Capítulo 23:

O PLANO DE KITSUNE!

Enquanto Yuri, Naru, Motoko e Keitarô espionavam o acampamento, o restante do grupo estava negligenciando a função de vigiar os arredores, como havia sido combinado.

Todas as garotas restantes estavam grudadas na telinha, assistindo as imagens transmitidas pela bola de cristal inventada pela aloprada Kaolla.

O que parecia ser um mero passatempo para espantar o tédio, transforma-se em drama quando as garotas notam a entrada do vigia orc na cabana onde o quarteto estava escondido, registrando os acontecimentos.

- O quêêê!... - Com um grito uníssono, Kitsune, Mutsumi, Shinobu, Kaolla e Sarah testemunham o momento em que a Naru faz Keitarô tropeçar no vigia orc, pondo tudo a perder.



Em instantes a desigual luta transmitida pelo singular aparelho termina e as garotas ficam chocadas ao verem Motoko cair trêmula de medo no chão, Naru inconsciente, e finalmente, Keitarô e Yuri se rendendo aos humanóides esverdeados.

Sem que nada possam fazer, o grupo testemunha a captura e a posterior prisão de seus amigos e o triunfo do mal.

- Sempai, Não! NÃÃÃOOO!!! - Grita chorando a jovem Shinobu ao ver Keitarô ser agredido por um dos guardas de Grommir, após terem sido capturados.

- Oh, Shit! - Exclama uma atônita Sarah Mac Dougal ao ver a enorme estatura do gigantesco Grommir e a facilidade com o qual ele aterrorizou a valente Naru.

- Ara, Ara, o que iremos fazer? - Pergunta, preocupada, a Mutsumi, ao ouvir a "proposta" de casamento feita a sua amiga pelo orc. Nem quando o local aonde ela havia se mudado para prestar vestibular foi destruído num incêndio em pleno ano novo, ela sentira nada igual.

- É, gente... Pelo visto, preciso buscar mais uma vez a minha inspiração genial para salvarmos aqueles quatro... - Pondera Kitsune tentando manter a calma.

- É isto aí, não dá para a gente ficar esperando eles virarem comida de Worg e a Naru se casar com aquele gorila verde! - Exclama Kaolla desligando a bola de cristal e se preparando para pegar o seu kit de inventor Technomago.

- Mas, gente, como iremos fazer isto se até a Motoko-san foi derrotada? - Pondera Sarah.

- Bem, não sabemos ao certo como iremos entrar lá e como iremos resgatá-los. Mas nós temos uma chance. Aqueles bichos não irão machucar nossos amigos enquanto os preparativos do "casamento" da Naru não estiverem concluídos. Estou achando que até a noite, eles estarão seguros. - Responde Kitsune botando sua esperteza para funcionar.

- Não... Keitarô-sempai... Naru-sempai... Motoko-san, Yuri-san, chuif... Não quero que eles morram! - Shinobu se esforça para enxugar suas lágrimas.

- Não chora não, Shinomu. A gente vai salvar todos e ainda dar um couro naquele boiola do Finneas e nos orcs. Eu, Kaolla Su, prometo!

- Mas... Mas... Como iremos até lá? - Pergunta a jovem Maehara.

- Não chore, Shinobu-chan. Tenho certeza que sairemos desta. - Mutsumi resolve consolar a jovem adolescente.

- E se... - A mente da Shinobu estava envolta por pensamentos conflitantes e sombrios.

- A gente já passou por coisas assim na Ilha Pararacelso. Nem o deserto, nem as tartarugas selvagens puderam nos impedir de reencontrarmos Keitarô-kun e a Naru-chan...Vamos dar o melhor de si para vermos os nossos amigos de volta. - Fala Mutsumi com o seu proverbial otimismo.

- Mas... Eu... Eu... Não sei como posso ajudar! Snif... Eu sou uma menina chorona, desastrada e azarada! Não sou uma guerreira como a Motoko-chan e nem uma aventureira experiente como Yuri-san!... - Shinobu tenta inutilmente vencer o seu desespero crescente.

- E nem nós somos, Shinobu, mas daremos um jeito para encontrar todos os quatro e salvá-los dos orcs. - Responde Kitsune afagando os cabelos negros da adolescente ginasial.

- É isto aí, Kitsune! - Concorda Kaolla.

- A Kitsune está certa! Vamos ter que agir! - Pela primeira vez, Sarah admite que Kitsune não era tão tapada como imaginava.

- Mew! Mew! - Tama-chan está decidida a salvar a sua dona.

Numa rápida votação, os remanescentes do grupo H.A.T. escolhem a Kitsune como líder provisória, Kaolla como engenheira-chefe, Shinobu como cozinheira-mor e encarregada dos suprimentos, Sarah como mestra de armas, Mutsumi como assessora mágica e finalmente Tama-chan como guia.

Enquanto a jovem de Osaka troca idéias e planeja um plano radical e desesperado, Kaolla e Sarah trabalham freneticamente usando o kit de inventor do tecnomago e outros apetrechos que a jovem estrangeira tinha em suas mochilas.

As horas passam e por volta do meio-dia, Kaolla e as meninas terminam de empacotar todo o arsenal necessário para invadir a fortaleza, colocando-os nos burros de carga que Yuri havia trazido.

Numa tenda improvisada com lençóis, o grupo faz uma ligeira refeição para matar a fome e beber um pouco de água, enquanto trocam os últimos detalhes.

Shinobu já havia superado a sua tristeza e pessimismo ao fazer o pequeno almoço. Pelo menos, ela estava se sentindo útil.

A esta altura, somente havia reservas de comida para a viagem de volta - isto caso o pessoal sobrevivesse - e ninguém estava com muito apetite.

Em compensação, elas encheram todos os cantis restantes com água, inclusive os do pessoal que foram capturados.

Finalmente, a equipe de resgate Hinata parte, preparada para o tudo ou nada. Ao invés deles irem pela fenda usada pela Yuri e os outros - Kitsune resolve contornar o platô, por causa dos animais, que não passariam pela estreita passagem. Os burros de carga faziam parte da estratégia suicida idealizada por ela e Kaolla.

A menos de um quilômetro da entrada frontal, todas se encolhem de medo atrás de umas rochas, ao verem uma patrulha orc vigiando os arredores, montada em lobos gigantescos e ferozes. Por sorte Kitsune havia passado um de seus pós em todo mundo para ocultar a sua presença magicamente.

- E agora, como iremos passar por aqueles monstros? - Sussurra a jovem Shinobu.

- Ah, tô de saco cheio destes bichos. Vamos detoná-los... - Opina a impetuosa Sarah, em voz baixa, mas ávida de ação.

- Não, esperem. Olhem lá! - Exclama Kitsune.

Uma nuvem de poeira se levanta no horizonte. Ela vai tornando-se maior à medida que se aproxima do platô. Saindo da nuvem, distinguem-se as figuras de trinta ou quarenta cavaleiros bem armados protegendo uma carruagem e várias carroças repletas de carga. No final da singular caravana, seguiam algumas máquinas de guerra, como catapultas e lançadores de dardos gigantes.

- Putz, agora a coisa ficou complicada... - Comenta a jovem de Osaka.

- Ara, quem são estes caras? - Pergunta Mutsumi ignorando a procedência da caravana militar.

- Mew, mew, mew.

- A Tama está dizendo que são os homens do barão de Khazar. E aposto que aquele pilantra deve estar naquela carruagem blindada! - Responde Kaolla.

- Ué, Kaolla, você também entende tartaruguês? - Indaga Shinobu.

- Podemos dizer que os longos anos de convivência fizeram com que a gente conhecesse bem uma a outra, né, Tama? - Kaolla acaricia Tama-chan, lambendo os beiços como se estivesse com fome.



A pequena tartaruga nada responde, apenas com uma gotinha de preocupação em sua cabecinha.

Vendo o cortejo de Khazar atravessar lentamente os postos de guarda fortificados do platô, Kitsune e os outros desistem de passar no momento. Realmente os homens do barão eram bem mais armados e equipados do que os guardas de Grommir, e o H.A.T. - desfalcado - não seria páreo para eles e os vigias orcs em combate aberto.

Os minutos passam e a impaciência do pessoal aumenta. Kitsune estava pensando em mudar de tática, quando...

- Olhem, outra caravana! - Comenta baixinho Sarah.

Diferentemente do comboio de Khazar, esta caravana era de negociantes do Deserto que vinham para a aldeia dos orcs comercializar e traficar.

Além dos guias e de guardas montados em camelos, havia também mercadores de quinquilharias diversas, músicos, saltimbancos, palhaços e odaliscas que tinham a tarefa de entreter os "anfitriões" enquanto os mercadores negociavam.

Como foi dito, os orcs apenas poupavam as caravanas dos habitantes vindos de El-Quattara, por questões de conveniência.

Primeiro, para honrar o trato feito com o Barão de Khazar, que lucrava com os comerciantes do deserto, ao mesmo tempo em que prejudicava a guilda de Smallville.

E depois, porque os orcs não queriam que o povo do deserto se transformasse numa ameaça às suas costas. Eles podiam ser bons negociantes, mas sabiam ser também vingativos.

- Eheheh... Acho que tive uma idéia genial de como entrar naquele lugar! Mutsumi, Shinobu, me ajudem a descarregar algumas coisas... - Sorri Kitsune ao visualizar as roupas exóticas dos mercadores e a sensualidade das odaliscas.

- O que pretende fazer, Kitsune-san? - Pergunta Shinobu.

- Nós iremos entrar de primeira classe naquela aldeia fajuta sem disparar um só tiro! - Responde a esperta jovem fazendo um V da vitória com sua mão.

- Como? - Shinobu ainda não entende a sua amiga.

Minutos mais tarde, logo após o último camelo da caravana dos nômades ter passado pelo posto da guarda, um entediado oficial orc se prepara para fechar a cancela de acesso. Seu nome era Blog e ele estava acompanhado por mais oito soldados de vigia.

Por puro azar, era o seu dia de guarda e ele teria que ficar na entrada até à meia noite, não podendo participar das festividades do recém anunciado casamento do Grande Líder Grommir e da celebração da aliança com os humanos do outro lado da fronteira.

Arrancando um grunhido de frustração, Blog sente que irá perder um banquete feito com carne de suculentos porcos e carneiros selvagens, e acompanhado com o mais puro aguardente orc - cuja lenda reza ser capaz de matar um elfo somente com um gole.

Quem sabe, ainda sobrasse tempo para ver o sofrimento e a agonia dos humanos que foram capturados no poste das torturas.

Afora as raras festas coletivas aonde eram distribuídas comida e bebida de graça, as poucas opções de lazer existentes entre os orcs consistiam em contar vantagem, jogar apostando seus bens, armas e até suas mulheres, brigar, falar mal dos outros, torturar prisioneiros e assistir a execução de condenados à morte.

Na época de Dralok, existia um esporte chamado Gûdukk - semelhante ao futebol americano - aonde duas equipes de guerreiros disputavam a posse de uma bola, ou melhor, de uma cabeça decapitada de um humano.

Só que, por não haver juízes e nem ter regras claras - os inventores do singular esporte não primavam pela inteligência - as partidas acabavam em verdadeiras pancadarias com grande saldo de mortos e feridos. Por motivos óbvios, esta prática acabou sendo abolida, pouco restando em termos de "lazer".

De repente, os olhos avermelhados de Blog vêem um estranho cortejo, composto por dois burros de carga carregando enormes pacotes, cinco pessoas e uma tartaruga voadora (?)

A bizarra caravana era liderada por um guia baixinho bigodudo de pele morena, semelhante às tribos do deserto, mas com o cabelo loiro (?).

Em seguida vinha uma moça morena com olhos de raposa e toda vestida com panos brancos à moda nômade.

Atrás vinham uma odalisca toda branquela e sorridente e dois anões mascarados portando cimitarras.

- Ei, vocês aí! Parem! - Grita rudemente o oficial Blog, desconfiado. Ele só mandou o grupo parar, por causa do precedente de duas caravanas terem cruzado o portão há pouco. Se fosse num dia qualquer, aonde não eram esperadas visitas, ele teria mandado os arqueiros atirarem.

- Hello. Shalom, bom dia, Ohayô-gozaimassu. Mim serrr Ali Rallah Sfirrah e estes serrrr minhas acompanhantesss... - Fala Kaolla tentando fazer um sotaque exótico, sem muito sucesso.

- O que fazem aqui? - Indaga o estúpido humanóide, que não era brilhante em termos intelectuais.

- Nósss fazerrrr parte da caravana que chegarrr em sua aldeia, mas chegarrrr um pouco atrasadossss... - Continua tagarelando a improvisada guia de viagem.

- Hummm... Atrasados? Bem... Vou averiguar com o mestre das caravanas de vocês. - Responde Blog não totalmente convencido.

- Não haverá necessidade para isto, meu belo e valoroso guerreiro. - Sussurra toda insinuante Kitsune, vestida à moda árabe. Os seus seios volumosos se distinguiam por trás daqueles panos e balançavam provocantemente quando ela começou a andar.

A astuta garota se aproxima do abobalhado soldado orc rebolando e se insinuando junto a ele. Os outros soldados que estavam por perto se aproximam, como moscas atraídas pelo mel, apreciando avidamente a cena.

Mutsumi tampa oportunamente os olhos da inocente Shinobu Maehara.

Totalmente abobalhados pelas poses sensuais que Kitsune faz, os orcs não desconfiam de nada, até que ela assopra um pozinho mágico no rosto dos monstros, pegando-os de surpresa.

Era um pó amarelo que reduzia a capacidade de percepção e de raciocínio dos inimigos afetados, a ponto deles acreditarem em praticamente tudo.

Antes disto, Kitsune havia usado em ela mesma o pó azul que aumentava seu carisma e habilidade para convencer os outros.

- Dããã... Não consigo pensar direito, acho que deve ser este maldito calor... Tudo bem, homens, deixem a garota e seus acompanhantes passarem. Da próxima vez não cheguem atrasados, ouviram! - Fala Blog, sentindo sua cabeça mais leve do que nunca.

- Obrigado, moço! - Kitsune se aproxima de Blog e reprimindo uma careta de nojo explícito, dá um selinho no rosto verruguento do orc, deixando-o extasiado, para tornar a farsa mais convincente.

Após afastarem-se do posto da guarda, a caravana liderada por Kaolla e Kitsune sobe a rampa que dá acesso à aldeia. Por sorte, não havia mais sentinelas por perto.

- Grande Kitsune! Ainda bem que este plano deu certo! - Comenta aliviada a Kaolla.

- Hehehe! Como sempre, sou genial! Ainda bem que aqueles lençóis todos, os apetrechos da Kaolla e o meu estojo de maquilagem ajudaram a compor os disfarces...

- Mas, Kitsune, como vamos explicar o fato da Mutsumi ser tão branca se todas as odaliscas que nós vimos eram morenas? - Pergunta uma temerosa Shinobu, disfarçada de anão. Ela aparentava estar mais "gorda", porque carregava dentro do disfarce algumas armas e um pouco de comida para o pessoal que foi capturado, junto com a Mutsumi.

- É uma pena que não tenhamos comprado mais estojos de maquilagem... Deixa para lá. Qualquer coisa, diremos que a Mutsumi era uma escrava exótica de um país distante... - Responde a astuta jovem de Osaka, que havia feito as compras às escondidas, contrariando Yuri.

- Hihihi... A Kitsune tem uma imaginação e tanto!... - Comenta Mutsumi.

- Pó, Kitsune, até o fato de você e da Kaolla disfarçarem de árabes, eu entendo, mas era preciso eu e a Shinobu ficar com estes trajes ridículos? Estou parecida com o Mister Popo! - Tenta protestar Sarah, tentando segurar a calça no estilo "guarda de harém", que ficou demasiado larga para ela.

- Bem, não é culpa nossa, Sarah. No kit de disfarces da Su somente tinha estes trajes. - Explica Kitsune.

Após a breve discussão, o grupo finalmente entra na aldeia orc propriamente dita. Como os outros, elas ficaram totalmente impressionadas com a enormidade do lugar.

Por toda parte se viam orcs de todos os tipos e tamanhos, a grande maioria, do sexo masculino. Apenas algumas poucas mulheres e crianças desta raça primitiva andavam nas ruas.

Na área central podiam se ver os membros da caravana de El-Quattara negociando e fazendo suas performances para os humanóides, enquanto os homens de Khazar descarregavam suas carroças repletas de alimentos e armas, com uma precisão militar.

- E agora, boss? - Pergunta Sarah em voz baixa.

- Vamos ter que descolar algumas informações até acharmos onde Naru e os outros estão. Vejamos... Su: Você, a Sarah e a Tama-chan vão para a direita enquanto eu, a Mutsumi e a Shinobu iremos pela esquerda. - Explica Kitsune, tentando dar ordens da melhor forma possível. Embora ela fosse mais de agitar a turma do que liderar, desta vez Mitsune Konno não tinha escolha.

- Certo, agente Kitsune. - Sarah bate continência.

- Cuidem-se, meninas. Se encontrarmos alguma coisa, iremos nos reunir de novo neste lugar daqui a duas horas. - Feito isto, Kitsune se despede do pessoal.

Depois de posicionar os burros de carga nos locais previamente combinados, Kaolla, Sarah e a pequena Tama - devidamente escondida no turbante da americana, andam pela enorme praça central dos orcs, transformada numa espécie de mercado.

Apesar do disfarce pouco convincente, ninguém presta atenção a elas. As duas já estavam caminhando há algum tempo quando Kaolla e Sarah vêem uma aglomeração incomum.

- Ei, agente Mac Dougall e agente Tama, olhem lá! - Aponta a estrangeira de olhos verdes.

- Great! Quem sabe lá possamos obter informações sobre o paradeiro deles!

- Mew.



O grupo se aproxima, mas nada é o que parecia ser. Vários soldados e trabalhadores orcs estavam disputando a tapas alguns pedaços de churrasco de porco selvagem na brasa, que parecia ser suculento para a faminta Kaolla.

- Hummm... Acho que vou experimentar. Ei, pessoarrr me dárrrr licenççça que estarrrr commmm pressa. - Sem pensar nas conseqüências, Su se adianta e vai pegar um pouco de carne.

- Hummmm... Acho que não é uma boa idéia... - Comenta Sarah, reprimindo sua fome.



Kaolla consegue pegar um espeto de carne e dá uma mastigada. Só que se arrepende de sua gulodice. A carne do singular aperitivo estava muito mal-passada e apimentada demais até para o seu paladar de avestruz.

- Iiiiikh! Ardidddo, Estarrr ardiddddo! - Exclama a gulosa aventureira, sentindo um fogo passar pela sua garganta.



Mais rápido do que um raio, Kaolla se atira num bebedouro de animais, tomando mais de meio litro de água. Sarah e Tama ficam com aquelas gotas enormes de constrangimento na testa.

- Ei, mercador, está sentindo-se bem? - Pergunta casualmente um mercenário a serviço do Barão de Khazar, que estava passando no local para dar de beber aos cavalos.

- Eheheh, já passarrr, dorrr. Eu deverrrr terrrr pêgo um churrasquinnnn light...- Comenta Kaolla, usando seu pseudo-sotaque árabe.

Ao tirar o rosto do bebedouro, o mercenário fica com uma cara de espanto. Metade do rosto de Kaolla estava desbotado e o enorme bigode estava torto.

- Argh! O que aconteceu com o seu rosto? - Pergunta o soldado, com uma expressão idiota em sua face.

- Nadda naummmm... Apenas um desarranjjo intestinnnal temporrárrio... Kaolla - mais do que depressa - vira o rosto e ajusta o seu disfarce com as mãos.

-

O mercenário fica com uma cara de tacho e fica imaginando o que poderia ter acontecido enquanto Su volta junto com Sarah e Tama, sem ligar para sua reação.

Minutos mais tarde, Kaolla, Sarah e Tama entram numa caverna mal-iluminada e bastante profunda. Vários equipamentos em lastimável estado e carrinhos de carga indicam que elas estão numa mina de ferro, uma das várias que os orcs utilizam para encontrar matéria-prima.

Andando cautelosamente, o trio mirim da equipe de resgate Hinata caminha por uma das galerias até que enxergam uma luz forte. E se assustam com o que enxergam embaixo.

Cerca de dez homens esfarrapados trabalhavam retirando minérios de ferro e pedra da mina. Todos estavam no limite da exaustão e em precárias condições. Eles estavam sendo vigiados por uma equipe de seis soldados e um feitor armado com um chicote longo.

- Olhe, agente Su, aqueles devem ser os escravos dos orcs. - Sussurra Sarah no ouvido da sua amiga.

- Nyaaaa... Que caras... Devem estar sem comer faz tempo... - Kaolla fica impressionada com a magreza e o aspecto debilitado dos prisioneiros.

- Mew! Mew! - Concorda Tama-chan.

Naquele instante, um dos escravos, um homem de cabelos grisalhos, bigode e que aparentava ter mais de cinquenta anos, tenta empurrar um pesado carrinho lotado de pedras, mas as forças lhe faltam. Estava há várias horas sem comer e descansar, além de ser submetido a castigos desumanos. Ele desfalece e tropeça, machucando-se na queda.

- Verme humano! Levante-se ou vai se ver comigo! - O cruel feitor dos orcs fustiga o pobre homem com o seu chicote.

- Não, por favor! - o escravo tenta inutilmente implorar por piedade. Os outros nada podem fazer, sob a mira das armas dos soldados.

- Está querendo me enrolar com suas desculpas? Seu preguiçoso! Tome isto! - O Feitor se prepara para dar uma chicotada bem forte no rosto do escravo, a ponto de arrancar-lhe a pele, mas...

- Pare de maltratar o pobre homem, rolha de poço! - Grita uma voz de menina.



Indignada com tamanha demonstração de crueldade, Sarah saca a sua funda e lança um projétil de chumbo que acerta em cheio o feitor orc. Embora ele pudesse ser suficiente para rachar a cabeça de um humano, apenas machuca o grosso couro cabeludo do humanóide, que grita:

- Guardas! Intrusos!

- Ueba! Finalmente um pouco de ação! - Exulta Kaolla.

- Mew! - Tama parece concordar.

Os orcs avançam para pegar a Kaolla, enquanto o feitor tenta castigar novamente o pobre escravo indefeso. Contudo, a Tama-chan investe velozmente contra o cruel capataz e colide com toda a força na barriga do monstro, como se fosse um foguete, arrancando-lhe um grito de dor.

Sarah atira outro projétil de chumbo no capataz, desta vez nocauteando-o. Os cativos param de trabalhar e uma tênue esperança preenche o coração deles.

Quando o primeiro soldado orc se aproxima, Kaolla corre em direção a ele e antes que o monstro a acerte com a sua espada, a jovem morena dá um salto que culmina num poderoso chute direto no focinho do monstro.

E a jovem estrangeira encerra sua combinação com uma rasteira violentíssima no mesmo instante em que toca o chão, derrubando o soldado que a atacara.

Sarah é imediatamente cercada por dois orcs, um armado com uma espada curta e outro com uma lança, que acreditam estar diante de um alvo fácil.

Sem se intimidar, a americana sorri e desvia-se das investidas dos dois soldados, revidando em seguida.

O primeiro agressor é atingido pelo legendário soco de uma polegada do Jet Kune Do, que o joga longe no paredão da mina, quebrando todas suas costelas.

O outro orc tenta acertar Sarah, mas ela se desvia e sem se importar com o bloqueio, dá um rápido golpe com o cotovelo na altura da barriga.

Mal a horrenda criatura larga a sua arma, a pequena guerreira dá uma sequência de três socos rápidos e finaliza com um chute no queixo.

Os três orcs restantes hesitam, enquanto o feitor dolorosamente tenta se levantar, após o ataque da Tama.

O primeiro orc sobrevivente tenta atacar Tama-chan, mas a pequena tartaruga é um alvo difícil de ser acertado. Voando rasante, ela morde o calcanhar do monstro, que tropeça em suas próprias pernas, quebrando uns dentes na queda.

O segundo soldado remanescente investe contra Kaolla, mas ela desfere um poderoso chute estilo "Facão" que atordoa o humanóide verde, fazendo-o cambalear e recuar.

Mal toca o solo, Kaolla saca o seu bastão de tecnomaga - que surge do nada - e eletrocuta o ser esverdeado com uma potente descarga elétrica. Ela deliberadamente estava evitando soltar suas magias para não atrair a atenção dos guardas que estavam de fora, além de economizar suas energias para o ataque decisivo quando fosse resgatar seus amigos.

O último soldado decide fugir para alertar os outros, só que um dos escravos o derruba com uma pedrada bem certeira.

Mal o orc consegue se levantar e é massacrado imediatamente por uma voadora seguida por uma rasteira dupla da Sarah.

Cheio de ódio, o feitor tenta penosamente pegar o seu chicote, mas Kaolla o impede com uma Magic Arrow que o atinge em cheio.

Gemendo de dor, o gigantesco orc apenas tem tempo de ver os escravos atirando pedras contra ele, vingando-se dos maus tratos recebidos.

Ele tenta se erguer, mas Tama-chan dá o golpe de misericórdia, voando na sua velocidade máxima e fazendo colidir seu resistente casco no peito do carrasco.

Com os olhos esbugalhados, o obeso capataz cai para não mais acordar. O escravo que estava sendo castigado vinga-se das chicotadas recebidas dando um golpe com uma picareta direto no crânio do monstro, que morre na hora. Ninguém iria lamentar-se por ele.

Tama voa para um lugar seguro, enquanto Kaolla e Sarah terminam o serviço, pondo fora de combate os soldados ainda conscientes.

- Graças a Deus, vocês nos salvaram destes monstros! - Agradece o cativo mais velho em nome de todos. Em instantes, Kaolla e Sarah libertam os demais presos usando as chaves do feitor orc.

- Tio, quem são vocês? - Pergunta Kaolla sorrindo inocentemente.

- Meu nome é Greg e fazíamos parte das caravanas que foram atacadas por estes malditos liderados pelo Grommir. Os soldados que faziam a escolta foram mortos e nós - os sobreviventes - fomos mantidos como prisioneiros para trabalharem nestas minas. - Responde o prisioneiro salvo pela Sarah.

- E o pior é que sabemos que os orcs estão aliados ao pérfido barão Khazar! Eles estão trocando o saque das caravanas por armas e escudos fornecidos pelo nobre! - Diz outro prisioneiro, mais jovem, de nome Theleus.

- Somente vocês estão presos ou existem outros prisioneiros? - Indaga Sarah, um pouco mais tranqüila, ao notar que Greg deveria ser ou americano ou inglês, não somente pelo nome, mas pelo sotaque e aparência geral.

- Só a gente. A maioria infelizmente foi morta durante o ataque. - Responde o senhor de meia idade, com certo pesar.

- Existem mais soldados aqui, fora os que derrotamos? - Continua Sarah.

- Não. Eles trocam de guarda de oito em oito horas. E o turno destes acabou de começar agora. Eles somente perceberão a ausência deles daqui a oito horas. - Responde Greg.

- E vocês viram uns quatro prisioneiros que foram pegos hoje de manhã? Trata-se de uma garota loira, outra ruiva, uma terceira com cabelo preto comprido e um japonês com cara de trouxa. - Desta vez, é a Kaolla que pergunta.

- Não, não vimos. Se foram pegos, não foram trazidos para cá. Eles devem estar no calabouço. - Responde Greg.

- Calabouço? Isto é alguma coisa para comer? - Estranha Kaolla.

- Existe uma espécie de cadeia reservada para prisioneiros importantes. Ela fica numa caverna no lado oposto do interior do platô. - Explica Greg, meio que desconcertado.

- Então vamos nesta! A gente veio para salvar os nossos amigos, mas se vocês quiserem, podemos libertá-los também. Peguem as armas dos orcs mortos e esperem a gente aqui. - Explica Sarah, demonstrando uma inteligência acima do normal para uma mera menina de dez anos.

- Mas como? Mesmo que peguemos estas armas e unamo-nos a vocês, são centenas de orcs... Não temos como escapar daqui com vida. - Tenta argumentar o prisioneiro de nome Theleus.

- Eheh... Fica frio, tiozinho. Nós estamos preparando uma bela surpresa para estes gorilas verdes... O esquema é o seguinte. Esperem pelo nosso sinal no final da tarde. Quando escutarem uma grande explosão, saiam da caverna. Vamos dar cobertura a vocês e tentaremos chegar na estrebaria. Então fugiremos todos juntos... - Propõe Kaolla, explicando parte do que foi combinado com a Kitsune e adaptando o plano para incluir os recém-descobertos prisioneiros.

- Mas... Como pretendem derrotar os homens de Grommir? - Pergunta outro prisioneiro.

- Confiem na gente. Nós não iríamos arriscar nossas vidas aqui a troco de nada. - Completa Kaolla fazendo um sinal de positivo.

- Bem... neste caso, não temos nada a perder. De qualquer maneira, vamos vender caro nossa pele. Faremos o que pediram. - Responde Greg.

- Aqui estão duas poções de cura e um cantil de água. Repartam entre si e aguardem o nosso sinal. - Entrega Sarah as preciosas poções para o infortunado grupo de cativos.

- Boa sorte e que Deus os ajude. - Agradece Greg.

- Valeu tio! - Sorri Kaolla.

- Bye, Bye. - Despede-se Sarah.

- Mew. - Idem, Tama.

- Garotas muito loucas... - Exclama um prisioneiro enquanto coloca na bainha uma espada pertencente a um soldado orc derrotado na bainha.

- Sim, mas são corajosas. - conclui Greg.

Escrito por: Calerom

myamauchi1969@yahoo.com.br

Revisado em 14/10/2003