Um Ataque aos sentidos
Audição

Harry e Hermione se amavam. Todos sabiam disso.

Mas Harry e Hermione não sabiam, e por Merlin, Rony os forçaria a saber. E ele tinha o plano perfeito pra fazer isso.

O amor afetava os sentidos. Deixava uma pessoa toda lerda. Todos sabiam disso. Nada era tão bonito quanto o amado, ou soava tão docemente ou cheirava tão bem, etcetera, etc. Mas Harry e Hermione de certa forma estavam imunes a tudo isso. Então Rony ia ajudá-los antes que fosse obrigado a machucar a si mesmo.

Bem, Rony, Gina, Dino, Simas, Lilá, Parvati... Concordavam com isso. Machucar-se parecia a ordem do dia.

Como o amor verdadeiro podia ser tão irritante?

Harry não podia admitir a verdade pra si mesmo por causa de todos os problemas com Voldemort e Hermione era racional demais pra cair de amores por um de seus amigos.

Certo.

Rony decidiu que precisaria de uma dose de sutileza. Ninguém precisava assustar esses dois inocentes. Com um pouco de pesquisa (Hermione ficaria orgulhosa!) Rony e seus comparsas acharam um feitiço que aumentava a audição de uma pessoa e podia ser ligada a uma voz específica. O feitiço era usado nos caóticos tempos dos campos de batalha quando as ordens do comandante precisavam ser ouvidas pelos soldados. Rony se perguntou o que os criadores do feitiço diriam se pudessem ver o que ele pretendia fazer com o feitiço agora. Parou por um segundo, pensando nos fantasmas que circulavam por Hogwarts. Quem disse que eles não podiam ver?

Rony deu de ombros, despreocupado com as possíveis retaliações do outro lado, balançou a varinha e murmurou o encanto sobre o corpo adormecido de Harry. Lilá e Parvati faziam o mesmo no quarto de Hermione. Amanhã, os dois pombinhos acordariam e ouviriam o doce som da voz do outro. Ficariam surpresos, se perguntariam o que estava acontecendo. Mas descobririam que foram feitos um pro outro. Se você ouvisse uma voz acima de todas as outras, não importando onde estava, o tempo todo, não acharia que tem uma ligação com essa pessoa? E não ficaria pensando sobre essa ligação? E talvez chegaria à conclusão que essa ligação estava lá o tempo todo e veria o quanto essa pessoa é necessária em sua vida?

Claro que sim. Harry e Hermione estariam juntos antes do fim do dia, e Lilá e Parvati estariam planejando o casamento deles.

Rony decidiu que ele era um gênio.


Harry estava ficando louco. Hermione já estava maluca. O dia inteiro, não conseguiram ouvir nada além da voz um do outro. Não, eles podiam ouvir as pessoas falando, mas as vozes delas ficavam quase mudas. Entretanto, se um deles falasse, o som penetrava no ouvido do outro como se fosse um foguete.

Não importava onde eles estavam, ou quão baixo falassem, eles se ouviam como se estivem ao lado do outro, falando diretamente no ouvido. Começou pela manhã, quando Harry ouviu Hermione falando com bichento como ele era um gato bonzinho e Hermione ouviu Harry conversando consigo mesmo sobre quadribol. A partir daí, as coisas apenas pioraram.

Harry ouviu Hermione gritando pra Lilá e Parvati pra elas se apressarem no banheiro. Hermione ouviu Harry falando sobre quadribol. Ele a ouviu falando com si mesma sobre todos deveres e possíveis questões de no teste de herbologia. Ela o ouviu falar de quadribol (não era muita surpresa, pois no fim de semana haveria uma partida de quadribol).

Vocês podem se perguntar, por que eles não perceberam que havia algo errado? Afinal, como Rony uma vez dissera, ouvir vozes em sua cabeça, que mais ninguém pode ouvir, não é um bom sinal, nem mesmo no mundo mágico. Bem, primeiro, os dois reconheciam as vozes. Isso com certeza contava. Segundo, a autora poderia ficar aqui explicando sobre sentimentos escondidos, negação e sobre o subconsciente acionar todos os sinais para que o cérebro pudesse perceber, mas ela confia que seus leitores podem concluir isso por si mesmos. É suficiente dizer que esses dois idiotas não queriam perceber.

Por incrível que pareça, foi Harry que finalmente aceitou que algo estava errado. Claro, ele era mais experiente em ouvir vozes, então era o esperado. Gina e Hermione tentaram a velha conversa de garotas durante o café da manhã, mas Harry ficou tão vermelho com os comentários que Hermione sussurrava que ela achou que era melhor parar a conversa e perguntar se estava tudo bem com ele. Ele se recusou a olhá-la nos olhos e fez o trajeto até a porta tão rapidamente que Hermione pensou que Voldemort tinha aparecido do lado de fora do Salão Principal.

Ela finalmente o alcançou no corredor, mas ele se recusou a conversar com ela. Não só se recusou a dizer qual o problema, mas também se recusou a falar. Ele apenas balançou a cabeça, levantou a mão, correu até o fim do corredor e sussurrou "oi".

Hermione engasgou quando ouviu a voz de Harry como se ele estivesse bem ao lado dela e depois o ouviu novamente como quando as ondas sonoras de fato alcançaram seus ouvidos. Era como se houvesse um eco bizarro em seus ouvidos. Ela cobriu a boca com a mão. -Ah, não - gemeu.

-Ah, sim - Harry falou, sério.

Eles tentaram ficar em silêncio depois disso, mas, como todos sabem, o fruto proibido é o mais gostoso. Assim que eles decidiram que não deveriam falar, ambos encontraram muitas oportunidades de diálogos. Os professores os chamavam durante a aula, os amigos os chamavam pra conversas particulares, Harry tinha uma reunião com o time de quadribol, Hermione precisava perguntar algo a Madame Pince.

Era uma loucura.

No fim do dia, Harry e Hermione estavam enjoados da voz do outro. Não conversavam com ninguém, muito menos entre si. Deixaram bem claro, através de sinais e bilhetes que se descobrissem que isso foi alguma brincadeira, quem quer que tivesse planejado passaria por um período bastante doloroso. Os dois marcharam para os dormitórios (em perfeita sincronia, Lilá e Parvati perceberam, suspirando) sem perceber nada.

Sentado no salão comunal, Rony parecia inexplicavelmente cansado e deprimido.