Capítulo 3- Almoço de Comemoração
Gina estava abatida e pálida na manhã seguinte. Estava acordada desde as 3 horas da madrugada e com uma forte dor de cabeça: todas as vezes que começava a dormir, uma risada alta e fria ecoava dentro dela e acordava-a. De vez em quando, algumas lágrimas rolavam e ela deixava cair suavemente.
Às oito horas alguém bateu na porta do seu quarto. Ela suspirou e disse que já ia atender. Então foi ao banheiro e lavou seu rosto novamente, mesmo sabendo que não adiantaria muito: os olhos estavam vermelhos e o rosto pálido.
Vestiu um robe e atendeu a porta. Era Lupin, que segurava uma bandeja com um desjejum completo.
- Bom dia! - disse ele animado, com um sorriso que morreu assim que a viu. - O que aconteceu com você?
- Não tive uma noite boa. - respondeu ela, sentando-se em uma poltrona na varanda.
- Percebi - Lupin disse preocupado. Colocou a bandeja em cima da mesa e puxou-a pela mão.
- Professor... o quê...?
- Não sou mais o seu professor e me chame de Remo, por favor. Respondendo a sua pergunta, você vai deitar na cama, tomar o seu café e depois vai dormir até o almoço, porque como o ''seu vôo" está atrasado três horas, o almoço foi adiado para mais tarde - disse ele eficiente e Gina deixou-se guiar. Precisava de alguém que desse uma força.
Lupin a fez se sentar na cama e voltou três segundos depois, com a bandeja.
- Tome. Agora você vai comer algo leve. Não sei bem o que você gosta, mas tem café, suco de abóbora, torrada, bolo, bacon com ovos e mais algumas guloseimas. E claro, uma pequena barra de chocolate, para dar energia.
- Não estou com fome - reclamou Gina, consciente que estava mentindo. Estava com muita fome, mas não queria comer.
- Ah, está sim! Pegue. - Ele passou para ela o bacon e um copo com suco de abóbora. - Vai comer sozinha ou quer que eu lhe dê na boca? - Lupin sorriu.
Gina fitou-o por um momento, depois lentamente pegou a colher. Lupin vigiava cada colherada e fez questão de que ela comesse a fatia de bolo e a barra de chocolate (que não era nem de longe pequena).
Terminado o café, Lupin fez um gesto displicente com a varinha e a bandeja sumiu.
- Só falta você dormir agora - disse ele.
- Eu... - a voz de Gina estava falha e rouca. Será que podia confiar em Lupin? - Eu... pra falar a verdade, estou com medo de dormir. Tive... um pesadelo.
- Quer desabafar?
- Tenho medo de falar dele. Já tive sonhos parecidos, mas esse foi... assustador... - então, como se falasse consigo mesma, ela acrescentou: - Ele nunca agiu assim. Eu fiquei com medo e estou com raiva, porque por pior que seja, eu quero sonhar com ele, mas não com esse... estou confusa...
Como se compreendesse algo, Lupin sentou-se na cama ao lado dela e tomou a sua mão.
- A minha mãe fazia isso comigo quando eu era criança. - Ele abraçou-a e beijou-lhe a testa. - Vamos fazer o seguinte. Tente dormir pensando que não está só e que nada vai lhe fazer mal. Vamos... feche os olhos...
Mais uma vez, Gina guiou-se pelas palavras calmas e confiantes de Lupin. Suas pálpebras começaram a ficar pesadas, mas somente uma coisa importava: ''Eu não estou só... eu não estou só...". Com esse pensamento, e abraçada a Lupin, que massageava o seu cabelo com carinho, ela adormeceu.
Acordou algumas horas depois, sentindo a cabeça mais leve. Lupin não estava a vista e ela olhou para o relógio na sua mesa-de-cabeceira.
- Meio-dia - disse uma voz suave e Gina se virou rapidamente. Era Lupin, percebeu ela com um sorriso. - Podia ter acordado mais tarde.
- Hum... Profe... digo, Remo, eu queria pedir desculpas. Quero dizer, sei que eu fui idiota por ter ficado com medo de um sonho...
- Não se preocupe - interrompeu Lupin. - Todos temem os sonhos...
- Mas eu não temo os sonhos... só esse. Sabe, não creio em Adivinhação.
-Isso não é Adivinhação - respondeu Lupin sério. - Se você não se importar, gostaria de fazer uma pergunta.
- Fique a vontade.
- Olhe, não precisa responder caso não queira. Esses sonhos são com... com Lord Voldemort? - a voz dele não passava de um sussurro.
Gina abaixou a cabeça e a afundou no travesseiro. - Não... Eles são com o Tom. Sabe, o meu antigo ex-amigo.
- Você sabe que ele nunca foi seu amigo. Riddle é uma lembrança, só uma má lembrança.
- Já me disseram isso. Mas ele é uma má lembrança muito viva. Pena que ninguém possa entender.
Isso deu uma idéia a Lupin.
- Não vai falar nada ao Prof. Dumbledore? Ele saberá o que fazer.
- Boa idéia.
- Como você sabia com quem eu sonhava?
- Me lembrei da forma incomum que o bicho-papão se transformou naquela vez que você foi à minha sala entregar um trabalho - disse ele, e Gina voltou há anos atrás...
**Flashback**
Setembro de 1993 - Escola de Magia e Bruxaria Hogwarts
O trabalho de Defesa Contra as Artes das Trevas sobre o sangue de Unicórnio estava pronto, como Gina percebeu contente. Remo Lupin, o professor daquela matéria pedira meio pergaminho, mas ela fizera três. Tudo valia a pena para alegrar aquele professor tão gentil, que ensinava a matéria muito bem.
A porta da sala dele estava entreaberta e ela, lembrando-se de que Lupin pedira para aguarda-lo dentro da sala , entrou e sentou-se na cadeira em frente à mesa dele. Havia um guarda-roupa que pulava furiosamente. Curiosa, Gina se levantou e puxou o trinco. Nada no mundo podia ter preparado-a para o que surgiu do guarda-roupa. Tom Riddle.
O garoto exibia um sorriso muito sinistro e Gina deu um passo para trás, assustada.
- Não... Você não existe... você sumiu.. Eu... - a voz dela desapareceu e sentiu esgotada as suas forças. Caiu no chão, com uma forte dor de cabeça, enquanto Riddle se encaminhava a ela. Ela arrastou-se até a parede e sentou- se, ficando com as costas apoiada na mesma.
- Sentiu falta de mim? - a voz dele estava diferente e ela sabia que ele queria algo.
Gina não respondeu. O ar ficou frio de repente e ela respirava com dificuldade. Riddle aproximou-se lentamente.
- Não se preocupe, pequena e doce Virgínia. Você ainda vai ser minha... ou será que já não é?
A face de Riddle estava quase grudada na dela e os lábios tocaram-se bem devagar. No primeiro instante, Gina ficou imóvel, enquanto Tom beijava-a. Então, começou a retribuir, mas ainda estava fraca.
Tom separou-se bruscamente. Parecia incrivelmente confuso e Gina percebeu passos. Sua visão escureceu e ela só teve tempo de ouvir uma voz rouca gritar ''Expelliarmus" e logo em seguida ''Riddikulus'', antes de desfalecer.
Acordara algum tempo depois, na ala hospitalar, sentindo-se fraca e com a cabeça pesada. Madame Pomfrey, o Prof. Lupin e o diretor Dumbledore, olhavam-na. Ela tentou se sentar, no que foi altamente repreendida por Madame Pomfrey.
- A senhorita ainda está muito cansada e não pode fazer esforço. - Gina não insistiu muito .
- O que aconteceu? Cadê... onde está ele? - sussurrou.
- Era só um bicho-papão - explicou Lupin carinhosamente. - Não se preocupe.
- Mas era muito real... Parecia que eu estava de volta à Câmara Secreta e ele... - Gina não disse mais nada.
- Remo, Papoula, será que eu poderia ficar a sós com a Srta. Weasley? - perguntou Dumbledore. Sem dizer nada, Madame Pomfrey e o Prof. Lupin se afastaram. - Remo me contou o que estava acontecendo quando chegou à sala dele - começou Dumbledore e Gina corou até a raiz dos cabelos. Dumbledore acrescentou rapidamente: - Não se preocupe. O que me deixou curioso foi o fato de que você teme muito Tom Riddle, e não Voldemort, como achei que fosse.
- Eu nasci temendo Você-sabe-quem - disse ela. - Mas nunca (felizmente) me encontrei com ele... agora com Tom... ele me machucou por dentro e eu tenho medo dele porque... porque... - Gina fitou o Prof. Dumbledore. Sabia que ele compreenderia, e juntando o resto de sua coragem grifinória, disse: - porque simplesmente eu não resisto a ele. Tom tem um jeito... persuasão como ele mesmo dizia... sabe, eu nunca contei a ninguém, mas eu sabia, de alguma forma, o que ele estava fazendo quando tomava conta de mim. Mas eu não conseguia... não consigo resistir a ele! - acrescentou, desesperada.
- Você cresceu entre seis irmãos, Virgínia, e nunca teve um amigo verdadeiro. Quando encontrou o diário, Riddle era tudo que você sempre quis. Não tem de se culpar pelo que ele fez, nem se preocupar - disse Dumbledore calmamente.
- Ele vai voltar, não vai? Quero dizer, Você-sabe-quem... E... vai vir atrás de mim?
- Não sei... quem pode saber, não é mesmo? Mas acho que irá vence-lo quando ou se tiver que enfrentá-lo...
- Vou! - disse Gina convicta. - Juro que vou vence-lo!
Dumbledore sorriu e deu-lhe um sapo de chocolate.
**Fim do Flashback **
Lupin sorria amistoso e Gina imitou-o. Ele acrescentou:- Eu enchi a banheira e se você quiser, a água está boa para um banho.
Com a ajuda de Lupin, ela se levantou e foi até a mala.
- Se precisar de alguma coisa, estou na sala. Tenho ordens para te acompanhar à Toca.
E quando Lupin chegou a porta, Gina o chamou.
- Sim? - perguntou ele.
- Obrigada, Remo.
Como se tivesse recebido um prêmio Lupin sorriu, e fechou a porta.
Gina despiu-se e enrolou-se na toalha. Agachou e colocou um dedo na água experimentando-a. Estava morna e ela retirando a toalha, entrou na banheira. Havia várias torneirinhas e Gina abrindo a primeira, percebeu que espumas começavam a surgir na superfície. Esperou até que toda a superfície estivesse branca de espuma e fechou a torneira, procurando estudar o seu sonho.
De alguma forma, ele havia sido mais próximo da realidade do que qualquer outro. Era o primeiro em que podia associar o Lord das Trevas com Tom Riddle e não gostou disso. Sentiu nojo de si própria por ter beijado Riddle - na realidade ou em sonho, isso não fazia muito diferença. Apenas odiava Voldemort, assim como odiava Tom. Esse ódio e duas promessas antigas que fizera a si mesmo, deram-lhe forças para agüentar tudo e enfrentar ambos, mesmo sabendo que talvez essa batalha jamais pudesse ser ganha. Abanou a cabeça e saiu do banho sem perceber que lá ficara por meia hora. ***---***---***---***---***---***---***---***---***---***---***---*** O rosto de Lupin se iluminou ao ver Gina, que ficou apenas feliz.
- Você está maravilhosa! - disse ele sorrindo encantado e Gina corou um pouco.
Ela havia colocado um vestido vermelho, comprado em Paris durante uma rápida passeada por lá, que realçava seu cabelo e deixava-no confundido com o vestido . No rosto, uma maquiagem disfarçava a palidez, sem ser exagerada. Sandálias prateadas deixavam-na mais alta, sem perder, contudo, a elegância.
- Nem tanto - respondeu ela, seu olhar encontrando o de Lupin. - Mas só estou assim graças a você. Obrigada, novamente.
Lupin segurava o olhar de Gina, e esta se encaminhou lentamente a ele. Quando estava próxima a ele, parou e sorriu. Então, abraçou-o com carinho. Lupin parecia emocionado e apertou o abraço, como se este valesse ouro. Gina afastou-se delicada e erguendo-se na ponta dos pés - Lupin era muito mais alto que ela- deu um beijo suave na face dele. Então sorriu da cara abismada de Remo.
- Vamos? - perguntou. Lupin também sorriu, e procurou a sua mão. Gina apertou-a alegremente e juntos aparataram no hall do hotel, onde Allan Roberts esperava paciente pelos dois para levá-los de carro à Toca.
Gina ficou calada a viagem inteira. Nem ela nem Lupin sentiam vontade de falar. Gina estava perdida em lembranças de tudo que acontecera em seus vários sonhos com Tom, enquanto repetia para si mesma a promessa de resistir a ele. Entrementes, Lupin se lembrava de uma garota de dezesseis anos, ruiva de olhos verdes, com um lindo sorriso no rosto, apertando a sua mão como apertara a de Gina. Estranhamente, sentia a mesma sensação, mas ela estava morta, e Gina estava viva, pensou, um segundo antes de se reprovar pelo pensamento. ***---***---***---***---***---***---***---***---***---***---***---*** Estava um corre-corre na Toca. Parecia uma confusão e Gina entreolhou-se com Lupin, imaginando o pior.
A porta do carro abriu magicamente e Gina, com um rápido aceno para Roberts, saiu do carro,sua mão soltando-se da de Lupin sem ela reparar. Molly Weasley, a sua mãe, chorava convulsivamente.
- Gina... - lamentava.
- Acalme-se, Molly. Nós não temos certeza que ela estava nesse vôo. O seu nome não constatava na lista de passageiros...
- O que aconteceu? - perguntou Gina, aproximando-se. Todos os presentes na festa, com exceção de quem haviam estado na reunião, olharam-na como se fosse um fantasma. - O que foi? - repetiu.
- Você não estava naquele avião? - perguntou Carlinhos, seu irmão sete anos mais velho que ela.
- Que avião? - perguntou Gina, confusa.
- O avião explodiu sem motivos, quando se aproximava da costa - explicou Gui, um ano mais velho que Carlinhos. - Você não ia chegar hoje no vôo 667 direto da Rússia?
Foi como juntar as peças de um quebra-cabeça. Gina compreendeu tudo. Alguém atacara o avião pensando que ela estava lá e devia ter sido a mando do Lord das Trevas. Mais um motivo para odiá-lo, acrescentou em pensamento.
- Eu me atrasei - mentiu, parecendo aliviada. Mentiu tão bem que todos acreditaram. - Peguei um vôo que vinha direto pra cá e cheguei há três horas. Não deu pra avisar. Não queria deixa-los preocupado, mas acho que não deu muito certo. Encontrei-me sem querer com Lupin e ele me acompanhou até aqui.
- Gina! - Molly gritou, levantando-se para abraça-la, praticamente entre lágrimas. - Filha, você cresceu. Está magra... o que aconteceu com a minha garotinha?
Gina não respondeu. Percebeu subitamente como sentira saudades de tudo ali. Abraçou os seus irmãos e o seu pai como se não tivesse abraçado-o no dia anterior.
Ela percorreu o olhar por todos os presentes, como era treinada a fazer. Antigos amigos de Hogwarts: Luna Lovegood, Ewelin Ockitlin, Richard Lopser, Lilá Brown, Alicia Spinnet, Ernie Macmillan - antigo namorado. E havia claro, seus irmãos, Hermione Granger e os presentes na reunião, com exceção do Prof. Dumbledore e do Auror Moody. Cho Chang estava acompanhada de Potter, e um anel de noivado brilhava em seu dedo na mão posta na barriga, demonstrando que ela estava grávida; Gina desviou os olhos para examinar as outras pessoas: Fleur Delacour, uma veela, estava de braços dados com Gui, que segurava um bebê, Passion Weasley; Angelina Johnson e Katie Bell estavam com os gêmeos, Fred e Jorge, respectivamente. Carlinhos estava com uma mulher alta, morena, Melissa Butcher, era o seu nome, e era a esposa dele . Ela segurava um menino com aproximadamente dois anos, Daniel Weasley.
O almoço foi esplêndido para Gina. Todo o carinho de que sentira falta durante as momentos de insônia em seu quarto na UADCAT retornara maior do que era possível nas últimas horas. A comida caseira de sua mãe estava mais saborosa do que nunca, ou talvez seria a falta que ela fazia.
Ao fim, Gina sentou-se com os irmãos e os amigos, enquanto eles contavam as novidades, mas nada referente à Guerra. Era como se o assunto fosse evitado, e embora isso fosse um tanto irritante, Gina não insistiu para voltar ao assunto. Também queria esquecer o mundo a sua volta e se concentrar em matar a saudade.
No pôr-do-sol, Gina afastou-se do centro da conversa para ir se sentar em um banquinho que existia no jardim há anos. Sentar lá sob os ramos da árvores no pôr-do-sol pensando na vida era o seu passatempo favorito.
A brisa balançava o seu cabelo e refrescava o seu rosto, Gina fechou os olhos sentindo-a. De súbito, ela se lembrou de algo extremamente desagradável : fora ali, há mais de dez anos, que ela escrevera no diário pela primeira vez. Ela, fechada em seu mundo até então, adorou ter um amigo para conversar : Tom fora simplesmente o máximo, apoiando-a em tudo, acalmando-a e protegendo-a. Mas então ele a traiu e a possuiu para abrir a Câmara Secreta. A partir desse momento, Gina foi forçada a perceber algo: Tom não era o seu amigo, não a protegia e não gostava dela. Apenas queria usá-la para matar alguns ''sangues-ruim", como ele chamava, e matar Harry Potter.
Harry... agora seus pensamentos voltavam-se para ele. Vê-lo de mãos dadas com aquela infeliz da Chang não havia sido muito bom, embora Gina tivesse fingido perfeitamente que não se importava, nunca daria esse gostinho a ela... nem a Harry.
- Atrapalho? - era Harry, Gina reconheceu a voz imediatamente. Ela sorriu a ele sem responder. Tomando isso como um não, Harry sentou-se no banco ao lado dela.
- Eu não respondi se você atrapalhava! - disse Gina, fingindo-se indignada. Os olhos verdes de Harry brilharam.
- Quer que eu saia então?
- Não.. eu só estava brincando. - Um minuto de silêncio. Gina quebrou-o pensativa: - Eu senti falta daqui. Há uma parte de mim que nunca saiu da Toca, nem de Hogwarts.
- Sei como é isso. Hogwarts é o meu lar. Mas eu não posso ficar lá o tempo todo e você poderia ter ficado mais tempo aqui na Toca.
A jovem levantou-se irritada.
- Se for para falar disso... - começou, mas Harry interrompeu-a.
- Tudo bem... eu não falo mais... - e olhou para o banco, convidando-a a sentar. Gina sentou-se e seus olhos se encontraram. Gina sentiu tudo sumir de repente. Riddle, Aurores, seu curso, sua família, Cho Chang... tudo. Só havia ela, Harry e o banco sob o pôr-do-sol. Sentiu-se igual há primeira vez em que o beijou. Mas agora, só bastava aquela troca de olhares...
Ela, no entanto, apesar daquele momento ser mágico, desviou os olhos e levantou-se novamente. Harry ergueu-se no mesmo instante e ficou de frente a ela, impedindo-lhe a passagem. Lentamente, Gina ergueu seus olhos e fitou- o.
- Eu senti a sua falta - disse ele tentando parecer calmo, mas sua voz e sua respiração o traiam.
- Eu... também.
- Nunca a esqueci Gina. - ele respirou fundo, e as palavras saíram calmas, mas não passaram de um sussurro. - Eu ainda te amo... muito...
E ele deu um passo a frente, tentando chegar a ela. Mas Gina, mesmo fascinada com as palavras do garoto, afastou-se. Independente de qualquer palavra dele, Cho Chang estava grávida do rapaz e ele estava noivo dela.
Harry olhou-a curioso.
- Isso não está certo Harry. A Cho... Sinceramente, não me importo com ela, mas voces estão noivos - ele abaixou a cabeça: só então se lembrara de Cho. Levantou a cabeça e fitou-a como se procurasse um fio de consolo. Toda a hesitação sumiu de Gina: - Acho que somos dois... Porque eu também te amo.
- Então...
- Não está certo! - repetiu ela. Harry concordou com a cabeça lentamente e inclinou-se, beijando a face de Gina. Ela sentiu o rosto corar levemente.
- Sobre você ser Auror... - começou ele e Gina olhou-o severamente. Harry pareceu não se importar: - eu só queria pedir para você ter cuidado... - novamente o sussurro: -...porque eu não suportaria te perder...
Ele se virou bruscamente, deixando-a paralisada. Sentia-se nas nuvens. Uma voz foi o que fez ela voltar de súbito a Terra.
- Viu o meu noivo? - era Cho, e estava com um olhar cínico.
- Eu deveria ver?
- Olha aqui garota. Ele é o meu noivo e não quero que você se intrometa no nosso relacionamento ok?
- Não se preocupe... deveria me agradecer. Porque eu, ao contrário de você, não preciso ameaçar ninguém para ter uma pessoa. O rosto de Cho ficou vermelho.
- Claro. Uma pessoa que já ficou com o Lord das Trevas deve saber bem como dominar alguém.
Gina respirou fundo, mas estava trêmula de raiva e vergonha.
- Acho que meus métodos são mais simples do que ficar grávida!
- Você me paga, sua nojenta! - E deu-lhe as costas, indo embora e pisando com força. Gina sorriu.
Voltou a se sentar no seu banquinho, admirando o fim do pôr-do-sol. Quando o último raio desapareceu, Gina se levantou para o fim da festa.
Naquela noite, ela sentiu-se mais do que em casa ao dormir na familiar cama de colcha rosa. Não houve sonhos - pelo menos não com Tom Riddle. Ela adormeceu com o pensamento em um par de olhos verdes e cabelos negros e rebeldes, que dizia constantemente ''Eu te amo...", mesmo sabendo que era um amor impossível e que talvez o seus destinos estivessem bastante distantes um do outro. Talvez eternamente...
Gina estava abatida e pálida na manhã seguinte. Estava acordada desde as 3 horas da madrugada e com uma forte dor de cabeça: todas as vezes que começava a dormir, uma risada alta e fria ecoava dentro dela e acordava-a. De vez em quando, algumas lágrimas rolavam e ela deixava cair suavemente.
Às oito horas alguém bateu na porta do seu quarto. Ela suspirou e disse que já ia atender. Então foi ao banheiro e lavou seu rosto novamente, mesmo sabendo que não adiantaria muito: os olhos estavam vermelhos e o rosto pálido.
Vestiu um robe e atendeu a porta. Era Lupin, que segurava uma bandeja com um desjejum completo.
- Bom dia! - disse ele animado, com um sorriso que morreu assim que a viu. - O que aconteceu com você?
- Não tive uma noite boa. - respondeu ela, sentando-se em uma poltrona na varanda.
- Percebi - Lupin disse preocupado. Colocou a bandeja em cima da mesa e puxou-a pela mão.
- Professor... o quê...?
- Não sou mais o seu professor e me chame de Remo, por favor. Respondendo a sua pergunta, você vai deitar na cama, tomar o seu café e depois vai dormir até o almoço, porque como o ''seu vôo" está atrasado três horas, o almoço foi adiado para mais tarde - disse ele eficiente e Gina deixou-se guiar. Precisava de alguém que desse uma força.
Lupin a fez se sentar na cama e voltou três segundos depois, com a bandeja.
- Tome. Agora você vai comer algo leve. Não sei bem o que você gosta, mas tem café, suco de abóbora, torrada, bolo, bacon com ovos e mais algumas guloseimas. E claro, uma pequena barra de chocolate, para dar energia.
- Não estou com fome - reclamou Gina, consciente que estava mentindo. Estava com muita fome, mas não queria comer.
- Ah, está sim! Pegue. - Ele passou para ela o bacon e um copo com suco de abóbora. - Vai comer sozinha ou quer que eu lhe dê na boca? - Lupin sorriu.
Gina fitou-o por um momento, depois lentamente pegou a colher. Lupin vigiava cada colherada e fez questão de que ela comesse a fatia de bolo e a barra de chocolate (que não era nem de longe pequena).
Terminado o café, Lupin fez um gesto displicente com a varinha e a bandeja sumiu.
- Só falta você dormir agora - disse ele.
- Eu... - a voz de Gina estava falha e rouca. Será que podia confiar em Lupin? - Eu... pra falar a verdade, estou com medo de dormir. Tive... um pesadelo.
- Quer desabafar?
- Tenho medo de falar dele. Já tive sonhos parecidos, mas esse foi... assustador... - então, como se falasse consigo mesma, ela acrescentou: - Ele nunca agiu assim. Eu fiquei com medo e estou com raiva, porque por pior que seja, eu quero sonhar com ele, mas não com esse... estou confusa...
Como se compreendesse algo, Lupin sentou-se na cama ao lado dela e tomou a sua mão.
- A minha mãe fazia isso comigo quando eu era criança. - Ele abraçou-a e beijou-lhe a testa. - Vamos fazer o seguinte. Tente dormir pensando que não está só e que nada vai lhe fazer mal. Vamos... feche os olhos...
Mais uma vez, Gina guiou-se pelas palavras calmas e confiantes de Lupin. Suas pálpebras começaram a ficar pesadas, mas somente uma coisa importava: ''Eu não estou só... eu não estou só...". Com esse pensamento, e abraçada a Lupin, que massageava o seu cabelo com carinho, ela adormeceu.
Acordou algumas horas depois, sentindo a cabeça mais leve. Lupin não estava a vista e ela olhou para o relógio na sua mesa-de-cabeceira.
- Meio-dia - disse uma voz suave e Gina se virou rapidamente. Era Lupin, percebeu ela com um sorriso. - Podia ter acordado mais tarde.
- Hum... Profe... digo, Remo, eu queria pedir desculpas. Quero dizer, sei que eu fui idiota por ter ficado com medo de um sonho...
- Não se preocupe - interrompeu Lupin. - Todos temem os sonhos...
- Mas eu não temo os sonhos... só esse. Sabe, não creio em Adivinhação.
-Isso não é Adivinhação - respondeu Lupin sério. - Se você não se importar, gostaria de fazer uma pergunta.
- Fique a vontade.
- Olhe, não precisa responder caso não queira. Esses sonhos são com... com Lord Voldemort? - a voz dele não passava de um sussurro.
Gina abaixou a cabeça e a afundou no travesseiro. - Não... Eles são com o Tom. Sabe, o meu antigo ex-amigo.
- Você sabe que ele nunca foi seu amigo. Riddle é uma lembrança, só uma má lembrança.
- Já me disseram isso. Mas ele é uma má lembrança muito viva. Pena que ninguém possa entender.
Isso deu uma idéia a Lupin.
- Não vai falar nada ao Prof. Dumbledore? Ele saberá o que fazer.
- Boa idéia.
- Como você sabia com quem eu sonhava?
- Me lembrei da forma incomum que o bicho-papão se transformou naquela vez que você foi à minha sala entregar um trabalho - disse ele, e Gina voltou há anos atrás...
**Flashback**
Setembro de 1993 - Escola de Magia e Bruxaria Hogwarts
O trabalho de Defesa Contra as Artes das Trevas sobre o sangue de Unicórnio estava pronto, como Gina percebeu contente. Remo Lupin, o professor daquela matéria pedira meio pergaminho, mas ela fizera três. Tudo valia a pena para alegrar aquele professor tão gentil, que ensinava a matéria muito bem.
A porta da sala dele estava entreaberta e ela, lembrando-se de que Lupin pedira para aguarda-lo dentro da sala , entrou e sentou-se na cadeira em frente à mesa dele. Havia um guarda-roupa que pulava furiosamente. Curiosa, Gina se levantou e puxou o trinco. Nada no mundo podia ter preparado-a para o que surgiu do guarda-roupa. Tom Riddle.
O garoto exibia um sorriso muito sinistro e Gina deu um passo para trás, assustada.
- Não... Você não existe... você sumiu.. Eu... - a voz dela desapareceu e sentiu esgotada as suas forças. Caiu no chão, com uma forte dor de cabeça, enquanto Riddle se encaminhava a ela. Ela arrastou-se até a parede e sentou- se, ficando com as costas apoiada na mesma.
- Sentiu falta de mim? - a voz dele estava diferente e ela sabia que ele queria algo.
Gina não respondeu. O ar ficou frio de repente e ela respirava com dificuldade. Riddle aproximou-se lentamente.
- Não se preocupe, pequena e doce Virgínia. Você ainda vai ser minha... ou será que já não é?
A face de Riddle estava quase grudada na dela e os lábios tocaram-se bem devagar. No primeiro instante, Gina ficou imóvel, enquanto Tom beijava-a. Então, começou a retribuir, mas ainda estava fraca.
Tom separou-se bruscamente. Parecia incrivelmente confuso e Gina percebeu passos. Sua visão escureceu e ela só teve tempo de ouvir uma voz rouca gritar ''Expelliarmus" e logo em seguida ''Riddikulus'', antes de desfalecer.
Acordara algum tempo depois, na ala hospitalar, sentindo-se fraca e com a cabeça pesada. Madame Pomfrey, o Prof. Lupin e o diretor Dumbledore, olhavam-na. Ela tentou se sentar, no que foi altamente repreendida por Madame Pomfrey.
- A senhorita ainda está muito cansada e não pode fazer esforço. - Gina não insistiu muito .
- O que aconteceu? Cadê... onde está ele? - sussurrou.
- Era só um bicho-papão - explicou Lupin carinhosamente. - Não se preocupe.
- Mas era muito real... Parecia que eu estava de volta à Câmara Secreta e ele... - Gina não disse mais nada.
- Remo, Papoula, será que eu poderia ficar a sós com a Srta. Weasley? - perguntou Dumbledore. Sem dizer nada, Madame Pomfrey e o Prof. Lupin se afastaram. - Remo me contou o que estava acontecendo quando chegou à sala dele - começou Dumbledore e Gina corou até a raiz dos cabelos. Dumbledore acrescentou rapidamente: - Não se preocupe. O que me deixou curioso foi o fato de que você teme muito Tom Riddle, e não Voldemort, como achei que fosse.
- Eu nasci temendo Você-sabe-quem - disse ela. - Mas nunca (felizmente) me encontrei com ele... agora com Tom... ele me machucou por dentro e eu tenho medo dele porque... porque... - Gina fitou o Prof. Dumbledore. Sabia que ele compreenderia, e juntando o resto de sua coragem grifinória, disse: - porque simplesmente eu não resisto a ele. Tom tem um jeito... persuasão como ele mesmo dizia... sabe, eu nunca contei a ninguém, mas eu sabia, de alguma forma, o que ele estava fazendo quando tomava conta de mim. Mas eu não conseguia... não consigo resistir a ele! - acrescentou, desesperada.
- Você cresceu entre seis irmãos, Virgínia, e nunca teve um amigo verdadeiro. Quando encontrou o diário, Riddle era tudo que você sempre quis. Não tem de se culpar pelo que ele fez, nem se preocupar - disse Dumbledore calmamente.
- Ele vai voltar, não vai? Quero dizer, Você-sabe-quem... E... vai vir atrás de mim?
- Não sei... quem pode saber, não é mesmo? Mas acho que irá vence-lo quando ou se tiver que enfrentá-lo...
- Vou! - disse Gina convicta. - Juro que vou vence-lo!
Dumbledore sorriu e deu-lhe um sapo de chocolate.
**Fim do Flashback **
Lupin sorria amistoso e Gina imitou-o. Ele acrescentou:- Eu enchi a banheira e se você quiser, a água está boa para um banho.
Com a ajuda de Lupin, ela se levantou e foi até a mala.
- Se precisar de alguma coisa, estou na sala. Tenho ordens para te acompanhar à Toca.
E quando Lupin chegou a porta, Gina o chamou.
- Sim? - perguntou ele.
- Obrigada, Remo.
Como se tivesse recebido um prêmio Lupin sorriu, e fechou a porta.
Gina despiu-se e enrolou-se na toalha. Agachou e colocou um dedo na água experimentando-a. Estava morna e ela retirando a toalha, entrou na banheira. Havia várias torneirinhas e Gina abrindo a primeira, percebeu que espumas começavam a surgir na superfície. Esperou até que toda a superfície estivesse branca de espuma e fechou a torneira, procurando estudar o seu sonho.
De alguma forma, ele havia sido mais próximo da realidade do que qualquer outro. Era o primeiro em que podia associar o Lord das Trevas com Tom Riddle e não gostou disso. Sentiu nojo de si própria por ter beijado Riddle - na realidade ou em sonho, isso não fazia muito diferença. Apenas odiava Voldemort, assim como odiava Tom. Esse ódio e duas promessas antigas que fizera a si mesmo, deram-lhe forças para agüentar tudo e enfrentar ambos, mesmo sabendo que talvez essa batalha jamais pudesse ser ganha. Abanou a cabeça e saiu do banho sem perceber que lá ficara por meia hora. ***---***---***---***---***---***---***---***---***---***---***---*** O rosto de Lupin se iluminou ao ver Gina, que ficou apenas feliz.
- Você está maravilhosa! - disse ele sorrindo encantado e Gina corou um pouco.
Ela havia colocado um vestido vermelho, comprado em Paris durante uma rápida passeada por lá, que realçava seu cabelo e deixava-no confundido com o vestido . No rosto, uma maquiagem disfarçava a palidez, sem ser exagerada. Sandálias prateadas deixavam-na mais alta, sem perder, contudo, a elegância.
- Nem tanto - respondeu ela, seu olhar encontrando o de Lupin. - Mas só estou assim graças a você. Obrigada, novamente.
Lupin segurava o olhar de Gina, e esta se encaminhou lentamente a ele. Quando estava próxima a ele, parou e sorriu. Então, abraçou-o com carinho. Lupin parecia emocionado e apertou o abraço, como se este valesse ouro. Gina afastou-se delicada e erguendo-se na ponta dos pés - Lupin era muito mais alto que ela- deu um beijo suave na face dele. Então sorriu da cara abismada de Remo.
- Vamos? - perguntou. Lupin também sorriu, e procurou a sua mão. Gina apertou-a alegremente e juntos aparataram no hall do hotel, onde Allan Roberts esperava paciente pelos dois para levá-los de carro à Toca.
Gina ficou calada a viagem inteira. Nem ela nem Lupin sentiam vontade de falar. Gina estava perdida em lembranças de tudo que acontecera em seus vários sonhos com Tom, enquanto repetia para si mesma a promessa de resistir a ele. Entrementes, Lupin se lembrava de uma garota de dezesseis anos, ruiva de olhos verdes, com um lindo sorriso no rosto, apertando a sua mão como apertara a de Gina. Estranhamente, sentia a mesma sensação, mas ela estava morta, e Gina estava viva, pensou, um segundo antes de se reprovar pelo pensamento. ***---***---***---***---***---***---***---***---***---***---***---*** Estava um corre-corre na Toca. Parecia uma confusão e Gina entreolhou-se com Lupin, imaginando o pior.
A porta do carro abriu magicamente e Gina, com um rápido aceno para Roberts, saiu do carro,sua mão soltando-se da de Lupin sem ela reparar. Molly Weasley, a sua mãe, chorava convulsivamente.
- Gina... - lamentava.
- Acalme-se, Molly. Nós não temos certeza que ela estava nesse vôo. O seu nome não constatava na lista de passageiros...
- O que aconteceu? - perguntou Gina, aproximando-se. Todos os presentes na festa, com exceção de quem haviam estado na reunião, olharam-na como se fosse um fantasma. - O que foi? - repetiu.
- Você não estava naquele avião? - perguntou Carlinhos, seu irmão sete anos mais velho que ela.
- Que avião? - perguntou Gina, confusa.
- O avião explodiu sem motivos, quando se aproximava da costa - explicou Gui, um ano mais velho que Carlinhos. - Você não ia chegar hoje no vôo 667 direto da Rússia?
Foi como juntar as peças de um quebra-cabeça. Gina compreendeu tudo. Alguém atacara o avião pensando que ela estava lá e devia ter sido a mando do Lord das Trevas. Mais um motivo para odiá-lo, acrescentou em pensamento.
- Eu me atrasei - mentiu, parecendo aliviada. Mentiu tão bem que todos acreditaram. - Peguei um vôo que vinha direto pra cá e cheguei há três horas. Não deu pra avisar. Não queria deixa-los preocupado, mas acho que não deu muito certo. Encontrei-me sem querer com Lupin e ele me acompanhou até aqui.
- Gina! - Molly gritou, levantando-se para abraça-la, praticamente entre lágrimas. - Filha, você cresceu. Está magra... o que aconteceu com a minha garotinha?
Gina não respondeu. Percebeu subitamente como sentira saudades de tudo ali. Abraçou os seus irmãos e o seu pai como se não tivesse abraçado-o no dia anterior.
Ela percorreu o olhar por todos os presentes, como era treinada a fazer. Antigos amigos de Hogwarts: Luna Lovegood, Ewelin Ockitlin, Richard Lopser, Lilá Brown, Alicia Spinnet, Ernie Macmillan - antigo namorado. E havia claro, seus irmãos, Hermione Granger e os presentes na reunião, com exceção do Prof. Dumbledore e do Auror Moody. Cho Chang estava acompanhada de Potter, e um anel de noivado brilhava em seu dedo na mão posta na barriga, demonstrando que ela estava grávida; Gina desviou os olhos para examinar as outras pessoas: Fleur Delacour, uma veela, estava de braços dados com Gui, que segurava um bebê, Passion Weasley; Angelina Johnson e Katie Bell estavam com os gêmeos, Fred e Jorge, respectivamente. Carlinhos estava com uma mulher alta, morena, Melissa Butcher, era o seu nome, e era a esposa dele . Ela segurava um menino com aproximadamente dois anos, Daniel Weasley.
O almoço foi esplêndido para Gina. Todo o carinho de que sentira falta durante as momentos de insônia em seu quarto na UADCAT retornara maior do que era possível nas últimas horas. A comida caseira de sua mãe estava mais saborosa do que nunca, ou talvez seria a falta que ela fazia.
Ao fim, Gina sentou-se com os irmãos e os amigos, enquanto eles contavam as novidades, mas nada referente à Guerra. Era como se o assunto fosse evitado, e embora isso fosse um tanto irritante, Gina não insistiu para voltar ao assunto. Também queria esquecer o mundo a sua volta e se concentrar em matar a saudade.
No pôr-do-sol, Gina afastou-se do centro da conversa para ir se sentar em um banquinho que existia no jardim há anos. Sentar lá sob os ramos da árvores no pôr-do-sol pensando na vida era o seu passatempo favorito.
A brisa balançava o seu cabelo e refrescava o seu rosto, Gina fechou os olhos sentindo-a. De súbito, ela se lembrou de algo extremamente desagradável : fora ali, há mais de dez anos, que ela escrevera no diário pela primeira vez. Ela, fechada em seu mundo até então, adorou ter um amigo para conversar : Tom fora simplesmente o máximo, apoiando-a em tudo, acalmando-a e protegendo-a. Mas então ele a traiu e a possuiu para abrir a Câmara Secreta. A partir desse momento, Gina foi forçada a perceber algo: Tom não era o seu amigo, não a protegia e não gostava dela. Apenas queria usá-la para matar alguns ''sangues-ruim", como ele chamava, e matar Harry Potter.
Harry... agora seus pensamentos voltavam-se para ele. Vê-lo de mãos dadas com aquela infeliz da Chang não havia sido muito bom, embora Gina tivesse fingido perfeitamente que não se importava, nunca daria esse gostinho a ela... nem a Harry.
- Atrapalho? - era Harry, Gina reconheceu a voz imediatamente. Ela sorriu a ele sem responder. Tomando isso como um não, Harry sentou-se no banco ao lado dela.
- Eu não respondi se você atrapalhava! - disse Gina, fingindo-se indignada. Os olhos verdes de Harry brilharam.
- Quer que eu saia então?
- Não.. eu só estava brincando. - Um minuto de silêncio. Gina quebrou-o pensativa: - Eu senti falta daqui. Há uma parte de mim que nunca saiu da Toca, nem de Hogwarts.
- Sei como é isso. Hogwarts é o meu lar. Mas eu não posso ficar lá o tempo todo e você poderia ter ficado mais tempo aqui na Toca.
A jovem levantou-se irritada.
- Se for para falar disso... - começou, mas Harry interrompeu-a.
- Tudo bem... eu não falo mais... - e olhou para o banco, convidando-a a sentar. Gina sentou-se e seus olhos se encontraram. Gina sentiu tudo sumir de repente. Riddle, Aurores, seu curso, sua família, Cho Chang... tudo. Só havia ela, Harry e o banco sob o pôr-do-sol. Sentiu-se igual há primeira vez em que o beijou. Mas agora, só bastava aquela troca de olhares...
Ela, no entanto, apesar daquele momento ser mágico, desviou os olhos e levantou-se novamente. Harry ergueu-se no mesmo instante e ficou de frente a ela, impedindo-lhe a passagem. Lentamente, Gina ergueu seus olhos e fitou- o.
- Eu senti a sua falta - disse ele tentando parecer calmo, mas sua voz e sua respiração o traiam.
- Eu... também.
- Nunca a esqueci Gina. - ele respirou fundo, e as palavras saíram calmas, mas não passaram de um sussurro. - Eu ainda te amo... muito...
E ele deu um passo a frente, tentando chegar a ela. Mas Gina, mesmo fascinada com as palavras do garoto, afastou-se. Independente de qualquer palavra dele, Cho Chang estava grávida do rapaz e ele estava noivo dela.
Harry olhou-a curioso.
- Isso não está certo Harry. A Cho... Sinceramente, não me importo com ela, mas voces estão noivos - ele abaixou a cabeça: só então se lembrara de Cho. Levantou a cabeça e fitou-a como se procurasse um fio de consolo. Toda a hesitação sumiu de Gina: - Acho que somos dois... Porque eu também te amo.
- Então...
- Não está certo! - repetiu ela. Harry concordou com a cabeça lentamente e inclinou-se, beijando a face de Gina. Ela sentiu o rosto corar levemente.
- Sobre você ser Auror... - começou ele e Gina olhou-o severamente. Harry pareceu não se importar: - eu só queria pedir para você ter cuidado... - novamente o sussurro: -...porque eu não suportaria te perder...
Ele se virou bruscamente, deixando-a paralisada. Sentia-se nas nuvens. Uma voz foi o que fez ela voltar de súbito a Terra.
- Viu o meu noivo? - era Cho, e estava com um olhar cínico.
- Eu deveria ver?
- Olha aqui garota. Ele é o meu noivo e não quero que você se intrometa no nosso relacionamento ok?
- Não se preocupe... deveria me agradecer. Porque eu, ao contrário de você, não preciso ameaçar ninguém para ter uma pessoa. O rosto de Cho ficou vermelho.
- Claro. Uma pessoa que já ficou com o Lord das Trevas deve saber bem como dominar alguém.
Gina respirou fundo, mas estava trêmula de raiva e vergonha.
- Acho que meus métodos são mais simples do que ficar grávida!
- Você me paga, sua nojenta! - E deu-lhe as costas, indo embora e pisando com força. Gina sorriu.
Voltou a se sentar no seu banquinho, admirando o fim do pôr-do-sol. Quando o último raio desapareceu, Gina se levantou para o fim da festa.
Naquela noite, ela sentiu-se mais do que em casa ao dormir na familiar cama de colcha rosa. Não houve sonhos - pelo menos não com Tom Riddle. Ela adormeceu com o pensamento em um par de olhos verdes e cabelos negros e rebeldes, que dizia constantemente ''Eu te amo...", mesmo sabendo que era um amor impossível e que talvez o seus destinos estivessem bastante distantes um do outro. Talvez eternamente...
