Capítulo 11: Reencontro.

Motoko faz sinal para o pessoal se afastar da porta rapidamente e, com seus reflexos apurados, ela somente tem tempo de se esquivar de uma gigantesca bola de ferro com espinhos que estava rodando na sua direção.

Kitsune e Tama se esquivam também, mas Otohime não tem a agilidade para isto.

Contudo, sem entrar em pânico, Mutsumi faz um gesto e solta a magia "Slow" para paralisar o gigantesco bólido a apenas poucos passos de sua posição.

- Uau, você conseguiu, Mutsumi! - Entusiasma-se Kitsune ao se perguntar a si mesma como a ingênua garota de Okinawa quase nunca perdia a calma.

- Realmente, você se... - Tenta elogiar Motoko, mas o seu comentário é interrompido pela chegada de duas silhuetas familiares que correm em sua direção, atravessando os escombros.

Meio desesperados e meio aliviados, aparecem das trevas da mansão maldita Keitarô Urashima e Naru Narusegawa, ambos esgotados, machucados e com seus trajes estragados por cortes e arranhões.

- Pessoal! Snif... Então vieram em nossa procura! - Narusegawa, em quase estado de choque, esquece os momentos de perigo que passou até agora e abraça tanto a Mutsumi e a Kitsune, deixando cair um choro de alívio.

- Até que enfim!... Que bom ver vocês!... Ops... - Keitarô também faz o mesmo e tropeça num pedregulho, acabando por abraçar a Motoko de uma forma desengonçada, ficando com a sua cabeça presa no meio dos seus fartos peitos.

Naru repara na cena e já prepara o seu legendário Naru-Punch, mais por motivo de ciúmes. Ela vinha reparando que há meses atrás, Keitarô vinha se tornando mais íntimo com a Motoko-chan, dando uma de gostoso para cima dela.

- "Urashima..." - Motoko percebe o olhar hostil de Naru e antes que Naru soque o pervertido, a guerreira faz o mesmo, agindo mais por compaixão que por raiva. Embora em termos de força, a sua porrada não fique a dever ao Naru-Punch.

- Gyaaaahhhh! O que fui que eu fiz? - Grita o desventurado aventureiro enquanto Tama-chan acompanha sua trajetória ascendente-descendente, voando ao seu lado.

Um instante mais tarde, o grupo decide se reunir num lugar mais seguro. Naru está mais aliviada - embora desconfiada de Keitarô e de Motoko pelo incidente - e Keitarô já recebera os devidos primeiros socorros de Mutsumi e de Tama-chan.

- Então, a gente ia resgatar vocês daquela casa maluca, mas aconteceu uma explosão e aquela bola gigante fez o trabalho por si mesma. O que aconteceu neste meio tempo? - Pergunta Kitsune.

- A gente foi enganada por um mago sacana chamado Finneas! Ele nos convenceu a entregar um pergaminho bobo na casa do tal do Tarsius dizendo que não podia fazer isto pessoalmente, e coisa tal! Mas era tudo mentira e o idiota do Keitarô não me alertou que podia ser uma fraude! - Explica indignada Narusegawa, dando a sua versão emotiva e parcial da estória, esquecendo que foi ela mesma que aceitou o convite do traiçoeiro inimigo de Tarsius.

- Chegamos na casa e o tal do Tarsius apareceu, disse que o pergaminho era uma armadilha e que a gente foi usado pelo Finneas. Em seguida ele nos prendeu na mansão e desapareceu, dizendo que ia acertar as contas com o Finneas. - Completa Keitarô, atendo-se mais aos fatos.

- F-foi horrível!... A gente tentou encontrar uma saída, mas caímos numa armadilha e noutra e noutra!... Vivemos horas de medo e terror lá dentro, tendo que enfrentar aqueles monstros horríveis! Snif... Pensei que fôssemos morrer lá mesmo. - Dramatiza Naru, procurando liberar a tensão sofrida, enquanto chora nos ombros de Kitsune.

- Bem, primeiro a gente enfrentou uns duendes com nariz e presas salientes chamados goblins... Depois tivemos que enfrentar os orcs umas duas vezes e em seguida a Naru quase foi engolida por uma gosma verde que tinha no chão... - Continua Keitarô contando os casos ocorridos, para raiva de Naru.

- Sem falar que tive que salvar esta anta por umas três vezes. A primeira foi quando uma estátua de pedra viva agarrou-o pelas costas, a segunda foi quando este burro acionou um botão secreto e por pouco a gente não foi esmagada pelo teto de um dos quartos. - Narusegawa pensa que Keitarô estava provocando-a e então revida, contando as circunstâncias aonde seu acompanhante ficou em fria.

- Mas você está se esquecendo que fui eu que descobri o mecanismo que fez o teto parar de se mov... - Tenta protestar Keitarô.

- Deixe primeiro terminar a história! - Grita a ruiva, irritada.

Imediatamente, Naru lasca um "genkotsu" (croque feito com a ponta dos punhos) bem dolorido no topo da cabeça do Keitarô, nocauteando-o.

- E finalmente a terceira vez aconteceu quando entramos num laboratório doido, e este infeliz apertou um botão que estava numa parede, libertando aquelas centopéias monstruosas para saírem correndo atrás de nós!... - Conclui indignada a jovem estudante da Toudai.

- Mas eu não sabia de nada! - Keitarô tenta se levantar com um galo enorme na cabeça. Naru o faz continuar no chão com outro genkotsu.

- E quando ocorreu a explosão que ouvimos há minutos atrás? - Pergunta Motoko.

- A gente ficou correndo daqueles bichos, pois eram fortes demais para nós. Passamos por várias salas, entramos em outro laboratório e o Keitarô teve a idéia "genial" de misturar algumas fórmulas que estavam nos frascos e atirá-los contra as centopéias. - Naru estava indignada ao extremo.

- É, foi isto. A idéia era boa, mas... Ui! - O jovem de óculos leva mais outro presente de Narusegawa.

- Sem desculpas! Esta anta errou a mira e acabou acertando a parede e não os monstros! - Naru estava ficando com mais e mais raiva só de lembrar os incidentes recentemente ocorridos.

- Para nossa "sorte", os bichos foram atraídos pela luz do sol e saíram de nossa cola... - Complementa Keitarô, ainda caído.

- Bem... Foi sorte para vocês dois, só que para deter estas criaturas não foi nada fácil... Três pessoas saíram feridas e por pouco uma criancinha inocente não foi devorada pelas aberrações... - Disse Motoko num tom de voz sério, mas sem intenção de acusar ninguém.

- Mew, Mew, Meewww!!! - Comenta uma familiar voz que vinha dentro do chapéu de Otohime. Motoko sente um arrepio em suas costas.

- Keitarô, Naru, a Tama-chan disse que pela nunca viu antes um inimigo tão difícil assim!... - Fala Mutsumi com um tom de dramatismo.

- Puxa, vocês se sacrificando lá fora para deter estas monstruosidades... - Comenta Naru, sentindo-se culpada por não ter participado da luta, mas a verdade era de que tanto ela como seu parceiro estavam demasiadamente cansados e feridos para poderem ajudar em alguma coisa.

- Mas então, crianças: Não rolou algum "clima" entre vocês dois enquanto a gente estava fora? - Pisca um olho maliciosamente a jovem de Osaka para sua velha amiga.

- C-como assim, Kitsune? - Naru tenta se fazer de desentendida, temendo pelo pior.

- Bem, até agora devem ter passado mais ou menos seis a sete horas, desde aquele e-mail. Por mais que tenham enfrentado monstros e fugido de armadilhas, deve ter havido um tempinho para... "Relaxar" as tensões... - Kitsune percebe que pegou no ponto fraco de sua amiga e deixa mais explícita sua colocação.

- B-bem, na verdade, o momento mais tranqüilo que tivemos foi quando caímos num quarto escuro e a Naru... - Keitarô tenta entrar no assunto, com sua sutileza de um elefante numa loja de cristais, como sempre.

SOC! SOC! SOC!

- Nada de palavras de duplo sentido, seu malandro pervertido! Aquele tombo foi ACIDENTAL! - Grita Naru, terminando de espancar Keitarô, que ganha mais três galos na testas e um sorriso bobo, como nos primeiros tempos.

- Hihihi, eu vejo que vocês estão se dando bem...

- Não, não é isto, Mutsumi-san! - Protesta Naru agitando os braços.

- Bem, vocês não viram por acaso a Kaolla, a Shinobu e a Sarah? Elas devem ter chegado antes da gente... - Pergunta Motoko, preocupada com a sorte do trio "espoleta".

- N-não. Não encontramos com elas. Pensamos que elas estavam juntas com vocês. - Tenta explicar Naru.

- E era para estar, só que como sempre a Su-chan deve ter feito alguma confusão e o grupo acabou se separando. - Resume Kitsune.

- Será que elas não ficaram presas em outra parte da mansão? - Pondera Keitarô, virtualmente indestrutível como sempre. Se fosse um guerreiro normal, há muito teria entrado em coma.

- Acho que não. Andamos por tudo quanto era canto naquela maldita casa e se elas estivessem lá, nós as teríamos encontrado. - Fala Naru, coçando a cabeça e tentando se lembrar dos locais onde passaram na mansão do terror.

- Então, elas podem estar em outro lu... - Kitsune ia concluir sua frase, mas é interrompida de forma brusca.

Neste momento, outra potente explosão acontece do outro lado da rua, sacudindo paredes e estourando vidraças. Os curiosos se agitam novamente e o grupo de aventureiros da pensão Hinata olha para o local da explosão.

- Agora detonam a casa do f*** do Finneas! Estes malucos devem ter fumado a raiz de Lótus Negra para explodirem tudo num dia só! - Esbraveja o barman da Old Legs, preocupado com o dinheiro que teria de gastar para reparar suas vidraças e copos quebrados.

- Acho que nem precisa dizer mais nada! Vamos lá! Grita Naru, seguida pelas outras.

Embora esgotados, cansados e feridos, o valente grupo de aventureiros amadores faz um esforço e se arrasta indo em direção à casa-fortaleza de Finneas. Seus pensamentos concentram-se em resgatar a frágil Shinobu, a aloprada Kaolla e a pequena Sarah Mac Dougal das garras de Finneas, Tarsius - que tinha ido lá, como vimos - e seus monstruosos capangas..

O cansado Keitarô pensa nas três meninas, especialmente na jovem Shinobu. Ele tinha um carinho especial por esta garota e jamais se perdoaria se ela sofresse nas mãos daqueles magos insensíveis e cruéis.

Naru também está preocupada com as três meninas - além de sua liderança natural dentro da pensão, ela era como se fosse a irmã mais velha de todas. Ai daqueles magos se ousassem por um dedo na jovem Sarah, filha de seu admirável Seta-Sensei! Eles não podiam por esperar.

Motoko desembainha a sua espada Shisui e faz uma prece mental a Buda para que Kaolla não esteja ferida.

Por mais infantil, irresponsável e maluca que a jovem estrangeira fosse, a severa e rígida Motoko inconscientemente se afeiçoou a esta menina, como se fosse sua irmãzinha mais nova. Se às vezes a repreendia, era porque queria o melhor para ela, aparando os excessos e direcionando-a para o caminho do bem.

A jovem guerreira espiritual estremece no fundo da alma, sabendo que teria um combate pela frente. Não contra monstros ou seres infernais, mas contra humanos.

Ou melhor, contra seres cruéis, desprovidos de princípios morais e de humanidade, disfarçados sob a pele humana.

Embora os membros do seu clã - em toda uma longa história de séculos - evitassem tirar vidas humanas, se limitando a derrotar espíritos maléficos e demônios, ela sabia que se fosse necessário, teria que extirpar o Mal, se fosse necessário proteger uma vida inocente.

Que os magos se acautelassem!

Somente Mutsumi estava relativamente serena, junto com a pequena Tama-chan. Seu semblante estava sério, mas sem a tensão que marcava as faces de todos. Como sempre, ela iria dar o melhor de si, a sua contribuição, para que esta luta terminasse com as meninas sãs e salvas.

Embora seu otimismo fosse considerado exagerado ou pueril, ele não provinha do desespero, mas sim da serenidade de aceitas as circunstâncias como elas são e confiar numa força maior que regia o Universo.

E agora, como isto iria influir, já que suas amigas estavam em perigo e ela teria que por à prova seus novos poderes?

Assim, com o coração batendo depressa, os membros do Hinata Attack Team iniciam a missão de resgate.