Antes de lerem este terceiro capítulo do meu fic quero avisar que ele é a
outra metade do segundo que foi cortado ao meio. Espero que vocês gostem
desta continuação e chegado a Toca foi adiada para o próximo capitulo.
Quero também alguns elogios a minha maravilhosa beta reader Lu (a mulher
que eu mais amo no mundo) por que se não este capitulo teria demorado bem
mais, eu peço pôr favor deixem comentários ao terminar.
Gringotes
Harry reparou que a sorveteria continuava exatamente como ele se lembrava. As mesas com os guarda-sóis coloridos, o pátio que era vislumbrado por todos aqueles que estivessem passeando pelo Beco Diagonal, e, dentro da loja, se encontrava o próprio Florean Fortescue. As lentes com as quais Harry ainda não havia se acostumado totalmente estavam lhe mostrando o interior praticamente vazio de fregueses da sorveteria.
Após se deter algum tempo em frente à loja, ele finalmente se encaminhou para a porta da sorveteria. Algumas pessoas notaram sua presença e pararam para observá-lo, o que o incomodou muito como sempre, mas infelizmente era um direito deles observar quem quer que fosse. Então ele resolveu adentrar a sorveteria, onde foi recebido com um grande sorriso pelo próprio senhor Fortescue.
- Olá Harry. Há quanto tempo não o vejo... - disse Florean, que há alguns anos antes havia ajudado Harry com seu dever de casa sobre a caça às bruxas, e lhe dera muitos sorvetes de graça de lambuja. - Venha aqui, meu rapaz. Eu vou lhe dar um dos nossos novos sundaes inteiramente por conta da casa.
- Não precisa, senhor. Eu posso pagar, sem nenhum problema... - respondeu Harry um tanto quanto corado. Ele gostava muito do dono da sorveteria, e não queria utilizar-se de seu prestígio ou mesmo abusar da generosidade do sorveteiro.
- Ora, Harry - o sorveteiro colocou uma das mãos no ombro dele. - Isso não é nenhum favor da minha parte. Muito pelo contrário, se é o que você pensa... - ele piscou um olho e Harry ergueu as sobrancelhas, curioso. O homem prosseguiu. - Se as pessoas souberem que você gosta de meu sorvete e que você freqüenta a sorveteria, isso aumentará em muito o meu número de fregueses. E os que virem você aqui irão espalhar a notícia como poeira no vento, e em dez minutos o lugar estará fervilhando de curiosos, e, apesar deles serem um bando de fofoqueiros, eu vou estar cheio de fregueses... - terminou a frase empurrando gentilmente o rapaz para uma das mesas, sentando-se ali com ele, fez sinal para um dos atendentes.
Harry sentiu que o senhor Fortescue havia dito aquilo mais para ter uma desculpa para dar sorvetes de graça a ele do que pela publicidade que ele poderia garantir para a sorveteria, mas sorriu pelo comentário sobre a indiscrição das pessoas com a vida alheia.
- Muito obrigado senhor. Já que é assim eu aceito - disse Harry, que não queria magoar uma pessoa que o havia ajudado muito, e que ainda gostava dele sem se importar com sua fama, apesar do que poderia parecer pelo falso motivo que havia dado para ter o rapaz ali.
Assim que o atendente chegou e anotou o pedido de Harry, o senhor Fortescue se levantou para dar as boas vindas a uma família que havia entrado na sorveteria, já atraída pela curiosidade acerca do "menino que sobreviveu".
Harry estava sentado em uma mesa bem visível e ficou parado pensando em como iria fazer para levar à frente seus planos, e também na sorte que havia tido por ter encontrado aqueles livros na "Borgin e Burkes".Qualquer ajuda que ele pudesse ter para aprender mais sobre como ele poderia aumentar suas perícias e poderes em Legilemência e Oclumancia seria muito bem-vinda.
Ele estava particularmente interessado no livro por ele ser escrito à mão, já que no mundo Bruxo isso significava dizer que era muito raro e valioso, e que não deviam existir muitas cópias dele, ou mesmo então de que era um volume único. Mas de qualquer forma ele devia conter muitas informações úteis que Snape não havia lhe contado, e que muito menos ele conseguiria achar na Biblioteca de Hogwarts, mesmo na seção restrita.
O segundo livro, o que era sobre animagia Harry tinha certeza de que devia ter sido fabricado em série, e pelo que já havia visto ao folhear o livro percebeu que precisaria da ajuda de Hermione para conseguir realizar o complicado ritual necessário. Harry sabia que ia ser difícil convencer a amiga a violar certas regras do mundo bruxo, mas tinha certeza de que com as palavras certas e uma "chantageanzinha" feita a ela com um pouco do assunto "Rony-Luna", ele teria a ajuda da garota imediatamente.
O terceiro livro, o que Harry havia comprado por emitir uma estranha mágica que o atrairá para ele, parecia se tratar de um grimório de um bruxo das trevas, pelo menos pelo exame superficial que ele havia feito deste. Mas tinha muitas informações úteis que ele poderia usar para se proteger de alguns seres muito perigosos, ou mesmo feitiços que ele certamente não aprenderia em Hogwarts, pelo menos não nas aulas do professor Flitchwick.
Enquanto estava distraído, tentando pescar a cereja do sundae do fundo da taça com a sua colher, os cabelos da nuca de Harry se eriçaram. E ele, ao olhar para cima, viu que Draco Malfoy o estava encarando. Os olhos cinzas de Malfoy se contraíram num misto de raiva e ira, e nesse instante Harry pôde sentir a mente do outro rapaz se abrindo como um livro:
"Espere só mais um pouco, Potter e você vai sentir o peso da ira de um Malfoy" (Harry teve vontade de rir de Draco, que mesmo com seus amigos Crabe e Goyle ainda não havia conseguido sequer arranha-lo, já que sempre que havia tentado algo diferente, acabava sendo estuporado ou amaldiçoado por Harry e seus amigos) - "Assim que eu encontrar o homem que comprou o diário de meu avô, convencê-lo a ajudar o Lorde das Trevas e conseguir de volta aquele livro, você vai me pagar caro, Potter".
Draco fechou os olhos, e Harry perdeu o contato com a mente dele. Malfoy se virou para ir embora, mas antes olhou para ele de relance. Harry acenou propositalmente para Draco, como se fossem velhos amigos, e ainda acrescentou um sorriso cínico com o canto dos lábios. Ele viu o outro rapaz bufar de raiva e sair correndo a procura do homem que queria encontrar, sem sequer saber que o estivera encarando apenas alguns instantes antes.
Assim que Draco sumiu de vista o senhor Florean chegou com uma enorme "banana split". Harry agradeceu novamente ao amigo, e começou a saborear imediatamente o sorvete. Ele atacou primeiro à parte de morango, pois não queria misturar com os seus sabores favoritos: chocolate e creme. Então ele notou que aquilo o Sr. Florean havia dito era verdade. Não havia muito tempo em que ele estava sentado ali naquela mesinha, mas o fluxo de clientes havia aumentado muito, e ele era composto principalmente por garotas que acenavam, às vezes timidamente, às vezes de forma ousada, piscando os olhos, e sorriam para Harry ao passar perto de sua mesa.Harry reconheceu algumas delas como colegas de Hogwarts, e as que o conheciam se aproximaram para perguntar como estavam indo as férias.
Lilá e as gêmeas Patil até chegaram a encurralar Harry e beijar lhe as bochechas deliberadamente. O rapaz considerou seriamente a hipótese de fugir dos beijos assanhados das amigas, mas reparou que Amanda estava olhando para ele através da vitrine da loja, e fazendo uma cara de contrariada quando viu Lilá beijando-lhe o rosto, por isso permitiu. Seria uma boa lição para aquela garota atirada.
Quando Amanda se virou, a frustração que ela estava sentindo ficou nítida em seu rosto. Harry então se acomodou melhor à mesa, e convidou as colegas para se sentarem com ele.
Para compensar todos os sundaes que ganhara do Sr. Florean, Harry comprou uma para cada amiga. Ele sentiu que embora as garotas o achassem bonito não estavam interessadas nele de forma romântica. Além do que, Parvati ainda estava um tanto quanto irritada com a forma que ele a havia tratado durante o Baile de Inverno de Hogwarts, no quarto ano deles.
Harry acabou seu sundae e se desculpou com as meninas pedindo licença e explicando que estava atrasado para um compromisso em Gringotes. Assim saiu dali bem depressa. A última coisa de que precisava naquele momento era que mais garotas se atirassem em cima dele como Amanda havia feito.
Ele consultou seu novo relógio do bolso e viu que já eram quase treze horas, e notou também que seu ponteiro dos planetas apontava para Júpiter, indicando propensão para negócios. Em apenas dez minutos Harry chegou à porta do banco bruxo e notou que ele estava muito diferente da última vez que o havia visto. Ao lado da porta de entrada estavam parados dois duendes vestindo pequenas armaduras de bronze. Os escudos praticamente cobriam todos os corpos pequenos de ambos, e mesmo com pequenas espadas embainhadas na cintura os dois moviam suas mãos direitas de modo sincrônico, se prevenindo de alguma situação de perigo. Era possível perceber as maldições que eles estavam preparando para lançar ao primeiro sinal de algum ataque ao banco.
Assim que Harry entrou em Gringotes foi parado por mais dois guardas que usavam os mesmos trajes dos anteriores e um outro duende. Este trajava roupas finas e caras, um par de óculos estranho e ficava girando seus dedos dos quais saiam faíscas douradas de segundo em segundo. O duende olhou no fundo dos olhos de Harry e respirou profundamente antes de perguntar.
Sou Ramknal, encarregado da segurança. Identifique-se e diga a que negócios o senhor veio ao Gringotes? - Harry sentiu o pequeno ser tentando penetrar em sua mente e o bloqueou momentaneamente concentrando-se. Respirou profundamente e repeliu o ataque para então responder.
- Eu sou Harry James Potter e venho aqui para a leitura oficial do testamento de Sirius Black, meu padrinho - disse sério, sem desviar os olhos do duende. Então completou sorrindo de modo sarcástico. - Acho muito divertida esta pequena disputa de forças de vontade que está tentando fazer comigo senhor Ramknal, mas se quiser continuar com isso poderemos fazê-lo após a leitura. Eu estaria muito interessado... - finalizou Harry. Então Ramknal deu um sorriso sombrio, e, passando pelos outros dois duendes, parou e indicou para que Harry o seguisse.
Harry seguiu Ramknal por caminhos tortuosos e cheios de armadilhas as quais o líder dos duendes ia desarmando cautelosamente conforme se aproximavam. A cada porta o duende fazia pequenos encantos, gestos ou proferia senhas para que estas se abrissem. Após cerca de vinte minutos fazendo curvos em corredores estreitos, escuros e malcuidados eles chegaram em frente a uma grande porta metálica.
Tratava-se de uma porta dupla, com tamanho suficiente para um gigante um passar. O metal do qual a porta era feita parecia ser prata, mas emitia um estranho brilho que lembrava uma chama branca devido à sua cintilância exacerbada. Ramknal levantou sua mão em direção a porta e com um breve aceno esta se abriu por conta própria.
- Bem-vindo a diretoria de Gringotes, senhor Potter. Normalmente é tomada uma rota mais curta, vindo direto do salão principal para cá. Mas devido a soma envolvida neste caso nós tivemos que tomar um rota mais segura`. Peço desculpas pelo inconveniente, senhor - disse em um tom educado. Harry sentiu que a educação era mera formalidade devido à posição do duende, mas também não sentiu nenhum rancor pessoal em relação à ele.
Harry seguiu Ramknal enquanto este lhe mostrava alguns dos setores internos de Gringotes pelos quais eles passavam. O rapaz inclusive pensou ter visto de relance o longo rabo-de-cavalo ruivo de Gui em um dos setores, mas como estavam passando muito rápido por todos aqueles setores ele não pôde confirmar sua desconfiança.
Finalmente Ramknal parou em frente a uma bela e grossa porta de carvalho, trabalhada com runas estranhas e antigas, encravadas na superfície da madeira. Havia algumas pedras preciosas nos espaços entre as runas, um trabalho muito bonito.
Harry adentrou a sala, encontrando Remo Lupin andando de um lado para o outro. O ex-professor vestia o mesmo manto velho que estava usando no dia em que ele o havia conhecido. Seu rosto parecia mais cansado e velho do que o garoto jamais o vira, mas ainda assim ele tentou esboçar um sorriso, ao qual Harry se esforçou em retribuir. O garoto deu mais uma olhada na sala.
Sentada em uma poltrona estava Ninfadora Tonks. Ela usava uma blusa negra aveludada e um jeans azul escuro. Seus cabelos estavam completamente pretos e longos, conferindo a ela um ar solene e uma aparência extremamente séria. Ela parecia triste com tudo aquilo, mas Harry pode notar e sentir que a preocupação que ela sentia era principalmente por Remo, já que ela não parava de olhar preocupadamente para o ex-professor de Harry.
Foi então que ele se virou para o lado e também viu Artur Weasley, o pai de Rony e Gina, sentado ali com um ar sóbrio, embora parecesse estar com pressa, já que não parava de olhar para o próprio relógio. Ele trocou um breve olhar e um aceno de cabeça com Harry.
- Ah! Finalmente o último beneficiário chegou. Já não era sem tempo... - Harry olhou para a mesa que ficava na sala, e atrás dela havia um outro duende, com um sorriso que tentava ser simpático, mas que na verdade estava mais para ameaçador. Ele que seria encarregado pela leitura das últimas vontades de Sirius. - Por favor. Sentem-se para nós podermos começar com os procedimentos - terminou o duende indicando as poltronas ainda disponíveis para Harry e Remo, que ainda parecia estar irrequieto demais para parar por alguns instantes.
Harry cruzou seu olhar com o do ex-professor, e viu que a aparência dele ficou um pouco menos angustiada. Ele sentiu que Remo se sentia bem de poder fazer parte da leitura e ter este momento como lembrança de um de seus melhores amigos, e também sentiu o carinho paternal e a afinidade que Remo sentia por ele, até que o ex-professor notou que Harry estava "passeando" em seus pensamentos e a fechou. Antes, porém ele pôde ver um sorriso se formando na face de Lupin e isso aliviou o pesar que estava formando em seu coração por ter sem querer invadido a mente dele e por sentir também muita falta de Sirius.
O duende pigarreou duas vezes seguidas, e a tensão no ambiente aumentou, enquanto os beneficiários se acomodaram nos seus lugares. O duende encarou-os seriamente antes de impostar a voz e começar a falar alguma coisa. Houve um silêncio constrangedor de alguns segundos, cujo único som ouvido era o "tic-tac" do relógio de Artur Weasley, o qual este ainda observava discretamente, preocupado com o seu atraso, agora inevitável.
Bom, senhores vou começar a leitura, se me permitem - o duende disse finalmente, quebrando a ansiedade geral.
"Aos 25 dias do mês de Outubro do ano de 1996 de Nosso Senhor, eu, Sirius Black, certifico que este é meu único e legal testamento, e que contém todas as minhas ultimas vontades." - Está escrito de próprio punho e assinado com tinta anti-falsificações - o duende fez a observação antes de prosseguir.
"Este documento só terá valor se as falsas acusações que foram feitas contra a minha pessoa forem retiradas. E uma vez que este está sendo lido, as acusações não mais recaem sobre mim, e, infelizmente, eu estou morto" - a piada de humor negro, no meio do testamento foi lida em tom impassível pelo duende, mas incomodou os presentes. Embora Remo não tenha se surpreendido nem um pouco.
"Típico do Almofadinhas. Tentando fazer graça até com a própria morte..." - Remo deixou a mente vagar, mas Harry praticamente ouviu o pensamento do ex- professor. "Que péssimo gosto o seu Sirius. Não teve a mínima graça...", Harry também pôde ler os pensamentos indignados de Ninfadora, e o duende prosseguiu a leitura.
"Sendo a herança dos Black minha por direito de nascimento, e a dos Potter, do herdeiro deles, porém sob meu controle até Harry James Potter, de quem sou tutor e padrinho, atingir a maioridade." - Harry suspirou à menção dos pais.
"Uma vez tendo sido exposto o que me cabe como meu. Disponho dos meus bens da seguinte maneira: O Fundo dos Black deverá ser repartido." - o duende pigarreou e deu uma pausa solene para que os beneficiários pudessem se preparar para o que veria em seguida.
"Para Ninfadora Tonks deverá ir a quantia de cento e vinte mil Galeões e o apartamento da Rua Carnaby 1889/118." - o homenzinho olhou para Tonks, que tinha os olhos marejados, mas que estava tentando se controlar ao máximo. Então ele prosseguiu, voltando-se para Artur.
"Para os Weasley, Artur Weasley, naturalmente o chefe da família. Eu deixo a quantia de novecentos e noventa mil Galeões e a casa no Largo Grimauld." - Artur apenas acenou com a cabeça baixa.
"Para Remo Lupin, ou Aluado, meu caro e valioso amigo eu deixo a quantia de cinco milhões e cento e cinqüenta mil Galeões; e as seguintes propriedades: uma casa, que infelizmente está caindo aos pedaços mas tem um enorme valor sentimental, (Remo poderia ter rido se não fosse o fato do amigo estar morto) em Hogsmead e um apartamento no Beco Diagonal." - pela primeira vez desde que começara a leitura, o duende fez uma pausa apenas para inspecionar os ânimos dos beneficiários. Então prosseguiu, sem mais delongas.
"Finalmente, mas não menos importante: Para meu querido afilhado, Harry James Potter, eu deixo a quantia de trezentos mil Galeões e minha antiga moto voadora. Também declaro que este deve ter acesso ao fundo dos Potter, ao qual ele tem plenos direitos à partir de agora, com a minha morte." - Harry sentiu um nó se apertar na garganta, e percebeu que todos na sala pareciam repletos de pesar por ele. Estava sendo pior do que ele esperava. Mas ainda não havia acabado.
"Por favor aproveite a sua vida, Harry. Seja muito feliz, como seus pais e eu gostaríamos que você fosse." - o último comentário fez o estômago do rapaz afundar.
- Há mais uma observação, a qual eu devo ler antes que se encerre oficialmente a leitura do testamento do senhor Black - a voz fanhosa e inexpressiva do duende atrapalhou os pensamentos pesarosos que invadiam a sala.
"Caso alguma coisa tenha acontecido com algum dos beneficiários antes da leitura deste documento, a divisão deverá se proceder da seguinte forma: Harry deverá receber esta parte também, a não ser que seja a referente a Artur, que então deve ir para Molly e/ou seus filhos (que deverão receber quantias iguais, caso seja dividida apenas entre eles). Se alguma coisa tiver acontecido com Harry, todos os bens que caberiam à ele devem ir para os Weasley. Assim termina meu testamento e última vontade. Assinado Sirius Nigelus Black." - nesse instante o duende fez uma pequena pausa para as pessoas presentes poderem se acalmar e se recompor.
- Senhores, os valores especificados foram depositados em suas respectiva contas, exceto aqueles que cabem ao senhor, Sr. Potter. Estes foram transferidos diretamente para o cofre particular da família Potter. Se os senhores desejarem visitar seus cofres para fazer uma retirada ou examinar seus novos bens basta pedir para um dos nossos ajudantes assim que saírem. Boa tarde e obrigada pela paciência. Passem bem... - ele se retirou imediatamente, parecendo extremamente ocupado e apressado. Todos saíram da sala e trocaram breves e sóbrios cumprimentos no hall anterior a esta.
Harry como você está indo? - Perguntou o Sr. Weasley sinceramente preocupado com o garoto.
- As coisas estão meio difíceis, mas eu mantenho minha cabeça ocupada e lembro de amigos que ainda estão aqui ao meu lado, senhor - respondeu Harry olhando para Remo e Tonks que conversavam próximos um ao outro no outro canto da sala, e pensando instantaneamente em Gina, Hermione e Rony. - Eu creio que as coisas vão melhorar bastante agora que eu vou estar com meus amigos na Toca - Artur sorriu, e, olhando distraidamente para o relógio se deu conta do quanto estava atrasado.
- Que bom que você esta melhorando Harry, você sabe que é como um filho para mim e Molly, não sabe? - perguntou novamente Arthur. Harry apenas conseguiu acenar com a cabeça. Arthur o abraçou rapidamente e cochichou, pedindo licença à ele - Conversamos mais hoje à noite na Toca, está bem? Tenho que voltar ao trabalho. Estou seriamente atrasado... - Harry esboçou um sorriso e voltou-se para o outro lado da sala.
O olhar de Harry procurou Remo e a cena que viu o animou bastante: Tonks estava abraçando e beijando Lupin com vontade.
Harry percebeu que Lupin não estava reagindo no início, talvez pela surpresa, mas bastou um instante se passar para que ele começasse a aproveitar o beijo e retribuísse o carinho de Tonks. Harry sentiu a tensão diminuir em seu amigo e isto lhe fez muito bem. Queria muito que Remo fosse feliz.Tonks terminou o beijo e sorriu sinceramente para Remo. Eles ficaram se olhando, perdidos no momento, até notarem que éram o centro das atenções da sala. O rosto e o cabelo dela começarem instantaneamente a tomar um tom vermelho. E Remo e Harry riram da situação constrangedora.
- Harry... Eu... Eu... - Tonks começou a falar. Seu rosto ainda estava corado e os cabelos rosados. Ela fazia pequenos círculos com o pé esquerdo. Harry sentiu que ela estava muito embarcada com tudo aquilo e achou graça. - Eu realmente gosto do Remo. E se isto for meio complicado para você eu vou entender perfeitamente, mas eu quero que você saiba que ele é muito importante para mim e... - Remo também corou ao ouvir a justificativa dela. Harry sorriu para os dois.
- Sem problemas Tonks. É muito bom ver o professor Lupin sorrindo novamente, e se você consegue fazer isto por ele eu só posso desejar que vocês dois sejam muito felizes - disse sinceramente, seus olhos brilhavam e conseguiu até dar um pequeno sorriso e uma piscadela para Remo.
- O que aconteceu com seus óculos, Harry? - perguntou Tonks mudando de assunto. Ela de repente reparou que ele não estava mais usando.
- Ah! Isso? - ele apontou para o rosto. - Também é uma novidade para mim e eu estou me acostumando. - rolou os olhos para cima e apontou para dentro deles. - São lentes de contato. Bem, eu fui comprar óculos novos hoje os meus estavam muito velhos, a vendedora - ele parou um instante se lembrando dos modos de Amanda e sentiu seu rosto corar um pouco, mas prosseguiu - disse que eu não devia esconder meus olhos atrás de óculos... - sorriu embaraçado. Tonks concordou.
- Bom ela tinha razão. Você fica muito bem sem os óculos. Se eu não fosse mais velha e... - nesta momento Tonks deu uma breve mas provocante olhada para Lupin antes de continuar - ...comprometida eu ia te convidar para sair com certeza - Harry ficou tenso e a cor em suas bochechas estava aumentando de forma a sair do controle. Tonks fingiu não notar e prosseguiu com as dicas. - E seu cabelo? Bem, você esta deixando ele crescer um pouco, certo? Assim ele fica mais fácil de controlar mesmo... Eu não posso falar muito sobre cabelos - ela deu uma pausa alisando os próprios, que voltaram a tomar a tonalidade escura de antes. E em seguida passou uma de suas mãos no cabelo de Harry, de modo carinhoso - Mas já que este não é este o caso eu vou te desafiar para uma corrida de vassouras. Por que agora eu também tenho dinheiro para uma Firebolt... - Harry sorriu sem-graça.
- Combinado então. Depois que você comprar sua Firebolt nós podemos ver quem voa melhor. Prepare-se para comer poeira - ele provocou após respirar fundo para diminuir um pouco a velocidade de suas batidas cardíacas.
Harry não conseguia entender o que estava acontecendo com ele. Tudo bem que algumas garotas fossem querer sair com ele por que sua fama, que agora estava novamente crescendo, mas Tonks estava elogiando sua aparência. Isso seria algo como uma tia faria? Ou isto queria dizer que pelo menos um pouco das bocas abertas que ele havia visto na sorveteria não eram apenas por sua fama? Será que ele estava pelo menos um pouco atraente também?
Lupin, que havia alcançado Arthur no corredor para falar algo rápido, antes que esse finalmente se fosse, agora voltava a se aproximar de Harry e Tonks. Harry notou que o ex-professor também estava analisando as mudanças na sua aparência física, e que também procurava avaliar o estado emocional de Harry. Os dois se olharam olhos nos olhos e sorriram um para o outro, antes de se despedirem com abraços e tapinhas nas costas.
Quando finalmente já tinham se despedido Harry pediu ajuda a um dos duendes encarregados e o seguiu para seu novo cofre. O carrinho foi muito mais fundo do que tinha ido para chegar onde a pedra Filosofal estivera guardada.
Uns vinte e cinco minutos depois Harry pôde notar que eles estavam entrando em uma seção diferente, pois aqui as paredes não eram construídas e sim paredes de pedra escavada, como uma caverna exposta. O ar era muito mais pesado e úmido. Ele ouvia o barulho do gotejamento da água pelas paredes cobertas de limo verde-acinzentado.
A cerca de cada cem metros o carrinho fazia uma parada, e o duende dava uma senha para que o carrinho passasse por uma armadilha sem ser destruído. Ao passar pela décima quinta armadilha Harry já estava ficando aborrecido e entediado, mas finalmente foi possível ver uma enorme porta de aço à frente.
O carrinho fez uma leve curva e estacionou suavemente. O duende saltou rapidamente do vagão e correu para a porta. Lá chegando passou o dedo pelo metal gelado, e alguns minutos e muitos barulhos estranhos depois à mesma se abriu silenciosamente.
Antes de adentrar ao cofre Harry pôde ver apenas o número 003 encravado no mármore sobre a porta. Do lado de dentro ele reparou num pequeno corredor cercado por paredes de vidro e mais uma porta, desta vez toda de mármore. Ao se encaminhar mais para dentro ele percebeu que havia criaturas escondidas atrás das paredes de vidro: Enormes tartarugas com cascos cobertos de jóias preciosas. Harry reconheceu os caranguejos de fogo. Assim que eles notaram a presença de pessoas no corredor apontaram suas caudas para ele, e dispararam rajadas de fogo contra na direção dos dois, mas as rajadas foram detidas pelo vidro, extremamente grosso. Harry correu atrás do duende, pois não queria ficar preso com aquelas criaturas. Lembrava-se muito bem dos Explosivins de Hagrid.
Enquanto se aproximava, Harry pôde ver o duende montando uma espécie de quebra-cabeça composto apenas por jóias com lapidação arredondada. Então ele notou que este quebra-cabeça era muito parecido com o jogo trouxa "Resta Um". Quando sobraram apenas rubis e uma safira no centro a porta de mármore começou a se abrir. O duende explicou que se demorasse mais que dez minutos para realizar a tarefa eles estariam presos ali com os Caranguejos de Fogo. Harry então adentrou a próxima sala, e já estava dando graças a Deus pelo duende ter sido rápido o suficiente, quando de repente sentiu o súbito desejo de estar de volta aos caranguejos.
Esta sala era do tamanho do salão principal de Hogwarts e no ar era possível se ver enormes águias com a parte traseira de leão. Grifos voando em círculos, prontos para mergulhar sobre suas presas indefesas. Ao fundo da sala ainda se avistava a figura de uma esfinge, guardando uma última porta.
Harry seguiu o duende, que mantinha um ritmo surpreendentemente calmo, mas ele estava muito nervoso. De um grifo ele até poderia dar conta, mas com uma dezena deles e uma esfinge, ele não teria a menor chance. "Talvez se tivesse minha Firebolt", ele pensou ao se aproximar do duende, que conversava com a esfinge. Esta se curvou e concedeu a passagem. Ao chegar à porta, Harry viu que ela era feita de uma madeira escura, um mogno negro e muito velho. O duende tomou sua mão subitamente, e a cortou de leve, molhando a porta com o sangue de Harry.
Harry puxou a mão instantaneamente, sentindo uma pontada de dor, mas assim que ele examinou o ferimento este penicou e fechou instantaneamente, no exato momento em que a porta se abriu.
Assim que ele viu o que havia dentro do cofre ficou boquiaberto em admiração e surpresa. O cofre em si era do tamanho do salão comunal da Grifinória. Diversas obras de artes valiosas, e muitos móveis caros podiam ser vistos espalhados pelo interior do cofre. Estantes repletas de tomos estranhos e montanhas de ouro maiores que Grope, o irmão de Hagrid. Armários abarrotados de taças de cristal e prata, pratos e talheres de prata e ouro. Anéis, brincos e colares, de todos os metais e jóias preciosas que se podiam existir também entupiam o ambiente e o faziam cintilar.
Harry encheu seus bolsos e sua carteira de Galeões. Não queria ter que voltar ao cofre. Ele também aproveitou para pegar alguns dos livros que pareciam mais interessantes e foi embora. Estava farto de duendes, cavernas e, sobretudo armadilhas.
Assim que alcançou a luz do dia moveu-se discretamente pelo Beco Diagonal sem chamar atenção. Os anos de treino morando com os Dursley finalmente serviam para algo. Ele era expert na arte de passar despercebido e formado no que se dizia respeito a fingir que não existia. Ao se aproximar da Travessa do Tranco Harry recolocou o capuz de seu manto e entrou nas sombras que conduziam à Travessa.
Harry correu pelas ruelas estreitas e malcheirosas, sem se importar com quem esbarrava. Muitos passantes fizeram menção de pará-lo, mas assim que esticavam seus braços em direção a ele sentiam uma súbita vontade de se afastar e ir embora. Harry mal havia chegado à loja "Borgin e Burkes", quando encontrou o senhor Borgin esperando-lhe com uma sacola e um odre, uma espécie de cantil antigo que Harry conhecia de filmes épicos, parecido com uma mochila de uma alça, exceto pelo fato de que tinha uma rolha tampando a única abertura, na mão.
- Aqui está sua encomenda - o homem sorriu maliciosamente. - Qual era mesmo seu nome senhor? - Harry sentiu que o senhor Borgin queria muito lhe chantagear, mas que os produtos eram os que havia pedido e ele não estava sendo enganado.
- Eu não me lembro de ter lhe dado meu nome senhor Borgin, mas lhe garanto que se eu ficar satisfeito com os resultados deste eu voltarei por mais. Por isso acho bom que prefira manter o sigilo dos seus clientes, se realmente quiser manter a freguesia... - Harry disse friamente, fazendo o homem se colocar de volta ao seu lugar. Colocou o pagamento em cima da mesa e guardou as encomendas por baixo do manto.
Ele pensaria num bom momento para experimentar o que havia comprado. Precisava de privacidade para isso. Então, partiu da Travessa com um novo ânimo.
Harry encontrou Gui esperando por ele no Caldeirão furado, trocaram cumprimentos e poucas palavras, pegaram os pertences de Harry com Tom e um pouco de Flu e partiram, finalmente, para a Toca.
Gringotes
Harry reparou que a sorveteria continuava exatamente como ele se lembrava. As mesas com os guarda-sóis coloridos, o pátio que era vislumbrado por todos aqueles que estivessem passeando pelo Beco Diagonal, e, dentro da loja, se encontrava o próprio Florean Fortescue. As lentes com as quais Harry ainda não havia se acostumado totalmente estavam lhe mostrando o interior praticamente vazio de fregueses da sorveteria.
Após se deter algum tempo em frente à loja, ele finalmente se encaminhou para a porta da sorveteria. Algumas pessoas notaram sua presença e pararam para observá-lo, o que o incomodou muito como sempre, mas infelizmente era um direito deles observar quem quer que fosse. Então ele resolveu adentrar a sorveteria, onde foi recebido com um grande sorriso pelo próprio senhor Fortescue.
- Olá Harry. Há quanto tempo não o vejo... - disse Florean, que há alguns anos antes havia ajudado Harry com seu dever de casa sobre a caça às bruxas, e lhe dera muitos sorvetes de graça de lambuja. - Venha aqui, meu rapaz. Eu vou lhe dar um dos nossos novos sundaes inteiramente por conta da casa.
- Não precisa, senhor. Eu posso pagar, sem nenhum problema... - respondeu Harry um tanto quanto corado. Ele gostava muito do dono da sorveteria, e não queria utilizar-se de seu prestígio ou mesmo abusar da generosidade do sorveteiro.
- Ora, Harry - o sorveteiro colocou uma das mãos no ombro dele. - Isso não é nenhum favor da minha parte. Muito pelo contrário, se é o que você pensa... - ele piscou um olho e Harry ergueu as sobrancelhas, curioso. O homem prosseguiu. - Se as pessoas souberem que você gosta de meu sorvete e que você freqüenta a sorveteria, isso aumentará em muito o meu número de fregueses. E os que virem você aqui irão espalhar a notícia como poeira no vento, e em dez minutos o lugar estará fervilhando de curiosos, e, apesar deles serem um bando de fofoqueiros, eu vou estar cheio de fregueses... - terminou a frase empurrando gentilmente o rapaz para uma das mesas, sentando-se ali com ele, fez sinal para um dos atendentes.
Harry sentiu que o senhor Fortescue havia dito aquilo mais para ter uma desculpa para dar sorvetes de graça a ele do que pela publicidade que ele poderia garantir para a sorveteria, mas sorriu pelo comentário sobre a indiscrição das pessoas com a vida alheia.
- Muito obrigado senhor. Já que é assim eu aceito - disse Harry, que não queria magoar uma pessoa que o havia ajudado muito, e que ainda gostava dele sem se importar com sua fama, apesar do que poderia parecer pelo falso motivo que havia dado para ter o rapaz ali.
Assim que o atendente chegou e anotou o pedido de Harry, o senhor Fortescue se levantou para dar as boas vindas a uma família que havia entrado na sorveteria, já atraída pela curiosidade acerca do "menino que sobreviveu".
Harry estava sentado em uma mesa bem visível e ficou parado pensando em como iria fazer para levar à frente seus planos, e também na sorte que havia tido por ter encontrado aqueles livros na "Borgin e Burkes".Qualquer ajuda que ele pudesse ter para aprender mais sobre como ele poderia aumentar suas perícias e poderes em Legilemência e Oclumancia seria muito bem-vinda.
Ele estava particularmente interessado no livro por ele ser escrito à mão, já que no mundo Bruxo isso significava dizer que era muito raro e valioso, e que não deviam existir muitas cópias dele, ou mesmo então de que era um volume único. Mas de qualquer forma ele devia conter muitas informações úteis que Snape não havia lhe contado, e que muito menos ele conseguiria achar na Biblioteca de Hogwarts, mesmo na seção restrita.
O segundo livro, o que era sobre animagia Harry tinha certeza de que devia ter sido fabricado em série, e pelo que já havia visto ao folhear o livro percebeu que precisaria da ajuda de Hermione para conseguir realizar o complicado ritual necessário. Harry sabia que ia ser difícil convencer a amiga a violar certas regras do mundo bruxo, mas tinha certeza de que com as palavras certas e uma "chantageanzinha" feita a ela com um pouco do assunto "Rony-Luna", ele teria a ajuda da garota imediatamente.
O terceiro livro, o que Harry havia comprado por emitir uma estranha mágica que o atrairá para ele, parecia se tratar de um grimório de um bruxo das trevas, pelo menos pelo exame superficial que ele havia feito deste. Mas tinha muitas informações úteis que ele poderia usar para se proteger de alguns seres muito perigosos, ou mesmo feitiços que ele certamente não aprenderia em Hogwarts, pelo menos não nas aulas do professor Flitchwick.
Enquanto estava distraído, tentando pescar a cereja do sundae do fundo da taça com a sua colher, os cabelos da nuca de Harry se eriçaram. E ele, ao olhar para cima, viu que Draco Malfoy o estava encarando. Os olhos cinzas de Malfoy se contraíram num misto de raiva e ira, e nesse instante Harry pôde sentir a mente do outro rapaz se abrindo como um livro:
"Espere só mais um pouco, Potter e você vai sentir o peso da ira de um Malfoy" (Harry teve vontade de rir de Draco, que mesmo com seus amigos Crabe e Goyle ainda não havia conseguido sequer arranha-lo, já que sempre que havia tentado algo diferente, acabava sendo estuporado ou amaldiçoado por Harry e seus amigos) - "Assim que eu encontrar o homem que comprou o diário de meu avô, convencê-lo a ajudar o Lorde das Trevas e conseguir de volta aquele livro, você vai me pagar caro, Potter".
Draco fechou os olhos, e Harry perdeu o contato com a mente dele. Malfoy se virou para ir embora, mas antes olhou para ele de relance. Harry acenou propositalmente para Draco, como se fossem velhos amigos, e ainda acrescentou um sorriso cínico com o canto dos lábios. Ele viu o outro rapaz bufar de raiva e sair correndo a procura do homem que queria encontrar, sem sequer saber que o estivera encarando apenas alguns instantes antes.
Assim que Draco sumiu de vista o senhor Florean chegou com uma enorme "banana split". Harry agradeceu novamente ao amigo, e começou a saborear imediatamente o sorvete. Ele atacou primeiro à parte de morango, pois não queria misturar com os seus sabores favoritos: chocolate e creme. Então ele notou que aquilo o Sr. Florean havia dito era verdade. Não havia muito tempo em que ele estava sentado ali naquela mesinha, mas o fluxo de clientes havia aumentado muito, e ele era composto principalmente por garotas que acenavam, às vezes timidamente, às vezes de forma ousada, piscando os olhos, e sorriam para Harry ao passar perto de sua mesa.Harry reconheceu algumas delas como colegas de Hogwarts, e as que o conheciam se aproximaram para perguntar como estavam indo as férias.
Lilá e as gêmeas Patil até chegaram a encurralar Harry e beijar lhe as bochechas deliberadamente. O rapaz considerou seriamente a hipótese de fugir dos beijos assanhados das amigas, mas reparou que Amanda estava olhando para ele através da vitrine da loja, e fazendo uma cara de contrariada quando viu Lilá beijando-lhe o rosto, por isso permitiu. Seria uma boa lição para aquela garota atirada.
Quando Amanda se virou, a frustração que ela estava sentindo ficou nítida em seu rosto. Harry então se acomodou melhor à mesa, e convidou as colegas para se sentarem com ele.
Para compensar todos os sundaes que ganhara do Sr. Florean, Harry comprou uma para cada amiga. Ele sentiu que embora as garotas o achassem bonito não estavam interessadas nele de forma romântica. Além do que, Parvati ainda estava um tanto quanto irritada com a forma que ele a havia tratado durante o Baile de Inverno de Hogwarts, no quarto ano deles.
Harry acabou seu sundae e se desculpou com as meninas pedindo licença e explicando que estava atrasado para um compromisso em Gringotes. Assim saiu dali bem depressa. A última coisa de que precisava naquele momento era que mais garotas se atirassem em cima dele como Amanda havia feito.
Ele consultou seu novo relógio do bolso e viu que já eram quase treze horas, e notou também que seu ponteiro dos planetas apontava para Júpiter, indicando propensão para negócios. Em apenas dez minutos Harry chegou à porta do banco bruxo e notou que ele estava muito diferente da última vez que o havia visto. Ao lado da porta de entrada estavam parados dois duendes vestindo pequenas armaduras de bronze. Os escudos praticamente cobriam todos os corpos pequenos de ambos, e mesmo com pequenas espadas embainhadas na cintura os dois moviam suas mãos direitas de modo sincrônico, se prevenindo de alguma situação de perigo. Era possível perceber as maldições que eles estavam preparando para lançar ao primeiro sinal de algum ataque ao banco.
Assim que Harry entrou em Gringotes foi parado por mais dois guardas que usavam os mesmos trajes dos anteriores e um outro duende. Este trajava roupas finas e caras, um par de óculos estranho e ficava girando seus dedos dos quais saiam faíscas douradas de segundo em segundo. O duende olhou no fundo dos olhos de Harry e respirou profundamente antes de perguntar.
Sou Ramknal, encarregado da segurança. Identifique-se e diga a que negócios o senhor veio ao Gringotes? - Harry sentiu o pequeno ser tentando penetrar em sua mente e o bloqueou momentaneamente concentrando-se. Respirou profundamente e repeliu o ataque para então responder.
- Eu sou Harry James Potter e venho aqui para a leitura oficial do testamento de Sirius Black, meu padrinho - disse sério, sem desviar os olhos do duende. Então completou sorrindo de modo sarcástico. - Acho muito divertida esta pequena disputa de forças de vontade que está tentando fazer comigo senhor Ramknal, mas se quiser continuar com isso poderemos fazê-lo após a leitura. Eu estaria muito interessado... - finalizou Harry. Então Ramknal deu um sorriso sombrio, e, passando pelos outros dois duendes, parou e indicou para que Harry o seguisse.
Harry seguiu Ramknal por caminhos tortuosos e cheios de armadilhas as quais o líder dos duendes ia desarmando cautelosamente conforme se aproximavam. A cada porta o duende fazia pequenos encantos, gestos ou proferia senhas para que estas se abrissem. Após cerca de vinte minutos fazendo curvos em corredores estreitos, escuros e malcuidados eles chegaram em frente a uma grande porta metálica.
Tratava-se de uma porta dupla, com tamanho suficiente para um gigante um passar. O metal do qual a porta era feita parecia ser prata, mas emitia um estranho brilho que lembrava uma chama branca devido à sua cintilância exacerbada. Ramknal levantou sua mão em direção a porta e com um breve aceno esta se abriu por conta própria.
- Bem-vindo a diretoria de Gringotes, senhor Potter. Normalmente é tomada uma rota mais curta, vindo direto do salão principal para cá. Mas devido a soma envolvida neste caso nós tivemos que tomar um rota mais segura`. Peço desculpas pelo inconveniente, senhor - disse em um tom educado. Harry sentiu que a educação era mera formalidade devido à posição do duende, mas também não sentiu nenhum rancor pessoal em relação à ele.
Harry seguiu Ramknal enquanto este lhe mostrava alguns dos setores internos de Gringotes pelos quais eles passavam. O rapaz inclusive pensou ter visto de relance o longo rabo-de-cavalo ruivo de Gui em um dos setores, mas como estavam passando muito rápido por todos aqueles setores ele não pôde confirmar sua desconfiança.
Finalmente Ramknal parou em frente a uma bela e grossa porta de carvalho, trabalhada com runas estranhas e antigas, encravadas na superfície da madeira. Havia algumas pedras preciosas nos espaços entre as runas, um trabalho muito bonito.
Harry adentrou a sala, encontrando Remo Lupin andando de um lado para o outro. O ex-professor vestia o mesmo manto velho que estava usando no dia em que ele o havia conhecido. Seu rosto parecia mais cansado e velho do que o garoto jamais o vira, mas ainda assim ele tentou esboçar um sorriso, ao qual Harry se esforçou em retribuir. O garoto deu mais uma olhada na sala.
Sentada em uma poltrona estava Ninfadora Tonks. Ela usava uma blusa negra aveludada e um jeans azul escuro. Seus cabelos estavam completamente pretos e longos, conferindo a ela um ar solene e uma aparência extremamente séria. Ela parecia triste com tudo aquilo, mas Harry pode notar e sentir que a preocupação que ela sentia era principalmente por Remo, já que ela não parava de olhar preocupadamente para o ex-professor de Harry.
Foi então que ele se virou para o lado e também viu Artur Weasley, o pai de Rony e Gina, sentado ali com um ar sóbrio, embora parecesse estar com pressa, já que não parava de olhar para o próprio relógio. Ele trocou um breve olhar e um aceno de cabeça com Harry.
- Ah! Finalmente o último beneficiário chegou. Já não era sem tempo... - Harry olhou para a mesa que ficava na sala, e atrás dela havia um outro duende, com um sorriso que tentava ser simpático, mas que na verdade estava mais para ameaçador. Ele que seria encarregado pela leitura das últimas vontades de Sirius. - Por favor. Sentem-se para nós podermos começar com os procedimentos - terminou o duende indicando as poltronas ainda disponíveis para Harry e Remo, que ainda parecia estar irrequieto demais para parar por alguns instantes.
Harry cruzou seu olhar com o do ex-professor, e viu que a aparência dele ficou um pouco menos angustiada. Ele sentiu que Remo se sentia bem de poder fazer parte da leitura e ter este momento como lembrança de um de seus melhores amigos, e também sentiu o carinho paternal e a afinidade que Remo sentia por ele, até que o ex-professor notou que Harry estava "passeando" em seus pensamentos e a fechou. Antes, porém ele pôde ver um sorriso se formando na face de Lupin e isso aliviou o pesar que estava formando em seu coração por ter sem querer invadido a mente dele e por sentir também muita falta de Sirius.
O duende pigarreou duas vezes seguidas, e a tensão no ambiente aumentou, enquanto os beneficiários se acomodaram nos seus lugares. O duende encarou-os seriamente antes de impostar a voz e começar a falar alguma coisa. Houve um silêncio constrangedor de alguns segundos, cujo único som ouvido era o "tic-tac" do relógio de Artur Weasley, o qual este ainda observava discretamente, preocupado com o seu atraso, agora inevitável.
Bom, senhores vou começar a leitura, se me permitem - o duende disse finalmente, quebrando a ansiedade geral.
"Aos 25 dias do mês de Outubro do ano de 1996 de Nosso Senhor, eu, Sirius Black, certifico que este é meu único e legal testamento, e que contém todas as minhas ultimas vontades." - Está escrito de próprio punho e assinado com tinta anti-falsificações - o duende fez a observação antes de prosseguir.
"Este documento só terá valor se as falsas acusações que foram feitas contra a minha pessoa forem retiradas. E uma vez que este está sendo lido, as acusações não mais recaem sobre mim, e, infelizmente, eu estou morto" - a piada de humor negro, no meio do testamento foi lida em tom impassível pelo duende, mas incomodou os presentes. Embora Remo não tenha se surpreendido nem um pouco.
"Típico do Almofadinhas. Tentando fazer graça até com a própria morte..." - Remo deixou a mente vagar, mas Harry praticamente ouviu o pensamento do ex- professor. "Que péssimo gosto o seu Sirius. Não teve a mínima graça...", Harry também pôde ler os pensamentos indignados de Ninfadora, e o duende prosseguiu a leitura.
"Sendo a herança dos Black minha por direito de nascimento, e a dos Potter, do herdeiro deles, porém sob meu controle até Harry James Potter, de quem sou tutor e padrinho, atingir a maioridade." - Harry suspirou à menção dos pais.
"Uma vez tendo sido exposto o que me cabe como meu. Disponho dos meus bens da seguinte maneira: O Fundo dos Black deverá ser repartido." - o duende pigarreou e deu uma pausa solene para que os beneficiários pudessem se preparar para o que veria em seguida.
"Para Ninfadora Tonks deverá ir a quantia de cento e vinte mil Galeões e o apartamento da Rua Carnaby 1889/118." - o homenzinho olhou para Tonks, que tinha os olhos marejados, mas que estava tentando se controlar ao máximo. Então ele prosseguiu, voltando-se para Artur.
"Para os Weasley, Artur Weasley, naturalmente o chefe da família. Eu deixo a quantia de novecentos e noventa mil Galeões e a casa no Largo Grimauld." - Artur apenas acenou com a cabeça baixa.
"Para Remo Lupin, ou Aluado, meu caro e valioso amigo eu deixo a quantia de cinco milhões e cento e cinqüenta mil Galeões; e as seguintes propriedades: uma casa, que infelizmente está caindo aos pedaços mas tem um enorme valor sentimental, (Remo poderia ter rido se não fosse o fato do amigo estar morto) em Hogsmead e um apartamento no Beco Diagonal." - pela primeira vez desde que começara a leitura, o duende fez uma pausa apenas para inspecionar os ânimos dos beneficiários. Então prosseguiu, sem mais delongas.
"Finalmente, mas não menos importante: Para meu querido afilhado, Harry James Potter, eu deixo a quantia de trezentos mil Galeões e minha antiga moto voadora. Também declaro que este deve ter acesso ao fundo dos Potter, ao qual ele tem plenos direitos à partir de agora, com a minha morte." - Harry sentiu um nó se apertar na garganta, e percebeu que todos na sala pareciam repletos de pesar por ele. Estava sendo pior do que ele esperava. Mas ainda não havia acabado.
"Por favor aproveite a sua vida, Harry. Seja muito feliz, como seus pais e eu gostaríamos que você fosse." - o último comentário fez o estômago do rapaz afundar.
- Há mais uma observação, a qual eu devo ler antes que se encerre oficialmente a leitura do testamento do senhor Black - a voz fanhosa e inexpressiva do duende atrapalhou os pensamentos pesarosos que invadiam a sala.
"Caso alguma coisa tenha acontecido com algum dos beneficiários antes da leitura deste documento, a divisão deverá se proceder da seguinte forma: Harry deverá receber esta parte também, a não ser que seja a referente a Artur, que então deve ir para Molly e/ou seus filhos (que deverão receber quantias iguais, caso seja dividida apenas entre eles). Se alguma coisa tiver acontecido com Harry, todos os bens que caberiam à ele devem ir para os Weasley. Assim termina meu testamento e última vontade. Assinado Sirius Nigelus Black." - nesse instante o duende fez uma pequena pausa para as pessoas presentes poderem se acalmar e se recompor.
- Senhores, os valores especificados foram depositados em suas respectiva contas, exceto aqueles que cabem ao senhor, Sr. Potter. Estes foram transferidos diretamente para o cofre particular da família Potter. Se os senhores desejarem visitar seus cofres para fazer uma retirada ou examinar seus novos bens basta pedir para um dos nossos ajudantes assim que saírem. Boa tarde e obrigada pela paciência. Passem bem... - ele se retirou imediatamente, parecendo extremamente ocupado e apressado. Todos saíram da sala e trocaram breves e sóbrios cumprimentos no hall anterior a esta.
Harry como você está indo? - Perguntou o Sr. Weasley sinceramente preocupado com o garoto.
- As coisas estão meio difíceis, mas eu mantenho minha cabeça ocupada e lembro de amigos que ainda estão aqui ao meu lado, senhor - respondeu Harry olhando para Remo e Tonks que conversavam próximos um ao outro no outro canto da sala, e pensando instantaneamente em Gina, Hermione e Rony. - Eu creio que as coisas vão melhorar bastante agora que eu vou estar com meus amigos na Toca - Artur sorriu, e, olhando distraidamente para o relógio se deu conta do quanto estava atrasado.
- Que bom que você esta melhorando Harry, você sabe que é como um filho para mim e Molly, não sabe? - perguntou novamente Arthur. Harry apenas conseguiu acenar com a cabeça. Arthur o abraçou rapidamente e cochichou, pedindo licença à ele - Conversamos mais hoje à noite na Toca, está bem? Tenho que voltar ao trabalho. Estou seriamente atrasado... - Harry esboçou um sorriso e voltou-se para o outro lado da sala.
O olhar de Harry procurou Remo e a cena que viu o animou bastante: Tonks estava abraçando e beijando Lupin com vontade.
Harry percebeu que Lupin não estava reagindo no início, talvez pela surpresa, mas bastou um instante se passar para que ele começasse a aproveitar o beijo e retribuísse o carinho de Tonks. Harry sentiu a tensão diminuir em seu amigo e isto lhe fez muito bem. Queria muito que Remo fosse feliz.Tonks terminou o beijo e sorriu sinceramente para Remo. Eles ficaram se olhando, perdidos no momento, até notarem que éram o centro das atenções da sala. O rosto e o cabelo dela começarem instantaneamente a tomar um tom vermelho. E Remo e Harry riram da situação constrangedora.
- Harry... Eu... Eu... - Tonks começou a falar. Seu rosto ainda estava corado e os cabelos rosados. Ela fazia pequenos círculos com o pé esquerdo. Harry sentiu que ela estava muito embarcada com tudo aquilo e achou graça. - Eu realmente gosto do Remo. E se isto for meio complicado para você eu vou entender perfeitamente, mas eu quero que você saiba que ele é muito importante para mim e... - Remo também corou ao ouvir a justificativa dela. Harry sorriu para os dois.
- Sem problemas Tonks. É muito bom ver o professor Lupin sorrindo novamente, e se você consegue fazer isto por ele eu só posso desejar que vocês dois sejam muito felizes - disse sinceramente, seus olhos brilhavam e conseguiu até dar um pequeno sorriso e uma piscadela para Remo.
- O que aconteceu com seus óculos, Harry? - perguntou Tonks mudando de assunto. Ela de repente reparou que ele não estava mais usando.
- Ah! Isso? - ele apontou para o rosto. - Também é uma novidade para mim e eu estou me acostumando. - rolou os olhos para cima e apontou para dentro deles. - São lentes de contato. Bem, eu fui comprar óculos novos hoje os meus estavam muito velhos, a vendedora - ele parou um instante se lembrando dos modos de Amanda e sentiu seu rosto corar um pouco, mas prosseguiu - disse que eu não devia esconder meus olhos atrás de óculos... - sorriu embaraçado. Tonks concordou.
- Bom ela tinha razão. Você fica muito bem sem os óculos. Se eu não fosse mais velha e... - nesta momento Tonks deu uma breve mas provocante olhada para Lupin antes de continuar - ...comprometida eu ia te convidar para sair com certeza - Harry ficou tenso e a cor em suas bochechas estava aumentando de forma a sair do controle. Tonks fingiu não notar e prosseguiu com as dicas. - E seu cabelo? Bem, você esta deixando ele crescer um pouco, certo? Assim ele fica mais fácil de controlar mesmo... Eu não posso falar muito sobre cabelos - ela deu uma pausa alisando os próprios, que voltaram a tomar a tonalidade escura de antes. E em seguida passou uma de suas mãos no cabelo de Harry, de modo carinhoso - Mas já que este não é este o caso eu vou te desafiar para uma corrida de vassouras. Por que agora eu também tenho dinheiro para uma Firebolt... - Harry sorriu sem-graça.
- Combinado então. Depois que você comprar sua Firebolt nós podemos ver quem voa melhor. Prepare-se para comer poeira - ele provocou após respirar fundo para diminuir um pouco a velocidade de suas batidas cardíacas.
Harry não conseguia entender o que estava acontecendo com ele. Tudo bem que algumas garotas fossem querer sair com ele por que sua fama, que agora estava novamente crescendo, mas Tonks estava elogiando sua aparência. Isso seria algo como uma tia faria? Ou isto queria dizer que pelo menos um pouco das bocas abertas que ele havia visto na sorveteria não eram apenas por sua fama? Será que ele estava pelo menos um pouco atraente também?
Lupin, que havia alcançado Arthur no corredor para falar algo rápido, antes que esse finalmente se fosse, agora voltava a se aproximar de Harry e Tonks. Harry notou que o ex-professor também estava analisando as mudanças na sua aparência física, e que também procurava avaliar o estado emocional de Harry. Os dois se olharam olhos nos olhos e sorriram um para o outro, antes de se despedirem com abraços e tapinhas nas costas.
Quando finalmente já tinham se despedido Harry pediu ajuda a um dos duendes encarregados e o seguiu para seu novo cofre. O carrinho foi muito mais fundo do que tinha ido para chegar onde a pedra Filosofal estivera guardada.
Uns vinte e cinco minutos depois Harry pôde notar que eles estavam entrando em uma seção diferente, pois aqui as paredes não eram construídas e sim paredes de pedra escavada, como uma caverna exposta. O ar era muito mais pesado e úmido. Ele ouvia o barulho do gotejamento da água pelas paredes cobertas de limo verde-acinzentado.
A cerca de cada cem metros o carrinho fazia uma parada, e o duende dava uma senha para que o carrinho passasse por uma armadilha sem ser destruído. Ao passar pela décima quinta armadilha Harry já estava ficando aborrecido e entediado, mas finalmente foi possível ver uma enorme porta de aço à frente.
O carrinho fez uma leve curva e estacionou suavemente. O duende saltou rapidamente do vagão e correu para a porta. Lá chegando passou o dedo pelo metal gelado, e alguns minutos e muitos barulhos estranhos depois à mesma se abriu silenciosamente.
Antes de adentrar ao cofre Harry pôde ver apenas o número 003 encravado no mármore sobre a porta. Do lado de dentro ele reparou num pequeno corredor cercado por paredes de vidro e mais uma porta, desta vez toda de mármore. Ao se encaminhar mais para dentro ele percebeu que havia criaturas escondidas atrás das paredes de vidro: Enormes tartarugas com cascos cobertos de jóias preciosas. Harry reconheceu os caranguejos de fogo. Assim que eles notaram a presença de pessoas no corredor apontaram suas caudas para ele, e dispararam rajadas de fogo contra na direção dos dois, mas as rajadas foram detidas pelo vidro, extremamente grosso. Harry correu atrás do duende, pois não queria ficar preso com aquelas criaturas. Lembrava-se muito bem dos Explosivins de Hagrid.
Enquanto se aproximava, Harry pôde ver o duende montando uma espécie de quebra-cabeça composto apenas por jóias com lapidação arredondada. Então ele notou que este quebra-cabeça era muito parecido com o jogo trouxa "Resta Um". Quando sobraram apenas rubis e uma safira no centro a porta de mármore começou a se abrir. O duende explicou que se demorasse mais que dez minutos para realizar a tarefa eles estariam presos ali com os Caranguejos de Fogo. Harry então adentrou a próxima sala, e já estava dando graças a Deus pelo duende ter sido rápido o suficiente, quando de repente sentiu o súbito desejo de estar de volta aos caranguejos.
Esta sala era do tamanho do salão principal de Hogwarts e no ar era possível se ver enormes águias com a parte traseira de leão. Grifos voando em círculos, prontos para mergulhar sobre suas presas indefesas. Ao fundo da sala ainda se avistava a figura de uma esfinge, guardando uma última porta.
Harry seguiu o duende, que mantinha um ritmo surpreendentemente calmo, mas ele estava muito nervoso. De um grifo ele até poderia dar conta, mas com uma dezena deles e uma esfinge, ele não teria a menor chance. "Talvez se tivesse minha Firebolt", ele pensou ao se aproximar do duende, que conversava com a esfinge. Esta se curvou e concedeu a passagem. Ao chegar à porta, Harry viu que ela era feita de uma madeira escura, um mogno negro e muito velho. O duende tomou sua mão subitamente, e a cortou de leve, molhando a porta com o sangue de Harry.
Harry puxou a mão instantaneamente, sentindo uma pontada de dor, mas assim que ele examinou o ferimento este penicou e fechou instantaneamente, no exato momento em que a porta se abriu.
Assim que ele viu o que havia dentro do cofre ficou boquiaberto em admiração e surpresa. O cofre em si era do tamanho do salão comunal da Grifinória. Diversas obras de artes valiosas, e muitos móveis caros podiam ser vistos espalhados pelo interior do cofre. Estantes repletas de tomos estranhos e montanhas de ouro maiores que Grope, o irmão de Hagrid. Armários abarrotados de taças de cristal e prata, pratos e talheres de prata e ouro. Anéis, brincos e colares, de todos os metais e jóias preciosas que se podiam existir também entupiam o ambiente e o faziam cintilar.
Harry encheu seus bolsos e sua carteira de Galeões. Não queria ter que voltar ao cofre. Ele também aproveitou para pegar alguns dos livros que pareciam mais interessantes e foi embora. Estava farto de duendes, cavernas e, sobretudo armadilhas.
Assim que alcançou a luz do dia moveu-se discretamente pelo Beco Diagonal sem chamar atenção. Os anos de treino morando com os Dursley finalmente serviam para algo. Ele era expert na arte de passar despercebido e formado no que se dizia respeito a fingir que não existia. Ao se aproximar da Travessa do Tranco Harry recolocou o capuz de seu manto e entrou nas sombras que conduziam à Travessa.
Harry correu pelas ruelas estreitas e malcheirosas, sem se importar com quem esbarrava. Muitos passantes fizeram menção de pará-lo, mas assim que esticavam seus braços em direção a ele sentiam uma súbita vontade de se afastar e ir embora. Harry mal havia chegado à loja "Borgin e Burkes", quando encontrou o senhor Borgin esperando-lhe com uma sacola e um odre, uma espécie de cantil antigo que Harry conhecia de filmes épicos, parecido com uma mochila de uma alça, exceto pelo fato de que tinha uma rolha tampando a única abertura, na mão.
- Aqui está sua encomenda - o homem sorriu maliciosamente. - Qual era mesmo seu nome senhor? - Harry sentiu que o senhor Borgin queria muito lhe chantagear, mas que os produtos eram os que havia pedido e ele não estava sendo enganado.
- Eu não me lembro de ter lhe dado meu nome senhor Borgin, mas lhe garanto que se eu ficar satisfeito com os resultados deste eu voltarei por mais. Por isso acho bom que prefira manter o sigilo dos seus clientes, se realmente quiser manter a freguesia... - Harry disse friamente, fazendo o homem se colocar de volta ao seu lugar. Colocou o pagamento em cima da mesa e guardou as encomendas por baixo do manto.
Ele pensaria num bom momento para experimentar o que havia comprado. Precisava de privacidade para isso. Então, partiu da Travessa com um novo ânimo.
Harry encontrou Gui esperando por ele no Caldeirão furado, trocaram cumprimentos e poucas palavras, pegaram os pertences de Harry com Tom e um pouco de Flu e partiram, finalmente, para a Toca.
