Capítulo 5: Avante, Hinata Attack Team!

Durante todo o dia de domingo, as meninas não mexeram no jogo que Su havia comprado. Sarah e Kaolla passaram a maior parte do tempo bagunçando e tomando banho nas termas, enquanto Shinobu estudava as matérias para a próxima prova.

Mutsumi Otohime estava ajudando Haruka na casa de chá, enquanto que Kitsune estava tirando uma soneca após ter afogado as mágoas no álcool, devido ao fato de ter perdido mais uma aposta de 10 mil ienes numa corrida de cavalos transmitida pela televisão.

Motoko chegou bem de tarde - após sua infortunada visita ao Shopping Mizuno e seu encontro inesperado com Mieko - e foi a primeira a reparar que Keitarô e Narusegawa não estavam na Pensão Hinata.

Ela voltou a sentir algo conflitante no seu coração, o mesmo sentimento que pulsou quando ela e Kaolla flagraram os dois tomando sorvete de uma forma bastante íntima há vários meses atrás.

Motoko não podia entender como uma garota tão inteligente, talentosa e bonita como Naru-sempai fosse querer alguma coisa com o pervertido e tarado do Urashima.

Mas por outro lado... Motoko sentia uma pontada no coração que ela absolutamente tentava reprimir... Seria ciúme ou saudades? Não querendo analisar a fundo suas emoções, ela decidiu retornar a seus aposentos e concentrar-se no estudo das questões do Vestibular que fatalmente prestaria na Toudai no ano seguinte.

O restante do pessoal somente deu conta de que os dois estavam ausentes na hora da janta, quanto todos se reuniram e notaram os dois lugares ausentes.

- Ué? O Urashima e Naru-sempai não estão na pensão? Pergunta Motoko, tentando imaginar aonde teriam ido.

- Talvez tenham resolvido passear e não tenham voltado, hihihi. - Responde Mutsumi.

- Fica fria! Eles devem estar se divertindo! Nesta hora devem estar jantando à luz de velas de mãos dadas em um restaurante qualquer e quem sabe sobre um tempo para irem ao motel! - Graceja Kitsune.

- Mãos dadas! Motel! Aiiiiii! Grita Shinobu com os olhos girando.

- Aquele Urashima... Logo agora que achei que ele estava melhorando... Espero que não tenha se metido numa fria, ainda mais com a Naru-sempai. - Resmunga desconfiada Motoko, mais por um sentimento reprimido de ciúme do que pelas supostas atitudes de Keitarô.

O jantar transcorreu calmamente, só que os dois jovens não retornaram para a refeição no horário.

Embora ambos tivessem as chaves da pensão, a ausência era incomum e dificilmente os dois demorariam tanto sem deixar recado.

Estando preocupada, Shinobu deixou um pouco do que sobrou da janta no caso dos dois chegarem tarde - contra a vontade da sempre faminta Kaolla.

Sem se preocuparem muito, Kaolla e Sarah foram jogar de novo o RPG Fantasy e resolveram convidar a pequena Shinobu, que tinha acabado de lavar os pratos.

- Shinomu, Shinomu! - Grita Kaolla chamando sua amiga pelo dialeto que aprendera com Kitsune.

- O que foi? - Responde Shinobu com o coração já sentindo saudades do seu amado sempai.

- Vamos jogar Fantasy!

- Mas Kaolla, a gente não vai ter que acordar cedo amanhã? - De fato, amanhã seria segunda e Shinobu já estava começando a se preocupar com a proximidade das datas dos exames de admissão para o colegial e os testes finais da escola aonde estudava.

- Ah, Shinomu, só um pouquinho! "Please"! - Kaolla começa a bater pé no chão como se fosse uma menina mimada.

- É isto aí, chefe! Shinobu é nossa líder. - Exclama Sarah.

- Tudo bem, meninas, espere um pouco que já vou. - Resigna-se, conformada, a pequena cozinheira e dona de casa.

Embora ela fosse tão jovem quanto a dupla explosiva, Shinobu sabia que - tanto Kaolla como Sarah eram carentes de atenção - coisa que as garotas mais velhas da Pensão Hinata não podiam dar a contento.

Os interesses de Kitsune eram por demais "adultos" para as duas acompanharem-na, Motoko era séria e severa demais com as estripulias que a dupla aprontava, Naru vivia praticamente ocupada com as atividades da faculdade e Mutsumi idem - com agravante de ter que ajudar Haruka na casa de chá. Assim, somente restava a ela ter que bancar a irmãzinha atenciosa.

Ao entrar na sala, Shinobu repara que Kaolla já estava aprontando das suas.

O menu de opções do game parecia estar bem maior e ela reparava que Kaolla e Sarah observavam avidamente numerosos nomes e números que apareciam sem parar numa tela que se assemelhava a um navegador da Internet, coisa que não tinha visto da primeira vez:

- Kaolla, o que é isto?

- Eu fiz um upgrade no programa original através da Internet e agora a gente dá para jogar com qualquer pessoa no mundo! Vamos ver... - murmura a jovem estrangeira teclando freneticamente num teclado adaptado ao videogame - Atualmente 938 mil pessoas estão jogando Fantasy on-line, são cerca de 50 mil clãs e 14 mil guildas de jogadores... Nosso ranking do Hinata Team é de 838.794o. lugar!

- Putz! Temos que derrotar mais de 800 mil jogadores para chegarmos a ter chance de batermos o recorde mundial... ehehe - Comenta Sarah que já estava colocando os acessórios do jogo em ordem.

- Novecentos e Trinta e Oito... Mil jogadores? - Exclama Shinobu incrédula.

- Very Interesting! Existem jogadores não só dos EUA, Europa e Japão, como também da China, Índia, Arábia, México, Filipinas, e até do Brasil, Rússia, Chechênia, Azerbaidjão e do país da Kaolla... Comenta Sarah examinando as listas de jogadores que eram impressas por uma impressora a laser devidamente adaptada ao videogame.

- Vamos ficar online, preparem-se meninas! - Exclama Su, aprontando a configuração da partida daquela noite.

- Ei, comandante Kaolla, uma mensagem urgente na lista de e-mails! - Exclama Sarah, observando um menu que piscava na tela.

- Quem é? - Pergunta Kaolla distraidamente enquanto aproveita para degustar uma barra de cereais à base de banana.

- Parece ser um pedido de ajuda vindo da Lan-House do Shopping Mizuno... São um tal de Keitarô Urashima e Naru Narusegawa! - Observa Sarah sarcasticamente como se não conhecesse a identidade de ambos.

- Keitarô e Naru-sempai? O que eles estão fazendo numa lan-house? - Indaga Shinobu.

- Ativar sistema de rastreamento e autenticação da mensagem! Sarah-chan, coloque o e-mail deles na tela e inicie o processo de download dos dados dos agentes Keitarô e Naru! - Comanda Kaolla, sentindo-se como um típico hacker de filme.

- É para já, chefe! - Sarah acessa o mouse com uma agilidade incomum para uma criança de 9 anos.

Diferentemente de sua finada mãe Cindy - que era leiga em computadores - Sarah já estava acostumada a lidar com todo tipo de parafernália eletrônica, tendo aprendido isto com a talentosa Kaolla.

Neste momento, surge uma mensagem escrita na tela do monitor:

De: Keitarô Urashima & Naru Narusegawa

Para: Kaolla, Sarah, Shinobu e pessoal da pensão Hinata

Ref: SOCORRO!

Estamos presos dentro do jogo Fantasy, na casa do ilusionista Tarsius, no final da rua da taverna da 1a fase. Não conseguimos sair de lá e o botão de log off sumiu. Ajudem-nos a sair do jogo.

PS: Tragam reforços. A Naru tentou quebrar a porta, mas é impossível abri-la.

- Aiii!... Kaolla, o que vamos fazer? Keitarô e Naru não conseguem sair do game! - Exclama Shinobu com os olhos girando novamente, imaginando todo tipo de perigo.

- Fica fria, Shinomu! Hehehe, morrer, eles não morrem não. Os capacetes de RV deste jogo foram programados para manter seus corpos em animação suspensa por tempo indeterminado! - Kaolla diz isto com a maior tranqüilidade, acentuando o desespero de Shinobu.

- Só que assim eles nunca vão voltar à consciência!... - Protesta Shinobu.

- Acho que quando eles configuraram o jogo, colocaram o nível de realismo na opção Full e em regime de imersão total... - Tenta explicar Sarah, folheando um extenso manual de suporte ao jogo que advertia para supostas conseqüências drásticas caso os usuários interagissemem demasia dentro do game.

- Segundo o suporte online, existe uma chance em 10.000 da mente de ambos ser totalmente absorvida pelo sistema de realidade virtual... Em 1999 aconteceu um acidente num simulador de combate terrestre desenvolvido para o Pentágono pela mesma empresa. Os soldados que participaram do teste ficaram em coma até hoje e oficialmente foram dados como mortos pelo estado-maior americano. Nenhum envolvido no caso foi declarado culpado... - Fala Kaolla se lembrando de um fato que ele achou em arquivos secretos não-autorizados da empresa fabricante do game que ela hackeou na Internet.

- Mas, existe algum jeito do Keitarô e da Naru-sempai saírem desta? - Desespera-se Shinobu, com o tom de voz visivelmente emocionado.

- Eles só vão ter chance de sair do ambiente de realidade artificial nestas três condições: Primeiro, se conseguirem chegarem num Warp Point - que é uma espécie de portal entre a realidade virtual de Fantasy e a nossa, servindo também de transição para os diferentes mundos criados pelo game; segundo, se terminarem de "zerar" o jogo; e terceiro, se eles morrerem fisicamente. - Explica Kaolla na maior tranqulidade, degustando outra barra de cereal.

- Morrer? Aiii! Não me diga uma coisa destas! E a gente estava correndo risco de ficarmos presas também? - Grita Shinobu, diante da possibilidade de nunca mais encontrar o seu amado Keitarô.

- Que massa! Este jogo é muito radical! Ainda bem que não foi censurado! - Comenta Sarah, sempre ávida por adrenalina.

- Poderiam dizer o que está acontecendo? - Grita uma zangada Motoko.

Atraídas pelos gritos e comentários em voz alta, Motoko, Kitsune, Mutsumi e Tama-chan entram no quarto das meninas.

Kaolla e Sarah explicam o misterioso e-mail enviado pelo Keitarô para as demais garotas, além do motivo pelo qual ficaram presos no universo virtual do Fantasy, tendo ficado com a consciência totalmente absorvida pelo jogo.

- Bem que imaginei que este game era perigoso demais. Vamos até o Shopping Mizuno destruir aquela máquina infernal e libertar os dois de lá! - Esbraveja Motoko.

- Não vai adiantar muito, Motoko-san! O terminal do videogame é a única passagem entre esta e nossa realidade. Se destruirmos as máquinas, eles vão ficar em estado vegetativo para o resto da vida... - Explica Sarah.

- Estado vegetativo? Isto é algo de se comer? Pergunta Mutsumi.

- Não, Mutsumi! Estado vegetativo é quando a pessoa fica em coma permanentemente! - Tenta explicar Shinobu agitando os braços como em desespero.

- Não tem jeito de avisar o gerente da Lan-House? - Pergunta Mutsumi, com sua simplicidade, que às vezes demonstrava mais sabedoria.

- Pelo horário já deve estar fechado. As cabines são hermeticamente fechadas e os jogadores somente podem ser retirados depois de um dia e meio de jogo ininterrupto. Enquanto isto, os sistemas de manutenção dos capacetes mantêm o metabolismo dos corpos em níveis mínimos. Responde Sarah, com um detalhismo incomum para a idade dela.

- Um dia e meio? Como o dono de uma loja de diversões eletrônicas pode permitir uma irresponsabilidade destas? - Exclama Motoko visivelmente escandalizada.

- Tudo por dinheiro... Ué, não teve o caso de um cara que teve um piriquepaque depois de ter ficado três dias seguidos jogando numa lan-house? - Tenta justificar Kaolla, embora a resposta tivesse deixado Motoko ainda mais preocupada.

- Um dia e meio? Até que não é ruim assim! Vamos esperar. - Comenta Kitsune, comodista como sempre. - Eheheh... Quem sabe não pinte um clima entre os dois naquele mundo virtual com todo este tempo?

- Mas, Kitsune, a Naru terá uma prova decisiva na semana que vem, sem contar que Keitarô precisa ir à faculdade para ver tirar a grade de matérias do semestre. Se eles não saírem a tempo para ir à faculdade... Poderão acabar perdendo o semestre! - Comenta Mutsumi, sem saber que Keitarô já havia perdido a possibilidade de passar de semestre devido ao acúmulo de faltas.

- Então... Comenta Motoko, temerosa da resposta da Kaolla, conhecendo o jeito dela.

- Tomei a liberdade de fazer uma modificação no jogo, ampliando a capacidade do game para até 9 pessoas em rede! E já reprogramei o game para a gente funcionar em esquema de imersão total, como Keitarô e Naru estão! - Exulta Kaolla terminando de mexer no seu teclado acoplado ao videogame e sacando um estranho controle remoto com o tradicional logotipo de três olhos, como se estivesse esperando por aquilo.

- Espere, Su-chan! Isto é perig... - Fica desesperada a jovem Shinobu.

- Su! Pare com esta loucura! - Protesta Motoko.

- Que legal, Tama, nós vamos virar personagens de game! - Fala Mutsumi, sem medir as conseqüências.

- Mew! - Tama-chan apenas concorda, com uma enorme gota atrás de sua cabecinha.

É tarde demais. Antes que Motoko possa impedi-la, Su-chan aperta um botão de seu controle e faz com que outros dispositivos de realidade virtual apareçam do teto e fiquem automaticamente acoplados nas cabeças de Sarah, Shinobu, Mutsumi, Kitsune, Motoko e Tama-chan antes que estas percebam. Em seguida, com um clique de um botão apenas, inicia o download de dados para entrar em contato com a área de jogo de Keitarô e Naru estão e dá o boot inicial para uma nova partida.

A consciência das moradoras da pensão Hinata é tragada pelo aparelho em uma fração de segundo, transmitindo os dados para a realidade virtual.

A sensação é tão rápida como vertiginosa, se assemelhando ao que as pessoas supostamente sentem quando entram em coma e presenciam visões prováveis do além-vida.

Kaolla, Sarah e em parte Mutsumi e Tama-chan acham a sensação da consciência sair fora do corpo memorável e curiosa.

Shinobu sente um medo enorme ao ver seu corpo jazer inconsciente, como se estivesse morrendo.

Kitsune fica um pouco assustada mais sente algo semelhante quando ela ficava "em off" após uma bebedeira memorável.

Apenas Motoko fica com raiva, deixando escapar uma lágrima de inconformismo, por não ter conseguido impedir a maluca da Su-chan de fazer uma experiência insana destas.

Em poucos segundos, restam apenas seus corpos inertes e inanimados espalhados pelo quarto, sendo mantidos em estado semivegetativo pelo sistema do capacete.

Notas do Autor do fic:

* Não sei por qual motivo, a Shinobu é tratada como "Shinomu" pela Kaolla-Su e mais tarde pela Nyamo, em especial no volume 16 da edição brasileira. Mas procurei manter esta grafia.

* Muitos leitores podem ficar inconformados com o nonsense das situações envolvendo a aventura virtual da turma da pensão Hinata, como se um mero videogame pudesse tragar a consciência da pessoa, tornando o fic um tanto surreal, mas é bom lembrar que ao longo da série Love Hina, várias situações insólitas acontecem:

Como explicar os poderes dos golpes da Motoko, a enorme capacidade de Keitarô sobreviver a todo tipo de acidentes (inclusive um naufrágio), a tartaruga Tama-chan e suas múltiplas habilidades, e a forma como a Su-chan elabora seus aloprados experimentos?

Inicialmente, eu - Calerom - pretendia que o fic se passasse durante um suposto sonho que Keitarô e a Naru teriam, após terem perdido a consciência, contudo, para acentuar o clima fantástico e de nonsense que a série possui, decidi pela abordagem mais direta, ao estilo Kaolla Su.

Mais tarde, o enredo se torna mais sério, explorando a interação entre os personagens e os desencontros entre os relacionamentos tradicionais da série (Naru X Keitarô, Motoko X Keitarô, etc.) e a dura realidade de manter a coesão do grupo num ambiente desconhecido e hostil para eles.