Cena V : A Lenda Renasce : As Guerreiras Mágicas de Rayearth

Levemente baseado em "Cavalo de Fogo"

Rayearth 3 – The Movie

by Lexas

Joaotjr@hotmail.com

*Nota do Autor : Esse fanfic é baseado na série de OAV de Guerreiras Mágicas de Rayearth, o qual é conhecido como Rayearth, mas muitos o apelidaram de Rayearth 3 . Podem haver partes aqui que estraguem sua surpresa, portanto pense bem antes de ler, pois eu não o avisarei mais . Sem querer fazer propaganda, mas já fazendo, se por acaso você se interessar, você pode conseguir a série de vídeo legendada em português através do fansubber conhecido como Shin-Seiki (http://shinseiki.simplenet.com) São duas fitas, e eles cobram um preço em torno de sete a nove reais por fita de excelente qualidade, demorando cerca de quinze a vinte dias para entregar seu pedido em qualquer lugar do Brasil . Pois é, abra seu olho quando aquele "colega" tentar te "passar" alguma fita "amigavelmente" por quinze reais ... é chato um grupo ter todo o trabalho enquanto outros lucram. Desde já gostaria de me desculpar ao webmaster pela propaganda que acabei fazendo sem querer . Infelizmente, é o que costuma acontecer no Brasil : alguns tem boas idéias e se esforçam para as coisas darem certo, e muitos se aproveitam para lucrar com isso .

Mas, comentários a parte ... vamos ao que interessa !

Gostaria de dedicar esse capítulo ao Wlad (Miscelânea de Escritores), a Ana (Santuário de Fanfics) e ao Roberto (Fanfiction Brasil), os quais tem gentilmente hospedado esse fanfic .

Último detalhe ( e esse é muito importante para a compreensão de várias partes do fanfic) : A série de OAV Rayearth reconta a série original, trata-se de um recomeço, onde tudo apresentado anteriormente é desconsiderado para dar lugar a algo novo, portanto ....

Continuemos, então .

Luz ... camera ... ação !

A floresta do silêncio . Um dos lugares mais belos e enigmáticos de toda Cefiro . Isso por que era ao mesmo tempo o lugar mais seguro e perigoso que poderia existir . Lá, magia não funcionava, e qualquer um desavisado não duraria muito se não possuisse algum treinamento físico . Aquela enorme labirinto já foi palco de grandes acontecimentos, entre os quais quando duas crianças atravessaram-no, com um único objetivo : tornarem-se fortes . Uma façanha sem igual, difícil de acreditar, uma vez que crianças eram aperitivo para os primeiros perigos .

Entretanto, entre vários guerreiros experientes corre um boato de que há muito aquela floresta abriga um segredo, e muitos já ousaram adentrar em seus domínios só para descobri-lo, embora sequer soubessem qual era o segredo . Duas crianças haviam feito a mesma coisa e também não conheciam qual era o segredo, mas sabiam de uma coisa : se o descobrissem, ficariam muito fortes . Para ambos, nada importava . Tinham apenas um ao outro, uma vez que seus parentes haviam morrido em um massacre .

Mas aquelas crianças eram especiais . Não se tratava de um dom, de um poder oculto ou de qualquer outro tipo de vantagem : eles tinham um desejo insuperável de permitir que haja a vida . E foi isso que permitiu que eles sobrevivessem aos perigos da floresta do silêncio, mesmo com seu pouco treinamento em combate, e nenhum treinamento mágico .

Aquelas duas crianças, conhecidas também como "os gêmeos do Sol", descobriram o segredo, e se tornaram incrivelmente poderosos . Fato era que, durante os anos seguintes, suas habilidades superavam a de outros de maneira espantosa . Alguns diziam que era algum poder latente, mas o motivo era outro : a vontade de concluir sua meta .

- Senhor Kanon, o que é aquilo ?

- Eu não sei, mas é enorme demais para ser um pássaro ... pelo sangue de Oláf ! É um Imperador !

- O quê ? E aqui ? Mas isso não é possível ! Avise a todos ! Não podemos deixar aquela coisa se aproximar mais !

Kanon corria pelo castelo, dando o sinal ordenado . Disposto a resolver o problema, ou pelo menos tentar, o jovem guerreiro carrega seu arco, apontando para a criatura alada . Teria que ser perfeito, pois não teria outra chance . Aquilo não era um animal comum, e eles estavam em desvantagem por estarem na Floresta do Silêncio . Talvez, se permitisse que a criatura entrasse no castelo, teriam mais chance ...

A idéia sumiu tão logo que surgiu . Perderia todas as suas condecorações se algo desse tipo acontecesse . Ele mira bem no peito da criatura, preparando-se para disparar .... quando seus olhos lhe pregam uma peça . Estaria delirando, ou o monstro alado estava carregando alguma coisa ?

Mesmo assim, representava perigo, e não podia correr esse risco, tanto que sua flecha segue reta em direção ao peito do Imperador . Não era uma questão dele errar, mas a criatura, com sua velocidade e capacidade de manobrar, esquiva-se facilmente da flecha, mergulhando com tudo em sua direção . Rapidamente ele torna a carregar o arco, preparando um novo disparo . Mesmo sabendo que não daria tempo, iria fazer, pois preferia morrer do que envergonhar sua escola .

Como esperado, a ave o atinge antes dele poder reagir, mas o resultado é inesperado : ao invés dele ter o peito dilacerado pelo bico e garras da criatura, "apenas" é violentamente jogado contra a parede, tombando em seguida . Sua última reação, antes de perder os sentidos, era tentar se colocar de pé, para não ser devorado . Não foi necessário . A criatura voa do local o mais rápido possível e impossível para um ser com aquelas proporções, debaixo de uma chuva de flechas . Chega a ser atingido por algumas, mas continua voando, até desaparecer do raio de visão dos arqueiros .

- Você está bem, rapaz ?

- O que você acha ? Quase virei almoço de um Imperador ! Como é que o Rafaga conseguiu matar um bicho desses na unha ? E como você fez ele ir embora ?

Tive ajuda –ele apontava para todo o seu redor, dando a chance do jovem

guerreiro ver mais de vinte arqueiros, olhando-o com um olhar de surpresa e orgulho – Vamos, temos que cuidar de você . O bicho te pegou de jeito, deve ter quebrado algumas coste .. acho que ele deixou algo para nós.

- É, tem razão – dizia, enquanto observava um outro corpo caído perto deles . Ao contrário dos demais presentes ali, aparentava ser mais velho, e não usava vestes de guerreiro – esse sujeito nos deve a vida, pois se não fosse por nós, teria sido a ceia daquele pássaro superdesenvolvido .

* * * * * * * * * * * *

E lá estava ele, enfrentando aquele homem . Não, aquilo não era um homem, mas um monstro . Qualquer outro jamais teria um pingo de sua crueldade . Era alguém tão diferente, e ao mesmo tempo parecido com ele . Como Giorvel pôde fazer aquilo ? Nunca haviam sido colegas, tampouco amigos . Mas ele conhecia Giorvel, e o respeitava mais do que tudo . Então, como um homem de sua categoria poderia descer tanto ? Ele guardava em suas mais profundas lembranças a imagem de um homem robusto, um pouco mais alto que ele, cujo cabelo cinza refletia a luz do sol . Mas aquela imagem morreu, dando lugar a outra . O mesmo homem, com roupas muito similares as suas de sacerdote, só que numa cor vermelha com tons de preto . E sem cabelo . No lugar, uma mancha negra que cobria parte de sua cabeça e sua boca, formando uma espécie de mascará .

- Acorde, Cléf . Já dormiu o bastante .

Despertando forçadamente de seu mundo de pesadelos, Cléf se vê diante de um homem ... do qual não conseguia se lembrar, embora lhe fosse bastante estranho e familiar . . Ao seu ver, conhecia a maioria dos habitantes de Cefiro . Então, quem seria ele ?

- Meus ferimentos foram curados . Foi você ?

- Não, foi outro de meus amigos . Sente-se melhor ?

- Não totalmente . Você leva vantagem por conhecer meu nome . Quem és tu ?

- Meu nome é Tléb, da Espíritos de Aço .

- Espíritos ... ? Quer dizer, a escola de Rafaga ? Então, você é o líder dele ?

- Ele treinou durante a vida toda conosco, mas não sou o líder dele . Essa honra cabe a sua irmã gêmea, Priscila .

- Priscila ... por que está me contando isso, se sabe quem eu sou ? Nunca interroguei Rafaga a respeito de seus mestres, e não pretendo fazê-lo . No entanto, ouvi falar que o nome de seu líder é um segredo muito bem guardado, sendo assim, por que me contou ?

- Não deveria me olhar com esses olhos, Cléf . Sou a pessoa na qual você deveria depositar toda a sua confiança, mediante essa situação . És um sábio, e talvez seja capaz de entender o que pretendo lhe dizer .

- Não ... não sou um sábio . Não mereço esse titulo . Diga-me, Tléb ... de que adianta tamanho poder e sabedoria, se não posso utilizá-lo para proteger meu povo ? Não me refiro apenas a guerras e mortes, mas a educá-los . De que adianta ? Durante tanto tempo zelei por esse povo, mas de que isso adiantou ? Enquanto eu ficava em meu templo, rezando para garantir a paz do planeta, eu me esqueci de seus habitantes .

- Você se culpa por ter vivido centenas de anos e não ter compartilhado sua experiência de vida com seus semelhantes . Não me leve a mal, Cléf, mas eu não dou a mínima para sua crise existencial . A única coisa que me importa é Cefiro, e somente isso .

Tléb lhe dá as costas, enquanto Cléf se levanta por completo, aproveitando para observá-lo . Ainda não sabia de onde conhecia aquele homem, mas rapidamente percebeu que ele usava uma armadura igual a de Rafaga, embora se tratasse de um modelo mais antigo e com várias cortes e perfurações, provavelmente provenientes de batalhas . Possuía uma barba curta e olhos cinzas . Poderia ser um cidadão qualquer de Cefiro, mas algo instigava Cléf .

- Tléb, já nos encontramos antes, não é mesmo ?

Ele se vira, encarando-o . Finalmente, colocaria aquilo para fora .

- Você se lembra de mim, Cléf ?

- Sim . Não com perfeição, mas me lembro . Foi você ... quem me avisou sobre o mal que Giorvel estava causando, não é mesmo ?

- Eu era um de seus seguidores e o traí, Cléf . Ele estava matando nosso povo, simplesmente por nada ! Seus motivos ... não eram nada comparados com as vidas que eram perdidas ! Me uni a Oláf antes que fosse tarde demais, mas não adiantou de nada ! E por minha culpa, o velho guerreiro foi mutilado por aquela mulher ... aquela maldita mulher !

- Mas antes disso, você me avisou . E me deu tempo para fazer o que tinha que fazer .

- Cléf, como Giorvel escapou ? Não era para ele ter conseguido sair de lá !

- Antes de continuarmos com isso, quem mais sabe do que está acontecendo ?

- Atualmente, só três pessoas : eu, você e outra que está vindo .

- Atualmente ? O que quer dizer com isso ? Posso compreender que, como antigo seguidor de Giorvel, você se lembre perfeitamente de todos os seus atos, mas e os outros ?

- Os outros eram Rafaga e Priscila, Cléf . E, nesse exato momento, ambos estão mortos !

- Mortos ? Mortos ? – o espanto e terror era evidente na face daquele homem .

- Sim, Cléf , mortos . Você foi trazido até nós por um Imperador, e somente um mashin comanda essas ferozes criaturas aladas, lembra-se ? Você viveu muitos anos, deve ter ouvido falar de Falcon .

- Mesmo assim, o que Rafaga tinha a ver com isso ?

- Ele comandava o Falcon, ou não sabia ? E Priscila comandava o Blacksmith .

- Não é possível ! Falcon observa Cefiro desde tempos imemoriais ! Como Rafaga conseguiu controlá-lo ? E por que essa tal de Priscila comandava o ... o ... céus, não me diga que ela ...

- Ela tinha todo o potencial, mas também possui o sangue de Oláf em suas veias, assim como Rafaga, lembra-se ? E pelo visto, Rafaga nunca usou o Falcon diante dos seus olhos .

- Mesmo assim, por que se refere a eles como se já tivessem partido ? Não acredito que ...

- Cléf, abra os olhos para a verdade .Você conhecia Giorvel tão bem quanto eu . Talvez não tão rápido, talvez não tão devagar, mas a morte deles não é dúvida para ninguém . Um certo dia, vi duas crianças adentrarem nos perigos da Floresta do Silêncio, e observei a distância eles ultrapassarem tudo o que ela oferecia, apenas para atingirem esta escola . Aquilo era um sinal de Oláf para nossa recém-fundada escola . Boatos se espalhavam sobre um local em que seguidores de Oláf haviam se reunido para proteger Cefiro, mas poucos sobreviviam ao teste inicial, que era chegar até aqui . Além dos outros anciões, eu os supervisionei durante a vida inteira, pois sabia que, de uma maneira ou de outra, Giorvel voltaria . Minha surpresa diante do fato de Rafaga ter descido do Pico dos Imperadores vivo foi menor do que a dos outros anciões, pois eu já esperava por algo do tipo . Também já esperava que um dos dois se tornasse o líder . Um imperador o trouxe até aqui, Cléf . Eu os treinei, e sei que Rafaga só faria isso se não houvesse alternativa . Esse deve ter sido seu último pedido a Falcon antes de morrer, e ele o respeitou por isso .

Cléf estava pasmo com o que acabara de ouvir . Estivera desacordado durante bastante tempo, e sequer tinha noção do que ocorrera noite afora .

De igual forma, uma indignação enorme voltava a pulsar . Mais mortes . Quando aquilo iria parar ? Se ele tivesse ...

- Eles devem ter lutado bravamente, como Oláf ... o sangue de guerreiro não enfraqueceu nem um pouco, eu imagino . É realmente uma pena que dois guerreiros como eles tenham falhado .

- Eles não falharam, Cléf . Eles te salvaram, e isso foi o suficiente para eles . Quando chegou aqui, estava com um rombo enorme na barriga . Lembra-se de quem fez isso ?

- Não, não me lembro . Foi tão rápido, que só percebi a dor quando estava caído no chão .

- Você era o alvo . Você é a chave para a liberdade e confinamento de Giorvel, lembra-se ? Quando Rayearth o aprisionou naquela dimensão, utilizou você como chave, e não agrada a Giorvel a idéia de deixar você vivo, o que nos dá uma vantagem . Ele não pode nos atacar aqui, pois estaria indefeso neste lugar .

- A floresta do silencio ... óbvio demais . Que lugar melhor para escondê-los do olhar dos sacerdotes ? Mas espere um pouco, se você é um ex-seguidor de Giorvel, como consegue utilizar sua magia neste lugar ?

- Espere um pouco . Agora, temos algo a fazer . Primeiro, aguardemos pela chegada de mais uma pessoa, a qual ambos devemos muitas explicações ...

* * * * * * * * * * * *

Enquanto isso, duas figuras distintas se aproximavam da Floresta do Silêncio . Uma delas não estava no seu melhor dia, demonstrando um enorme mal humor .

- Então, é aqui que fica a Espíritos de Aço, elfo ? Justamente aqui ?

- Por que a surpresa ? Não conhecia esse lugar ?

- Ele nunca me contou aonde ficava sua base, elfo . É um segredo para todos, e não podia contar nem para sua própria esposa, se quer saber . E eu não o pressionei . Mas me impressiona saber que fica aqui . Como conseguem realizar qualquer tipo de magia neste lugar ?

- Isso – o homem vira-se para ela, encarando-a bem nos olhos . Seu rosto, assim como as partes de seu corpo que não estavam cobertos, eram brancos, mas muito brancos . Possuía uma pequena safira na testa, a qual dava a impressão de ter estado ali por muito tempo, embora brilhasse como se fosse nova . E mais um detalhe : suas orelhas . Grandes e pontiagudas – é o que você descobrirá se sobreviver, ilusionista .

O homem albino salta para cima de uma arvore, e continua seu trajeto, saltando de galho em galho . Considerando a hipótese de ficar para trás como uma péssima idéia, A mulher faz o mesmo, saltando atrás dele .

- Elfo, me espera ! Eu não conheço o caminho !

Ela vestia uma capa, a qual era responsável por cobrir a maior parte de seu corpo, que resumia-se a pequenas peças que cobriam apenas suas partes que não podiam ficar expostas . Carregava um bastão em uma das mãos, o qual utilizava vez ou outra para se equilibrar quando tocava em uma das arvores .

Uma breve surpresa, seguida de um susto : ao tocar em um dos galhos, o mesmo quebra, derrubando-a . Ela arremessa o bastão em uma arvore, o qual fica preso, e usa-o como apoio para girar o corpo e lançar-se em outro galho, levando o bastão junto . Conseguindo, ela para um pouco para respirar . Havia sido por pouco . Mas onde estava o elfo ?

- Nada mal . Nada mal, mesmo . Você possui bastante agilidade, Caldina . Mas tem que tomar mais cuidado, se espera sobreviver aqui .

- Isso foi apenas um treino . Espere só até eu me acostumar .

O homem continua saltando, e Caldina o segue . Passam-se longos minutos até que, impaciente, ela dá um grito .

- Eí, elfo ! Falta muito para chegarmos ?

- Não .

- Mas afinal de contas, como consegue se guiar nesse lugar ? Pensei ter ouvido que ninguém era capaz de sair vivo daqui !

- É, você tem razão .

Silencio . Ambos continuam seguindo, até que ele desce até o chão, ato esse imitado por Caldina .

- Muito bem, espertinho ... como saímos daqui ?

- Não saímos .

Ela teria ficado surpresa com aquilo, se uma maior não tivesse acontecido . Estavam lá, cercando-os . Eram oito . Ferozes e letais . Criaturas da Floresta do Silêncio .

Muitas criaturas de Cefiro possuíam alguma habilidade mágica como se fosse uma habilidade natural . Não era o caso daquele lugar . Por algum motivo desconhecido, a magia de Cefiro não agia naquela floresta . Tampouco qualquer habilidade mágica especial . Sendo assim, aquelas criaturas acabaram por desenvolver outras habilidades que compensassem o que não tinham . O resultado quase sempre era o aumento de tamanho/agilidade/velocidade, devido ao local em que habitavam, mas as vezes alguns demonstravam habilidades novas, como um pássaro de dez metros com três olhos .

Felizmente, não era isso que assustava Caldina .De certa forma, eram pássaros, mas totalmente diferentes . Eram corvos . Os Corvos do Pesadelo . Aquelas criaturas, as quais algumas já haviam se aventurado para fora da Floresta, eram motivo de pesadelos para aldeias inteiras . A primeira vista, pareciam corvos comuns, se não fosse um detalhe : não possuíam olhos . Mas isso não os atrapalhava, uma vez que pareciam saber o que estava acontecendo ao redor . Um dos poucos sobreviventes de uma aldeia atacada teorizou que eles possuíam uma audição muitíssimo apurada, o que talvez explicasse por que magias sonoras pareciam ter um efeito mais devastador sobre eles . Infelizmente, era apenas uma teoria, a qual não foi colocada em prática muitas vezes . E Caldina não queria por em prática nesse exato momento .

- Não se mexa . Fique quieta .

O homem colocou a mão sobre o ombro de Caldina, pedindo total inércia . O impossível aconteceu : as criaturas foram embora .

- Incrível . Como fez isso, elfo ? Alguma magia ? Se foi, como conseguiu usá-la neste local ?

- Não foi uma magia ... apenas uma técnica avançada da Espíritos de Aço . E pare de me chamar de Elfo, pois eu tenho nome, entendeu ?

- Oh, me desculpe se eu me refiro a você pela sua raça, elfo . Mas você foi até a minha casa apresentando o brasão da escola de meu marido, e sequer me disse seu nome . A quem devo a honra ?

- Inóv ...

* * * * * * * * * * * *

- Pois bem, é muito simples : você trás Rayearth até aqui, e destruímos Giorvel desta vez .

Cléf estava fazendo-se valer de uma técnica que desenvolvera há muitos anos atrás : consistia em inibir seus pensamentos e sentimentos . Dessa forma, ninguém poderia perceber a dor enorme que sentia . Seu maior desejo era cair no chão, em prantos . Queria se jogar e ser consumido pelas lágrimas, mas não podia . Embora nem ele nem Tléb gostassem de trabalhar juntos, ainda mais em uma situação como essa, Cléf sabia que muitos dependiam dele . Tudo por que ele era o responsável pela saída de Giorvel, o único culpado . Se ele tivesse sido forte, se não tivesse se entregado as suas dores, nada disso teria acontecido . Agora era tarde, e nada iria mudar, tampouco Rafaga voltaria . Sua tristeza interior aumentava mais e mais ao pensar que ele é que teria que dar essa má noticia para Fério e Caldina ...

- Se é para ser assim, então façamos logo . Mas eu não entendo como conseguirei contactar Rayearth daqui . Seria melhor se saíssemos dessa floresta e ...

- Se você sair, morre . Acha mesmo que ele não está à espreita ? Será que você ainda não entendeu a gravidade da situação, Cléf ? Por acaso se esqueceu do numero incontável de vilas destruídas por uma única pessoa ? Acha mesmo que ele não retornou a praticar antigos hábitos ... nesse instante ? Há cada minuto que hesitamos, centenas de vidas são ceifadas . Se tem algo te afligindo, esqueça . Está triste por ele ter escapado ? Esqueça, isso não contribui em nada . Se isso te aflige tanto, a ponto de não agüentar mais continuar vivendo, eu posso providenciar uma morte limpa, rápida e sem dor ... depois . Salvemos nosso povo ... e depois decidimos o que faremos, ficou claro ? Espero que sim . Você foi até Rayearth há algum tempo atrás, acredito que consiga trazer alguém de lá, não é mesmo ?

- Sim, isso é possível, mas é muito arriscado e perigoso . E a pessoa tem que querer vir até aqui, não posso traze-la a força . Mas eu ainda não entendo como minha magia pode funcionar aqui, ou há algum fato do qual eu não estou informado ? E por que você é o único ancião presente ?

- Os demais anciões, bem como quase todos os nossos guerreiros estão gravemente abalados pelo incidente da noite anterior . A simples presença de Giorvel nesta dimensão desenterrou um terror irracional na mente deles, o qual eles fracassaram em resistir . Alguns acordaram recentemente, tentando entender o que houve . E sua magia funcionará, eu lhe garanto .

- E eu imagino que você não me contará como minha magia funcionará aqui, não é mesmo ? Que seja, Tléb .

Cléf se senta cruzando as pernas, fechando os olhos e respirando lentamente .

- ... vejamos se eu entendi, elfo . Quer dizer então que vocês desenvolveram uma técnica em que entram em contato com a natureza ? Foi por isso que os corvos não nos incomodaram ?

- Exatamente .

- Muito interessante . Funciona em qualquer lugar ?

- Não exatamente . Os rigores da Floresta do Silêncio nos permitiram desenvolver essa técnica . Na verdade, o próprio convívio neste lugar nos torna parte dele . Mas às vezes funciona contra animais selvagens e perigosos fora daqui .

- Fascinante . Meu marido pode me ensinar isso, ou é um segredo ?

- Ele pode ... se você tiver no mínimo dez anos de tempo livre para aprender .

- Como é ? É muito tempo !

- A maneira mais fácil é você instalar seu domicilio na Floresta do Silêncio e aprender com a natureza, claro ...

- Caldina ?

- Eu o conheço ?

- Talvez . Eu falei com você em seu casamento, lembra-se ? Se não me falha a memória, você enganou alguns dos guerreiros com seus truques quando estava bêbada .

- Eu ... – ela estava bastante envergonhada com a revelação, uma vez que nem mesmo seu marido havia lhe contado . –Cléf ? Mas o que o senhor faz aqui ?!?!?!?!?

Cléf interrompe sua concentração, mais surpreso do que irritado . Não, ela não .

Ainda de costas para ela, Cléf olhava profundamente nos olhos de Tléb, e o mesmo retornava o olhar .

- Bom dia, Caldina – respondia, levantando-se e virando-se para ela – Como tem passado ? E quem é esse ?

- Vou indo . Este é Inóv .

(Cléf) – Um elfo ? Pensei que eles ...

(Inóv) – Desapareceram ? Não, Giorvel não conseguiu matar todos . Alguns sobreviveram, como pode ver, senhor Cléf . Fui salvo do extermínio pelo meu mestre, Tléb, e por isso sou muito grato .

(Tléb) – Mais um dos atos de Giorvel, Cléf . Não temos muito tempo .

(Caldina) – Giorvel ? Esse nome não me é estranho ... onde está Rafaga ?

- Tléb, por que ela está aqui ?

- Ela é a esposa de Rafaga . Não podia deixar que ela corresse perigo .

- O que vocês querem dizer com isso ? Onde ele está ? Ele está bem ?

- Mesmo assim, ela pode perder o bebê quando souber .

- Eu não sabia de sua gravidez, e a traria mesmo se soubesse .

- Vocês estão me assustando ! O que foi que houve com ele ? – e ela agarrava Cléf pelos ombros, sacudindo-o – Onde ele está ? Cléf, cadê o meu marido ? Cadê ?

- Eu sinto muito, Caldina . – dizia, enquanto abaixava a cabeça .

- Não . Isso ... i-isso não é possível . Ele está bem, eu sei que está ! Ele não pode ter morrido ! N-nosso filho não pode nascer sem pai ! NÃO !!! Bleargh !!!

Ela cai de joelhos no chão, vomitando. Em seguida, uma dor enorme tomou conta de sua barriga .

- Arghh !!! Meu ... meu filho ... ele ... não pode ...

Inóv a ampara, impedindo que desse de cabeça no chão . Podia ver lágrimas escorrendo de seus olhos, verdadeiros cristais de diamante .

- Não pode ... não pode ...

São suas últimas palavras antes de desabar em um mar de choro . Ao comando de Tléb, Inóv a carrega para fora da sala .

- Satisfeito, Tléb ?

- Nem um pouco, se é o que quer saber . Mas prefiro ela aqui dentro, do que lá fora, aos cuidados de Giorvel . E ela carrega o herdeiro de Rafaga . Ele não gostaria de ver sua esposa e filho mortos covardemente .

- Sabe muito bem que ela corre o risco de perder a criança por causa disso .

- A barriga quase não se percebe, então ela está nos primeiros meses, e não há nada que possamos fazer . Só podemos torcer para que a tristeza de Caldina não seja maior do que a vontade de manter a criança viva .

Tentando não odiar Tléb pelo seu último comentário, ele volta a sua posição de meditação . Teria que se concentrar bastante, pois não seria algo simples de se fazer . Da outra vez, havia ido pessoalmente até Rayearth e esperado que os mashins de lá apontassem seus escolhidos . No entanto, duvidava que os mashins fizessem isso, de sorte que precisava encontrar os escolhidos pessoalmente .

Não se dera conta de quanto tempo havia se passado, mas sabia que havia demorado bastante para entrar em contato com aquele outro mundo . Era uma dimensão paralela, e enviar uma mensagem muitas vezes era mais difícil do que ir até lá, apesar de que ele tinha suas dúvidas se conseguiria fazer o transporte, uma vez que estava muito fraco .

Ele persistia, e os minutos iam passando, os quais tornavam-se horas . Não imaginava o tempo que passou ali, mas podia sentir um impaciente Tléb aguardando o resultado .

* * * * * * * * * * * *

O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã .

A frase parecia não se aplicar àquela mulher . Minutos, horas ... já estava ali, ajoelhada no chão, com a cabeça sobre a cama, chorando . Não demonstrava ser a mulher que todos conheciam . A imagem da guerreira radiante havia sumido . Naquele momento, a guerreira sorridente havia morrido para Inóv . A guerreira que, apesar de tudo, sempre mantinha um sorriso nos olhos, e resolvia seu problemas sem a menor preocupação .

Estava encostado na parede, aguardando pacientemente que ela parasse de chorar, embora já houvesse passado bastante tempo . Mas ela era uma mulher e, independente do que dissessem, tinha todo o direito de chorar . Ele mesmo havia derramado lágrimas e lágrimas diante da tragédia de seu povo .

Uma breve lembrança passa pela sua cabeça . Ele era um elfo, os quais eram considerados extintos . Mas ele sabia que isso não era verdade, e havia se encontrado com alguns até, os poucos sobreviventes do massacre de Giorvel . Um homem que puramente pela ambição do poder ceifou milhares de vidas, e os elfos foram os mais prejudicados : aldeias inteiras haviam sumido do mapa, de forma que poucos se lembravam nos dias de hoje de uma raça de homens albinos e esguios, com orelhas pontiagudas . Se perguntava o que teria acontecido se todos os elfos tivessem morrido . Talvez, os humanos não tivessem morrido também ...

Ele balança a cabeça, tentando apagar aquele pensamento . Mas sabia que fazia sentido . O potencial mágico de um elfo é dezenas de vezes superior ao de um humano, sendo superado apenas pelo de uma fada . A energia mágica que exala de um elfo bem treinado chega a se comparar ao poder de um sacerdote . Um único elfo possuía a força mágica de centenas de aldeões . Um pensamento interessante, uma vez que todos os habitantes de Cefiro possuem o dom da magia, mas poucos o desenvolvem . Alguns chegam a desenvolver uma certa afinidade com algum elemento em particular, tornando-se mais resistente a ele ou coisa parecida, mas não passam muito disso . Com exceção dos sacerdotes, dos ex-generais de Esmeralda e da Espíritos de Aço, a maioria quase absoluta dos cidadãos de Cefiro não passa de "camponeses" e soldados . Todos ainda possuem o dom inato para a magia, mas seria preciso reunir a força combinada de centenas desses camponeses e soldados para se conseguir o nível de poder de um elfo, sendo que poucos eram os guerreiros humanos que faziam frente a um elfo .

Uma aptidão racial para a magia maior do que a dos demais . Uma habilidade fantástica ... que ele abdicou . Jurou que nunca desenvolveria todo esse potencial . Conhece algumas magias, é verdade, mas não utiliza um décimo do que todo o seu potencial permite . Compara-se a alguns dos guerreiros de médio-porte da Espíritos de Aço, mas é só . Sua qualidade racial, tão apreciada por Giorvel, havia sido o motivo do quase-exterminio de seu povo . E, se alguém viesse atrás dele pelo mesmo motivo, não conseguiria grande coisa se o derrotasse . Giorvel achou que havia exterminado com a sua raça ... e era melhor que continuasse acreditando . Achou que era um dos últimos quando Tléb o salvou, mas acabou por encontrar outros de sua raça . A maioria fugitivos da ira de Giorvel, muitos dos quais eram apenas crianças quando aquilo ocorreu, desconhecendo boa parte da história e cultura de seu povo . Chegou a encontrar um ou outro ancião elfo, mas esses haviam criado uma abstinência do mundo, evitando o máximo de contato possível, de forma que não lhe foram muito úteis, uma vez que pareciam desconhecer a ameaça de Giorvel e diversos fatos referentes aos elfos . Muito provavelmente eram elfos que estavam vivos a centenas de anos, e resolveram se afastar da sociedade por falta de sanidade .

Sendo assim, seu conhecimento sobre a raça élfica resumia-se ao que aprendera com Tléb . Não era muita coisa, mas lhe dava uma idéia de quem e o que era .

A mulher ainda chorava . Estava assim há cerca de três horas, sem parar . Embora não demonstrasse, a preocupação de Inóv era crescente com a mulher e com a criança . Em sua opinião, muitos já haviam morrido nessa guerra . Não era justo que outros pagassem por esse preço também .

- Caldina ... eu sinto muito . Sinto muito por Rafaga e Priscila .

- P-Priscila ... ela também ... ?

- Sim, lamento . – ele se senta na cama, acariciando seus cabelos, enquanto olhos nos seus olhos . Estava em prantos, e não parecia querer parar com aquilo . Seu rosto estava todo vermelho e molhado, assim como parte de sua roupa .

Caldina se levanta, sentando-se na cadeira que estava do lado da cama . Ela coloca as mãos sobre o rosto, enquanto coloca o rosto entre os joelhos, emitindo um choro baixo . Minutos depois, ela ergue seu rosto, tentando conter o choro .

- Conte-me . Quem foi que fez isso ? Foi ele ?

- Você se lembra ?

- Eu ... eu acordei na noite passada, em meio a um pesadelo . Senti algo se aproximando, algo perigoso . Não sei quem ou o que era, mas senti que traria desgraça .

- Já ouviu falar de Giorvel, Caldina ?

- Esse nome ... acho que já, mas não consigo me lembrar .

- Nem poderia . Há muitos anos atrás, ele foi responsável pelo maior massacre de toda a história de Cefiro, e meu povo foi uma das vitimas .

- Seu povo ? Quer dizer ... céus, a guerra dos elfos ! Então, foi por isso que vocês desapareceram ! Mas por que me lembro disso, mas não desse nome que disse ?

- Por que não houve a guerra dos elfos, Caldina . Todos eles foram massacrados por um homem em busca de poder . Pode imaginar isso, o total desprezo pelas formas de vida apenas por algo chamado poder ?

- Mas eu não entendo ... quem era esse tal de Giorvel ? E por que ele fez isso ?

- É difícil explicar, mas antes você tem que saber de uma coisa muito importante . Giorvel ... ele foi um importante cidadão de Cefiro .

Ela coloca a mão sobre a boca, assustada com as palavras de Inóv . Como era possível que ato tão desumano pudesse ser feito por alguém que era dotado de consciência ?

- Você já deve ter ouvido histórias sobre os elfos, não é mesmo ? São criaturas poderosas, só perdendo para as fadas . Nós possuímos um potencial de desenvolvimento maior do que a de um humano . Mais do que isso, a força mágica que explode dentro de cada cidadão daqui é maior em nós . Isso atraiu Giorvel . A principio, ele queria poder . Nosso poder . Por isso, massacrou meu povo .

- Você disse que ele era um cidadão de Cefiro ? Eu não entendo, como alguém ... ?

- Deixe-me terminar . Pensávamos que ele queria o poder dos elfos, a principio ... mas quando os elfos sumiram, ele continuou seu massacre com os humanos . Milhares e milhares deles . E, quando aparentemente terminou, não era mais o mesmo . Isso quem me disse foi Tléb . Ele era um antigo seguidor de Giorvel, um aprendiz . Ele percebeu a loucura dele, e avisou Oláf, avô de seu ... aham ... marido . Como sabe, Oláf ficou mutilado ... mas isso garantiu tempo para que Rayearth intervisse .

- Rayearth ? O lendário ? O magnifico ? Foi ele quem derrotou Giorvel ? E o que ele fazia aqui ? Pelo que Fério disse, ele estava ...

- Rayearth o derrotou, Oláf e Cléf o julgaram . Ambos concluíram que a morte era muito pouco para alguém que cometera tamanha carnificina contra um povo . Ele havia praticamente varrido os elfos da face de Cefiro, e teria feito o mesmo com todos os outros . A morte era pouco . Rayearth o aprisionou em uma dimensão de dor e sofrimento eterno, na qual ele sofreria dia após dia e se recuperaria apenas para continuar sofrendo em seguida . Ele deveria ter ficado lá por toda a eternidade, mas algo deu errado . Agora, ele está solto em Cefiro, livre para continuar matando . A cada segundo que passa, vilas inteiras são arrasadas . E, uma vez que Rafaga e Priscila falharam, só nos resta uma alternativa .

- Quer dizer que ...

- ... Tléb viu o potencial dos gêmeos e preparou-os a vida toda para esse momento. Eles desconheciam esses aspecto de Tléb e o seu passado . A essa altura, Cléf já deve ter convocado as únicas pessoas que podem nos ajudar .

- Rayearth . Então, esse é o plano ? Temos que aceitar isso ?

- Eu entendo a sua angustia . Não somos capazes nem de proteger nossa terra . Mas é a pura realidade, e nada podemos fazer para mudá-la .

- Os que morreram em Rayearth , Lantis, Alcione, Askot ... e os que morreram agora, Rafaga e Priscila ... onde está Fério ? Talvez ele possa ...

- Fério ? Já ouvi falar dele . Mas desconheço seu paradeiro .

- Temos que encontrá-lo ! Ainda há uma chance se ...

- Ainda não entendeu ? Não há esperanças ! Ninguém em Cefiro pode derrotar aquele homem, não, aquele monstro ! Ele absorveu a essência da vida de milhares de habitantes de Cefiro, e é isso que elevou seu poder de enorme para monstruoso !

As lágrimas de Caldina cessam, mal sua tristeza não . Ela não conseguia acreditar que isso estava acontecendo . Pior, não acreditava que um habitante de Cefiro, um lugar conhecido pela capacidade de seu povo de conseguir as coisas se acreditarem, estava dizendo aquilo .

Então, era esse o verdadeiro significado de seu sonho ? A destruição de Cefiro se daria devido aos seus habitantes terem perdido a capacidade de sonhar, terem perdido seu maior poder, o poder da crença ?

Ela se levanta desesperadamente e sai daquele quarto, correndo pelo corredor, tentando não olhar para trás enquanto tornava a chorar .

* * * * * * * * * * * *

Finalmente . Depois de três horas seguidas de tentativas frustradas, havia conseguido formar uma ligação entre Cefiro e Rayearth . Diversas vezes havia dito que a causa de tantas falhas era a floresta, mas Tléb insistia que isso era impossível . Havia algo errado .

Mas, finalmente, havia conseguido . Primeiramente, pensara em ir pessoalmente até lá, mas concluiu que seria perda de tempo, pois dificilmente encontraria as escolhidas desse jeito e, pela sua experiência, os mashins de Rayearth agem ao seu modo, não aceitando opiniões externas .

- Rayearth ... finalmente nos encontramos de novo, guardião sagrado . Embora já não sejas mais um, sei que me entendes, apesar de saber que não me responderá . Mas venho até aqui prestar meu respeito a ti, e implorar para que nos ajude . O mal eterno foi liberto, e só tu podes nos ajudar .

Ele continuava assim, se concentrando, alheio a tudo o que ocorria ao seu redor . Não podia perder esse oportunidade, mediante a situação . Tinha que encontrar aquelas garotas o mais rápido possível .

Minutos se passavam como segundos . Aquele era um mundo muito estranho . O número de habitantes era deveras superior ao de Cefiro, mas em compensação ... a presença de magia era nula ! Seria possível ? Da última vez que esteve lá, Havia trancafiado os seus habitantes, de forma que não fossem feridos na terrível batalha que se travou . Será que a única fonte de magia daquele lugar provinha dos mashins de Rayearth ?

Os segundos parecem horas, os minutos, uma eternidade . Ele vasculhava cada ponto daquele lugar, cada canto ... onde elas estariam ? Onde estariam as escolhidas ? Podia visualizar perfeitamente aquele lugar . Não conhecia o nome, mas imaginava que fosse um dos lugares mais importantes daquele mundo . Do contrário, por que Águia e Esmeralda teriam escolhido-o para colocar sua base ?

Os minutos que se estendiam pela eternidade, ecoavam em sua alma . Por que aquilo estava acontecendo ? Por que na maior crise de Cefiro, aquilo estava acontecendo ?

- Rayearth, responda-me, por favor . Aponte-me seus escolhidos . O que houve com eles ? Não faz tanto tempo assim, aonde elas estão ? Por favor, eu lhe peço, não, lhe imploro, ajude-nos, por favor ! O que houve com aquelas fantásticas guerreiras que, mesmo sabendo de suas chances inexistentes, enfrentaram sem medo o irmão de Esmeralda ? Onde estão suas escolhidas, as quais enfrentaram os generais de esmeralda ? Onde estás aquela cujo cabelo brilha como a juba de um leão incandescente, a qual fez renascer seu poder ? Onde estás ?

Tléb estava apenas observando enquanto Cléf se ajoelhava e chorava no chão . Será esse o destino de seu povo, perecer ? Será que não havia salvação ? Terminaria aqui sua vida, com os fim de suas alternativas ? Se era para ser assim, então já estava prestes a pegar suas armas, e dirigir-se ao encontro de Giorvel . Mesmo que isso significasse sua morte, ainda tinha o dever e obrigação de lutar até o último momento, pois não seria justo com os que deram suas vidas .

- Hã ?!? Mas o que é isso ... encontrei ... AAAARRRRGGGGHHHHH !!!!!

Cléf estava se contorcendo no chão, aparentemente sem motivo . Quando Tléb se aproxima para ajudá-lo, ele cessa seus gritos, apoiando-se nas mãos e respirando pesadamente .

- Arf, Arf, Arf, Arf, Arf, Arf, Arf !

- O que houve, Cléf ? Conseguiu fazer contato ? Por que gritou ?

- Eu ... eu não sei, mas ... algo ... alguma coisa muito forte em Rayearth ... pensei ter encontrado uma das escolhidas, mas ... mas ... alguma coisa forte impedia que eu me aproximasse e quando tentei forçar isso ... simplesmente cortou a ligação que eu possuía com o planeta ! Não pode ser !

- Mas o que está dizendo ? Como assim cortou sua ligação ? É impossível ! Quem teria poder para tanto ?

- Não sei mas, se continuar assim ... talvez não haja muito de Cefiro para ser salvo quando conseguirmos traze-las aqui . Se eu conhecesse mais aquele planeta, seria mais fácil, mas eu não o conheço . Apenas visitei uma de suas cidades, e foi lá que houve a batalha dos mundos . E como se elas não estivessem mais lá ou, se estão, algo me impede de encontrá-las ! Isso é ... é ... contra tudo o que estou acostumado ! Sempre soube que os mashins de Rayearth agiam à sua própria maneira, mas nunca imaginei que ele ignoraria uma crise de tamanha proporção !

- Cléf, está querendo me dizer ... que é o fim ?

- Eu não sei o que dizer, Tléb . Rafaga era tão poderoso quanto os generais de Esmeralda, até mais, eu acho . Se a tal de Priscila comandava o Blacksmith, deveria ser muito mais poderosa ... e ambos falharam !

- Isso é doentio . Não há um lugar seguro, nem um futuro para se olhar . Eu devia ter lutado ao lado de Rafaga e Priscila . Dessa forma, ao menos, não os envergonharia tanto quanto estou fazendo agora . É o fim .

Um objeto girando a grande velocidade cruza o ar, indo em direção a Tléb . Ele se esquiva, enquanto o objeto acerta o chão, fazendo um barulho estranho para o que era : um bastão .

Ele ergue o braço, bem a tempo de bloquear um soco e salta em seguida, evitando uma rasteira . Sua atacante pega o bastão e começa a girá-lo, indo em direção de Tléb . O mesmo, com uma só mão, segura o bastão, enquanto encara sua agressora .

- Está com raiva de mim, não é ? Sinto muito se não correspondi as suas expectativas, mas não há nada que eu possa fazer, a não ser me juntar ao seu marido . Eu lamento muito .

Tléb sente a mão aberta de Caldina em seu rosto, a qual deixa uma marca bem vermelha .

- Não diga isso ! Quem você pensa que é para falar assim ? Meu marido nunca desistiu de alguma coisa, entendeu ? Nunca ! Quem você pensa que é para dizer que é o fim ? Nunca é o fim ! Sempre há esperança ! Esse tal de Giorvel pode ter matado milhares mas, enquanto houver vida, sempre haverá esperança ! Eu me recuso a acreditar que esse seja o fim de Cefiro, entendeu ? Eu me recuso ! Eu me recuso ! Eu me recuso ...

E, mais uma vez, ela estava ajoelhada, chorando . tentava conter o choro, mas era em vão . Tléb estende a mão para ela, mas ela recusa e se levanta, dirigindo-se até Cléf .

- Cléf ... o que está havendo ? Por que não consegue traze-las ?

Mais uma vez, Cléf se odiou pela sua incapacidade . Ele ali, caído no chão, entregando os pontos, e aquela mulher, a qual acabara de perder o marido, de pé, segurando a tristeza e pensando no amanhã .

- Consigo contactar Rayearth, mas não consigo contactar as escolhidas .

- Você as conheceu pessoalmente ?

- Sim .

- Então, há esperança . Faça contato mais uma vez Cléf, mas eu preciso estar junto . É possível ?

- Sim, mas o que pretendes ?

- Um milagre ...

Cléf mais uma vez coloca-se em posição de meditação, tentando manter contato com o planeta conhecido como Rayearth . Sabia que era difícil, logo não nutria grandes esperanças ...

... mas havia conseguido mais rápido do que o esperado . Pelo visto, quando havia finalmente conseguido, havia deixado um canal de comunicação semi-aberto .

- Compartilhe dessa visão comigo, Caldina .

Caldina estava espantada com o que via . Era um mundo, a principio similar ao seu, mas as semelhanças terminavam por ai . O número de habitantes era absurdamente maior . Onde estavam as florestas ? Haviam algumas, mas não se comparavam com as de Cefiro . E perto de suas montanhas, as montanhas desse mundo eram formigas !

Ficaria mais e mais espantada, se dispusesse de tempo, mas não era o caso .

- Eles ... são muitos !

- Creio eu que essa seja a cidade mais importante desse mundo, do contrário, por que Esmeralda colocaria sua base aqui ?

- Apenas uma cidade ? Quer dizer que há ...

- ... muito mais . É incontável o numero de formas de vidas que há aqui .

- Apenas ... como foi possível proteger todas essas pessoas do ataque de ... ?

- Eu utilizei a Daytona .Todas essas pessoas, com exceção de mim e das escolhidas, foram transportadas para um espaço que fica entre Rayearth e Cefiro . Aquilo me desgastou completamente .

- Vamos começar – Caldina coloca as mãos na cabeça de Cléf, enquanto o mesmo se concentra – tente procurá-las, Cléf . Tenta visualizá-las .

- Então era verdade sobre seus poderes mentais ... Caldina, eu vou te pedir apenas um favor : durante esses instantes em que estaremos compartilhando nossas mentes, apenas tenha cuidado . Não quero que você presencie o que houve nesse mundo . É algo horrível de se ver, ainda mais quando seu povo está morrendo e você não pode fazer nada .

- Eu entendi . Comecemos, então .

Um turbilhão de imagens e lembranças atravessou Caldina . Fome, guerra, dor, alegria, tristeza, vitória ... ela procurava ignorar a maioria, tentando apenas obter uma imagem especifica das escolhidas . Por diversas vezes esteve frente à frente com as memórias de Cléf daquela guerra, mas as ignorou . Até que encontrou o que procurava .

- São ... são essas as escolhidas, Cléf ? Mas são apenas crianças ! Como podem ser as escolhidas de Rayearth ? Diga !

- Essa terra é mais populosa, mas sofre pela falta do poder que move Cefiro : a crença na força interior . No entanto, em meio a tantos, elas foram as únicas que conservam as características do povo de Cefiro, o que permitiu que derrotassem Esmeralda e Águia . Não as subestime, pois sua verdadeira força não está em suas mãos ou braços .

- Vamos tentar traze-las, então . Que tal essa ... nossa ! Essa de ôculos, eu mal consigo senti-la ! Ela deve estar muito longe desse local em que ... como esse local se chama ?

- Eu não sei .

- Posso dar um jeito nisso .

Concentrando-se um pouco mais, Caldina fita seus olhos em um dos milhares de habitantes daquele lugar, e começa a ler sua mente . Essa foi sua segunda surpresa : nunca havia sido tão fácil . Pelo visto, aquele povo, além de ser incapaz de realizar magias, também era detentor de uma mente fraca, de forma que qualquer um poderia manipulá-los .

- É tão confuso ... tantas coisas, tantas manias, tantos nomes ... esse povo é tão diferente do nosso . Pelo que eu entendi da mente dele, essa garota está num local bastante longe chamado Velho Mundo . Melhor tentarmos com essa de cabelo azul .

- Ainda está bem longe .

- Como sabe ?

- Estamos compartilhando nossas mentes, lembra-se ? Posso sentir o que você sente . Você levou a direção na qual Fuu se encontrava até o cidadão do qual absorveu esse conhecimento, e a mente dele apontou para esse tal de Velho Mundo . E, pela direção na qual Umi se encontra, a mente desse indivíduo no qual estamos conectados aponta como sendo um local chamado Kanzawa .

- E onde fica isso ?

- Eu não sei . Pode ser uma outra cidade, mas eu não tenho a mínima idéia . Só nos resta tentar com Hikaru .

- São esses os nomes delas ?

- A de ôculos se chama Hououji Fuu, essa que está bem à nossa frente, chama-se Ryuuzaki Umi . E, essa outra , Shidou Hikaru .

- Que estranho, eu nunca soube de alguém chamado Shidou .

- Pelo que eu entendi, esse é o nome da família delas .

- Eles utilizam o sobrenome antes do nome ? Que estranho . Mas por que eu sinto uma coisa tão forte vindo dessa garota de trança ?

- Eu também . Foi a mesma coisa que cortou minha conexão anteriormente . Seja o que for, impede que eu faça contato . Mas eu sinto que ela está bem perto .

- Parece que esse local se chama Hokkaido . Mas de nada adianta se não ... Cléf, sente algo maligno vindo dela ?

- eu duvidaria disso, mas ... não .

- Então, seja o que for que impede nosso contato, não é maligno, ou seja, muito provavelmente está vindo dela mesmo .

- Algo tão forte que vem de dentro dela ... mas o que seria tal coisa ? E por que impede que você ... talvez, se descobríssemos .

* * * * * * * * * * * *

Pela terceira vez, havia caído .

Ela levanta-se, toma distância e corre . Num salto espetacular, ela gira o corpo em 360º , caindo com as mãos no chão, enquanto vai impulsionando o corpo para frente, tocando os pés, depois as mãos, depois os pés ... até que, quando seu corpo gira mais uma vez para que as mãos toquem no chão, sua mão escorrega, derrubando-a desastrosamente no chão .

Os observadores estavam pasmos com aquilo . Como poderia a veterana do time de ginastica falhar ? Era uma manobra difícil, pois ela teria que calcular a altura do salto para atingir o chão com o impacto exato, para não destroncar nenhum osso, fora o fato de que o rápido movimento exigia bastante atenção e concentração ... mas ela era a mais experiente do time ! Ser a mais experiente e, consequentemente, a melhor, não significava apenas fazer tudo certo, mas admitir quando não está a altura de uma tarefa . No entanto, ela persistia, embora quase todos ali já tivessem percebido que ela não conseguiria .

- Hikaru, você está bem ? – dizia uma das garotas, aproximando-se junto com as outras para ajudá-las . De igual forma, todas as outras vestiam o uniforme de ginástica da escola .

- Eu estou bem, não se preocupem ! É só eu prestar um pouco mais atenção, que eu consigo ! – ela dizia, com o sorriso de sempre . Infelizmente, as outras já havia ouvido aquelas palavras antes .

Em alguns dias, teria inicio a semana de jogos daquele colégio . Era uma forma de unir os clubes dos colégios, dando-lhes a chance de demonstrar o que cada aluno havia aprendido . Eram tão famosos naquele colégio, que o evento não recebia o tradicional nome de jogos estudantis, mas sim "Season of Sakura", em homenagem as arvores que circundam o colégio, e as tonalidades que elas adquirem dependendo de cada estação, uma simbologia aos jogos, como se cada aluno fosse uma pétala de cerejeira, e os jogos fossem o momento em que as pétalas estivessem prontas para serem carregadas pelo vento .

As garotas estavam preocupadas com aquilo . Iriam participar, mas não possuíam a rivalidade entre si . Na verdade, torciam por Hikaru, a mais experiente da equipe . No entanto, algo estava errado, pois ela estava tendo muita dificuldade para acertar os movimentos ...

- Hikaru ... tudo bem com você ?

- Hã ? Por que ? O que foi que houve ?

- É que ... a gente acha que talvez seja melhor você não participar, sabe ... talvez ...

- Mas eu consigo, só preciso praticar mais um pouco !

- Você pode se machucar de verdade !

- Tudo bem – ela dizia mais uma vez, com seu sorriso encantador – eu não vou decepcionar vocês, amigas !

- Não é isso ! Você não está conseguindo se concentrar em todos os outros exercícios ! Se continuar assim, vai acabar se machucando pra valer !

- Mas, eu só – sua voz já estava um pouco mais séria, sem o habitual sorriso .

- E nesse último movimento, você repetiu ele quatro vezes e não aceitou o fato de que não estava apta para executá-lo !

- Eu ... eu ... eu ...

- Hikaru, me desculpe, mas se você insistir em continuar com isso sem ter condições ... ninguém aqui suportaria te ver mal . Eu ... eu – ela demostrava uma clara hesitação em sua próxima frase – eu voto pelo afastamento do membro Shidou Hikaru até que esteja em melhores condições !

As outras duas se espantaram com aquilo . Esperavam qualquer coisa, menos isso . E pensar que há menos de seis meses as três estavam admirando Hikaru, enquanto ela repetia diversas vezes seus movimentos acrobáticos . Elas eram apenas iniciantes, enquanto que ela demonstrava uma perícia incrível . Agora, já possuíam algum treinamento, ao tempo que Hikaru havia se aperfeiçoado . No entanto, algo parecia interferir em sua concentração .

Hikaru estava de cabeça abaixada, sem olhar para elas . Sequer se surpreendeu quando as outras duas levantaram as mão, votando pelo seu afastamento . Ela não esperou pelo veredito .

Correndo dali, ela deixava a quadra de treinamento, chorando . Não conseguia agüentar . Não conseguia suportar .

- Hikaru-sempai ... – dizia uma das garotas . Esperava que Hikaru não levasse aquilo para o lado pessoal, que só estava fazendo aquilo para seu próprio bem . Algo a incomodava, e ela precisava de tempo para organizar seus pensamentos . Ao sair daquele lugar às pressas, havia demonstrado sua clara preferência por querer resolver aquilo sozinha . Ela só esperava que sua amiga conseguisse .

* * * * * * * * * * * *

Cansada de correr, ela para , sem perceber aonde estava .

- Cléf, definitivamente algo entristece essa garota .

- Eu já percebi . Só não entendo o que pode ser . Quando nos encontramos, ela parecia ser uma pessoa bastante alegre, e possuiu um sorriso praticamente eterno . O que houve com ela ?

- Eu estou sentindo ... aquela mesma coisa que vinha de dentro dela, tornou a aumentar, e eu acho que sei o que é .

- Tristeza .

Ela se senta, colocando a cabeça entre as pernas, e torna a chorar . Qualquer um que passasse por ali naquele momento não a reconheceria .

- Caldina, é agora .

- Mas você disse que todas as vezes em que tentou se aproximar, a ligação com este planeta foi rompida !

- Tente sentir isso . Aquele sentimento ainda está bastante forte ... mas está diferente, não percebe ?

- Eu ... sim, você tem razão ! Mas o que foi que houve ?

- Creio ... que seja algum tipo de tristeza que a assola mas, pelo que pude perceber, está diminuindo aos poucos ... tente sentir !

- Esvaziando ... como isso é possível ? Só se ... espere um pouco ! Ela está chorando, enquanto esse sentimento diminui ... será ?

- Sim, é isso . Enquanto retraído, nos impedia de alcança-la . Agora, enquanto chora, ela esta colocando para fora tudo o que sente ! Tenho que tentar agora ! Hikaru ! Hikaru ! Por favor, Hikaru !

- E-essa voz ... quem ? - ela se perguntava, sem tirar a cabeça de entre as pernas .

- Por favor, jovem escolhida . Eu me chamo Cléf . Há algum tempo atrás, nos encontramos e você e suas amigas defenderam seu mundo lembra-se ?

- Cléf ... quem ... como é que ... onde você está ?

- Eu estou em sua mente, jovem escolhida . Por favor, não temos muito tempo . Sei que não tenho esse direito, mas meu povo precisa de sua ajuda .

- Quem ... quem é você ? Por que está falando comigo ?

- Jovem escolhida, eu sei muito bem que meu povo lhes causou muitos problemas, mas eu lhes imploro ...

- POR FAVOR, ME DEIXE SOZINHA !!! Por ... favor ... m-me deixe ... sozinha ...

Ela continua chorando . Se alguém tirasse seu rosto do meio de suas pernas, não acreditaria que aquela bela garota havia perdido seu eterno sorriso .

Já Cléf estava tremendamente assustado . Ela ... ela havia recusado ... ela havia se negado a ajudá-lo ! Sua terra estava condenada ! Não havia alternativa !

- Me desculpe, Hikaru . Eu não tinha esse direito . Nós te prejudicamos muito ... é muita audácia depois de tudo isso vir pedir ajuda . Me perdoe . Vocês três . Mas por favor, eu te peço , não, te imploro . Sei que meu povo não fez por merecer, mas precisamos de sua ajuda . Estamos a beira da extinção, e nossos melhores guerreiros foram derrotados . Não nos resta mais alternativa nenhuma . Eu peço, eu imploro, por favor, nos ajudem .

No entanto, ela continua chorando baixo .

- É o nosso fim . Eu falhei .

- Não diga isso, Cléf . Você não tem esse direito . Não depois de todos os que perderam a vida . Eu vou falar com ela .

Caldina se concentra, e cria uma forma sua semitransparente, a qual aparece bem em frente a Hikaru .

- Garota, eu posso te ajudar ?

Ela não responde . Já imaginando o que viria depois disso, Caldina senta-se ao lado dela, encostando-se na mesma arvore na qual ela estava encostada . Agora que havia prestado atenção, era uma arvore estranha : possuía pétalas rosas .

- O que a entristece ?

Sem resposta .

- Eu sei que você não me conhece ... mas eu realmente gostaria de saber o motivo de tua tristeza . Não gostaria de me contar ? Isso pode ajudá-la .

- Minhas amigas .

- Como ?

- Minhas amigas .

- Você se refere àquelas que te expulsaram lá de dentro ?

- Como sabe ?!?!? – e, no entanto, ela continuava com a cabeça entre as pernas .

- Hã, bem ... – nesse instante, Caldina lembra-se que vira a cena como espectadora, e não como participante – eu estava por perto .

- Não são elas . São as minhas outras amigas .

- Elas brigaram com você ?

- Não .

- Elas não vieram hoje .

- Quem dera que fosse isso ... mas não . – e esse último "não" saiu bem triste e fraco .

- Talvez eu possa ajudá-la ... o que foi que houve ?

- Elas ... elas não estão aqui !!!

Nisso, seu choro aumentou, e ela se levantou, ato repetido por Caldina . Qual a sua surpresa ao olhar para o lado e ver uma mulher semitransparente ... um fantasma !!!!

- AAAAAAAAHHHHHHH!!!!!

Ela ficaria assim, gritando pela escola inteira, se algo não a detivesse .

- Hikaru, sou eu, Cléf ! Lembra-se de mim ? Fui eu quem a avisei sobre a invasão de Águia !

A frase em sim mal foi notada, mas a simples menção do nome "Águia" fez seu sangue gelar, trazendo um pouco de razão para sua mente .

- C-cléf ? Eu ... eu me lembro ! Onde você está ? – embora tivesse parado de gritar, algumas lágrimas ainda escorriam pelo seu rosto .

- Eu estou em sua mente, jovem escolhida . Preciso de sua ajuda . Meu povo corre perigo e ...

- Pare, Cléf . Desse jeito, você não vai conseguir nada, entendeu ? Não vê que ela está assustada ... e magoada ? Ela ... ela sente saudades de algumas pessoas, e nós agimos friamente numa situação como essas !

- Quem é você ? – Ela perguntava, ainda um pouco assustada com a forma na qual Caldina se apresentava .

- Eu me chamo Caldina, sou de Cefiro .

- Cefiro ? O-o que você quer aqui ? Quem mais veio com você ? Ainda querem conquistar ...

Para a total surpresa de Hikaru, Caldina torna a se sentar, convidando-a para fazer o mesmo . Totalmente sem reação, ela faz o mesmo, ficando de frente para Caldina .

- Garota ... seu nome é Hikaru, não é mesmo ? Eu me chamo Caldina . É um prazer conhecer uma das pessoas que acabaram com a loucura de Águia .

- Você ... não é aliada dele ?

- Nem todos em Cefiro eram a favor da invasão . No entanto, dizer isso abertamente era como trair Cefiro . Como v, muitos não atacaram seu povo, apenas se esconderam . Esse foi o meu caso ...e o de meu falecido marido .

- Eu sinto muito .

- Deixemos isso para depois . A quem pertencem essas lágrimas ?

- Umi-chan ... e Fuu-chan .

- Essas são as outras que lutaram, não é mesmo ? E o que houve com elas ?

- Elas não estão aqui . Há muito tempo atrás, havíamos feito uma promessa nessa cerejeira de que nunca deixaríamos de ser amigas, não importando o que acontecesse . Mas agora, elas não estão aqui . Eu entrei em contato com elas algumas vezes, mas não é a mesma coisa, e cada vez mais nosso contato diminui .

Para a surpresa de Caldina, aquela garota de cabelos vermelho torna a chorar . Ela tentava conter as lágrimas, falhando miseravelmente .

- Elas são tão importantes para você ?

- Nós ... nós éramos ... nós somos amigas . Mesmo quando estávamos quase perdendo durante aquela luta, vencemos por que permanecemos juntas .

- Eu entendo . Isso é o amor que você sente por elas . A dor de perder um ente querido, estando morto ou não ... mas você tem que se lembrar de que elas sempre estarão com você . Não fisicamente, mas aqui – ela apontava para seu peito – torcendo por você, vibrando com você . Eu ... eu perdi recentemente uma pessoa que era muito importante para mim – o que mais impressionou Hikaru fora o fato de ver uma lágrima semitransparente escorrer daquele "fantasma"- mas eu sei que ele sempre estará comigo, me protegendo . Tenho essa certeza por que carrego ele aqui, dentro de mim . Você carrega suas amigas em seu peito, garota . Vocês podem ficar anos e anos sem se verem, mas sua amizade existirá enquanto você acreditar nela .

Nisso, embora ainda estivesse com um semblante triste, ela já não estava mais chorando .

- Eu ... nós ... nós havíamos feito uma nova promessa, bem debaixo dessa árvore, depois que detivemos a invasão, e prometemos nunca nos esquecermos de nossa amizade . Eu não me esqueci, mas ... mas ... eu sinto tanto a falta delas ! Eu ... eu queria vê-las apenas uma vez, só mais uma vez !

- Você gostaria tanto assim de tornar a ver suas amigas, jovem escolhida ? É tão importante assim vê-las ?

- É !

- Mesmo que nunca mais torne a vê-las, mesmo que seja só por alguns instantes, você realmente gostaria de vê-las, de estar junto delas ?

- SIM !!!!

Outra surpresa : a imagem de Caldina se coloca de joelhos, e olha para Hikaru.

- Jovem escolhida, eu te faço um pedido . Me perdoe por estar falando isso em um momento tão triste, mas não tenho escolha . Como Cléf disse anteriormente, não temos o direito de pedir sua ajuda . Como seus inimigos, não temos esse direito . Mas eu quebro a minha honra e venho até você para pedir isso : por favor, ajude-nos, salve meu povo ! Embora sejamos povos totalmente diferentes, vocês são nossa última alternativa ! Não peço por mim, por Cléf, pelos que foram mortos ... eu peço pelo povo de Cefiro ! Peço por aqueles inocentes, que nunca ousaram levantar a mão contra outros, aqueles que apenas seguem e sempre seguiram suas vidas em paz, sossegados na paz de Cefiro . Tantos inocentes, vitimas de nossos erros, os quais sofrem por causa de nossas falhas . Tantos deles, sejam os de agora, sejam os de amanhã ... eles não tem culpa disso . Por favor, eu te peço, jovem escolhida, ajude meu povo .

Há pouco, a única preocupação de Hikaru era com suas amigas, as quais nitria uma enorme saudade . No entanto, todos os que conhecem-na bem sabem de um detalhe a respeito dela : seu coração mole . Ela se preocupa muito com as pessoas . Há pouco, estava muito triste, sentimento logo substituído pelo medo ao ver Caldina . Em seguida, isso também foi substituído por algo diferente, ao qual ela já estava acostumada . Aquela mulher havia vindo de outro mundo ... apenas para falar com ela ? Será que era tão importante assim ? Seriam elas a única esperança daquele povo ? O medo voltava . Ainda tinha receio de acreditar naquela mulher . Embora parecesse sincera, havia vindo de Cefiro, o local que havia tentado invadir a Terra . Como confiar nela ? E depois de tudo o que eles fizeram ...

A voz de Cléf voltou a tocar em sua mente, junto com as palavras de Lexas . Uma memória do passado era desperta .

"Vê aquele homem ? Ele não é daqui e, no entanto, é o que mais se preocupa pelo bem de estar de vocês"

Talvez não fosse exatamente isso que Lexas disse, mas estava correto . Havia encontrado com Cléf pela primeira vez quando estava sobrevoando a Torre de Tóquio . Na época, ela aparentava uma semblante bastante triste e abalado ... como o dela . Talvez ... valesse a pena arriscar . Aquelas pessoas deveriam estar sofrendo, e Cléf era a prova de que nem todos os habitantes de Cefiro desejavam o mal da Terra .

- Eu ... eu irei ajudá-los !

- Obrigado, Hikaru .

- Essa voz ... Cléf ? Onde você está ?

- Em sua mente, minha jovem . Essa imagem que está vendo, é uma projeção criada por Caldina, que está aqui do meu lado . Me desculpe por não ter entendido seu sofrimento . Nunca poderemos te retribuir mas, se é isso que deseja, farei com que se encontre com suas amigas . Agora, irei traze-la até aqui e, com sua ajuda, trarei as outras . Está pronta !

Aquilo havia tocado no coração de Hikaru . Estava feliz, muito feliz . Depois de meses, iria reencontrar suas amigas . Havia falado com elas algumas vezes por telefone, e enviado algumas cartas, mas não era a mesma coisa . Teria finalmente a chance de reencontrá-las pessoalmente ...

Caldina havia desfeito aquela imagem para poder se concentrar melhor, mas estava prestando atenção na garota . A face triste, as lágrimas, o semblante destituído de brilho ... tudo isso havia sumido . Agora, a única coisa que restava era um rosto que tentava recuperar seu sorriso . Novas lágrimas surgiam, mas essas eram diferentes . Não eram de tristeza, mas sim de alegria . Infelizmente, além de Cléf e Caldina, a única testemunha do renascer de seu sorriso seria aquela Sakura ... pois num instante ela estava ali, e em seguida já não estava mais, pois havia sumido, evaporado, como se nunca houvesse estado naquele local .

* * * * * * * * * * * *

Tóquio . Em um local bem distante de onde estava Hikaru, outra garota estava passando por uma dura prova .

Já havia passado por diversos testes, mas esse seria o mais difícil de sua vida : vencer sua oponente . E isso por que não era uma oponente qualquer, mas sim sua própria mãe ! Quando está lhe desafiou para averiguar suas habilidades, pensou que se tratasse de uma disputa de culinária, e não de esgrima . Agora, de posse de seu florete de treino e desprovida de seu equipamento de proteção, vestida apenas com um top rosa-claro e uma bermuda cinza, preparava-se para tentar sobreviver ao ataque daquela que havia sido sua inspiração na arte da esgrima .

- Mas mãe ! Eu já falei que hoje não tenho aula ! Me deixa sair um pouco, por favor ! (T__T)

- Vai a algum lugar hoje ? Pretende se encontrar com o seu namorado ?

- Namorado ? É ruim, heim !

- Não há nada demais em se apaixonar, Umi . Você deveria aproveitar a oportunidade que tem . Quando conheci seu pai, vivíamos em uma época em que as mulheres eram praticamente dadas aos homens pelos seus pais . Nós não tínhamos a liberdade de escolher os donos de nossos corações . Até tínhamos, mas decidir nosso futuro era algo que não nos pertencia . . Hoje em dia, as mulheres possuem mais voz ativa do que antigamente, sabia ?

- Mãe, quer dizer que a senhora não casou com o papai por amor ?

Ela dá as costas para a filha, tentando não encará-la . Precisava de tempo para pensar, pois não seria uma resposta simples . Teria que explicar detalhadamente as armadilhas do amor para ela, do contrário ficaria com uma má impressão diante de sua filha .

- Umi, meu bem ... quando eu conheci seu pai, eu era diferente . Recusava-me a aceitar as leis impostas pela nossa sociedade . Achava um abuso, uma falta de respeito ser tratada como uma mercadoria . Seu pai até que gostava de mim, e eu nutria uma simpatia por ele, mas não era essa a questão . Eu não aceitava o fato de que teria que casar obrigada e ... Umi ? Umi ? Onde essa garota foi parar ? – dizia a mulher, assim que acabara de se virar e perceber que sua filha havia literalmente sumido, sem deixar nenhum vestígio .

* * * * * * * * * * * *

Velho mundo . Nome dado ao local que é conhecido como berço da civilização . Aqui, diversos países ainda mantém intactas tradições de centenas de anos atrás .

Apesar do grande êxodo de pessoas para o Novo mundo, muitos ainda preferem o Velho mundo, pelos mais diversos motivos . E, uma família em especial, veio pelo mesmo motivo de outras centenas de milhares : emprego . Mas esse era um caso diferente . Depois de anos e anos como professor e pesquisador em seu país de origem, aquele homem resolveu tentar a sorte fora do país, procurando se desenvolver mais, além de conseguir um salário mais compatível com seu nível intelectual . Poderia ter optado pela Itália, pela Alemanha, pela França, mas algo chamava mais a sua atenção : tomar o chá ao som do grande relógio londrino . E lá estava ele, como professor em uma universidade muito famosa, graduada e disputada daquela cidade . Não era a extensão total do que esperava, mas já era um começo . Em breve, continuaria suas pesquisas naquele pais, dando seguimento ao seu estudo sobre a história da criação e do desenvolvimento da raça humana .

Mas isso ficaria para depois . No momento, estava lendo um livro, no meio da sala, em plena madrugada . Inexplicavelmente o sono não vinha , fato estranho, uma vez que nunca tivera problemas quanto a isso . Decidido a voltar para a cama e recuperar o sono nem que fosse por decreto, ele faz uma rápida parada no quarto da filha . Lá estava ela, em posição fetal, dormindo com os anjos . Havia feito 15 anos, já era uma moça ... mas ainda era a sua garotinha . Ele se aproxima e passa a mão sobre seus cabelos e seu rosto, dando-lhe um beijo e retirando-se do quarto em seguida .

Mal sabia ele que, se tivesse demorado mais alguns instantes, veria com seus próprios olhos sua pequena Fuu desaparecer ...

* * * * * * * * * * * *

- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH !!! AAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHH !!!!!!!!!

A histérica em questão, dona da uma cabeleira azul-escura e vestindo apenas um top rosa-claro e uma bermuda cinza, tinha todos os motivos do mundo para estar gritando : estava em queda livre . Mais do que isso, estava cara - a - cara com a morte . Por um motivo que não conseguia imaginar , tampouco seu cérebro parecia querer pensar nisso, ela estava caindo . Há poucos instantes atrás, estava prestes a sair bem machucada de um duelo com sua mãe e, nesse exato instante, estava prestes a morrer . Não estava mais em sua casa, mas nos céus . Estava caindo, e cada vez mais rápido . E o mais estranho era que era parecia estar numa altura maior do que imaginava . Ela via campos, florestas, montanhas, mares ... aquilo não era Tóquio !!!!

- AAAAAAHHHHHHHH !!!!!

- Umi !!!!

- AHHHHH !!! AHHHH .... Hikaru ?

A súbita histeria de Umi foi substituída pela surpresa de ver uma garota ruiva e de trança, vestindo um maiô de ginastica .

- UUUUUMMMMIIIII !!!!!

Hikaru estava muito, mas muito alegre . Sua amiga, a qual estava distante, agora estava ao seu lado . Finalmente, haviam se reencontrado . Tamanha é sua emoção, que ela abraça Umi, ignorando completamente sua atual situação .

* * * * * * * * * * * *

- Droga ! Temos que sair daqui o mais rápido possível, Cléf ! Rastreei a trajetória delas, e você as enviou para quilômetros acima de Cefiro !

- Era por isso que eu queria fazer o transporte fora da Floresta do silêncio . Posso conseguir executar minha magia aqui, mas ela está sendo afetada fora daqui . Não foi um erro, é esse local que interferiu com a minha concentração . Tenho que sair daqui, senão elas morrerão !

- Não há necessidade – Tléb se pronunciou – eu enviei uma pessoa para recebê-las ...

* * * * * * * * * * * *

- Como eu senti a sua falta ! Pensei que nunca mais iríamos nos encontrar, amiga !

Hikaru apertava cada vez mais Umi, enquanto a mesma tentava não enlouquecer . Ela olha para Hikaru, olha para onde estava, olha para Hikaru, e olha para onde estava .

- AAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHH!!!!!!!!!!!!

- Umi, por que você está gritando ? O que foi que houve ?

Ela simplesmente não acreditava que aquela pergunta estava sendo feita . Só podia ser um sonho, só podia ... mas é claro !

- Hikaru ! – Dessa vez, era Umi quem retribuía o abraço – Quanto tempo !

Enquanto era abraçada, os olhos de Hikaru lacrimejavam por tamanha emoção .

- Umi ! Eu ... eu sabia que todas nós nos encontraríamos novamente !

- Eu também ! Não estava mais agüentando só ficar escrevendo ! Como tem passado ?

- Bem !!!!

- Você não me engana ! Esses olhos ... por que está chorando ?

- É que ... eu estava com muita saudade de vocês, e achei que nunca mais iria vê-las ...

- Hikaru ... – Umi a abraçava carinhosamente, amparando-a . Um choro silencioso seguia em frente, enquanto ambas estavam ali, em queda livre . E que queda enorme, pensava Umi . Provavelmente, quando atingissem o chão, iriam acordar ....

- É um sonho estranho . Nunca imaginei que iria passar por isso .

- Sonho ? Que sonho ?

- Ah, é uma pena que você não é ela ... mas eu gostei tanto desse sonho !

- Mas ... do que você está falando ?

- Ora, desse sonho estranho que eu estou tendo, ora bolas ! Bem que eu estranhei quando a minha mãe resolveu me desafiar pra um duelo de esgrima, e agora eu estou aqui, caindo ....

- Hã, Umi ... – Hikaru havia saído dos braços de Umi, e estava com a cabeça abaixada enquanto falava - ... não sei como te explicar, mas ... isso não é um sonho .

- Cê tá brincando, não tá ? E que lugar é esse ? Não parece nada com Tóquio !!!

- E não é . Nós estamos em Cefiro !

- Cefiro ? Quer dizer, de onde vieram aqueles malucos que tentaram destruir Tóquio e conquistar a Terra há uns meses atrás ?

- Uhum !

- Hikaru ... – Umi coloca a mão na testa dela, tentando sentir a temperatura - ... você está bem ?

- Estou (*__^) !!!

- AAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHH !!!!!!!!! Eu vou morrer !!! AAAAAHHHHHHHHH !!!!! Eu não posso morrer antes de ganhar aquele torneio de esgrima !!!! AAAAHHHHHH !!!!! Como é que eu vim parar aqui ?!?!?!?

- M-me desculpe ! Foi culpa minha ! Eu queria que nos reencontrássemos e ...

- Como é ? É por sua causa que eu estou aqui ????

- Hã ... sim ...

- VOCÊ PERDEU O JUÍZO ? OLHA O QUE VOCÊ FEZ !!! A GENTE VAI MORRER SÓ POR QUE VOCÊ ESTAVA SENTINDO SAUDADES !!!! EU SEMPRE TE ESCREVIA, EU SEMPRE MANTIVE CONTATO, MAS POR QUE VOCÊ TINHA QUE FAZER ISSO ??? ACHA QUE EU TAMBÉM NÃO SOFRI COM A SEPARAÇÃO ? E FUU ? ELA SEMPRE FOI A MAIS "CALMA E QUIETA" DE NÓS, MAS ELA TAMBÉM SOFREU MUITO, SABIA ? EU RECEBI UMA CARTA DELA E, PELA MANEIRA QUE ELA ESCREVEU, PUDE PERCEBER O QUANTO ELA ESTAVA TRISTE ! NÃO É SÓ VOCÊ QUE ESTÁ SOFRENDO, ENTENDEU ???

- Eu ... eu ... eu ... m-me desculpe ! Eu não queria trazer vocês até aqui ... digo, eu queria trazer vocês, mas eu não queria lhes fazer nenhum mal ! É que ... é que ... eu não agüentava mais ! Estar longe de vocês, sabendo que nunca mais iria vê-las, eu não podia agüentar isso ! Eu ... eu pensei que nunca mais iria ter amigas como vocês ! Você, Fuu ... vocês são as minhas melhores amigas, e eu não queria perdê-las ...eu ... eu ... me desculpe, Umi ... me desculpe, eu não queria te fazer nenhum mal ... eu ... eu sinto muito, eu só crio problemas para as pessoas, não sirvo pra nada . Achei que estaríamos felizes juntas, mas acabei causando mais problemas para todo mundo ...

A doce Hikaru, a ruiva baixinha, estava totalmente diferente do habitual . Havia se encolhido por completo, de forma que Umi mal podia ver seu rosto . Se pudesse, veria uma garotinha assustada e triste .

Por outro lado, Umi tentava afastar toda a confusão da cabeça para pensar sobre o que Hikaru havia dito e sobre o que ela mesma havia dito . Havia sido dura demais com ela . Haviam estudado juntas por um bom tempo, e sabia que esse era o jeito dela . Ela não fazia por mal, pelo contrário, se preocupava muito com as pessoas e, se preciso, era capaz de assumir sozinha a culpa de qualquer coisa, sem se preocupar com as conseqüências, se isso evitasse que suas amigas sofressem . Umi estava triste consigo mesma, pelo que havia falado . Havia jogado na cara de Hikaru toda a sua raiva momentânea, sem se preocupar com as conseqüências . Agora, havia ferido o coração de sua amiga . Sabia que Hikaru não a odiaria por isso, pelo contrário, culparia a si mesma por isso, mas não era isso que ela desejava . Ela desejava do fundo do coração que aquelas palavras nunca tivessem saído de sua boca . Queria falar com Hikaru, pedir desculpas a ela pelo que havia dito, mas não adiantava mais : o chão estava próximo . Que ironia do destino, encontrar Hikaru pela última vez num lugar daqueles .

Ela estica seu braço e puxa Hikaru para perto de si, abraçando .

- Shhh . Por favor, não diga nada . Eu só peço que me desculpe pelo que eu disse . Eu fiquei nervosa, foi isso . Todas nós sentimos a falta uma da outra . Me desculpe .

Ela abraçava Hikaru mais forte do que das outras vezes, tentando não soltá-la . De igual modo podia sentir as lágrimas de Hikaru em seu ombro . Mas sabia que não eram lágrimas de tristeza, e sim de alegria . Como havia previsto, Hikaru nunca a odiaria pelo que havia dito . Pena que esse "nunca" não seria muito longo ...

Amigas de ginásio ... amigas pela eternidade . Ontem, hoje, amanhã ... e SEMPRE !!!!!!!

Inesperadamente, um milagre acontece : sua velocidade vai diminuindo . As duas prestam pouca atenção a isso, uma vez que estavam preocupadas demais com aqueles momentos finais . No momentos, ainda não havia chegado a hora delas . Pois uma pessoa não permitiria isso . Uma pessoa que havia surgido naquele novo mundo alguns segundos depois delas, e havia se aproximado o bastante pra ouvir toda a conversa das duas . Uma pessoa que a principio achou que se tratava de um sonho, mas ao ver Hikaru encolhida como uma criança, havia mudado de idéia .

Uma pessoa que perdeu todas as dúvidas sobre o fato daquilo ser um sonho ou não, no momento em que olhou para as costa da mão esquerda, e viu uma pequena gema verde encrustrada nela ...

Uma pessoa que lembrou-se das últimas palavras daqueles que as ajudaram há tempos atrás . Uma pessoa que não duvidou do que tinha que fazer : proteger aqueles que eram mais importantes para ela .

Como num passe de mágica, uma corrente de vento ampara as três, diminuindo a velocidade com que se aproximavam do solo . Quando Umi e Hikaru abrem os olhos, haviam tocado o solo, em segurança ... com Fuu ao seu lado . A surpresa delas dura alguns segundos, uma vez que Fuu as abraça também .

Realmente, algo de estranho estava acontecendo . Algo muito perigoso . Muito provavelmente, um perigo maior do que todos os que elas enfrentaram anteriormente . Chances de sobrevivência ?

Melhor deixarmos isso para depois . No momento, nenhuma delas se preocupava com isso . Tampouco se importavam com o que viesse a acontecer em seguida . Nesse exato momento, para elas, a única coisa que importava ... era estarem ali, juntas . Por que, aonde quer que fossem ... ali estariam .

Que Giorvel se cuide . Aquelas jovens e belas guerreiras haviam chegado em uma terra mágica, trazendo uma magia poderosa, concedida pelos lendários guardiões de sua terra, e pelo seu guardião supremo : Rayearth .

* * * * * * * * * * * *

- Elas chegaram . Finalmente chegaram .

- Bom trabalho, Cléf . E você também , Caldina . Espero que dessa vez, ele seja ... algum problema ?

- E você ainda pergunta ?

- Seu marido será vingado . Sei que isso não o trará de volta, mas não há mais nada o que fazer .

- Não entendo como você não está achando essa situação vergonhosa . Primeiro, sequer conseguimos defender nossa terra . Segundo, tivemos que passar pela humilhação de pedir ajuda aos que mais foram prejudicados pelos nossos atos . Terceiro, tive que jogar contra o coração de uma criança para salvar meu mundo, e confesso que nunca me imaginei fazendo algo tão baixo .

- Não venha querer me julgar, Caldina . Eu conheço muito bem Giorvel . Não sou flor que se cheire, mas ele não é nenhum santo e, para derrotá-lo, todos os artifícios são válidos ....

* * * * * * * * * * * *

E falando no diabo ....

Aonde ele estava ? Isso realmente importa ? Bom, para os que realmente fazem questão, ele está inacessível no momento . Aonde ? Em um lugar onde nem em seu pesadelos mais sombrios você imaginaria . Mas isso não importa mesmo .

O que realmente importa, era o fato dele estar admirando seu novo brinquedinho . Parado em meio a escuridão total, um globo vermelho, o qual pulsava como um coração, era acariciado pelas mãos dele .

- Interessante . Muito interessante . Confesso que não esperava encontrar algo tão fascinante quanto você ...

Continua ...

Não percam !!!

- Oi, aqui é a Umi-chan ! E aí, quem é o tal que nós temos que enfrentar dessa vez ?

(Tléb) – Não o subestime, garota , pois ele é o mal encarnado !

(Hikaru) – Talvez, mas enquanto estivermos juntas, nada poderá nos vencer !

(Caldina) – Não entendo, como foi que você trouxe as três, se só conseguimos localizar uma delas, Cléf ?

(Cléf) – Acho melhor deixarmos isso para depois . Ele finalmente resolveu aparecer .

(Fuu) – É esse o motivo de seus pesadelos ? Ele parece assustador .

(Inóv) – O medo de Giorvel não vem de sua aparência, mas do que ele pode fazer . Cuidado !

(Umi) – É ? Mas ele não me assusta !

(Hikaru) – Hã, Umi-chan , não olhe agora, mas ...

(Fuu) - ... aquela pessoa não parece bastante familiar ?

(Umi) Como é que é ? Eu não te conheço ?

Não percam no próximo capítulo de RAYEARTH 3 - THE MOVIE :

"Como eu ainda não pensei em um título decente, vocês terão que esperar pelo próximo capítulo "

(Umi) – Escritor burro !

(Hikaru) – Umi, não diga isso ! Ele não tem culpa !

(Fuu) – Ela tem razão . O pobre coitado se esforça para escrever algo decente, e aguarda que as pessoas retornem dizendo o que acharam . Acho que não ter pensado no título do próximo capítulo não é tão grave assim .

(Umi) – Tanto escritor decente por ai, e a gente tinha que cair no teclado de um cara que sequer consegue pensar num título pra o próximo capítulo ?

(Hikaru) – Tudo bem, tudo bem ! Ele vai pensar em algo, não é, Lexas ?

(Lexas) – Hã ? E comigo ?

(Umi) – Mas é claro que é com você ! Quem mais poderia ser ?

(Lexas) – Essa garota tá a fim de arrumar um barraco comigo ...

(Umi) – Como ?

(Lexas) – Nada, não . Mas Hikaru, você não pode ficar prometendo as coisas no meu nome ! E seu eu não conseguir ?

Hikaru não emite uma palavra . No lugar dela, Umi saca seu florete e encosta na garganta de Lexas .

(Lexas) Glup ! Será que nós não ... espera um pouco, esse florete é de treinamento, não pode me ferir com ele !

Ele sente uma pressão no pescoço, e uma gota de sangue cai no chão .

(Umi) – Isso é um fanfic, baseado em um anime . Não me desafie . E vê se pensa num título decente para o próximo capítulo !

(Lexas) – Oh-oh ... nos vemos nos próximo capítulo ! Fim ! Quer fazer o favor de tirar esse troço do meu pescoço ?

(Umi) – Já pensou em um título ?

(Lexas) – Não .

(Umi) – Então ....