Seu Passado, Meu Presente, Nosso Futuro.

Por: Roberto, Lexas e WishMistress

Parte I – Alguma coisa não está no lugar certo...

Mais uma vez, ardia como o fogo. Não sabia explicar, não sabia o porque, mas sentia aquelas presenças. Interessante a semelhança delas com a de sua mãe, mas as semelhança paravam por ai, pois não tinham a menor comparação. Mas, mesmo assim, ela podia sentir algo estranho, algo... familiar, até. O que seria?

A resposta não veio da maneira que esperava, mas ela deixou passar. No momento, o que mais a preocupava era dormir. Não pelo cansaço, mas por puro medo. Medo de sonhar novamente com aquilo. Aquela cena... aquilo que havia interrompido seus sonhos nas últimas noites, aquilo...

Como sua mãe havia viajado, Amy havia ficado para tomar conta dela, mas agia mais como uma supervisora do que como uma babá, ao contrário do que Akira teimava em dizer. Provavelmente por causa do que ela passou quando tinha a mesma idade que ela. Pelo sim, pelo não, não era seguro uma moça passar a noite sozinha no templo. Não que a chance de algo acontecer fosse alta, mas ela não estava conseguindo dormir direito na casa de Amy, e a mesma permitiu que ela dormisse no templo se viesse visitá-la todos os dias e somente se alguém passasse a noite naquele mesmo local, de forma que Shin e Akira revezavam entre si. Quantas vezes ela havia acordado no meio da noite, suada, morrendo de medo? Aliás, por que alguém com o fator gene capaz de aquecer algo a ponto de transforma-lo em plasma vivo estaria suando? Bom, isso não importava muito naquela hora, mas já haviam ocorridos esses despertamentos noturnos, o que chamou a atenção de Akira e Shin. A principio Akira quis saber qual era o problema, se ela estava sentindo falta da mãe, se estava sentindo solitária - ele não é um amor? - mas não era isso. Não obstante, Shin quis saber sobre o seu sonho, sobre o que via nele. Ela lhes contou, mas ambos não entenderam. Akira esperava que fosse uma premonição sobre algum perigo - muito atento, por sinal. Deve ter estudado sobre esse dom raro que sua mãe possuía - mas a resposta não foi o que ele esperava. E todas as noites o sonho se repetia, a única coisa que mudava era o fato de que a cada noite era um dos garotos que vinha ver o que era o grito.
Mas como eles poderiam saber? Como eles poderiam se lembrar daquilo? Ela não os culpava. Principalmente por que havia ocorrido antes de... de...

Ela abaixa a cabeça, e algumas lágrimas escorrem por entre seus olhos só de pensar naqueles dias. Aqueles trágicos dias, em que sua casa, seu lar, fora destruído. Havia presenciado aquilo com seus próprios olhos e, não sendo o suficiente, eles ainda incendiaram o local.
Mediante isso, como esperar que eles se lembrem de fatos ocorridos pouco antes disso? Como esperar que eles se lembrem daquele ilustre desconhecido que a visitou, ou melhor, que estava caído diante de sua casa? Aquele estranho, de modos e atitudes estranhas, o qual parecia conhecer sua mãe... e, embora fosse mais novo do que ela, a mesma o tratara como se fossem velhos conhecidos. Dizia ser um conhecido de gerações passadas, segundo ele. Não importava. Independente disso, ela o havia socorrido em meio àquela chuva, na qual se ele ficasse mais um pouco, morreria. Ela o acolheu, cuidou de seus ferimentos, alimentou-o e cuidou dele até que ele se recupera-se, chegando a ficar quase um dia inteiro ao seu lado para ter certeza de que seu estado não iria se agravar.

Só agora lhe vinha a cabeça a dúvida sobre o por que simpatizara tanto com ele. Embora possuísse uma expressão um pouco quanto agressiva, sentia que ele não era realmente assim, que era apenas alguém que não tinha ninguém que o entendesse, ninguém que compartilhasse da sua maneira de pensar.

- Chaz....

Surpresa pelo que acabara de dizer, as memórias fervilham em sua mente. E o sonho volta a tona. Mas o que isso significava? Alegria ou tristeza? Graça ou tormenta? A cada noite, a cada sonho, ela via aquele homem, incapacitado, sendo agredido incansavelmente por uma besta assassina. Uma besta tomada pelo ódio, ira e rancor, como ela podia sentir. E, mesmo estando perto dele, ela não podia fazer nada, como nos outros sonhos, noite após noite, ela não podia fazer nada, apenas assistir aquele estranho sendo massacrado, noite após noite...

xxxx

- Hmmm.... muito estranho. Muito estranho mesmo.

Aquele era um dos poucos sábados que ela podia estar ali, desde que inaugurou sua clínica. Antes trabalhava apenas no hospital, sendo que perdera a conta das vezes em que ficou de plantão por mais tempo do que podia contar. No entanto, agora a coisa era diferente. Agora ela era dona de uma clínica, e as coisas seriam da maneira que ela quisesse.

A quem ela estava querendo enganar? Por mais que tentasse, ainda assim seria difícil sair da sombra de sua mãe. Por que ela tinha que fazer isso? Era simples, era uma coisa muito simples de se fazer. Apenas algumas palavras, apenas um simples "não", e tudo estaria resolvido. Mas desde quando ela conseguia dizer não para sua mãe? Mesmo tendo sua própria clinica, ela havia se reunido com alguns amigos e ambos fundaram uma nova clínica e, adivinhem só, a mesma não hesitou em transferir sua parte para ela, 45%, para ser mais exato, o que praticamente a tornava a dona, se ela não soubesse que as coisas não eram assim. Como recusar tal proposta? Havia negado a oferta de emprego anos atrás justamente por querer independência, mas fazer o que? Não podia simplesmente se desfazer desse presente, mesmo por que os papéis de posse já estavam prontos. É incrível como as coisas podem ser, alguns tem sorte, mas não a querem, como ela. Bom, o que esta feito, esta feito. Havia juntado um pouco de dinheiro e planejava abrir uma clinica, mas nada comparado com o que ela "ganhou" de presente. Bom, agora não dava para voltar atrás, ainda mais que já havia se passado algum tempo desde que ela assumiu o negócio. Quem sabe, um dia, ela não realizava o sonho de ter uma clinica somente dela ou, pelo menos, comprava a parte dos outros sócios?

Mas, saindo de suas divagações, ela prestava mais uma vez atenção nas palavras de Akira. Como ele havia crescido. Parece que foi ontem que ele estava do tamanho que Kinji e Anchitka tem agora. Por falar em Kinji, onde ele está? Ah, sim, lá está ele, assistindo TV, na outra extremidade do sofá, bem distante de Akira, enquanto que Anchitka estava com a cabeça encostada no colo de Akira, e este acariciava seus cabelos. Engraçado isso. Até parece que, quando Akira está aqui, Kinji para de implicar com Anchitka. Mas não é isso que acontece quando Shin está aqui, pelo contrário, ele fica até mais "elétrico", agitado, como se Akira não estivesse aqui. Por que será? E por que Akira está resmungando enquanto lê aquele jornal?

- O que foi, Akira?

- Hmm? Nada não, tia Amy - nós últimos dias, ele estava analisando pausadamente cada palavra antes que a mesma saísse de sua boca. Ou melhor, analisava cada palavra que sairia de sua boca direcionada para Amy. Não queria deixá-la mais preocupada do que estava. É verdade que desde que sua mãe e tia Rei viajaram nada de errada aconteceu, mas ele não queria vacilar num momento tão importante. Havia encontrado ela outro dia ajoelhada no chão de seu quarto, chorando, mas não pode fazer nada. Resolveu tirar satisfações com seu tio para descobrir o que aconteceu, mas ele não soube explicar. Sabendo ou não, ele não queria colocar mais um peso nas costas daquela mulher - andaram acontecendo alguns assaltos bem estranhos por aqui, veja.

Amy olha para o jornal, percebendo que, na foto do local do crime, estava algo que deveria ser o cofre do caixa eletrônico. Agora entendia o por que de Akira achar aquilo estranho: que tipo de pessoa arrancaria o caixa dessa forma, correndo o risco de disparar alarmes e colocar tudo por água abaixo. É verdade que no século passado e no começo deste haviam muitos assim, mas atualmente os assaltos a bancos são caracterizados mais por profissionais que desarmam o sistema de segurança, terminando seu serviço sem a menor preocupação.

- Alguma pista?

- Nada. Não usaram brocas, furadeiras, marretas... é como se ele tivesse sido puxado de lá, pura e simplesmente.

- Da mesma forma que puxávamos as fitas dos antigos aparelhos de videocassete...hmmm...no que está pensando, garotinho?

- Eu tenho um pressentimento quanto a isso. Supondo que não foi um assaltante comum, então podemos presumir que o cofre realmente foi puxado de lá... com a mão.

- Akira... o que foi que eu te disse sobre pensar bem antes de falar qualquer coisa? Teoricamente é impossível isso ter acontecido. A única pessoa que eu me lembre capaz de fazer isso além de você e sua mãe, seria aquela garota, como é que ela se chamava? Ah, sim, Naru... bom, acho que não preciso te lembrar o por que de termos que descartar essa hipótese, não é mesmo? E se me lembro bem, sua mãe te contou sobre a aliança com os youmas, se bem que eles não teriam muita utilidade para o dinheiro, fora o fato de que, alguém com força para tanto, acabaria deixando impressões digitais no cofre, não concorda?

- É, acho que a senhora tem razão...

- Deixa isso para lá, e continue vendo TV, que depois que eu terminar de lavar a louça nós quatro vamos ao parque, ok?

- Ok!

Ela se afasta, deixando um pensativo adolescente para trás. Céus, mais uma da qual ela conseguiu se livrar. Qual seria a próxima?

Sentado no sofá vendo TV, ele observa que a pequena Anchitka cochilava em seu colo, enquanto ele pensava sobre as pistas. Com apenas algumas palavras Amy havia praticamente descartado quase todas as suas possibilidades... todas, menos uma. O local do último assalto, estampado na capa do jornal, lhe era muito familiar.

Na noite anterior, resolvera pegar um atalho da casa de Amy para a sua. Embora ela estivesse tomando conta deles, ele ainda assim preferia dormir em sua casa, de forma que ela apenas "vistoriava" se ele estava se comportando. Mas a questão não era essa. Ontem a noite, no atalho, havia sentido algo estranho, algo que não sentia há tempo. Correu algum tempo na direção do que havia sentido, mas quando percebeu que o sinal estava ficando mais fraco até sumir, ele desistiu e tomou seu rumo. Sabia o que havia sentido, não havia dúvida alguma quanto a isso.

Tia Rei, okaasan... haviam algumas diferenças entre elas, é verdade, tanto na maneira de pensar, agir... e nos seus poderes. Não se referia ao nível, mas ao padrão. Já havia descoberto que o padrão de Megumi, embora sequer chegasse próximo, era muito similar ao de Rei, da mesma forma que o seu era bastante similar ao de sua mãe, mas a questão ainda não era essa. Como membros de uma elite guerreira, elas possuíam alguns traços em comum em seus poderes. Eram pequenos e difíceis de serem percebidos, mas ele percebeu.

A mesma coisa que havia sentido na noite anterior: Energia de Sailor. Não era suave como a de Amy, ou agressiva como a de Rei, mas era uma energia de Sailor, disso tinha certeza. Mas, se ele realmente estivesse certo, quem seria? De onde viera? O que estava fazendo ali? Era amiga ou inimiga?

Bom, se até agora tia Rei não entrou em contato, é por que ou foi impressão sua, ou então... então...

Ele não estava com muita vontade de pensar no então, naquele momento. Melhor deixar para outra hora.

xxxxxxx

- Hmm....

Estranho, muito estranho. Que dia era hoje?

Sábado, claro. Um dia para se descansar. Um dia para se pensar em várias coisas, como, por exemplo, o por que dele não ter insistido para ir com as outras nas viagens.

- Hmm, até que essa garota é bonitinha.

Elas tinham mesmo que deixá-los ali?

Que crueldade! O período letivo já havia terminado - aliás, vale lembrar que nunca mais teriam que pisar novamente naquela escola, já que haviam completado o ensino fundamental, não que odiasse aquele lugar, mas... - e eles estavam ali, parados, sem fazer nada! Um passeio, uma diversão...

Pensando bem, do que ele estava reclamando? Com todos os incidentes e confusões em que se meteu durante esse ano por causa de Akira e de Kinji, já era um prêmio estar vivo!

Que tédio...

Talvez fosse uma idéia ir até aquele lugar que Akira costumava freqüentar, como era mesmo o nome? O "Ginásio". Pena que, na única vez em que entrou lá, foi acompanhado de Akira. Mas por que ele ficou tão bravo só por que ele o derrotou? Já haviam lutado tantas vezes, e ele já o havia vencido antes. Certo, ele perdeu cento e poucos ienes, mas não parecia ser um motivo bom o suficiente para ficar furioso... uma centena de ienes? Ora, isso não é um absurdo!

Hmmm.... será que ele não estava se esquecendo de alguma coisa? Quantas lutas havia vencido, mesmo? Bom, isso não importava. Estava um dia incrivelmente tedioso, e ele poderia evitar isso, se ele e Megumi não tivessem ficados encarregados de fazerem as compras para a casa. Até ai, nada demais... mas como ela demorava!

Ele estava no inicio da escadaria, enquanto observava o topo do templo. Já havia subido até lá duas vezes, apenas para ouvir um básico "só um minuto", por parte dela. Mulheres... hunf!

- Ué, ela deu a volta no quarteirão?

- Shin?

- Hã? Ah, é você. Vamos?

- Vamos. Demorei muito?

- Que nada, mal senti o tempo passar. Vamos, antes que tia Amy nos mate.

A caminhada até o mercado do bairro até que não demora muito, visto que era próximo. Nos últimos anos, o bairro não havia mudado muito. Na verdade, com exceção do templo, nada havia mudado.

Ter um comércio local bem desenvolvido tinha suas vantagens. Como ele não dependia de apoio, tampouco era afetado pela concorrência e prejuízos de outros bairros, podia se dar ao luxo de oferecer boas promoções na maior parte do tempo.

Rápida e rasteira, ela havia passado bem perto dele, mal dando tempo dele raciocinar, só percebendo quando ela já estava longe.

- Deixe-me ver... as chaves, a lista... essa não, esqueci de um pequeno detalhe, Shin.

- Qual?

- O dinheiro!

- Pequeno? Como é que nós vamos comprar as coisas sem isso? Não tinha pego ontem com tia Amy?

- Eu... eu pensei que você havia pedido!!! - nesse exato instante, seus olhos estavam carregados, a ponto de derramarem uma cachoeira de lágrimas bem no meio da rua. Melhor tomar uma providência, e rápido.

- Tá bom, Tá bom! Vai fazendo as compras, enquanto eu corro até a casa dela e peço o dinheiro.

- Obrigada, Shin-chan!!!

Ela o agarra no meio da rua, tremenda era a sua gratidão. Mas o pior não era isso: ele odiava quando ela o chamava dessa forma...

Andando o mais rápido que podia, ele enxerga ao longe seu destino. Não precisava correr

- Megumi a essa altura estava separando as compras, dava tempo. Sem pressa.

- Hmmm... acho que estou me esquecendo de alguma coisa..

Tão logo ele coloca a mão no queixo para pensar no que era, uma pessoa passa bem perto dele, afastando-se depois, tão rápido quanto surgiu.

Cinco segundos depois, a ficha cai em seu cérebro, e ele nota um pequeno detalhe:

- Um deja vú?

Ele finalmente chega até a casa dela, apenas para constatar que a porta estava fechada. É então que ele se lembra de um pequeno detalhe, do principal motivo dele ter ficado encarregado das compras junto com Megumi... era iria passear naquela tarde. Estava cansada pela semana de trabalho, e Akira sugeriu que ela fosse dar uma volta no parque, já que seu tio estaria fazendo plantão naquele dia. Aliás, agora ele se lembrava de que fora sugestão do próprio Akira de que ele e Megumi fossem fazer as compras...

Isso não podia estar acontecendo! Onde estava sua chave? Onde? No templo!
Andando mais rápido ainda, ele rapidamente chega até a escadaria do templo. Realmente aquilo estava dando trabalho. Seria uma grande subida, ele pensava. Poderia ir saltando alguns degraus e chegar lá bem rápido... se não houvesse uma garota em frente à escadaria, observando a placa. Em outra ocasião ele pararia para prestar-lhe informação, mas nesse momento o que lhe faltava era tempo. E por que ela olhava tanto para a placa? Afinal, qualquer um saberia que o templo Eclipse era o antigo templo Hikawa, o qual foi reconstruído depois de um incêndio e mudou de nome.

Correndo como um louco e alcançando o fim da escadaria, ele corre mais rápido ainda e entra dentro do templo, revirando o cômodo no qual havia passado a noite anterior. Nada. Simplesmente nada. Droga!

Ele segue até o quarto de Megumi e, de maneira educada e cuidadosa, adentra no aposento, enquanto olha bem para todos os lados. Ele olha sobre a cama, a mesa, as gavetas, o chão... simplesmente nada. Megumi devia ter levado a chave.

Ele chega próximo aos degraus, observando parte da rua que se encontrava logo abaixo. Não havia ninguém lá. Um problema a menos.

Ele salta, cobrindo vários degraus no processo. Com sorte, ninguém o veria saltando as escadas, se bem que, quando reconstruiu esse lugar, bem que Rei poderia ter mudado a localização do templo, assim evitaria tem que subir tantas escadas! Gozado, só agora é que prestou mais atenção no nome do lugar. Templo Eclipse. Antigo Templo Hikawa mas, segundo Rei, "a chama se apagou quando a escuridão cobriu a luz do Sol mas, como um Eclipse, foi uma vitória temporária, e em seguida a luz dos céus venceu as Trevas da Terra."

Correndo desesperado pelas ruas, ele dobra a esquina e chega até a sua casa. E, em sua opinião mais humilde, a mais bonita do bairro. Bem arrumada, bem cuidada, possuía uma boa localização, um bom preço no mercado, a cor externa fora escolhida a dedo...
Mas deixando seus pensamentos de lado, ele entra no seu lar e procura desesperadamente pela bendita chave. Os quartos, a sala, a cozinha... simplesmente não estava ali! Como era possível?

- Ah, sim - ele se lembrava. O dia estava sendo muito cruel com ele - agora eu me lembro - e ele se odiava por essa súbita lembrança. Como podia ter esquecido o fato de que, como havia passado a noite no templo, havia emprestado sua chave da casa de Amy para Akira, o qual precisava fazer uma nova cópia, visto que havia perdido a sua. Droga. Droga. Droga.
Percepção não era exatamente a sua mais desenvolvida característica, mas ele também não era exatamente um mongol. Sendo assim, mesmo com a cortina do seu quarto fechada, ele consegue enxergar pelo vidro que havia alguém em frente a sua casa, observando-a. Ele desce e, quando chega até a rua, percebe que a pessoa não estava mais lá. Mas afinal, que diabos... Megumi!

Ele corre feito um louco até o supermercado. E agora, o que faria? No mínimo, a pobrezinha estava passando por um sufoco enorme, tendo que ouvir a bronca dada pelo gerente, o operador da caixa e meio mercado!

- Puf, puf... Megumi, cheguei!

Ao contrário do que ele pensava, não haviam filas enormes - e nem deveriam, já que mesmo sendo o único supermercado do bairro, era mais um local para se fazer um comprinha "básica" - tampouco ela estava na fila. Ele entra no estabelecimento, procurando-a. Um tempo depois, já havia rodado o bendito local três vezes, e nada de Megumi.

- Grande. E agora, o que mais falta?

Já te disseram que você fica lindo quando está nervoso?

Aquela voz... de onde tinha vindo? Direita ou esquerda? Ele olha para todos os lados, tentando procurar a origem, até que a ficha cai: Havia se esquecido por completo dos seus poderes.

Como foi esquecer esse pequeno detalhe? - se bem que o dia estava sendo péssimo - ela podia ter mantido contato mental com ele o tempo todo, poupando-lhe bastante trabalho. Sim, ela poderia.

Soltando os cachorros para todos os lados, ele se dirige até a saída, aonde encontra uma conhecida parada do lado de fora, sentado num banco. Ele aperta o passo, quando uma pessoa passa por ele chamando sua atenção. Tinha certeza que já tinha visto aquela garota antes. Com certeza era a mesma que vira próximo ao templo, que passou perto do supermercado, que encontrou quando ia até a casa de Amy, quando subiu a escadaria do templo, e quando olhou pela janela de sua casa.

Bom, isso não era tão importante assim.

- E aí, conseguiu?

- Que tal se discutíssemos sobre o por que de você nao ter me contatado?

- Ah, shin... não fica bravo comigo, por favor! Eu tinha me esquecido!

- Esqueceu dos próprios poderes?

- Vai me dizer que nunca se esqueceu dos seus?

- Bom... claro que não! E a gente acabou ficando sem comprar nada! Anda, me dá a chave da casa da tia amy!

- Ué, não a encontrou?

- Ela saiu para o parque, lembra? A casa estava fechada, eu procurei no templo e em casa, mas ai eu me lembrei que deixei com o Akira.

- Que coincidência. Ele também pediu a minha emprestada.

- Que ótimo... acho melhor jogarmos um balde de água fria nele para ver se ele acorda...

- Mas o que a gente vai fazer? Tia Amy vai ficar possessa quando chegar em casa e...

- Um problema de cada vez. Vamos até minha casa pegar um pouco do dinheiro que eu tenho. É pouco, mas deve dar para prepararmos o jantar.

- Nós?

- É isso para acalmá-la, ou a morte. Na volta passamos em uma quitanda e compramos algumas coisas. Vamos.

Quem disse que a idéia era ruim? Alguns legumes e verduras, e estava pronta uma sopa digna dos melhores cozinheiros franceses! Ok, não era essa a idéia deles, mas com o dinheiro que ele tinha - menos do que imaginava - não deu para comprar muita coisa. Uma vez que não havia mais nada para fazer, ele deixa Megumi- havia preparado a comida junto com ela, claro. Embora ela soubesse cozinhar, era muito arriscado deixá-la preparar a comida, mais especificamente, operar o fogão sem ninguém por perto. Ele sabia os problemas que isso podia lhe causar - e vai dar uma volta enquanto Amy não chega.

Estranho. Muito estranho. Sentado no banco da praça, ele observa as pessoas que passavam por ali. Muito estranho.

E lá estava ela, mais uma vez passando por ali. Não tão próxima dele, é verdade, mas estava passando.

Uma das vantagens daquela praça é que ela fica justamente no meio do bairro. Certo, não dava para enxergar todas as ruas dali, mas nela começavam as ruas principais, de modo que qualquer um que fosse de uma rua para outra, mas tivesse que cruzar uma das ruas principais no processo, tinha grande chance de ser vista por alguém com bons olhos. Era o caso dele. Aquela garota já havia passado por ali várias vezes. Duas? Sete? Quinze? De qualquer forma, ele logo percebeu que ela estivera dando voltas e mais voltas pelo bairro o dia inteiro, como se estivesse procurando por algo, mas o que? Era a mesma que havia esbarrado com ele antes, disso tinha certeza. Mas o que ela queria? Não morava no bairro, disso ele não duvidava, uma vez que morava ali há anos e nunca a havia visto antes.

Até que era bonita. Não era exatamente o seu tipo, mas era bonita... e por que ela parecia estranhamente familiar?

Bom, talvez isso não fosse tão grave assim, talvez ele estivesse ficando paranóico com tudo isso...

Ainda bem que Akira não estava aqui pois, se estivesse, iria inventar de seguir a garota para ver aonde ela ia e, por que não, catalogá-la com suspeita dos últimos assaltos que andaram acontecendo.

Agora que tocou no assunto, não escapou de sua cabeça o fato de que o último assalto ocorreu bem próximo dali... não, seria coincidência demais. Melhor gastar seu tempo útil pensando no que iria fazer nos próximos dias.

- Vejamos... ontem fui eu, hoje quem fica é o Akira, amanhã sou eu e segunda é o Akira quem fica no templo... acho que vou na praia... ou então convence-lo a me levar até aquele local de lutas para ver se consigo ganhar algum dinheiro... ai, ai, tia Amy vai me matar.

- Hmm... lá vem ela de novo. Será que ela não se cansa de ficar dando voltas pelo bairro?

xxxxx

Ela subiu os quatro lances de escada devagar, mas em um ritmo constante. O rapaz que descia elas e a cumprimentou com a cabeça devia ter imaginado que ela estava cansada, considerando que estava com uma expressão um pouco apática. Mas não era nada disso. Seria preciso muito mais que um dia ruim ou quatro lances de escada para deixa-la cansada.

Ela estava se sentindo um pouco derrotada, essa era a verdade. Mas agora também se sentia confusa e até um pouco perdida. Especialmente com o que tinha ocorrido naquela tarde.

Chegou defronte a porta do apartamento e precisou de uns momentos para conscientemente procurar pelas chaves para abrir a porta. Ainda não estava habituada com aquilo, sendo que sempre se flagrava tentando pegar o seu cartão de identificação.

Abriu a porta e entrou na pequena sala de estar. Estava arrumada e limpa, em nada se parecia com a bagunça de manhã quando tinha acordado, cheio de livros, revistas de eletrônicos, mapas da cidade espalhados pela mesinha, folhas de jornais nos sofás, pelo chão... ela realmente se superou em espalhar suas coisas por ali. E saiu bem cedinho, sem tempo de arrumar nada.

Seria uma mácula imperdoável em seu currículo de ser sempre impecável e organizada. Mas já fazia uma semana que ela não se incomodava com isso. Simplesmente teve de aceitar que na sua atual situação não tinha tempo para se organizar domesticamente.

Largou a bolsa na mesinha de centro e afundou-se no sofá com força, fazendo um barulho de ranger de madeira em sua estrutura. Sentia-se mesmo muito abatida. Abatida e praticamente encostada contra a parede. Desta vez, estava totalmente por conta própria. Não podia pedir ajuda para ninguém. Mesmo seus amigos que estavam presos ali com ela não podiam fazer muito além de dar apoio moral – e como ela ficava agradecida por isso – mas era só. Todo o resto estava nas suas mãos. Arranjar identidades, dinheiro, local para ficarem e finalmente emprego era muita coisa para se fazer em apenas três semanas.

E só ela sabia como fazer tudo aquilo.

Pelo menos algumas conseguiram emprego, mas ainda não era o bastante e nem tinham uma entrada regular no caixa deles. Isso seria só no fim da outra semana. Que droga!

Olhou para o jarro de vidro na estante que estavam usando como "cofre comunitário". Apenas um monte de moedas e poucas notas. Não ia durar mais do que dois dias e seus armários de mantimentos estavam praticamente vazios. Amanhã ficariam sem comida. Talvez tivessem ainda o bastante para algumas pizzas mas tinham nove bocas para alimentar. O dinheiro que conseguiram ontem só serviu para pagar a segunda e última parcela dos móveis de segunda mão que tinham comprado. É o que dá assaltar um caixa eletrônico pouco antes de ser reabastecido. Só tinha alguns trocados. Bom.. talvez ainda tivesse algo no outro apartamento. Ao menos não tinham muitos problemas com os aparelhos eletrônicos. Foi só ir a um dos "lixos" ali perto e pegar alguns em perfeitas condições. Diana até pegou um discman. Pena que não tinha CDs.()

() No Japão é comum as pessoas jogarem fora aparelhos em perfeitas condições, empilhando estes em alguns terrenos baldios pois do contrário não haveria lugar para os aparelhos novos que compram. ()

Hum! Que cheirinho gostoso! Joynah já devia ter feito o jantar. E ela estava com fome. Mas ainda sentia que seu corpo estava muito quente para isso. Ia ainda descansar um pouco mais antes de atacar aquela delícia – fosse qual fosse – que sua amiga devia ter feito. Lição de sua mamãe Amy: "Descanse antes de comer, coma com boa disposição e nunca saia correndo depois disto".

E ai de quem não deixar um pouco para ela...

- Oi Anne – disse a princesa entrando na sala de repente – deu tudo certo?

Ela a observou com os olhos cansados e pensou no que responder. Já estava prestes a dizer que tinha sido rejeitada em sua quarta tentativa de emprego quando notou um detalhe técnico. Olhou para os sofás, para a mesinha, até mesmo para o tapete no chão para ter certeza, mas ainda assim ficou com dúvida. Não estava prestando atenção nos seus sentidos, por isso não a tinha percebido ali.

- Eu... – começou ela – estou no apartamento certo?

- Sim – ela riu – eu é que vim fazer uma visita a vocês. E pela sua cara você não conseguiu, não é?

- Não – resmungou com certa raiva e desprezo. Desprezo de si mesma – não consegui. De novo disseram que realmente eu tenho aptidão mas preferem alguém com mais experiência. Uma forma nada educada de falarem que sou jovem demais. Droga, bosta, que merda! – desabafou dando um chute na mesinha que foi parar em cima da poltrona ao lado, e a sua bolsa que estava em cima desta fez uma pirueta e caiu no chão se abrindo e espalhando um pouco o seu conteúdo.

- Não fique assim – ela se sentou ao seu lado e segurou os seus ombros – você já fez muito. Dê um tempo para si mesma. Está tentando fazer tudo ao mesmo tempo, e nem mesmo você pode fazer isso. Talvez seja melhor nós procurarmos mesmo nossas famílias daqui...

- NÃO! – rugiu com um olhar incrivelmente ameaçador – não podemos. De jeito nenhum. Já discutimos isso e tomamos nossa decisão. Além disto tem mais coisas erradas do que apenas algumas construções fora de lugar e contexto. Bem mais. Enquanto não soubermos bem o que está mudado aqui não devemos entrar em contato com eles. Especialmente agora que parece ter também pessoas fora do lugar.

- Como assim?

- Deixa para lá princesa. Ainda preciso avaliar bem no que acabei esbarrando antes de comentar algo. Não quero que resolvam investigar e compliquem mais as coisas, pode ter sido uma mera suposição errada.

E como precisava avaliar aquilo. Como iria dizer que esta tarde sentiu a presença de Amy no parque junto com outras duas pessoas que ela nunca sentiu antes? E como explicar que estas presenças eram tão similares a da própria Amy?

- Tudo bem... vem, vamos comer. E aproveite e veja qual roupa você mais gosta antes de jogarmos o que sobrou em algum orfanato.

- Roupa?

- Esqueceu? Enquanto vocês foram no banco – ela deu uma ênfase toda especial àquela palavra - ontem nós assaltamos o shopping para repor as roupas que Diana queimou enquanto tentava seca-las. Allete aproveitou e trouxe uma máquina de lavar. Ou seja, também estou aqui para pegar a roupa suja de vocês.

- Ah... – uma semana antes ela teria dado uma bronca por terem roubado mais do que o mínimo necessário, mas não agora com toda a pressão que se auto impunha - ela devia trazer uma secadora. Assim Diana parava de tentar secar elas.

- E ela trouxe – sorriu – de pé minha amiga – a pegou pelas mãos e a puxou do sofá – levanta este ânimo, ligue um sorriso falso para enganar todo mundo e vamos comer e nos divertir um pouco experimentando estas roupas. Tem umas bem curtinhas que você vai adorar!

Usagi não mudava. Não importava o quanto estivessem em uma situação desesperadora ou complicada, ela sempre era a mesma.

Graças a Deus.

- Você está começando a se acostumar com isso... somos defensoras, não ladras.

- Estamos sem escolha no momento – retrucou ela – portanto vamos aproveitar o que for possível. E se continuar com essa birra não vou convida-la para jogar vídeo game.

- O que? – perguntou ela assustada – quem pegou isso?

- A Marina. Não se preocupe, ela pegou do mostruário.

Ela a empurrava em direção a cozinha onde sentia que estavam as outras. Concentrou-se um pouco mais e sentiu o resto de seus amigos no outro apartamento há sessenta metros de lá. Yokuto e Herochi estavam lá, provavelmente quebrando a cabeça para operar a máquina de lavar e secadora que tinham roubado ontem. Será possível que só Suzette conseguia entender as instruções das coisas daquele tempo?

Estranho ela encarar isso agora com tanta naturalidade. Roubar, assaltar. Tudo bem, ainda estavam sem escolha e teriam que continuar roubando mais algumas coisas. Mas acreditava que era algo imoral se acostumar com isso, por mais necessário que fosse. Será mesmo que sua mãe tinha razão? Podemos nos acostumar com qualquer hábito?

Esqueceu-se daquilo assim que entrou na pequena e quase apertada cozinha. Joynah, Suzette e Rita estavam lá ao redor da pequena mesa redonda desmontável jantando algo que ela adorava. Sashimi. E havia uma grande panela de Missô-shiro no centro da mesa. Estava com tanta fome que era melhor acalmar seu estômago antes de deixar sua cabeça quente.

- Nham! – estalou a língua – eu estou com fome!

- Sirva-se – disse Suzette – antes que a gente acabe com tudo.

Ela se sentou e pegou algumas porções. Como estavam com pouco dinheiro a maioria das mantimentos que compravam eram para sustentar bem – como peixe. E havia o toque especial de Joynah para aproveitar todos os restos com alguma sopa. Ainda assim estavam passando certas necessidades. Ter que conseguir tudo de uma só vez era uma tarefa hercúlea, não importando em que século se esteja. Moradia, móveis, roupas, calçados, documentos, dinheiro! O maldito e agora desejável dinheiro. E para nove pessoas de uma só vez. Era difícil mesmo.

- Estamos no vermelho de novo – disse ela após engolir a sexta porção – como vocês estão por lá?

- Um pouco piores – respondeu a princesa – apenas duzentos ienes e Allete acabou com toda a dispensa hoje fazendo um caldeirão de sopa. Pelo menos deve durar até segunda.

- E vocês só começam a receber no fim da semana que vem – comentou para as outras três sentadas a mesa – vamos ter que ir ao banco de novo. Há sim, Usagi – disse ela enfiando a mão no bolso da frente da apertada bermuda que usava – isso aqui é para o Yokuto.

Ela lhe entregou um papel timbrado.

- O que é isso?

- O protocolo para ele retirar a segunda via de seu certificado de reservista. Ontem a noite eu e Joynah conseguimos entrar na central de registros e sumir com cinco mil fichas. Agora vão ter de aceitar usar os dados dos computadores.

- Fizeram outro incêndio? – perguntou ela a encarando com certa preocupação.

- Não – respondeu Joynah – apenas pegamos o armário e o jogamos no mar. Vão pensar que o extraviaram quando mudaram de endereço há alguns meses. Com isso agora os dois podem abrir conta no banco e evita de termos de usar dinheiro cristalino para tudo.

- Dinheiro vivo, Joynah – corrigiu Anne – as gírias aqui são um pouco diferentes.

- A gente pega o jeito, não se preocupe – disse Rita sorrindo.

- De qualquer forma, precisamos de mais uma investida – continuou Anne.

- Não seria melhor simplesmente arrombarmos um supermercado e pegarmos esses mantimentos? – sugeriu Suzette - Pelo menos eu me sentiria menos culpada.

Ela pensou na sua sugestão por alguns momentos, mas logo percebeu que apenas iriam adiar as coisas.

- Não. Seria na verdade um pouco mais arriscado. Assaltar um caixa eletrônico é mais rápido e seguro que um depósito de supermercado pois estes tem várias câmeras  e são bem maiores, o que nos faria perder tempo em pegar o que queremos. E teriam mais pessoas envolvidas também. Além disso, vou precisar do dinheiro para comprar os caros materiais eletrônicos para montar alguma coisa que nos permita desativar os sensores de movimentos dos locais que ainda precisamos invadir para pegar mais informações. Bem como de alguns depósitos das indústrias que também teremos de assaltar para pegar equipamento digital. Não tem jeito – suspirou – vamos ter que fazer mais um assalto monetário. Pode deixar que eu me encarrego deste.

- Não senhora – contrapôs Joynah – é a minha vez, lembra? Você não vai carregar isso na consciência sozinha não. O próximo é aquele no Jubaan, certo?

- É... mas acho melhor pularmos este. Se cruzarmos com um de nossos futuros pais por ali...

- Eles não estão lá – disse Suzette – fiquei passeando lá o dia inteiro e não vi ninguém.

- E porque você foi até lá? – Anne franziu o cenho, demonstrando uma certa preocupação e ocultando uma irritação interior ainda maior.

- Bom, eu não tinha nada o que fazer mesmo além do que você nos disse na semana passada, sobre observar o que está diferente. Eu fui lá para ver se só o templo Hikawa realmente tinha mudado. Minha mãe tinha as fotos de como era o local em sua juventude, lembra? E eu me lembro um pouco destas. E confesso que tem muita coisa diferente daquelas imagens, apesar de ter reconhecido algumas ruas. Mas elas não estavam por lá. Se bem que tinha um garoto lá que me chamou a atenção. Especialmente porque cruzei com ele umas duas ou três vezes. Até cheguei a pensar que ele estava me perseguindo, ou eu o perseguia inconscientemente.

- Sua mãe ainda deve estar. Eu a senti no parque lá perto hoje.

- E como ela está? – ela ficou subitamente interessada.

- Eu não a vi, apenas a senti. Se bem que não sei explicar o motivo – ela não queria falar ainda que sentiu outros com ela – mas sua presença estava um pouco diferente. Acho que é porque ainda é muito jovem e não deve estar plenamente desenvolvida. Mas era muito marcante. Bom, vamos deixar este caixa de Jubaan para lá. Tem um perto daquele templo Eclipse. Acho que o local deve ficar bem tranqüilo a noite, como os outros. E Joynah, qualquer coisa, saia voando, certo?

- Certo – disse ela sorrindo - vou na segunda, já que amanhã por ser domingo é capaz de ter mais gente a noite perto de um templo.

Ao menos as coisas estavam andando. Não como gostaria, nem mesmo com a velocidade que esperava, mas estavam indo. Como amanhã não teria muita coisa para fazer além de procurar por mais revistas especializadas em eletrônica, talvez até pudesse relaxar um pouco assistindo televisão, embora não houvesse nenhum programa que tenha gostado ainda.

- Que tal passearmos um pouco amanhã? – disse Usagi – afinal é domingo e estamos sem um descanso há três semanas.

- Passear? - disse Anne de boca cheia – princesa, estamos quase que sem comida e você quer passear? Aonde?

- No parque – ela a olhou de lado e sorriu levemente – é de graça. Pelo menos você pode relaxar um pouco deitada na grama verde. Faz tempo que não fazemos um piquenique no parque.

- Não temos nada para um piquenique – chorou Rita – puxa... estou mesmo com saudades daquelas vezes que íamos no megaparque após os treinos...

- Foi só maneira de dizer Rita. Estamos todos bem tensos com os problemas. Já faz três dias que eu e o Yokuto não sentimos vontade de fazer nada na cama... OPA! – ela ficou levemente corada quando Suzette e Rita a encararam após ter dito isso.

- Tudo bem – disse Anne – vamos passear no parque amanhã.

- VIVA! – disse Rita a abraçando.

Mas não era nela que estava pensando quando concordou, mas sim neles, os seus amigos. Pelo menos assim poderiam ter algum descanso para a dura semana que iria começar. E ainda precisavam de dinheiro para pagar o aluguel dos dois apartamentos.

- E... – Usagi mostrou um papel que tinha em mãos e o estava balançando – acho que podemos até ter um "convidado" – Akira... hum! É bonito?

- EI! Me dá isso aqui!

Anne tentou alcançar o papel das suas mãos, mas ela foi mais rápida e saiu da cadeira para escapar dela. Anne não desistiu e continuou tentando pegar o papel de suas mãos.

- O que é isso? – perguntou Joynah olhando aquela perseguição com interesse.

- Se eu me lembro bem – respondeu a princesa dando pausas enquanto tentava deixar o papel fora do alcance de Anne. Coisa nada fácil alias – isso é um número de telefone. O que você andou aprontando?

- ME DÁ ISSO! – berrou ela conseguindo em uma esquiva pegar o seu pulso e retomar o papel. Como ela tinha pego... claro! Quando chutou a mesa e sua bolsa, voou o papel deve ter saído desta. Daí para a princesa pega-lo era uma mera questão de tempo.

- O que é um número de telefone? – perguntou Rita um pouco confusa.

- Rita! – reclamou Suzette - Não venha agir como a Diana. Isto é equivalente aos códigos de comunicação que temos no nosso tempo. Lembra de Anne nos explicando de como são as coisas aqui?

- Você conheceu um rapaz? – perguntou a agora esclarecida Rita para uma avermelhada Anne – aqui?

- E você duvida disto? – disse Usagi com os braços cruzados e olhando para Anne com um sorriso meio que de malandra – se no nosso tempo ela faz sucesso, aqui faz mais ainda. Especialmente do jeito que se veste.

- Nem tanto assim – disse ela encabulada – vocês também já devem ter passado por isso.

- Só a Diana – tornou a princesa – ela traz um papel destes quase todo dia. Ainda bem que não temos telefone ou a conta seria enorme!

- Temos outras prioridades para cuidar antes de coisas banais assim como sair com alguém – disse Anne colocando o papel no seu bolso.

- Até parece que você vai ter muita coisa para fazer amanhã – disse Joynah – não deve ter nenhuma revista de eletrônicos nova nestes bancos de jornais que você andou freqüentando.

- Bancas de jornais – corrigiu a ainda envergonhada moça de cabelos brancos – e não é apenas essa a questão – ela olhou para baixo, ficando subitamente amarga – não devemos nos envolver muito com as pessoas daqui. Quando voltarmos ao nosso tempo nunca  mais as veremos...

- Isso não me impediu de fazer amigos quando  eu fui ao passado e passei meses na casa de minha mãe – disse a princesa a encarando com clara reprovação. Não foi diferente de quando nos mudamos de cidade e perdemos contato com os amigos que fizemos. Para de se incomodar tanto com isso menina! Não tem problema algum em sair por ai sem compromisso. É só não se envolver demais, o que eu tenho certeza de que você consegue. E será bom você ter algo para se distrair para pelo menos ter algumas noites de sono sem essa sua insônia de preocupação. Só tome cuidado porque os homens desta época são bem mais interesseiros que os da nossa.

- Usagi...

- Sem conversa! Você vai ligar para ele amanhã e o convidar para se encontrarem no parque. Senão eu mesma faço isso.

- Ai droga... tá bom – desistiu ela.

Não sabia bem o porque de ter desistido de manter o seu ponto de vista. Dificilmente alguém conseguia demove-la de uma decisão.