Capítulo 4 - A ''predição"

Hogwarts continuava a mesma: o castelo erguia-se majestoso sobre o penhasco e o lago. Gina fez questão de andar a pé todo o trecho que levava até o colégio, no que fora acompanhado por Hagrid, muito interessado em saber sobre o curso dela.

­- Como é? - perguntou ele - Três meses seguidos de exames?

­- É, Rúbeo. Mas é muito mais divertido do que parece. Percorri mais de 10 países, destruindo feitiços, enfrentando magos, e tudo o mais. Foi muito legal. Conheci pessoas de todo o tipo e aprendi muito. A Mione, por exemplo, teria amado esse curso. Sou especializada em Medicina Bruxa, em Transfiguração e em Feitiços, sem contar, claro, a Defesa Contra Artes das Trevas. Acho que o local mais interessante aonde eu fui, foi a Grécia, nos antigos túmulos dos bruxos gregos. Tive que destruir cem encantamentos diferentes e depois recolocar todos, com o triplo da intensidade, para, sabe, preserva-los. É o material usado nos museus. E as lendas gregas são fascinantes. Ah... Falando em lendas, eu queria lhe mostrar essas fotos. Há cães de três cabeças e tirei uma foto do Norberto. Ele é muito estressado, não?

E passou as fotos a Hagrid. Seus olhos piscavam a cada foto, mas ele explodiu nas fotos de Norberto. O dragão estava bem maior agora, em breve chegaria aos 15 metros.

­­- O Prof. Dumbledore pediu para você ir direto ao escritório dele - disse Hagrid, sem tirar os olhos da foto de Norberto que assoprava fogo. - A senha é ''Salada Mista".

­­- Obrigada, Rúbeo.

O castelo estava mergulhado no mais absoluto silêncio. Gina não resistiu e deu uma rápida espiada no Salão Principal. As velas não estavam acesas e o céu encantado estava azul límpido. Desviando os olhos, Gina voltou ao hall de entrada e saiu por uma porta lateral, que era o caminho mais rápido ao escritório de Dumbledore.

Estava a poucos centímetros quando uma voz feminina a interrompeu. Profª Sibila Trelawney, que ensinava Adivinhação.

­­­- Olá, querida! - era a costumeira voz etérea e o perfume doce e enjoativo. - Estive consultando as Cartas, e elas previram que teria uma grande realização se desse um passeio pelo Castelo. Saudades dele?

­­­- Muita - respondeu Gina. Queria falar logo com o diretor, mas não seria legal deixar Trelawney falando sozinha. - Se a senhora me der licença, eu realmente... O quê... o que foi?

Os olhos da Professora de Adivinhação giraram nas órbitas e ficaram opacos. Ela parecia estar em transe. Gina olhou-a surpresa.

­- A senhora está...

Não terminou a frase. Sibila apanhara a sua mão, e com a unha afiada do indicador direito acompanhou as linhas da mão direita de Gina.

­­- ''O passado está presente no futuro". Tenha cuidado. Ele nunca te abandonará, mas você terá que abandona-lo... lembre-se: ''O passado está presente no futuro..."

Seus olhos giraram novamente e voltaram ao normal. Ela parecia ter acabado de acordar.

­- Acho que não estou bem, querida. Preciso voltar à torre. Até logo.

Cambaleando, Sibila passou por ela em direção à Torre Norte. Gina quase sorriu. ''O passado está presente no futuro", era realmente uma coisa idiota. Mas ''ele nunca te abandonará...", não era brincadeira. E se realmente fosse verdade? Claro que, a primeira pessoa a se encaixar nesse ''ele'', seria Riddle.

Riddle... era por causa dele que precisava falar com Dumbledore. Virou-se para a gárgula, dizendo:

­­­­­­­­­­­­­­­­- Salada Mista!

A gárgula fez um movimento e deu espaço para uma escada circular. Gina não sorriu: o escritório não trazia boas lembranças. Só estivera ali quatro vezes e em todas, o assunto sempre fora o mesmo: TOM RIDDLE. Parecia perseguição!

O diretor aguardava-a sentado na cadeira, atrás da escrivaninha. Ele sorria, mas Gina não sentiu vontade de imitar o gesto dele.

Ele aguardou em silêncio, esperando que ela falasse. Gina pensou no que dizer. Já havia se passado uma semana desde que chegara e já tivera seis sonhos com ele, sem contar alguns flashes que tinha. Era como ver Tom aparecer e desaparecer em  instantes. Finalmente, Gina quebrou o silêncio.

­­­­- Olá, professor.

­­- Bem-vinda novamente, Gina. Dessa vez a Hogwarts. Lupin me disse que você queria conversar comigo.

­- É - ela suspirou e embora tentasse ser forte, sua voz estava trêmula - É sobre Tom. Tom Riddle, sabe. Eu estou tendo uns sonhos com ele.

­Dumbledore parecia surpreso, mas seus olhos brilhavam, calmos.

­­- Que tipo de sonhos, senhorita?

Gina corou loucamente.

­­- Hum... são bem... é para eu ser direta?

­­­­­­- Necessariamente. O que acontece nos sonhos?

­­- Eu... ele... bem, em todos nós nos beijamos e ele diz que eu cresci e que sentia falta de mim. Mas há dois tipos de sonhos. Em uns, ele é como eu imaginei antes de saber a verdade: Tom é romântico, sonhador e carinhoso. Em outros, ele sempre me pergunta se eu estou com medo. Se eu digo que sim, Tom fica irritado e tenta me seduzir sem nenhuma emoção.

O Professor não disse nada.

­­- Então?

­­- A senhorita já tentou acordar dos sonhos? - perguntou ele observando-a atentamente. Gina não precisou pensar.

­­­- Tentei uma vez. No avião, quando vinha para cá. Foi o primeiro tipo de sonho. Mas não pude, então não tentei mais. Por quê? O senhor acha que eu possa acordar?

­­­- Mais ou menos. Há dois tipos de sonho, e creio que o primeiro seja realmente isso : eles só acontecem porque você quer. É difícil de concordar, mas você Gina, ainda sente alguma coisa por Riddle, apesar de tudo que ele fez. Há uma parte dele em você, que permite que o segundo tipo de sonho aconteça. Vai ter sempre os sonhos e pode acordar se quiser, mas não pode fugir. Infelizmente.

­­- O segundo tipo de sonho é real?

­- Nem todos os sonhos são reais. Mas acho, que Voldemort de alguma forma e por algum motivo, está tentando manter uma ligação com você. Não sei sob qual intenção, mas certamente, não é por caridade. Você tem treinamento - lembrou o professor. - Pode resistir a ele.

Os olhos de Gina encheram de lágrimas, que ela tentou sustentar.

­- Não. Eu não posso. Tom é mais forte do que eu. ­­­­­

­­- Você sabe que não, Gina - interrompeu o Prof. Dumbledore carinhosamente. - Você pode ganhar com facilidade dele se utilizar a sua coragem. Vamos, não é à toa que foi da Grifinória, afinal, você tem o sangue dos Weasleys se lembra? - Gina não fez nenhum gesto para falar e Alvo acrescentou: - Use sua força interna! Você é mais forte do que parece, já lhe disse isso. Qualquer outra pessoa, aos onze anos teria sucumbido em questão de semanas e você resistiu por meses! Gryffindor teria orgulho em saber que uma pessoa como você estudou em sua casa!

Gina sorriu.

­­­­­- Nem tanto...

­­- É sim! - o diretor fitou-a com uma expressão respeitosa. - Você foi monitora-chefe, uma excelente aluna. Brilhante, e eu acrescentaria fiel aprendiz dos encantamentos de Fred e Jorge Weasley, sem contar os que são de sua própria criação. - Um brilho sonhador assumiu os olhos de Dumbledore. - Eu ainda me lembro do Feitiço de Luzes Alegrantes. O corredor ficou cheio daquela nuvem azul e todos na proximidade dele ficaram rindo sem parar por horas. Foi excepcional, sem dúvida, pena que haja uma regra que proíba feitiços nos corredores... Mas não foi à toa que você ganhou dezessete N.I.E.M's em seu último ano... Esse foi um dos motivos que me fez oferecer o curso a você...

Pronto! As lembranças de Gina acabaram e ela dolorosamente voltou ao presente. Presente... isso lhe lembrou algo:

-­­ Professor, antes de eu entrar na sua sala, aconteceu uma coisa muito esquisita. Encontrei a Profª Trelawney e ela... bem, acho que entrou em um estado muito estranho. Acho que fez uma ''predição''.

A não ser que fossem os olhos de Gina, o Prof. Dumbledore não pareceu muito a vontade.

­­­- Então - continuou ela -, ela disse ''O passado está presente no futuro'', ou algo parecido. E disse também que ele nunca me abandonaria, mas eu teria que abandona-lo, então repetiu novamente aquela frase. O senhor acha que foi real? Quero dizer, Adivinhação é um ramo extremamente inexato...

­- Exatamente! - gritou Dumbledore, com triunfo. - Nem sempre as ''predições'' acontecem. Quem garante que isso se realize?

­- Eu não me importaria com o que ela falesse, se não se encaixasse no quebra-cabeça Tom Riddle-Gina, que há anos eu monto. Mas uma peça é certa: Tom nunca vai me deixar, porque nós estamos ligados não é? E ela me avisou para ter cuidado, e eu tenho que abandona-lo pelo meu bem...

­­­­- Nem sempre escolhemos as peças certas nos lugares certos.

­­­- Então rezo para ter escolhido as peças erradas. E sobre a minha Missão?

­­­­- O que você pretende? Há várias Missões. Alguns dos membros da Ordem da Fênix participam no planejamento, outros são Medibruxos, ou agem no Ministério com informações ou...

­­­- O senhor sabe o que eu quero, professor! - disse Gina lentamente.

­­- Tem certeza que quer se encontrar com o Lord das Trevas?

Ela concordou com a cabeça.

­- Encontre-me em dois dias, no Salão de Reunião da Ordem. Estarei lá com duas pessoas que prestam o mesmo serviço e uns amigos que lhe auxiliarão.

Gina concordou novamente e pediu licença; sem dizer mais nada, saiu do escritório do diretor de Hogwarts.

Predição... Tom Riddle... sonhos... Gina já enjoara de ficar pensando nisso. As lágrimas que sustentara durante toda a conversa com Dumbledore escaparam e ela as deixou rolar. De alguma forma, estava sendo aliviada de muitas tensões.

Sentou-se na frente do lago, pensativa. Queria que todas as lembranças ruins fossem esvaídas com as lágrimas mesmo sabendo que era impossível. Então ela estava ligada a ele. Claro, isso explicava os sonhos que pareciam reais, a sua eterna lembrança dele e... e o sentimento de que Riddle queria usa-la mais uma vez.

''- Juro que vou vencê-lo!"

Ela prometera isso. Afinal, não fora só por uma briguinha com Harry Potter que ela decidira ser Auror. Riddle também fizera coisas boas, como ajuda-la a tentar vencer seus medos; ela sabia que nunca conseguiria ir bem nos N.I.E.M's, se não quisesse mostrar que podia vencer Tom. Ele ainda a ajudara em seu primeiro ano,  fosse o que fosse.

Com um pasmo de raiva, Gina se levantou, como se só agora percebesse o seu pensamento: ela estava tentando encontrar o lado bom de um ser sem coração. "Chega de ser idiota, Virgínia Weasley!", pensou e levantou-se, decidida a aproveitar o final da tarde, em Hogsmeade.

O Três Vassouras estava incrivelmente cheio, apesar de ser Segunda-feira e estar um calor horrível. Não parecia haver nenhuma mesa vaga à vista, com exceção das reservadas e Gina, com todas as sacolas de compras de lojas do povoado, não estava com paciência de esperar um lugar. Estava na porta quando uma mão a segurou no ombro.

­­­- Remo? Que susto você me deu! - ela sorriu a Lupin e olhou para as suas sacolas: - Não vou poder te abraçar, Remo. Eu... andei fazendo umas compras, sabe.

­­- Percebi - comentou Lupin, sorrindo animado. - Quer ajuda? - sem esperar resposta, apanhou as sacolas da mão esquerda dela. - Eu estava tomando um suco... quer me acompanhar?

­- Tudo bem. Obrigada pela ajuda.

Ele conduziu-a a um lugar perto da janela. Lupin pediu um suco de abóbora e, enquanto esperavam, Remo, notando que ela olhava pela janela com o olhar perdido, chamou-a diversas vezes. Por fim, encostou suavemente nas mãos dela. Gina arrepiou-se e olhou para Lupin.

­- Desculpe - murmurou ele.

­- Não foi nada. Foi bom você ter me acordado.

­- Você falou com Dumbledore?

­- Acabei de sair do castelo. Obrigada por ter me incentivado a ir. Sério.

­- Não foi nada. - Eles riram. - Então, o que me acha de contar do seu curso?

Com habilidade, Lupin desviava o assunto sempre que ele chegava perto demais de *Tom Riddle*, mas Gina não se importou, porque tinha uma estranha sensação. Gostava do bem-estar que sentia perto de Lupin e entregou-se a conversa, esquecendo-se do tempo. Era bom ter um amigo como ele.