A Herdeira dos Lestrange

Capítulo 03 – A Viagem pelo Expresso de Hogwarts

Angelina voltou para casa naquela tarde mais confusa do que quando saíra. O encontro com os Malfoys não fora proveitoso, sem contar o fato de que ela sabia que o senhor Malfoy sabia de algo sobre sua mãe mas não lhe contou.

A única coisa que desejava era cair na cama e esquecer de tudo aquilo, tinha que descansar afinal amanhã era o grande dia: sua ida para Hogwarts. Não que ela não quisesse, mas estava receosa, sentia como se aquele ano que se seguiria seria único e cheio de surpresas das quais ela não estava totalmente pronta para viver, mas fossem elas quais fossem não estavam se importando em invadir a vida da jovem Angelina Lestrange.

A primeira manhã de Setembro, uma manhã cinzenta. O tempo não se fazia muito convidativo a fazer qualquer pessoa sair da cama, mas Angelina era uma exceção a regra, às nove horas da manhã já estava de pé. Terminou de arrumar suas coisas e revisava tudo, não queria esquecer de nada. Foi quando Marie a chamou para tomar café que a jovem ficou menos nervosa.

- Bom dia Marie! – cumprimentou.

- Bom dia Angie. Dormiu bem?

- Não tão bem quanto eu desejava, mas foi o suficiente. Estou um tanto ansiosa, coisa anormal se relacionado a minha pessoa. – concluiu

- Realmente é anormal. Você não costuma ficar ansiosa com as coisas, mas talvez seja o fato de estar indo para um lugar desconhecido, com pessoas novas. – disse Nicholas que adentrava a cozinha.

- Bom dia Nicholas! – cumprimentou sorridente – É verdade. Acho que você deve ter razão! – preferiu encerrar a discussão por ali, não seria nada bom se dissesse que não dormira bem não só pela ansiedade mas porque sonhara novamente com o Lord Voldemort.

Após um reforçado café da manhã, Angie buscou suas coisas e desceu a sala para esperar pelos pais. O relógio marcava exatamente 10:15 quando a família deixou a casa.

O caminho até a estação King's Cross foi calmo, Angelina estava acostumada a andar de metrô, um meio de transporte trouxa e que com certeza era mais rápido que um carro.

A estação estava mais vazia que o normal para aquela época, via-se apenas pessoas atrasadas para o trabalho passarem correndo por entre as plataformas. Faltavam quinze minutos para as onze horas quando chegaram lá.

Nicholas ajudou Angelina com suas coisas e logo se aproximou da garota antes dessa atravessar a Plataforma 9 ¾ .

- Vá querida, espero que tenha um bom ano. Qualquer coisa mande-nos um coruja, nos vemos em breve. – e deu um beijo na testa da garota.

- Ah! E aqui está um pouco de dinheiro, se for pouco depois mandamos mais. – e Marie terminou dando um abraço na garota. Dentro da sacolinha de dinheiro viam-se muitos galeões reluzentes, alguns nunques e outros sicles. Angelina olhou e suspirou.

- Até mais então! – girou nos calcanhares e seguiu rumo a Plataforma 9 ¾ .

A estação King's Cross logo foi deixada para trás e de certa forma uma parte da vida de Angelina. Ela não sabia, mas uma nova linha em sua vida começava a ser traçada no instante em que pusera os pés no Expresso de Hogwarts.

Este por sua vez estava como o de costume. O movimento era grande, muitos alunos passavam pelos corredores. Primeiranistas se misturando aos sextanistas. Angelina procurou um lugar onde pudesse se instalar de forma a ficar sozinha sem que ninguém a perturbasse.

Passou por várias cabines até que em uma das últimas cabines do vagão não havia ninguém. Decidiu então que ficaria ali. Depositou a bolsa que carregava no banco e sentou-se próxima a janela.

O trem começava a andar, a Plataforma 9 ¾ começava a ficar difícil de se ver, a paisagem bucólica começava a se fazer mais forte. O trem andava rapidamente, e Angelina sentia espasmos de que sua vida estava sendo deixada para trás, pelo menos uma parte dela. Sentia-se um tanto confusa e insegura, o que também era incomum se tratando dela. Sempre fora autoconfiante, demais até por se dizer, tinha plena certeza de seus atos, mas desde de que soubera da sua transferência para Hogwarts andava inquieta. Pouco a pouco as imagens de sua rápida passagem pela mansão abandonada no dia anterior tomava sua mente. A chegada inesperada, a tapeçaria misteriosa, a árvore genealógica, o vazio em sua vida. Nesse instante sentiu o peito apertar e isso fez com que se lembrasse de sua também rápida conversa com o Sr. Malfoy. Ele sabia de algo e estava escondendo, e esconder algo de Angelina não era algo que a satisfazia, pelo contrário fazia seu sangue ferver em raiva

Foi desperta de seus devaneios ao ouvir sons como o de crianças chamando por socorro. Curiosidade tamanha era a sua, que se levantou e rumou ao corredor. Duas crianças estavam encurraladas a parede, sendo visivelmente ameaçadas por dois brutamontes da Sonserina, que mais tarde viera, a saber, que se tratava de Vincent Crabbe e Gregory Goyle. Aproximou-se da situação e sentiu os olhos cinzas brilharem em raiva. Outro espasmo de raiva, aquilo estava se tornando irritante.

- Que pensam que estão fazendo com estes primeiranistas? – ela indagou séria

- Não é da sua conta garota! – respondeu uma voz arrastada e que Angelina já conhecia, mas demorou a ligar as duas coisas, que surgia de dentro de uma das cabines próxima.

- Draco Malfoy? Muito me admira uma pessoa como você ameaçando criancinhas como essas? Pensei que seus alvos fossem aqueles que se opõe a Voldemort assim como o senhor seu pai. – ele disse num misto de sarcasmo e convicção. Depois que terminara é que percebera realmente o que falara. As palavras esvaíram dos seus lábios e quando se deu conta já havia dito. Mas vale acrescentar, não se arrependia "A vida não deve ser vivida de arrependimentos" – lembrou-se enquanto seus olhos, agora mais profundamente cinzas encaravam os olhos de Draco.

- Dobre a língua quando falar da minha família, sua sujeitinha sangu..... –

- Eu não sou sangue ruim Malfoy. Você sabe disso melhor do que eu – ela disse em tom ameaçador. Viu os olhos dele brilharem em ódio, viu também os punhos dos dois brutamontes se fecharem, era como se fossem atacar a garota a qualquer momento. Angelina percebeu isso e disse ironicamente. – Que vão fazer agora? Bater em mim? Podem vir, eu não tenho medo, mas duvido que vão conseguir dar um passo sem serem atingidos por um golpe que não saberão nem de onde veio. São lerdos demais para isso. – os alunos que estavam assistindo a cena seguraram o riso.

- Vamos Crabbe, Goyle. – Malfoy ordenou aos dois capangas. Instantaneamente surgiu um burburinho por entre as pessoas presentes no lugar. O assunto não poderia ser outro.

- É a primeira vez que vejo o Malfoy sair calado e humilhado. – comentou um garoto de cabelos vermelhos muito vivos.

- Isso é realmente incrível, ainda mais se tratando de que a pessoa que o humilhou foi uma completa desconhecida. – acrescentou o garoto de cabelos em desalinho, de profundos olhos verdes e uma conhecida cicatriz em forma de raio, que por alcunha era chamado de Harry Potter, o Menino-Que-Sobreviveu.

- Que acham de irmos lá falar com ela? – sugeriu uma terceira pessoa. Dessa vez uma garota de cabelos volumosos. Os amigos consentiram afirmativamente.

De volta ao seu vagão e muito contrariado, Malfoy esfregava as mãos freneticamente com muita raiva. O ódio ainda não desaparecera dos seus olhos, e seu rosto contorcia-se numa careta.

- Não crie inimizades com a jovem Lestrange, falou o meu pai. Ela pode ser uma grande aliada. – Draco completou girando os olhos nas órbitas como sugerindo algo nojento. – Como alguém pode ser aliada defendendo fracos e oprimidos assim? E não criar inimizades com a idiota. Realmente era só o que me faltava. – disse levantando uma sobrancelha. – Essa garota maldita ainda vai me pagar, não se fala assim com um Malfoy sem ficar ileso.

Angelina já de volta ao seu vagão contemplava a paisagem lá fora quando foi novamente incomodada por batidas na porta.

- Entre. – disse indiferente. Na porta estavam os três amigos. Harry Potter, Ron Weasley e Hermione Granger. – Sentem-se.

- Muito prazer. Eu sou Hermione Granger. E estes são meus amigos Ron Weasley e Harry Potter. – concluiu hesitante, sob o olhar da garota nova.

- O prazer é meu. – disse esboçando um tímido sorriso. Não queria ser indelicada, por mais que não estivesse em seu melhor estado de ânimo. – É uma honra poder conhecer o garoto que enfrentou Voldemort. – ao proferir a última palavra notou no tremor sentido por Hermione e pelo amigo de cabelos flamejantes. – Desculpe-me não tive a intenção. Esqueço que algumas pessoas não gostam de ouvir o nome "dele", mas receio que enquanto estiverem em minha companhia e enquanto estivermos falando sobre "ele" provavelmente irão ouvir apenas o nome "dele", e não esse jogo de "Você-Sabe-Quem". – naquele momento Harry sentiu-se imensamente feliz de poder falar com alguma pessoa que não fosse Dumbledore que não tivesse medo de falar o nome de Voldemort, mas nada disse a respeito.

- Você é nova não? Em que ano está? – indagou o jovem Weasley

- Estou no sexto ano. Imagino que vocês também estejam. – sorriu. – Sou nova sim, fui transferida.

- Se não se incomoda, posso perguntar de onde? – a garota do trio indagou

- Durmstrang. – Harry, Ron e Hermione hesitaram um instante, sabiam da fama que Durmstrang tinha em priorizar as artes das trevas e embora Angelina soubesse disso não se incomodou em dizer.

Mal sabia ela que o verdadeiro incômodo seria na hora em que revelaria seu sobrenome. Ela de fato não sabia que aquele nome podia causar tanto pavor nas pessoas, em especial a Harry Potter, já que no ano anterior teve uma das pessoas que mais gostava, morta por uma pessoa de mesmo sobrenome. Harry não sabia dizer se a garota tinha de fato algum parentesco com a Comensal que matara seu padrinho, e não estava se sentindo a vontade para perguntar, até porque se fosse mesmo verdade que tinha algum parentesco com a Comensal, a garota seria então parente de Sirius e conseqüentemente de Harry, mas aquilo estava se tornando muito confuso. Entrementes, Hermione e Ron não pareciam tão torturados assim pelo fato da garota ter dito seu nome. Era óbvio que sabiam o que aquilo poderia significar, mas de certa forma preferiam ignorar já que seria bastante incomum uma pessoa como um Lestrange ser "bom" a ponto de ajudar crianças e insultar um Malfoy.