Um ataque aos Sentidos
Olfato

Rony suspirou frustrado. Seu plano não estava funcionando tão bem quanto esperava. Harry e Hermione já deviam estar passeando juntos pelas pradarias a essa altura. Ao invés disso, eles não estavam mais próximos do que já eram, se olhavam de uma maneira bem esquisita e Rony nem tinha certeza se a escola tinha uma pradaria.

Claro, eles tinham a floresta proibida com centauros e vampiros bem perto, mas aparentemente, uma pradaria era querer demais.

Rony suspirou. Pessimismo não ia levá-lo a lugar algum. Ele precisava de uma estratégia. Ele precisava atacar o problema de outro jeito. Ele precisava de reforços. Era hora de colocar para funcionar o 'Time' como ele gostava de chamar. Rony olhou a sua volta pelo Salão Comunal.

Lilá e Parvati. Úteis para fazer Hermione planejar o casamento, mas Rony tinha suas dúvidas sobre suas capacidades de estratégia. Dino e Simas. Rony riu. Ele achava que eles entendiam um pouco de estratégia, mas pedir ajuda a eles seria o mesmo que pedir a Fred e Jorge. Você provavelmente não teria a ajuda que queria, e ainda acabaria com o cabelo rosa. Era um bom apoio e para sair de situações difíceis. Gina. Muito nova e, é claro, sua irmã, então isso estava fora de questão. Neville... ah. Neville. Perfeito. Rony levantou e foi até sua presa.

-Neville! Preciso de sua ajuda, parceiro!

Neville levantou os olhos, um pouco de preocupação estampada em seu rosto. -Com o que? - perguntou. Ele sabia do plano de Rony e simpatizava completamente com a causa, mas se perguntava o que Rony queria com ele.

-Neville, você é o especialista em herbologia. Existe alguma planta que afete o olfato humano ou que afete a libido, que possa ser misturada em uma poção e não seja venenosa? E que possa ser feita rápida e silenciosamente, sem que Harry e Hermione saibam?

Neville ficou um pouco tenso. -Bem, hã, sim, existem certas plantas que afetam o olfato. Deixam mais aguçado e coisas assim. A professora Sprout está cultivando outra planta que, preparada corretamente, tem certas qualidades afrodisíacas. Acho que elas poderiam ser colocadas em uma poção que não matasse ninguém.

Rony deu uma risada meio maléfica. Só um pouco. -Perfeito. Você pode fazer a poção e eu colocarei na comida ou no suco deles.

Neville ficou extremamente nervoso e não muito convencido com as chances desse plano.
-Mas... eh, Hermione sempre me ajuda com as poções. Como vou fazer uma poção sem a ajuda dela? Você não pode apenas misturar as plantas e torcer que dê certo. Algo vai dar errado.

Rony deu um tapinha nas costas de Neville. -Neville, eu já te decepcionei alguma vez? Vou te ajudar. - Rony deu um enorme sorriso.

Neville parecia tão doente que ia desmaiar, engoliu seco e deu um pequeno sorriso.

Rony decidiu que ele era muito esperto.

Harry estava distraído. Hermione estava distraída. Todo mundo estava distraído, pra dizer a verdade. A poção, surpreendentemente, funcionou. Tanto Harry quanto Hermione tinham o olfato tão aguçado que podiam farejar raízes. O problema era com a parte afrodisíaca da poção. Como Neville previu, algo deu errado. Eles colocaram afrodisíaco demais e como resultado tanto Harry como Hermione exalavam ferormônios suficiente para atrair um Erumpente. O que significava que não se precisava de um olfato aguçado para se achar atraído por Harry ou Hermione. O que significava que multidões os seguiam, de repente desesperados para levá-los para jantar, ir para Hogsmeade ou apenas achar um armário de vassouras confortável. O que significava que os dois estavam dispostos a matar.

Mas não exatamente do jeito que se pode pensar.

Entenda, Harry e Hermione realmente estavam com o olfato aguçado, então estavam bem conscientes um do outro. Harry podia sentir o xampu que Hermione usava; Hermione conseguia sentir o cheiro de sabão na pele de Harry.

E isso os distraia.

Na área dos odores, Harry ficou com a pior parte. Os homens, como todos sabem, podem produzir maus cheiros que não são encontradas em nenhum lugar da natureza, produzi-los em grandes quantidades e ainda se acharem ótimos. Na verdade, em certos meios, quanto maior o fedor produzido, maior a popularidade do garoto. Então o coitado do Harry de repente se deu conta dessa fossa de mau cheiro quando Rony, estranhamente, lhe ofereceu um copo de suco de abóbora depois de tomar banho. Quando esmagado pelo cheiro, Harry fugiu para o salão comunal, onde estava um pouco melhor. Ele sentou, ofegando, imaginando o que estava acontecendo. Enquanto estava sentado, tentando sem sucesso não respirar pelo nariz, ele percebeu uma fragrância delicada pairando no ar. Era uma mistura estranha de... laranja...tinta... e pergaminho, finalmente ele descobriu o que era. Não parecia uma combinação apetitosa, mas Harry ficou hipnotizado. Era um cheiro maravilhoso, reconfortante, fresco, quente e sedutor. Cortava todos os outros odores como uma faca corta manteiga. O envolvia como um coberto quente. Ele olhou a seu redor, se perguntando de onde vinha, quando seu olhar parou em Hermione, sentada numa cadeira, com a testa franzida.

Entenda, Hermione tinha um problema parecido. Apesar de não ter que lidar com ataques de odores naturais, como as garotas não eram membro do clube "fedidas é melhor", Hermione tinha sim que lidar com as fragrâncias artificiais que as garotas usavam para encobrir e atrair. Dividir um quarto com Lilá e Parvati praticamente a derrubou, então ela teve que escapar para o salão comunal. Notou que Harry praticamente corria enquanto descia as escadas, mas estava preocupada demais com sua situação para prestar atenção. Além disso, quando Harry desceu, um cheiro maravilhoso inundou o salão. Era grama misturado com ar fresco, pele quente e limpa e roupas leves. Sobressaiu a todos os outros aromas e abraçou Hermione. Os olhos dela se fecharam enquanto ela inalava e os sentiu abrir e se fixarem em Harry, que olhava para ela com uma expressão estranha. Ele parecia quase... faminto, mas ela piscou e a expressão desapareceu.

Os dois perceberam de quem vinha o cheiro gostoso e os dois coraram e depois se perguntaram porque o outro corara. Ah sim, a poção de Rony e Neville não funcionou como eles esperavam, pois Rony só se preocupou em como começar o jogo e não com o meio dele. Ele apenas assumiu que Harry e Hermione se jogariam nos braços um do outro. Não era o caso. Tanto Harry quanto Hermione eram muito teimosos e quando não queriam enxergar alguma coisa porque achava que prejudicaria o outro, então, eles ficavam sem enxergar. Isso, entretanto, os deixara muito irritados.

O olfato aguçado, junto com a hipersensibilidade aos ferormônios um do outro, combinado com o desejo inconsciente pelo outro, resultou que os dois estavam prontos para matar qualquer um que viesse farejando (por assim dizer) seu amigo querido. E considerando que Hermione era a bruxa mais inteligente da escola e Harry era um dos bruxos mais poderosos que pisara em Hogwarts, os homicídios prometiam ser criativos e sangrentos ao extremo.

Hermione e Harry no momento estavam num armário de vassouras, sentados lado a lado, esperando que a multidão fosse embora. Graças a um feitiço do desaparecimento, tanto Harry quanto Hermione conseguiram sumir tempo suficiente para entrar em um desses cômodos tão úteis. Hermione suspeitava que Hogwarts tinha o dom de fazer certos cômodos aparecerem quando você realmente precisava dele.

Harry cerrou os dentes. -Hermione, se mais algum cara encostar em você, vou amaldiçoá-lo até que não saiba que lado é para cima e qual é para baixo!

Hermione revirou os olhos. -Ah, e suas fãs são muito melhores? Você sabe muito bem que eu não tenho idéia de como de repente me tornei atraente pra maioria dos estudantes. Claramente, é algum tipo de poção, mas não acredito que alguém usaria uma poção do Amor que afetasse nós dois em toda a escola! Quer dizer, é ilegal e completamente perigoso!

Harry resmungou algo, irritado. -Hermione, você não se tornou atraente de repente para a escola toda. Você já era, eles apenas resolveram agir agora. Não acredito que Justino te chamou mesmo ara ir a Hogsmeade, principalmente depois que eu já conversei... - ele resmungou.

-Você fez o qu? - Hermione interrompeu, seus olhos brilhando perigosamente, esquecendo por conveniência que fazia algo parecido.

Harry começou a ficar nervoso. -Eh, eu apenas perguntei o que ele planejava fazer quando saísse com você. - sorriu. -Estava apenas tomando conta de você, Hermione.

-Posso tomar conta de mim mesma, Potter. - replicou, perdoando-o rápido demais. -Por favor, pare de agir como um irmão mais velho. Já tenho Rony pra fazer esse papel. Como se não pudesse me cuidar sozinha. Francamente!

Haary lhe deu um sorriso torto. -Sei que pode. Só quero garantir que você está feliz. Todos precisam de ajuda de vez em quando.

Hermione balançou a cabeça. -O que preciso descobrir é por que estamos atraindo todos os estudantes de Hogwarts! E por que posso sentir todos os cheiros tão bem hoje? Podia sentir o cheiro do café de l do quarto hoje. Não sei como, mas devem estar conectados. E por que posso sentir seu cheiro tão be... - parou de repente, corando.

Harry olhou para ela, curioso, se perguntando o que a fez corar. -Já te disse Hermione. Você já era atraente. Todos apenas tomaram coragem pra fazer alguma coisa. Acho que é nisso que devemos nos concentrar. Além disso, acho que sei o que há comigo. Sou um lobisomem, Hermione. - Ele disse, muito sério.

Hermione olhou para ele. -O que? Claro que você não é um lobisomem. Não seja ridículo.

Harry olhou sincero para ela. -E quanto a meu olfato? Posso sentir o cheiro de seu cabelo, de sua pele - Ele não contou a parte do cheiro dela ser a única coisa que o impedia de enlouquecer nesse novo mundo de odores. -Isso não é normal. Remo disse que pode sentir cheiros que mais ninguém pode. - Ele parou um instante e farejou o ar. -Você cheira bem. Que perfume você usa?

Hermione suspirou. -Não uso nenhum. Harry e prometo que você não está virando um lobisomem. Conheço todos os sintomas, lembra? Aprendi no terceiro ano. Também tenho o mesmo olfato aguçado e tenho certeza que não sou um lobisomem. Além disso, mesmo que você fosse, te diria imediatamente o que estava acontecendo e consertaria as coisas.

Harry sorriu. -Não há cura para licantropia, Hermione.

Hermione olhou feio para ele. -Eu encontraria uma. Já disse que consertaria as coisas.

Harry riu dessa vez. -Você conserta tudo Hermione. O que faria sem você?

Hermione riu enquanto colocava a cabeça sobre o ombro dele. -Provavelmente viraria um lobisomem. Teria que te esconder em meu quarto todas as luas cheias. Bichento adoraria.

Harry olhou para ela e beijou a testa dela gentilmente. -Não sei porque, acho que minha vida seria muito pior que isso. Você deixa tudo melhor, Hermione. Você me faz feliz. Mesmo quando está atolada em livros e pergaminhos.- Ele virou um pouco e colocou um braço ao redor dela. Assim era melhor, ele decidiu. Seu outro braço achou o mesmo caminho e a enlaçou.

Hermione levantou os olhos brilhantes e desconfiados para ele e sorriu. -Você me faz feliz também, Harry. Menos quando está jogando quadribol. Nessa hora, você me deixa aterrorizada. Agora vá dormir, Harry. Vamos cuidar dos fãs amanhã. - O braço dela, quase com vida própria, enlaçou a cintura dele e ficou por lá. Ela colocou a outra mão para trás e enlaçou seus dedos com os dele.

E assim eles dormiram, abraçados um ao outro.

Quando contaram a Rony o que aconteceu, no dia seguinte, nenhum dos dois entendeu o uivo de frustração que ele deu.