Love Hina Endless Fantasy.

Autor: Calerom

Título: Love Hina Endless Fantasy

Descrição:

Este episódio é baseado no Anime/Mangá Love Hina de autoria do Ken Akamatsu.

Se Você, leitor, já conhece Love Hina e seus personagens, pode dispensar a leitura do capítulo 1 e começar a ler a partir do capítulo 2, sem muito prejuízo para a trama, embora o incidente mostrado nele é o que vai detonar toda a aventura.

Agora, se você nunca ouviu falar de Love Hina ou só conhece esta série superficialmente, recomendamos começar por aqui, já que ele foi escrito para introduzir o leitor de fanfic a este fascinante Universo.

A cronologia dos acontecimentos situa-se por volta dos volumes 18 e 19 do mangá (versão brasileira), quando o personagem Keitarô Urashima tinha se recuperado do acidente aonde fraturou a perna e já havia se declarado o seu amor à Naru Narusegawa. Só que um pouco antes dele ter decidido viajar para o Exterior.

Capítulo 1: Prelúdio.

Era um fim de tarde de sábado na pensão Hinata, dormitório feminino que ficava no bairro de Kanagawa, Tóquio. Sua fundadora chamava-se Hinata Urashima, mais conhecida como vovó Hina.

Atualmente a pensão estava sendo gerenciada pelo jovem Keitarô Urashima, neto da vovó Hina, depois que este foi expulso de casa anos atrás por ter falhado duas vezes seguidas no exame de admissão da Universidade de Tóquio - Toudai - uma das mais concorridas instituições do Japão.

Keitarô insistia em tentar passar na tal faculdade, devido a uma suposta promessa feita a uma menininha quando tinha 5 anos de idade e que fora seu primeiro único amor.

Só que ele não se lembrava sequer o nome da garota e na sua vida e era motivo de zombaria de todos por causa de seu jeito desastrado de ser.

Sem ter para onde ir, o jovem Keitarô resolveu recorrer à sua avó, Hina, para que ela hospedasse-o por uns tempos.

Só que ao chegar no dormitório, entrou inadvertidamente no banheiro de águas termais e foi confundido com um tarado pela jovem Naru Narusegawa, uma das residentes da pensão, que estava naquele momento no local errado e na circunstância mais embaraçosa possível.

Ao tentar fugir, Keitarô só aumentou a confusão e somente foi salvo de um linchamento geral graças à intervenção de sua tia Haruka, dona da casa de chá anexa à pensão.

Keitarô acabou ficando depois que um fax enviado por sua avó o designava como novo gerente. Contudo, somente com o tempo ele conseguiu conquistar aos poucos a confiança das garotas, não sem antes protagonizar várias confusões e mal entendidos.

Além de Naru, conviviam no mesmo teto, as jovens Mitsune Konno, amiga de Naru e profissional free-lance, a filha de samurais Motoko Aoyama, a jovem estudante estrangeira Kaolla Su e finalmente Shinobu Maehara, que viera morar na pensão após o divórcio de seus pais.

Mais tarde juntam-se a elas a garota Sarah Mac Dougal, filha adotiva do misterioso Noriyasu Seta (ex-monitor de Naru e de Mitsune e arqueólogo de profissão).

O professor Seta mais tarde contrataria Keitarô para ajudá-lo em alguns trabalhos, fazendo-o descobrir uma nova motivação na vida, o gosto pela arqueologia.

Após várias viagens, aventuras e peripécias durante dois anos, finalmente Keitarô consegue passar na Toudai, junto com Naru Narusegawa e Mutsumi Otohime, que era a garotinha que o havia conhecido aos 5 anos e que havia conhecido também a Naru no passado, quando esta veio se tratar nas termas da pensão, devido a uma doença.

Infelizmente, na cerimônia de abertura da Universidade, na primavera de 2000, Keitarô quebra a perna e ele fica três meses sem poder assistir às aulas. A esta altura, ele já havia declarado seu amor a Naru no hospital, só que esta não respondeu à sua declaração.

É a partir deste ponto em que a história começa.

Era final de mais uma tarde de sábado e a pensão se preparava para acolher a volta de seus moradores.

Keitarô e Naru voltavam de uma compra no supermercado mais próximo, trazendo os ingredientes da janta que iria ser feita pela jovem Shinobu Maehara, que estava terminando a faxina da cozinha.

Motoko estava fazendo o cursinho e se preparava para tentar passar o vestibular na Toudai.

A jovem Mutsumi estava ajudando Haruka na casa de chá, que iria fechar hoje mais cedo devido à pequena clientela.

Kitsune ainda estava no serviço, fazendo mais um de seus misteriosos bicos e as meninas Suu e Sarah ainda não haviam voltado.

E a pequena mascote do pessoal, a tartaruga Tama, estava voando despreocupada pelo jardim.

- Hum, eu acho que compramos tudo o que era necessário para repor a geladeira até a semana que vem, não é Keitarô?

Naru subia as escadarias de mármore da entrada da pensão Hinata conferindo uma extensa lista de compras, enquanto o seu parceiro segurava muitas sacolas de compra.

- É... Eu espero que seja a última compra do mês. Disse Keitarô fazendo força para não deixar cair nada das sacolas.

Pelo fato do dormitório Hinata ter poucos inquilinos, as mensalidades cobradas só bastavam para comprar o indispensável: Comida, produtos de higiene e limpeza, e pouca coisa a mais.

Keitarô não recebia nada a não ser pousada e comida para ser gerente (kanrinin) da pensão.

Além dele, a jovem Shinobu não pagava a mensalidade em troca de cozinhar e passar a roupa do pessoal.

Afora isto, a jovem Kaolla pagava com dinheiro do seu país, só que na prática, convertê-lo em ienes era complicado e difícil, de modo que no fundo as despesas da jovem estrangeira eram rateadas em comum acordo.

- Nossa que final de tarde bonito... - Observava a jovem Naru o pôr do sol visto pela entrada da pensão.

As nuvens avermelhadas deixavam escapar os últimos raios do poente formando uma paisagem tão bela quanto misteriosa. Era final de verão e o outono iria iniciar-se com seu desfile de flores e frutos.

Embora não fosse exatamente do tipo romântico, Naru estava excepcionalmente de muito bom humor e inspirada.

A aprovação na Toudai havia tirado um pouco do peso que carregava há anos, durante o período em que se preparou para entrar na mais concorrida das universidades japonesas.

Naru havia superado a frustração e o desânimo que tivera quando não conseguiu passar pela primeira vez em 1999 - devido ao nervosismo durante a prova decisiva - e agora estava pronta para desfrutar o que a vida tinha a lhe oferecer...

O que não era pouco para alguém que sacrificou amizades e estudos durante o colegial.

Keitarô também olhava o pôr do sol, mas com outras intenções. Buscava no fugaz retrato de beleza que a natureza pintava, a inspiração para poder convidar Narusegawa a sair com ele. Só que as palavras não saíam.

Já não era mais segredo que ele gostava muito dela e era evidente no seu olhar. Só que a timidez ainda era muito forte nele.

Narusegawa ainda não havia decidido se gostava ou não dele, desde aquele dia em que Keitarô disse que a amava no hospital onde estava internado. Para alguns, isto era sinal de orgulho ou amor-próprio, mas o fato é que Naru nunca foi muito boa para lidar com seus sentimentos, que eram tão contraditórios quanto fortes.

Embora gostasse do Keitarô, não se sentia pronta para demonstrar isto em público.

As poucas vezes em que manifestou seu sentimento, foi de forma negativa, como as manifestações de ciúme quando ele era alvo do carinho de outras garotas ou quando dava porrada nele antes que o assunto se tornasse demasiado íntimo...

- Naru, você tem algum compromisso para a-amanhã?

- O que você quer dizer com isto? - Cortou a jovem ruiva bruscamente, interrompendo o clima.

- Não... É que... É que... Queria ver se a gente podia passear...

- Não sei. Por que iria sair com você, seu bobo? - Naru olha para Keitarô com um ar desconfiado.

- É que... É que... Depois que a gente entrou na Toudai nunca mais tivemos oportunidade de sairmos juntos...

- Mas a gente tem se conversado quando podemos, certo?

- Mas... Mas... É diferente... É especial. Eu queria lhe agradecer de alguma forma a força que você me deu quando me acidentei...

- Tudo bem, eu topo, mas nada de me levar para assistir filmes "B" e comer gyudon! Vá pensando num programa mais original e diferente! E lembre-se, se for para sair com só com você, quero privacidade...

Sem responder mais nada, Naru e Keitarô entram na pensão e descarregam as compras na despensa. Naru em seguida vai a seus aposentos se preparar para tomar de banho antes do jantar começar.

Keitarô estava com um sorriso meio bobo, um pouco contente por ter convencido a geniosa estudante a aceitar o convite, mas também um pouco chateado por ter percebido que ainda a Naru não facilitava as coisas para ele.

Não era a primeira vez que saíam juntos e até que ele não fez feio naquele dia em que a levou para ir ao cinema e comer fora. Mas havia sido apenas aquela vez.

Em outras ocasiões, ou eles acabavam encontrando com a turma ou sempre acontecia algo que interrompia o clima... Por que as coisas tinham que ser deste jeito?

Preocupado, não notou que uma pequena figura já tinha notado sua presença.

- Já voltou, Keitarô-sempai?

Era a pequena Shinobu que estava terminando de cozinhar algo para o jantar. Embora fosse a mais jovem moradora da pensão, excluindo a Sarah, Shinobu era a mais prendada de todas, sendo uma excelente cozinheira e dona de casa.

- Hum? Hã, Sim! Olá, Shinobu-chan, como tem passado nos estudos?

- Um pouco mais complicado do que antes, mas estou me dando bem. - Shinobu estava para se formar na 8a série e se tivesse sorte nos exames de admissão, teria chances de entrar num bom colégio.

- Aceita uma ajuda na cozinha?

- Obrigada, sempai, mas já estou acabando. Daqui a pouco a comida vai estar pronta!

Embora fosse uma aluna comum, ganhara um pouco mais de confiança em si mesma e estava bem menos fechada, em parte devido ao convívio com o pessoal da pensão e o amor que sentia por Keitarô.

Uma de suas maiores alegrias era o fato de ter visto o seu kanrinin e sempai passar na sonhada Toudai, depois de dois anos de esforços.

Ela continuava amando Keitarô, embora no fundo soubesse que seu coração pertencia a outras pessoas, afora a concorrência de Mutsumi, Motoko e até mesmo eventualmente de pessoas como a Su e Mitsune.

Mas é provável que Keitarô tivesse amado ela se não tivesse se apaixonado antes pela Naru. Mesmo na adversidade, o amor de Shinobu-chan continuava a crescer, entre o silêncio e a ternura, entre as lágrimas e o carinho.

Pouco depois chegaram as jovens Motoko Aoyama e Mitsune Konno. Motoko carregava uma mochila contendo o seu uniforme de colegial - que trocara no vestiário do colégio antes de ir ao cursinho - e sua pasta de estudos. E Mitsune, carregava um pequeno pacote contendo vinho e batatas fritas compradas numa loja de conveniência para degustar no seu domingo, provavelmente na transmissão de uma corrida de cavalos.

Motoko era filha de uma família de Samurais e sonhava tornar se mestre nas artes da espada. De formação rígida, no início era a mais fechada de todas as meninas e não simpatizava com o Keitarô, por achar ele ser pouco decidido, pouco masculino, fraco e desastrado.

Quando não era Naru que fazia Keitarô voar pelos telhados da pensão com seus potentes socos, era a Motoko - com suas técnicas mortais ou mesmo com seus punhos.

Na realidade, não se tratava de um ódio deliberado, mas do reflexo de um sentimento de rejeição que se estendia a toda pessoa do sexo masculino. Este teve origem no dia em que viu sua irmã mais velha beijando um rapaz.

No fundo, Motoko se sentia insegura quanto aos seus sentimentos e precisava vencer seus medos interiores para se realizar.

Sua aparência era masculinizada, usando até recentemente faixas de tecido nos seios ao invés de lingerie; e - à exceção do uniforme do colégio - ela usava quase sempre seu traje de samurai.

Keitarô somente começou a conquistar a confiança dela depois que salvou Motoko de ficar doente num retiro na floresta, melhorando bem o relacionamento após sua aprovação na Toudai, quando Aoyama passou a respeitá-lo.

Recentemente passara por uma crise quando foi derrotada recentemente por sua irmã mais velha, iniciando uma dolorosa busca em torno de si mesma e seus ideais que não cessou mesmo após a ajuda de Keitarô numa posterior revanche.

A jovem samurai estava passando por uma fase de transição difícil em sua vida. Estava terminando o terceiro ano e esperava fazer o vestibular na Toudai, seguindo os passos de Naru, Otohime e Keitarô, que haviam passado naquela primavera de 2000.

Como de costume, Mitsune Konno, a amiga de Naru, passava o dia trabalhando em dois empregos de meio período para voltar somente no início da noite.

Seu apelido de infância era Kitsune (raposa), em parte pela junção do sobrenome com o seu nome e em parte pela sua aparência lembrar muito à do sagaz animal.

Kitsune era amiga de Naru desde o ginásio e ambas andavam sempre juntas, sendo bastante íntimas, embora às vezes Narusegawa se irritasse com as brincadeiras de Kitsune e esta achasse a amiga desligada e ingênua em assuntos amorosos.

Diferentemente de Naru, Kitsune era brincalhona, não levava a sério os estudos e sua filosofia de vida consistia em aproveitar ao máximo as oportunidades que a vida lhe oferecia.

Consumista ao extremo, ela era bastante apegada ao dinheiro, embora não sobrasse quase nada devido ao gasto com festas, bebidas, roupas e apostas em corridas de cavalos.

Seu limite de gastos no cartão de crédito vivia estourando e a coleção de revistas e catálogos por televendas em seu quarto não parava de diminuir.

Tinha o péssimo hábito de se envolver com pessoas com poder aquisitivo maior do que o seu, para convencê-las a pagar suas despesas e extravagâncias, usando seu charme e beleza.

Kitsune largou os estudos pouco antes de entrar no terceiro ano do colegial e decidiu viver de bicos e empregos temporários.

Na realidade, ela tinha um emprego meio fixo como escritora/redatora numa revista alternativa voltada para adolescentes aonde tinha que entregar pelo menos uma matéria por mês. Ela não recebia salário fixo, mas uma comissão baseada na tiragem da revista, que circulava entre jovens otakus e no circuito underground de Tóquio.

Sobre este emprego, ela não comentava nada com o pessoal da pensão, até porque de vez em quando ela se inspirava nos incidentes que ocorriam entre os moradores para escrever seu último sucesso intitulado "A Pensão do Amor".

Embora a tiragem da revista fosse pequena e ela circulasse apenas entre fanzineiros e otakus hardcore, os artigos e a mini-série de Kitsune garantiam pelo menos 50% das vendas.

E ainda Kitsune arranjava tempo para trabalhar como vendedora e atendente em restaurantes, lanchonetes, lojas de roupas e similares. Estes bicos eram de curta duração e destinavam-se a pagar os gastos extraordinários de Kitsune que não eram poucos.

Pouco depois, a maioria do pessoal estava na sentada na cozinha, esperando apenas os demais chegarem para começar o jantar.

- Olá, pessoal, já voltaram do centro? Dizia uma figura feminina fumando um cigarro no canto da boca e trajando roupas rústicas.

- Oi, Naru, oi, Keitarô, olá, pessoal, tudo bem com vocês? Acenava uma moça simpática de cabelos negros compridos, segurando uma melancia na mão direita e com a pequena tartaruga tama-chan nos ombros.

A moça de cigarro na boca era Haruka, a tia do Keitarô e gerente da casa de chá Hinata.

Séria e altamente observadora, a jovem Haruka Urashima era atualmente a pessoa mais velha da pensão, e era respeitada pelas meninas.

Foi ela que "salvou" Keitarô da ira das meninas quando elas quase o lincharam por confundi-lo com um tarado e foi ela que indicou Noriyasu Seta para ser professor particular de Naru e Kitsune há anos atrás.

Haruka não gostava falar de seu passado, mas é certo que tenha tido um caso não resolvido com o professor Seta e que teria passado várias aventuras com ele ao redor do mundo, mas, quem sabe?

Apesar de ser normalmente calma, a jovem Haruka também tinha várias pequenas manias e poucas coisas que deixavam-na fora do sério: Adorava fumar e beber sakê, e detestava usar vestidos, preferindo usar calças, embora tivesse uma enorme coleção.

Mutsumi Otohime conheceu Keitarô e Naru quando estes foram viajar para o Sul do Japão após terem "bombado" na Toudai em 1999.

Na realidade, ela os conhecia há mais tempo, pois era a testemunha da promessa que Keitarô fez aos 5 anos.

Mutsumi já havia passado uns tempos na pensão Hinata quando era criança e fez amizade com o pequeno Keitarô e depois com a Naru, que na época tinha 3 anos, marcando de forma indelével a vida de ambos. Só que depois sua família teve que mudar para Okinawa e perdeu o contato com seus amigos de infância.

Doce, ingênua, distraída e atrapalhada, era como um clone feminino de Keitarô, embora fosse mais madura e inteligente do que ele.

Adorava beber bastante - embora não freqüentemente como Kitsune - e gostava muito de melancias, mesmo se fosse fora da época.

Seu ponto fraco era a sua saúde delicada, estando sujeita a quedas bruscas de pressão, assim como desmaios freqüentes. Contudo, em relação aos tempos passados, ela estava adquirindo um pouco mais de resistência física devido ao fato de estar praticando esportes com os colegas da faculdade.

Mutsumi gostava tanto de Keitarô como Narusegawa. Embora amasse o rapaz que tinha sido seu amiguinho de infância, ela no fundo torcia para que Kei-kun e Naru-chan ficassem bem.

Mutsumi tinha também um grande carinho e amizade por Narusegawa, embora no fundo não entendesse as súbitas mudanças de humor da jovem amiga.

Esta - embora tivesse suas crises de ciúme quando via Otohime se derretendo em gentilezas com Keitarô - admirava seu otimismo, tranqüilidade à toda prova e gentileza com todos. Mutsumi era incapaz de desejar mal a quem quer que fosse.

- Bem, já está quase todo mundo... Ué, onde estão a Su-chan e a Sarah-chan? Pergunta Keitarô olhando para os lados.

Neste momento, ele é atingido simultaneamente por um potente chute voador e por um artefato polinésio de 1200 anos atrás.

- Oiêêê, Keitarôoooo, chegamos! - Grita com entusiasmo a autora do chute com um entusiasmo e disposição fenomenais.

- Hello, calouro da Toudai! How are you? - Fala a jovem pequena loira que atirou o artefato na cabeça de Keitarô.

- Su-chan, Sarah-chan, sejam bem vindas! - Diz Mutsumi com a sua inocência, sem perceber que Keitarô jaz caído no chão, com dois galos na cabeça. Preocupada, a Shinobu traz mais do que depressa o kit de primeiros socorros e gelo, como sempre.

Kaolla Su, ou Su-chan para os íntimos, era uma estudante de origem estrangeira que foi parar no Japão por causa de um programa de intercâmbio. Embora não fosse exatamente hindu, era tratada como tal.

Kaolla era um tipo exótico, tendo cabelos loiros quase brancos e pele morena escura, com olhos verdes. Cursava atualmente o 2o grau, estando uma classe à frente de Shinobu, a quem conhecia no ginásio, por terem estudado no mesmo colégio.

Kaolla no início teve dificuldades para adaptar-se aos costumes do Japão, mas acabou aprendendo japonês com a Kitsune e mais tarde apegou-se a Motoko, que apesar da flagrante diferença de temperamento, cuidava dela como se fosse sua irmã mais velha.

O que marcava a personalidade de Su era a sua extrema energia e juventude.

Ela adorava infernizar a vida do Keitarô dando chutes na sua cabeça, como se fosse um cumprimento e de fazer a ele propostas de duplo sentido.

Sempre estando faminta e gulosa, Su-chan gostava muito de comer banana e outras frutas tropicais e até recentemente, vivia arranjando um jeito de devorar a mascote Tama-chan, à revelia do pessoal.

Quando sua preocupação não era comer, Su ocupava-se inventando em seu quarto, mechas, robôs e armas futuristas, tendo como limite sua imaginação. Sua obra prima era o Mecha-Tamago, uma tartaruga robótica armada até os dentes que criara originalmente para enfrentar a Tama-Chan, mas que tinha várias outras utilidades.

Aficionada por informática e videogames, Kaolla mantinha em seu quarto uma coleção enorme de consoles de videogames, computadores e aparelhos eletrônicos.

Embora tivesse convidado o pessoal da pensão mais de uma vez para jogar com ela, poucos se atreviam a entrar no seu quarto, devido às invenções malucas que proliferavam por lá, além da Su tê-lo decorado de um jeito que lembrava mais uma selva do que qualquer outra coisa.

Embora fosse do tipo moleque, Su já tinha de 15 para 16 anos, e sua forma começava a tornar-se mais alongada e mais alta. Dentro de alguns anos ela se tornaria uma jovem muito bonita.

A jovem menina loira com gorro, jeans e ar sapeca era sua colega Sarah Mac Dougal. Sarah era filha adotiva do professor Seta e era americana de nascimento.

Sua mãe, Cindy, chegou a ter um caso e inclusive a morar com o arqueólogo antes de se casar e era ao mesmo tempo colega e rival de Haruka na faculdade. As duas disputando o amor do avoado arqueólogo.

Quanto ao pai biológico de Sarah, sua verdadeira identidade era um segredo bem guardado. Mais provavelmente devia ter sido um dos vários amores mal resolvidos de Cindy quando esta era solteira.

Ela faleceu precocemente e Seta acabou tornando-se pai de criação de Sarah, embora os avós maternos de Sarah vivessem na Califórnia.

Sarah, assim como Su, era extrovertida, cheia de vida e bastante inteligente para a sua idade, além de ser dona de uma percepção fora do normal.

Só que tinha como defeitos o hábito de ser uma peste quando queria, armando confusões para depois fingir ser inocente; além de ser bastante rude, temperamental e agressiva com as pessoas que não simpatizava, seja com palavras ou com gestos.

Com pouco senso diplomático e de poucos rodeios, Sarah podia ser mais brutal com seus comentários ácidos do que com seus golpes.

Keitarô sofreu muito com ela quando foi contratado pelo Seta-sensei para ser ajudante pela primeira vez, já que a menina tentou de tudo para fazer ele desistir do serviço, por não ter simpatizado com ele.

Ela também adorava manipular situações para que o Keitarô fosse apontado como culpado e levasse porrada de Narusegawa e cia. sendo ela a culpada.

Sarah acabou ficando na pensão em definitivo quando Seta decidiu que sua vida de aventureiro não era nada positiva para o crescimento dela.

A jovem americana ficou aos cuidados de Keitarô e companhia, tendo o convívio melhorado a partir do momento em que Sarah se habituou à nova situação.

Ela fez logo amizade com Kaolla, principalmente e com Shinobu, tornando-se companheiras.

Foram justamente ela e a jovem indiana que convenceram a relutante Shinobu a resgatar Keitarô fugindo da pensão, quando este naufragou nas ilhas Pararacelso, no Pacífico central.

A única pessoa com a qual Sarah não se simpatizou até agora foi com a Kitsune, por desconfiar que a "raposilda" tem interesses amorosos com seu pai adotivo.

Após nocautearem Keitarô, as jovens Kaolla e Sarah tomam seus lugares na mesa da cozinha.

- Olá meninas, como foram de aulas hoje? - Diz Narusegawa.

- Ei, gente, temos uma novidade! - Anuncia Kaolla ao mesmo tempo em que se prepara para pegar sua porção de comida.

- Conta, conta! - Diz entusiasmada a jovem Sarah.

- Bem, é melhor deixar para depois da janta. A Shinobu-chan vai ter que ainda fazer a limpeza da cozinha. - Diz severamente Motoko, com seu estilo de irmã mais velha.

Kaolla e Sarah meio a contragosto, acatam a ordem e cada uma pega a sua porção de comida.

O jantar transcorre tranqüilo e sem maiores incidentes. Apesar de atordoado, Urashima conseguiu ainda comer. Mutsumi e Narusegawa ajudam Shinobu a terminar a faxina da cozinha e a lavar os pratos.

Terminada a refeição, o pessoal vai para a sala de estar descansar um pouco. Amanhã seria domingo e a maioria dos inquilinos iria ficar na pensão.

Apenas Keitarô tinha interesse em fazer algo para se aproximar de Narusegawa, mas precisava pensar rápido. Ela era uma menina exigente e satisfazer seus gostos não seria nada fácil, ao contrário da Mutsumi, de gostos mais simples.

- Bem, Kaolla e Sarah, qual era a novidade que vocês tinham a dizer? - Pergunta Keitarô.

- Acabei de comprar um videogame de última geração e o CD-Rom do game do momento: "Fantasy". É um RPG, mas bem diferente de tudo. É o primeiro RPG com sistema de realidade virtual embutida!

- RPG? O que é isto? Seria Reeducação de Postura Global? - Pergunta Motoko. Ela era meio desligada em relação a videogames e muito menos por este gênero.

- No caso, é um jogo aonde você interpreta um personagem num mundo medieval. Você pode escolher entre ser um guerreiro, um clérigo, um mago, um ladrão... - Diz Kaolla.

- É, e depois tem que resolver missões, achar tesouros, artefatos, armas mágicas, montar o seu grupo e derrotar os inimigos. - Completa Sarah.

- Ah, este tipo de jogo já é conhecido. Tem o Final Fantasy, o Dragon Quest... - Comenta Shinobu, que já jogara alguns destes jogos tradicionais durante o ginasial.

- É, eu joguei o Final Fantasy VII, mas parei naquela fase do banheiro... - Sorri Keitarô tentando entrar na conversa.

BONC! Sarah bate na cabeça do Keitarô com toda a força usando um Martelo de batalha Viking que aparecera do nada:

- Burro! Aquela parte ainda é fichinha! Você precisa ver na hora de enfrentar o Sephiroth na batalha final! - Esbraveja a menina diante da confissão de amadorismo de Keitarô.

- Bem, a diferença entre o game que comprei e estes jogos de RPG é que, ao invés da pessoa controlar bonequinhos, o sistema de realidade virtual faz com que você se sinta dentro do jogo, como se fosse um personagem dentro da história. Dá para montar times com os amigos e ele pode ser jogado em rede. - Explica Kaolla com seu entusiasmo.

- É. E dá para conversar com outros participantes trocando mensagens por um sistema de e-mail e já tem concursos em dinheiro na Internet para quem primeiro terminar o jogo coletando todos os itens secretos... Você pode combinar dois save games e continuar do ponto aonde pararam. - Completa Sarah.

- Hmmm... Parece interessante... - Comenta Kitsune.

Embora sua experiência com videogames se restringisse a um velho Atari 5600 que ganhara quando criança e que ainda estava em seu quarto, a palavra "dinheiro" chamou a sua atenção. Se fosse para ganhar uns trocos, Kitsune seria capaz fazer de tudo.

- Parece interessante, mas sinto que não faz o meu gênero. Desculpem-me. - Responde Motoko, que não via muita graça em perder horas e horas diante de um monitor ou televisão quanto mais num joguinho fútil.

- Hihihi... Parece ser legal... E pensar que no nosso tempo tinha somente brinquedos simples como os bonecos do Liddo-kun e sua turma... - Sorri Mutsumi lembrando dos tempos de criança.

- Na minha classe tinha umas colegas minhas que se reuniam para jogar um RPG chamado "Dungeons e Dragons...", parecia ser interessante, mas nunca tive oportunidade de jogar... - Comenta Naru. Embora usualmente não se interessasse por estas coisas, ela estava naquela noite ansiosa por novidades.

- Este game Fantasy segue muitas regras do Dungeons e Dragons e faz mais do que ele! - Entusiasma-se Kaolla.

- No Shopping Mizuno foi aberta uma Lan-House aonde dá para jogar em grupo o game Fantasy. Tem prêmios e brindes para a melhor equipe... - Comenta Sarah.

- Lan-House, o que é isto? - Pergunta Keitarô, visivelmente desconsertado.

- Como você está por fora, Keitarô!... Lan House é a última moda em matéria de diversão. É um lugar aonde o pessoal pode jogar em terminais de micros disponíveis em rede! Tente imaginar um fliperama, mas com um sistema que dá para jogar em turma o mesmo jogo! - Responde Sarah.

- É caro?

- Claro que não! E ainda sobra dinheiro para comprar lanches e refrigerantes lá mesmo...

- Vocês querem jogar Fantasy no meu quarto? Eu instalei uma rede e um equipamento de realidade virtual para jogar em até 5 pessoas simultaneamente! - Pergunta a jovem hindu, ansiosa para testar a sua nova rede on-line experimental. Obviamente Kaolla já estava pensando mais adiante em customizar o próprio jogo, extraindo "patches" e downloads diversos na Internet.

- Não, obrigado, Su-chan. Vou dormir daqui a pouco. - Responde Keitarô, não tanto por estar desinteressado, mas por ter medo das invenções malucas da Su.

Da última vez que tentou limpar aquele quarto exótico, o jovem kanrinin foi atropelado, esmagado, metralhado e perseguido pelas invenções da exótica garota morena, que guardava ciosamente os seus segredos.

- Talvez outro dia. Tenho que ainda estudar para a prova da semana que vem. - Desculpa-se Narusegawa, embora o brilho de seus olhos demonstre que a jovem hindu conseguiu fazer ela ficar um pouco interessada. Na realidade, vontade até tinha, mas não queria passar por criançona diante da Motoko.

- Hihihi... Obrigado, meninas, mas acho que estou um pouco velha para estes jogos de hoje... - Sorri Mutsumi.

- Ah... Que pena... Vamos, Sarah, Shinobu, nós iremos montar o Hinata Attack Team e configurar nossos personagens e armas. - Responde resoluta Kaolla.

- Legal! - Levanta-se Sarah em apoio à sua companheira.

- Mas, agora? - Embora Shinobu estivesse um pouco interessada, ela tinha receio de sua inexperiência prejudicasse a performance das meninas.

- Fica fria, Shinomu, você aprende rápido pelo tutorial em realidade virtual... - Responde Kaolla pegando Shinobu pelo braço.

O trio de meninas da pensão Hinata foi ao quarto de Kaolla. Mutsumi sorri ao ver a cena e comenta para Naru e Keitarô.

- Hihihi... Lá vão as guerreiras mágicas conquistarem seus castelos no céu e seus príncipes encantados. No nosso tempo, os brinquedos eram bem mais simples... O meu sonho máximo era ter o boneco falante do Liddo, mas era muito caro na época...

- Eheheh. E verdade... - Comenta Naru - Cheguei a jogar num Famicom de um parente quando tinha 7 ou 8 anos, mas gostava mais é de brincar de boneca e com o Liddo...

- E você, Keitarô, o que você brincava na infância? - Pergunta Mutsumi.

- Bem... Eu cheguei a jogar um pouco de bola e praticar boliche, mas nunca arrumava parceiros para treinarmos juntos... Quanto a videogames, cheguei a ter um Super Famicom e depois um Playstation 2, mas parei de jogar há um bom tempo. Geralmente, quem joga no meu videogame é a Su-chan.

- É bom de vez em quando relembrar os tempos da infância e adolescência... A gente tinha menos preocupação e responsabilidade naquele tempo. Às vezes, ser adulto cansa. - Comenta Mutsumi.

- É verdade... - Concorda Naru com certa nostalgia. Embora Mutsumi fosse ingênua e pura, ela sabia às vezes falar certas coisas com sabedoria.

O pessoal estava terminando de conversar e se preparava para dormir, quando de repente, eles ouvem um grito de pavor da Shinobu e várias vozes estranhas semelhantes a rugidos ferozes dentro do quarto da Kaolla. Su e Sarah gritam escandalosamente.

Mutsumi, Keitarô e Naru correm para o quarto de Kaolla, quando Motoko vem se juntar a eles, com espada em punho.

Todos imaginavam que no mínimo, uma das invenções malucas de Kaolla perdera o controle e estava ameaçando as meninas, mas...

Quando entram no quarto, a Shinobu, com um estranho capacete na cabeça, sai da cadeira e vem correndo com cara de choro se abraçar no Keitarô.

- Keitarô-sempai! Socorro! Me Ajude!!!

- Ops, Shinobu-chan, que capacete é es...???

Só que o fio que conecta o capacete de realidade virtual não é longo o suficiente e estica, fazendo com que Shinobu perca o equilíbrio e caia abraçada junto com o Keitarô.

Mais por ciúme que por proteção, Naru dá um chute instantâneo na cara do Keitarô, afastando-a de Shinobu e deixando o lado direito do seu rosto totalmente vermelho.

O rapaz de óculos faz uma careta totalmente abobalhada e termina quicando no canto do quarto da Su como se fosse feito de borracha.

- Keitarô, seu tarado! Como pode pensar em abusar de uma menina inocente como a Shinobu? - Esbraveja a jovem ruiva sem pensar na repercussão de seus atos.

- M-mas não foi culpa minha, Narusegawa! - Protesta inutilmente o jovem oriental.

- Poderiam explicar o que aconteceu? - Pergunta Motoko severamente ao constatar que o susto da Shinobu nada mais era do que conseqüência do jogo de RPG.

- Eheheh. A gente iniciou uma partida... Logo na primeira missão que pegamos, a Shinomu estava perdida numa montanha deserta e deu de cara com cinco orcs... - Responde Kaolla sem se preocupar com nada.

- Orcs? O que é isto? Pergunta Naru incrédula.

- Snif... Pareciam ser tão reais... Eram uns monstros horrorosos e grandes que tinham uma cara assustadora, e a pele verde... Um deles tentou arrancar minha cabeça com um machado enorme... Chuif - Diz Shinobu com cara de choro.

- Aí a Su salvou a Shinobu no jogo eletrocutando o primeiro orc com uma magia e eu dei uma voadora que esmagou a cabeça do segundo. Os outros saíram correndo... - Termina de explicar Sarah, se divertindo com a confusão.

- Bem... Da próxima vez, tomem cuidado, meninas. Embora eu não conheça este tipo de jogo, vocês têm que ter maturidade necessária para distinguir o que é real e o que é ficção. - Adverte Motoko.

Enquanto Motoko dava bronca nas meninas, Naru deu uma discreta espiada na tela do monitor gigantesco que Kaolla havia instalado no quarto. E ficou encantada com o que viu.

O jogo parecia ser bastante realista, diferentemente dos videogames tradicionais, e os detalhes dos personagens, armas, uniformes, cenários, monstros, assombrosamente real.

Embora o que se via na tela da TV fosse uma pálida impressão se comparado com o que passava dentro do capacete virtual, ela podia perceber o som da respiração dos personagens, a textura das roupas, o efeito do vento e outras preciosidades.

Mais impressionante, os personagens escolhidos pelas meninas eram bem reais e se assemelhavam a elas, só que com roupas medievais.

A maga da Su usava uma roupa de estilo hindu e tinha a mesma cor de cabelo e pele.

A lutadora da Sarah era loira e usava tranças no penteado.

E a clériga interpretada pela Shinobu era delicada, sensível e com aquela famosa cara de choro...

Mais tranqüilos, Naru, Keitarô e Mutsumi saem do quarto voltando para a sala. Sarah e Su continuam a partida ao mesmo tempo em que convencem Shinobu a continuar, já que elas precisavam de um personagem com poder de cura para restaurar as energias de suas lutadoras.

Motoko fica mais um pouco dentro do quarto de Su para se certificar de que o jogo era seguro.

Já era bem de noite quando o pessoal resolve dormir. Keitarô vai para seu quarto e adormece, pensando em alguma coisa para deixar Naru contente no passeio de domingo. Quem sabe, teriam algum tempo para melhorar o relacionamento, que há meses estava num estado de "vai-não vai".

Escrito por: Calerom

Última Revisão: 11/11/2003

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