Alguém para Amar
Nota: CCS é do grupo CLAMP!
Syaoran: Eu estou incluído nisso?
Eu: Infelizmente sim... :'(
Syaoran: Ahh...Tem certeza?? ;)
Eu: Kyaaa~~~~ XD
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Notas importantes para o 2º Cap:
1º A história se passa em um império de algum tempo ainda não definido, espero que esteja compreensível.
2º Os personagens estão bem fora do normal, como puderam perceber... alguns aspectos históricos estão também propositalmente diferentes...
3º Perdoem a falta de criatividade para nomes japoneses :P
4º Vou adotar a 'capital' como Edo (atual Tokyo).
5º Perdoem os eventuais erros, esse capítulo não teve tempo de ser revisado!
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Cap 2 – Traição em Família
Com a ajuda do lacaio, que acumulava a função de cavalariço quando a ocasião exigia (o que acontecia com frequência), Lady Sakura Kinomoto, condessa de Tomoeda, desmontou sua velha égua.
- Obrigada, Shin - disse, sorrindo com afeição para o idoso criado.
Naquele momento, a jovem condessa não se assemelhava sequer remotamente à imagem convencional de uma mulher da nobreza, ou mesmo à de uma dama da sociedade. Seus cabelos estavam cobertos por um lenço azul, amarrado no pescoço; o vestido era simples, sem adornos e até um pouco antiquado, e sob o braço carregava a cesta trançada que costumava levar quando ia às compras no vilarejo.
Porém nem mesmo o traje rústico, o velho cavalo ou a cesta debaixo do braço conseguiam fazer com que Sakura Kinomoto parecesse "comum". sob o lenço, os cabelos quase dourados e reluzentes caíam em luxuriante desordem sobre os ombros e costas; deixados soltos, como normalmente ficavam, emolduravam um rosto de beleza perfeita e surpreendente. As maçãs da face eram delicadamente moldadas, a pele suave e cheia de saúde, os lábios finos e, ao mesmo tempo, macios. Mas eram os olhos o traço mais admirável: emoldurados pelas sobrancelhas delicadas por cílios longos e curvos, eram vívidos, de uma cor verde luminosa. Não eram acastanhados ou esverdeados, mas verdes, expressivos, luzindo como esmeraldas quando ela estava feliz, ou ensombrecendo-se quando entristecia.
Esperançoso, o lacaio espiou o conteúdo da cesta, embrulhado em papel, mas Sakura balançou a cabeça com um sorriso pesaroso.
- Não vai encontrar nenhuma torta aí, Shin. Estavam caras demais e o Sr. Tomo não quis ser sensato. Eu disse que levaria uma dúzia, mesmo assim não abaixou sequer uma moeda de prata no preço. Por isso, recusei-me a comprar uma só que fosse. Por uma questão de princípios. Sabia - ela confidenciou com um risinho - que, quando ele me viu entrando no armazém, na semana passada, foi esconder-se atrás dos sacos de farinha?
- É um covarde! - Shin exclamou sorrindo. Era fato conhecido entre os comerciantes e lojistas que Sakura Kinomoto espremia o máximo de cada moeda e que quando se tratava de pechinchar no preço - o que sempre acontecia - era difícil alguém conseguir vencê-la.
Suas preocupações com dinheiro não se limitavam às compras no vilarejo; praticava a mesma economia em tudo o que se referia a Tomoeda, com métodos sempre bem-sucedidos. Aos dezenove anos, carregando sobre os jovens ombros o peso da responsabilidade da pequena propriedade de seus ancestrais e dos dezoito dos noventa antigos empregados, ela estava conseguindo realizar o quase impossível, contando com a limitada ajuda financeira do tio rabugento: manter Tomoeda longe do alcance do leiloeiro, além de alimentar e vestir os criados que haviam permanecido.
O único "luxo" a que Sakura se permitia era a srta. Sae Aikawa-Kyrou, sua dama de companhia havia muito tempo, agora recebendo um salário reduzido ao extremo. Embora Sakura se sentisse capaz de morar sozinha em Tomoeda, sabia que, se o fizesse, o pouco que restara de sua reputação se esvairia por completo.
Sakura entregou a cesta ao lacaio, dizendo animada:
- Em vez de tortas, comprei morangos. O sr. Saky é muito mais razoável que o sr. Tomo. Ele, sim, concorda que, quando uma pessoa compra mais do que uma unidade de qualquer coisa, o mais racional é que pague menos por isso.
Shin coçou a cabeça diante da opinião complicada demais para um homem simples, mas tentou fazer-se de entendido.
- É claro - concordou, levando o cavalo pela rédea. - Qualquer tolo pode entender uma coisa destas.
- É exatamente o que eu penso - disse Sakura, antes de virar-se e subir correndo a escada da frente, já decidida a ir trabalhar nos livros de contabilidade.
Tanaka, o velho mordomo de postura rígida e impecável, abriu-lhe a porta e, num tom de quem está prestes a explodir de alegria mas é digno demais para demonstrar, anunciou:
- A senhorita tem uma visita, srta. Sakura.
Por um ano e meio não houvera qualquer visitante em Tomoeda, e não era de se admirar que Sakura sentisse uma enorme sensação de prazer, logo em seguida de confusão. Não poderia ser mais um credor, pois ela os pagara a todos quando vendera os objetos mais valiosos de Tomoeda, bem como a maior parte da mobília.
- Quem é? - perguntou, entrando no vestíbulo e desamarrando o lenço.
Um sorriso iluminou o rosto de Tanaka.
- É Tomoyo Dai... isto é... Hiraguisawa - corrigiu-se ao lembrar que a visitante estava casada, agora.
A incredulidade mesclada com a alegria manteve Sakura imóvel por uma fração de segundo. Depois, virou-se e disparou na direção da sala de estar, correndo de maneira pouco condizente com uma dama enquanto tirava o lenço da cabeça. Parou abruptamente na porta, o lenço solto entre os dedos, os olhos fixos na linda jovem de cabelos longos que a esperava no centro da sala. Tomoyo, que usava um elegante traje de viagem vermelho, virou-se. As duas entreolharam-se e, ao mesmo tempo, foram abrindo os lábios num amplo sorriso.
- Tomoyo? É você mesmo? - A voz de Sakura mal passava de um sussurro repleto de admiração, espanto e pura alegria.
A jovem assentiu, seu sorriso alargando-se.
Ficaram observando-se por um momento, incertas, cada uma reparando nas grandes mudanças da outra no decorrer daquele ano e meio, cada uma imaginando, com uma ponta de apreensão, se tais mudanças haviam sido muito profundas. No silêncio da sala os laços da amizade de infância e a afeição duradoura começaram a se estreitar entre elas, forçando-as a dar um passo hesitante para a frente, depois outro e, de repente, ambas corriam para o esperado encontro num abraço apertado, rindo e chorando de alegria.
- Ah, Tomoyo, você está maravilhosa! Senti tanto sua falta! - Sakura ria, tornando a abraçá-la.
Para a sociedade, Tomoyo era duquesa, mas para Sakura era apenas a melhor amiga do mundo, a amiga que estivera afastada, numa longa viagem de lua-de-mel, e que provavelmente não ouvira falar sobre a terrível confusão em que Sakura se encontrava.
Levando-a para o sofá, Sakura deu início a uma torrente de perguntas:
- Quando voltou de viagem? Você está feliz? O que a traz aqui? Por quanto tempo pode ficar?
- Também senti saudades - Tomoyo falou, rindo, e começou a responder as perguntas na ordem em que haviam sido feitas: - Voltamos há duas semanas. Estou absurdamente feliz. Vim até aqui para vê-la, é claro, e posso ficar por alguns dias, se você quiser.
- É evidente que eu quero! - disse Sakura, feliz. - Não tenho nada planejado, exceto por hoje: estou esperando a visita de meu tio.
Na verdade, a agenda social de Sakura estava completamente vazia pelos doze meses seguintes, e as visitas ocasionais do tio representavam algo pior do que não ter nada a fazer. Porém nada daquilo importava agora. Sakura estava tão feliz em ver a amiga que não conseguia parar de sorrir.
Como costumavam fazer quando crianças, ambas tiraram os sapatos, cruzaram as pernas sob o corpo e passaram horas conversando com a fácil intimidade de almas gêmeas que, embora separadas pelo tempo, mantinham-se unidas eternamente pelas lembranças felizes, ternas e tristes da infância.
- Você se lembra - Sakura falou, rindo, quase duas horas depois - daquelas deliciosas brincadeiras, os campeonatos que costumávamos promover nas festas de aniversário da família de Megumi?
- Nunca vou me esquecer - Tomoyo concordou, sorrindo com as lembranças.
- Você sempre me derrubava da sela, quando tínhamos um torneio - disse Sakura.
- Sim, mas você ganhou todos os campeonatos de tiro. Pelo menos até que seus pais descobriram e decretaram que você já era crescida demais, ou refinada demais, para continuar freqüentando nossas festas. - Tomoyo ficou séria. - Sentimos muito sua falta depois disso.
- Não tanto quanto eu senti a de vocês. Sempre sabia os dias em que as competições iriam acontecer e ficava andando por aqui, desanimada, imaginando como vocês estariam se divertindo. Então Touya e eu decidimos começar nossos próprios campeonatos. Obrigávamos todos os criados a participar. - Sakura riu, recordando-se de si mesma e do meio-irmão naqueles dias distantes.
Depois de um momento, o sorriso de Tomoyo desapareceu.
- Onde está Touya? Você ainda não me falou sobre ele.
- Ele... - Sakura hesitou, sabendo que não poderia falar sobre o desaparecimento do irmão sem revelar todos os fatos que o precederam. Por outro lado, havia algo nos olhos de Tomoyo que a fez pensar, relutante, se a amiga já saberia de toda a horrível história. Num tom de voz distraído, completou: - Touya desapareceu há um ano e meio. Imagino que tenha algo a ver com... bem, com dívidas. Mas não vamos falar sobre isso - acrescentou, impaciente.
- Muito bem - Tomoyo concordou, o sorriso agora falsamente animado. - Então sobre o que vamos falar?
- De você - respondeu Sakura de pronto.
Tomoyo era mais velha que Sakura, e o tempo voou enquanto contava sobre o casamento e o marido, a quem obviamente adorava. Sakura ouvia com atenção todas as descrições dos maravilhosos lugares que a amiga conhecera por todo o mundo em sua viagem de lua-de-mel.
- Conte-me como está a capital - Sakura pediu quando o assunto sobre cidades estrangeiras se esgotou.
- O que quer saber?
Sakura inclinou-se para a frente para fazer as perguntas que mais lhe interessavam, porém, o orgulho a impediu de formulá-las.
- Ah... Nada em particular - mentiu. "Quero saber se meus amigos me ridicularizam, se me condenam ou, pior, se têm pena de mim", pensou. "Quero saber se correm rumores de que estou quase na miséria e, acima de tudo, por que ninguém se deu ao trabalho de me fazer uma visita ou escrever uma carta."
Um ano e meio atrás, quando debutara na sociedade, Sakura obtivera um sucesso instantâneo. Os pedidos de casamento alcançaram um número recorde. Agora, aos dezenove anos, era uma espécie de paria dessa mesma sociedade que antes a imitara, louvara e mimava. Ela havia quebrado suas regras e, com isso, tornara-se o foco de um escândalo que se alastrara pela cidade como um incêndio descontrolado.
Enquanto olhava para amiga, em dúvida, Sakura pensava se a sociedade sabia de toda a história ou apenas do escândalo; se ainda falava sobre o assunto ou se já havia sido esquecido. Tomoyo partira em sua viagem prolongada um pouco antes de tudo acontecer, e Sakura calculava se teria ouvido rumores desde seu retorno.
As perguntas martelavam em sua mente, desesperadas para serem formuladas, mas ela não podia arriscar-se, por dois motivos: em primeiro lugar, as respostas, quando viessem, poderiam fazê-la chorar, e ela não se entregaria às lágrimas. Em segundo, para fazer as perguntas que tanto queria, teria de primeiro informar à amiga de tudo o que acontecera. E a pura verdade era que Sakura se sentia solitária e magoada demais para correr o risco de ser abandonada também por Tomoyo.
- Que tipo de coisas você quer saber? - Tomoyo indagou com um sorriso propositadamente carinhoso preso aos lábios, um sorriso esboçado a fim de ocultar a pena e a tristeza que sentia por sua orgulhosa amiga.
- Qualquer coisa! - Sakura respondeu de imediato.
- Bem, então... - começou Tomoyo, ansiosa em apagar a sombra das dolorosas e mudas perguntas que pairavam no ar. - Lord Terada acabou de ficar noivo de Rika Tennou!
- Que bom, Sakura afirmou num tom de sincera felicidade. - Ele é muito rico e de uma das melhores famílias.
- É um conquistador inveterado e vai arrumar uma amante um mês depois de se casar - Tomoyo retrucou com a cruel objetividade que sempre chocava e deliciava sakura.
- Espero que esteja enganada.
- Não estou. Mas se você acha que sim, que tal fazermos uma aposta? - Tomoyo prosseguiu, tão contente em ver o brilho ressurgir nos olhos de Sakura, que falou sem pensar. - Digamos... cem moedas de ouro?
De repente, Sakura não pôde mais suportar o clima de incerteza. Precisava saber se fora a lealdade que levara Tomoyo até ali ou se a amiga ainda acreditava, erroneamente, que ela continuava sendo a jovem mais requisitada da capital. Encontrando os olhos de Tomoyo, falou com tranqüila dignidade:
- Eu não tenho cem moedas de ouro, Tomoyo.
Tomoyo retribuiu-lhe o olhar sombrio, tentando afastar as lágrimas de solidariedade.
- Eu sei - disse.
Sakura aprendera a lidar com a adversidade implacável, aprendera a esconder o medo mantendo a cabeça erguida. Agora, diante da bondade e lealdade da amiga, quase deu vazão às lágrimas que a tragédia não conseguira lhe arrancar. Mas conseguindo pronunciar a palavra, murmurou:
- Obrigada.
- Não há nada para agradecer. Fiquei sabendo de toda aquela história sórdida e não acredito em uma só palavra! Além disso, quero que você vá para a capital e passe uma temporada conosco. - Inclinando-se, Tomoyo tomou a mão da amiga entre as suas. - Em nome do seu amor-próprio, você tem que enfrentá-los, Sakura, e eu vou ajudá-la. Melhor ainda, vou convencer a avó de meu marido a favorecê-la com a influência que ela possui na sociedade. Acredite - finalizou com veemência, embora sorrisse -, ninguém se atreverá a ignorá-la se estiver contando com o apoio da condessa!
- Pare, Tomoyo, por favor. Você não sabe o que está dizendo. Mesmo se eu estivesse disposta, e não estou, ela jamais concordaria. Não a conheço, mas certamente a condessa sabe de tudo a meu respeito... Isto é, sabe o que as pessoas dizem sobre mim.
Tomoyo sustentou-lhe firmemente o olhar.
- Você está certa em uma coisa: ela soube dos rumores, quando eu estava viajando. Entretanto, conversei com ela sobre o assunto, e a condessa está disposta a encontrar-se com você e, depois disso, tomar uma decisão. Ela irá adorá-la tanto quanto eu a adoro, Sakura. E quando isso acontecer, moverá céus e terras para fazer com que a sociedade a aceite.
Sakura balançou a cabeça, engolindo em seco o nó que se formara em sua garganta, em parte por gratidão, em parte por humilhação.
- Eu agradeço muito, Tomoyo, mas não iria suportar.
- Pois eu já tomei a decisão - Tomoyo avisou-a com gentileza. - Meu marido respeita meu julgamento e não tenho duvidas de que irá concordar. E quanto aos vestidos para a temporada, tenho muitos que ainda nem usei e posso lhe emprestar.
- Não, absolutamente! Por favor, Tomoyo - implorou, percebendo o quão ingrata deveria estar se mostrando -, pelo menos deixe-me manter o mínimo de orgulho. Além disso, - acrescentou, com um leve sorriso -, minha sorte não é tão pouca como você deve estar pensando. Tenho você. E tenho Tomoeda.
- Eu sei. E sei também que você não pode passar o resto da vida aqui. Não precisa sair e freqüentar festas, quando estiver conosco, mas lá teremos chance de passar mais tempo juntas. Sinto muito sua falta.
- Você estará ocupada demais para isso - retrucou Sakura, lembrando-se do redemoinho de atividades frenéticas que marcavam a temporada.
- Nem tanto - disse Tomoyo, com um brilho misterioso nos olhos. - Estou esperando um bebê.
Sakura enlaçou a amiga num abraço apertado.
- Então eu irei! - concordou antes que pudesse pensar melhor. - Mas fico na casa do meu tio, se ele não for ocupá-la.
- Na minha casa - Tomoyo reafirmou energética.
- Veremos - Sakura tornou no mesmo tom. E acrescentou, encantada: - Um bebê!
- Com licença, Sra. Tomoyo - Tanaka as interrompeu e voltou-se para Sakura, hesitante. - Seu tio acabou de chegar - disse. - Quer falar com a senhorita imediatamente, no escritório.
Pensativa, Tomoyo olhou para o mordomo e, depois, para Sakura.
- Tomoeda me pareceu um pouco deserta, quando cheguei. - Quantos criados você tem aqui?
- Dezoito. Antes de Touya partir, eram quarenta e cinco, dos noventa que tínhamos antes, mas meu tio os dispensou. Disse que não precisávamos deles e, depois de examinar os livros contábeis, demonstrou que seria impossível arcarmos com as despesas da casa e comida para todos. De qualquer forma, dezoito permaneceram. - Olhou para Tanaka e sorriu, concluindo: - Eles passaram a vida toda em Tomoeda. Aqui também é a casa deles.
Levantando-se, Sakura afastou a apreensão que a invadia, um reflexo automático ante a perspectiva de um confronto com o tio.
- Não vou demorar - disse. - Tio Fujitaka não gosta de ficar aqui por mais tempo do que o estritamente necessário.
Tanaka abaixou-se para pegar a bandeja de chá, observando Sakura sair. Depois se voltou para a duquesa, que conhecera desde que era uma garotinha travessa.
- Com licença de Vossa graça - começou, formalmente, a face bondosa repleta de preocupação -, será que eu poderia lhe dizer o quanto estou feliz com sua presença, especialmente agora que o sr. Kinomoto acabou de chegar?
- Ora, obrigada, Tanaka. Fico muito contente em tornar a vê-lo também. Há algo de particularmente inoportuno na visita do sr. Kinomoto?
- Ao que parece, poderá haver. - Tanaka foi até a porta, espiou para fora, na direção do vestíbulo, e então voltou. - Nem Hisoka, que é o nosso cocheiro, e nem eu, gostamos do jeito do sr. Fujitaka hoje. E tem mais uma coisa - acrescentou, levantando a bandeja -, nenhum de nós permaneceu aqui por apego a Tomoeda. - Um rubor de embaraço coloriu-lhe as faces e a voz tornou-se embargada de emoção. - Ficamos por causa de nossa jovem patroa... Somos tudo o que restou a ela, a senhora entende.
O emocionado voto de lealdade fez os olhos de Tomoyo se encherem de lágrimas, mesmo antes de Tanaka acrescentar:
- Não podemos permitir que aquele tio dela a magoe, e isso é algo que ele sempre consegue fazer.
- Mas não há nenhuma maneira de detê-lo?
O mordomo endireitou o corpo e respondeu com dignidade:
- De minha parte, sou favorável a atirá-lo de alguma ponte. Hisoka, no entanto, acha melhor envenená-lo.
Havia raiva e frustração naquelas palavras, mas nenhuma ameaça verdadeira. Tomoyo respondeu com um sorriso conspiratório:
- Creio que prefiro o seu método, Tanaka. É bem mais higiênico.
Tomoyo fizera o comentário em tom de brincadeira, e a resposta de Tanaka foi uma reverência formal, mas quando trocaram um rápido olhar, ambos reconheceram a comunicação silenciosa que haviam partilhado. O mordomo a informara de que, se fosse necessária a ajuda dos criados em qualquer situação no futuro, a duquesa poderia contar com sua lealdade total e inquestionável. A resposta da duquesa o assegurara de que, longe de ressentir-se com sua intromissão, ela agradecia a informação e a guardaria para o caso de tal ocasião se apresentar.
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Fujitaka kinomoto levantou os olhos quando a sobrinha entrou no escritório, e estreitou-os, contrariado. Mesmo agora, sendo pouco mais que uma órfã empobrecida, havia uma graça real na postura de Sakura e um orgulho teimoso na maneira como empinava o queixo. Estava com dívidas até o pescoço e mergulhando mais fundo nelas a cada mês, mas continuava andando por aí com a cabeça erguida, exatamente como seu arrogante e irresponsável pai havia feito.
Aos trinta e cinco anos, o pai de Sakura morrera num acidente de barco, juntamente com a mãe dela, e por essa época já havia perdido no jogo uma parte substancial de sua herança e hipotecado, em segredo, as suas terras. Mesmo assim, continuara exibindo arrogância e vivendo, até o último dia, como um aristocrata privilegiado.
Sendo filho mais novo do conde de Tomoeda, Fujitaka não herdara título, riqueza ou terras substanciais, mas havia conseguido, às custas de infatigável trabalho, acumular uma fortuna razoável.
Após tantos sacrifícios, o destino ainda tramava contra ele, pois sua mulher era estéril. Para sua imensa amargura, descobriu que não teria um herdeiro de sua fortuna e suas terras - nenhum herdeiro, exceto o filho que Sakura gerasse depois de casada.
Agora, observando-a senta-se no lado oposto da escrivaninha, à sua frente, Fujitaka foi atingido pela ironia de tudo aquilo com uma força dolorosa e renovada: ele passara a vida inteira trabalhando e economizando... e tudo o que conseguira fora refazer a fortuna do futuro neto de seu inconseqüente irmão. E como se isso não bastasse para enfurecê-lo, também lhe sobrava a tarefa de limpar a sujeira que Touya, o meio-irmão de Sakura, deixara para trás quando desaparecera havia quase dois anos.
Como conseqüência, agora cabia a Fujitaka honrar as instruções que o pai de Sakura deixara por escrito, e providenciar para que ela casasse com um homem dono de um título e fortuna, se possível. Um mês atrás, quando iniciara sua busca por um marido adequado para a sobrinha, Fujitaka imaginara que a tarefa provasse ser bastante fácil. Afinal, quando Sakura surgiu na sociedade, um ano e meio atrás, sua beleza, a linhagem impecável e suposta riqueza haviam-lhe assegurado um recorde de quinze propostas de casamento em apenas quatro semanas.
Porém, para a surpresa de Fujitaka, apenas três dos noivos em potencial haviam enviado uma resposta afirmativa às suas cartas, e vários outros sequer se incomodaram em responder. Naturalmente, não era segredo que agora Sakura estava pobre, mas Fujitaka oferecera um dote respeitável a fim de ver-se livre da responsabilidade. Para ele, que enxergava tudo em termos de dinheiro, o valor do dote em si já era o bastante para torná-la desejável.
A voz de Sakura o despertou de seus devaneios sombrios.
- O que o senhor deseja conversar comigo, tio Fujitaka?
A animosidade, combinada com o ressentimento por imaginar um tom irritado na voz da sobrinha, o fez responder com mais brusquidão do que o normal.
- Vim aqui hoje para discutirmos o seu casamento.
- Meu... meu o quê? - ela ofegou, tão surpresa que a rígida máscara de dignidade caiu por um instante, fazendo-a parecer sentir-se como uma criança, enganada, assustada e presa numa armadilha.
- Creio que você ouviu muito bem. - Recostando-se na cadeira, Fujitaka acrescentou, no mesmo tom rude: - Selecionei três homens. Dois deles possuem títulos, o terceiro não. Uma vez que homens de nobreza eram essenciais para seu pai, eu escolherei aquele com mais alto grau, dentre os que fizerem a proposta de casamento. Isto é, presumindo-se que terei a chance de fazer tal escolha.
- Como... - Sakura fez uma pausa para reunir coragem, antes de completar a pergunta: - Como o senhor selecionou esses homens?
- Pedi a Sae os nomes daqueles que, na época de sua introdução à sociedade, chegaram a apresentar a Touya uma proposta de casamento. Ela me deu os nomes, e eu escrevi uma carta a cada um deles, afirmando o seu desejo, e o meu, como seu guardião, de reconsiderá-los como possíveis maridos.
Sakura agarrou-se aos braços da cadeira, tentando controlar seu horror.
- Quer dizer - falou, num murmúrio estrangulado - que o senhor fez um tipo de oferta pública da minha mão, a qualquer um desses homens que estivessem dispostos a me aceitar?
- Sim! - ele disparou, eriçando-se diante da acusação implícita de que não se comportava de maneira apropriada para sua própria ou mesmo com a dela. - Além disso, talvez seja bom que saiba que a legendária atração do sexo oposta por você aparentemente chegou ao fim. Apenas três, dentre os quinze pretendentes, demonstraram estar interessados em renovar o relacionamento com você.
Humilhada até as profundezas da alma, Sakura mantinha os olhos fixos na parede atrás dele.
- Não posso acreditar que o senhor tenha realmente feito isso.
Fujitaka bateu a mão sobre a mesa, com toda a força.
- Agi dentro dos meus direitos, sobrinha, e de acordo com as instruções específicas de seu irresponsável pai. Será que devo lembrá-la de que, quando eu morrer, é MEU dinheiro que será legado ao seu marido e, depois, ao seu filho? MEU dinheiro.
Durante meses Sakura tentara entender o tio e, em algum lugar de seu coração, compreendia a causa de toda aquela amargura, e até solidarizava-se com ele.
- Eu gostaria que o senhor tivesse sido abençoado com um filho - disse, com voz sufocada. - Mas não tenho culpa de que não tenha sido assim. Não lhe fiz nenhum mal, nunca lhe dei motivos para me odiar a ponto de fazer isso comigo... - Calou-se ao ver a expressão do tio endurecer diante do que ele julgava tratar-se de uma súplica. Ergueu a cabeça, reunindo o pouco que restava de sua dignidade. - Quem são esses homens?
- Sir Takuma Nobuhiko - ele respondeu, rápido.
Sakura encarou-o atônita e balançou a cabeça.
- Quando debutei, conheci centenas de pessoas, mas não me lembro deste nome.
- O segundo é Lord Akito Suzuhara, conde.
Novamente ela meneou a cabeça.
- O nome é vagamente familiar, mas não consigo relacioná-lo com um rosto.
Obviamente desapontado com aquela reação, Fujitaka falou, irritado:
- Parece que você tem péssima memória. Se não consegue se lembrar de um cavaleiro ou de um conde, duvido que possa lembrar-se de um mero senhor - juntou, com sarcasmo.
- Quem é o terceiro? - ela indagou, magoada com a ofensa gratuita.
- Sr. Syaoran Li. Ele é...
Aquele nome fez com que Sakura se levantasse de um pulo, enquanto uma onda de terror lhe passava pelo corpo inteiro.
- Syaoran Li! - gritou, apoiando-se com ambas as mãos na beirada da escrivaninha. - Syaoran Li! - repetiu, a voz erguendo-se ainda mais, num tom de raiva que beirava a histeria. - Meu tio, se Syaoran Li teve a idéia de casar-se comigo, foi diante da mira da espada de Touya! Seu interesse por mim nunca incluiu o casamento, e Touya duelou com ele justamente por causa de seu comportamento. Na verdade, Touya o acertou.
Em vez de ceder ou mostrar-se preocupado, Fujitaka limitou-se a olhá-la com fria indiferença. Sakura insistiu, enfática:
- O senhor está entendendo?
- O que eu entendo - ele entendeu, ruborizando - é que Syaoran Li enviou uma resposta afirmativa à minha carta, e, apesar de ser chinês, foi bastante cordial. Talvez esteja arrependido de seu comportamento no passado e desejoso de corrigir-se.
- Corrigir-se! - repetiu Sakura. - Não faço idéia se ele sente ódio ou apenas desprezo por mim, mas posso assegurar-lhe de que não vai, ou nunca desejou, casar comigo! É por causa dele que não posso mais aparecer na sociedade!
- Na minha opinião, você está bem melhor assim, longe da influência decadente daquela gente da capital. Mas este não é o ponto. Syaoran Li aceitou meus termos.
- Que termos?
Já se acostumando com a reação nervosa de Sakura, Fujitaka respondeu, distraído:
- Cada um doa três candidatos concordou em recebê-la para uma breve visita, a fim de permitir que você decida qual deles será o mais adequado. Sae irá com você, como dama de companhia. Deve partir em cinco dias, dirigindo-se primeiro à casa de Nobuhiko, depois de Suzuhara e, por fim, de Li.
A sala girava diante dos olhos de Sakura.
- Não posso Acreditar! - explodiu ela e, em desespero, agarrou-se a última esperança: - Sae saiu de férias, as primeiras em muitos anos! Está no norte, visitando a irmã.
- Então leve Kotoe no lugar dela, e avise Sae para encontrar-se com você quando for para casa de Li, no norte.
- Kotoe? Mas Kotoe é apenas uma criada! Minha reputação ficará em pedaços, se eu passar uma semana na casa de um homem acompanhada de uma simples criada em vez de uma dama de companhia.
- Pois não diga a ninguém que ela é uma criada - Fujitaka disparou. - Já que na carta eu me referi a Sae Aikawa-Kyrou como sua dama de companhia, você pode apresentar Kotoe como sua tia. Sem mais objeções, senhorita - concluiu. - O assunto está encerrado. Era tudo o que tínhamos a tratar, no momento. Pode se retirar.
- Não está encerrado! Deve ter havido algum engano terrível, estou lhe dizendo! Syaoran Li jamais iria querer tornar a me ver, menos ainda do que EU quero tornar a vê-lo!
- Não há engano algum - Fujitaka informou, finalizando a discussão. - Syaoran Li recebeu minha carta e aceitou a oferta. Até enviou instruções de como chegar à casa dele no sul.
- A oferta foi SUA - Sakura gritou. - Não minha!
- Não vou mais discutir estes pequenos detalhes com você, Sakura. A conversa está encerrada.
~~~ Continua...
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Mas esse tio da Sakura ninguém merece... que raiva dele _
Nos próximos capítulos, a explicação de toda essa confusão envolvendo Sakura e Li... *__*
Olá família! Espero que estejam gostando do fic!! Muito obrigada às pessoas que postaram no primeiro capítulo: Hime, Violet-Tomoyo, Dallyla, Anna Li Kinomoto, Merry-Anne, Madam Spooky,
Agradecimento especial para Calerom, que corrigiu a escrita do nome de "Nobuhiko" e deu dicas super legais ^_^v
Merry, muito obrigada por se oferecer para revisar meu fic ^_^ Esse capítulo não deu tempo, mas eu envio os outros pra você!!
JA NE!!
*Shaiene-chan*
Nota: CCS é do grupo CLAMP!
Syaoran: Eu estou incluído nisso?
Eu: Infelizmente sim... :'(
Syaoran: Ahh...Tem certeza?? ;)
Eu: Kyaaa~~~~ XD
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Notas importantes para o 2º Cap:
1º A história se passa em um império de algum tempo ainda não definido, espero que esteja compreensível.
2º Os personagens estão bem fora do normal, como puderam perceber... alguns aspectos históricos estão também propositalmente diferentes...
3º Perdoem a falta de criatividade para nomes japoneses :P
4º Vou adotar a 'capital' como Edo (atual Tokyo).
5º Perdoem os eventuais erros, esse capítulo não teve tempo de ser revisado!
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Cap 2 – Traição em Família
Com a ajuda do lacaio, que acumulava a função de cavalariço quando a ocasião exigia (o que acontecia com frequência), Lady Sakura Kinomoto, condessa de Tomoeda, desmontou sua velha égua.
- Obrigada, Shin - disse, sorrindo com afeição para o idoso criado.
Naquele momento, a jovem condessa não se assemelhava sequer remotamente à imagem convencional de uma mulher da nobreza, ou mesmo à de uma dama da sociedade. Seus cabelos estavam cobertos por um lenço azul, amarrado no pescoço; o vestido era simples, sem adornos e até um pouco antiquado, e sob o braço carregava a cesta trançada que costumava levar quando ia às compras no vilarejo.
Porém nem mesmo o traje rústico, o velho cavalo ou a cesta debaixo do braço conseguiam fazer com que Sakura Kinomoto parecesse "comum". sob o lenço, os cabelos quase dourados e reluzentes caíam em luxuriante desordem sobre os ombros e costas; deixados soltos, como normalmente ficavam, emolduravam um rosto de beleza perfeita e surpreendente. As maçãs da face eram delicadamente moldadas, a pele suave e cheia de saúde, os lábios finos e, ao mesmo tempo, macios. Mas eram os olhos o traço mais admirável: emoldurados pelas sobrancelhas delicadas por cílios longos e curvos, eram vívidos, de uma cor verde luminosa. Não eram acastanhados ou esverdeados, mas verdes, expressivos, luzindo como esmeraldas quando ela estava feliz, ou ensombrecendo-se quando entristecia.
Esperançoso, o lacaio espiou o conteúdo da cesta, embrulhado em papel, mas Sakura balançou a cabeça com um sorriso pesaroso.
- Não vai encontrar nenhuma torta aí, Shin. Estavam caras demais e o Sr. Tomo não quis ser sensato. Eu disse que levaria uma dúzia, mesmo assim não abaixou sequer uma moeda de prata no preço. Por isso, recusei-me a comprar uma só que fosse. Por uma questão de princípios. Sabia - ela confidenciou com um risinho - que, quando ele me viu entrando no armazém, na semana passada, foi esconder-se atrás dos sacos de farinha?
- É um covarde! - Shin exclamou sorrindo. Era fato conhecido entre os comerciantes e lojistas que Sakura Kinomoto espremia o máximo de cada moeda e que quando se tratava de pechinchar no preço - o que sempre acontecia - era difícil alguém conseguir vencê-la.
Suas preocupações com dinheiro não se limitavam às compras no vilarejo; praticava a mesma economia em tudo o que se referia a Tomoeda, com métodos sempre bem-sucedidos. Aos dezenove anos, carregando sobre os jovens ombros o peso da responsabilidade da pequena propriedade de seus ancestrais e dos dezoito dos noventa antigos empregados, ela estava conseguindo realizar o quase impossível, contando com a limitada ajuda financeira do tio rabugento: manter Tomoeda longe do alcance do leiloeiro, além de alimentar e vestir os criados que haviam permanecido.
O único "luxo" a que Sakura se permitia era a srta. Sae Aikawa-Kyrou, sua dama de companhia havia muito tempo, agora recebendo um salário reduzido ao extremo. Embora Sakura se sentisse capaz de morar sozinha em Tomoeda, sabia que, se o fizesse, o pouco que restara de sua reputação se esvairia por completo.
Sakura entregou a cesta ao lacaio, dizendo animada:
- Em vez de tortas, comprei morangos. O sr. Saky é muito mais razoável que o sr. Tomo. Ele, sim, concorda que, quando uma pessoa compra mais do que uma unidade de qualquer coisa, o mais racional é que pague menos por isso.
Shin coçou a cabeça diante da opinião complicada demais para um homem simples, mas tentou fazer-se de entendido.
- É claro - concordou, levando o cavalo pela rédea. - Qualquer tolo pode entender uma coisa destas.
- É exatamente o que eu penso - disse Sakura, antes de virar-se e subir correndo a escada da frente, já decidida a ir trabalhar nos livros de contabilidade.
Tanaka, o velho mordomo de postura rígida e impecável, abriu-lhe a porta e, num tom de quem está prestes a explodir de alegria mas é digno demais para demonstrar, anunciou:
- A senhorita tem uma visita, srta. Sakura.
Por um ano e meio não houvera qualquer visitante em Tomoeda, e não era de se admirar que Sakura sentisse uma enorme sensação de prazer, logo em seguida de confusão. Não poderia ser mais um credor, pois ela os pagara a todos quando vendera os objetos mais valiosos de Tomoeda, bem como a maior parte da mobília.
- Quem é? - perguntou, entrando no vestíbulo e desamarrando o lenço.
Um sorriso iluminou o rosto de Tanaka.
- É Tomoyo Dai... isto é... Hiraguisawa - corrigiu-se ao lembrar que a visitante estava casada, agora.
A incredulidade mesclada com a alegria manteve Sakura imóvel por uma fração de segundo. Depois, virou-se e disparou na direção da sala de estar, correndo de maneira pouco condizente com uma dama enquanto tirava o lenço da cabeça. Parou abruptamente na porta, o lenço solto entre os dedos, os olhos fixos na linda jovem de cabelos longos que a esperava no centro da sala. Tomoyo, que usava um elegante traje de viagem vermelho, virou-se. As duas entreolharam-se e, ao mesmo tempo, foram abrindo os lábios num amplo sorriso.
- Tomoyo? É você mesmo? - A voz de Sakura mal passava de um sussurro repleto de admiração, espanto e pura alegria.
A jovem assentiu, seu sorriso alargando-se.
Ficaram observando-se por um momento, incertas, cada uma reparando nas grandes mudanças da outra no decorrer daquele ano e meio, cada uma imaginando, com uma ponta de apreensão, se tais mudanças haviam sido muito profundas. No silêncio da sala os laços da amizade de infância e a afeição duradoura começaram a se estreitar entre elas, forçando-as a dar um passo hesitante para a frente, depois outro e, de repente, ambas corriam para o esperado encontro num abraço apertado, rindo e chorando de alegria.
- Ah, Tomoyo, você está maravilhosa! Senti tanto sua falta! - Sakura ria, tornando a abraçá-la.
Para a sociedade, Tomoyo era duquesa, mas para Sakura era apenas a melhor amiga do mundo, a amiga que estivera afastada, numa longa viagem de lua-de-mel, e que provavelmente não ouvira falar sobre a terrível confusão em que Sakura se encontrava.
Levando-a para o sofá, Sakura deu início a uma torrente de perguntas:
- Quando voltou de viagem? Você está feliz? O que a traz aqui? Por quanto tempo pode ficar?
- Também senti saudades - Tomoyo falou, rindo, e começou a responder as perguntas na ordem em que haviam sido feitas: - Voltamos há duas semanas. Estou absurdamente feliz. Vim até aqui para vê-la, é claro, e posso ficar por alguns dias, se você quiser.
- É evidente que eu quero! - disse Sakura, feliz. - Não tenho nada planejado, exceto por hoje: estou esperando a visita de meu tio.
Na verdade, a agenda social de Sakura estava completamente vazia pelos doze meses seguintes, e as visitas ocasionais do tio representavam algo pior do que não ter nada a fazer. Porém nada daquilo importava agora. Sakura estava tão feliz em ver a amiga que não conseguia parar de sorrir.
Como costumavam fazer quando crianças, ambas tiraram os sapatos, cruzaram as pernas sob o corpo e passaram horas conversando com a fácil intimidade de almas gêmeas que, embora separadas pelo tempo, mantinham-se unidas eternamente pelas lembranças felizes, ternas e tristes da infância.
- Você se lembra - Sakura falou, rindo, quase duas horas depois - daquelas deliciosas brincadeiras, os campeonatos que costumávamos promover nas festas de aniversário da família de Megumi?
- Nunca vou me esquecer - Tomoyo concordou, sorrindo com as lembranças.
- Você sempre me derrubava da sela, quando tínhamos um torneio - disse Sakura.
- Sim, mas você ganhou todos os campeonatos de tiro. Pelo menos até que seus pais descobriram e decretaram que você já era crescida demais, ou refinada demais, para continuar freqüentando nossas festas. - Tomoyo ficou séria. - Sentimos muito sua falta depois disso.
- Não tanto quanto eu senti a de vocês. Sempre sabia os dias em que as competições iriam acontecer e ficava andando por aqui, desanimada, imaginando como vocês estariam se divertindo. Então Touya e eu decidimos começar nossos próprios campeonatos. Obrigávamos todos os criados a participar. - Sakura riu, recordando-se de si mesma e do meio-irmão naqueles dias distantes.
Depois de um momento, o sorriso de Tomoyo desapareceu.
- Onde está Touya? Você ainda não me falou sobre ele.
- Ele... - Sakura hesitou, sabendo que não poderia falar sobre o desaparecimento do irmão sem revelar todos os fatos que o precederam. Por outro lado, havia algo nos olhos de Tomoyo que a fez pensar, relutante, se a amiga já saberia de toda a horrível história. Num tom de voz distraído, completou: - Touya desapareceu há um ano e meio. Imagino que tenha algo a ver com... bem, com dívidas. Mas não vamos falar sobre isso - acrescentou, impaciente.
- Muito bem - Tomoyo concordou, o sorriso agora falsamente animado. - Então sobre o que vamos falar?
- De você - respondeu Sakura de pronto.
Tomoyo era mais velha que Sakura, e o tempo voou enquanto contava sobre o casamento e o marido, a quem obviamente adorava. Sakura ouvia com atenção todas as descrições dos maravilhosos lugares que a amiga conhecera por todo o mundo em sua viagem de lua-de-mel.
- Conte-me como está a capital - Sakura pediu quando o assunto sobre cidades estrangeiras se esgotou.
- O que quer saber?
Sakura inclinou-se para a frente para fazer as perguntas que mais lhe interessavam, porém, o orgulho a impediu de formulá-las.
- Ah... Nada em particular - mentiu. "Quero saber se meus amigos me ridicularizam, se me condenam ou, pior, se têm pena de mim", pensou. "Quero saber se correm rumores de que estou quase na miséria e, acima de tudo, por que ninguém se deu ao trabalho de me fazer uma visita ou escrever uma carta."
Um ano e meio atrás, quando debutara na sociedade, Sakura obtivera um sucesso instantâneo. Os pedidos de casamento alcançaram um número recorde. Agora, aos dezenove anos, era uma espécie de paria dessa mesma sociedade que antes a imitara, louvara e mimava. Ela havia quebrado suas regras e, com isso, tornara-se o foco de um escândalo que se alastrara pela cidade como um incêndio descontrolado.
Enquanto olhava para amiga, em dúvida, Sakura pensava se a sociedade sabia de toda a história ou apenas do escândalo; se ainda falava sobre o assunto ou se já havia sido esquecido. Tomoyo partira em sua viagem prolongada um pouco antes de tudo acontecer, e Sakura calculava se teria ouvido rumores desde seu retorno.
As perguntas martelavam em sua mente, desesperadas para serem formuladas, mas ela não podia arriscar-se, por dois motivos: em primeiro lugar, as respostas, quando viessem, poderiam fazê-la chorar, e ela não se entregaria às lágrimas. Em segundo, para fazer as perguntas que tanto queria, teria de primeiro informar à amiga de tudo o que acontecera. E a pura verdade era que Sakura se sentia solitária e magoada demais para correr o risco de ser abandonada também por Tomoyo.
- Que tipo de coisas você quer saber? - Tomoyo indagou com um sorriso propositadamente carinhoso preso aos lábios, um sorriso esboçado a fim de ocultar a pena e a tristeza que sentia por sua orgulhosa amiga.
- Qualquer coisa! - Sakura respondeu de imediato.
- Bem, então... - começou Tomoyo, ansiosa em apagar a sombra das dolorosas e mudas perguntas que pairavam no ar. - Lord Terada acabou de ficar noivo de Rika Tennou!
- Que bom, Sakura afirmou num tom de sincera felicidade. - Ele é muito rico e de uma das melhores famílias.
- É um conquistador inveterado e vai arrumar uma amante um mês depois de se casar - Tomoyo retrucou com a cruel objetividade que sempre chocava e deliciava sakura.
- Espero que esteja enganada.
- Não estou. Mas se você acha que sim, que tal fazermos uma aposta? - Tomoyo prosseguiu, tão contente em ver o brilho ressurgir nos olhos de Sakura, que falou sem pensar. - Digamos... cem moedas de ouro?
De repente, Sakura não pôde mais suportar o clima de incerteza. Precisava saber se fora a lealdade que levara Tomoyo até ali ou se a amiga ainda acreditava, erroneamente, que ela continuava sendo a jovem mais requisitada da capital. Encontrando os olhos de Tomoyo, falou com tranqüila dignidade:
- Eu não tenho cem moedas de ouro, Tomoyo.
Tomoyo retribuiu-lhe o olhar sombrio, tentando afastar as lágrimas de solidariedade.
- Eu sei - disse.
Sakura aprendera a lidar com a adversidade implacável, aprendera a esconder o medo mantendo a cabeça erguida. Agora, diante da bondade e lealdade da amiga, quase deu vazão às lágrimas que a tragédia não conseguira lhe arrancar. Mas conseguindo pronunciar a palavra, murmurou:
- Obrigada.
- Não há nada para agradecer. Fiquei sabendo de toda aquela história sórdida e não acredito em uma só palavra! Além disso, quero que você vá para a capital e passe uma temporada conosco. - Inclinando-se, Tomoyo tomou a mão da amiga entre as suas. - Em nome do seu amor-próprio, você tem que enfrentá-los, Sakura, e eu vou ajudá-la. Melhor ainda, vou convencer a avó de meu marido a favorecê-la com a influência que ela possui na sociedade. Acredite - finalizou com veemência, embora sorrisse -, ninguém se atreverá a ignorá-la se estiver contando com o apoio da condessa!
- Pare, Tomoyo, por favor. Você não sabe o que está dizendo. Mesmo se eu estivesse disposta, e não estou, ela jamais concordaria. Não a conheço, mas certamente a condessa sabe de tudo a meu respeito... Isto é, sabe o que as pessoas dizem sobre mim.
Tomoyo sustentou-lhe firmemente o olhar.
- Você está certa em uma coisa: ela soube dos rumores, quando eu estava viajando. Entretanto, conversei com ela sobre o assunto, e a condessa está disposta a encontrar-se com você e, depois disso, tomar uma decisão. Ela irá adorá-la tanto quanto eu a adoro, Sakura. E quando isso acontecer, moverá céus e terras para fazer com que a sociedade a aceite.
Sakura balançou a cabeça, engolindo em seco o nó que se formara em sua garganta, em parte por gratidão, em parte por humilhação.
- Eu agradeço muito, Tomoyo, mas não iria suportar.
- Pois eu já tomei a decisão - Tomoyo avisou-a com gentileza. - Meu marido respeita meu julgamento e não tenho duvidas de que irá concordar. E quanto aos vestidos para a temporada, tenho muitos que ainda nem usei e posso lhe emprestar.
- Não, absolutamente! Por favor, Tomoyo - implorou, percebendo o quão ingrata deveria estar se mostrando -, pelo menos deixe-me manter o mínimo de orgulho. Além disso, - acrescentou, com um leve sorriso -, minha sorte não é tão pouca como você deve estar pensando. Tenho você. E tenho Tomoeda.
- Eu sei. E sei também que você não pode passar o resto da vida aqui. Não precisa sair e freqüentar festas, quando estiver conosco, mas lá teremos chance de passar mais tempo juntas. Sinto muito sua falta.
- Você estará ocupada demais para isso - retrucou Sakura, lembrando-se do redemoinho de atividades frenéticas que marcavam a temporada.
- Nem tanto - disse Tomoyo, com um brilho misterioso nos olhos. - Estou esperando um bebê.
Sakura enlaçou a amiga num abraço apertado.
- Então eu irei! - concordou antes que pudesse pensar melhor. - Mas fico na casa do meu tio, se ele não for ocupá-la.
- Na minha casa - Tomoyo reafirmou energética.
- Veremos - Sakura tornou no mesmo tom. E acrescentou, encantada: - Um bebê!
- Com licença, Sra. Tomoyo - Tanaka as interrompeu e voltou-se para Sakura, hesitante. - Seu tio acabou de chegar - disse. - Quer falar com a senhorita imediatamente, no escritório.
Pensativa, Tomoyo olhou para o mordomo e, depois, para Sakura.
- Tomoeda me pareceu um pouco deserta, quando cheguei. - Quantos criados você tem aqui?
- Dezoito. Antes de Touya partir, eram quarenta e cinco, dos noventa que tínhamos antes, mas meu tio os dispensou. Disse que não precisávamos deles e, depois de examinar os livros contábeis, demonstrou que seria impossível arcarmos com as despesas da casa e comida para todos. De qualquer forma, dezoito permaneceram. - Olhou para Tanaka e sorriu, concluindo: - Eles passaram a vida toda em Tomoeda. Aqui também é a casa deles.
Levantando-se, Sakura afastou a apreensão que a invadia, um reflexo automático ante a perspectiva de um confronto com o tio.
- Não vou demorar - disse. - Tio Fujitaka não gosta de ficar aqui por mais tempo do que o estritamente necessário.
Tanaka abaixou-se para pegar a bandeja de chá, observando Sakura sair. Depois se voltou para a duquesa, que conhecera desde que era uma garotinha travessa.
- Com licença de Vossa graça - começou, formalmente, a face bondosa repleta de preocupação -, será que eu poderia lhe dizer o quanto estou feliz com sua presença, especialmente agora que o sr. Kinomoto acabou de chegar?
- Ora, obrigada, Tanaka. Fico muito contente em tornar a vê-lo também. Há algo de particularmente inoportuno na visita do sr. Kinomoto?
- Ao que parece, poderá haver. - Tanaka foi até a porta, espiou para fora, na direção do vestíbulo, e então voltou. - Nem Hisoka, que é o nosso cocheiro, e nem eu, gostamos do jeito do sr. Fujitaka hoje. E tem mais uma coisa - acrescentou, levantando a bandeja -, nenhum de nós permaneceu aqui por apego a Tomoeda. - Um rubor de embaraço coloriu-lhe as faces e a voz tornou-se embargada de emoção. - Ficamos por causa de nossa jovem patroa... Somos tudo o que restou a ela, a senhora entende.
O emocionado voto de lealdade fez os olhos de Tomoyo se encherem de lágrimas, mesmo antes de Tanaka acrescentar:
- Não podemos permitir que aquele tio dela a magoe, e isso é algo que ele sempre consegue fazer.
- Mas não há nenhuma maneira de detê-lo?
O mordomo endireitou o corpo e respondeu com dignidade:
- De minha parte, sou favorável a atirá-lo de alguma ponte. Hisoka, no entanto, acha melhor envenená-lo.
Havia raiva e frustração naquelas palavras, mas nenhuma ameaça verdadeira. Tomoyo respondeu com um sorriso conspiratório:
- Creio que prefiro o seu método, Tanaka. É bem mais higiênico.
Tomoyo fizera o comentário em tom de brincadeira, e a resposta de Tanaka foi uma reverência formal, mas quando trocaram um rápido olhar, ambos reconheceram a comunicação silenciosa que haviam partilhado. O mordomo a informara de que, se fosse necessária a ajuda dos criados em qualquer situação no futuro, a duquesa poderia contar com sua lealdade total e inquestionável. A resposta da duquesa o assegurara de que, longe de ressentir-se com sua intromissão, ela agradecia a informação e a guardaria para o caso de tal ocasião se apresentar.
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Fujitaka kinomoto levantou os olhos quando a sobrinha entrou no escritório, e estreitou-os, contrariado. Mesmo agora, sendo pouco mais que uma órfã empobrecida, havia uma graça real na postura de Sakura e um orgulho teimoso na maneira como empinava o queixo. Estava com dívidas até o pescoço e mergulhando mais fundo nelas a cada mês, mas continuava andando por aí com a cabeça erguida, exatamente como seu arrogante e irresponsável pai havia feito.
Aos trinta e cinco anos, o pai de Sakura morrera num acidente de barco, juntamente com a mãe dela, e por essa época já havia perdido no jogo uma parte substancial de sua herança e hipotecado, em segredo, as suas terras. Mesmo assim, continuara exibindo arrogância e vivendo, até o último dia, como um aristocrata privilegiado.
Sendo filho mais novo do conde de Tomoeda, Fujitaka não herdara título, riqueza ou terras substanciais, mas havia conseguido, às custas de infatigável trabalho, acumular uma fortuna razoável.
Após tantos sacrifícios, o destino ainda tramava contra ele, pois sua mulher era estéril. Para sua imensa amargura, descobriu que não teria um herdeiro de sua fortuna e suas terras - nenhum herdeiro, exceto o filho que Sakura gerasse depois de casada.
Agora, observando-a senta-se no lado oposto da escrivaninha, à sua frente, Fujitaka foi atingido pela ironia de tudo aquilo com uma força dolorosa e renovada: ele passara a vida inteira trabalhando e economizando... e tudo o que conseguira fora refazer a fortuna do futuro neto de seu inconseqüente irmão. E como se isso não bastasse para enfurecê-lo, também lhe sobrava a tarefa de limpar a sujeira que Touya, o meio-irmão de Sakura, deixara para trás quando desaparecera havia quase dois anos.
Como conseqüência, agora cabia a Fujitaka honrar as instruções que o pai de Sakura deixara por escrito, e providenciar para que ela casasse com um homem dono de um título e fortuna, se possível. Um mês atrás, quando iniciara sua busca por um marido adequado para a sobrinha, Fujitaka imaginara que a tarefa provasse ser bastante fácil. Afinal, quando Sakura surgiu na sociedade, um ano e meio atrás, sua beleza, a linhagem impecável e suposta riqueza haviam-lhe assegurado um recorde de quinze propostas de casamento em apenas quatro semanas.
Porém, para a surpresa de Fujitaka, apenas três dos noivos em potencial haviam enviado uma resposta afirmativa às suas cartas, e vários outros sequer se incomodaram em responder. Naturalmente, não era segredo que agora Sakura estava pobre, mas Fujitaka oferecera um dote respeitável a fim de ver-se livre da responsabilidade. Para ele, que enxergava tudo em termos de dinheiro, o valor do dote em si já era o bastante para torná-la desejável.
A voz de Sakura o despertou de seus devaneios sombrios.
- O que o senhor deseja conversar comigo, tio Fujitaka?
A animosidade, combinada com o ressentimento por imaginar um tom irritado na voz da sobrinha, o fez responder com mais brusquidão do que o normal.
- Vim aqui hoje para discutirmos o seu casamento.
- Meu... meu o quê? - ela ofegou, tão surpresa que a rígida máscara de dignidade caiu por um instante, fazendo-a parecer sentir-se como uma criança, enganada, assustada e presa numa armadilha.
- Creio que você ouviu muito bem. - Recostando-se na cadeira, Fujitaka acrescentou, no mesmo tom rude: - Selecionei três homens. Dois deles possuem títulos, o terceiro não. Uma vez que homens de nobreza eram essenciais para seu pai, eu escolherei aquele com mais alto grau, dentre os que fizerem a proposta de casamento. Isto é, presumindo-se que terei a chance de fazer tal escolha.
- Como... - Sakura fez uma pausa para reunir coragem, antes de completar a pergunta: - Como o senhor selecionou esses homens?
- Pedi a Sae os nomes daqueles que, na época de sua introdução à sociedade, chegaram a apresentar a Touya uma proposta de casamento. Ela me deu os nomes, e eu escrevi uma carta a cada um deles, afirmando o seu desejo, e o meu, como seu guardião, de reconsiderá-los como possíveis maridos.
Sakura agarrou-se aos braços da cadeira, tentando controlar seu horror.
- Quer dizer - falou, num murmúrio estrangulado - que o senhor fez um tipo de oferta pública da minha mão, a qualquer um desses homens que estivessem dispostos a me aceitar?
- Sim! - ele disparou, eriçando-se diante da acusação implícita de que não se comportava de maneira apropriada para sua própria ou mesmo com a dela. - Além disso, talvez seja bom que saiba que a legendária atração do sexo oposta por você aparentemente chegou ao fim. Apenas três, dentre os quinze pretendentes, demonstraram estar interessados em renovar o relacionamento com você.
Humilhada até as profundezas da alma, Sakura mantinha os olhos fixos na parede atrás dele.
- Não posso acreditar que o senhor tenha realmente feito isso.
Fujitaka bateu a mão sobre a mesa, com toda a força.
- Agi dentro dos meus direitos, sobrinha, e de acordo com as instruções específicas de seu irresponsável pai. Será que devo lembrá-la de que, quando eu morrer, é MEU dinheiro que será legado ao seu marido e, depois, ao seu filho? MEU dinheiro.
Durante meses Sakura tentara entender o tio e, em algum lugar de seu coração, compreendia a causa de toda aquela amargura, e até solidarizava-se com ele.
- Eu gostaria que o senhor tivesse sido abençoado com um filho - disse, com voz sufocada. - Mas não tenho culpa de que não tenha sido assim. Não lhe fiz nenhum mal, nunca lhe dei motivos para me odiar a ponto de fazer isso comigo... - Calou-se ao ver a expressão do tio endurecer diante do que ele julgava tratar-se de uma súplica. Ergueu a cabeça, reunindo o pouco que restava de sua dignidade. - Quem são esses homens?
- Sir Takuma Nobuhiko - ele respondeu, rápido.
Sakura encarou-o atônita e balançou a cabeça.
- Quando debutei, conheci centenas de pessoas, mas não me lembro deste nome.
- O segundo é Lord Akito Suzuhara, conde.
Novamente ela meneou a cabeça.
- O nome é vagamente familiar, mas não consigo relacioná-lo com um rosto.
Obviamente desapontado com aquela reação, Fujitaka falou, irritado:
- Parece que você tem péssima memória. Se não consegue se lembrar de um cavaleiro ou de um conde, duvido que possa lembrar-se de um mero senhor - juntou, com sarcasmo.
- Quem é o terceiro? - ela indagou, magoada com a ofensa gratuita.
- Sr. Syaoran Li. Ele é...
Aquele nome fez com que Sakura se levantasse de um pulo, enquanto uma onda de terror lhe passava pelo corpo inteiro.
- Syaoran Li! - gritou, apoiando-se com ambas as mãos na beirada da escrivaninha. - Syaoran Li! - repetiu, a voz erguendo-se ainda mais, num tom de raiva que beirava a histeria. - Meu tio, se Syaoran Li teve a idéia de casar-se comigo, foi diante da mira da espada de Touya! Seu interesse por mim nunca incluiu o casamento, e Touya duelou com ele justamente por causa de seu comportamento. Na verdade, Touya o acertou.
Em vez de ceder ou mostrar-se preocupado, Fujitaka limitou-se a olhá-la com fria indiferença. Sakura insistiu, enfática:
- O senhor está entendendo?
- O que eu entendo - ele entendeu, ruborizando - é que Syaoran Li enviou uma resposta afirmativa à minha carta, e, apesar de ser chinês, foi bastante cordial. Talvez esteja arrependido de seu comportamento no passado e desejoso de corrigir-se.
- Corrigir-se! - repetiu Sakura. - Não faço idéia se ele sente ódio ou apenas desprezo por mim, mas posso assegurar-lhe de que não vai, ou nunca desejou, casar comigo! É por causa dele que não posso mais aparecer na sociedade!
- Na minha opinião, você está bem melhor assim, longe da influência decadente daquela gente da capital. Mas este não é o ponto. Syaoran Li aceitou meus termos.
- Que termos?
Já se acostumando com a reação nervosa de Sakura, Fujitaka respondeu, distraído:
- Cada um doa três candidatos concordou em recebê-la para uma breve visita, a fim de permitir que você decida qual deles será o mais adequado. Sae irá com você, como dama de companhia. Deve partir em cinco dias, dirigindo-se primeiro à casa de Nobuhiko, depois de Suzuhara e, por fim, de Li.
A sala girava diante dos olhos de Sakura.
- Não posso Acreditar! - explodiu ela e, em desespero, agarrou-se a última esperança: - Sae saiu de férias, as primeiras em muitos anos! Está no norte, visitando a irmã.
- Então leve Kotoe no lugar dela, e avise Sae para encontrar-se com você quando for para casa de Li, no norte.
- Kotoe? Mas Kotoe é apenas uma criada! Minha reputação ficará em pedaços, se eu passar uma semana na casa de um homem acompanhada de uma simples criada em vez de uma dama de companhia.
- Pois não diga a ninguém que ela é uma criada - Fujitaka disparou. - Já que na carta eu me referi a Sae Aikawa-Kyrou como sua dama de companhia, você pode apresentar Kotoe como sua tia. Sem mais objeções, senhorita - concluiu. - O assunto está encerrado. Era tudo o que tínhamos a tratar, no momento. Pode se retirar.
- Não está encerrado! Deve ter havido algum engano terrível, estou lhe dizendo! Syaoran Li jamais iria querer tornar a me ver, menos ainda do que EU quero tornar a vê-lo!
- Não há engano algum - Fujitaka informou, finalizando a discussão. - Syaoran Li recebeu minha carta e aceitou a oferta. Até enviou instruções de como chegar à casa dele no sul.
- A oferta foi SUA - Sakura gritou. - Não minha!
- Não vou mais discutir estes pequenos detalhes com você, Sakura. A conversa está encerrada.
~~~ Continua...
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Mas esse tio da Sakura ninguém merece... que raiva dele _
Nos próximos capítulos, a explicação de toda essa confusão envolvendo Sakura e Li... *__*
Olá família! Espero que estejam gostando do fic!! Muito obrigada às pessoas que postaram no primeiro capítulo: Hime, Violet-Tomoyo, Dallyla, Anna Li Kinomoto, Merry-Anne, Madam Spooky,
Agradecimento especial para Calerom, que corrigiu a escrita do nome de "Nobuhiko" e deu dicas super legais ^_^v
Merry, muito obrigada por se oferecer para revisar meu fic ^_^ Esse capítulo não deu tempo, mas eu envio os outros pra você!!
JA NE!!
*Shaiene-chan*
