Capítulo 6 - O começo do plano

Gina passou os dois dias seguintes fazendo uma pesquisa sobre Louis Brown. Havia algumas informações interessantes sobre ele nos arquivos da biblioteca municipal. Brown era um filantropo de 55 anos que herdara uma fortuna no comércio e devotara a maior parte de sua vida a distribuí-la. Mas não era o seu dinheiro que interessava a Gina.  Era o fato de que ele possuía um jornal e acabara de se divorciar.

Meia hora depois de seu encontro com o inominável Andrews, Gina entrou na sala de Jason Kriegs.

- Vou embora, Jason.

Ele fitou-a com uma expressão compreensiva.

- Boa idéia. Você precisa mesmo de umas férias. Quando voltar, poderemos...

- Não vou voltar.

- O quê? Eu... Eu não quero que você vá, Gina. Fugir não vai resolver...

- Não estou fugindo.

- A decisão é irrevogável?

- É, sim.

- Detestaremos perdê-la. Quando quer sair?

- Agora.  Desculpe Jason, mas tem que ser assim.

Virgínia Weasley pensara muito nas várias maneiras pelas quais poderia conhecer Louis Brown. As possibilidades eram intermináveis, mas ela descartou uma a uma. O que tinha em mente precisava ser planejado com o maior cuidado. E de repente, ela se lembrara do inominável Andrews. Brown e Andrews tinham as mesmas origens, freqüentavam os mesmos círculos. Não podia haver a menor dúvida de que se conheciam. E Gina decidira telefonar para o inominável.

Ao chegar à Phoenix, pela chave de portal, Gina teve um súbito impulso e foi até a banca de jornais do terminal.  Comprou um exemplar do Phoenix Star, o jornal de Louis e deu uma olhada. Não teve sorte. Comprou também o Phoenix Gazette, mas só encontrou o que procurava num terceiro jornal, Profeta Corvinal. Lá estava, a coluna astrológica de Sibila Trelawney. "Não que eu acredite em astrologia. Sou inteligente demais para essas besteiras. Mas..."

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Havia um motorista e uma limusine à sua espera na saída do terminal.

- Srta. Weasley?

- Pois não?

- O Sr. Brown envia seus cumprimentos e pediu-me que a levasse ao hotel.

- É muita gentileza dele.

Gina sentiu-se desapontada. Esperava que Brown viesse recebê-la pessoalmente.

- O sr. Brown gostaria de saber se está livre para jantar com ele esta noite.

Isso era bom.  Muito bom.

- Por favor, diga a ele que terei o maior prazer.

Às oito horas daquela noite, Gina estava jantando com Louis Brown. Era um homem atraente, com um rosto aristocrático, cabelos castanhos se tornando grisalhos, e um entusiasmo cativante. Estudou Gina com uma evidente admiração.

- Carl falou sério quando disse que estaria me prestando um favor.

Gina sorriu.

- Obrigada.

- O que a fez tomar a decisão de vir para Phoenix, Gina?

- Ouvi falar tanto a respeito da cidade que pensei que gostaria de morar aqui.

- É uma cidade sensacional. Você vai adorar. O Arizona tem tudo... O Grand Canyon, deserto, montanhas. Pode-se encontrar tudo o que se quiser aqui.

"E eu encontrei".- pensou Gina.

- Vai precisar de um lugar para morar. Tenho certeza de que posso ajudá-la a encontrar o que deseja.

Gina sabia que seu dinheiro não duraria por mais de três meses. No final das contas, porém, precisaria de apenas dois meses para consumar seu plano.


As livrarias ofereciam incontáveis livros para as mulheres relatando as melhores maneiras de conquistar um homem. Os diversos tipos de psicologia popular variavam de "Banque a difícil" a "Fisgue seu homem na cama". Gina não seguiu nenhum desses conselhos. Usou seu próprio método: excitou Louis Brown ao máximo.  Não em termos físicos, mas mentais. Louis jamais conhecera uma bruxa como ela.  Era um homem convencido de que qualquer mulher bonita era também burra. Nunca lhe ocorrera que sempre se sentira atraído por mulheres que eram lindas, mas que não primavam pelos dotes intelectuais. Gina foi uma revelação para ele. Era inteligente e articulada, versada em uma espantosa gama de assuntos e ainda por cima, linda.

Conversavam sobre filosofia, religião e história. Louis confidenciou a um amigo:

- Acho que ela anda lendo uma porção de livros só para poder conversar comigo.

Louis Brown apreciava muita a companhia de Gina. Mostrava-a aos amigos e a exibia em seu braço como um troféu. Levou-a a vários lugares. Uma noite foram ver um jogo de quadribol com o Phoenix Roadrunners. Depois da partida, Louis disse:

- Gosto muito de você, Gina. Acho que seríamos maravilhosos juntos. Adoraria fazer amor com você.

Gina pegou a mão dele entre as suas e murmurou:

- Também gosto de você, Louis, mas a resposta é não, ainda não.

Tinham um almoço marcado no dia seguinte. Louis telefonou para Gina.

- Por que não vem me buscar no Star? Quero que conheça o jornal.

- Eu adoraria.

Era por isso que Gina estava esperando. Havia dois outros jornais em Phoenix, o Arizona Republic e o Phoenix Gazette. O jornal de Louis, o Star, era o único que dava prejuízo.

A redação e as oficinas do Phoenix Star eram menores do que Gina imaginara. Louis levou-a numa excursão por todo o jornal e Gina pensou: "Um jornal como este não vai derrubar um vice Ministro ou um Ministro da Magia."

Mas era um trampolim e ela tinha planos para usá-lo.

Gina mostrou-se interessada por tudo o que viu.  Fez inúmeras perguntas a Louis, que sempre as transferia para Lyle Bannister, o editor-executivo. Ela ficou espantada pelo pouco que Louis parecia saber sobre o jornal, com o seu desinteresse. O que a deixou ainda mais determinada a aprender tudo o que pudesse.

Louis Brown era uma companhia encantadora e fácil, e as noites com ele eram das mais agradáveis.

- Adoro Phoenix, - comentou ele. - difícil acreditar que há apenas cinqüenta anos a população da cidade era de sessenta e cinco mil habitantes. Agora passa de um milhão.

- O que o fez decidir deixar o Londres  e se mudar para cá, Louis?

Ele deu de ombros.

- No fundo, não foi uma decisão minha. O problema foi dos meus pulmões. Os medi-bruxos não sabiam quanto tempo de vida eu teria. Disseram que o Arizona seria o melhor clima para mim. Por isso, resolvi passar o resto da minha vida... O que quer que isso signifique... Vivendo aqui. - Louis sorriu. - E aqui estamos. - Ele pegou a mão de Gina. - Quando disseram que seria bom para mim, nem podia imaginar o quanto. Não acha que estou velho demais para você, não é? Havia ansiedade na voz dele. Gina sorriu.

- É muito jovem... Jovem demais.

Louis fitou-a em silêncio por um longo momento.

- Falo sério. Quer casar comigo?

Gina fechou os olhos. Podia ver a placa de madeira pintada a mão na trilha no Breaks Park: GINA, QUER CASAR COMIGO?... Não posso prometer que vai casar com um vice Ministro mas sou bom em outras coisas. Ela abriu os olhos e fitou Louis.

- Quero, sim. Mais do que qualquer outra coisa no mundo.

Casaram-se duas semanas depois.


Quando a notícia do casamento saiu no Profeta Diário e no Phoenix Star, o inominável Carl Andrews contemplou-a por um longo momento.

"Lamento incomodá-lo, inominável, mas será que poderíamos nos encontrar? Preciso de um

favor ... .. Conhece Louis Brown?... Agradeceria muito se quisesse me apresentar a ele.  Se isto é tudo o que ela quer, não haveria qualquer problema.  Se é tudo o que ela quer..."


Gina e Louis foram a Paris na lua-de-mel. Aonde quer que fossem, ela especulava se Draco e Alicia haviamvisitado aqueles mesmos lugares, andado por aquelas ruas, jantado aqui, feito compras ali. Imaginava os dois juntos, fazendo amor, Draco sussurrando no ouvido de Alicia as mesmas mentiras que dissera para ela. Mentiras pelas quais ele ainda haveria de pagar caro.  Muito caro.

Louis a amava com sinceridade e fazia tudo o que pudesse para torná-la feliz. Em outras circunstâncias, Gina poderia ter se apaixonado por ele, mas algo em seu íntimo morrera para sempre. Nunca mais confiaria em qualquer homem.

Poucos dias depois de voltarem a Phoenix, Gina surpreendeu Louis ao anunciar:

- Louis, eu gostaria de trabalhar no jornal.

Ele riu.

- Por quê?

- Acho que seria interessante. Fui executiva numa agência de propaganda. Talvez possa ajudá-lo nessa área.

Ele protestou, mas no final acabou cedendo.

Louis notou que Gina lia o Profeta Diário todos os dias.

- Acompanhando o noticiário sobre o mundo bruxo de Londres? - zombou ele.

- De certa forma, sim.

Gina sorriu. Lia avidamente tudo o que se escrevia sobre Draco. Queria que ele fosse feliz e bem-sucedido.  Quanto maior ele fosse, maior seria o tombo...

Quando Gina ressaltou que o Star estava dando prejuízo, Louis soltou uma risada.

- Meu bem, é uma gota em um balde. Recebo dinheiro de lugares de que você nunca ouviu falar. Não tem a menor importância.

Mas tinha para Gina. E muita. À medida que se tornava mais e mais envolvida na direção do jornal, concluiu que o motivo para o prejuízo estava no sindicato bruxo. A gráfica do Phoenix Star estava superada, mas os líderes sindicais se recusavam a permitir que o jornal adquirisse novos equipamentos, alegando que isso custaria muitos empregos a gráficos sindicalizados. Estavam no momento negociando um novo contrato com o Star. Quando Gina abordou a situação, Louis disse:

- Por que nos incomodarmos com essas coisas? Vamos tratar de apenas nos divertir.

- Estou me divertindo.  E muito, posso lhe garantir. - garantiu Gina.

Gina teve uma reunião com Yourdon McAllister, o advogado do jornal.

- Como vão as negociações?

- Eu gostaria de ter notícias melhores, Sra. Brown, mas receio que a situação não seja nada boa.

- Ainda estamos negociando, não é?

- Aparentemente. Mas Phill Marley, o líder do sindicato dos gráficos, é um homem obstinado. Não quer ceder um centímetro. O contrato coletivo dos gráficos se explodirá dentro de dez dias. Marley garante que se o sindicato não tiver assinado um novo contrato até lá, os gráficos entrarão em greve.

- Acredita nele?

- Acredito. Não gosto de ceder aos sindicatos, mas a verdade é que sem os bruxos não teremos jornal. Eles podem nos fechar. Mais de uma publicação já quebrou por tentar desafiar os sindicatos.

- O que eles estão pedindo?

- O de sempre. Horário menor, aumentos, proteção contra futura automação...

- Eles estão nos pressionando, Yourdon. Não gosto disso.

- Não é uma questão emocional, sra. Brown. É uma questão prática.

- Então seu conselho é ceder?

- Creio que não temos opção.

- Por que não me deixa ter uma conversa com esse Phill Marley?

A reunião foi marcada para as duas horas da tarde e Gina se atrasou na volta do almoço. Ao entrar na ante-sala, deparou com Marley à sua espera, conversando com a secretária, Annice, uma jovem bonita, de cabelos escuros e olhos que capturavam qualquer mentira no ar.

Phill Marley era um bruxo de aparência rude, com quarenta e poucos anos. Era gráfico há mais de quinze. Três anos antes, assumira o comando de seu sindicato e conquistara a reputação de ser um negociador dos mais duros. Gina ficou parada ali por um momento, observando-o flertar com Annice. Marley dizia:

-...E foi então que o homem se virou para ela e disse: é fácil para você falar isso, mas como eu vou voltar?

Annice riu.

- Onde ouviu essa, Phill?

- Circulando por aí, querida. Que tal jantar comigo esta noite?

- Eu adoraria.

Foi nesse instante que Marley viu Gina.

- Boa tarde, Sra. Brown.

- Boa tarde, Sr. Marley.  Vamos entrar?

Marley e Gina foram sentar na sala de reunião do jornal.

- Aceita um café? - ofereceu Gina.

- Não, obrigado.

- Alguma coisa mais forte?

Ele sorriu.

- Sabe que é contra os regulamentos beber durante o horário de trabalho, Sra. Brown.

Gina respirou fundo.

- Queria conversar com você porque soube que é um homem muito justo.

- Tento ser.

- Quero que saiba que simpatizo com o seu sindicato. Acho que vocês têm direito a alguma coisa, mas o que estão pedindo não é razoável. Alguns de seus hábitos estão nos custando milhões de dólares por ano.

- Poderia ser mais específica?

- Com prazer. Os homens estão trabalhando cada vez menos no expediente normal e encontrando meios de continuar aqui para receber horas extras. Alguns chegam a fazer três turnos, tomando poções para os manterem acordados e trabalhando durante todo o fim de semana. Não podemos mais permitir isso. Estamos perdendo dinheiro porque nosso equipamento está superado. Se pudéssemos ter novas máquinas...

- Absolutamente não! Os novos equipamentos que você quer introduzir no jornal deixariam meus homens desempregados. Não tenho a menor intenção de permitir que máquinas joguem meus homens na rua. Afinal, as máquinas não têm de comer, mas meus homens precisam. - Marley levantou-se. - Nosso contrato termina na semana que vem. Ele simplesmente irá se explodir senhorita.  Ou conseguimos o que queremos, ou entramos em greve.

Quando Gina relatou a reunião para Louis naquela noite, ele disse:

- Por que você quer se envolver nessas coisas? Os sindicatos constituem um problema com que temos de conviver. Deixe-me lhe dar um bom conselho, querida. É nova nisso, e uma mulher ainda por cima. Deixe os homens cuidarem de tudo. Não vamos... - ele parou de falar, esbaforido.

- Você está bem?

Louis acenou com a cabeça.

- Estive com meu estúpido medi-bruxo hoje. Ele acha que devo passar a usar um tanque de oxigênio.  Ou algum tipo de poção ou encantamento que me dê mais oxigênio.

- Providenciarei tudo o que precisar. - declarou Gina. - E vou contratar uma enfermeira para ficar com você quando eu não estiver...

- Não! Não preciso de nenhuma enfermeira. Eu... Apenas estou me sentindo um pouco cansado.

- Calma Louis. Deixe-me levá-lo para a cama.

Três dias depois, quando Gina convocou uma reunião de emergência do conselho, Louis disse:

- Vá sozinha, meu bem. Ficarei em casa, para não me afligir.

O tanque de oxigênio ajudara, mas ele vinha se sentindo cada vez mais fraco e deprimido. Gina telefonou para o medi-bruxo.

- Ele tem emagrecido demais e sente dores. Tem de haver alguma coisa que você possa fazer.

- Já estamos fazendo tudo o que podemos, Sra. Brown. Apenas cuide para que ele repouse o máximo possível e não deixe de tomar as poções.  Estamos trabalhando em uma poção que talvez possa cura-lo, mas...

Gina permaneceu sentada, observando Louis estendido na cama, tossindo.

- Lamento pela reunião, querida. - murmurou ele. Você pode cuidar de tudo. E, no final das contas, não há mesmo nada que eu possa fazer.

Ela se limitou a sorrir. Havia muito a ser feito.

N/A: É, parece que a Gina está tendo tudo o que ela quer, não é?  Não acho justo ela usar o Brown para atingir o Draco, mas cada cabeça uma sentença, e na verdade eu quero por nessa fic coisas que eu nunca pus em outras, um pouco de malícia, maldade, ambição...  Bem, de qualquer forma, acho que está ficando bemmmmm legal.  Muito obrigada por todos os reviews e mandem mais...  Adoro lê-los...  Bjus

Trecho do próximo capítulo - Provem que eles não podem fazer o jornal sem vocês. Não se limitem a deixar o trabalho como cordeiros. Causem alguns danos. Os olhos de Marley se arregalaram. - Não seria nada muito grave, lógico. - ressaltou Gina. - Apenas o suficiente para demonstrar que vocês não estão de brincadeira. Cortem alguns cabos, deixem uma ou duas rotativas fora de ação. Deixem que eles aprendam que precisam de vocês para operar as máquinas. Tudo poderá ser reparado em um ou dois dias, mas até lá vocês os terão assustado o bastante para que recuperem o bom senso. Eles finalmente saberão com quem estão lidando.