo?
- Ah, esse é o mais fácil! Dumbledore!
Sirius olhou para Tiago antes de confirmar:
- É, é o Dumbledore... Acho que finalmente acabaram-se os segredos, certo?
- Lógico que não. Eu ainda não falei nada para Margot... – Remo lembrou.
- Não falou porque não quis... Não tem nada te impedindo de contar... – e então Tiago acabou de se trocar e se pôs a pensar um pouco. - Ah, eu também vou chutar o pau da barraca! A autora já deixou o Sirius contar para Helen que ele era um animago, deixou você descobrir sobre o Feitiço... Então eu tenho o direito de contar para Lílian e voltar a ter uma namorada, ué! – Tiago se revoltou.
- Ela disse que eu saber tem influência direta no curso da história. A Lílian, não! – Remo foi sensato como sempre.
- Dane-se! Vou contar de qualquer jeito... Eu e ela estamos ensaiando essa volta já faz uns cinco capítulos! A autora não demora desse jeito pra resolver as brigas do Sirius com a Helen!
- Fazer o quê... Eu devo ser a personagem preferida dela! – modéstia nunca foi uma qualidade de Black.
Tiago fez uma careta para Sirius e se jogou na cama. Ele ia contar para Lílian sim, mas não nesse capítulo. E enquanto os três iniciavam uma guerra de travesseiros, um certo ratinho branco saía sorrateiramente pela porta entreaberta...
