CAPÍTULO 24
O BARÃO DE KHAZAR.
Enquanto Kaolla e Sarah retornam para se juntar às outras, Kitsune, Mutsumi e Shinobu andam pelo movimentado pátio em busca de pistas do paradeiro de Yuri e dos outros. Até que elas escutam o comentário de dois oficiais orcs.
- Mal posso esperar para ver aqueles malditos intrusos no poste da tortura hoje a noite, Dreg. - Diz um dos orcs, conversando animadamente com o seu amigo.
- Sim, Gajuk. Hoje iremos nos divertir muito! O líder Grommir vai se casar, adivinha com quem? - Sorri maliciosamente o outro oficial.
- Quem será a felizarda? - Pergunta, intrigado o comandante orc.
- Uma humana ruiva de cabelos compridos que foi capturada hoje de manhã com uns abelhudos! Pelo que eu sei, eles estão na velha prisão da parede leste!
- Heh! É bom que ela seja "quente", mesmo! Nosso líder não se contenta apenas com duas ou três numa noite, não! - Malicia o humanóide, sorrindo com maldade.
- Já estou sentindo pena do traseiro dela! Ela me pareceu ser meio magrinha. - Responde o outro, fazendo um gesto como se descrevesse o corpo de Naru.
- Imagine então quando ela dar à luz a lindos meio-orcszinhos! Harharhar! - Gargalha o oficial, aludindo à terrível capacidade dos humanóides verdes se cruzarem com membros de outras raças, gerando híbridos monstruosos.
As garotas se afastam o suficiente dos dois oficiais para não serem ouvidas. Quando estavam a uma distância segura, Kitsune comenta:
- Puxa, então o pessoal está preso num calabouço e a coitada da Naru vai ter que casar com o maioral daqui?
- Aiiii, o que iremos fazer? Não podemos deixar isto acontecer! A Naru sempai não pode casar com um monstro daqueles! - Shinobu estava à beira do pânico e até a desligada Mutsumi percebe isto, fazendo um sinal com os dedos para que a garota fale baixo.
- Eu tive uma idéia, vamos encontrar a tal prisão e ver o que podemos fazer para libertar o Keitarô e os outros... - Sorri Kitsune.
- E quanto a Naru sempai? - Indaga Shinobu.
- Só vamos ter alguma chance de salvá-la com os demais. Na certa, ela deve estar com muita gente vigiando ela, se for verdade o que ouvimos. - Conclui Kitsune, com rara sensatez.
Enquanto Kitsune e as outras tentam se dirigir em direção ao calabouço; no interior de seu palácio, Grommir recebe o seu aliado humano, o Barão Khazar.
Acompanhado de Finneas e seis seguranças, o prepotente nobre adentra o tosco e bizarro palacete feito de pedra e adornado com enfeites e estátuas grotescas.
O líder orc está na sua sala do trono, conversando com alguns oficiais e protegido por vários guardas. Duas servas orcs - muito feias para o padrão de beleza humana - trazem-lhe comida e bebida.
O Barão Khazar era um homem ao redor de seus quarenta e cinco anos, de estatura média, um pouco obeso e com o tronco maior do que as pernas, curtas e grossas.
Ele era completamente careca, com um olhar semelhante ao de uma ave de rapina, nariz adunco e cavanhaque bem cuidado.
No momento, ele trajava roupas leves e confortáveis - devido ao calor intenso - e estava armado com uma espada longa encantada de fino acabamento, além de uma adaga ricamente ornamentada.
Além de ser cruel e prepotente, Khazar tinha vários outros traços detestáveis em seu caráter. Ele gostava de humilhar e desprezar outras pessoas e era especialmente vingativo se contrariado.
O barão já foi casado, contudo, os boatos diziam que sua esposa se suicidou, atirando-se do alto de uma torre do castelo por não suportá-lo.
Os poucos traços positivos dele eram o fato de ser um sujeito determinado, decidido e com boa capacidade de organização. O seu feudo era um dos mais bem administrados e militarmente preparados do reino. Contudo, até estas boas qualidades eram obscurecidas pelo lado negro de seu caráter.
Além de ter uma rivalidade quase perene com o seu rival, o barão de Strongald, Khazar era inimigo declarado de Smallville, tentando prejudicar a cidade de quase todas as formas.
Por várias vezes tentou tramar contra o conselho da cidade e já articulou a deposição do condestável Eldrick mais de uma vez. Só que todas as tentativas deram errado, devido ao fato da cidade ter apoios influentes na Corte de Arkadia.
Desejando dominar a rota comercial leste, Khazar chegou ao estremo de se aliar aos orcs, seus velhos inimigos. Ele sabia que estava correndo um grande risco, já que tal ato era quase uma alta traição ao Reino.
Contudo, ele planejava eliminar a oposição e consolidar o fato consumado antes que a corte interviesse contra ele.
Anexando Smallville ao seu feudo, Khazar dominaria por completo a rota comercial e com o seu poderoso exército mercenário, barraria as pretensões do seu rival de Strongald de fazer o mesmo.
Daí então, ele "repeliria" os orcs para além das fronteiras e ganharia as boas graças da Corte de Brightstone.
- Grande líder Grommir. Eu - o Barão de Khazar apresento-lhe minhas saudações. Como prometido, trouxemos algumas máquinas de guerra e armamentos para os seus homens executarem a segunda parte do plano. - Fala Khazar executando uma reverência hipócrita e fingida. Na realidade ele tinha vontade de cuspir no seu estúpido aliado. Mas isto precisava ser feito pelo bem da diplomacia.
- Seja bem vindo, valoroso aliado. Grommir te saúda e coloca à disposição os produtos dos saques às caravanas das duas últimas luas... - Responde Grommir sem sair do seu trono de pedra.
- Excelente. Bem, caro Grommir, eu fiquei sabendo através do meu lacaio Finneas que tem algumas novidades para me contar...
- Sim. Hoje de manhã capturamos alguns humanos abelhudos que estavam nos espionando. Eles estão presos no nosso calabouço e creio que você gostaria de ouvir algumas respostas interessantes... - Grunhe o gigantesco orc enquanto mastiga sem a menor etiqueta um pedaço de pernil de porco trazido por uma das suas servas.
- Hummmm... Isto é muito comprometedor... Contudo, os mortos não podem fazer mais ameaças. Vejamos o que eles têm de informações a dizer antes de executá-los esta noite.
- Também eu decidi me casar. A cerimônia será hoje a noite. - Grommir lambe os seus beiços de satisfação.
- Casamento? Que interessante... Quem seria a consorte?
- Uma humana ruiva que foi capturada com os aventureiros. Gostei muito dela. Ela parece ser noiva ideal para Grommir. - O tom de voz de Grommir se torna mais afável e menos brutal, ao pensar nas formas voluptuosas da ruiva.
- Não sabia que você apreciava a beleza humana, caro líder.
- Grommir achar mulheres humanas um pouco magrinhas, mas elas são muito lindas. - Grommir arrota ao terminar de beber um cálice de aguardente orc da pior qualidade - para os paladares humanos.
- Bem, se me permite, eu gostaria de ver os prisioneiros esta tarde.
- Como quiser, meu caro aliado. Eu também irei para mandar retirar a minha noiva para ser preparada adequadamente.
No instante seguinte, Grommir, Khazar, Finneas e mais alguns guardas orcs e humanos se dirigem à cadeia. O imponente cortejo chama a atenção das garotas, que o seguem de forma (quase) discreta.
- Ei. Acho que encontramos a pista certa. Aqueles figurões devem estar indo para a prisão onde Naru e os outros estão. - Repara Mutsumi.
- Vamos aproveitar a chance para entrar? - Pergunta Shinobu.
- Ainda não. Vamos espionar o que eles pretendem fazer e em seguida veremos como agir. - Comenta Kitsune.
Assim que Grommir, Khazar e os outros entram no calabouço, ouve-se uma série de ruídos inquietantes na cela aonde Yuri e os outros foram confinados.
Afora os dois vigias que estavam na porta, o carcereiro e mais quatro seguranças armados com clavas pesadas, não havia mais soldados guardando a prisão. Até mesmo porque ninguém costumava durar muito naquelas celas.
Minutos antes, Finneas havia ordenado a dois oficiais de Khazar fazer uma pré-sessão de tortura com os cativos, para amolecer a suas resistência.
Yuri, Motoko, Keitarô e Naru estavam desde a manhã sem comer e sem beber, além de estarem sentindo dores por todos os seus músculos, devido ao aperto das correntes e das algemas.
Como parte da tortura psicológica, os sequazes de Finneas trouxeram uma mesa cheia de guloseimas, comida e água fresca, colocando-a na vista dos presos, para estimular a delação.
Até o momento, os torturadores haviam pegado leve no pessoal, um se limitando a fazer o papel do "tira bonzinho" e outro do "tira malvado". Um vinha com as perguntas, apelos, propostas e falsas promessas enquanto que o outro vinha com ameaças e demonstrações de força.
Depois veio a parte da tortura "light". Keitarô foi o primeiro a ser escolhido, por causa de sua aparência "mole", recebendo alguns sopapos e socos na barriga.
Contudo, por mais que ele gritasse de dor, ele resistiu de forma inesperada. Os torturadores não sabiam que ele já recebera coisa pior por parte da Motoko e da Narusegawa.
Motoko estava com um olho roxo e dores intensas na altura do estômago. Ela havia levado alguns socos após ter cuspido na cada de um dos lacaios do barão de Khazar. E saíra-se bem no interrogatório, se recusando a falar.
Ainda bem que os seus algozes não tinham uma tartaruga por perto, o que seria mais efetiva como meio de tortura.
Yuri de longe foi a mais castigada. Estava com alguns hematomas no seu lindo rosto e com os braços e as pernas doloridas.
Um filete de sangue escorria de seus lábios. Os torturadores deduziram que ela era a líder do grupo e aplicaram nela um tratamento especial.
Mas ela não somente se recusou a falar, como desafiava os algozes, sabendo que eles não tinham ordens para fazer algo mais pesado (leia-se ossos deslocados, mutilações, unhas e dentes arrancados, etc.) até os seus superiores chegarem.
Somente Naru foi poupada, devido a ordens expressas de Grommir dela não ser torturada, mas ela estava muito traumatizada psicologicamente. Lágrimas escorriam de seu lindo rosto, tendo ela quase se desesperado ao ver a tortura infligida a seus amigos. E aquilo apenas era o começo.
Por muito pouco, ela não confessou o seu amor para Keitarô ao ver ele apanhando. E se não estivesse presa por aquelas correntes, a dupla sádica iria aprender uma lição.
Os torturadores param com a seqüência de castigos quando chegam Grommir e Khazar, acompanhado de seus guardas. O líder orc aponta para a Naru e se dirige para o carcereiro.
- Soltem-na! - Diz Grommir apontando para Naru.
Narusegawa, quase no ponto de desmaiar, é imediatamente libertada e algemada. Grommir se encarrega se pessoalmente carregá-la até o seu palácio, onde sua futura noiva será adequadamente vestida e perfumada para o casamento.
- Socorro, Keitarô! Solte-me, seu brutamontes! - Grita inutilmente a ruiva, dando débeis socos no ombro do Grommir.
- Nós teremos tempo de sobra hoje a noite para nos divertir, hehehe.
Enquanto o satisfeito Grommir leva a desesperada Naru, Khazar - acompanhado de Finneas, um oficial orc e dois seguranças humanos - entra na cela, falando de forma arrogante:
- Então vocês são os espiões... Pensaram ser capazes de me desafiar, não? Vou lhes mostrar o que significa enfrentar a ira do poderoso barão de Khazar! Muito bem, de onde vocês são e quem os contratou?
Ninguém responde. Irritado, o barão pergunta novamente:
- Pela última vez, respondam de onde vocês vieram e quem são os seus mandantes! Não serei tão piedoso se recusaram a falar!
- Ah, vai se danar! - Yuri responde, olhando de forma desafiadora.
A uma ordem de Khazar, um dos torturadores dá uma violenta pancada com um cassetete na barriga de Yuri, que geme de dor.
- Parem com isto, seus covardes! - Grita Motoko ao ver Yuri sofrendo.
Khazar não se intimida e se aproxima de Motoko, sorrindo sadicamente. Ele saca sua adaga ricamente ornamentada de brilhantes e a encosta no pescoço da guerreira, arranhando-o de leve, ao mesmo tempo em que a sua mão livre aperta um dos seus seios com brutalidade.
- Monstro! - Grita Keitarô revoltado com tamanha demonstração de crueldade.
- Hahaha, então temos um galinho aqui? Finneas, aplique-lhe um tratamento especial para este fracote! - Sorri Khazar, mostrando a sua boca cheia de dentes de ouro.
- Como quiser, milorde. - Adianta-se Finneas.
Finneas concentra-se e de seus dedos saem faíscas elétricas que atingem Keitarô, causando-lhe choques e muita dor. Ele sofre muito, mas isto não era nada comparável aos choques que costumava levar das invenções da Su.
- Use mais força, Finneas! Este idiota não quer falar! - Impacienta-se Khazar, começando a ficar impressionado com a resistência de Keitarô.
- Proponho mudarmos de tática, milorde. Se eu intensificar a carga, ele será simplesmente carbonizado! - Finneas também fica surpreso.
- Tem alguma coisa melhor? - O barão olha com desprezo para o mago.
- Uma magia simples e eficaz. A "Visão da Verdade". - Finneas explica didaticamente.
- Por que não usou esta porcaria antes? Faça isto agora, antes que seja tentado a arrancar o couro destes imbecis! - Resmunga Khazar, mostrando sua prepotência ao seu suposto assessor.
Contendo a sua raiva e fazendo gestos cabalísticos, Finneas lança a magia na Yuri.
A "Visão da Verdade" era uma magia de adivinhação versátil. Podia obrigar a uma pessoa responder perguntas estando impedida de mentir ou distorcer fatos, revelar acontecimentos recentes, encontrar pistas sobre o paradeiro de pessoas ou objetos desaparecidos ou mostrar detalhes de uma área fora do alcance visual do seu conjurador.
Ela também podia ser usada em combate, desfazendo criaturas mágicas animadas por ilusões, bem como anular várias defesas usadas por ilusionistas, sendo o flagelo desta escola de magia.
A princípio, Yuri resiste, mas a tortura mental é grande demais, e sem um encantamento ou talismã de proteção para protege-la, ela começa a ceder, falando informações como se estivesse drogada. Khazar e os demais ouvem tudo, com visível satisfação.
Terminada a dolorosa confissão, o oficial orc que acompanhava Khazar pergunta:
- Posso mandar matá-los agora? - Diz ele, ansioso para ver mais sangue.
- Não! Uma morte rápida seria pouco para eles! Quero que todos aprendam o que significa desafiar o barão de Khazar! Hoje à noite, após a cerimônia de casamento de Grommir, estes vermes deverão ser amarrados no Poste de Tortura. Eu quero que sofram lentamente, tendo seus olhos, ouvidos, nariz, os dedos das mãos e dos pés, bem como a pele, arrancados pouco a pouco até eles mesmos implorarem para morrer! - Fala Khazar com total sadismo.
- Como quiser, milorde. - Responde o orc batendo continência.
- Agora, deixem-me a sós com os prisioneiros. - Termina de dizer o barão, em voz baixa e pegando um lenço de seu bolso para limpar o suor que escorre de seus poros.
Finneas, o oficial, os torturadores e os soldados obedecem, deixando Khazar frente a frente com os infelizes aventureiros. O mesquinho mago sorri sarcasticamente, adivinhando o que aconteceria a seguir.
Furioso, o gordo barão começa a sua sessão particular de tortura, descarregando socos e pontapés primeiro no Keitarô e depois na Motoko. Pelo visto, ele deveria ser muito racista.
Estranhamente, ele se aproxima de Yuri e com os dedos indicador e médio, ergue cuidadosamente o seu rosto, meio caído de lado, em sua direção. Apesar de estar machucada e com os lábios inchados, ela ainda era bonita... E desejável.
Com um sorriso de pura crueldade, ele acaricia os cabelos loiros e começa a bolinar os seus seios, ao mesmo tempo em que sussurra uma proposta no seu ouvido:
- Então você é a famosa Yuri, a espiã que veio de Brightstone, não? Saiba que seria uma pena uma garota linda e competente como você morrer de forma miserável num poste de tortura, tendo sua linda pele arrancada aos poucos de sua carne... Sei de suas habilidades e do que fez com os homens do palhaço do Grommir... Pois bem, vou te dar "apenas" uma chance.
- Que... Chance? - Indaga Yuri, procurando ganhar tempo.
- Apenas quero que diga um "sim" à minha proposta. - Neste momento, ela sente carícias na barriga e nas coxas, enquanto o barão muda o seu tom de voz, falando de forma melíflua e maliciosa.
- O... Que é?... - Fala Yuri tentando se manter indiferente às carícias pegajosas do gordo nojento.
- Mude de lado. Nào vale a pena ficar com os perdedores. Quero que seja a minha amante e me dê o máximo de prazer... Se você aceitar, eu perdoarei suas trangressões e te nomearei capitã de minhas tropas... - Diz o Barão, imaginando a linda aventureira em sua alcova.
- Por favor... Aproxime-se, que vou te dar a minha resposta... - A voz da moça sai de forma tímida, mas provocante, como se tivesse quase implorando.
-
Os olhos do barão brilham de luxúria. Reunindo suas últimas forças, Yuri ergue a sua cabeça e faz uma expressão de quem irá dar um beijo. Mesmo quase irreconhecível pelos hematomas e pancadas que levara, seu olhar está lânguido e sensual.
- "Yuri! Não faça isto!" - Embora quase inconsciente devido aos choques que levara, Keitarô tenta gritar para a jovem, mas a sua voz parece não sair da garganta.
- "Yuri, como pode?" - Motoko parece se indignar diante da iminência da traição daquela que ganhara o seu respeito. Só que Yuri percebe sua reação e pisca um de seus olhos como se dissesse que não precisava preocupar-se com ela.
O barão se aproxima, fechando os olhos e se prepara para beijar Yuri. E o faz de forma apaixonada. Só que no instante seguinte ele tenta se desvencilhar dela, agitando freneticamente os braços, e dá um safanão violento na moça, seguido de um tapa. Um filete de sangue escorre de seus lábios.
- Maldita! Como ousa? - Grita o barão fulo da vida, esbofeteando novamente o rosto da loira de forma violenta. Yuri aproveitara a ocasião para morder fortemente os lábios daquele nobre abusado.
Sacando um lenço do bolso para estancar o sangramento, Khazar pensa em matá-la naquele momento, só que Finneas e os outros entram na cela, atraídos pela confusão.
Com um olhar de ódio e de desprezo, o Barão diz, para manter as aparências e esconder o que tentara antes:
- Muito bem, se é assim, aproveite as poucas horas de vida que lhe restam. Espero que vocês viajem ao Inferno o mais breve possível. Ahahah!
Com um estrondo enorme, a porta é fechada.
- Está tudo acabado... Só espero que Shinobu e as outras escapem deste inferno... - Resigna-se Motoko, profundamente amargurada.
- Yuri... - Keitarô se dirige a ela.
- O que foi, am... Ou melhor, Keitarô? - Responde Yuri, após ter tossido para expulsar o sangue que escorria de sua boca. Ela queria chamá-lo de amor, mas ficou um pouco constrangida pela presença da Motoko.
- Por que você não nos abandonou? - Pergunta, entristecido Keitarô. Embora ele amasse Naru, acabou admirando e respeitando Yuri ao ver a sua coragem diante das torturas.
- Não podia... Gostei muito de vocês. - Esforça-se para sorrir a jovem loira, apesar de seus lábios estarem inchados, apesar de inteiros.
- Mas isto não melhora em nada a nossa situação... Se eu pudesse... - Sussurra uma angustiada Motoko, com o corpo totalmente dolorido.
- Agora só nos resta aguardar... - Conclui Yuri, antes de fechar os olhos e descansar antes do fim inevitável.
Enquanto isto, Kitsune, Mutsumi e Shinobu viram o momento em que o Grommir sai com Naru - praticamente desmaiada - nos braços.
Cercado por vários guardas, o gigantesco orc passa justamente a poucos metros das aventureiras disfarçadas, sem prestar atenção. Naru estava por demais aterrorizada para reconhecer as suas amigas.
Shinobu tem vontade de gritar por Naru ao vê-la naquele momento, mas Kitsune tampa-lhe a boca. Diante daqueles soldados de elite, elas não teriam a menor chance.
Fingindo andar casualmente, o trio tenta-se aproximar ao máximo do lugar de aonde viram o gigantesco orc sair. Instantes mais tarde, elas cruzam com Khazar, Finneas e seus homens, que acabavam de sair da prisão.
Khazar dá um olhar no estranho grupo, mas acaba ignorando-os, por pura arrogância. Finneas tem a ligeira impressão que o estranho guarda-costas nômade magricela lembrava uma certa menina que vira antes, mas depois ignora o fato. Ele teria que se reunir com seu superior agora.
Com a chegada da comitiva de Khazar e os preparativos para a festa de casamento do grande chefe de guerra Grommir, a maioria dos orcs estava ocupada. Apenas a área ao redor do palácio e da arena de reuniões estava fortemente patrulhada.
No momento, havia apenas dois seguranças na porta - cada um armado com uma lança e uma espada curta - e mais nenhum guarda por perto. Era uma boa chance para as garotas se infiltrarem na prisão.
- Olá, gatões, não gostariam de experimentar um pouco dos encantos do Oriente? - Aproxima-se Kitsune, desta vez disfarçada de odalisca e rebolando muito, para desespero da Shinobu.
- Hehehe... Gostaríamos de experimentar "outras" coisas a mais! - Exclama maliciosamente um dos orcs, completamente entediado do seu dever.
- Ei! Não é permitida a presença de estrangeiras nesta parte! Voltem para o mercado, antes que seja obrigado a prendê-las! - Adverte o seu companheiro, mais desconfiado.
- Qual é, Grunsch? Não vê que estas fêmeas deliciosas estão fazendo um favor pra gente? A gente ganha mal e ainda tem que agüentar as broncas de nossos superiores! Não é todo dia que temos visto algo deste tipo! - Responde o seu companheiro de guarda.
- Hmmmm... Tá bom, Morak. Só espero que os outros não nos vejam!
- Você não vai se arrepender, bonitão... Vocês nunca se esquecerão da gente. - Sussurra, toda oferecida, a jovem Konno.
A esperta garota de cabelos curtos oferece um pequeno odre de vinho para os guardas que tomam sem nada desconfiar. Apesar da bebida ser meio fraca para os padrões orcs, estava deliciosa e era muito bem-vinda, especialmente após o calor do dia.
Kitsune e Mutsumi fazem um pequeno número distraindo os soldados orcs, enquanto a temerosa Shinobu - disfarçada de guarda - espera ansiosamente. Os humanóides começam a ter pensamentos lascivos e ficam totalmente distraídos. O orc de nome Morak pensa em até fazer algumas propostas indecentes para a linda dançarina, depois do expediente...
Em menos de três minutos, o guarda Grunsch começa a bocejar e a lacrimejar os olhos. A sua lança fica demasiadamente pesada e cai de seus dedos.
O seu colega, antes que se aperceba disto, começa a ver não apenas uma, mas duas "Kitsunes" dançando à sua frente, deixando-o completamente abobalhado. Em seguida, cai no mundo dos sonhos.
- O pó do sono funcionou. Depressa, vamos puxar estes dois para dentro e entrar antes que nos vejam. - Comenta a jovem de Osaka.
Kitsune consegue achar a chave de acesso ao calabouço, num conjunto que estava preso à cintura de Grunsch e após algumas tentativas, finalmente abre a porta. Por sorte, ninguém estava à vista.
Puxando penosamente os guardas inconscientes para dentro, as garotas encontram uma cela vazia logo na entrada e botam os dois idiotas lá dentro, trancando-a em seguida.
O trio anda a passos rápidos pelo corredor principal da prisão, escuro e mal-iluminado por tochas. Antes de atingirem o final, aonde o caminho se bifurca, Shinobu olha para uma das celas e vê um cadáver apodrecido, devorado por ratos e parasitas, pendurado por correntes.
- Aiiiiêêê! - Grita a jovem diante da hedionda cena.
- Shinobu, não! - Kitsune percebe o erro que sua amiga cometera.
- Intrusos! Peguem-nos! - Grita uma voz gutural que fica mais assustadora com o eco do corredor.
Neste instante, três guardas orcs armados com lanças aparecem da extrema direita do corredor e investem contra as intrusas. Kitsune habilmente pega uma das tochas que iluminam o corredor e atira a mesma contra eles, fazendo-os atrasar um pouco.
O mais adiantado dos orcs investe contra a despreparada Mutsumi, mas no último instante recebe uma chicotada do véu da Kitsune, arrancando-lhe um palavrão. Refeita da surpresa, Mutsumi invoca uma magia de proteção para ela e suas amigas, reforçando suas defesas contra ataques de armas.
Shinobu, momentaneamente apavorada, não sabe o que fazer.
Kitsune mantém por instantes os guardas afastados com os golpes de seu véu encantado, mas um deles tenta perfurá-la com a sua lança.
O golpe teria sido decisivo não fosse a magia de proteção lançada pela Mutsumi antes. Mesmo assim, Kitsune sente uma forte pontada de dor no seu lado direito e abre a guarda.
Quando o segundo orc iria aproveitar da situação, ele imediatamente larga a sua lança devido à dor. No último instante, Shinobu, sem pensar, havia golpeado-o com o seu bastão naquela sensível parte do corpo masculino, arrancando-lhe um grunhido de agonia.
O terceiro orc avança com a sua lança em riste para a Mutsumi. Ela atira uma Energy Blast contra o soldado, só que acaba tropeçando. A magia acaba acertando o orc que estava atacando Kitsune, fazendo-o voar longe, terminando por bater na parede.
Porém ele nunca vai completar o ataque. Naquele instante, Shinobu lança uma magic arrow que repele o atacante, como se tivesse sido nocauteado por uma bola de boliche atirada em seu peito.
O orc remanescente - o que havia sido atingido pela Shinobu - saca a sua espada curta e tenta acertar Kitsune, que mal consegue segurar o seu véu.
Ele faz um ataque em carga, mas Shinobu coloca-se em seu caminho usando o seu bastão para bloquear o ataque.
Contudo, a força do soldado é maior e a potência do seu golpe é suficiente para atirar a garota no solo. Mutsumi pensa em atirar, mas Kitsune ainda está na sua linha de fogo e ela hesita.
Uma explosão sacode a galeria e o atacante quica no teto como se fosse Keitarô atingido por um dos Naru-Punchs. No desespero, Kitsune erguera o braço, ativando por instinto a Magic Arrow.
- Kitsune-san! - Exclama Mutsumi.
- Eu estou... Relativamente bem. Ajude a Shinobu a se levantar. - Responde baixinho Kitsune, reprimindo uma careta de dor. Ela nota uma mancha avermelhada tingindo a sua roupa, no lado direito.
Shinobu está atordoada, mas ainda tem forças para abrir um frasco de poção de cura. Ela toma dois goles e dá o restante para Kitsune. Em poucos instantes, elas estão inteiras. Mutsumi não sofrera nada durante a breve luta, a não ser o susto.
- Vamos ter que pensar melhor em nossa estratégia. Eu ficarei na frente. Mutsumi, você fica na retaguarda e atire contra o mais adiantado deles. Shinobu, você tem alguma magia que nos possa ajudar na próxima luta? - Propõe a líder temporária do grupo, já recuperada do ferimento, devido à cura mágica do frasco que ingerira.
- Deixe-me ver... Serve "Proteção contra o Mal"? - Pergunta Shinobu, lembrando-se de uma das magias que podia soltar.
- Beleza. Manda ver. - Kitsune faz um sinal de positivo.
A jovem Maehara invoca a proteção. Uma luz brilhante e azulada emana de sua aura e no instante seguinte envolve as suas amigas. Embora fosse mais indicada contra mortos-vivos e demônios, a magia de proteção também servia contra qualquer criatura maligna.
Além de reduzir em 25% o dano causado pelos inimigos, esta magia aumentava 25% o dano infligido a eles, além de melhorar progressivamente as chances de acerto dos golpes e magias, à medida que seus usuários progrediam de nível.
Em seguinte, ela usa em si mesma a magia "Aura de Coragem" que anulava os efeitos do pânico, seja natural ou provocado, além de dar um bônus de moral para seu usuário.
Surge uma aura de cor vermelho-claro com tons de dourado. Em seguida, até a expressão do rosto da tímida ginasial muda, tornando-a mais enérgica e determinada.
- Hummm... Acho que certas magias devem ser usadas antes da gente se aventurar num lugar aonde certamente irá ocorrer luta... - Pondera Kitsune aprendendo os rudimentos de estratégia do RPG.
- Vamos, gente! Temos que salvar os outros! - Exclama Shinobu, nem parecendo ser a medrosa pessoa de antes.
Shinobu. Kitsune e Mutsumi vão para a ala de onde viram os soldados orcs saírem, só que nada encontram. Apenas mais celas vazias, um depósito imundo, uma salinha aonde os guardas descansavam e mais nada. As poucas armas orcs que encontraram não serviriam para nada. Elas estavam gastas e enferrujadas.
Indo agora pelo lado oposto, com cautela, elas dão de cara com o carcereiro orc e o último soldado, que estavam se retirando em direção a uma cela - justo onde Yuri e os outros estavam. Sem hesitar, as três atiram as suas melhores magias de ataque.
Percebendo a intenção das intrusas, o carcereiro empurra o soldado na direção das magias. O pobre coitado é imediatamente carbonizado.
Sabendo que momentaneamente tem a iniciativa, o gigantesco e obeso verdugo saca o seu chicote de tortura e consegue agarrar o pescoço da Kitsune, derrubando-a com um puxão. Inutilmente a jovem tenta-se desvencilhar do laço, tentando soltá-lo com suas duas mãos.
- Kitsune! - Shinobu grita ao perceber que a sua amiga está sendo estrangulada.
Mutsumi e Shinobu lançam mais Magic Arrows no carcereiro, mas é quase inútil. O monstruoso orc era mais resistente do que os soldados comuns e tinha a proteção extra de sua armadura de couro.
Enquanto ele segura Kitsune com o seu chicote na mão direita, o verdugo desembainha um facão com a esquerda, para terminar o combate.
- Não! Não vou deixar você machucar a minha amiga!
Sob o efeito da "Aura de Coragem", Shinobu emite um kiai e por instantes a escura passagem fica iluminada com a sua aura de luta. Segurando firmemente seu cajado, ela avança em direção ao carcereiro.
Liberando rapidamente a quase estrangulada jovem de Osaka com um movimento brusco de seu chicote, o obeso orc apenas tem tempo de bloquear o golpe da Shinobu com o seu facão.
Mutsumi corre para socorrer a inconsciente amiga, enquanto Shinobu e o carcereiro trocam golpes entre si.
A luta está equilibrada no momento. Shinobu está com três marcas de chicote em suas roupas - as magias de proteção reduziram o dano dos golpes, fazendo com que ela sofresse apenas ferimentos superficiais. Ao passo que o carcereiro instintivamente põe a mão na altura do fígado, aonde acabara de ser atingido pelo cajado da jovem clériga.
Mutsumi empurra o corpo de Kitsune para um canto seguro e constata, com horror, que o pescoço da amiga está terrivelmente lacerado e sangrando, devido à pressão terrível do chicote do orc que ainta tinha farpas de metal cravadas em sua extremidade. Se não fosse curada, estaria morta por hemorragia em questão de minutos.
Subitamente, o carcereiro consegue derrubar o cajado de Shinobu de suas mãos, com um golpe de sua arma. Shinobu percebe que a luta está perdida. A Magic Arrow não tem muito efeito sobre o seu inimigo e mesmo que Mutsumi a ajudasse, ela estaria morta.
Ela ajoelha-se no chão olha para o seu inimigo e o vê caminhar a passos lentos, com uma expressão triunfante no rosto, pronto para dar o golpe de misericórdia com o seu facão.
- Sempai! - Shinobu fecha os olhos e num relance, mentaliza a imagem de todos os momentos em que passou junto com Keitarô. Ela se lembra das palavras de encorajamento que ele lhe disse na primeira vez. E naquela breve fração de segundo, uma luz estranha e palavras desconhecidas invadem sua mente, enchendo-a de determinação.
Mutsumi atira no carcereiro uma Energy Blast, mesmo sabendo que seria praticamente inútil para salvar a pequena amiga.
Mas ela percebe com surpresa, que a sua bola de energia é engolida por uma ainda maior, de cor dourada, emanada pelos delicados dedos da jovem clériga. Por uma fração de segundo, a sala se ilumina com um pequeno Sol. Com um estrondo infernal, o carcereiro orc é atirado contra o extremo oposto da parede e finalmente cai morto.
- Shinobu! - Grita Mutsumi desesperada, temendo o pior.
- Eu... Estou bem... Tenho que cuidar agora da Kitsune.
Rapidamente a clériga Shinobu chega ao corpo agonizante de Kitsune e impõe suas delicadas mãos. Ela invoca uma de suas magias de cura.
Uma aura luminosa emana do seu corpo, restabelecendo os pontos de vida perdidos e curando instantaneamente o ferimento no pescoço dela, causado pelo chicote do carcereiro. Em segundos, não sobra nem as cicatrizes do corte, como se nada tivesse acontecido.
- Hã? Onde estou? O que aconteceu... - Kitsune penosamente acorda, com a cabeça girando e tentando pôr as idéias em ordem.
- Você está bem, Kitsune-san? - Sorri Shinobu, mostrando ser ainda a jovem terna e dedicada de sempre.
- Acho que estou... Obrigada por me salvarem, Mutsumi e Shinobu.
- O mérito não foi meu. A Shinobu cuidou do orc e curou o corte que havia em seu pescoço. - Explica a jovem de Okinawa, aliviada.
Assustada, Kitsune apalpa o seu delicado pescoço. Só que não havia mais nenhum sinal de marcas do áspero chicote.
- A Mutsumi está sendo modesta demais. Foi ela que te pegou e deixou num lugar seguro enquanto estava lutando com o orc. - Responde Shinobu com a sua delicadeza habitual.
- Que técnica você aprendeu para derrotar aquele cara, Shinobu?...
- Não sei. Quando fiquei desarmada, achei que iria morrer... Só que veio uma estranha luz brilhar dentro de mim e umas palavras... Acho que era "Holy Blast" ou algo assim...
- Ah é? E porque eu senti que o Keitarô estava junto com você, ajudando a soltar aquela puta magia? - Pergunta Kitsune, sorrindo com malícia, ao descrever a imagem que formara em seus olhos, no momento de sua agonia.
- Kitsune-baka! - Shinobu fica com o rosto mais corado do que um pimentão.
Revistando os pertences do carcereiro morto, as garotas encontram mais um jogo de chaves. E em seguida, revistam todas as celas daquela ala, terminando por encontrar o que queriam.
Até mesmo a calma Mutsumi reprime um grito de medo ao ver o estado em que seus amigos estavam. Keitarô, Motoko e Yuri estavam bastante machucados, devido à seção de torturas.
Imediatamente, Kitsune e Mutsumi liberam os três das cadeias que os prendiam, enquanto Shinobu vai usando suas magias de cura neles, um de cada vez.
Ela já havia retirado algumas armas e pertences que estavam escondidas no seu disfarce e havia trazido três barras de rações desidratadas e um cantil junto com ela. Não era muito para alimentar Keitarô, Yuri e Motoko, mas era melhor do que nada. Eles estavam muito cansados, sedentos e famintos, não tendo se alimentado desde a noite passada.
Assim que todos os aventureiros cativos estão curados, Shinobu abraça Keitarô chorando, o que faz a Motoko - que começava a sentir algo a mais por ele - ficar com uma ponta de ciúme e inveja.
- Sempai! Você está vivo! Eu... Eu... - Chora Shinobu, abraçando a cintura de Keitarô.
- C-calma, Shinobu-chan. Graças a vocês estamos salvos! - Keitarô agradece, tentando recuperar sua compostura, ao ver o rosto zangado da jovem samurai.
- Espero que nào tente nada... Urashima... - Comenta Aoyama enquanto bebe um trago de água, umedecendo a garganta seca.
- Kitsune, Mutsumi, Shinobu, como vocês entraram aqui? - Pergunta Yuri, refazendo-se das torturas que levara. Por sorte, a magia de cura da Shinobu havia feito desaparecer todas as marcas dos machucados e das torturas que sofrera.
- Bem, viemos disfarçadas. Um pouco do meu pó do sono facilitou o serviço... - Comenta a esperta garota de cabelos curtos, piscando um dos seus lindos olhos.
- Bem... Imagino como vocês chegaram até aqui... Acho que foi um erro grave de minha parte subestimar a criatividade da pequena Kaolla e a de vocês. - Admite Yuri, com rara humildade.
- Não, imagine, Yuri-san. Acho que foi melhor ter acontecido deste jeito. Se todas nós fôssemos capturadas, aí não haveria escapatória. - Justifica-se Kitsune, satisfeita com o elogio discreto.
- Obrigado por tudo, mas deixemos a conversa para depois. Ainda não estamos totalmente salvas. Temos que pensar num jeito de sairmos com vida aqui e resgatarmos a Naru das garras daquele monstro! - Comenta Motoko, sentindo que as suas forças voltavam aos poucos, depois da surra que levara dos torturadores.
- E a Naru, onde está? - Pergunta Mutsumi, estranhando a sua ausência.
- Não percebeu, Mutsumi? Ela foi levada por aquele orc gigante, que deve ser o líder deles! - Explica Kitsune, lembrando a cena.
- Awawawawa! Será que a Naru-sempai vai ser obrigada a casar com aquele monstro? - O efeito da magia de coragem já havia passado, e os olhos da pequena Shinobu voltavam a girar novamente.
- A Narusegawa caiu nas boas graças do tal do Grommir e ela vai ser obrigada a casar com aquele cara! Temos que resgatá-la de qualquer jeito. - Fala Keitarô.
- É isto que temos que pensar em como fazer. Se sairmos agora, será um suicídio! - Comenta Motoko, pensando no pior.
- Concordo, Motoko, mas temos que pensar em fugir deste lugar maluco! - Responde o rapaz de cabelos negros.
- E cadê a Kaolla, a Tama e a Sarah? - Pergunta Yuri.
- Bem, elas ficaram do lado de fora... Durante toda a manhã, antes da gente invadir este lugar, elas estavam preparando alguma coisa e pondo nuns caixotes. Quando perguntei o que era, disseram-me que seria uma surpresa para os orcs. Ah, a Kaolla me disse que iríamos saber quando déssemos o sinal para ela. - Explica Kitsune.
- Proponho o seguinte esquema: Mutsumi, Mitsune e Shinobu - Acho que é melhor saírem sem serem notadas, do jeito que vieram e se misturarem à multidão até a hora do casamento chegar. - Fala Yuri.
- E vocês, como ficam? - Kitsune fica preocupada, imaginando as implicações desta estratégia suicida.
- A troca da guarda vai ocorrer no final do entardecer, um pouco antes da cerimônia do "casamento" começar. Quando os soldados vierem para nos levar ao poste das torturas, acabaremos com todos eles e sairemos em direção ao local para resgatarmos a Naru. Neste instante, tentem ficar próximo dela o mais perto possível. - Responde Yuri, descrevendo a conversa dos guardas logo após quando foram capturadas.
- E como nós fugiremos desta aldeia? - Kitsune ainda não estava satisfeita com a resposta.
- Mande a Kaolla fazer qualquer coisa com os engenhos dela para desabilitar as torres de guarda e as seteiras da entrada. Tentaremos fugir com os cavalos e as carroças dos homens de Khazar, que certamente estão na estrebaria. - Explica Yuri, lembrando-se dos detalhes que vira ao adentrar na aldeia dos orcs.
- Parece-me um plano suicida. E o pior que temos que depender das maluquices da Su para conseguirmos fugir... - Inconforma-se Motoko, sabendo do que a jovem estrangeira era capaz de fazer.
- E temos outra alternativa, cara Motoko? - Yuri fita Motoko, toda séria.
- Bem... Não que tenhamos escolha. Mas, por mim e pelo nome do meu clã, lutaremos até o último fio de cabelo. - Responde Motoko, encontrando finalmente sua temível Shisui num dos cantos do calabouço.
- Mas e quanto a luneta mágica com as provas? Acho que vocês perderam-na de vista. - Comenta Shinobu lembrando-se de um detalhe que vira na bola de cristal inventada pela Su.
- Não vamos nos preocupar com isto, por enquanto... Provavelmente a esta altura, os homens de Khazar devem tê-la achado. Com ou sem provas, temos que sair inteiras daqui...
- Mas eles não podem dar um jeito de destruir ela.
- Creio que não. O material do qual ela é feita é capaz de resistir a golpes de qualquer arma feita de metal ou mesmo magia. Somente magos com nível igual ou maior que a de Kadhgar podem destruir aquela luneta. E duvido que Finneas tenha competência para isto.
- Bem, acho que a gente vai indo. Boa sorte a todos. - Conclui Kitsune, se aprontando para voltar.
- Tomem cuidado. - Responde Keitarô.
- Sempai, por favor... Viva. Ainda quero ver você... - Fita com os olhos umedecidos a jovem Maehara.
- Eheh, Shinobu-chan, não se preocupe com a gente. - Sorri o rapaz
Keitarô até pensa em dar um abraço caprichado na pobre Shinobu-chan, mas o olhar ciumento da Motoko o impede de fazer isto.
Após o trio sair discretamente da prisão, Yuri, Motoko e Keitarô repartem entre si a pouca comida e água à sua disposição que Shinobu e Mutsumi trouxeram.
Prudentemente, eles não provaram nada da comida que estava numa mesa - trazida pelos torturadores, como meio de "persuasão".
Um rápido exame feito pela experiente Yuri havia indicado a presença de um cheiro doce e enjoativo nas frutas e bebidas que haviam lá. Possivelmente tudo estava drogado de forma a eles darem com a língua nos dentes caso provassem daquilo.
De forma cautelosa, os três ex-prisioneiros vasculham cada canto da escura prisão a procura de mais armas ou itens que possam ser úteis, só que pouco encontram. As armas dos soldados que Kitsune, Mutsumi e Shinobu derrotaram estavam velhas e gastas demais. E nenhum orc morto levava algum item decente. E no apertado depósito da prisão somente havia tranqueiras e bugigangas de valor duvidoso.
Deixando o estudante da Toudai e a colegial guerreira para trás, em seguida, Yuri vai até a cela onde estavam inconscientes os dois vigias orcs que Kitsune havia drogado para poder se infiltrar na prisão.
Sem muita opção, a experiente aventureira os mata silenciosamente com dois dardos certeiros, para que eles não fossem um empecilho na hora em que acordassem, delatando aos demais o que acontecera.
Após esconder os corpos dos guardas e do carcereiro morto nas celas ainda abertas, o trio resolve esperar os guardas que viriam buscá-los para a execução no Poste das Torturas, na bifurcação do corredor principal. Lá era o local ideal para uma emboscada. Yuri ficaria esperando com a sua besta leve pronta para disparar e a Motoko com sua Shisui em punho. Keitarô ficaria na retaguarda, com o seu cajado de combate a postos.
Enquanto isto, na tenda de Khazar - facilmente identificável pelo seu brasão e pelas cores vermelho e branco - o arrogante nobre e Finneas deliberam a respeito do estranho objeto encontrado pelos vigias orcs nos escombros do casebre onde Yuri e os outros estavam escondidos.
- Então os malditos estavam realmente espionando a gente... - Comenta com ódio e rancor o nobre examinando a luneta mágica. Ele estava com o lábio inferior ainda inchado, tendo recorrido ao seu médico. Após alguns segundos, ele entrega o objeto encontrado ao seu traiçoeiro assessor.
- Certamente este objeto deve ter sido criado em Brightstone... O acabamento é muito bom e realmente não parece ser uma luneta vulgar. - Fala Finneas, depositando a luneta em cima de uma mesa de madeira redonda.
- Uma luneta mágica?... Não podemos correr riscos. Destrua-a.
- Como quiser, milorde.
Tomando um pouco de distância, Finneas concentra-se e dispara a magia "Ice Bolt". Era uma magia extremamente simples, mas perfeita para destruir qualquer objeto inanimado simples por excesso de frio. Um raio de luz branco-azulada ilumina a penumbra da tenda e a temperatura do local cai abruptamente.
Só que para a surpresa de Finneas, o aparentemente frágil instrumento nada sofre, apenas ficando levemente impregnado de partículas de gelo. Somente parte da mesa fica congelada, voltando ao normal dentro de segundos.
- O quê? Mas não é... - O traiçoeiro mago fica incrédulo.
- Solte uma magia mais potente, seu imbecil! - Levanta-se do seu assento o arrogante nobre.
Finneas dispara em seguida uma "Magic Arrow" dupla de grande potência. O impacto foi suficiente para desmontar a frágil mesa, só que nem chegou a arranhar a aparentemente indestrutível luneta.
- Mas que merda! Eu mesmo vou... - Totalmente irritado, Khazar saca a sua espada e após Finneas ter saído de sua frente, o arrogante nobre desfere um golpe capaz de estourar o crânio de um ogro. Sem sucesso. O golpe mal arranhara a estrutura metálica do objeto.
Tomado pela fúria irracional, Khazar iria jogar o maldito tubo para fora do acampamento, só que Finneas o convence a não fazer isto:
- Não milorde, não faça isto! Não é necessário destruir esta luneta. Os mortos não são capazes de proferir ameaças aos vivos! Se me permite, é melhor deixa-la em segurança aqui, até que voltemos ao castelo. Lá, com os equipamentos de meu laboratório, teremos mais facilidade em... - Argumenta Finneas.
- Chega! Faça o que quiser com esta porcaria. Não estou mais interessado! Era para voltar ao meu castelo esta noite ainda, mas o nosso caro Grommir quer que fique para o seu "casamento" com aquela vadia ruiva!... - Responde Khazar com uma cara de nojo e se preparando para sair fora de sua tenda. Embora o Sol indicasse que passara das Quatro horas da tarde, ainda fazia muito calor e estava abafado dentro da tenda.
- Mas é um pequeno sacrifício que todos nos temos que fazer para o bem da diplomacia... - Comenta Finneas se referindo à notícia que se espalhara em toda a aldeia, do "casamento" do líder orc.
- Não sei o que ele viu naquela vagabunda para ter uma idéia dessas! - Comenta Khazar após se certificar de que não havia qualquer lacaio de Grommir por perto. Os orcs eram muito melindrosos com relação a qualquer comentário e uma palavra mal escolhida poderia colocar tudo a perder.
- Bem, de qualquer maneira, nossos inimigos estão à nossa mercê e em breve, Smallville será um mero grão de areia na tempestade - Responde Finneas.
Khazar sai da tenta e aproveita para caminhar um pouco, dando ordens a seus soldados, que terminavam de fazer o carregamento das mercadorias que trouxeram para barganhar com os orcs em troca dos saques obtidos das caravanas, berrando e gritando para descontar sua raiva nos mercenários.
Finneas coloca cuidadosamente o frágil tubo de metal num baú na tenda de Khazar e também se prepara para sair. Ele não estava nem interessado em examinar o objeto agora, embora soubesse que ele era mais do que aparentava ser.
Esperando mais um pouco, até o seu patrão ficar totalmente distraído, Finneas aproveita a chance e resolve ir conversar com o shaman Mogul, em seu templo de pedra.
Esta noite seria repleta de surpresas. Eles não tinham um minuto a perder. Embora a chegada dos aventureiros abelhudos tivesse modificado um pouco as coisas, os planos sinistros do shaman orc e de seu aliado humano não iriam ser interrompidos. Por ninguém.
Sorrindo sinistramente, Finneas se dirige ao templo, ignorando o formigueiro humano ao seu redor.
- Mais um pouco, Khazar, mais um pouco e... - Murmura ele com um sorriso maligno que aos poucos se transforma em uma sonora gargalhada.
Escrito por: Calerom.
Myamauchi1969@yahoo.com.br
O BARÃO DE KHAZAR.
Enquanto Kaolla e Sarah retornam para se juntar às outras, Kitsune, Mutsumi e Shinobu andam pelo movimentado pátio em busca de pistas do paradeiro de Yuri e dos outros. Até que elas escutam o comentário de dois oficiais orcs.
- Mal posso esperar para ver aqueles malditos intrusos no poste da tortura hoje a noite, Dreg. - Diz um dos orcs, conversando animadamente com o seu amigo.
- Sim, Gajuk. Hoje iremos nos divertir muito! O líder Grommir vai se casar, adivinha com quem? - Sorri maliciosamente o outro oficial.
- Quem será a felizarda? - Pergunta, intrigado o comandante orc.
- Uma humana ruiva de cabelos compridos que foi capturada hoje de manhã com uns abelhudos! Pelo que eu sei, eles estão na velha prisão da parede leste!
- Heh! É bom que ela seja "quente", mesmo! Nosso líder não se contenta apenas com duas ou três numa noite, não! - Malicia o humanóide, sorrindo com maldade.
- Já estou sentindo pena do traseiro dela! Ela me pareceu ser meio magrinha. - Responde o outro, fazendo um gesto como se descrevesse o corpo de Naru.
- Imagine então quando ela dar à luz a lindos meio-orcszinhos! Harharhar! - Gargalha o oficial, aludindo à terrível capacidade dos humanóides verdes se cruzarem com membros de outras raças, gerando híbridos monstruosos.
As garotas se afastam o suficiente dos dois oficiais para não serem ouvidas. Quando estavam a uma distância segura, Kitsune comenta:
- Puxa, então o pessoal está preso num calabouço e a coitada da Naru vai ter que casar com o maioral daqui?
- Aiiii, o que iremos fazer? Não podemos deixar isto acontecer! A Naru sempai não pode casar com um monstro daqueles! - Shinobu estava à beira do pânico e até a desligada Mutsumi percebe isto, fazendo um sinal com os dedos para que a garota fale baixo.
- Eu tive uma idéia, vamos encontrar a tal prisão e ver o que podemos fazer para libertar o Keitarô e os outros... - Sorri Kitsune.
- E quanto a Naru sempai? - Indaga Shinobu.
- Só vamos ter alguma chance de salvá-la com os demais. Na certa, ela deve estar com muita gente vigiando ela, se for verdade o que ouvimos. - Conclui Kitsune, com rara sensatez.
Enquanto Kitsune e as outras tentam se dirigir em direção ao calabouço; no interior de seu palácio, Grommir recebe o seu aliado humano, o Barão Khazar.
Acompanhado de Finneas e seis seguranças, o prepotente nobre adentra o tosco e bizarro palacete feito de pedra e adornado com enfeites e estátuas grotescas.
O líder orc está na sua sala do trono, conversando com alguns oficiais e protegido por vários guardas. Duas servas orcs - muito feias para o padrão de beleza humana - trazem-lhe comida e bebida.
O Barão Khazar era um homem ao redor de seus quarenta e cinco anos, de estatura média, um pouco obeso e com o tronco maior do que as pernas, curtas e grossas.
Ele era completamente careca, com um olhar semelhante ao de uma ave de rapina, nariz adunco e cavanhaque bem cuidado.
No momento, ele trajava roupas leves e confortáveis - devido ao calor intenso - e estava armado com uma espada longa encantada de fino acabamento, além de uma adaga ricamente ornamentada.
Além de ser cruel e prepotente, Khazar tinha vários outros traços detestáveis em seu caráter. Ele gostava de humilhar e desprezar outras pessoas e era especialmente vingativo se contrariado.
O barão já foi casado, contudo, os boatos diziam que sua esposa se suicidou, atirando-se do alto de uma torre do castelo por não suportá-lo.
Os poucos traços positivos dele eram o fato de ser um sujeito determinado, decidido e com boa capacidade de organização. O seu feudo era um dos mais bem administrados e militarmente preparados do reino. Contudo, até estas boas qualidades eram obscurecidas pelo lado negro de seu caráter.
Além de ter uma rivalidade quase perene com o seu rival, o barão de Strongald, Khazar era inimigo declarado de Smallville, tentando prejudicar a cidade de quase todas as formas.
Por várias vezes tentou tramar contra o conselho da cidade e já articulou a deposição do condestável Eldrick mais de uma vez. Só que todas as tentativas deram errado, devido ao fato da cidade ter apoios influentes na Corte de Arkadia.
Desejando dominar a rota comercial leste, Khazar chegou ao estremo de se aliar aos orcs, seus velhos inimigos. Ele sabia que estava correndo um grande risco, já que tal ato era quase uma alta traição ao Reino.
Contudo, ele planejava eliminar a oposição e consolidar o fato consumado antes que a corte interviesse contra ele.
Anexando Smallville ao seu feudo, Khazar dominaria por completo a rota comercial e com o seu poderoso exército mercenário, barraria as pretensões do seu rival de Strongald de fazer o mesmo.
Daí então, ele "repeliria" os orcs para além das fronteiras e ganharia as boas graças da Corte de Brightstone.
- Grande líder Grommir. Eu - o Barão de Khazar apresento-lhe minhas saudações. Como prometido, trouxemos algumas máquinas de guerra e armamentos para os seus homens executarem a segunda parte do plano. - Fala Khazar executando uma reverência hipócrita e fingida. Na realidade ele tinha vontade de cuspir no seu estúpido aliado. Mas isto precisava ser feito pelo bem da diplomacia.
- Seja bem vindo, valoroso aliado. Grommir te saúda e coloca à disposição os produtos dos saques às caravanas das duas últimas luas... - Responde Grommir sem sair do seu trono de pedra.
- Excelente. Bem, caro Grommir, eu fiquei sabendo através do meu lacaio Finneas que tem algumas novidades para me contar...
- Sim. Hoje de manhã capturamos alguns humanos abelhudos que estavam nos espionando. Eles estão presos no nosso calabouço e creio que você gostaria de ouvir algumas respostas interessantes... - Grunhe o gigantesco orc enquanto mastiga sem a menor etiqueta um pedaço de pernil de porco trazido por uma das suas servas.
- Hummmm... Isto é muito comprometedor... Contudo, os mortos não podem fazer mais ameaças. Vejamos o que eles têm de informações a dizer antes de executá-los esta noite.
- Também eu decidi me casar. A cerimônia será hoje a noite. - Grommir lambe os seus beiços de satisfação.
- Casamento? Que interessante... Quem seria a consorte?
- Uma humana ruiva que foi capturada com os aventureiros. Gostei muito dela. Ela parece ser noiva ideal para Grommir. - O tom de voz de Grommir se torna mais afável e menos brutal, ao pensar nas formas voluptuosas da ruiva.
- Não sabia que você apreciava a beleza humana, caro líder.
- Grommir achar mulheres humanas um pouco magrinhas, mas elas são muito lindas. - Grommir arrota ao terminar de beber um cálice de aguardente orc da pior qualidade - para os paladares humanos.
- Bem, se me permite, eu gostaria de ver os prisioneiros esta tarde.
- Como quiser, meu caro aliado. Eu também irei para mandar retirar a minha noiva para ser preparada adequadamente.
No instante seguinte, Grommir, Khazar, Finneas e mais alguns guardas orcs e humanos se dirigem à cadeia. O imponente cortejo chama a atenção das garotas, que o seguem de forma (quase) discreta.
- Ei. Acho que encontramos a pista certa. Aqueles figurões devem estar indo para a prisão onde Naru e os outros estão. - Repara Mutsumi.
- Vamos aproveitar a chance para entrar? - Pergunta Shinobu.
- Ainda não. Vamos espionar o que eles pretendem fazer e em seguida veremos como agir. - Comenta Kitsune.
Assim que Grommir, Khazar e os outros entram no calabouço, ouve-se uma série de ruídos inquietantes na cela aonde Yuri e os outros foram confinados.
Afora os dois vigias que estavam na porta, o carcereiro e mais quatro seguranças armados com clavas pesadas, não havia mais soldados guardando a prisão. Até mesmo porque ninguém costumava durar muito naquelas celas.
Minutos antes, Finneas havia ordenado a dois oficiais de Khazar fazer uma pré-sessão de tortura com os cativos, para amolecer a suas resistência.
Yuri, Motoko, Keitarô e Naru estavam desde a manhã sem comer e sem beber, além de estarem sentindo dores por todos os seus músculos, devido ao aperto das correntes e das algemas.
Como parte da tortura psicológica, os sequazes de Finneas trouxeram uma mesa cheia de guloseimas, comida e água fresca, colocando-a na vista dos presos, para estimular a delação.
Até o momento, os torturadores haviam pegado leve no pessoal, um se limitando a fazer o papel do "tira bonzinho" e outro do "tira malvado". Um vinha com as perguntas, apelos, propostas e falsas promessas enquanto que o outro vinha com ameaças e demonstrações de força.
Depois veio a parte da tortura "light". Keitarô foi o primeiro a ser escolhido, por causa de sua aparência "mole", recebendo alguns sopapos e socos na barriga.
Contudo, por mais que ele gritasse de dor, ele resistiu de forma inesperada. Os torturadores não sabiam que ele já recebera coisa pior por parte da Motoko e da Narusegawa.
Motoko estava com um olho roxo e dores intensas na altura do estômago. Ela havia levado alguns socos após ter cuspido na cada de um dos lacaios do barão de Khazar. E saíra-se bem no interrogatório, se recusando a falar.
Ainda bem que os seus algozes não tinham uma tartaruga por perto, o que seria mais efetiva como meio de tortura.
Yuri de longe foi a mais castigada. Estava com alguns hematomas no seu lindo rosto e com os braços e as pernas doloridas.
Um filete de sangue escorria de seus lábios. Os torturadores deduziram que ela era a líder do grupo e aplicaram nela um tratamento especial.
Mas ela não somente se recusou a falar, como desafiava os algozes, sabendo que eles não tinham ordens para fazer algo mais pesado (leia-se ossos deslocados, mutilações, unhas e dentes arrancados, etc.) até os seus superiores chegarem.
Somente Naru foi poupada, devido a ordens expressas de Grommir dela não ser torturada, mas ela estava muito traumatizada psicologicamente. Lágrimas escorriam de seu lindo rosto, tendo ela quase se desesperado ao ver a tortura infligida a seus amigos. E aquilo apenas era o começo.
Por muito pouco, ela não confessou o seu amor para Keitarô ao ver ele apanhando. E se não estivesse presa por aquelas correntes, a dupla sádica iria aprender uma lição.
Os torturadores param com a seqüência de castigos quando chegam Grommir e Khazar, acompanhado de seus guardas. O líder orc aponta para a Naru e se dirige para o carcereiro.
- Soltem-na! - Diz Grommir apontando para Naru.
Narusegawa, quase no ponto de desmaiar, é imediatamente libertada e algemada. Grommir se encarrega se pessoalmente carregá-la até o seu palácio, onde sua futura noiva será adequadamente vestida e perfumada para o casamento.
- Socorro, Keitarô! Solte-me, seu brutamontes! - Grita inutilmente a ruiva, dando débeis socos no ombro do Grommir.
- Nós teremos tempo de sobra hoje a noite para nos divertir, hehehe.
Enquanto o satisfeito Grommir leva a desesperada Naru, Khazar - acompanhado de Finneas, um oficial orc e dois seguranças humanos - entra na cela, falando de forma arrogante:
- Então vocês são os espiões... Pensaram ser capazes de me desafiar, não? Vou lhes mostrar o que significa enfrentar a ira do poderoso barão de Khazar! Muito bem, de onde vocês são e quem os contratou?
Ninguém responde. Irritado, o barão pergunta novamente:
- Pela última vez, respondam de onde vocês vieram e quem são os seus mandantes! Não serei tão piedoso se recusaram a falar!
- Ah, vai se danar! - Yuri responde, olhando de forma desafiadora.
A uma ordem de Khazar, um dos torturadores dá uma violenta pancada com um cassetete na barriga de Yuri, que geme de dor.
- Parem com isto, seus covardes! - Grita Motoko ao ver Yuri sofrendo.
Khazar não se intimida e se aproxima de Motoko, sorrindo sadicamente. Ele saca sua adaga ricamente ornamentada de brilhantes e a encosta no pescoço da guerreira, arranhando-o de leve, ao mesmo tempo em que a sua mão livre aperta um dos seus seios com brutalidade.
- Monstro! - Grita Keitarô revoltado com tamanha demonstração de crueldade.
- Hahaha, então temos um galinho aqui? Finneas, aplique-lhe um tratamento especial para este fracote! - Sorri Khazar, mostrando a sua boca cheia de dentes de ouro.
- Como quiser, milorde. - Adianta-se Finneas.
Finneas concentra-se e de seus dedos saem faíscas elétricas que atingem Keitarô, causando-lhe choques e muita dor. Ele sofre muito, mas isto não era nada comparável aos choques que costumava levar das invenções da Su.
- Use mais força, Finneas! Este idiota não quer falar! - Impacienta-se Khazar, começando a ficar impressionado com a resistência de Keitarô.
- Proponho mudarmos de tática, milorde. Se eu intensificar a carga, ele será simplesmente carbonizado! - Finneas também fica surpreso.
- Tem alguma coisa melhor? - O barão olha com desprezo para o mago.
- Uma magia simples e eficaz. A "Visão da Verdade". - Finneas explica didaticamente.
- Por que não usou esta porcaria antes? Faça isto agora, antes que seja tentado a arrancar o couro destes imbecis! - Resmunga Khazar, mostrando sua prepotência ao seu suposto assessor.
Contendo a sua raiva e fazendo gestos cabalísticos, Finneas lança a magia na Yuri.
A "Visão da Verdade" era uma magia de adivinhação versátil. Podia obrigar a uma pessoa responder perguntas estando impedida de mentir ou distorcer fatos, revelar acontecimentos recentes, encontrar pistas sobre o paradeiro de pessoas ou objetos desaparecidos ou mostrar detalhes de uma área fora do alcance visual do seu conjurador.
Ela também podia ser usada em combate, desfazendo criaturas mágicas animadas por ilusões, bem como anular várias defesas usadas por ilusionistas, sendo o flagelo desta escola de magia.
A princípio, Yuri resiste, mas a tortura mental é grande demais, e sem um encantamento ou talismã de proteção para protege-la, ela começa a ceder, falando informações como se estivesse drogada. Khazar e os demais ouvem tudo, com visível satisfação.
Terminada a dolorosa confissão, o oficial orc que acompanhava Khazar pergunta:
- Posso mandar matá-los agora? - Diz ele, ansioso para ver mais sangue.
- Não! Uma morte rápida seria pouco para eles! Quero que todos aprendam o que significa desafiar o barão de Khazar! Hoje à noite, após a cerimônia de casamento de Grommir, estes vermes deverão ser amarrados no Poste de Tortura. Eu quero que sofram lentamente, tendo seus olhos, ouvidos, nariz, os dedos das mãos e dos pés, bem como a pele, arrancados pouco a pouco até eles mesmos implorarem para morrer! - Fala Khazar com total sadismo.
- Como quiser, milorde. - Responde o orc batendo continência.
- Agora, deixem-me a sós com os prisioneiros. - Termina de dizer o barão, em voz baixa e pegando um lenço de seu bolso para limpar o suor que escorre de seus poros.
Finneas, o oficial, os torturadores e os soldados obedecem, deixando Khazar frente a frente com os infelizes aventureiros. O mesquinho mago sorri sarcasticamente, adivinhando o que aconteceria a seguir.
Furioso, o gordo barão começa a sua sessão particular de tortura, descarregando socos e pontapés primeiro no Keitarô e depois na Motoko. Pelo visto, ele deveria ser muito racista.
Estranhamente, ele se aproxima de Yuri e com os dedos indicador e médio, ergue cuidadosamente o seu rosto, meio caído de lado, em sua direção. Apesar de estar machucada e com os lábios inchados, ela ainda era bonita... E desejável.
Com um sorriso de pura crueldade, ele acaricia os cabelos loiros e começa a bolinar os seus seios, ao mesmo tempo em que sussurra uma proposta no seu ouvido:
- Então você é a famosa Yuri, a espiã que veio de Brightstone, não? Saiba que seria uma pena uma garota linda e competente como você morrer de forma miserável num poste de tortura, tendo sua linda pele arrancada aos poucos de sua carne... Sei de suas habilidades e do que fez com os homens do palhaço do Grommir... Pois bem, vou te dar "apenas" uma chance.
- Que... Chance? - Indaga Yuri, procurando ganhar tempo.
- Apenas quero que diga um "sim" à minha proposta. - Neste momento, ela sente carícias na barriga e nas coxas, enquanto o barão muda o seu tom de voz, falando de forma melíflua e maliciosa.
- O... Que é?... - Fala Yuri tentando se manter indiferente às carícias pegajosas do gordo nojento.
- Mude de lado. Nào vale a pena ficar com os perdedores. Quero que seja a minha amante e me dê o máximo de prazer... Se você aceitar, eu perdoarei suas trangressões e te nomearei capitã de minhas tropas... - Diz o Barão, imaginando a linda aventureira em sua alcova.
- Por favor... Aproxime-se, que vou te dar a minha resposta... - A voz da moça sai de forma tímida, mas provocante, como se tivesse quase implorando.
-
Os olhos do barão brilham de luxúria. Reunindo suas últimas forças, Yuri ergue a sua cabeça e faz uma expressão de quem irá dar um beijo. Mesmo quase irreconhecível pelos hematomas e pancadas que levara, seu olhar está lânguido e sensual.
- "Yuri! Não faça isto!" - Embora quase inconsciente devido aos choques que levara, Keitarô tenta gritar para a jovem, mas a sua voz parece não sair da garganta.
- "Yuri, como pode?" - Motoko parece se indignar diante da iminência da traição daquela que ganhara o seu respeito. Só que Yuri percebe sua reação e pisca um de seus olhos como se dissesse que não precisava preocupar-se com ela.
O barão se aproxima, fechando os olhos e se prepara para beijar Yuri. E o faz de forma apaixonada. Só que no instante seguinte ele tenta se desvencilhar dela, agitando freneticamente os braços, e dá um safanão violento na moça, seguido de um tapa. Um filete de sangue escorre de seus lábios.
- Maldita! Como ousa? - Grita o barão fulo da vida, esbofeteando novamente o rosto da loira de forma violenta. Yuri aproveitara a ocasião para morder fortemente os lábios daquele nobre abusado.
Sacando um lenço do bolso para estancar o sangramento, Khazar pensa em matá-la naquele momento, só que Finneas e os outros entram na cela, atraídos pela confusão.
Com um olhar de ódio e de desprezo, o Barão diz, para manter as aparências e esconder o que tentara antes:
- Muito bem, se é assim, aproveite as poucas horas de vida que lhe restam. Espero que vocês viajem ao Inferno o mais breve possível. Ahahah!
Com um estrondo enorme, a porta é fechada.
- Está tudo acabado... Só espero que Shinobu e as outras escapem deste inferno... - Resigna-se Motoko, profundamente amargurada.
- Yuri... - Keitarô se dirige a ela.
- O que foi, am... Ou melhor, Keitarô? - Responde Yuri, após ter tossido para expulsar o sangue que escorria de sua boca. Ela queria chamá-lo de amor, mas ficou um pouco constrangida pela presença da Motoko.
- Por que você não nos abandonou? - Pergunta, entristecido Keitarô. Embora ele amasse Naru, acabou admirando e respeitando Yuri ao ver a sua coragem diante das torturas.
- Não podia... Gostei muito de vocês. - Esforça-se para sorrir a jovem loira, apesar de seus lábios estarem inchados, apesar de inteiros.
- Mas isto não melhora em nada a nossa situação... Se eu pudesse... - Sussurra uma angustiada Motoko, com o corpo totalmente dolorido.
- Agora só nos resta aguardar... - Conclui Yuri, antes de fechar os olhos e descansar antes do fim inevitável.
Enquanto isto, Kitsune, Mutsumi e Shinobu viram o momento em que o Grommir sai com Naru - praticamente desmaiada - nos braços.
Cercado por vários guardas, o gigantesco orc passa justamente a poucos metros das aventureiras disfarçadas, sem prestar atenção. Naru estava por demais aterrorizada para reconhecer as suas amigas.
Shinobu tem vontade de gritar por Naru ao vê-la naquele momento, mas Kitsune tampa-lhe a boca. Diante daqueles soldados de elite, elas não teriam a menor chance.
Fingindo andar casualmente, o trio tenta-se aproximar ao máximo do lugar de aonde viram o gigantesco orc sair. Instantes mais tarde, elas cruzam com Khazar, Finneas e seus homens, que acabavam de sair da prisão.
Khazar dá um olhar no estranho grupo, mas acaba ignorando-os, por pura arrogância. Finneas tem a ligeira impressão que o estranho guarda-costas nômade magricela lembrava uma certa menina que vira antes, mas depois ignora o fato. Ele teria que se reunir com seu superior agora.
Com a chegada da comitiva de Khazar e os preparativos para a festa de casamento do grande chefe de guerra Grommir, a maioria dos orcs estava ocupada. Apenas a área ao redor do palácio e da arena de reuniões estava fortemente patrulhada.
No momento, havia apenas dois seguranças na porta - cada um armado com uma lança e uma espada curta - e mais nenhum guarda por perto. Era uma boa chance para as garotas se infiltrarem na prisão.
- Olá, gatões, não gostariam de experimentar um pouco dos encantos do Oriente? - Aproxima-se Kitsune, desta vez disfarçada de odalisca e rebolando muito, para desespero da Shinobu.
- Hehehe... Gostaríamos de experimentar "outras" coisas a mais! - Exclama maliciosamente um dos orcs, completamente entediado do seu dever.
- Ei! Não é permitida a presença de estrangeiras nesta parte! Voltem para o mercado, antes que seja obrigado a prendê-las! - Adverte o seu companheiro, mais desconfiado.
- Qual é, Grunsch? Não vê que estas fêmeas deliciosas estão fazendo um favor pra gente? A gente ganha mal e ainda tem que agüentar as broncas de nossos superiores! Não é todo dia que temos visto algo deste tipo! - Responde o seu companheiro de guarda.
- Hmmmm... Tá bom, Morak. Só espero que os outros não nos vejam!
- Você não vai se arrepender, bonitão... Vocês nunca se esquecerão da gente. - Sussurra, toda oferecida, a jovem Konno.
A esperta garota de cabelos curtos oferece um pequeno odre de vinho para os guardas que tomam sem nada desconfiar. Apesar da bebida ser meio fraca para os padrões orcs, estava deliciosa e era muito bem-vinda, especialmente após o calor do dia.
Kitsune e Mutsumi fazem um pequeno número distraindo os soldados orcs, enquanto a temerosa Shinobu - disfarçada de guarda - espera ansiosamente. Os humanóides começam a ter pensamentos lascivos e ficam totalmente distraídos. O orc de nome Morak pensa em até fazer algumas propostas indecentes para a linda dançarina, depois do expediente...
Em menos de três minutos, o guarda Grunsch começa a bocejar e a lacrimejar os olhos. A sua lança fica demasiadamente pesada e cai de seus dedos.
O seu colega, antes que se aperceba disto, começa a ver não apenas uma, mas duas "Kitsunes" dançando à sua frente, deixando-o completamente abobalhado. Em seguida, cai no mundo dos sonhos.
- O pó do sono funcionou. Depressa, vamos puxar estes dois para dentro e entrar antes que nos vejam. - Comenta a jovem de Osaka.
Kitsune consegue achar a chave de acesso ao calabouço, num conjunto que estava preso à cintura de Grunsch e após algumas tentativas, finalmente abre a porta. Por sorte, ninguém estava à vista.
Puxando penosamente os guardas inconscientes para dentro, as garotas encontram uma cela vazia logo na entrada e botam os dois idiotas lá dentro, trancando-a em seguida.
O trio anda a passos rápidos pelo corredor principal da prisão, escuro e mal-iluminado por tochas. Antes de atingirem o final, aonde o caminho se bifurca, Shinobu olha para uma das celas e vê um cadáver apodrecido, devorado por ratos e parasitas, pendurado por correntes.
- Aiiiiêêê! - Grita a jovem diante da hedionda cena.
- Shinobu, não! - Kitsune percebe o erro que sua amiga cometera.
- Intrusos! Peguem-nos! - Grita uma voz gutural que fica mais assustadora com o eco do corredor.
Neste instante, três guardas orcs armados com lanças aparecem da extrema direita do corredor e investem contra as intrusas. Kitsune habilmente pega uma das tochas que iluminam o corredor e atira a mesma contra eles, fazendo-os atrasar um pouco.
O mais adiantado dos orcs investe contra a despreparada Mutsumi, mas no último instante recebe uma chicotada do véu da Kitsune, arrancando-lhe um palavrão. Refeita da surpresa, Mutsumi invoca uma magia de proteção para ela e suas amigas, reforçando suas defesas contra ataques de armas.
Shinobu, momentaneamente apavorada, não sabe o que fazer.
Kitsune mantém por instantes os guardas afastados com os golpes de seu véu encantado, mas um deles tenta perfurá-la com a sua lança.
O golpe teria sido decisivo não fosse a magia de proteção lançada pela Mutsumi antes. Mesmo assim, Kitsune sente uma forte pontada de dor no seu lado direito e abre a guarda.
Quando o segundo orc iria aproveitar da situação, ele imediatamente larga a sua lança devido à dor. No último instante, Shinobu, sem pensar, havia golpeado-o com o seu bastão naquela sensível parte do corpo masculino, arrancando-lhe um grunhido de agonia.
O terceiro orc avança com a sua lança em riste para a Mutsumi. Ela atira uma Energy Blast contra o soldado, só que acaba tropeçando. A magia acaba acertando o orc que estava atacando Kitsune, fazendo-o voar longe, terminando por bater na parede.
Porém ele nunca vai completar o ataque. Naquele instante, Shinobu lança uma magic arrow que repele o atacante, como se tivesse sido nocauteado por uma bola de boliche atirada em seu peito.
O orc remanescente - o que havia sido atingido pela Shinobu - saca a sua espada curta e tenta acertar Kitsune, que mal consegue segurar o seu véu.
Ele faz um ataque em carga, mas Shinobu coloca-se em seu caminho usando o seu bastão para bloquear o ataque.
Contudo, a força do soldado é maior e a potência do seu golpe é suficiente para atirar a garota no solo. Mutsumi pensa em atirar, mas Kitsune ainda está na sua linha de fogo e ela hesita.
Uma explosão sacode a galeria e o atacante quica no teto como se fosse Keitarô atingido por um dos Naru-Punchs. No desespero, Kitsune erguera o braço, ativando por instinto a Magic Arrow.
- Kitsune-san! - Exclama Mutsumi.
- Eu estou... Relativamente bem. Ajude a Shinobu a se levantar. - Responde baixinho Kitsune, reprimindo uma careta de dor. Ela nota uma mancha avermelhada tingindo a sua roupa, no lado direito.
Shinobu está atordoada, mas ainda tem forças para abrir um frasco de poção de cura. Ela toma dois goles e dá o restante para Kitsune. Em poucos instantes, elas estão inteiras. Mutsumi não sofrera nada durante a breve luta, a não ser o susto.
- Vamos ter que pensar melhor em nossa estratégia. Eu ficarei na frente. Mutsumi, você fica na retaguarda e atire contra o mais adiantado deles. Shinobu, você tem alguma magia que nos possa ajudar na próxima luta? - Propõe a líder temporária do grupo, já recuperada do ferimento, devido à cura mágica do frasco que ingerira.
- Deixe-me ver... Serve "Proteção contra o Mal"? - Pergunta Shinobu, lembrando-se de uma das magias que podia soltar.
- Beleza. Manda ver. - Kitsune faz um sinal de positivo.
A jovem Maehara invoca a proteção. Uma luz brilhante e azulada emana de sua aura e no instante seguinte envolve as suas amigas. Embora fosse mais indicada contra mortos-vivos e demônios, a magia de proteção também servia contra qualquer criatura maligna.
Além de reduzir em 25% o dano causado pelos inimigos, esta magia aumentava 25% o dano infligido a eles, além de melhorar progressivamente as chances de acerto dos golpes e magias, à medida que seus usuários progrediam de nível.
Em seguinte, ela usa em si mesma a magia "Aura de Coragem" que anulava os efeitos do pânico, seja natural ou provocado, além de dar um bônus de moral para seu usuário.
Surge uma aura de cor vermelho-claro com tons de dourado. Em seguida, até a expressão do rosto da tímida ginasial muda, tornando-a mais enérgica e determinada.
- Hummm... Acho que certas magias devem ser usadas antes da gente se aventurar num lugar aonde certamente irá ocorrer luta... - Pondera Kitsune aprendendo os rudimentos de estratégia do RPG.
- Vamos, gente! Temos que salvar os outros! - Exclama Shinobu, nem parecendo ser a medrosa pessoa de antes.
Shinobu. Kitsune e Mutsumi vão para a ala de onde viram os soldados orcs saírem, só que nada encontram. Apenas mais celas vazias, um depósito imundo, uma salinha aonde os guardas descansavam e mais nada. As poucas armas orcs que encontraram não serviriam para nada. Elas estavam gastas e enferrujadas.
Indo agora pelo lado oposto, com cautela, elas dão de cara com o carcereiro orc e o último soldado, que estavam se retirando em direção a uma cela - justo onde Yuri e os outros estavam. Sem hesitar, as três atiram as suas melhores magias de ataque.
Percebendo a intenção das intrusas, o carcereiro empurra o soldado na direção das magias. O pobre coitado é imediatamente carbonizado.
Sabendo que momentaneamente tem a iniciativa, o gigantesco e obeso verdugo saca o seu chicote de tortura e consegue agarrar o pescoço da Kitsune, derrubando-a com um puxão. Inutilmente a jovem tenta-se desvencilhar do laço, tentando soltá-lo com suas duas mãos.
- Kitsune! - Shinobu grita ao perceber que a sua amiga está sendo estrangulada.
Mutsumi e Shinobu lançam mais Magic Arrows no carcereiro, mas é quase inútil. O monstruoso orc era mais resistente do que os soldados comuns e tinha a proteção extra de sua armadura de couro.
Enquanto ele segura Kitsune com o seu chicote na mão direita, o verdugo desembainha um facão com a esquerda, para terminar o combate.
- Não! Não vou deixar você machucar a minha amiga!
Sob o efeito da "Aura de Coragem", Shinobu emite um kiai e por instantes a escura passagem fica iluminada com a sua aura de luta. Segurando firmemente seu cajado, ela avança em direção ao carcereiro.
Liberando rapidamente a quase estrangulada jovem de Osaka com um movimento brusco de seu chicote, o obeso orc apenas tem tempo de bloquear o golpe da Shinobu com o seu facão.
Mutsumi corre para socorrer a inconsciente amiga, enquanto Shinobu e o carcereiro trocam golpes entre si.
A luta está equilibrada no momento. Shinobu está com três marcas de chicote em suas roupas - as magias de proteção reduziram o dano dos golpes, fazendo com que ela sofresse apenas ferimentos superficiais. Ao passo que o carcereiro instintivamente põe a mão na altura do fígado, aonde acabara de ser atingido pelo cajado da jovem clériga.
Mutsumi empurra o corpo de Kitsune para um canto seguro e constata, com horror, que o pescoço da amiga está terrivelmente lacerado e sangrando, devido à pressão terrível do chicote do orc que ainta tinha farpas de metal cravadas em sua extremidade. Se não fosse curada, estaria morta por hemorragia em questão de minutos.
Subitamente, o carcereiro consegue derrubar o cajado de Shinobu de suas mãos, com um golpe de sua arma. Shinobu percebe que a luta está perdida. A Magic Arrow não tem muito efeito sobre o seu inimigo e mesmo que Mutsumi a ajudasse, ela estaria morta.
Ela ajoelha-se no chão olha para o seu inimigo e o vê caminhar a passos lentos, com uma expressão triunfante no rosto, pronto para dar o golpe de misericórdia com o seu facão.
- Sempai! - Shinobu fecha os olhos e num relance, mentaliza a imagem de todos os momentos em que passou junto com Keitarô. Ela se lembra das palavras de encorajamento que ele lhe disse na primeira vez. E naquela breve fração de segundo, uma luz estranha e palavras desconhecidas invadem sua mente, enchendo-a de determinação.
Mutsumi atira no carcereiro uma Energy Blast, mesmo sabendo que seria praticamente inútil para salvar a pequena amiga.
Mas ela percebe com surpresa, que a sua bola de energia é engolida por uma ainda maior, de cor dourada, emanada pelos delicados dedos da jovem clériga. Por uma fração de segundo, a sala se ilumina com um pequeno Sol. Com um estrondo infernal, o carcereiro orc é atirado contra o extremo oposto da parede e finalmente cai morto.
- Shinobu! - Grita Mutsumi desesperada, temendo o pior.
- Eu... Estou bem... Tenho que cuidar agora da Kitsune.
Rapidamente a clériga Shinobu chega ao corpo agonizante de Kitsune e impõe suas delicadas mãos. Ela invoca uma de suas magias de cura.
Uma aura luminosa emana do seu corpo, restabelecendo os pontos de vida perdidos e curando instantaneamente o ferimento no pescoço dela, causado pelo chicote do carcereiro. Em segundos, não sobra nem as cicatrizes do corte, como se nada tivesse acontecido.
- Hã? Onde estou? O que aconteceu... - Kitsune penosamente acorda, com a cabeça girando e tentando pôr as idéias em ordem.
- Você está bem, Kitsune-san? - Sorri Shinobu, mostrando ser ainda a jovem terna e dedicada de sempre.
- Acho que estou... Obrigada por me salvarem, Mutsumi e Shinobu.
- O mérito não foi meu. A Shinobu cuidou do orc e curou o corte que havia em seu pescoço. - Explica a jovem de Okinawa, aliviada.
Assustada, Kitsune apalpa o seu delicado pescoço. Só que não havia mais nenhum sinal de marcas do áspero chicote.
- A Mutsumi está sendo modesta demais. Foi ela que te pegou e deixou num lugar seguro enquanto estava lutando com o orc. - Responde Shinobu com a sua delicadeza habitual.
- Que técnica você aprendeu para derrotar aquele cara, Shinobu?...
- Não sei. Quando fiquei desarmada, achei que iria morrer... Só que veio uma estranha luz brilhar dentro de mim e umas palavras... Acho que era "Holy Blast" ou algo assim...
- Ah é? E porque eu senti que o Keitarô estava junto com você, ajudando a soltar aquela puta magia? - Pergunta Kitsune, sorrindo com malícia, ao descrever a imagem que formara em seus olhos, no momento de sua agonia.
- Kitsune-baka! - Shinobu fica com o rosto mais corado do que um pimentão.
Revistando os pertences do carcereiro morto, as garotas encontram mais um jogo de chaves. E em seguida, revistam todas as celas daquela ala, terminando por encontrar o que queriam.
Até mesmo a calma Mutsumi reprime um grito de medo ao ver o estado em que seus amigos estavam. Keitarô, Motoko e Yuri estavam bastante machucados, devido à seção de torturas.
Imediatamente, Kitsune e Mutsumi liberam os três das cadeias que os prendiam, enquanto Shinobu vai usando suas magias de cura neles, um de cada vez.
Ela já havia retirado algumas armas e pertences que estavam escondidas no seu disfarce e havia trazido três barras de rações desidratadas e um cantil junto com ela. Não era muito para alimentar Keitarô, Yuri e Motoko, mas era melhor do que nada. Eles estavam muito cansados, sedentos e famintos, não tendo se alimentado desde a noite passada.
Assim que todos os aventureiros cativos estão curados, Shinobu abraça Keitarô chorando, o que faz a Motoko - que começava a sentir algo a mais por ele - ficar com uma ponta de ciúme e inveja.
- Sempai! Você está vivo! Eu... Eu... - Chora Shinobu, abraçando a cintura de Keitarô.
- C-calma, Shinobu-chan. Graças a vocês estamos salvos! - Keitarô agradece, tentando recuperar sua compostura, ao ver o rosto zangado da jovem samurai.
- Espero que nào tente nada... Urashima... - Comenta Aoyama enquanto bebe um trago de água, umedecendo a garganta seca.
- Kitsune, Mutsumi, Shinobu, como vocês entraram aqui? - Pergunta Yuri, refazendo-se das torturas que levara. Por sorte, a magia de cura da Shinobu havia feito desaparecer todas as marcas dos machucados e das torturas que sofrera.
- Bem, viemos disfarçadas. Um pouco do meu pó do sono facilitou o serviço... - Comenta a esperta garota de cabelos curtos, piscando um dos seus lindos olhos.
- Bem... Imagino como vocês chegaram até aqui... Acho que foi um erro grave de minha parte subestimar a criatividade da pequena Kaolla e a de vocês. - Admite Yuri, com rara humildade.
- Não, imagine, Yuri-san. Acho que foi melhor ter acontecido deste jeito. Se todas nós fôssemos capturadas, aí não haveria escapatória. - Justifica-se Kitsune, satisfeita com o elogio discreto.
- Obrigado por tudo, mas deixemos a conversa para depois. Ainda não estamos totalmente salvas. Temos que pensar num jeito de sairmos com vida aqui e resgatarmos a Naru das garras daquele monstro! - Comenta Motoko, sentindo que as suas forças voltavam aos poucos, depois da surra que levara dos torturadores.
- E a Naru, onde está? - Pergunta Mutsumi, estranhando a sua ausência.
- Não percebeu, Mutsumi? Ela foi levada por aquele orc gigante, que deve ser o líder deles! - Explica Kitsune, lembrando a cena.
- Awawawawa! Será que a Naru-sempai vai ser obrigada a casar com aquele monstro? - O efeito da magia de coragem já havia passado, e os olhos da pequena Shinobu voltavam a girar novamente.
- A Narusegawa caiu nas boas graças do tal do Grommir e ela vai ser obrigada a casar com aquele cara! Temos que resgatá-la de qualquer jeito. - Fala Keitarô.
- É isto que temos que pensar em como fazer. Se sairmos agora, será um suicídio! - Comenta Motoko, pensando no pior.
- Concordo, Motoko, mas temos que pensar em fugir deste lugar maluco! - Responde o rapaz de cabelos negros.
- E cadê a Kaolla, a Tama e a Sarah? - Pergunta Yuri.
- Bem, elas ficaram do lado de fora... Durante toda a manhã, antes da gente invadir este lugar, elas estavam preparando alguma coisa e pondo nuns caixotes. Quando perguntei o que era, disseram-me que seria uma surpresa para os orcs. Ah, a Kaolla me disse que iríamos saber quando déssemos o sinal para ela. - Explica Kitsune.
- Proponho o seguinte esquema: Mutsumi, Mitsune e Shinobu - Acho que é melhor saírem sem serem notadas, do jeito que vieram e se misturarem à multidão até a hora do casamento chegar. - Fala Yuri.
- E vocês, como ficam? - Kitsune fica preocupada, imaginando as implicações desta estratégia suicida.
- A troca da guarda vai ocorrer no final do entardecer, um pouco antes da cerimônia do "casamento" começar. Quando os soldados vierem para nos levar ao poste das torturas, acabaremos com todos eles e sairemos em direção ao local para resgatarmos a Naru. Neste instante, tentem ficar próximo dela o mais perto possível. - Responde Yuri, descrevendo a conversa dos guardas logo após quando foram capturadas.
- E como nós fugiremos desta aldeia? - Kitsune ainda não estava satisfeita com a resposta.
- Mande a Kaolla fazer qualquer coisa com os engenhos dela para desabilitar as torres de guarda e as seteiras da entrada. Tentaremos fugir com os cavalos e as carroças dos homens de Khazar, que certamente estão na estrebaria. - Explica Yuri, lembrando-se dos detalhes que vira ao adentrar na aldeia dos orcs.
- Parece-me um plano suicida. E o pior que temos que depender das maluquices da Su para conseguirmos fugir... - Inconforma-se Motoko, sabendo do que a jovem estrangeira era capaz de fazer.
- E temos outra alternativa, cara Motoko? - Yuri fita Motoko, toda séria.
- Bem... Não que tenhamos escolha. Mas, por mim e pelo nome do meu clã, lutaremos até o último fio de cabelo. - Responde Motoko, encontrando finalmente sua temível Shisui num dos cantos do calabouço.
- Mas e quanto a luneta mágica com as provas? Acho que vocês perderam-na de vista. - Comenta Shinobu lembrando-se de um detalhe que vira na bola de cristal inventada pela Su.
- Não vamos nos preocupar com isto, por enquanto... Provavelmente a esta altura, os homens de Khazar devem tê-la achado. Com ou sem provas, temos que sair inteiras daqui...
- Mas eles não podem dar um jeito de destruir ela.
- Creio que não. O material do qual ela é feita é capaz de resistir a golpes de qualquer arma feita de metal ou mesmo magia. Somente magos com nível igual ou maior que a de Kadhgar podem destruir aquela luneta. E duvido que Finneas tenha competência para isto.
- Bem, acho que a gente vai indo. Boa sorte a todos. - Conclui Kitsune, se aprontando para voltar.
- Tomem cuidado. - Responde Keitarô.
- Sempai, por favor... Viva. Ainda quero ver você... - Fita com os olhos umedecidos a jovem Maehara.
- Eheh, Shinobu-chan, não se preocupe com a gente. - Sorri o rapaz
Keitarô até pensa em dar um abraço caprichado na pobre Shinobu-chan, mas o olhar ciumento da Motoko o impede de fazer isto.
Após o trio sair discretamente da prisão, Yuri, Motoko e Keitarô repartem entre si a pouca comida e água à sua disposição que Shinobu e Mutsumi trouxeram.
Prudentemente, eles não provaram nada da comida que estava numa mesa - trazida pelos torturadores, como meio de "persuasão".
Um rápido exame feito pela experiente Yuri havia indicado a presença de um cheiro doce e enjoativo nas frutas e bebidas que haviam lá. Possivelmente tudo estava drogado de forma a eles darem com a língua nos dentes caso provassem daquilo.
De forma cautelosa, os três ex-prisioneiros vasculham cada canto da escura prisão a procura de mais armas ou itens que possam ser úteis, só que pouco encontram. As armas dos soldados que Kitsune, Mutsumi e Shinobu derrotaram estavam velhas e gastas demais. E nenhum orc morto levava algum item decente. E no apertado depósito da prisão somente havia tranqueiras e bugigangas de valor duvidoso.
Deixando o estudante da Toudai e a colegial guerreira para trás, em seguida, Yuri vai até a cela onde estavam inconscientes os dois vigias orcs que Kitsune havia drogado para poder se infiltrar na prisão.
Sem muita opção, a experiente aventureira os mata silenciosamente com dois dardos certeiros, para que eles não fossem um empecilho na hora em que acordassem, delatando aos demais o que acontecera.
Após esconder os corpos dos guardas e do carcereiro morto nas celas ainda abertas, o trio resolve esperar os guardas que viriam buscá-los para a execução no Poste das Torturas, na bifurcação do corredor principal. Lá era o local ideal para uma emboscada. Yuri ficaria esperando com a sua besta leve pronta para disparar e a Motoko com sua Shisui em punho. Keitarô ficaria na retaguarda, com o seu cajado de combate a postos.
Enquanto isto, na tenda de Khazar - facilmente identificável pelo seu brasão e pelas cores vermelho e branco - o arrogante nobre e Finneas deliberam a respeito do estranho objeto encontrado pelos vigias orcs nos escombros do casebre onde Yuri e os outros estavam escondidos.
- Então os malditos estavam realmente espionando a gente... - Comenta com ódio e rancor o nobre examinando a luneta mágica. Ele estava com o lábio inferior ainda inchado, tendo recorrido ao seu médico. Após alguns segundos, ele entrega o objeto encontrado ao seu traiçoeiro assessor.
- Certamente este objeto deve ter sido criado em Brightstone... O acabamento é muito bom e realmente não parece ser uma luneta vulgar. - Fala Finneas, depositando a luneta em cima de uma mesa de madeira redonda.
- Uma luneta mágica?... Não podemos correr riscos. Destrua-a.
- Como quiser, milorde.
Tomando um pouco de distância, Finneas concentra-se e dispara a magia "Ice Bolt". Era uma magia extremamente simples, mas perfeita para destruir qualquer objeto inanimado simples por excesso de frio. Um raio de luz branco-azulada ilumina a penumbra da tenda e a temperatura do local cai abruptamente.
Só que para a surpresa de Finneas, o aparentemente frágil instrumento nada sofre, apenas ficando levemente impregnado de partículas de gelo. Somente parte da mesa fica congelada, voltando ao normal dentro de segundos.
- O quê? Mas não é... - O traiçoeiro mago fica incrédulo.
- Solte uma magia mais potente, seu imbecil! - Levanta-se do seu assento o arrogante nobre.
Finneas dispara em seguida uma "Magic Arrow" dupla de grande potência. O impacto foi suficiente para desmontar a frágil mesa, só que nem chegou a arranhar a aparentemente indestrutível luneta.
- Mas que merda! Eu mesmo vou... - Totalmente irritado, Khazar saca a sua espada e após Finneas ter saído de sua frente, o arrogante nobre desfere um golpe capaz de estourar o crânio de um ogro. Sem sucesso. O golpe mal arranhara a estrutura metálica do objeto.
Tomado pela fúria irracional, Khazar iria jogar o maldito tubo para fora do acampamento, só que Finneas o convence a não fazer isto:
- Não milorde, não faça isto! Não é necessário destruir esta luneta. Os mortos não são capazes de proferir ameaças aos vivos! Se me permite, é melhor deixa-la em segurança aqui, até que voltemos ao castelo. Lá, com os equipamentos de meu laboratório, teremos mais facilidade em... - Argumenta Finneas.
- Chega! Faça o que quiser com esta porcaria. Não estou mais interessado! Era para voltar ao meu castelo esta noite ainda, mas o nosso caro Grommir quer que fique para o seu "casamento" com aquela vadia ruiva!... - Responde Khazar com uma cara de nojo e se preparando para sair fora de sua tenda. Embora o Sol indicasse que passara das Quatro horas da tarde, ainda fazia muito calor e estava abafado dentro da tenda.
- Mas é um pequeno sacrifício que todos nos temos que fazer para o bem da diplomacia... - Comenta Finneas se referindo à notícia que se espalhara em toda a aldeia, do "casamento" do líder orc.
- Não sei o que ele viu naquela vagabunda para ter uma idéia dessas! - Comenta Khazar após se certificar de que não havia qualquer lacaio de Grommir por perto. Os orcs eram muito melindrosos com relação a qualquer comentário e uma palavra mal escolhida poderia colocar tudo a perder.
- Bem, de qualquer maneira, nossos inimigos estão à nossa mercê e em breve, Smallville será um mero grão de areia na tempestade - Responde Finneas.
Khazar sai da tenta e aproveita para caminhar um pouco, dando ordens a seus soldados, que terminavam de fazer o carregamento das mercadorias que trouxeram para barganhar com os orcs em troca dos saques obtidos das caravanas, berrando e gritando para descontar sua raiva nos mercenários.
Finneas coloca cuidadosamente o frágil tubo de metal num baú na tenda de Khazar e também se prepara para sair. Ele não estava nem interessado em examinar o objeto agora, embora soubesse que ele era mais do que aparentava ser.
Esperando mais um pouco, até o seu patrão ficar totalmente distraído, Finneas aproveita a chance e resolve ir conversar com o shaman Mogul, em seu templo de pedra.
Esta noite seria repleta de surpresas. Eles não tinham um minuto a perder. Embora a chegada dos aventureiros abelhudos tivesse modificado um pouco as coisas, os planos sinistros do shaman orc e de seu aliado humano não iriam ser interrompidos. Por ninguém.
Sorrindo sinistramente, Finneas se dirige ao templo, ignorando o formigueiro humano ao seu redor.
- Mais um pouco, Khazar, mais um pouco e... - Murmura ele com um sorriso maligno que aos poucos se transforma em uma sonora gargalhada.
Escrito por: Calerom.
Myamauchi1969@yahoo.com.br
