Capítulo 18

JOGOS DE GUERRA

Pouco antes das dez horas e meia da manhã, o grupo de aventureiros se preparou para se reunir com Eldrick no prédio da guarda. Eles não decidiram levar nada, já que teriam que comprar os apetrechos para a viagem.

Só que por precaução, Narusegawa pagou ao estalageiro todas as despesas acumuladas até a manhã, antes que a Kitsune resolvesse dar um calote.

- Ai, que preguiça, a gente vai ter que sair só para ver aquele tal do Eldrick de novo? Por mim eu ficava dentro do quarto, tirando uma soneca - espreguiça-se a jovem Konno, sentindo os efeitos do reforçado café da manhã.

- Então a gente vai ter que fazer uma missão para o pessoal da cidade? Oba! Quero chegar ao nível vinte! - Entusiasma-se a energética Kaolla, ávida de aventura e ação.

Naturalmente as garotas mais velhas contaram para as mais novas o que tinha ocorrido naquela noite onde elas ficaram convalescendo dos danos da batalha contra Tarsius.

- Finalmente a nossa primeira missão de verdade! Mal posso esperar para chutar a bunda de uns gigantes e monstros mais fortes! - Concorda Sarah.

- M-mas não é perigoso? - Hesita Shinobu, pensando nas consequências.

- Infelizmente, Shinobu-chan - querendo ou não - nós teremos que fazer isto, até por que no momento é nosso único meio de encontrarmos alguma pista do portal que nos poderá tirar desta enrascada. - Disse Narusegawa.

- Por mais arriscada que seja esta tarefa, devemos nos livrar dela o mais rápido possível para voltarmos mais cedo ao nosso mundo. - Complementa Motoko.

- Seja como for, pelo menos temos uma esperança - Concorda Naru, cruzando as mãos inconscientemente e respirando fundo.

Neste momento, um guarda de Eldrick chega na estalagem e avisa a turma que o condestável está esperando todos no prédio da guarda.

O grupo acompanha o mensageiro até o seu destino.

Eldrick estava esperando o grupo na mesma sala em que os interrogara na véspera. Ele estava examinando alguns papéis oficiais ao mesmo tempo em que fumava seu cachimbo, quando o mensageiro anuncia a chegada de Keitarô e das garotas.

O condestável faz um sinal para que todos se acomodem nas cadeiras e ele mesmo se levanta para cumprimentá-los.

- Sejam bem vindos. Eu, em nome do povo de Smallville, agradeço a presença de vocês. - Eldrick está de bom humor.

- Bem, chegamos, Eldrick. Viemos saber o que o senhor deseja da gente. - Diz Naru representando a turma da Pensão Hinata.

- Ah, sim. Antes, gostaria de saber quais são os nomes das suas jovens acompanhantes, senhorita Narusegawa...

- Pode-me chamar de Naru. - Replica Naru, algo incomodada com o temperamento burocrático de Eldrick - Bem, estas são nossas amigas Shinobu, Kaolla Su e Sarah Mac Dougal... Todas elas moram com a gente.

- B-bom dia, m-meu nome é Shinobu Maehara. - Adianta-se Shinobu fazendo uma reverência ao estilo japonês com seu jeito tímido.

- Oiêêêê, tio! Sou a Kaolla Su! E aí, tudo em cima? - Kaolla faz um cumprimento estranho, dando um salto de puro entusiasmo e por fim fazendo uma cambalhota como se fosse uma ginasta olímpica.

- (Mas que cara idiota!). Hello. Sou Sarah, Sarah Mac Dougal. - Sarah se limita a ficar de pé, mantendo os braços cruzados, analisando com o seu olhar inquisitivo o condestável.

- Bem - antes de tudo - gostaria de explicar a situação geral a todos vocês. Vocês me pareceram as pessoas mais confiáveis para a missão que terão em mãos.

Eldrick termina de fumar o seu cachimbo deixando-o em cima de sua escrivaninha. Em seguida diz:

- O objetivo é simples: Infiltrar-se entre as tribos orcs que habitam as terras além de nossa fronteira e descobrir provas de que eles estão tramando uma ofensiva em grande escala contra nossa cidade. Quando obtiverem isto, retornem aqui o mais rápido possível sem fazer muito alarde.

- Mas, Eldrick, onde ficam estas tribos orcs, para ser mais exato? - Pergunta Keitarô.

Eldrick aponta para um quadro enorme pendurado na parede, mostrando o mapa do seu reino, chamado de Arkadia.

Em seguida, usando seu bastão de comando, aponta para um ponto perdido na parte leste do mapa, mostrando Smallville e os arredores para o pessoal:

- Como podem ver, meus jovens, Smallville fica no final da fronteira Leste do nosso reino de Arkadia. A partir daqui, parte a estrada conhecida como a Rota Leste. Esta rota passa pelas terras desoladas dos orcs e o terrível Deserto de Sandstorm, até chegar no reino mercantil de El-Quattara.

- Mas quem foi o imbecil que inventou esta rota que passa numa cidade perdida num fim de mundo? Não tinha outra estrada mais segura? - Vocifera Motoko.

- Infelizmente, minha cara, esta é a rota mais curta para os impérios do leste. Os elfos das florestas, ao norte, e os anões das colinas, ao sul, fecharam as suas fronteiras por motivos que não me competem analisar neste momento.

- E viajar pelo mar? - Pergunta Motoko, insatisfeita com a resposta.

- Navegar fora da costa é muito arriscado, devido à enorme quantidade de monstros marinhos que habitam nossos mares. - Responde didaticamente o condestável.

- Quantos quilômetros medem a tal da Rota Leste? - Pergunta Keitarô.

- Ao todo são mais de trezentos quilômetros de extensão, equivalendo a duas semanas de viagem a cavalo. - Conclui Eldrick.

- A gente vai ter que andar tudo isto? - Escandaliza-se Kitsune, já imaginando uma infinidade de calos e bolhas nos seus lindos pés, afora o calor escaldante do deserto.

- Não exatamente. Quero que investiguem principalmente as tribos orcs dos Rancapeles e dos Quebraossos, que moram neste platô desértico que fica a sessenta quilômetros daqui. Existem outras tribos hostis, mas estas que falei são as mais poderosas.

- Quantos guerreiros têm estes monstros? - Indaga Motoko, mais interessada no aspecto militar da missão.

- Não sabemos ao certo. É justamente o objetivo de vocês: descobrir seus números, o poder de batalha e outros dados. Um grupo pequeno, mas de elite, pode se infiltrar até chegar ao platô sem chamar atenção.

- E se um ou ambos os barões estiverem envolvidos com os orcs? - Indaga Naru, temerosa de enfrentar com circunstâncias que fogem ao seu alcance.

- Não sabemos e não podemos provar isto sem ter provas concretas. Contudo, se encontrarem pelo caminho as patrulhas de Khazar ou de Strongald, evitem a todo custo entrar em confronto com eles. Só se defendam em último caso.

- Por quê? - Pergunta Naru, começando a se arrepender de ter aceitado a missão.

- Já lhes disse que tanto um como outro são cruéis e prepotentes. Eles não podem saber desta missão antes de conseguirmos os reforços para deter os orcs, ainda mais se estiverem envolvidos com estas tribos.

- Então temos que descobrir o máximo de informação e voltar o mais depressa aqui, sem criar brigas, certo? - Conclui Motoko, já sentindo o exato peso da responsabilidade.

- Exato. Ah... Eu espero que vocês não caiam prisioneiros dos orcs, pois eles têm o hábito de torturarem os cativos até a morte, isto se não os venderem como escravos para os nômades.

- Tortura? Escravos? Aiii! - Shinobu entra em pânico, ficando com aquela cara típica de medo.

- Ué, Shinomu, você nunca jogou Warcraft 2 na vida? Estes bichos verdes fazem exatamente isto que o tio aí está dizendo... - Tenta acalmar Shinobu a jovem Kaolla, com o seu estilo "peculiar".

- Radical! É matar ou morrer... - Comenta Sarah, com uma gota de preocupação na cabeça.

- B-bem, seu Eldrick, a g-gente vai ter re-reforços nesta missão, N-não é?... Pelo que me lembro o senhor disse que... - Gagueja Keitarô imaginando se não teria sido melhor arrepender-se de ter aceitado a missão.

- Ah, sim, permitam me apresentar a pessoa que os guiará nesta missão. Ela veio da nossa capital e foi contratada pelo conselho hoje de manhã em função de sua grande experiência e dos serviços prestados no passado. - Sorri discretamente o condestável Eldrick.

Eldrick retorna à sua escrivaninha e toca uma sineta. Um guarda se adianta e abre a porta para uma figura vestida de capa entrar.

As meninas ficam surpresas ao reparar na pessoa que entrava na sala, mas para Keitarô, ela não representava nenhuma novidade.

- Pessoal! Esta é a senhorita Yuri de Brightstone. Ela é uma experiente aventureira e já trabalhou como contra-espiã e infiltradora em várias missões para o nosso reino. É uma pessoa altamente competente e confiável. Deixo a palavra com ela, a partir de agora. - Termina Eldrick voltando ao seu assento.

- Olá para todos vocês. Como Eldrick disse, eu me chamo Yuri e fui contratada pelo povo daqui para ajudá-los a fazer a missão de reconhecimento da fronteira. - Yuri sorri olhando para todos. Ao passar mentalmente o seu olhar para Keitarô, ela fecha os olhos piscando de satisfação.

- (Yuri!)- Keitarô reprime um misto de ansiedade e surpresa dentro de si ao ver a sua ex-companheira de quarto e pivô de sua mais recente crise sentimental.

- (...) - Naru fica sem palavras ao ver a guia, mas pelo seu olhar desconfiado, tenta deduzir se a jovem loira não seria uma eventual competidora em potencial pelo amor de Keitarô.

- (Será que ela é sapatão?) - Com o seu senso de observação mordaz, Kitsune repara nas roupas masculinizadas e rústicas e na ausência de maquilagem da moça, que por sinal, tem um corte de cabelo estilo "tomboy", como o dela.

- (Uma mulher guerreira como eu... Do que ela será capaz?) - Motoko inconscientemente aperta o cabo de sua katana num misto de admiração e inveja.

Embora Yuri parecesse amistosa, a jovem samurai somente se sentiria segura depois que testasse as habilidades da desconhecida.

- (Nossa, como ela é bonita...) - Shinobu-chan sente o seu coração apertar ao reparar no rosto harmonioso e sem defeitos, os olhos vivazes e o porte atlético de Yuri. Embora o penteado fosse demasiado curto e não ostentasse nenhuma maquilagem, a jovem tinha um corpo quase escultural e uma beleza singular.

- (Ueba! Que visual... Será que a classe dela é Ranger/Assassina/Ninja?) - Tenta especular Kaolla ao analisar o incomum arsenal que Yuri carrega.

- (Que otária! Será que ela é tão boa assim como dizem?) - Sorri desafiadoramente Sarah. Era difícil para alguém conquistar à primeira vista o respeito e a afeição da temperamental americana.

- (Ara, Ara! Puxa vida, Tama-chan, nós temos uma nova amiga. Só espero que ela goste de tartarugas e de melancias!) - Comunica-se mentalmente Mutsumi através do seu elo psíquico com Tama-chan.

- (Mew! Mew!) - A pequena Tama parece concordar com o que Mutsumi diz.

O restante da reunião não teve muitas novidades.

Eldrick termina de fazer sua explanação, desejando boa sorte a todos e se retira, pois tinha outra reunião no conselho da cidade.

Após a apresentação do pessoal da pensão Hinata, Yuri se encarrega de explicar noções básicas de sobrevivência para o grupo.

Em seguida, marca um pequeno treino - após o almoço - no pátio do quartel para conhecer melhor as habilidades de Keitarô e sua turma.

Não era bem um treinamento militar, até porque não tinha tempo suficiente para adestrar o grupo, mas ela precisava conhecer o potencial de combate destes aventureiros que já fizera fama na cidade, ao derrotar Tarsius e seus monstros.

O que se segue foi extraído dos apontamentos pessoais de Yuri, transcritos em seu diário:

(Início do Trecho do diário)

Depois de uma rápida explicação, fiz um teste individual para ter uma idéia do potencial do grupo. Confesso que à exceção de três pessoas, eu fiquei realmente desconcertada (...)

Motoko Aoyama pareceu-me a mais experiente de todas, tanto em combate armado como no corpo a corpo. Ela se empolgou demais e tive que interromper o treino, pois a samurai queria lutar comigo para valer e havíamos estourado o tempo pré-estabelecido...

É mestre com a espada Katana, além de saber manejar muito bem o bastão de madeira e a adaga.

No treino de armas a longa distância, mostrou-se acima da média no manejo de arco e flecha, embora tenha me confidenciado que está mais habituada com o chamado arco daikyu que não conheço.

Ela sabe arremessar facas com precisão mortal.

Também é mestre na arte da luta desarmada, sendo superior a mim neste aspecto, e luta com lealdade e honra. Levei um belo tombo...

Algo me preocupa, porém. Não é o seu estilo ou sua técnica, que são bem apuradas, mas falta-lhe um pouco de "atitude" enquanto pessoa.

Ela irrita-se facilmente por pequenas coisas e tem a obsessão de provar que é a melhor, o que pode significar um problema em combates com adversários mais perigosos.

Tem tendência de lutar mais sozinha do que em conjunto.

Espero que nossos futuros inimigos não usem tartarugas! - Sem comentários.

A segunda pessoa melhor preparada chama-se Mac Dougal, em minha opinião. Parece-me que ela foi treinada desde cedo pelo seu pai adotivo, um tal de Professor Seta e conhece bem as artes marciais. É muito rápida e bastante forte para sua idade, preferindo o ataque à defesa.

Ela derrubou com facilidade dois bonecos feitos com sacos de areia usados como alvo e quebrou quinze tijolos com um golpe só.

Contudo, se tivermos tempo, preciso trabalhar bastante os aspectos de sua resistência física - cansa se rápido em combates intensos - e o seu lado psicológico, bastante agressivo (...).

Naru Narusegawa.

Ela é forte e percebi que tem mais ou menos o mesmo estilo de Mac Dougal, embora ela conheça poucas técnicas de luta. Tem bons reflexos e é ágil.

Contudo, continuo achando que o seu primeiro mestre cometeu um erro em passar as técnicas marciais sem muito critério.

Narusegawa possui um "Ki" negativo, baseado em emoções fortes, podendo se transformar num "Ki" assassino ao longo prazo, se não tomar cuidado.

Percebi isto quando ela ficou fora de si durante o treino de Keitarô com o bastão.

Infelizmente, ao treinar comigo, ele se desequilibrou e movimentou o cajado de um jeito que arrancou a blusa de Naru... O golpe foi tão rápido e violento que não tive tempo de impedir. Mas ela não irá me pegar surpresa da próxima vez.

Kaolla Su

Talvez seja a mais ágil de todas. Quem sabe tenha vocação para acrobata? É bastante forte fisicamente, apesar do corpo magro.

Trabalha muito bem com os pés, usando de chutes, fintas e saltos mortais. Tive que usar toda minha experiência para bloquear os seus golpes imprevisíveis.

Não me compete analisá-la como Tecnomaga, pois conheço pouco os poderes desta classe, mas ela parece ser uma usuária de magia promissora.

Por pouco não me pega com uma de suas invenções loucas! Eheheh.

Seria uma lutadora melhor que Naru se não fosse a sua tendência em subestimar o adversário e não levar a sério o combate, como se fosse uma brincadeira.

Seu Ki é baseado na vontade de viver, o que tem de monte.

Maehara

Embora seja clériga, ainda não aprendeu a agir como uma.

Ela não me parece ser forte e nem ágil, sendo fraca em magias de ataque como em combate.

Ela apavora-se fácil - mesmo numa luta de mentira - e sua resistência não é das melhores.

Já estava cansada logo após quinze minutos de teste, e tivemos que parar a pedido de Naru e das outras. Definitivamente não gosta de lutar, ficando na defensiva.

Como ponto positivo, destaco sua disposição em ajudar os outros e o seu espírito de equipe, o que faz ser uma boa companhia.

Contudo, ainda acho que teremos problemas. Tenho que pensar num jeito para que o grupo não fique sem uma clériga nos momentos críticos.

Otohime

É um caso singular. Como Sorcerer parece ter um grande potencial, isto é, se souber dominar suas magias. Por pouco ela não destrói a estrebaria e a torre da Igreja, que fica por perto...

Ela é algo atrapalhada e não tem boa coordenação motora, embora seja fisicamente forte.

Fiquei surpresa quando ela levantou uma bola de ferro sem saber do que se tratava, sem fazer força.

Não parece ter muita resistência física, tropeçando e caindo por pouca coisa, só que as meninas me contaram de forma privativa que ela já foi pior...

Semelhante a Keitarô, ela tem uma perseverança enorme.

Notei que ela age com um entrosamento muito bom com seu animal de estimação, a Tama-chan. As duas agem como se fosse uma só.

Mitsune

Tem uma cara de "vagaba" que prefere levar uma vida boa que pegar no pesado. Esta mulher tentou me enrolar para não entrar no treino usando os mais variados pretextos.

É uma negação em combate aproximado e depende muito de suas magias e apetrechos "mágicos" para lutar.

Contudo, ela é bastante esperta e pode ser um bom elemento surpresa se o grupo estiver entrosado. Ideal para infiltrações e coleta de informações.

Keitarô Urashima.

Em primeiro lugar fiquei admirada sua sinceridade e honestidade, já que mesmo antes do teste confidenciou-me que ele não nunca foi bom em esportes ou atividades físicas.

Fico imaginando em como garantir sua vida nos perigos que teremos que enfrentar, já que ele apanha fácil e possui agilidade e força bem abaixo da média.

Suas reações e reflexos são lentos e confusos.

Notei durante o treino que ele passou maus bocados com Mac Dougal, Aoyama, Su e Narusegawa, principalmente devido às suas trapalhadas. Parece que o azar o persegue constantemente.

Não conhece nenhum estilo de combate armado ou desarmado, mal sabendo segurar uma faca de cozinha direito.

Se valer a pena treiná-lo, estou pensando em primeiro melhorar a sua autoconfiança - que é instável - e depois ensinar a lutar com o cajado, já que esta é uma arma simples e eficaz para iniciantes.

De admirável mesmo somente a sua incrível capacidade de agüentar castigo físico... Nem mencionarei aqui o que ocorreu quando ele foi treinar combate desarmado e esbarrou na Aoyama... Sem comentários.

Tama-chan (?)

Inicialmente não pretendia fazer nenhum teste, julgando ser uma mascote normal. Até que o pessoal me disse que ela tinha habilidades especiais.

Antes do treino, notei que Aoyama estava muito nervosa - como se tivesse medo do bichinho - e só se acalmou quando ficou bem longe da gente.

Resultado: Não consegui acertar nenhum golpe neste ser. Nunca vi nada igual. Tama bloqueou meus golpes de nunchaku e espada curta, como se fosse um guerreiro veterano. Ela tem uma velocidade enorme e pelo seu diminuto tamanho, é quase impossível atingi-la.

Seria ela apenas uma tartaruguinha... Ou algo a mais?

(Fim do trecho do diário...)

A sequência de testes terminou por volta das cinco da tarde. Depois a Yuri conduziu a turma do Hinata Attack Team para comprarem os equipamentos e suprimentos necessários à viagem.

O pessoal aproveitou para reforçar o arsenal de alguma forma.

Sarah acabou pegando uma funda de arremesso e vários balotes de chumbo, para melhorar suas chances no combate à distância. O pobre Keitarô foi a sua primeira cobaia, da forma mais dolorosa possível.

Motoko estranhamente não pegou mais nenhuma arma nova, confiando em sua onipresente Shisui.

Embora na loja houvesse alguns tipos de dardos e facas de arremesso, ela decidiu que somente usaria uma arma de longa distância quando pudesse ter um legítimo arco Daikyu, uma das poucas armas "nobres" compatíveis com o verdadeiro espírito de samurai.

Contudo, adquiriu alguns papéis, tinta nanquim e um pincel para aproveitar criar alguns "fuuins" (papelotes sagrados com inscrições mágicas, usado por monges) nesta noite, antes de dormir.

Estes fuuins deveriam ser também energizados através de orações e um ritual de meditação, tornando-se capazes de liberar poderosas energias elementais. Embora fossem mais adequados para enfrentar espíritos malignos e criaturas morto-vivas, os papelotes eram também efetivos contra adversários de carne e osso.

Kaolla esperneou, implorou e finalmente conseguiu comprar um "kit" iniciante para Tecnomagos. Somente este kit custou um terço de todo o dinheiro da Yuri e dos outros.

O kit consistia numa maleta com um estranho conjunto de peças bizarras, cristais energizados e produtos alquímicos que podiam improvisar qualquer instrumento imaginável, sendo ideal para criadores insanos. Dependendo do conhecimento e das habilidades do inventor, poderia produzir uma obra prima ou uma geringonça cheia de defeitos imprevisíveis.

Shinobu não comprou nenhum tipo de arma nova para clérigos, por não gostar disto. Detestava violência e somente a contragosto empunhava um cajado para autodefesa.

Foi só com muita insistência que ela aceitou fazer um "upgrade" comprando itens de proteção como um anel e um bracelete que reduzia o impacto dos golpes sobre ela.

Ela ganhou uma bolsa capaz de acomodar pequenas poções de cura e outras similares. Só que ficou um pouco chateada quando Kaolla e Sarah zombaram dela, dizendo que a bolsa parecia uma lancheira do curso primário.

Mutsumi trocou o seu tosco cajado do início - danificado na luta contra Tarsius - por um báculo mágico no melhor estilo "Magical Girl".

Este báculo melhorava ligeiramente sua resistência contra magias inimigas.

Afora isto, Yuri convenceu-a adquirir um manto de proteção e um bracelete semelhante ao de Shinobu, que reduzia o dano causado pelos ataques inimigos.

Kitsune não comprou nenhum armamento novo. Ela achou que sua estranha Faixa de Enchanter era suficiente e não tinha interesse em aprender a manejar outro tipo de arma.

Se dependesse dela, gastaria a parte do dinheiro que lhe cabia em bebidas, só que Yuri praticamente obrigou-a melhorar sua defesa, adquirindo um manto de proteção que melhorava seus reflexos contra ataques físicos e um anel que a protegia um pouco de dano mágico.

Naru foi a que mais demorou na loja, a ponto de irritar Yuri, com suas constantes indecisões.

Após muita enrolação, ela optou por um par de luvas de combate que protegia suas mãos e ampliava o poder de ataque de seus socos.

Embora o item não fosse encantado, era muito melhor do que lutar com as mãos nuas.

Ela também adquiriu um conjunto de joelheiras e caneleiras, bem como botas que melhoravam a sua velocidade em combate, além de proteger suas pernas contra os ataques de seus inimigos.

Yuri adquiriu duas alijavas extras, vinte virotes de besta normais e vinte virotes encantados. Além disto, ela comprou para si alguns dardos de arremesso extra e um par de nunchakus.

O exemplar que ela possuía foi danificado durante o treino que teve com Motoko.

Embora fosse uma arma exótica para os padrões do mundo medieval aonde o pessoal de Hinata-Sou estava, o nunchaku era a arma oriental mais fácil de ser encontrada em lojas de armas, ao lado do cajado bo, por ser de fácil fabricação.

Embora não fosse encantado com magia, o modelo que Yuri escolheu era feito de madeira, mas com as pontas recobertas com ferro. A sua corrente era flexível, e se necessário, um nunchaku podia ser unido a outro, se transformando numa espécie de bastão de defesa.

Yuri somente usava o nunchaku contra inimigos resistentes ao corte de sua espada ou contra adversários que não estavam armados de armaduras e espadas, como malandros de rua, salteadores comuns e rufiões.

Mesmo um modelo feito de madeira era altamente perigoso e podia fraturar facilmente os ossos de uma pessoa com um golpe apenas.

Contudo, Motoko franziu o cenho ao ver Yuri fazer tal aquisição.

Como praticante de artes marciais, ela sabia que o nunchaku era pouco efetivo contra inimigos armados com espadas. Se fosse para se defender do ataque de uma katana sem recorrer a este mesmo tipo de arma, ela escolheria um par de kamas (foice curta japonesa), ou ainda um par de adagas "Sai" ou um cajado "Bo".

Yuri deveria saber disto, até porque no breve, mas violento treino, Motoko conseguiu inutilizar o nunchaku da jovem loira com um golpe executado com maestria. E teria vencido a luta se Yuri não tivesse sacado a tempo sua espada curta, no seu entender.

Mas como gosto é gosto...

Sem mais o que fazer, o grupo saiu da loja de armas e foi em direção à loja de roupas para aventureiros e em seguida para o armazém da cidade.

Escrito por: Calerom

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