Santa Madalena – Capítulo Seis

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"Obrigada..." Marguerite agradeceu uma menina que havia comprado um pirulito gigante de chocolate colorido.A menina saiu feliz com o doce na mão e Marguerite sorriu. "Oh, como estou cansada..." suspirou e sentou-se num banquinho.

"Ah anima aí amiga! Hoje está melhor do que ontem!" Verinha chegou animada como sempre perto de Marguerite.Com as mãos no avental vermelho que Marguerite possuía um igual, ela botou as mãos no bolso e sorriu. "Não olha amiga, Antônio está vindo com José!". Ela avisou.

Marguerite arregalou os olhos e colocou a mão no cabelo. "Como estou?!" Ela se preocupou, arrumou o vestido. Vera sorriu e segurou as mãos dela. "Ta linda, como sempre!".Marguerite sorriu.

Marguerite se levantou e olhou por cima do ombro rapidamente para ver a distância do homem.Pegou um pano e passou em cima do balcão despistando. "Ai minha santa, me ajuda!". Suspirou e tentou fazer uma expressão agradável.

"José! Por onde andou ontem? Eu procurei você na rua toda e não achei! Onde você estava???". Antônio se distanciou e seu olhar caiu em Marguerite.

"Ah Verinha, eu estava por aí...".

"POR AÍ? –Ela se alterou- "Gostaria que eu dissesse a você que você não me achou porque eu estava por aí!?".

"Não meu docinho, calma!". José e Vera discutiam outra vez.Vera jogou pano que estava em sua mão em José e saiu andando furiosa.

"É melhor ir atrás dela José...". Marguerite disse sem desviar o olhar do balcão.Ela viu que Antônio se aproximava.

"Verinha! Meu amor! Eu juro que estava só por aí, mais nada!!!" Ela gritou e foi correndo atrás dela.

Marguerite olhou e sorriu.Quando voltou a limpar o balcão, viu que Antônio estava parado em sua frente.Ela subiu o olhar na camisa verde musgo bem passada e chegou aos olhos dele. "Olá Antônio..." Ela sorriu meio sem graça.

"Olá Marguerite... Como estão as vendas?".

"Vendas? Pensei que ia perguntar sobre mim!" Pensou. "Estão bem melhor do que ontem... E você como está?".

"Bem melhor do que ontem...". Ele sorriu.

Marguerite notou que algo estava faltando. "Onde está John, ele não vem hoje?". Ela procurou por ele.

"John? Bem, me disse que estava com dor de barriga... Disse que foram os doces que comeu ontem aqui e decidiu não vir mais...".

Marguerite botou as mãos na cintura furiosa. "Oh! Meus doces não dão dor de barriga!".

"Oh eu sei... Estou muito bem, até melhor depois deles... John é um fracote! Não agüenta nada... Sempre foi assim...".

"Sempre?". Marguerite estranhou. "Será que se conhecem a tanto tempo assim?".Pensou.

"Bem... Sim..." Antônio se aproximou de Marguerite botando os cotovelos ficando cara a cara com ela. "Mais não estamos aqui para falar dele, estamos?". Ele balançou as sobrancelhas sugestivamente.

Marguerite se ruborizou. "Tem razão, estou aqui para trabalhar e você para comprar...". Ela afastou os cotovelos dele do balcão e passou o pano ali.Antônio ficou sem graça. "O que vai querer hoje?".

"Hum... Tem algo de novo?". Ele olhou para a bancada no centro da barraca cheia de doces de todas as cores. "Quero aquele vermelhinho ali...".

"Oh... Tenho que adverti-lo... Esse doce causa efeitos colaterais...".

"Efeitos laterais?".

"Não... Colaterais..." Ela chegou perto e cochichou. "Afrodisíaco...".

"Afro o que?".

Marguerite sorriu sem graça. "Que inteligência!". "Eles causam reações no corpo, um tanto 'agradáveis', se é que me entende... Claro que aconselho no rótulo come-lo dentro de quatro paredes mais quase todos não lêem e..." Ela parou de falar ao ver que o doce já tinha acabado. "Você leu a embalagem?".

"Hmmm?... Não, nem vi...". Ele engoliu o doce.

"Oh..." Ela lamentou. "Bem, quando começar a sentir calor, me avise! Vou dar um jeito de esses efeitos não produzirem sucesso em você...".

Antônio não entendeu mais sentiu um pouco amargo o seu paladar. "Está bem... A propósito... Você estará amanhã aqui também?".

"Sim, amanhã é o último dia...".

"Virei amanhã!".

"Que bom..." Ela sorriu.

Em seguida Vera voltou. "Eu nunca mais quero ver José na minha vida!".

Antônio ficou observando Vera junto com Marguerite. "O que aconteceu?".

"José é um mentiroso! Disse que foi embora ontem às dez... e exatamente as DEZ ele pareceu na barraca da dona Juana...".

"Como sabe?".

"Eu perguntei a ela...".

"Oh... Não liga Vera, essa gente também adora ver o circo pegar fogo... pode ser uma mentira para vocês brigarem... só isso! Só para ter o que comentarem da feira na vizinhança..." Marguerite abraçou a amiga sentada no banco desolada.

"Mais dona Juana é boa...".

"Boa ela é, fofoqueira também! Não seja inocente, não confie nos vizinhos tanto assim amiga! Sei que José não é santo, mais ele também deve ter tido seus motivos para ir embora seja lá quantas horas fosse...".

Vera olhou para Marguerite com os olhos cheios d'água. "Será que ele está me traindo?".

"Oh! Bobagem! Ele não seria maluco!".

"Oh... Queria tanto ter a certeza que você tem...".

"Bem... Certeza eu não tenho, mais José pode ser o que for, porém ele gosta de você!".

"Você acha?".

Marguerite olhou para Antônio que estava impaciente. Logo depois viu José com muitos girassóis na mão. Uns até com a raiz e tudo. "De onde ele tirou isso meu Deus!" Marguerite sorriu e cutucou Vera.

"VERA! EU TE AMO MEU CHUCHÚ!".

Vera se levantou correndo e saiu da barraca. O povo abriu uma roda no meio da rua onde os dois estavam.Ele sorriu e ofereceu as flores.

"EU TAMBÉM TE AMO MINHA ABOBRINHA!" Ela respondeu e correu para os braços de José dando-lhe um beijo.

O povo que assistia a cena aplaudiu.Marguerite riu com Antônio.

Depois do alvoroço criado pelos dois, Antônio exclamou balançando a camisa. "Está quente esta noite...".

Marguerite olhou para o homem suando. "O-ow... Vera toma conta agora para mim, eu já volto...".

"Aonde você vai?".

"Vou ajudar Antônio!". Ela segurou nos braços fortes dele e o levou para a ponte rosa, perto dali.

"Você sabe nadar?". Ela perguntou para ele que suava mais ainda.

"Ham? Sei sim mais por quê está me perguntando?".

"Porque você terá que mergulhar neste rio.Não é fundo não...Pode ir!Ou você não vai agüentar as conseqüências...".

"Que conseqüências?".

"Você queria saber que efeitos o doce iria causar em você? Pois então, é isso que está sentindo agora!".

"Calor?..."

"Ham... Algo mais..." Ela desviou seu olhar do membro rijo que não se escondia mais.

Antônio olhou para baixo e escondeu isto com as mãos. "Desculpe...".

Ele pulou depressa no riu. O lugar era um pouco afastado, não havia quase ninguém além de dois casais no banquinho.

"Está melhor?" Marguerite perguntou da ponte para ele de pé encharcado no rio.

"Acho que sim... O calor passou...".

Marguerite agradeceu de olhos fechados. "Sim, já está melhor..." Ela sorriu e chamou-o para cima.

*

John estava ouvindo o rádio, que falhava toda hora, sentado na poltrona da pequena sala.Estava vendo o álbum de fotos que tirou da caixa que encontrou atrás do balcão.As fotos eram em preto e branco mais expressavam bem todos os rostos.

Sorriu ao ver a foto do dia de seu casamento. Ao lado, uma foto dele e de sua mulher de costas, no altar da pequena igreja.Na igreja só havia parentes e alguns amigos. Depois uma foto da mulher sorrindo. "Como você era linda meu bem...". Sorriu. Virando a página, viu uma foto dele e de sua mulher em frente à antiga casa. Ao lado, a foto dela grávida em baixo de uma árvore.Ela estava com um lindo vestido com as mãos na grande barriga, e sorrindo. Depois ao virar, mais uma página, viu a foto de sua filha, já com um ano de idade. "Os cabelos lisos e curtos como os da mãe...". Ela sorriu novamente. Virou a página, mais só viu a foto dele e de sua filha brincando na varanda.Aquela foto fez John voltar até aquele dia feliz.Mais um, entre todos.

Ao fechar o álbum, John percebeu que havia uma folha de um jornal velho dobrado por baixa da capa marrom.Ele enfiou a mão e pegou. Abriu cuidadosamente e engoliu seco ao lembrar do que se tratava.

"Jornal do México. Mérida, Dois de Fevereiro de 1999. Grupo terrorista toma como refém cinco pessoas em um banco. Duas reféns foram mortas na troca de tiros, entre elas, uma criança de apenas dois anos".

John acabou de ler o que foi a capa do jornal e fechou os olhos sentindo como se o acontecido tivesse passado ontem.Ele nunca vai esquecer aquele dia, por mais que os anos passem, e novas coisas e pessoas surgissem em sua vida.

John se levantou e deixou o jornal sobre a mesa.Foi para o quarto e deitou- se na cama, sem sono.Toda vez que pensava no assunto ele perdia o sono.

Já era tarde e ele ainda não tinha conseguido dormir.Levantou-se e foi até a mesa onde estavam o álbum e o jornal.Pegou uma caixa de papelão na lanchonete e botou tudo ali dentro.Tudo que fosse sobre a sua família e que lembrasse ela.

Guardou no alto de uma estante na sala e voltou para o quarto.

Cinco minutos depois, John conseguiu dormir.

CONTINUA...

*~*~*

*** Ai deu até vontade de chorar tadinho dele... Alguém se habilita a tentar faze-lo esquecer? *=) "R" ! Obrigada! ***