Os membros do conselho estavam reunidos em torno da mesa na sala de reunião, tomando suco de abóbora e servindo-se de queijo cremoso, à espera de Gina. Ao chegar, ela disse:
- Lamento deixá-los esperando. Louis manda seus cumprimentos.
As coisas haviam mudado desde a primeira reunião do conselho a que Gina comparecera. O conselho a tinha esnobado naquela ocasião, tratando-a como uma intrusa. Mas, pouco a pouco, à medida que aprendia sobre o negócio de jornal, Gina passara a fazer sugestões valiosas e ganhara o respeito de todos. Agora, com a reunião prestes a começar, Gina virou-se para Annice, que servia o suco, e disse:
- Annice, eu gostaria que você ficasse para a reunião.
A secretária fitou-a, aturdida.
- Lamento, mas não sou muito boa em taquigrafia, Sra. Brown. Cíntia pode fazer um trabalho muito melhor e...
- Não quero que faça uma ata da reunião. Deve apenas anotar as resoluções que adotarmos no final.
- Pois não, madame.
Annice pegou uma caneta e um bloco e foi se sentar numa cadeira encostada na parede. Gina virou-se para o conselho.
- Temos um problema. Nosso contrato com o sindicato dos gráficos está quase expirando. Há três meses negociamos, mas não conseguimos chegar a um acordo. Precisamos tomar uma decisão, e tem de ser rápida. Todos viram os relatórios que enviei. Gostaria de ouvir suas opiniões.
Ela olhou para Phill Phillipolses, sócio de uma firma de advocacia bruxa local.
- Se quer saber mesmo o que penso, Virginia, acho que eles já receberam demais. Dê o que estão querendo agora, e amanhã eles pedirão ainda mais.
Gina acenou com a cabeça e olhou para Aaron Drexel, proprietário de uma loja de departamentos local.
- Aaron?
- Tenho de concordar. O sindicato obriga o jornal a contratar mais gente do que é preciso. Se dermos alguma coisa, devemos exigir algo em troca. Na minha opinião, podemos suportar uma greve, mas eles não podem.
Os comentários dos outros foram similares. Gina declarou:
- Tenho de discordar de todos. - Eles a fitaram, espantados. - Acho que devemos deixar que eles tenham o que querem.
- Mas isso é uma loucura. - Eles acabarão donos do jornal! - Não teremos mais como detê-los! - Não podemos ceder!
Gina deixou que falassem. Quando terminaram, ela disse:
- Phill Marley é um homem justo. Ele acredita no que está pedindo.
Sentada junto da parede, Annice acompanhava a discussão, atônita. Uma das mulheres comentou:
- Fico surpresa por você tomar o lado dele, Virgínia.
- Não estou tomando o lado de ninguém. Apenas acho que devemos ser razoáveis nesta situação. Seja como for, a decisão não é minha. Vamos fazer uma votação. - Ela olhou para Annice - É isso o que quero que você registre.
- Pois não, madame.
Gina tornou a se virar para o grupo.
- Peço que todos aqueles que se opõem às exigências do sindicato levantem a mão. - Onze mãos foram erguidas, e ela acrescentou: - Que fique registrado que votei sim e que o resto do conselho votou em não aceitarmos as exigências do sindicato.
Annice escrevia em seu bloco, com uma expressão pensativa. Gina continuou:
- Então está resolvido. - Ela se levantou. - Se não há mais nenhum assunto a tratar...
Os outros também se levantaram. A reunião estava encerrada.
- Obrigada por terem vindo. - Gina observou-os sair, depois virou-se para Annice – Pode colocar isso organizado em um pergaminho para mim, por favor?
- Pois não, sra. Brown.
Gina encaminhou-se para a sua sala.
O telefonema veio pouco depois.
- O Sr. Marley está na linha um. - informou Annice e Gina atendeu.
- Alô?
- Phill Marley. Só queria lhe agradecer pelo que tentou fazer.
- Não compreendo...
- A reunião do conselho. Já soube o que aconteceu.
- Estou surpresa, Sr. Marley Foi uma reunião particular.
Phill Marley riu.
- Digamos que tenho amigos nos baixos escalões. Seja como for, achei que foi sensacional o que tentou fazer. É uma pena que não tenha dado certo.
Houve um breve silêncio, depois Gina murmurou:
- Sr. Marley .. E se eu pudesse fazer com que desse certo?
- Como assim?
- Tenho uma idéia. Mas prefiro não discuti-la pelo telefone. Podemos nos encontrar em algum lugar... Discretamente?
Houve uma pausa.
- Claro. Em que lugar está pensando?
- Qualquer lugar em que nenhum dos dois será reconhecido.
- Que tal nos encontrarmos no Golden Cup?
- Combinado. Estarei lá dentro de uma hora. - Até já.
O Golden Cup era um café infame na parte mais miserável de Phoenix, perto dos trilhos ferroviários. O Ministério sempre advertia os turistas bruxos a manter distância da área. Phill Marley ocupava um reservado no canto quando Gina entrou. Levantou-se quando ela se aproximou.
- Agradeço por ter vindo. - disse Gina.
Os dois sentaram.
- Vim porque você disse que pode haver algum meio de obter meu contrato.
- Há, sim. Acho que o conselho está sendo estúpido e míope. Tentei persuadi-los, mas não quiseram me escutar.
Ele acenou com a cabeça.
- Sei disso. Aconselhou-os a aceitarem o novo contrato. - Isso mesmo. Mas eles não compreendem como seus gráficos são importantes para o nosso jornal. Não podemos simplesmente colocar vida naquelas máquinas por meios mágicos... Seria anti-ético.
Ele a estudava, perplexo.
- Mas se votaram contra você, como podemos...
-- Só votaram contra mim porque não levam seu sindicato a sério. Se querem evitar uma greve prolongada, e
talvez a morte do jornal, devem demonstrar que não podem ser desdenhados.
- Como assim?
Gina disse, um tanto nervosa:
- O que vou lhe dizer é confidencial, mas é a única maneira de conseguirem o que querem. Eles pensam que vocês estão blefando. Não acreditam que estejam determinados. Precisam provar o contrário. O contrato de vocês termina à meia-noite desta sexta-feira.
- Isso mesmo...
-- Eles esperam que vocês paralisem o trabalho calmamente. - Gina inclinou-se para frente. - Pois não façam isso!
Marley escutava com toda atenção, enquanto ela continuava:
- Provem que eles não podem fazer o jornal sem vocês. Não se limitem a deixar o trabalho como cordeiros. Causem alguns danos.
Os olhos de Marley se arregalaram.
- Não seria nada muito grave, lógico. - ressaltou Gina. - Apenas o suficiente para demonstrar que vocês não estão de brincadeira. Cortem alguns cabos, deixem uma ou duas rotativas fora de ação. Deixem que eles aprendam que precisam de vocês para operar as máquinas. Tudo poderá ser reparado em um ou dois dias, mas até lá vocês os terão assustado o bastante para que recuperem o bom senso. Eles finalmente saberão com quem estão lidando.
Phill Marley permaneceu em silêncio por um longo tempo, estudando Gina.
- Você é uma bruxa extraordinária. – E nesse momento, conjurou um buquê de flores que Gina aceitou imediatamente.
- Nem tanto. Pensei bastante no assunto. Minhas opções eram simples. Vocês podem causar alguns danos, que possam ser reparados com facilidade, e obrigar o conselho a retomar as negociações, ou podem deixar o trabalho em paz e se resignarem a uma greve prolongada, da qual o jornal talvez nunca se recupere. Minha única preocupação é proteger o jornal.
Um lento sorriso iluminou o rosto de Marley
- Deixe-me lhe pagar um suco de abóbora ou uma cerveja amanteigada, Sra. Brown.
- Estamos em greve!
Na noite de sexta-feira, um minuto depois da meia-noite os gráficos atacaram, sob o comando de Phill Marley. Retiraram peças de máquinas, fizeram mesas cheias de equipamentos levitarem e depois caírem no chão abruptamente, atearam fogo a duas rotativas. Um guarda que tentou detê-los foi brutalmente estuporado. Os gráficos, que pretendiam de início apenas deixar algumas máquinas fora de uso, foram se animando cada vez mais na empolgação e tornaram-se mais e mais destrutivos.
- Vamos mostrar aos desgraçados que não podem fazer conosco o que bem quiserem! - gritou um dos homens. - Não há jornal sem o nosso trabalho!
- Nós somos o Star!
Soaram gritos de aclamação. Os bruxos tinham ficado ainda mais violentos. As oficinas gráficas logo estavam em destroços. Em meio ao tumulto generalizado, refletores se acenderam subitamente nos quatro cantos. Os homens pararam, olhando ao redor, aturdidos. Perto das portas, câmeras de televisão registravam o tumulto e a destruição. Havia também repórteres do Arizona Republic, Phoenix Gazette e até do Profeta Diário de Londres. E pelo menos uma dúzia de gente do Ministério.
Phill Marley contemplou a cena, chocado. Os homens do Ministério faziam feitiços para bloquearem as mãos e os pés dos seus homens e a resposta ocorreu de repente a Marley e ele
experimentou a sensação de que alguém tinha desferido um chute em seu estômago. Gina Brown armara tudo!
Quando fossem divulgadas as imagens da destruição promovida pelo sindicato, não haveria mais qualquer simpatia por eles. Seriam apenas um bando de bruxos arruaceiros sem causa. A opinião pública viraria contra o movimento. A desgraçada planejara aquilo desde o início...
As imagens foram ao ar pelas televisões bruxas do mundo inteiro. Os jornais estavam a todo vapor tentando colocar a notícia do incidente na primeira página dos seus jornais, descrevendo como empregados violentos se voltaram contra a mão que os alimentava. Foi um triunfo de relações públicas para o Phoenix Star.
Gina preparara tudo muito bem. Antes, enviara secretamente alguns executivos do Star ao Kansas para aprender como operar as novas máquinas e ensinar a bruxos não-sindicalizados. Logo depois do incidente da sabotagem, dois outros sindicatos em greve, dos distribuidores e dos fotogravadores, chegaram a um acordo com o Star.
Com os sindicatos derrotados e o caminho aberto para modernizar a tecnologia do jornal, os lucros começaram a surgir. Da noite para o dia, a produtividade aumentou em vinte por cento.
Na manhã seguinte à greve, Annice foi despedida.
- Por que Srta. Brown?
- Querida, acho que você sabe porque está sendo demitida. Poupe-me de dize-lo...
Ao final de uma tarde de sexta-feira, dois anos depois de seu casamento, Louis teve um princípio de indigestão.
Na manhã de sábado, começou a sentir dores no peito e Gina chamou uma ambulância, que o levou às pressas para o hospital St. Mungus de Phoenix. No domingo, Louis Brown morreu.
N/A: Mais um capítulo postado, me desculpem alguns erros que porventura podem ocorrer. O que acontece é que essa fic não está indo para betagem... Eu acho que sempre demora muito e estou escolhendo postar aqui sem correção, mesmo que isso possa acarretar coisas como Draco Moreno... Me desculpem mesmo... A próxima fic q eu postar aqui vai ser betada, msm pq já vou começá-la agora, e só vou postá-la depois de postar essa toda, o que vai dar tempo para ser revisada e betada... Bjks, bjux e bjundas e continuem a se divertir...
Trecho do próximo capítulo: Ele levantou-se e foi até seu paletó, que deixara pendurado numa cadeira. Tirou um vidrinho do bolso e despejou o conteúdo num copo. Era um líquido transparente.- Experimente isto.
- O que é? - perguntou Miriam.
- Você vai gostar. Prometo. - Ele levantou o copo e tomou a metade. Miriam deu um gole, depois engoliu o resto.
Sorriu.
- O gosto até que não é ruim.
