Capítulo 10: Smallville, a Cidade Perdida.

Enquanto Shinobu e companhia enfrentavam os monstros da estranha mansão, uma carroça contendo uma manada de porcos e guiada por um velho caipira percorre preguiçosamente seu caminho rumo à vila de Smallville, ao calor opressivo do meio da tarde.

E junto com odor penetrante dos suínos, distinguem-se três figuras femininas e de uma tartaruga-onsen, que tentam se equilibrar dentro do mexe-mexe da carroça.

- Viu só no que a sua lábia deu, Kitsune? Será um milagre se a gente não precisar de um banho caprichado quando chegarmos naquela cidade! - Esbraveja Motoko se contorcendo toda para evitar que seu hakama ficasse mais sujo com os suínos...

- Ah, Motoko, não reclame! Pelo menos o pozinho mágico que aumenta o meu carisma social funcionou! E depois esta é a única carroça que passou por aquele caminho nas últimas horas... - Tenta-se defender Kitsune, enquanto abana seu rosto com um leque para afastar as moscas e alivar o suor que escorre abundantemente de seus poros.

- Hihihi, não briguem meninas... Logo estaremos na cidade - Apenas Mutsumi, como sempre não reclamava tanto com o infortúnio do atual "meio de transporte".

- E a Mutsumi que ficou em coma durante quase todo o tempo? Será que não tinha alguma magia para nos teleportar até a cidade? - Reclama Motoko.

- Ohohoh, eu acho que ainda não sei fazer isto... Mas pelo menos o meu desmaio serviu para este bom homem parar a carroça e a Mitsune-chan convencê-lo a nos dar carona... - Aparentemente não existia nenhuma coisa no mundo que fosse contrariar o otimismo quase infinito de Mutsumi.

- Bem, meninas... O que está feito, está... Quando chegarmos àquela cidadezinha onde o Judas perdeu sua bota, vamos ver se alugamos um quarto com um bom banho e compramos roupas novas... - Resigna-se Kitsune concluindo que era melhor ficar fedida do que chegar à noite esgotada, empoeirada, comida por formigas e com os pés cheios de bolhas, afora os perigos do caminho.

- Com que dinheiro, Kitsune? A gente está sem um vintém... - Queixa-se a realista Motoko lembrando-se que vieram parar neste mundo sem quaisquer recursos. Para piorar, os orcs que derrotaram antes não tinham nada de valioso.

- Deixem comigo, meninas... Eu, com minhas habilidades de lábia e sedução junto com estes pozinhos milagrosos iremos arrecadar uma fortuna!.. E ainda deverá sobrar dinheiro para a gente fazer uma festa de despedida antes de irmos embora! - Kitsune inesperadamente esboça um sorriso na tentativa desesperada de esquecer o fedor dos porcos e começa a traçar seus esquemas de sempre.

- "É justamente por isto que eu temo os planos malucos da Mitsune!... Maldito Urashima... Por que eu tenho que passar por todas estas humilhações por sua causa?.." - Pensa Motoko soltando uma lágrima de raiva enquanto um leitão carinhosamente lambe sua perna.

- Hihihi... Acho que aprendi uma coisa interessante... Ei, Tio, quer que a gente ajude o senhor a chegar mais rápido na vila? - Diz Mutsumi se dirigindo ao caipira, que estava quase dormindo no assento da frente.

- Zzzz... Hã?... Você sabe de um jeito?... pode tentar, mas estas mulas são meio velhinhas e elas são bem teimosas... Acho pouco provável... - Comenta o velho carroceiro barbado e barrigudo que estava quase cochilando no comando de seu veículo. Ele era um caipira que morava num sítio por perto e estava indo à cidade vender alguns de seus animais para conseguir uns trocados.

Mutsumi - com Tama-chan em seu ombro - faz um gesto mágico - e em seguida, solta a magia Haste - recém-aprendida por ela no final da luta contra os orcs.

Em um instante, as mulas do velho camponês adquirem velocidade e agilidade comparáveis aos melhores garanhões de guerra, fazendo a carroça disparar como se estivesse livre de carga!

- Putz, Otohime, como você fez isto? - Grita entusiasmada Kitsune enquanto tenta se equilibrar no meio dos porcos, que ficam assustados devido ao aumento súbito de velocidade.

- Ora ora, até que para uma iniciante, este feitiço deu certo... - Sorri Mutsumi.

- Mew.

- Não é hora para cantar vitória! Olhe o que você fez, Mutsumi! - Grita desesperada Motoko ao perceber que o cocheiro não conseguia controlar os seus animais em disparada.

Em poucos segundos, a carroça estava correndo mais do que um carro de Fórmula Um e tanto o cocheiro, seus porcos e as meninas estavam gritando de puro pavor, ao notarem que as distâncias eram devoradas numa rapidez incomparável.

- F-faça alguma coisa, Mutsumi! - Gritam Kitsune e Motoko já fazendo força para não saírem da carroça, enquanto os bichos gritam em pânico total.

- Hã? Como assim?? - Mutsumi estava com dificuldades para entender o que elas diziam devido ao barulho dos cascos dos bichos.

- "Tente o contrário da magia que acabou de usar!" - Tama-chan mostra uma de suas famosas tabuletas que usava quando tinha que conversar com os humanos.

- T-tudo bem, pessoal. a-acho que tenho um feitiço adequado para isto: Slow! - Mutsumi faz novos gestos mágicos e quase sai da carroça se Motoko não a amparasse na última hora.

A magia faz efeito instantâneo e no segundo seguinte as mulas ficam como que em câmera lenta.

Só que o efeito brusco da magia faz com que tanto o cocheiro como as garotas caiam da carroça e acabem parando num enorme chiqueiro - justamente o destino final da viagem.

Com um estrondo, o desventurado grupo acaba caindo no chiqueiro espirrando lama para todos os lados.

Por sorte, ninguém se machucou seriamente, a não ser o orgulho de Motoko.

- Bem, aqui é o fim da linha, meninas. Chegamos à Smallville, a cidade da fronteira. Caso queiram pernoitar aqui, procurem a estalagem do Velho Joe. E seguindo a rua à direita encontrarão a Taverna Old Legs, o único lugar decente por estas bandas para comer e beber... - Comenta o carroceiro educadamente, evitando ficar bravo com a mancada da Mutsumi.

O velho cocheiro faz uma pausa, dá uma tossida e em seguida continua:

- Agora vou ter que dar um jeito de colocar os porcos aqui. - Comenta o cocheiro todo sujo de lama, enquanto se dirige de volta à carroça, agradecendo a Deus por não ter morrido com aquelas malucas. Por milagre, nenhum porco ficou ferido ou se perdeu durante a louca travessia.

- Valeu, Tio, muito obrigado pela carona! - Agradece alegremente uma enlameada Mutsumi, totalmente alheia às expressões de raiva da Kitsune e de Motoko, que estavam irreconhecíveis devido à sujeira.

Em seguida, o trio parte para o "centro" da pequena vila antes de decidir o próximo passo.

Elas estavam totalmente enlameadas, sujas, com um intenso odor suíno impregnando suas roupas, e para piorar, sem um tostão, causando susto no pessoal que andava pela única "avenida" da cidade.

Smallville fazia jus a seu nome, sendo composta de pouco menos de uma centena de casas e pequenas construções dispostas em uma rua principal e quatro ruas laterais paralelas à primeira.

De seus 1.750 habitantes fixos, apenas 1/3 morava na cidade, sendo o restante distribuído na sua relativamente extensa zona rural, entre sítios, pequenas fazendas e glebas.

Era uma típica vila medieval não murada, sendo administrada por um conselho de cidadãos, eleitos periodicamente pelos moradores fixos.

Como efetivo de defesa havia apenas alguns poucos guardas armados comandados por um condestável. Efetivo este apenas suficiente para manter à distância bandos de arruaceiros, e tribos de orcs e goblins que atacavam a região.

De notável mesmo, distinguiam-se os prédios do templo local, a prefeitura, o prédio da guarda - que servia como cadeia e tribunal ao mesmo tempo, um armazém, além dos locais que o carroceiro indicou.

Exceto por uma pracinha bem cuidada, com flores e árvores, nada de bonito animava a monótona vila.

De tempos em tempos, Smallville era agitada com a chegada de aventureiros vindos da fronteira e de outros lugares, em busca de trabalho ou serviços.

Um simples rumor ou boato era suficiente para desencadear um êxodo de guerreiros endurecidos em busca de oportunidades de fama e riqueza.

- O que nós faremos agora, Kitsune-san? - Pergunta Motoko.

- Bem, em primeiro lugar, vamos ter que arranjar roupas novas e algum lugar para tomarmos banho... Depois teremos que arranjar um jeito de conseguirmos informações aonde Keitarô, Naru e as meninas se perderam... - Pondera Kitsune de acordo com sua lista de prioridades.

- Mas, nós estamos sem um tostão no bolso!.. - Para Motoko e seu código Samurai era inconcebível a idéia de comprar as coisas enrolando os comerciantes.

- Deixem comigo, meninas. Como eu disse, antes de terminarmos nossa missão, nós ficaremos ricas!

Em seguida, usando dos mesmos pós mágicos que aumentavam sua beleza e carisma, a esperta Mitsune Konno conseguiu convencer o velho dono da estalagem do Velho Joe's a alugar um quarto para três pessoas com banheiro privativo, sem pedir nada adiantado. O estalajeiro - bestificado pela beleza e sensualidade da jovem, ainda que suja - concordou, o que era quase impossível numa cidade repleta de aventureiros.

A quase totalidade dos comerciantes evitava praticar o "fiado", ainda mais com aventureiros desconhecidos, temendo prejuízos.

Contudo, o pó mágico e a lábia natural de Mitsune Konno fizeram a diferença.

Embora o mesmo fosse bem básico e sem luxo, as meninas agradeceram aos Céus quando sentiram a água quente da tina e o aroma de sabão purificarem seus corpos cansados.

Após duas trocas da água do banho, elas estavam limpas, cheirosas e imaculadas, estando aptas para saírem pela cidade. Mesmo a pequena Tama-chan aproveitou para tomar o seu banho quente habitual.

Mutsumi - com seu jeito simpático e puro - conseguiu convencer o dono a mandar lavar as peças externas sem pedir um adiantamento sequer.

Elas somente ficaram com as roupas de baixo - que mereceram também uma breve limpeza.

Por sorte, o sol ajudou seca-las rapidamente na beira da janela do quarto.

Mais tarde, sem ligar muito para os transeuntes, as garotas, andando apenas de calcinha e sutiã, descobrem a Moe's Boutique, a única loja de roupas disponível na cidade.

- Hoje é o nosso dia de sorte! Bem, esta não é uma Louis Voiltton da vida, mas deve quebrar o nosso galho! - Comenta a Kitsune olhando avidamente para os modelos disponíveis nas vitrines.

Usando novamente seus pozinhos e a sua lábia, Kitsune consegue obter do dono da loja não somente novas roupas como também mudas extras para situações "casuais", além de um generoso prazo de pagamento de uma semana.

Verdade que para tornar sua atuação mais dramática e convincente, ela teve que contar uma história absurda de um assalto no beco e deixar o safado dono da boutique apalpar seus seios e sua bunda numa sala privativa... mas considerando os benefícios, até que deu certo.

Ninguém em sã consciência oferecia fiado para desconhecidas numa cidade de fronteira aonde tudo podia acontecer.

A chegada das lindas aventureiras causou um frisson na cidade, já que Smallville era basicamente uma cidade de mercenários em busca de aventuras e oportunidades.

Haviam poucas mulheres casadas na cidade - a maioria delas tinha de trinta anos para cima - e a única casa de entretenimento "adulto" existente no local - um misto de boteco, cassino e bordel - era claramente insuficiente para atender à demanda local.

Esporadicamente aparecia em Smallville uma ou outra guerreira, bárbara, maga ou clériga, mas em pequena quantidade.

A puritana Motoko estava visivelmente incomodada com os olhares maliciosos, enquanto caminhava junto com as suas amigas em direção à Taverna Old Legs.

Embora estivesse vestida, ela não gostara do estranho conjunto de armadura com mini-saia (semelhante ao traje de Sophitia, personagem do game Soul Edge) e estava com saudades do seu conjunto de samurai - que foi parar na lavanderia.

Por precaução, a pequena Tama-chan estava escondida no estranho chapéu que Mutsumi usava na cabeça, para não assustar a jovem guerreira, que tinha fobia de tartarugas.

- Vamos acabar logo com isto e resgatar Naru, Urashima e as meninas! Não agüento mais... - Comenta Motoko visivelmente tensa pelos olhares maliciosos dos homens da localidade.

- Hihihi... Não sabia que a gente seria tão popular aqui nesta vila... - Sorri Mutsumi diante dos baba-ovos que assobiavam e gritavam palavras de incentivo para o trio.

- É que nossa beleza e juventude são realmente marcantes! Vamos, meninas, acho que naquela taverna poderemos descolar algumas informações e alguns trocados para podermos pagar nossas roupas e nossa estadia. - Kitsune estava exultante. Se existia algum lugar no mundo aonde ela iria "fazer as burras" seria ali.

-

Mitsune Konno conversa com o barman da taverna - o mesmo que enxotara Keitarô e Naru horas atrás - e este concorda em ceder um espaço e um tempo no local para o trio para fazer uma performance em troca de uma comissão de quinze por cento das entradas, a um custo de 2 GPs por pessoa.

Em poucos minutos, a taverna estava lotada de transeuntes e curiosos, atraídos pela beleza das garotas. Fazia semanas que lá não tinha uma atração e muito menos com mulheres bonitas.

O Barman exultava, pensando nos lucros, apesar de estar sobrecarregado com a demanda súbita de cerveja e comida.

Suas jovens atendentes mal conseguiam dar conta dos pedidos e o cozinheiro estava rezando para que o estoque de bifes e batatas não acabasse até o anoitecer.

Em seguida a esperta garota de Osaka convence Mutsumi e Tama-chan a fazer um show improvisado com magias e truques diversos e com melancias.

Os expectadores gostaram, mais devido às curvas estonteantes do corpo da Otohime - vestida como odalisca - e ao show de equilíbrio de Tama-chan com as melancias (criadas magicamente) que propriamente das mágicas e truques em si, bastante convencionais para o gosto.

Particularmente hilário foi o final, quando a desastrada sorcerer ao agradecer os aplausos, escorregou de costas, revelando seu traseiro generoso e a cor de sua calcinha, para delírio das multidões.

Ao tentar se levantar novamente, outro escorregão, bem mais explícito do que o anterior, arrancando gritos e pedidos de bis.

Em seguida, meio a contragosto, a Samurai Motoko foi mostrar um show de sua habilidade com a sua técnica de espada, cortando em fatias diminutas vários pedaços de madeira e os objetos mais diversos arremessados pela assistência.

Particularmente difícil foi a prova em que ela fatiou cinco maçãs arremessadas ao mesmo tempo antes que elas tocassem o solo.

A intrépida guerreira manejava sua espada Shisui com tanta velocidade que ela parecia um nunchaku em suas mãos.

Em outra prova de habilidade, Motoko foi capaz de destampar meia dúzia de garrafas de cerveja a 10 metros de distância, arremessando dardos nas tampinhas sem quebrar as garrafas, arrancando aplausos e o respeito da galera.

Kitsune estava exultante. O pequeno show no salão foi bem acima de suas expectativas. Tirando a comissão do taverneiro, o trio havia arrecadado em uma hora cerca de 200 GPs.

Pagando 10 GPs ao dono da estalagem, mais 60 GPs pelos vestidos e reservando mais 5 GPs para comer alguma coisa, sobraria ainda 125 GPs, e sem arriscar o pescoço!

- Bem gente, eu acho que agora dá para tomar um drinque antes de iniciarmos nossa busca! - Sorri a jovem de cabelo claro para suas parceiras após terminarem o improvisado, mas bem-sucedido show.

- Mas, e quanto ao Keitarô e a Naru? - Objeta Motoko, conhecendo a fama de que sua amiga mais velha tinha, tanto de buscar soluções cômodas como de aproveitar a boa vontade alheia para conseguir uns trocos.

- Não se preocupem, acho que no mínimo eles devem estar no maior "amasso" no lugar em que se perderam! - Sorri a garota-raposa, dando vazão aos seus pensamentos mais libidinosos.

- Será que a Naru-chan e o Kei-kun devem estar amassando pão no lugar onde estão presos? Que coisa... - Comenta Mutsumi sem entender direito a frase maliciosa de Mitsune.

- Mew, M-Mew! - Exclama Tama-chan apontando para o lado da rua.

De súbito, ouve-se uma enorme explosão - seguida de um estrondo semelhante a um desmoronamento.

Várias pessoas fogem, buscando abrigo da poeira e dos destroços.

Embora a taverna estivesse relativamente a salvo, alguns estilhaços de pedras e madeira atingiram o telhado, fazendo um barulho que deixou o pessoal inquieto.

- Uau! Começaram os fogos de artifício justo nesta época do ano? - Comenta Mutsumi, enquanto Tama-chan busca abrigo no seu chapéu.

- É evidente que não foi nenhuma data comemorativa! = Protesta Motoko, nervosa com a mentalidade da garota de Okinawa.

- Houve uma explosão na casa de Tarsius! - Grita um transeunte

- Estão saindo monstros para a rua! Salvem-se! - Exclama outro, ao mesmo tempo em que várias pessoas correm fugindo de alguma coisa.

- Ué, Tarsius? Não era o nome do cara que... - Comenta Kitsune.

- Tarsius! Aquele mago louco... Só ele poderia causar tanta confusão... - Murmura o barman da taverna cerrando os dentes e trazendo uma enorme clava cheia de pregos escondida no balcão para sua autodefesa.

- Tio, quem é este tal de Tarsius? - Indaga Kitsune.

- Não sabe? ele é um mago arrogante e louco que vive fazendo invenções macabras em seu casebre e que gosta de atazanar a vida de aventureiros novatos que cruzam o caminho dele! Ninguém nesta cidade teve a coragem de expulsar este maluco daqui!... Juro que no dia em que isto acontecer, vou conceder de minha vontade, uma rodada dupla grátis de bebida para todos!... - Esbraveja o barman.

- Hum... Acho que o senhor achou as pessoas certas para dar um pé na bunda deste mané... Ei, meninas, temos uma missão! - Neste momento Kitsune olha para os lados e repara que Tama-chan, Mutsumi e Motoko não se encontram mais dentro da taverna.

- Meninas?.. - Kitsune olha desta vez para fora e decide sair.

Ao verem as pessoas fugindo apavoradas, Motoko, Mutsumi e Tama-chan não perderam tempo e foram até a rua ver o que havia acontecido. E depararam com uma cena terrível:

No final da rua havia três centopéias gigantes do tamanho de cavalos, destruindo tudo o que havia por perto com suas patas e mandíbulas.

Elas eram criaturas anormais, não apenas pelo tamanho avantajado, mas também pelo fato de terem enormes patas dianteiras em forma de pinças, como a dos escorpiões, além de presas proeminentes.

Três aventureiros novatos que haviam investido tolamente contra as criaturas jaziam inconscientes e um deles estava sangrando, com a perna severamente machucada.

Os demais guerreiros e mercenários haviam recuado de medo ao perceberem que seus machados e lanças faziam pouco efeito contra a couraça das aberrações criadas por Tarsius.

A menos de cinco metros dos monstros, estava uma criancinha de quatro anos perdida, chorando e tentando encontrar a sua boneca preferida - perdida no corre-corre, enquanto sua jovem mãe gritava por socorro, em desespero total.

Vários aventureiros se aglomeravam em semicírculo, pensando no que fazer, só que ninguém tinha coragem de tentar salvar seus companheiros derrotados ou a criancinha.

A não ser as valentes aventureiras do Hinata Attack Team.

- Mamãe! Mamãe!!! - Chora a criancinha enquanto um dos monstros se prepara para agarrar a menina com suas nojentas patas.

- Catherine! Nããão!!! - Grita a sua mãe desesperada.

- Mutsumi, Tama, cubram-me! Vou agir! - Grita Motoko sacando sua espada Shisui.

- Certo! Tama. - Distraia os monstros enquanto preparo meu ataque! Ordena Mutsumi, falando de uma forma séria.

- Mewww! Mewww!!!

Motoko avança com um dash e antes que a centopéia mais adiantada agarre a garota, ela ataca o monstro com o Zan-Kuu-Sen.

Motoko havia ganhado experiência em seus treinos a ponto de executar este ataque especial em plena corrida, tornando-o mais versátil.

O ataque de Ki faz vibrar o ar e força o inseto gigante a recuar, com sua pata dianteira em forma de pinça cortada pela vibração da espada.

Tama-chan voa em alta velocidade, atraindo a atenção do segundo monstro que estava quase a devorar o aventureiro indefeso que tinha a perna fraturada.

A centopéia usa sua técnica mortal, soltando um redemoinho de areia e vento pela boca, só que a tartaruga-onsen esquiva-se habilmente do golpe e bate com força com o seu casco na antena do monstro, quebrando-a.

A centopéia solta um guincho de dor e recua, perdendo momentaneamente seu senso de direção.

Motoko consegue alcançar a pequena Catherine a tempo e agarra-a com o seu braço esquerdo, tendo ainda tempo de desferir um golpe de espada contra o flanco da criatura.

Só que a criança parece estar inquieta e balbucia algo:

- Tia... Minha boneca!... Quero a minha boneca!..

Motoko sente seu sangue subir à cabeça, e pensa em recriminar a menina só que imediatamente afasta o pensamento, pois era evidente que a boneca tinha um significado sentimental muito grande para a menina, que só devia ter 4 anos de idade.

Só que este seu breve instante de distração é suficiente para que a primeira centopéia - que ainda não fora derrotada - se erga ameaçadoramente, escancarando suas mandíbulas afiadas.

Motoko, com a criança nos braços, tenta-se defender, mas é evidente que o monstro está com a vantagem no momento. Só que antes que sofra o golpe decisivo, ela vê duas luzes cortando o céu e atingindo o monstro, matando-o.

- Hein? O que foi isto?

A guerreira oriental olha para trás e percebe que foi salva pela força combinada das magias de Mitsune e de Otohime.

Sob aplausos da multidão, Motoko devolve Catherine à sua mãe aflita. Antes de voltar para a rua, ela faz um carinho na cabeleira loira da menina e diz:

- Não se preocupe, meu anjo. Prometo que salvo sua boneca dos monstros!..

Sem perder tempo, Motoko volta de novo ao combate, desta vez para salvar os aventureiros feridos e derrotar de vez as duas centopéias restantes.

A terceira e última centopéia alcançara o campo de batalha e se preparava para atacar os aventureiros caídos, enquanto Tama-chan fazia um arriscado jogo de gato e rato com o segundo monstro, que estava cambaleando devido ao fato de uma de suas antenas ter sido destruída.

Ainda correndo, Motoko se esquiva da investida do monstro e girando sua espada lateralmente com enorme rapidez, acerta a antena e parte do olho direito do bicho.

Só que antes de completar seu salto, o corpanzil do monstro a acerta e ela cai no chão, largando sua espada com o impacto do bicho.

Motoko tenta-se levantar, mas percebe que sua espada está fora de seu alcance e o inseto está para encerrar o combate com suas poderosas mandíbulas.

Só que a centopéia é golpeada simultaneamente pelo cajado da Mutsumi e pelo estranho véu da Kitsune, que correm a tempo.

Embora bastante ferida, a centopéia esquece momentaneamente o dano sofrido e se volta de forma ameaçadora para a dupla que o ferira.

- Ops... Acho que este bichinho não gostou da gente... - Comenta Mutsumi.

- Rápido, tente usar uma de suas magias!! Acho que o meu pó mágico Não vai funcionar contra ele! - Grita Kitsune ao constatar a inutilidade de suas poções de encantamento.

Mutsumi se prepara para disparar um projétil mágico, só que percebe que sua reserva de energia estava esgotada. Ela não havia descansado o suficiente para repor seus pontos de magia.

As duas garotas se abraçam apavoradas, vendo a bocarra da criatura, que estava furiosa como nunca.

- Kasumi-Giri! - Motoko solta um grito "kiai" e se investe contra a centopéia, fazendo sua espada cortar o ar, uma, duas, três, dezenas de vezes.

Diferentemente do Zan-Kuu-Sen, sua energia interior era canalizada de forma diferente nesta técnica, fazendo com que a lâmina em suas mãos adquirisse velocidade tamanha a ponto do olho humano não perceber a trajetória dos cortes.

Antes que Mutsumi e a Kitsune se dêem conta, a cabeça e várias porções da parte dianteira da centopéia - bem como suas patas - se separam violentamente do corpo, caindo aos pedaços.

A segunda criatura estava definitivamente morta.

Só que não era tempo de parar para celebrar vitória.

A centopéia remanescente havia conseguido imobilizar Tama-chan com seu redemoinho de areia e estava quase a devorá-la.

- Mewww! Mewww! - Grita desesperadamente o bichinho de estimação, que embora fosse forte para os padrões de uma tartaruga, não era páreo para a força colossal do monstro.

- Tama-chan, não! - Desespera-se Mutsumi quase aos prantos, ao ver a morte iminente de seu querido animal de estimação. Motoko estava longe demais para poder acertar o monstro e ela não havia recuperado todo o seu ki.

- Porra, seus covardes! Não tem nenhum homem com H maiúsculo que possa acertar aquele monstro? - Grita revoltada Kitsune para os mercenários aterrorizados que não fizeram nada durante a luta a não ser olhar.

Neste instante, um guerreiro anônimo, tocado pelas palavras de Kitsune, prepara o seu arco e mira em direção ao olho da criatura.

Embora ele soubesse que seu ataque seria quase inútil, devido à distância e a grossa couraça do monstro, ele faz uma breve oração à sua Divindade e dispara.

No momento em que a centopéia iria devorar Tama-chan, a flecha atirada resvala na grossa couraça da cabeça, ferindo o olho direito e arrancando um guinchado de dor e de ódio da aberração.

O monstro deixa soltar a sua presa, que voa para os braços aflitos de Mutsumi. Tama-chan estava ainda viva, embora estivesse com a cabeça e as patas arranhadas pelas pinças da centopéia.

Uma figura sombria encapuzada estacionada em cima do telhado de uma construção mira e consegue cravar três dardos envenenados na cabeça do bicho com sua besta automática.

Era o mesmo guerreiro misterioso que dera informações a Kaolla e as meninas horas antes.

Satisfeito com seu acerto, ele foge no meio dos telhados com destino ignorado.

Outros guerreiros - meio envergonhados e meio encorajados pelas palavras de Kitsune - lançaram com raiva e resolução suas flechas, dardos, facas de arremesso e balotes de funda, terminando de ferir mortalmente a criatura.

A centopéia estremece, com um estranho líquido amarelado e oleoso saindo de suas feridas numerosas e começa a cambalear, soltando horríveis guinchos de agonia e destruindo alguns barris e vigas de madeira que estavam por perto.

Um brado de júbilo começa a se fazer ouvir, mas é substituído por um grito geral de horror quando todos percebem que a criatura iria tombar na direção dos guerreiros caídos, matando-os por esmagamento.

Contudo, neste momento...

Reunindo as últimas forças, Motoko desfere um poderoso ataque com a sua espada, cortando o tronco da centopéia por completo, mas poupando os sobreviventes.

Em seguida, tomba sem forças no chão, sendo amparada pela Mutsumi e Kitsune.

Os três guerreiros feridos são resgatados pelos guerreiros mais adiantados, e em seguida levadas ao médico da vila.

Tama-chan, embora cansada, consegue voar e carregar na boca a boneca de Catherine, que lhe agradece com um beijo.

Exaustas, as três garotas aventureiras e a pequena tartaruga são aclamadas como heroínas da cidade.

O pessoal tenta levá-las até o médico, mas Motoko, Mutsumi e Kitsune recusam, dizendo que apenas estão exaustas.

Como sinal de gratidão, alguns aventureiros se juntam e cedem quatro poções de cura leve e uma poção de restauração de MP para Mutsumi.

- O que é isto? - Pergunta Kitsune, estranhando as garrafinhas contendo as poções.

- Por favor, é o mínimo que podemos fazer depois que vocês nos salvaram dos monstros de Tarsius. Estas são poções que irão curar suas feridas e cansaço. E para a jovem maga, esta bebida cor violeta irá restaurar seu poder mágico. - Explica um dos aventureiros, o mesmo que foi o primeiro a atingir a última centopéia com o seu arco.

- Vamos, Ainda temos que entrar naquela maldita casa e salvar nossos amigos! - Ergue-se resoluta Motoko tentando ignorar os ferimentos e o esgotamento após a luta.

Somente com muita insistência dos aventureiros, a orgulhosa samurai toma a poção de cura, um frasco de bebida esverdeada com um ligeiro sabor cítrico. Em menos de um minuto, ela começa a se sentir revigorada e preparada para uma nova luta.

- Caramba! Isto é muito melhor do que todos os energéticos que conheço! - Comenta Kitsune, que havia tomado um trago da bebida.

- Hihihi... Sinto que estou num pique legal!

- Se tiver acontecido alguma coisa com a Naru e o Urashima... juro que o autor destas monstruosidades não escapará impune! - Motoko olha com raiva para os restos dos monstros - que começavam a ser retirados pelos cidadãos indignados.

- Eheheh... Está começando a gostar do Keitarô, Motoko? - Sorri Kitsune dando um tapinha no ombro da sua amiga.

- Não! Não é bem isto! - Protesta Motoko com o rosto corado de vergonha.

- Mew, mew, mew, mew!

- Hihihi, a Tama-chan está me contando que você e o Keitarô-kun tiveram um caso recente em Osaka... - Sorri Mutsumi.

- O quê? Você entende a linguagem deste bi... Ou melhor, da Tama??? - Motoko olha incrédula para a amiga de Naru, embora já desconfiasse desta habilidade.

Afastando os curiosos que ainda se aglomeram na rua, o trio de aventureiras e a Tama-chan conseguem chegar até a casa de Tarsius, que estava com uma de suas paredes destruída e o interior fumegando.

Já estava tarde e dentro de pouco menos de uma hora o Sol iria se pôr. Elas teriam que agir rápido para investigar aquela misteriosa mensão.

- Cuidado, fiquem meio longe da entrada. Pode ser que ainda existam monstros remanescentes ou armadilhas à nossa espera. Vou contar até três e entrar. Dê-me cobertura para mim com suas magias. - Explica Motoko, visivelmente intranqüila pela presença próxima de Tama-chan.

- Certo, Vamos nessa! - Concorda Kitsune fazendo um sinal de ok.

- Hi,hi, hi,Tudo bem!

- Mew, mew, mew!

- Vamos lá. Um... Dois... Tr... RECUEEEM!