Capítulo II – A profecia de Kaira

- Cera de Ouvido.

A estátua moveu-se e as escadas começaram a surgir... Hermione pôs o pé na segunda, e foi levada até à porta encerada. Bateu duas vezes sem obter resposta, rodou a maçaneta e entrou. Passou por várias mesas com objectos cintilantes e foi ao encontro de Fawkes, a bonita Fénix, que agora piava no meio das suas próprias cinzas. Cuidadosamente, Hermione acariciou-lhe a cabecita, e quando olhava para o outro andar do gabinete, reparou que Dumbledore dormitava numa cadeira.

- Hum... Professor?

Só quando Dumbledore a ouviu, acordou do seu sono.

- Mrs. Granger! Desculpe, mas um velho já não aguenta sem uma soneca a meio da tarde...

Hermione sorriu com esta afirmação, e Dumbledore olhou-a com os seus olhos calmos e meigos, por detrás dos óculos em forma de meia-lua. Quando o sorriso dela se perdeu, os olhos meigos ficaram um pouco mais sérios e Dumbledore prosseguiu:

- Eu tinha-lhe dito para vir ao meu gabinete porque preciso de lhe fazer uma pergunta. – Hermione fez um aceno. – À quanto tempo sabe onde está escondido o espelho dos invisíveis?

Bem, já desde o ano passado que sabia que ele estava naquela torre... Mas, não sou a única a saber, – com uma voz desesperada, Hermione tentou defender-se. – o Malfoy também sabe! E ele vai lá muitas vezes, e e...

Dumbledore soltou uma gargalhada. – Já tomei conhecimento desse facto! Mas acho que ele não está interessado no espelho... Ele chega antes, e parte depois de si Mrs. Granger.

- Porque é que ele faz isso? E como? – Ao fazer estas perguntas, a cara dela ficou indescritível, mas bastante parecida com a de um troll...

- Já ouviu falar em mantos de invisibilidade? – Disse piscando-lhe o olho. – E porquê, não faço ideia...

Ambos sorriram por alguns momentos. Depois do silêncio que se instalara, Hermione achou que a conversa ainda não tinha terminado.

- Posso fazer uma pergunta?

- Claro.

- O que significa a estátua?

- Qual estátua? – O sorriso de Dumbledore desapareceu tão rápido como havia surgido. Tentou fingir não saber do que se tratava, mas fracassou.

- A do coração. Está na mesma torre que o espelho.

- Ah, essa... – Dumbledore suspirou, preparando-se para uma conversa que, de certeza, ia ser longa. – Bom, aquilo não é mais do que uma profecia. – Vendo os olhos arregalados de Hermione, decidiu contar toda a história: - Há cerca de 100 anos atrás, uma das maiores videntes de todos os tempos, de nome Nair Auerbach, rogou uma praga. Conta a história que Nair gostava de um muggle mas os seus pais nunca consentiram que eles tivessem um relacionamento... Como não a deixaram ser feliz, antes de morrer, teve uma visão de uma profecia destinada àquela que nascesse no dia da sua morte. Quem estava com ela, só conseguiu ouvir metade da profecia...

Porque o amor não existe sem ódio,

O sentimento que une uma casa, em vingança se vai tornar

O sentimento pelas trevas nutrido,

Que tenta as suas paixões separar!

Para que a profecia, ou parte dela, não se perdesse, puseram-na naquela estátua. Quando o interior dela se mexer, significa que a maldição começou... – Com toda a calma, Dumbledore encavalitou os óculos de meia-lua que estivera a limpar, dando a perceber a Hermione que a história tinha acabado.

- Em que dia é que ela morreu?

- Cem anos antes de tu teres nascido...

Hermione ficou perplexa... – Isso quer dizer que...?

- Suponho que existam muitas feiticeiras nascidas no mesmo dia que tu. Não te preocupes!

Com um sorriso encorajador, Hermione desceu as escadas, embora estivesse um pouco preocupada com o que Dumbledore dissera, devia haver imensas raparigas nascidas no mesmo dia que ela... Sorriu de si para consigo e percorreu os corredores até ao lago.

- Então, que disse o Dumbledore? – Perguntou Ron, enquanto Hermione deixava cair o saco dos livros e se sentava ao seu lado.

- Nada de especial... Apenas para não voltar à torre onde está o espelho dos invisíveis. – Hermione não iria contar a história da profecia. Mas ao cruzar o olhar de Harry, percebeu que finalmente as aulas de Oclumância estavam a dar resultado. Quando este abriu a boca para perguntar algo, esta mudou rapidamente de assunto, obrigando-o a fechá-la.

- Quem é que fica na escola durante as férias do Natal?

- Eu não... O Percy vai voltar para casa, por isso a mãe vai dar uma festa! Weee... – Ron abanou os braços fingindo lançar conffetis, mas a sua cara tinha um tom tão irónico que fez com que Harry soltasse uma gargalhada antes de falar.

- Eu também não vou ficar... Depois daquele susto no Ministério, quero passar o maior tempo possível com o Si... – Soltou outra gargalhada perante o ar de Ron.

Bem, então acho que vou ficar sozinha... – Os dois amigos pararam de repente e murmuraram em uníssono um "porquê?"

- Porque vou ficar a estudar! Afinal os EFBEs estão aí à porta.

Felizmente Cho dirigiu-se a eles no exacto momento em que Hermione lhes lembrava, mais uma vez, as montanhas de trabalhos de casa que tinham em atraso.

- Olá Harry!

- Hermione, faltam meses para os exames! És a única que já está a stressar...

- Oh, olá Cho.

- Não sou nada! Há montes de alunas já a pensar nos exames...

Cho fitou a discussão por alguns instantes, mas decidiu voltar-se para Harry.

- No último fim-de-semana há uma visita a Hogsmead. Queres ir comigo?

Cho nunca havia convidado Harry... Ron e Hermione pararam de imediato a discussão e olharam de Harry para a rapariga, como quem vê um jogo de ténis.

- Claro que quer! Vá lá Harry, não te faças de difícil...

Ele lançou-lhe um olhar mortífero mas de seguida sorriu a Cho e apenas grunhiu, "sim, claro que vou contigo!"

A rapariga de cabelos pretos fez um sorriso radiante e foi ter com as amigas.

- Que é que te deu?

- Nada... Mas por Merlin, está bem que ela te deixou especado no meio de um Salão de Chá, mas isso já foi há dois anos... Achei que ela merecia uma segunda oportunidade.

- Concordo!

Hermione revirou os olhos, mirou Ron e embrenhou-se na discussão que deixara a meio.

À medida que os dias passavam, as aulas tornavam-se mais secantes... Todos os professores lhes falavam nos exames e sobrecarregavam-nos de trabalhos de casa. Mas, claro que lhes sobrava um tempinho para o Quidditch. Agora que a canção de "Weasley é o nosso rei" se tornara um ritual das bancadas dos Gryffindor, a equipa, inclusive Ron, estava muito mais confiante.

- Como eu gostava de ter um esquema da Angelina... – Queixou-se Harry que agora como capitão trabalhava o dobro.

- E ainda nos falta um beater! – Ginny que já passara por diferentes postos da equipa, estava habituada a lidar com aqueles problemas.

- Só depois das férias é que vamos jogar contra os Slytherin... Temos tempo para tudo isso!

- Ron, não sei como podes ser tão irresponsável!

- É de família, minha querida irmã. – Disse Ron abraçando-a e rindo.

Harry meteu um bocado de pão na boca e levantou-se para abandonar o salão.

- Vou ter com o Snape... - Baixou a vez. – Oclumância nem é assim tão má. – E dirigiu-se para longe dos amigos.

Nem cinco minutos tinham passado, quando Hermione passou a porta de madeira.

- Olá, olá!

- Onde estiveste?

- Que te interessa, Ron?

- Esse sítio não conheço... - Disse Ginny a rir.

Hermione deitou-lhe a língua de fora e continuou. – Estive com o Grawpy! Parece que o Dumbledore acha melhor que ele vá para as montanhas...

- Alguém inteligente! – Rosnou Ron.

Ginny deu-lhe uma cotovelada. – Mas o Hagrid gosta tanto dele! Coitadito...

De todos os Invernos que haviam passado na escola, aquele era sem sombra de dúvidas, o pior. O tecto do salão tinha enfeites de Natal pois o tempo que fazia lá fora era irrepresentável! A neve, o vento e a chuva não faziam uma combinação muito boa. A visita a Hogsmead quase fora cancelada, (Harry ficou radiante!) mas Luna Lovegood conseguira convencer Dumbledore de que nos pubs não estava frio. Quando Harry soube o que Luna fizera, por pouco não a estrangulava...

Hermione desceu as escadas para a sala comum, onde foi encontrar Harry e Ron. Este até estava bastante entusiasmado! Harry é que continuava a dizer que aquilo era um erro. Desceram as escadas dos vários andares, até ao átrio que estava apinhado de gente. Os alunos do sexto e sétimo anos conversavam e riam esperando que os deixassem sair.

Detiveram-se no cimo das grandes escadas de mármore, onde Harry tentava avistar Cho, e Ron, uma rapariga loira também dos Ravenclaw que o tinha convidado há dois dias, mas que ele nem o seu nome sabia.

- E tu, com quem vais, Hermione?

Hermione fitou os pés sentindo um vazio no estômago. – Ninguém convida uma ratinha de biblioteca, Ron...

Harry olhou-a incrédulo como o que esta acabara de dizer, mas ao mesmo tempo esperançado. – Se quiseres, podes vir comigo e com a Cho!

- Quem é que pode vir connosco? – A figura de Cho apareceu atrás dos três. Vinha com duas longas tranças o que fez com que Harry ficasse tão embasbacado, que demorou segundos a responder.

- A H-Hermione... Por-porque ela n-não tem par...

Cho sorriu, mas não pareceu muito interessada... Hermione reparou nisso, mas compreendeu que Cho apenas quisesse ficar sozinha com Harry.

- Oh, eu não vos vou incomodar... Eu vou soz... – Hermione nem acabou a frase. Apareceu uma rapariga loira ao lado de Cho, e Ron estremeceu, dando-lhe uma cotovelada.

- Olá Ron! Vamos embora? – E pegando-lhe no braço, a rapariga arrastou o ruivo pelas escadas abaixo.

- Acho que o melhor é também irmos andando! – Disse Harry saindo, finalmente, do transe. – Hermione, de certeza que não queres vir?

Hermione sorriu... – Não, obrigada!