Um ataque aos sentidos
Visão
Rony estava no salão comunal pensando em suas opções. Aparentemente, Harry e Hermione não gostaram muito de poder ouvir as vozes um do outro o dia inteiro. Idiotas ingratos. Como ele podia saber que a voz ligada ia fazer parecer que a pessoa estava gritando em seu ouvido? Com certeza, não era muito bom ouvir a voz de seu amado gritando, mas o fato deles se ouvirem o tempo todo devia ter indicado algo, não é mesmo?
Bichento olhou para Rony com a familiar expressão de desprezo. -Ah, cala boca - Rony resmungou. -Estou tentando fazer sua dona feliz, isso devia te deixar feliz. Além disso, Merlin sabe que você sempre gostou mais de Harry do que de mim.
Bichento, claro, concordou com essa afirmação, mas não demonstrou isso a Rony. Ele apenas piscou daquele jeito preguiçoso, insolente, que apenas gatos possuem e virou pra procurar um lugar confortável pra cochilar.
Rony suspirou. Bem, parecia que era hora para um segundo feitiço. Felizmente, o grupo estava pronto para essa possibilidade. Se os doces tons da voz do outro não os convencesse, então ver um ao outro de uma forma diferente, convenceria.
Afinal eles se amavam. E Rony ia se assegurar que eles percebessem isso.
Sim, um feitiço para afetar a visão (também adaptado de um feitiço usado em tempos de guerra para os objetivos deles) ia ser usado. Quanto mais uma pessoa gostasse da outra, quanto mais confiasse nela e ela confiasse também, mais forte seria seu efeito na visão. Aqueles que fossem considerados inimigos, como o bastardo idiota do Malfoy, produziriam um efeito negativo.
Harry e Hermione se olhariam com estrelas nos olhos. Literalmente.
Rony decidiu que ele praticamente um gênio.
Harry estava ficando cego. Hermione tinha certeza que estava com problema nos olhos. Por que mais então apareceriam faíscas ao redor de certas pessoas enquanto outras brilhavam com um vermelho infernal?
Começou logo de manhã, do mesmo jeito que seu problema com os ouvidos. Harry mal olhou para Rony, que parecia brilhar contra a luz da manhã. Ele deu os ombros, pensando que era o resultado da combinação de não estar de óculos e da comemoração da vitória na partida de quadribol. Entretanto, quando colocou os óculos, Harry viu que Rony não estava envolvido por um brilho, mas faíscas pareciam estar saindo dele. Naturalmente, Harry ficou preocupado com o fato. Primeiro, tentou abafar Rony com um cobertor, pensando que ele estava pegando fogo. Depois da reação violenta de Rony a esse gesto, Harry tentou alguns 'Finite incantantem' pra tirar qualquer magia sob qual Rony estivesse. Estranhamente, Rony virou os olhos, resmungou alguma coisa que não pareceu um elogio e empurrou Harry para o chuveiro.
Hermione não teve melhor sorte, achando que seu querido Bichento estava em chamas, e depois de receber alguns arranhões por sua preocupação, tentou a mesma tática de Harry, murmurando alguns 'Finite incantantem'. Pela primeira vez em sua vida, Bichento lançou para Hermione um olhar de desdém e escárnio com seus olhos amarelos. Não acredito que você ainda não descobriu, parecia dizer a ela. -Bem, eu lamento - ela respondeu. -Não é todo dia que vejo faíscas saindo de você. E não acredito que estou conversando com um gato estúpido! - Bichento, obviamente, não gostou do insulto e saiu do quarto imediatamente, deixando Hermione sozinha e infeliz, vendo pequenas luzes saindo de Lilá e Parvati.
O problema começou de verdade quando Harry e Hermione desceram para o Salão Principal para tomar café. Hermione já tinha chegado, e tomava um café da manhã leve quando Harry entrou com Rony. Quando se viram, os dois gritaram de dor (o grito de Harry foi bem masculino, claro) e tiraram os olhos um do outro. Dino e Simas olharam sem nenhuma preocupação. Rony ficou surpreso. Draco apenas sorriu e fez um comentário tão sem sentido que a autora prefere não relatá-lo.
-O que? O que foi? - Dino perguntou, indo até Hermione, que estava curvada de dor. Ele olhou para Harry, que estava na mesma posição.
Harry olhou para ele, piscando rápido, com lágrimas escorrendo por seus olhos. -Eu apenas olhei para Hermione - ele começou, com a voz bem fraca, -E havia uma luz ao redor dela. Era tão...
-Forte - Hermione terminou, levantando e olhando pra qualquer lugar, menos para Harry. -Não conseguia olhar pra ele. Ele estava revestido de luz.- Franziu a testa, preocupada. -Harry, alguém pode estar tentando de amaldiçoar? Você acha que Volde- eh – Você-Sabe-Quem...?
-Me fazendo ver luzes ao redor de certas pessoas? E fazendo você brilhar tão forte que eu não posso nem te olhar? Que tipo de maldição é essa?
Hermione franziu a testa novamente e notou que Rony parecia estranhamente nervoso. Ela precisava de mais informações. -Descreva o que vê, Harry.
-O que? Ah, claro. Bem, não posso olhar pra você porque brilha muito. Tem um bocado de faíscas saindo de Rony e de Dino e Simas também saem algumas. Hã, Gina tem algumas faíscas, Crabbe e Goyle estão, hã, que estranho, vermelhos e Draco está brilhando com algumas faíscas vermelhas.
Ao ouvir a última frase, Rony se engasgou e começou a tossir violentamente. O problema da visão de Harry e Hermione ficou em segundo plano enquanto os dois, ainda cuidando para não se olharem, tentavam evitar que Rony morresse asfixiado. Nenhum dos dois viu os olhares de preocupação trocados pelos outros na mesa da Grifinória.
Rony conseguiu se recuperar, mas estava tão abalado que Hermione sugeriu que ele fosse à Madame Pomfrey, ver se ela tinha algo para ajudá-lo. Harry rapidamente se voluntariou para acompanhá-lo, já que não ficava completamente cego quando olhava para Rony. Hermione, finalmente olhando para Lilá e Parvati, infeliz por Harry ir, concordou, mas antes fez Harry prometer que eles conversariam depois sobre o que os atingiu. Os garotos foram para ala hospitalar, deixando Hermione com a testa enrugada e um enigma em sua cabeça.
Madame Pomfrey deu uma poção animadora para Rony, mas como ele não estava doente de verdade, o deixou hiper-ativo o resto dia. Não é necessário dizer, hiper-ativo e Weasley não é uma boa combinação. Rony teve que ser segurado para não bater em Malfoy nada mais que seis vezes; um recorde, até mesmo para ele. Quanto menos se disser sobre o comportamento dele, melhor. Pelo lado bom, Rony conseguiu fazer sua poção corretamente na sala, surpreendendo tanto o Professor Snape que ele deu uma detenção a Rony, pois tinha certeza que o garoto colara. Rony nem ligou e agora estava pensando em fazer um estoque de poção Reanimadora.
Madame Pomfrey não tinha nenhuma sugestão para Harry e na verdade ficou bem intrigada com os sintomas dele. As faíscas e o brilho vermelho pareciam tão familiares; ela sabia já ouvira falar desse feitiço antes. Mas não conseguiu fazer a associação e suas tentativas de finite incantantem tiveram tanto sucesso quanto as outras. Não havia nada a ser feito, ela disse. Se isso continuasse, Harry deveria visitá-la no dia seguinte.
Mas isso não ajudava Harry ou Hermione agora. Eles foram para as aulas e tentaram se concentrar ao máximo, mas não conseguiam. Ver flashes de luz ou brilho vermelho (a maioria vindo dos sonserinos, estranho) emanando das pessoas não era algo que deixava o dia bom. Harry não conseguiu enxergar o pomo com toda aquela luz vindo de seus colegas de time. Hermione, que não conseguia ler sem ser distraída, estava quase chorando. Estranhamente, pelo menos para Harry e Hermione, Rony também estava quase em prantos. Não poder ver um de seus melhores amigos, ter que controlar para onde olhava era demais. Naturalmente, Harry não agüentava mais.
-JÁ CHEGA! - ele gritou de repente quando olhou sem querer para Hermione no salão comunal e ficou sem enxergar. -Quem quer que tenha feito isso, é um homem morto. Ou mulher. Ou criatura! Quem ou o que fez isso é melhor correr antes que eu descubra quem é, - ameaçou.
Rony começou a ficar nervoso de novo. Lilá e Parvati tentavam se encolher ao máximo. Um Harry raivoso nunca era uma coisa boa. Senhores das Trevas morriam quando isso acontecia. Isso era bom, claro, mas como não tinham nenhum Senhor das Trevas no momento, Harry podia atacar todo o salão comunal. Ou toda escola.
Hermione tentou acalmar Harry. -Harry, não se preocupe. Estou pesquisando e acho que encontrei algo. Poderemos fazer um contra-feitiço amanhã.
-Mas quero poder olhar pra você hoje!
Lilá e Parvati deram um gritinho de alegria. Rony olhou para eles antes de um pequeno sorriso aparecer em seu rosto.
-Harry, vamos ficar bem. Vamos para cama... – nessa hora, Dino e Simas quase não podiam segurar o sorriso malicioso. Eles eram garotos. E assim, parecia que seus olhos iam saltar das órbitas. -E dormir. Vamos resolver isso, eu prometo - Hermione disse.
Harry ficou pensativo, e pra dizer a verdade, estava engraçado, pois ele estava tendo essa conversa com os olhos fechados, mas eventualmente concordou com a cabeça. -Certo. Rony, eu vou pra cama - disse, fazendo uma pequena careta quando abriu os olhos e olhou para o amigo.
Rony sorriu encorajando. -Certo. Subo daqui a pouco - ele disse, -Preciso perguntar uma coisa a Lilá.
Harry concordou e subiu para os dormitórios. Ele e Hermione lutaram para subir as escadas, a cabeça de Hermione sobre o ombro de Harry. Ela ainda sussurrava palavras de conforto no ouvido de Harry.
Lilá e Parvati mal podiam segurar seus gritos de alegria.
