CAPÍTULO 14:
UM HÓSPEDE INCOMUM:
Eram pouco antes das 18:00 Horas da Tarde quando os atônitos moradores do vilarejo viram um estranho grupo saindo das ruínas da mansão de Tarsius.
Exaustos, feridos e esgotados pela luta, apareciam dos destroços, Keitarô, Narusegawa, Motoko e Mutsumi - com Tama-chan escondida em seu chapéu, para não assustar a samurai.
Kaolla, Sarah e Shinobu estavam sendo carregadas pelos três primeiros, já que ainda estavam inconscientes.
Mutsumi estava com seu traje totalmente destruído pelo golpe Zan-Ma-Ken de Motoko e usava uma cortina tirada de uma das janelas para esconder a sua nudez.
Logo atrás, vinha Kitsune carregando um saco enorme onde estavam misturadas várias moedas de ouro, objetos de valor e cristais que ela conseguira descobrir nos quartos da mansão.
- Eu sabia que estas três iriam causar problemas! Se chegássemos um pouco mais tarde nem sei o que iríamos fazer! - Esbraveja Motoko ao ver o deplorável estado em que Sarah, Shinobu e Su ficaram.
- Por favor, não seja tão severa com elas, Motoko. Vai dar tudo certo... - Tenta tranqüilizar Narusegawa.
- É muita irresponsabilidade tentar enfrentar um adversário daqueles! Mesmo poucos guerreiros do meu clã se atreveriam a enfrentar um feiticeiro do calibre de Tarsius!
- Ué, Motoko, isto quer dizer que até mesmo você estava com medo daquele cara? - Observa Kitsune.
- Não! Não é isto!... - Tenta protestar inicialmente a jovem guerreira - mas, pensando bem, acho que estou sendo demasiado dura com as meninas e consigo mesma... Sinceramente eu não sabia como minhas técnicas iriam reagir neste mundo... Não entendo nada de jogos e muito menos de inteligência artificial...
- Até o Keitarô saiu-se bem na batalha... - Comenta Mutsumi.
- Eheheh... Para quem entrou na Toudai na terceira tentativa, até que não foi tão difícil assim1... - Sorri envaidecido o rapaz.
- Fecha esta matraca e continue andando, Keitarô! - Grita Narusegawa. Se ela não estivesse amparando a pequena Sarah em seus braços, teria dado um croque no seu convencido parceiro.
A primeira providência do grupo foi levar as três meninas ao médico da vila, que já tivera trabalho ao tratar dos aventureiros feridos pelo ataque das centopéias.
Com o pagamento garantido pelas moedas que Kitsune obtivera, ele conseguiu curar os ferimentos de Sarah, Su e Shinobu e recomendou que as três descansassem bem por uma noite.
Em seguida, o médico ensinou o uso correto de poções de cura e de restauração de magias para o grupo, revelando ainda que Shinobu podia usar magias de cura individual como em grupo, melhorando sua eficiência à medida que aumentasse de nível.
- Via de regra é o seguinte: Nunca, mas nunca entrem num combate com menos da metade de sua energia disponível. Se possível, quando estiverem em lugar seguro, usem as magias de cura de sua amiga para restaurarem suas forças. - Explicava o idoso médico, que já tinha sido aventureiro em seus dias de glória.
- E quando a gente estiver envolvida numa luta e não dar tempo de se curar? - Indaga Motoko.
- Em batalha, quando não houver outro jeito, façam bom uso das poções curativas, mas somente em casos críticos. É aconselhável que cada um tenha suas poções individuais para emergências. A clériga de vocês deve ficar preferentemente na retaguarda e se possível protegida por um colega. Ela deve curar os membros mais feridos do grupo e lançar suas magias de proteção e defesa de uma forma segura.
- Valeu pela dica, tio, mas onde podemos comprar estas poções? Pergunta Naru.
- Bem, eu tenho algumas poções de cura para vender aqui. Em outros locais elas são vendidas em templos ou lojas de armas. As poções que restauram pontos de magia são encontradas em lojas que vendem itens mágicos e mais raramente com vendedores ambulantes. Mas tomem cuidado com falsificações!
Após a consulta, o grupo volta para a estalagem que Kitsune, Mutsumi e Motoko haviam alugado um quarto antes.
A estalagem era dirigida por um homem de meia idade, magro e alto, chamado Joe, sendo conhecida como a "Estalagem do Velho Joe". Era um sobrado de um andar, com uma ampla área central e duas alas.
Na área central ficava a recepção e o guarda-volumes e nos fundos, os banheiros de uso coletivo, o alojamento dos funcionários, um pequeno depósito e um escritório.
A ala esquerda era reservada para quartos particulares com banheiro privativo, de custo mais alto. E a ala direita era composta por quartos coletivos, com dois beliches, usados por aventureiros com poucos recursos.
Anexo à estalagem, ficava uma estrebaria com acomodações para cavalos, bem como um depósito de materiais.
Por algum motivo, a estalagem não servia refeições, apenas o desjejum, sendo os hóspedes obrigados a procurarem a já conhecida Taverna Old Legs ou bares vizinhos para se alimentar.
Usando de um pouco de lábia e de seus pozinhos, a Kitsune consegue convencer o velho Joe a ceder um quarto extra para poder abrigar as meninas, o que não foi muito fácil devido o aumento de procura por quartos vagos. Narusegawa iria dormir no mesmo quarto que Kitsune e as outras.
- Ei, mas e eu? - Pergunta Keitarô ao perceber que foi deixado de fora.
- Bem, infelizmente, todos os quartos individuais foram ocupados agora a pouco por visitantes recém-chegados que fizeram reservas antecipadas.
O estalageiro examina por instantes a sua lista de reserva, que tinha quase todos os quartos marcados como ocupados. Após uma breve pausa, olha para Keitarô e diz:
- Só tenho uma vaga no quarto No 13 aonde terá que dividir com outro aventureiro vindo de fora. Fora isto, não temos mais nenhum outro lugar vago a não ser o estábulo. - Disse laconicamente o estalageiro Joe...
- Bem, se é assim... Eu topo. - Resigna-se o azarado aventureiro.
- Keitarô... Realmente não leva sorte mesmo... - Comenta Naru.
- Hehehe, eu espero que o "parceiro" dele não seja gay... - Malicia Kitsune.
- O que está querendo dizer com isso, Kitsune? - Protesta Naru, zangada com o comentário.
- Ué, Naru? Por que está nervosa? - Kitsune não se faz de rogada e nota que Naru estava inconscientemente protegendo Keitarô.
- Não é o que está pensando, Kitsune!
- Bem, as meninas já estão repousando agora no quarto delas. Vamos tomar um banho, descansar um pouco e nos preparar para comer alguma coisa na taverna antes de dormir. - Disse Motoko interrompendo a discussão.
- Legal! Às Batatas e aos bifes de uma polegada de espessura! Entusiasma-se Mutsumi, lembrando-se de uma frase que ouvira num filme do Velho-Oeste, há tempos atrás.
- Mew! Mew! Mew! - Apóia Tama-chan.
- Ouviu, Urashima? Daqui a uma hora, decidimos jantar na Taverna Old Legs. - Grita Motoko para um desanimado Keitarô.
- E nem pense entrar em nosso quarto enquanto estivermos tomando banho senão vai ter! - Adverte Naru.
- Ahahah, Naru, lembre-se que estamos num estabelecimento adulto e somos maiores de idade, não precisa avacalhar o Keitarô assim! - Zomba Kitsune diante dos olhares curiosos de outros hóspedes que circulavam pelo interior do prédio.
- Não me irrite, Kitsune! - Entra uma despeitada Naru no quarto, seguida pelas outras.
Keitarô volta para o quarto aonde ele iria pernoitar.
Ele estava não apenas exausto, mas principalmente chateado.
Sinceramente ele não entendia as mudanças súbitas no comportamento de Narusegawa, que alternava momentos de ternura e afeição com atitudes agressivas e irracionais.
Se ela gostava realmente dele qual o problema em se declarar?
Enquanto eles tivessem que achar uma saída para escapar desta realidade virtual, dificilmente ele iria encontrar uma chance para ficar a sós com ela e abrir seus sentimentos.
Ainda mais que Motoko, Shinobu, Kitsune e as outras estavam por perto...
- D-droga! Devo ser o cara mais azarado do mundo... Não sei se Narusegawa gosta realmente de mim... Eu passei na Toudai, mas estou agora perdido num mundo virtual e para piorar vou dormir com alguém que nem conheço...
Ao abrir o quarto, Keitarô fica atônito.
Ele dá de cara não com um aventureiro, mas com uma aventureira.
Era uma jovem de estatura média, com sua idade, cabelos loiros cortados em estilo de garoto, pele macia e perfeita, lábios carnudos e um olhar de criança travessa.
Naquele momento, estava acabando de retirar o seu capuz e sua armadura de couro batido, ficando apenas com as roupas de baixo.
- Hã? O que faz aqui? - Pergunta a aventureira.
- IKHHH! Perdão, perdão, não me bata, por favor! Foi sem querer! - Arregala os olhos o pobre estudante da Toudai, acostumado a ser saco de pancadas da Narusegawa por incidentes mais leves do que isto.
Keitarô vira para a direção oposta em que a jovem se encontra, pronto para receber um soco, mas nada disto acontece.
De súbito, ele sente a mão da inesperada inquilina bater de forma cordial, mas firme, em seu ombro.
- Calma, senão vão pensar que estou te esganando, moço. Espere aqui, que vou retificar o engano. - Disse com uma segurança incomum a desconhecida.
Após colocar rapidamente um vestido casual e calçar sandálias, a jovem loira sai do quarto aparentemente para notificar o fato ao estalageiro.
Keitarô pensa em sair o mais rapidamente, só que não tinha muitas opções. Se ele entrasse no quarto das meninas avisando o ocorrido, iria fatalmente apanhar da Naru ou da Motoko, que julgariam ele estar fazendo mais uma de suas safadezas.
E se ele fugisse da estalagem, iria causar preocupações desnecessárias ao resto do pessoal.
Aparentemente esta era a única hospedagem decente da pequena cidade medieval e certamente as outras pousadas teriam quartos lotados e provavelmente com inquilinos pouco amistosos, como guerreiros grosseiros, bárbaros violentos, vagabundos, ladrões, malandros e afins.
Keitarô decidiu esperar resignadamente, acostumando-se mentalmente à idéia de ir pernoitar no estábulo, junto com os cavalos e burros.
Em menos de dois minutos, a jovem loira volta, falando com uma voz delicada, mas nítida, ao notar o visível acanhamento de Keitarô:
- Ué, meu rapaz, você é tão tímido assim? Qual é o seu nome e idade?
Keitarô se assusta com a reação da moça.
- E-eu me chamo Keitarô Urashima, sou japonês e tenho 22 anos...
- Prazer em conhecer Keitarô, eu sou Yuri, uma aventureira. Tenho um ano a mais do que você. - Sorri a jovem loira.
- C-com licença... Eu acho que entrei mesmo no quarto errado. Peço-te desculpas, Srta. Yuri...
- Eu fui checar a minha reserva com o estalageiro e o erro foi dele. Realmente reservei o quarto antes de você chegar, mas não foi minha culpa o fato do dono ter me confundido com um homem.
- Bem, neste caso, vou me retirando. Não fica bem eu ficar com uma jovem como você...
- Por acaso, você é casado? - O olhar de Yuri muda, tornando-se mais sério e inquisitor.
- Não. - Keitarô fica surpreso e sua resposta é sussurrada.
- Você tem noiva ou namorada?
- Bem... No momento, não. - Ele pensou em dizer que namorava uma garota chamada Narusegawa, mas ainda continuava com aquela sensação desagradável de que o relacionamento não avançava.
- Você fez voto de castidade ou é viado?
- Não! Não! - Keitarô fica assombrado com a falta de sutileza das perguntas da jovem loira e de sua ousadia.
- Então não vejo problemas em ficarmos juntos aqui... - Finalmente Yuri sorri com um ar de criança sapeca.
- Mas como você pode confiar num cara que nunca viu antes assim?
- Puxa, como você é meio puritano! Conservador... Em primeiro lugar, Keitarô, sou uma aventureira profissional. Participei de muitos grupos. Conheci pessoas virtuosas e vermes da pior estirpe. Sei distinguir uma pessoa que tem más intenções e alguém que respeita as mulheres... - Diz a jovem Yuri num tom sério e profundo, como se lembrasse de sua vida.
- E o que teria feito se eu tivesse entrado aqui com má... ? Tenta argumentar Keitarô.
Antes que termine sua pergunta, Yuri atira algo em sua direção com a rapidez de um raio. Em uma fração de segundo, uma faca de arremesso fica cravada a menos de um centímetro da parede onde o jovem estava apoiado, na altura do pescoço.
Keitarô fica horrorizado diante da precisão e rapidez do ataque.
- Aconteceria isto. Mas você não tem cara de ser um pervertido. Percebi isto pelo seu olhar. - Sorri candidamente a jovem loira diante da reação de Keitarô.
- Desculpe-me, mas pelo visto, você ia tomar banho quando entrei... Quer que eu saia do quarto? - Keitarô tenta se recompor e falar da forma mais educada possível.
- Se você sentir-se melhor assim, tudo bem. Mas não vejo o porquê disto. Nunca viu uma mulher tomando banho na sua frente? - Yuri não se faz de rogada e começa a tirar lentamente o vestido que colocara para desespero de Keitarô.
- Sim... Não, Não! Acho que não é certo!... - Keitarô fica arrepiado quando a jovem tira a parte de cima do vestido, mostrando-lhe uma fina peça que recobre seus seios. Em seguida a loira habilmente se desfaz do sutiã, envolvendo seu tronco com uma toalha.
- Mas, meu jovem, você é de origem japonesa... Dizem que vocês têm o costume de tomar banho em fontes de águas termais, e existem muitos lugares aonde existem banhos mistos... E qual é o problema?...
- É... É que... Bem, o costume de lá é que apenas os familiares, os recém-casados e amigos íntimos têm o costume de tomar banho juntos... Diz corado o jovem, tentando explicar os costumes japoneses à moça estrangeira liberal.
- Entendo... Bem, se você preferir, pode esperar do lado de fora. Não vou demorar muito. Assim que terminar, eu te chamo. - Yuri percebe que Keitarô não está a fim e desiste. Contudo, seus olhos estudam sutilmente o corpo do jovem a sua frente.
Meio envergonhado, o jovem Keitarô sai do quarto.
Ele nunca tinha conhecido uma garota tão liberal como Yuri. Seria ela de origem americana? Como seria ela na vida real?
Por um momento Keitarô chegou a pensar que Yuri fosse uma garota que tivesse tido dezenas de envolvimentos amorosos, mas logo desfez estes pensamentos na sua cabeça.
A demonstração do arremesso de faca tinha-o impressionado, denotando que a menina não era alguém para se brincar.
Só que ela somente fez aquilo por ele ter perguntado de forma até ofensiva.
Em parte, Yuri lembrava muito Kitsune pela forma aberta com que tratava as pessoas e pela sua desenvoltura ao tratar com os fatos.
Só que seu olhar, ao mesmo tempo doce e ao mesmo tempo sério, nada tinha da irresponsabilidade da amiga mais velha de Naru.
Yuri era prática, objetiva e ia direto ao ponto, sendo bem mais madura do que Narusegawa ou mesmo Mutsumi.
Os quinze minutos passaram rápidos. Keitarô estava imerso em seus questionamentos no final do corredor, quando uma voz feminina se fez ouvir no quarto.
- Keitarô, eu já terminei. Pode entrar.
Ansiosamente, o rapaz entra no quarto, mas fica assustado quando vê a loira apenas coberta com a toalha de banho enrolada no tronco, penteando seus cabelos em frente ao espelho. As pernas eram macias, mas bastante resistentes e a toalha mal encobria o volume do bumbum da jovem.
- Yuri!... Eu... - Keitarô quase entra em colapso ao ver as formas generosas do corpo da loira.
- Shhh, não precisa dizer nada. Mas não me faça de boba, rapaz. Você nunca viu o corpo de uma mulher ou garota nua? - Yuri percebe o embaraço do jovem nipônico e decide jogar com isto.
- M-mas...
- Ou nunca chegou a ler uma revista erótica? Dizem que no seu país tem aos montes...
- S-sim, mas...
- Então não fique se torturando desta forma, ou vou começar a achar que você gosta de outra coisa, seu bobo! - Ri a loira da cara de desespero do Keitarô.
Keitarô abaixa a cabeça e em seguida Yuri nota que ele veio somente com a roupa do corpo. Após breve pausa, ela diz.
- Antes que me esqueça, você não tem ao menos uma muda de roupa ou uma toalha, certo?
- É que eu e meu grupo viemos para cá recentemente e nem tivemos tempo de comprar qualquer coisa... - Abaixa a cabeça Keitarô, meio envergonhado.
- Ok. Não precisa se justificar. Acidentes acontecem com as pessoas mais prevenidas.
Yuri procura a sua mochila, que estava caída num canto do quarto e pega algumas coisas: uma toalha longa seca, uma camisa de manga comprida feita de linho e um calção.
- Tome. Pode usar emprestado, mas amanhã faça o favor de comprar algo que sirva para você. Por sorte, nós temos quase a mesma altura... Pena que não posso dar meus trajes íntimos também, eheheh. - Comenta sarcasticamente a aventureira loira.
- Ei, que tipo de aventureira é você, que usa roupas masculinas? - Protesta Keitarô, ao ver a modelagem das roupas.
- Quando a gente está neste ramo, temos que defrontar com arbustos espinhentos, pedras pontiagudas, tempestades, lama, monstros, etc. Nem sempre nós - mulheres - encontramos roupas e armaduras apropriadas. Temos que nos virar com o que encontramos...
- Mas não fica meio estranho?...
- Com certeza, mas tenho certeza que é bem menos do que uma donzela andar por aí com saia-balão, espartilhos e sapatos finos de salto alto contra dragões e ogros. - Sorri a jovem aventureira com o seu humor cáustico.
Sem mais argumento, Keitarô resolve de trocar de roupa para se banhar na tina de água quente. Só que Yuri não parece sair do quarto, ao contrário dele.
- Yuri-san, por favor...
- Sente-se mal diante da minha presença, Keitarô? Prometo que não vou olhar para o seu lado antes de terminar o banho.
- Não! Não é isto! É que... É que... Não fica bem...
- Se quiser, posso sair em consideração a você e sua privacidade, mas espero que não tenha nada contra minha pessoa. - Responde Yuri fazendo um biquinho típico de criança mimada.
- Não... Eu... Eu acho que você é uma pessoa bem adulta e com senso de responsabilidade, mas outras pessoas...
- Não iriam te compreender? Pessoalmente eu acho que, ou as garotas que você conhece são ou muito santas ou muito cheias de frescura para o meu gosto. Disse Yuri sem se abalar com a reação de Keitarô.
- Desculpe, não quis te ofender...
- Desculpa aceita. Sabe, você parece-me do tipo que respeita bastante as mulheres. - Desta vez o sorriso sai natural, com um olhar de visível interesse.
Impotente, Keitarô vê a bela loira vestir um traje casual para a noite em questão de poucos minutos. Antes de sair do quarto, Yuri diz:
- Vou jantar no Old Legs daqui a pouco. Se você quiser, posso reservar uma cadeira para você, meu parceiro. Gostei do teu jeito. Até mais. E despede-se mandando um beijo, para maior desespero do rapaz.
Keitarô, confuso e envergonhado, acaba de tomar o seu banho e termina sua higiene pessoal, enxugando-se na toalha e usando as roupas simples, mas confortáveis que Yuri lhe emprestara.
Quem na realidade era esta garota? Algo nela a atraía e algo parecia que o afastava dela.
Embora fosse bonita, havia um brilho no seu olhar que impressionava o jovem nipônico.
Era tão bonita quanto a Naru, tão simpática quanto Mutsumi, tão corajosa quanto Motoko e tão esperta quanto Kitsune.
Só que era diferente de todas elas. Parecia ser uma pessoa mais madura, mais vivida e possuidora de um jeito bem diferente das meninas que conhecera...
O que ele achou mais estranho foi o fato de que - exceto por ter entrado na hora mais imprópria - NÃO aconteceu nenhum incidente desastroso entre ele e a estranha loira: Nada de tropeçar e cair apalpando sua bunda, nada de escorregar no chão e acabar olhando para porções íntimas de sua anatomia ou de chegar demasiadamente perto e encostar a cabeça em seus seios...
Eram pouco depois das Sete horas da noite quando Keitarô finalmente saiu do seu quarto e foi em direção à ala oposta da estalagem, onde estavam as garotas. Cautelosamente, ele deu três toques na porta antes de entrar, para evitar ser pego de surpresa.
- Quem é? - Pergunta a voz de Narusegawa.
- Sou eu, Keitarô. Estou pronto para ir jantar.
- Espere um pouco, a gente está terminando de aprontar.
Passam alguns minutos e de repente a porta se abre repentinamente. Sem querer, Naru bate a mesma na cara do Keitarô que geme de dor.
- Ouch!
- Ai, Keitarô, eu não sabia que você estava aqui!
- T-tudo bem...
- Bem, você está pronto? As meninas e eu decidimos ir comer naquela Taverna aonde entramos pela primeira vez. Não que tenhamos muita escolha... Parece ser o único lugar decente aonde serve comida à noite. Segundo o dono daqui, existem outros locais, mas a comida destes é ruim e o ambiente existente neles não é dos mais agradáveis.
Naru estava usando uma roupa de reserva comprada pela Kitsune. Embora o modelo fosse meio antiquado, o vestido deixava a Naru com aparência mais feminina. Por outro lado, a jovem ruiva estava exultante por ficar definitivamente livre do famigerado traje de batalha no estilo biquíni.
- Pelo que fiquei sabendo, lá serve uns bifes maravilhosos com excelente molho e batatas fritas! Sem falar na cerveja. - Entusiasma-se Mutsumi, imaginando as delícias que teria pela frente..
- Mew! Mew! Mew! - Apóia a pequena tartaruga Tama.
- Quero ver se experimento uns licores de frutas. Na vez passada, não tivemos tempo para isto! - Fala Kitsune, ansiosa para molhar a garganta.
- Bem, e as meninas? - Keitarô reparou na ausência de Shinobu, Sarah e Kaolla.
- Elas acordaram agora a pouco, mas não irão com a gente. Todas estão muito cansadas e exaustas. Acabei de servir água e ministrar os remédios que o médico receitou. Apenas a Su disse para trazer uma marmita de comida no quarto quando retornarmos. Disse Motoko meio séria.
- Como elas ficaram? - Indaga Urashima, atencioso como sempre.
- Graças a Deus, as poções deram resultado e não há mais traço das queimaduras e ferimentos da batalha. Tenho certeza que tudo o que precisam é de uma boa noite de descanso, assim como nós.
- Bem, a gente veio para conversar ou para comer? Vamos lá antes que aquela taverna fique lotada! - Lembra Kitsune.
- É isto aí! Apoiado! - Concorda Mutsumi.
- Certo, garotas, a gente... ops... - Keitarô, ao se virar, acaba tropeçando, e para não cair de cara, acaba se agarrando no vestido da Narusegawa com uma das mãos e no roupão da Motoko com a outra.
Como não podia deixar de ser, o resultado é simplesmente catastrófico. Naru e Motoko ficam apenas com suas peças íntimas diante dos transeuntes que passavam por aquele andar no momento.
- SEU TARADO! PERVERTIDO! IDIOTA! - Diz uma possessa Naru dando um soco no pobre rapaz com uma das mãos enquanto tenta arrumar o vestido com a outra.
- URASHIMAAAA! VOU FAZER PICADINHO DE VOCÊÊÊ!!! - Antes que o pobre Keitarô retorne ao chão, Motoko tenta fatiá-lo com a Shisui. Apenas a legendária imortalidade do nosso protagonista impede que ele tome danos letais
- Socorro! O que eu fiz desta vez???
Escrito por: Calerom.
myamauchi1969@yahoo.com.br
UM HÓSPEDE INCOMUM:
Eram pouco antes das 18:00 Horas da Tarde quando os atônitos moradores do vilarejo viram um estranho grupo saindo das ruínas da mansão de Tarsius.
Exaustos, feridos e esgotados pela luta, apareciam dos destroços, Keitarô, Narusegawa, Motoko e Mutsumi - com Tama-chan escondida em seu chapéu, para não assustar a samurai.
Kaolla, Sarah e Shinobu estavam sendo carregadas pelos três primeiros, já que ainda estavam inconscientes.
Mutsumi estava com seu traje totalmente destruído pelo golpe Zan-Ma-Ken de Motoko e usava uma cortina tirada de uma das janelas para esconder a sua nudez.
Logo atrás, vinha Kitsune carregando um saco enorme onde estavam misturadas várias moedas de ouro, objetos de valor e cristais que ela conseguira descobrir nos quartos da mansão.
- Eu sabia que estas três iriam causar problemas! Se chegássemos um pouco mais tarde nem sei o que iríamos fazer! - Esbraveja Motoko ao ver o deplorável estado em que Sarah, Shinobu e Su ficaram.
- Por favor, não seja tão severa com elas, Motoko. Vai dar tudo certo... - Tenta tranqüilizar Narusegawa.
- É muita irresponsabilidade tentar enfrentar um adversário daqueles! Mesmo poucos guerreiros do meu clã se atreveriam a enfrentar um feiticeiro do calibre de Tarsius!
- Ué, Motoko, isto quer dizer que até mesmo você estava com medo daquele cara? - Observa Kitsune.
- Não! Não é isto!... - Tenta protestar inicialmente a jovem guerreira - mas, pensando bem, acho que estou sendo demasiado dura com as meninas e consigo mesma... Sinceramente eu não sabia como minhas técnicas iriam reagir neste mundo... Não entendo nada de jogos e muito menos de inteligência artificial...
- Até o Keitarô saiu-se bem na batalha... - Comenta Mutsumi.
- Eheheh... Para quem entrou na Toudai na terceira tentativa, até que não foi tão difícil assim1... - Sorri envaidecido o rapaz.
- Fecha esta matraca e continue andando, Keitarô! - Grita Narusegawa. Se ela não estivesse amparando a pequena Sarah em seus braços, teria dado um croque no seu convencido parceiro.
A primeira providência do grupo foi levar as três meninas ao médico da vila, que já tivera trabalho ao tratar dos aventureiros feridos pelo ataque das centopéias.
Com o pagamento garantido pelas moedas que Kitsune obtivera, ele conseguiu curar os ferimentos de Sarah, Su e Shinobu e recomendou que as três descansassem bem por uma noite.
Em seguida, o médico ensinou o uso correto de poções de cura e de restauração de magias para o grupo, revelando ainda que Shinobu podia usar magias de cura individual como em grupo, melhorando sua eficiência à medida que aumentasse de nível.
- Via de regra é o seguinte: Nunca, mas nunca entrem num combate com menos da metade de sua energia disponível. Se possível, quando estiverem em lugar seguro, usem as magias de cura de sua amiga para restaurarem suas forças. - Explicava o idoso médico, que já tinha sido aventureiro em seus dias de glória.
- E quando a gente estiver envolvida numa luta e não dar tempo de se curar? - Indaga Motoko.
- Em batalha, quando não houver outro jeito, façam bom uso das poções curativas, mas somente em casos críticos. É aconselhável que cada um tenha suas poções individuais para emergências. A clériga de vocês deve ficar preferentemente na retaguarda e se possível protegida por um colega. Ela deve curar os membros mais feridos do grupo e lançar suas magias de proteção e defesa de uma forma segura.
- Valeu pela dica, tio, mas onde podemos comprar estas poções? Pergunta Naru.
- Bem, eu tenho algumas poções de cura para vender aqui. Em outros locais elas são vendidas em templos ou lojas de armas. As poções que restauram pontos de magia são encontradas em lojas que vendem itens mágicos e mais raramente com vendedores ambulantes. Mas tomem cuidado com falsificações!
Após a consulta, o grupo volta para a estalagem que Kitsune, Mutsumi e Motoko haviam alugado um quarto antes.
A estalagem era dirigida por um homem de meia idade, magro e alto, chamado Joe, sendo conhecida como a "Estalagem do Velho Joe". Era um sobrado de um andar, com uma ampla área central e duas alas.
Na área central ficava a recepção e o guarda-volumes e nos fundos, os banheiros de uso coletivo, o alojamento dos funcionários, um pequeno depósito e um escritório.
A ala esquerda era reservada para quartos particulares com banheiro privativo, de custo mais alto. E a ala direita era composta por quartos coletivos, com dois beliches, usados por aventureiros com poucos recursos.
Anexo à estalagem, ficava uma estrebaria com acomodações para cavalos, bem como um depósito de materiais.
Por algum motivo, a estalagem não servia refeições, apenas o desjejum, sendo os hóspedes obrigados a procurarem a já conhecida Taverna Old Legs ou bares vizinhos para se alimentar.
Usando de um pouco de lábia e de seus pozinhos, a Kitsune consegue convencer o velho Joe a ceder um quarto extra para poder abrigar as meninas, o que não foi muito fácil devido o aumento de procura por quartos vagos. Narusegawa iria dormir no mesmo quarto que Kitsune e as outras.
- Ei, mas e eu? - Pergunta Keitarô ao perceber que foi deixado de fora.
- Bem, infelizmente, todos os quartos individuais foram ocupados agora a pouco por visitantes recém-chegados que fizeram reservas antecipadas.
O estalageiro examina por instantes a sua lista de reserva, que tinha quase todos os quartos marcados como ocupados. Após uma breve pausa, olha para Keitarô e diz:
- Só tenho uma vaga no quarto No 13 aonde terá que dividir com outro aventureiro vindo de fora. Fora isto, não temos mais nenhum outro lugar vago a não ser o estábulo. - Disse laconicamente o estalageiro Joe...
- Bem, se é assim... Eu topo. - Resigna-se o azarado aventureiro.
- Keitarô... Realmente não leva sorte mesmo... - Comenta Naru.
- Hehehe, eu espero que o "parceiro" dele não seja gay... - Malicia Kitsune.
- O que está querendo dizer com isso, Kitsune? - Protesta Naru, zangada com o comentário.
- Ué, Naru? Por que está nervosa? - Kitsune não se faz de rogada e nota que Naru estava inconscientemente protegendo Keitarô.
- Não é o que está pensando, Kitsune!
- Bem, as meninas já estão repousando agora no quarto delas. Vamos tomar um banho, descansar um pouco e nos preparar para comer alguma coisa na taverna antes de dormir. - Disse Motoko interrompendo a discussão.
- Legal! Às Batatas e aos bifes de uma polegada de espessura! Entusiasma-se Mutsumi, lembrando-se de uma frase que ouvira num filme do Velho-Oeste, há tempos atrás.
- Mew! Mew! Mew! - Apóia Tama-chan.
- Ouviu, Urashima? Daqui a uma hora, decidimos jantar na Taverna Old Legs. - Grita Motoko para um desanimado Keitarô.
- E nem pense entrar em nosso quarto enquanto estivermos tomando banho senão vai ter! - Adverte Naru.
- Ahahah, Naru, lembre-se que estamos num estabelecimento adulto e somos maiores de idade, não precisa avacalhar o Keitarô assim! - Zomba Kitsune diante dos olhares curiosos de outros hóspedes que circulavam pelo interior do prédio.
- Não me irrite, Kitsune! - Entra uma despeitada Naru no quarto, seguida pelas outras.
Keitarô volta para o quarto aonde ele iria pernoitar.
Ele estava não apenas exausto, mas principalmente chateado.
Sinceramente ele não entendia as mudanças súbitas no comportamento de Narusegawa, que alternava momentos de ternura e afeição com atitudes agressivas e irracionais.
Se ela gostava realmente dele qual o problema em se declarar?
Enquanto eles tivessem que achar uma saída para escapar desta realidade virtual, dificilmente ele iria encontrar uma chance para ficar a sós com ela e abrir seus sentimentos.
Ainda mais que Motoko, Shinobu, Kitsune e as outras estavam por perto...
- D-droga! Devo ser o cara mais azarado do mundo... Não sei se Narusegawa gosta realmente de mim... Eu passei na Toudai, mas estou agora perdido num mundo virtual e para piorar vou dormir com alguém que nem conheço...
Ao abrir o quarto, Keitarô fica atônito.
Ele dá de cara não com um aventureiro, mas com uma aventureira.
Era uma jovem de estatura média, com sua idade, cabelos loiros cortados em estilo de garoto, pele macia e perfeita, lábios carnudos e um olhar de criança travessa.
Naquele momento, estava acabando de retirar o seu capuz e sua armadura de couro batido, ficando apenas com as roupas de baixo.
- Hã? O que faz aqui? - Pergunta a aventureira.
- IKHHH! Perdão, perdão, não me bata, por favor! Foi sem querer! - Arregala os olhos o pobre estudante da Toudai, acostumado a ser saco de pancadas da Narusegawa por incidentes mais leves do que isto.
Keitarô vira para a direção oposta em que a jovem se encontra, pronto para receber um soco, mas nada disto acontece.
De súbito, ele sente a mão da inesperada inquilina bater de forma cordial, mas firme, em seu ombro.
- Calma, senão vão pensar que estou te esganando, moço. Espere aqui, que vou retificar o engano. - Disse com uma segurança incomum a desconhecida.
Após colocar rapidamente um vestido casual e calçar sandálias, a jovem loira sai do quarto aparentemente para notificar o fato ao estalageiro.
Keitarô pensa em sair o mais rapidamente, só que não tinha muitas opções. Se ele entrasse no quarto das meninas avisando o ocorrido, iria fatalmente apanhar da Naru ou da Motoko, que julgariam ele estar fazendo mais uma de suas safadezas.
E se ele fugisse da estalagem, iria causar preocupações desnecessárias ao resto do pessoal.
Aparentemente esta era a única hospedagem decente da pequena cidade medieval e certamente as outras pousadas teriam quartos lotados e provavelmente com inquilinos pouco amistosos, como guerreiros grosseiros, bárbaros violentos, vagabundos, ladrões, malandros e afins.
Keitarô decidiu esperar resignadamente, acostumando-se mentalmente à idéia de ir pernoitar no estábulo, junto com os cavalos e burros.
Em menos de dois minutos, a jovem loira volta, falando com uma voz delicada, mas nítida, ao notar o visível acanhamento de Keitarô:
- Ué, meu rapaz, você é tão tímido assim? Qual é o seu nome e idade?
Keitarô se assusta com a reação da moça.
- E-eu me chamo Keitarô Urashima, sou japonês e tenho 22 anos...
- Prazer em conhecer Keitarô, eu sou Yuri, uma aventureira. Tenho um ano a mais do que você. - Sorri a jovem loira.
- C-com licença... Eu acho que entrei mesmo no quarto errado. Peço-te desculpas, Srta. Yuri...
- Eu fui checar a minha reserva com o estalageiro e o erro foi dele. Realmente reservei o quarto antes de você chegar, mas não foi minha culpa o fato do dono ter me confundido com um homem.
- Bem, neste caso, vou me retirando. Não fica bem eu ficar com uma jovem como você...
- Por acaso, você é casado? - O olhar de Yuri muda, tornando-se mais sério e inquisitor.
- Não. - Keitarô fica surpreso e sua resposta é sussurrada.
- Você tem noiva ou namorada?
- Bem... No momento, não. - Ele pensou em dizer que namorava uma garota chamada Narusegawa, mas ainda continuava com aquela sensação desagradável de que o relacionamento não avançava.
- Você fez voto de castidade ou é viado?
- Não! Não! - Keitarô fica assombrado com a falta de sutileza das perguntas da jovem loira e de sua ousadia.
- Então não vejo problemas em ficarmos juntos aqui... - Finalmente Yuri sorri com um ar de criança sapeca.
- Mas como você pode confiar num cara que nunca viu antes assim?
- Puxa, como você é meio puritano! Conservador... Em primeiro lugar, Keitarô, sou uma aventureira profissional. Participei de muitos grupos. Conheci pessoas virtuosas e vermes da pior estirpe. Sei distinguir uma pessoa que tem más intenções e alguém que respeita as mulheres... - Diz a jovem Yuri num tom sério e profundo, como se lembrasse de sua vida.
- E o que teria feito se eu tivesse entrado aqui com má... ? Tenta argumentar Keitarô.
Antes que termine sua pergunta, Yuri atira algo em sua direção com a rapidez de um raio. Em uma fração de segundo, uma faca de arremesso fica cravada a menos de um centímetro da parede onde o jovem estava apoiado, na altura do pescoço.
Keitarô fica horrorizado diante da precisão e rapidez do ataque.
- Aconteceria isto. Mas você não tem cara de ser um pervertido. Percebi isto pelo seu olhar. - Sorri candidamente a jovem loira diante da reação de Keitarô.
- Desculpe-me, mas pelo visto, você ia tomar banho quando entrei... Quer que eu saia do quarto? - Keitarô tenta se recompor e falar da forma mais educada possível.
- Se você sentir-se melhor assim, tudo bem. Mas não vejo o porquê disto. Nunca viu uma mulher tomando banho na sua frente? - Yuri não se faz de rogada e começa a tirar lentamente o vestido que colocara para desespero de Keitarô.
- Sim... Não, Não! Acho que não é certo!... - Keitarô fica arrepiado quando a jovem tira a parte de cima do vestido, mostrando-lhe uma fina peça que recobre seus seios. Em seguida a loira habilmente se desfaz do sutiã, envolvendo seu tronco com uma toalha.
- Mas, meu jovem, você é de origem japonesa... Dizem que vocês têm o costume de tomar banho em fontes de águas termais, e existem muitos lugares aonde existem banhos mistos... E qual é o problema?...
- É... É que... Bem, o costume de lá é que apenas os familiares, os recém-casados e amigos íntimos têm o costume de tomar banho juntos... Diz corado o jovem, tentando explicar os costumes japoneses à moça estrangeira liberal.
- Entendo... Bem, se você preferir, pode esperar do lado de fora. Não vou demorar muito. Assim que terminar, eu te chamo. - Yuri percebe que Keitarô não está a fim e desiste. Contudo, seus olhos estudam sutilmente o corpo do jovem a sua frente.
Meio envergonhado, o jovem Keitarô sai do quarto.
Ele nunca tinha conhecido uma garota tão liberal como Yuri. Seria ela de origem americana? Como seria ela na vida real?
Por um momento Keitarô chegou a pensar que Yuri fosse uma garota que tivesse tido dezenas de envolvimentos amorosos, mas logo desfez estes pensamentos na sua cabeça.
A demonstração do arremesso de faca tinha-o impressionado, denotando que a menina não era alguém para se brincar.
Só que ela somente fez aquilo por ele ter perguntado de forma até ofensiva.
Em parte, Yuri lembrava muito Kitsune pela forma aberta com que tratava as pessoas e pela sua desenvoltura ao tratar com os fatos.
Só que seu olhar, ao mesmo tempo doce e ao mesmo tempo sério, nada tinha da irresponsabilidade da amiga mais velha de Naru.
Yuri era prática, objetiva e ia direto ao ponto, sendo bem mais madura do que Narusegawa ou mesmo Mutsumi.
Os quinze minutos passaram rápidos. Keitarô estava imerso em seus questionamentos no final do corredor, quando uma voz feminina se fez ouvir no quarto.
- Keitarô, eu já terminei. Pode entrar.
Ansiosamente, o rapaz entra no quarto, mas fica assustado quando vê a loira apenas coberta com a toalha de banho enrolada no tronco, penteando seus cabelos em frente ao espelho. As pernas eram macias, mas bastante resistentes e a toalha mal encobria o volume do bumbum da jovem.
- Yuri!... Eu... - Keitarô quase entra em colapso ao ver as formas generosas do corpo da loira.
- Shhh, não precisa dizer nada. Mas não me faça de boba, rapaz. Você nunca viu o corpo de uma mulher ou garota nua? - Yuri percebe o embaraço do jovem nipônico e decide jogar com isto.
- M-mas...
- Ou nunca chegou a ler uma revista erótica? Dizem que no seu país tem aos montes...
- S-sim, mas...
- Então não fique se torturando desta forma, ou vou começar a achar que você gosta de outra coisa, seu bobo! - Ri a loira da cara de desespero do Keitarô.
Keitarô abaixa a cabeça e em seguida Yuri nota que ele veio somente com a roupa do corpo. Após breve pausa, ela diz.
- Antes que me esqueça, você não tem ao menos uma muda de roupa ou uma toalha, certo?
- É que eu e meu grupo viemos para cá recentemente e nem tivemos tempo de comprar qualquer coisa... - Abaixa a cabeça Keitarô, meio envergonhado.
- Ok. Não precisa se justificar. Acidentes acontecem com as pessoas mais prevenidas.
Yuri procura a sua mochila, que estava caída num canto do quarto e pega algumas coisas: uma toalha longa seca, uma camisa de manga comprida feita de linho e um calção.
- Tome. Pode usar emprestado, mas amanhã faça o favor de comprar algo que sirva para você. Por sorte, nós temos quase a mesma altura... Pena que não posso dar meus trajes íntimos também, eheheh. - Comenta sarcasticamente a aventureira loira.
- Ei, que tipo de aventureira é você, que usa roupas masculinas? - Protesta Keitarô, ao ver a modelagem das roupas.
- Quando a gente está neste ramo, temos que defrontar com arbustos espinhentos, pedras pontiagudas, tempestades, lama, monstros, etc. Nem sempre nós - mulheres - encontramos roupas e armaduras apropriadas. Temos que nos virar com o que encontramos...
- Mas não fica meio estranho?...
- Com certeza, mas tenho certeza que é bem menos do que uma donzela andar por aí com saia-balão, espartilhos e sapatos finos de salto alto contra dragões e ogros. - Sorri a jovem aventureira com o seu humor cáustico.
Sem mais argumento, Keitarô resolve de trocar de roupa para se banhar na tina de água quente. Só que Yuri não parece sair do quarto, ao contrário dele.
- Yuri-san, por favor...
- Sente-se mal diante da minha presença, Keitarô? Prometo que não vou olhar para o seu lado antes de terminar o banho.
- Não! Não é isto! É que... É que... Não fica bem...
- Se quiser, posso sair em consideração a você e sua privacidade, mas espero que não tenha nada contra minha pessoa. - Responde Yuri fazendo um biquinho típico de criança mimada.
- Não... Eu... Eu acho que você é uma pessoa bem adulta e com senso de responsabilidade, mas outras pessoas...
- Não iriam te compreender? Pessoalmente eu acho que, ou as garotas que você conhece são ou muito santas ou muito cheias de frescura para o meu gosto. Disse Yuri sem se abalar com a reação de Keitarô.
- Desculpe, não quis te ofender...
- Desculpa aceita. Sabe, você parece-me do tipo que respeita bastante as mulheres. - Desta vez o sorriso sai natural, com um olhar de visível interesse.
Impotente, Keitarô vê a bela loira vestir um traje casual para a noite em questão de poucos minutos. Antes de sair do quarto, Yuri diz:
- Vou jantar no Old Legs daqui a pouco. Se você quiser, posso reservar uma cadeira para você, meu parceiro. Gostei do teu jeito. Até mais. E despede-se mandando um beijo, para maior desespero do rapaz.
Keitarô, confuso e envergonhado, acaba de tomar o seu banho e termina sua higiene pessoal, enxugando-se na toalha e usando as roupas simples, mas confortáveis que Yuri lhe emprestara.
Quem na realidade era esta garota? Algo nela a atraía e algo parecia que o afastava dela.
Embora fosse bonita, havia um brilho no seu olhar que impressionava o jovem nipônico.
Era tão bonita quanto a Naru, tão simpática quanto Mutsumi, tão corajosa quanto Motoko e tão esperta quanto Kitsune.
Só que era diferente de todas elas. Parecia ser uma pessoa mais madura, mais vivida e possuidora de um jeito bem diferente das meninas que conhecera...
O que ele achou mais estranho foi o fato de que - exceto por ter entrado na hora mais imprópria - NÃO aconteceu nenhum incidente desastroso entre ele e a estranha loira: Nada de tropeçar e cair apalpando sua bunda, nada de escorregar no chão e acabar olhando para porções íntimas de sua anatomia ou de chegar demasiadamente perto e encostar a cabeça em seus seios...
Eram pouco depois das Sete horas da noite quando Keitarô finalmente saiu do seu quarto e foi em direção à ala oposta da estalagem, onde estavam as garotas. Cautelosamente, ele deu três toques na porta antes de entrar, para evitar ser pego de surpresa.
- Quem é? - Pergunta a voz de Narusegawa.
- Sou eu, Keitarô. Estou pronto para ir jantar.
- Espere um pouco, a gente está terminando de aprontar.
Passam alguns minutos e de repente a porta se abre repentinamente. Sem querer, Naru bate a mesma na cara do Keitarô que geme de dor.
- Ouch!
- Ai, Keitarô, eu não sabia que você estava aqui!
- T-tudo bem...
- Bem, você está pronto? As meninas e eu decidimos ir comer naquela Taverna aonde entramos pela primeira vez. Não que tenhamos muita escolha... Parece ser o único lugar decente aonde serve comida à noite. Segundo o dono daqui, existem outros locais, mas a comida destes é ruim e o ambiente existente neles não é dos mais agradáveis.
Naru estava usando uma roupa de reserva comprada pela Kitsune. Embora o modelo fosse meio antiquado, o vestido deixava a Naru com aparência mais feminina. Por outro lado, a jovem ruiva estava exultante por ficar definitivamente livre do famigerado traje de batalha no estilo biquíni.
- Pelo que fiquei sabendo, lá serve uns bifes maravilhosos com excelente molho e batatas fritas! Sem falar na cerveja. - Entusiasma-se Mutsumi, imaginando as delícias que teria pela frente..
- Mew! Mew! Mew! - Apóia a pequena tartaruga Tama.
- Quero ver se experimento uns licores de frutas. Na vez passada, não tivemos tempo para isto! - Fala Kitsune, ansiosa para molhar a garganta.
- Bem, e as meninas? - Keitarô reparou na ausência de Shinobu, Sarah e Kaolla.
- Elas acordaram agora a pouco, mas não irão com a gente. Todas estão muito cansadas e exaustas. Acabei de servir água e ministrar os remédios que o médico receitou. Apenas a Su disse para trazer uma marmita de comida no quarto quando retornarmos. Disse Motoko meio séria.
- Como elas ficaram? - Indaga Urashima, atencioso como sempre.
- Graças a Deus, as poções deram resultado e não há mais traço das queimaduras e ferimentos da batalha. Tenho certeza que tudo o que precisam é de uma boa noite de descanso, assim como nós.
- Bem, a gente veio para conversar ou para comer? Vamos lá antes que aquela taverna fique lotada! - Lembra Kitsune.
- É isto aí! Apoiado! - Concorda Mutsumi.
- Certo, garotas, a gente... ops... - Keitarô, ao se virar, acaba tropeçando, e para não cair de cara, acaba se agarrando no vestido da Narusegawa com uma das mãos e no roupão da Motoko com a outra.
Como não podia deixar de ser, o resultado é simplesmente catastrófico. Naru e Motoko ficam apenas com suas peças íntimas diante dos transeuntes que passavam por aquele andar no momento.
- SEU TARADO! PERVERTIDO! IDIOTA! - Diz uma possessa Naru dando um soco no pobre rapaz com uma das mãos enquanto tenta arrumar o vestido com a outra.
- URASHIMAAAA! VOU FAZER PICADINHO DE VOCÊÊÊ!!! - Antes que o pobre Keitarô retorne ao chão, Motoko tenta fatiá-lo com a Shisui. Apenas a legendária imortalidade do nosso protagonista impede que ele tome danos letais
- Socorro! O que eu fiz desta vez???
Escrito por: Calerom.
myamauchi1969@yahoo.com.br
