Capítulo 8 - O último beijo
"O amor perguntou à amizade:
- Para que é que tu existes?
A amizade respondeu:
- Para enxugar as lágrimas que tu deixas cair"
Todos os participantes da Ordem da Fênix que sabiam sobre a Missão de Gina Weasley estavam presentes na Sala de Reunião, alguns com o semblante preocupado, ou pensativo ou neutro.
O Prof. Dumbledore embora confiante em Gina, mostrou-se preocupado quando ela começou a falar dos Comensais da Morte. Era como se esperasse por alguma coisa e aparentemente ficou feliz quando essa "alguma coisa" não veio.
- Pareceu-me que você conseguiu facilmente infiltrar-se no grupo dos servidores do Lord das Trevas... - comentou Alastor Moody seriamente porém sua voz continha um pouquinho de hilaridade e desconfiança.
- O que está sugerindo? - perguntou Gina secamente. Estava com uma forte dor de cabeça e não estava com paciência para aturar os comentários de Moody.
- Há duas hipóteses que me ocorrem: primeira, o Lord das Trevas sabe que você é uma espiã nossa e planeja coletar informações para seus planos maléficos através de você - ele fez um barulho de descrença com a garganta -; segunda, você está realmente trabalhando para Ele e é uma espiã dele.
A jovem não respondeu - calou-se confusa. Sabia que ela não era uma espiã, mas seria que Voldemort planejava usá-la? Então, um sorriso cruel formou-lhe no rosto enquanto a resposta veio imediatamente: É claro que ele está planejando algo, do contrário não seria tão fácil infiltrar-se no ninho dos Comensais; porém não seria tão fácil enganá-la.
Sorrindo triunfal, Gina respondeu:
- Não há perigo de que qualquer uma dessas hipóteses ocorra.
- E Tom Riddle? Não iria querer se juntar ao seu velho amigo?
- Por que eu iria querer me juntar a alguém que queria que eu morresse? - perguntou Gina em resposta, friamente.
O olhar de Moody se estreitou.
- Não sei, não é? - disse ele mais para si mesmo. - Mas vou lhe dizer uma coisa, garota. Anos de experiência me dizem que você esconde algo, e que isso é um perigo.
- Então quando descobrir, senhor, me avise. Se a sua experiência não tiver chegado muito tarde.
A reunião acabou depois de meia hora.
- Oliver? - chamou Gina, parada a poucos centímetros de distância do rapaz. Ele estufou o peito e se virou, dizendo cavalheiramente:
- Sim, bela senhorita? No que posso ajuda-la?
- Não precisa bancar o gentleman comigo, Writhe. - disse ela, sorrindo divertida.
- Então me chame de Oliver. E não sou um gentleman! Sou simplesmente um cavalheiro romântico que se derrete facilmente a beleza de uma linda jovem como a senhorita.
Gina fitou-o, incrédula.
- Você devia ser ator, sério.
- Tenho que ser convincente, afinal, sou um espião-ator.
- Eu precisava de um favor seu...
- Ah! Eu imaginava. Essas mulheres cruéis se aproveitam de minha excessiva bondade... - disse ele, extremamente dramático. Então voltou ao normal: - O que você quer?
- Eu preciso da ficha de uma pessoa. Julliana Bogger. Tive uma idéia, mas preciso saber se ela é confiável.
- Claro. Acho que posso encontrar isso nos Arquivos do Ministério da Magia. Mais alguém?
Gina hesitou. Uma idéia surgiu em sua mente e ela ficou indecisa. Alguma coisa a fez se decidir.
- Eu quero os arquivos de Tom Riddle - disse firme. Oliver olhou-a seriamente por uns momentos então sem dizer palavra alguma, aparatou.
Uma mão a segurou no ombro. A jovem virou-se rapidamente, com a varinha a postos.
- Calma! - era Harry. Ele recuou sob a ameaça da varinha dela.
- Desculpe... - murmurou Gina, com um sorriso sem graça, enquanto guardava a varinha em um bolso das vestes branco-pérola. - O que foi? - perguntou, embora achasse que sabia o assunto.
Ele fitou-a com a expressão séria.
- Por que você pediu os Arquivos de Voldemort?
Gina ergueu um dedo.
- Primeiro: Não pedi os arquivos de Voldemort, mas sim de Tom Servolo Riddle. - Ela ergueu outro dedo. - Segundo: Eu pedi porque eu quero! - Outro dedo levantou-se. - Terceiro: Eu não lhe devo informações, Sr. Potter.
Ele não alterou a expressão.
- Primeiro: Tom Riddle é Voldemort e Voldemort é Tom Riddle, quer você queira, quer não. Acha que eu não sei? Você não percebeu que diz pra si mesma que Riddle não é o Lord das Trevas simplesmente pelo fato de que você gosta dele e não quer associá-lo com um assassino? Segundo: Você não pediu porque quer. Você pediu porque precisa e quer encontrar alguma associação entre Riddle e Voldemort para poder odiá-lo, ainda que isso vá te machucar. Terceiro: Para o seu bem, você me deve informações, além do mais, eu sou o seu Supervisor aqui, e se eu quisesse poderia muito bem impedir que você fosse uma espiã. Seria muito simples atestar que você não resistiu a uma Poção da Maldade... - ela olhou com raiva para Harry - ... mas eu não faria isso com você. Não seria justo, porque eu estaria misturando assuntos pessoais com assuntos de trabalho...
- Assuntos pessoais? - repetiu Gina, com a raiva tomando conta. - Que assuntos pessoais nós temos, Potter? Desde quando há um "nós" entre eu e você?
- Havia um nós! E ainda existiria se você não preferisse ser uma Auror a ficar comigo.
- Lembre-se que era possível ter as duas coisas. Se algo não deu certo foi por sua culpa!
Harry não respondeu. Olhou para um envelope dourado em sua mão por uns instantes então o ergueu.
- Tome. É sobre isso que eu ia falar. O convite do meu casamento com a Cho. Daqui a duas semanas.
- Certo. - A raiva abrandara. Agora, ao olhar para o cartão, ela sentia-se triste e fraca.
- Claro. - Ele entregou-o a ela, e suas mãos tocaram-se levemente. Ambos entreolharam-se e assim que seus olhos se encontraram, começaram a falar ao mesmo tempo.
- Harry, eu...
- Gina, nós...
Então se calaram. Gina pegou o envelope e guardou-o.
- Eu gostei dos seus olhos. - disse Harry sem olhar para ela, depois de um tempo em silêncio.
- Ah, bem... isso foi... - ela corou se lembrando do "acidente". - Na verdade, era para mudar o cabelo. Sabe, o vermelho se destaca e não combina muito com uma Auror, então tentei mudar... Mas acho que falei o som de uma palavra e saiu errado, mudando a cor dos meus olhos...
Harry olhou-a e quando seus olhos se encontraram, ambos não desviaram.
- Você queria deixar seu cabelo verde? - perguntou ele marotamente.
- Claro que não! - seu rosto ficou semelhante aos cabelos. - Esse foi outro erro. O cabelo ia ficar preto, mas sabe-se lá como o feitiço saiu verde... Mas eu acabei gostando e deixei.
- Fez uma boa escolha. Lembram os meus.
Ela abaixou a cabeça, envergonhada. Era incrível como Harry parecia ter adivinhado. Depois de alguns segundos, levantou a cabeça, e disse sem desviar os olhos. Ela estava sendo ousada, mas não corou, nem gaguejou.
- Percebi isso. Foi por isso que os deixei verdes. Era uma forma de me lembrar de você.
Ele sorriu.
- Isso me lembra o que você disse naquele dia. Quando nós... quero dizer, quando Eu e Você começamos a namorar.
- Não sabia que se lembrava desse dia.
- Me lembro de muito mais - disse ele maroto, fazendo-a corar. Sabia que nada de muito profundo havia acontecido entre os dois, mas ela nunca disse nada a ninguém sobre alguns passeios à noite com ele, nos quais certamente teria acontecido algo se ele não a respeitasse.
-...
- Então... aquela frase que você disse quando falou que meus olhos eram lindos... - Ele deu um passo a frente e seus rostos estavam a poucos centímetros de distância. Ela podia sentir a respiração e o perfume dele. - "Para que contemplar os olhos..."
- "... se eles se fecham quando os lábios se tocam". - completou Gina. - Eu me lembro.
Ele sorriu e colocou as mãos em torno da cintura dela. Sabia que aquilo não estava certo, porque estava noivo da Cho, mas aquilo era uma coisa incondicional. Amava aquela jovem, e por ela deixaria a Cho, mesmo sabendo que Gina jamais concordaria. Fora um erro ficar com a Cho para tentar esquecer Gina, e agora, ele arcava com as conseqüências.
Gina, por sua vez, esqueceu todos os receios que sentia. Apenas Cho Chang e Tom Riddle atrapalhavam a sua felicidade. Cho por estar noiva de Harry; Tom Riddle por ter uma ligação com ela. Uma ligação que não a deixaria em paz, porque ela acordaria todas as noites pensando em Tom, enquanto ele existisse. Ainda pensava nisso, porém, passou as suas mãos pelo pescoço dele.
- Isso não está certo - disse ela.
- É certo impedir alguém de ser feliz?
- Não é certo interromper algo que já foi prometido.
- Eu te amo. Já disse isso várias vezes e torno a repetir: Eu...
- Não precisa falar. Eu sei, porque... porque... eu também te amo.
Aquilo foi suficiente para ambos. Não era preciso mais palavras. Houve apenas mais uma breve troca de olhar, nas quais ambos concordaram. Então, se aproximaram - e finalmente se beijaram. Um beijo carinhoso, que ambos ansiavam há muito tempo, e seja pelo orgulho ou por medo, eles hesitavam. Mas agora todos os receios sumiram, e eles apenas curtiam.
Harry era a única pessoa que a fazia se esquecer de Riddle até aquele dia. E beija-lo não era igual a beijar Riddle, nos sonhos ou em lembranças. Ela precisava de Riddle, porém com Harry, era amor.
Houve um baque quando um envelope dourado caiu no chão. Eles se separaram e olharam imediatamente para o chão, a procura do que havia feito o barulho que os "distraíra". Era o convite do casamento de Harry.
Gina abaixou para pegar o envelope, então se levantou e sentou-se na poltrona. Somente quando Harry sentou-se ao lado dela, ela falou algo.
- É uma despedida... - sem que ela pudesse evitar, lágrimas vieram aos seus olhos. -... Ela está grávida, Harry. Grávida. Não é certo...
- Eu não preciso me casar com ela para ela ter o filho.
- Realmente. Mas você está a escolher o caminho mais fácil, não o mais certo. E você está mentindo. Qualquer um sabe que ela ficou grávida para te prender.
- Então não é minha culpa! - defendeu-se ele. Gina olhou marota.
- Tem certeza de que você não fez nada?
Harry não respondeu.
- Foi uma despedida, Harry. Você disse que me ama, e eu não duvido. Mas nós não podemos ficar juntos... Então... - Ambos se levantaram. - É uma despedida. - repetiu, e beijou-o na face delicadamente.
- É uma despedida - repetiu ele, e com um sorriso triste, aparatou.
Gina jogou-se no sofá, esperando por Oliver, enquanto lágrimas tristes escorriam por sua face livremente.
- Aqui está! - Oliver despejou na poltrona duas pastas pretas e igualmente gordas. - Deu um pouco de trabalho achar o Arquivo de Tom Riddle. Estava na década de 20... O Arquivo de Julliana Bogger foi mais fácil. Ele é de 84.
- Ela é muito nova. - comentou Gina, abrindo uma das pastas negras, que continha um selo enfeitiçado: "Arquivos de Julliana Bogger". Não queria ler sobre Tom Riddle na frente de Oliver.
- É... pensei que você soubesse dela. Fred não comentou nada com você?
- Fred? O meu irmão, Fred Weasley?
- Esse mesmo. Ele foi namorado da Jully por um tempo, em Hogwarts, e bem, não sei se eles se reencontraram depois disso - o tom com que ele disse isso explicou tudo: Fred havia reencontrado Jully depois de Hogwarts. Então, seria por isso que Malfoy queria tanto se casar com ela?
- Fala sobre isso nos Arquivos? - Oliver concordou com a cabeça. - Ok, então... Eu vou ler isso agora. Te devolvo amanhã, tá?
- Sem problemas.
Gina se levantou e colocou o envelope dourado em cima das pastas.
- É o convite do casamento do Potter? - perguntou Oliver. Gina olhou para ele, concordando. - Ouça. Talvez eu poderia te acompanhar ao casamento se você quiser...
- Eu aceitaria. - Ela sorriu. - Obrigada por tudo.
E aparatou. Mas não foi para seu apartamento. Foi até um parque trouxa, que possuía um lugar mágico para ela. Era um lago bonito e grande, e em volta havia uma relva grossa e macia. Se tinha algum lugar que a relaxava era lá. Era um lugar bom para ver os Arquivos. Porém mais do que tudo, queria se lembrar do seu Beijo de Despedida, enquanto rezava mentalmente para não ser o último.
Mas para sua surpresa, havia uma pessoa lá. Ela aproximou-se lentamente, segurando as pastas. Reconheceu o cabelo dourado.
- Remo?
Lupin olhou bruscamente para ela, com a mão a meio caminho de lançar uma pedra no lago.
- O que você está fazendo aqui? - perguntou ele.
- Eu sempre venho aqui.
- Então somos dois. Mas eu já ia embora...
- Se for por minha causa pode ficar. Não vou atrapalhar. Tenho uns Arquivos para estudar e posso ficar do outro lado.
- Sem problemas. Pode ficar aqui comigo. Não me importo.
- Tudo bem então.
Ela se sentou calmamente e colocou as pastas em seu colo, com o envelope dourado sobre elas.
- Ele te entregou - disse Lupin. - Ele falou que estava com medo porque não sabia se ia ter coragem e... acho que deve ter doído pra ele... Mas e você?
- Não sei... - ela não sabia porque estava dizendo aquilo pra Lupin. Ele fora o seu professor, e agora era um amigo. Mas será que podia confiar? Ela precisava de alguém naquele momento. - Nós nos beijamos... Foi um beijo de despedida... Acho que nos entendemos agora. Ele vai casar porque é o certo. E não depende da minha vontade.
Novas lágrimas surgiram e ela olhou para o lago. Depois de alguns segundos nos quais as lágrimas correram, ela começou a seca-las.
- Desculpe. - sussurrou. Lupin abanou a cabeça.
- Não se preocupe. Quer ajuda para analisar esses Arquivos?
- Obrigada. Não precisa se preocupar, eu estou bem. E... obrigada por ter me ouvido. É bom saber que eu posso confiar em você.
- Você me ajudou me ouvindo essa madrugada.
- Então foi uma troca boa. E nós dois saímos ganhando.
- É... - ela colocou a mão na corrente. - Eu tenho que te devolver - disse, retirando-a. - Você disse que a sua mãe se chama Katherine?
- Sim... por quê? - perguntou ele, quando ela entregou a corrente.
- Porque a minha avó se chamava Katherine. Ela morreu pouco tempo antes de eu entrar para Hogwarts. Ela era um anjo.
- Então acho que Katherine é um nome especial. Nome de anjo.
Ambos sorriram. Então, ela deitou a cabeça no colo de Lupin e ele acariciou-lhe os cabelos gentilmente, enquanto ela estava perdida em pensamentos.
– Adeus, Harry – murmurou baixinho. – Te amo, eternamente...
N/A: Esse capítulo foi à minha amiga e beta Nanda e às pessoas que carinhosamente comentaram a fic. Desculpem a demora, eu desanimei sabe. Mas "Pesadelo Real" agora volta, com tudo, prometo! Reviews, please!
