Capítulo 6 - O Encontro as Trevas – A Missão

Sentia a presença de Comensais olhando-na, desconfiados, sob o capuz negro. Finalmente, ela atingiu um enorme portão negro, e viu, além dele, um pequeno castelo com uma torre enorme e negra – e uma única luz vindo de lá de dentro. Era uma luz pálida e a visão não agradou Gina. Mal tocou a primeira badalada, Gina saiu em direção ao jardim. Sentiu uma pequena parcela de medo quando pensou em não encontrar o mesmo lugar que estava antes. Oliver não viera com ela, pois tinha saído da festa vinte minutos antes. Eles apenas trocaram algumas breves palavras e uns sorrisos confiantes.

O caminho mudou subitamente. O verde-escuro deu lugar a um asfalto negro, duro. Fumaça azul brotava do chão, tornando tudo nublado e confuso. Mas Gina não hesitou e seguiu em frente, com a cabeça erguida. Sabia que estava no caminho certo, porque sentia a sua estranha ligação com Tom Riddle aumentando - era um aperto bem fundo no coração. Talvez só não fosse pior porque era Voldemort, e não Riddle.

Ela hesitou e, naquele instante, os Comensais fizeram-se presentes. Murmuraram algumas palavras e de suas varinhas saíram finas linhas de feitiço negro, que formaram grilhões em seus pulsos. Gina não impôs resistência e contentou-se em olhar com desprezo para os grilhões.

Os portões se abriram com um ruído esganiçado. Os grilhões pareciam puxá-la para dentro e ela seguiu-os, atenta aos comensais. O feitiço que a prendia era um complicado e poderoso mas, instintivamente, Gina sabia que poderia detê-lo se quisesse e fosse necessário - mas aquilo praticamente arruinaria a sua Missão e, portanto, seria pior do que ser morta - pelo menos no seu ponto de vista.

Gina andou até o castelo e parou quando os grilhões deixaram de puxá-la. A essa altura, estava na frente da entrada do castelo, uma enorme porta de madeira, talhada com vários desenhos de serpentes e dragões.

Um Comensal da Morte apareceu à sua frente e Gina encarou-o com desprezo e frieza, ao mesmo tempo em que seus olhos adquiriam um brilho sedento de poder. O Comensal sorriu por debaixo do capuz e desviou os olhos, olhando a de cima a baixo. Então voltou a fitá-la, com um leve vestígio de admiração.

­- Por que estás aqui, plebéia?

Gina mordeu os lábios e deixou um lampejo de ódio passar por seus olhos.

­-­ Porque sou uma plebéia. Não quero isso para mim. Sei que posso ser mais, se me interessar.

­- Sem dúvida és muito corajosa. Ou excessivamente tola. Não temes a morte? - agora a sua voz era irônica.

- O medo é uma coisa para tolos e fracos. Não temo nada, pois sei que entre os piores pesadelos, há coisas piores. - disse ela seriamente, e o Comensal pareceu se atrapalhar. Um outro Comensal da Morte apareceu subitamente, vindo de sabe-se lá onde, e cochichou algo para o primeiro Comensal.

­- São as ordens de Milorde. Ele exige ver a garota - sussurrou o segundo. Gina estava se concentrando ao máximo para ouvir.

­- Não acho uma boa... - começou o primeiro, e o segundo Comensal cochichou-lhe algo inaudível, mesmo para Gina. O primeiro Comensal da Morte abaixou a cabeça, e assim permaneceu, até que o outro fosse embora.

­- Muito bem - tornou ele. E virou-se desconfiado para Gina. - Saiba desde já que não confio em ti, plebéia. Mas só cumpro ordens.

E fez um gesto displicente. As portas de madeira se abriram, sem um ruído. Havia um corredor cumprido, sem luz alguma.

­- Vá diretamente ao final - avisou o Comensal da Morte. - Não pare em momento algum, nem se vire.

Então lhe deu passagem e ficou parado na parede, olhando fixamente para frente.­­­

­­­A curiosidade lhe tentava a cada passada que dava. Mas, lembrando-se das palavras do comensal, foi direta ao final. Havia outra porta, porém dessa vez aberta. Comensais da Morte postavam-se em duas filas, olhando para frente, concentrados em olhar para o enorme trono de ouro. Um senhor sentava-se lá, olhando friamente para Gina.

Ela avançou entre as filas de Comensais, tentando manter os olhos fixos no senhor. Reconheceu-o imediatamente: narinas dilatadas, o rosto mais pálido do que um crânio, olhos vermelhíssimos que expiravam veneno: Lord Voldemort. Decididamente, ele não se parecia em nada com Tom Riddle e Gina quase suspirou aliviada. Parou a tempo, entretanto. Embora estivesse um pouquinho feliz por não ser Riddle, sentiu um arrepio ao ver Voldemort.

Medo. Medo? ''O medo é uma coisa para tolos", repetiu mentalmente. Ela, sentindo aquilo? Uma grande bruxa, Auror, sentindo um sentimento tão negativista quanto aquele? O que estava acontecendo com ela, afinal? "Não, eu não estou com medo", pensou, "só estou me deixando levar por ele. Acorde, Virgínia Weasley!"

Gina postou-se diante do trono do Lord das Trevas e curvou-se, com a cabeça abaixada, mantendo nos olhos um pingo de maldade pura. Devia desprezar os mais simples e reverenciar os mais fortes: essa era umas das principais leis das Trevas.

Lord Voldemort fitou-a, sem expressão. Ficou pensativo por uma fração de segundos, até que, por fim, ordenou as Comensais da Morte que se retirassem. Curvou-se e, com uma força surpreendente, ergueu seu rosto, segurando-o pelo queixo. Fitou os olhos castanhos dela que, por melhor Poção da Maldade que houvesse, no fundo ainda conservavam uma inocência, uma característica que a tornava tão forte quanto delicada.

­­- Virgínia Weasley - disse ele. - Uma pérola branca no Reino Negro. A filha do Ministro da Magia ao meu alcance. Imagine o que ele faria se eu ...

­- Se...? Senhor? O que o senhor faria? - perguntou Gina, e seu rosto não continha nenhuma expressão.

Um sorriso cruel formou-se no rosto de Voldemort.

- Nada... Então... é você - disse ele.

-

- O que eu sou, senhor?

-

­- Esqueceu-se de Tom Riddle? - a voz dele era infinitamente irônica, como se quisesse machucá-la, ou testar a sua habilidade.

Gina fitou por um longo segundo aquele par de olhos vermelhos. Seja lá o que viu, respondeu:

­- Jamais o esqueceria, senhor. Porém, não ousaria confundi-lo com milorde, uma vez que, apesar de ser poderoso, Riddle não tem sua magnitude. Há, também, outro motivo pelo qual eu não posso esquecê-lo: ele marcou a minha vida, me mostrou o lado mal, motivo pelo qual lhe sou profundamente grata.

O Lord das Trevas não pareceu se admirar, porém, como ele nunca mostrasse alguma emoção, isso não significava nada.

­­- Não sente falta dele? Nem um pingo de ódio? - ele estava sendo cruel e frio.

Gina estava um pouco trêmula ao responder:

­- Falta alguma ele me faz. - ("Gina, essa mentira foi horrível!", pensou ela consigo mesma). - Prefiro-o com plenos poderes... E quanto ao ódio, somente odeio por ser fraco e por não ter conseguido matar aquele maldito Potter.

Pela primeira vez ela notou alguma comoção por parte dele. Percebeu, com uma pontada de felicidade, que ele se incomodava com aquele nome.

- Mudou, Weasley. Antigamente babava por aquele garotinho.

-

­- Tudo muda - disse ela rapidamente.

­- Exatamente... Então, quer se juntar aos Comensais? E no que poderia ser útil?

­­­- O meu pai é Ministro da Magia e faz parte da Ordem da Fênix.

­- Terá coragem para fazer isso? E, segundo o que sei, também faz parte da Ordem.

­­­­- Coragem não me falta... - alguma coisa não dita pairou no ar. - E só faço parte da Ordem da Fênix por nome. Não me deixam fazer nada - esse foi um dos motivos pelo qual quero poder. Quero fazer aqueles tolos idiotas, que me renegam, se arrepender do que fizeram. Quero ter o prazer de tortura-los, um a um.

Dessa vez, Gina abaixou os olhos sem encarar Voldemort. Já se arrependera do que dissera, mas tinha a infeliz consciência de que não poderia voltar atrás.

­- Até o Harry Potter?

Gina ergueu os olhos, dizendo friamente:

­- Esse principalmente.

­- O que tenho por garantia de que não vai me trair? E o que ganho confiando em você?

­- O que quer de mim? - disparou ela, e sentiu que essa pergunta mudaria o seu destino.

­- Você. E mais nada.

O rosto de Gina começou a arder e ela tinha a plena consciência de que estava corando. Aquilo não lhe lembrava o Lord das Trevas - parecia Riddle. E contra Riddle ela sabia que perdia. Mas, ainda assim, concordou - era tudo pela Missão . Uma das principais regras da UADCAT: falhar  não faz parte do vocabulário dos Aurores...

­­- Aceito! - e levantou-se, sem saber o por quê. Os olhos vermelhos pareciam ordenar que ela fizesse isso.

­- Pois bem. Aceito-a, desde que duele com um Comensal da Morte. Se sobreviver...

Voldemort a levou até uma sala circular onde tochas ardiam. Os Comensais da Morte estavam todos reunidos lá formando um círculo central, e - Gina percebeu alarmada - que eram quase cem. Voldemort disse-lhe para permanecer no centro do círculo e sentou-se em um trono que havia lá.

­­­- As regras são simples: um Comensal da Morte duelará com a Weasley. - avisou Voldemort, com a sua voz fria ecoando na sala. - É permitida morte, porém somente entre os combatentes. Portanto, - ele riu - esperem que a diversão venha depois. Bella, quer fazer as honras?

Um Comensal da Morte se adiantou, olhando para Gina com desprezo. Ela retribuiu com o mesmo olhar e percebeu que não era um homem... era uma mulher... e Gina conhecia aqueles olhos... Há muito tempo, mas ainda se lembrava... Bellatrix Lestrange!

Lestrange se curvou, assim como Gina, para darem início ao duelo. Ergueram as varinhas e deram três passos para trás.

­- Muito bem. Que comece o duelo! - os olhos de Voldemort brilhavam, divertidos. Gina e Bellatrix ainda se entreolharam.

­­- IMPERIO! - gritou Bellatrix. O feitiço acertou Gina e ela sentiu-se leve. Sabia controlar aquele feitiço, mesmo com a voz insistente de Bellatrix dizendo repetidamente da sua cabeça...  ''diga a verdade... confesse que é uma espiã...''

Um riso escapou de Gina: um riso alto e frio. Ela abanou a cabeça, livrando-se do feitiço.

­- Isso é tudo que você pode fazer? CRUCIO!

Os Comensais viram, admirados, o feitiço acertar Lestrange e ela se ajoelhar, com óbvia dor. Ainda assim, ela era orgulhosa o bastante para não demonstrar, de modo que sofreu em silêncio. Depois de alguns segundos ela se levantou, e sem perda de tempo, lançou a Maldição Cruciatus.

­­­A dor chegou a Gina, e ela procurou resistir a ela. Era um efeito psicológico, e mesmo com a maldição tentando-na, a moça procurou resistir. Respirou fundo segundos antes de gritar: - Expelliarmus!

Lestrange parecia esperar por isso.

­- Protego!

­­­­­­­­­­- Imperio! - gritou Gina, instintivamente, por puro reflexo.

''Desista... desista...'', a voz de Gina ecoou na cabeça de Bellatrix, mas ela conseguiu se livrar.

­- Parece que não foi o bastante...

­­- Eu não teria tanta certeza! Sofridoleur!

Esse feitiço, desconhecido por Bellatrix, finalmente a venceu. Ela caiu no chão, em evidente sofrimento. Contorcia-se e agitava-se como se estivesse em péssimo estado fébril. Então, tudo cessou. Bellatrix ficou ali, parada. A dor parecia ter cessado, mas o feitiço ainda obrigava-a a ficar naquele estado. Gina somente olhou-a, orgulhosa, e voltou a olhar para Voldemort. Os Comensais da Morte estavam calados.

­- Eu a venci, senhor. - disse ela.­­ - E lhe peço permissão para não matá-la. Reconheço que ela foi uma grande combatente - uma pessoa digna de uma luta.

­- Exatamente. Mas faria isso em um duelo com um daqueles tolos da Ordem da Fênix? - o rosto de Voldemort estava impassível.

­- Com eles seria covardia... mas ainda assim, os mataria sem dó.

­- Sofridoleur... Conheço esse truque das Trevas. Admito que somente pessoas excepcionais o fariam, e que você ganhou a luta. Entretanto, não matou a Lestrange... Isso foi uma atitude fraca... porém...

Voldemort se levantou, de súbito.

­­­- Retire o feitiço de Bellatrix. - ordenou ele a Gina. Então olhando para os Comensais: - Deixem-me a sós com a Weasley.

Gina estalou os dedos e abaixou a varinha, guardando-a. Bellatrix, como por encanto, acordou do estado em que estava. Dois Comensais da Morte ajudaram-na a se levantar e a acompanharam para fora da sala. Mas entre o mar de pessoas que saíam, uma enorme serpente entrou, tendo a passagem livre pelos Comensais, que se afastavam do caminho para deixa-la passar.

­­­- Nagini... - sibilou Voldemort, em língua de cobra. - Pedi para ficar a sós com ela...

­­- Eu sou ciumenta - respondeu a cobra, fitando-o severamente. Então olhou para Gina, que estremeceu diante do olhar de ódio da cobra. - Pensei que iria dá-la para mim... faz tempo que você não me dá algum alimento especial...

­Voldemort desviou os olhos da cobra, para chamar Gina.

­- Saiba que ainda não confio em você...

­­­­- Então...?

­- Não vou  mata-la, nem vou aceita-la. Se achar que valha a pena, você se torna uma Comensal da Morte.

A serpente levantou-se, ficando na altura da face de Gina. Nagini olhava-a com depreciativo nojo. Gina continuou imóvel, mais por desdém do que por medo.

­- E se não valer a pena? - perguntou ela, desviando o olhar da cobra.

- Se não valer, ou eu souber que você está ao menos pensando em me trair... eu cobro a minha garantia...

Ele sorriu, e embora Gina imitasse o seu gesto, ela engoliu em seco.

A Poção da Maldade começara a perder o efeito às duas horas da manhã, quando Gina saiu da festa. A tonteira era enorme, seja pelos efeitos da poção,  pela maldade compulsiva, seja pelo esforço que fizera com os Comensais. Então o sono chegou-lhe, e ela estava sem forças para resistir a ele. Acomodou-se no carro, sem sentir a presença de Oliver, que a olhava assustado, e apagou, obviamente precisando de um pouco de sono.

A tonteira continuou, mesmo sendo um sonho. Ela percebeu, assustada, que era um daqueles sonhos ''reais". Tentou acordar, mas quanto mais fazia isso, mais tonteira sentia. Era algum feitiço de Riddle, claro.

­- Ainda bem que você entendeu. - disse Tom. Ela procurou encontra-lo, mesmo com a visão ruim. Tonteira. Ele estava em pé, ao lado de uma cama, e ela percebeu que estava em um local diferente. Era uma sala, fechada, com somente um cortinado negro, que levava a uma varanda.

­- O que eu entendi? - perguntou ela, e conforme falava, a tontura aumentava.

­- Que não adianta resistir a mim... - ele foi até ela, e puxou-a. Gina, fraca, conduziu-se por ele. Riddle a deitou no centro da cama, e sentou-se ao lado, acariciando-lhe o cabelo. Era um gesto carinhoso, mas aquilo parecia frio e fingido. E quando ele se inclinou, e seus lábios tocaram-se, ela perdeu a consciência do sonho.

N/A: Muito obrigado pelos comentários! Espero que continuem gostando, sabem. Desculpe pela demora, mas eu estava com problemas para colocar a fic aqui no FF; bom, prometo atualizar no mais tardar na sexta. Acho que é só, bjos, Lena!