CAPÍTULO 25:

ALIANÇA INFERNAL.

Enquanto estes acontecimentos dramáticos se desenrolavam no platô dos orcs, nas gélidas montanhas Storwwind, na Fronteira Sul de Arkadia, uma figura repousa dentro de uma caverna que lhe serve de esconderijo e refúgio.

Naquele momento, a aventureira conhecida como Alicia Silverstar desfrutava do sono dos justos - deitada numa esteira improvisada e devidamente protegida do frio por três largos cobertores.

Alicia nascera numa cidadezinha do Meio Oeste dos Estados Unidos antes de se mudar para Nova York. Oriunda da emergente classe média americana, ela conhecera um certo conforto e status social. O seu pai era um gerente financeiro de uma corporação de médio porte e sua mãe era dona de casa.

O que parecia ser o prelúdio de um típico sonho americano se desfez diante de um acontecimento que iria alterar a perspectiva de sua vida. Insatisfeito pelo lento progresso em sua carreira, o seu pai começou a fazer apostas mais ousadas, disposto a garantir uma segurança financeira permanente para sua família, numa época em que começaram surgir cortes de pessoal e reestruturações gerenciais na maioria das empresas, no final dos anos oitenta.

Alicia se recorda que, logo após voltar do serviço, o seu pai ficava por vários minutos ao telefone, fazendo contatos diversos e recebendo indivíduos elegantemente trajados em sua casa, que vinham falar "conversa de gente grande" na sala de estar.

Evidentemente ela não entendia nada do que eles diziam. De vez em quando, os visitantes lhe ofereciam pequenos presentes e doces, que ela aceitava alegremente como qualquer criança.

Ela se lembrava de que o seu pai saía constantemente com estas pessoas para jantar ou a negócios e que ela não via a que horas ele voltava.

Naquele período que durou cerca de dois anos, ela se lembra que o seu pai podia trocar de carro o quanto quisesse, além de levar ela e a mamãe para passar férias maravilhosas em lugares exóticos, como o Havaí, a Europa e o Caribe, além de levá-la para passear quase todo final de semana. Era como um sonho que nunca terminaria...

Uma noite, porém, tudo mudou. No início da noite, o seu pai estava na sala de estar esperando por seus amigos, quando apareceram pessoas desconhecidas procurando por ele.

Só que não eram as pessoas que Alicia estava acostumada a ver. Eram homens também elegantemente vestidos, só que com rostos carrancudos e expressões bravas em seus rostos de pedra.

Ela se recorda da face de seu pai se empalidecer quando um daqueles homens bravos lhe entregou um documento de papel em sua mão e falou com ele usando frases duras.

Ela estava espionando tudo isto da porta da sala de estar. E se recorda do seu pai tê-la notado e mandado esperar por ele na cozinha, com uma expressão nervosa, o que raramente acontecia.

Só que ela nunca iria esquecer as frases "intimação" e "fraude" ditas pelo homem carrancudo.

O seu pai ficou totalmente mudado naquela noite. Ele estava muitíssimo nervoso e acabou brigando com a sua mãe de forma violenta durante o jantar. Sem terminar a refeição, ele saiu de casa sem ao menos despedir dela, como costumava fazer.

A pequena Alicia nunca iria se esquecer do terrível significado daquelas duas palavras quando na manhã seguinte um policial veio na sua casa avisar a sua mãe que o seu pai estava morto.

Com três tiros na cabeça.

Só vários anos mais tarde ela veio saber que papai estava envolvido num esquema de fraude financeira envolvendo a corporação aonde trabalhava e que fora pego via escuta telefônica por um detetive particular.

Embora nunca soubesse de que forma o seu pai foi assassinado, é bem provável que tenha sido uma limpeza de arquivo executada pelos outros implicados no crime.

A partir daí, a sua vida tornou-se um inferno. Com papai morto e o nome da família sujo, as dívidas começaram a surgir, bem como as dificuldades financeiras.

A sua mãe foi obrigada a trabalhar num emprego modesto e em breve, elas tiveram que vender muitas coisas que havia em casa para pagar as contas.

A elegante casa localizada no bairro de classe média alta foi trocada por um "apertamento" situado num bairro que ela jamais iria pensar em morar. E finalmente, a contragosto, ela teve que se separar de seus amigos de infância da escola particular aonde estudava indo parar num colégio público.

Os passeios, as idas ao shopping e as viagens a lugares nunca antes vistos foram substituídos pela triste realidade de agora.

Ela já não podia mais usar roupas de grife, ir a lanchonetes e mal tinha dinheiro para voltar de ônibus.

Os seus novos colegas de classe a discriminavam e ela era constantemente insultada e agredida sem motivo por outras meninas.

Sua mãe já não podia lhe dar tanta atenção como antes e vivia discutindo e se lamentando por causa das dívidas que o seu finado pai lhe deixara.

Carente de afetos e amigos, por volta dop início de sua adolescência, a jovem Alicia começou a se envolver com pessoas que lhe diziam que eram seus amigos e que podiam lhe ajudar.

Já que o mundo era dos espertos, iria ser um deles, largando mão de ser boba e lerda.

Ela se aliou a um grupo de delinqüentes juvenis para ficar livre das agressões dos outros e a partir daí, o seu desempenho escolar começou a cair a olhos vistos.

Aos treze aprendeu a fumar e a beber e era constantemente vista matando aula e freqüentando fliperamas, botecos e bailes suspeitos. Somente conseguiu passar de ano com a média mínima.

No início dos quatorze anos ela perdeu a virgindade com uma pessoa que não se recorda mais e chegou a ser detida por furto.

A sua pobre mãe - precocemente envelhecida, doente e meramente uma sombra da mulher elegante que já foi um dia - somente deu por si do abismo da filha quando teve que buscá-la na delegacia, além de receber um baita sermão da assistente social.

As duas brigaram muito e choraram abraçadas naquela noite.



Contudo, Alicia somente resolveu sair - em parte - do abismo aonde se encontrava quando uma das pessoas de sua turma onde estava morreu forma miserável após uma overdose de drogas, numa festa de arromba.

A jovem loira nunca se iria esquecer dos momentos finais de agonia de sua amiga - inutilmente tentando pedir ajuda - enquanto que os "colegas" fugiam do muquifo onde estavam com medo de serem denunciados e presos.

E ela percebera que os laços de "amizade" que uniam os jovens sem perspectivas eram tênues como o êxatase que a droga lhes oferecia.

Ela tomou a iniciativa de entrar num programa de reabilitação de delinqüentes juvenis bancado pela prefeitura e conseguiu arranjar um emprego de meio período, se afastando aos poucos da turma onde estava. A sua sorte era que não chegou a se viciar em drogas e se envolver com prostituição, embora algumas de suas colegas estivessem metidas nisto.

Após ter sido auxiliar de escritório, caixa de supermercado, garçonete e uma infinidade de outros bicos, atualmente Alicia trabalhava num modesto emprego numa loja de computadores localizada num bairro comercial modesto em Nova York.

Ela entrou no mundo da informática por autodidatismo. Era bastante curiosa, e não se envergonhava em fazer perguntas e buscar respostas. Daí para dominar a Internet foi um pulo.

Embora vivesse atualmente uma vida relativamente equilibrada e honesta, Alícia havia mudado muito em relação à garota inocente que um dia já fora na infância.

Entre os colegas, era proverbial a sua capacidade de conseguir que os outros fizessem favores para ela, usando a beleza e lábia. Raramente fazia algo pensando de forma altruísta e sempre arranjava uma saída para escapar de confusões envolvendo dinheiro.

Era uma excelente "atriz" e qualquer um que lidasse com ela precisava ser muito esperta para saber quando ela estava mentindo.

Alicia também conhecia várias técnicas de pirataria de software e de hacking de computador, por uma vez ter namorado um "nerd" que manjava disto. Embora o namoro não tivesse durado mais que cinco meses, ela aprendera muito mais do que em todos os cursos que fizera antes.

Nas horas vagas ela frequentemente "emprestava" softwares da loja aonde trabalhava para copiá-los. E também conhecia a técnica de roubar dados de cartões de crédito e fazer transações fraudulentas, embora não fizesse isto com medo de ser presa. O máximo que fazia era desfigurar home-pages de empresas com ditos anarquistas e passar vírus para os outros.

Em certa ocasião, ela se "vingou" da corporação aonde o seu pai trabalhara, introduzindo um poderoso vírus experimental que causou um prejuízo de centenas de milhares de dólares.

Alícia estava jogando o game Fantasy não para satisfazer o seu sonho de consumo que tivera quando era criança e nem para servir de válvula de escape para a vidinha morna que agora levava.

Mas sim como um meio de ficar rica e famosa.

Jogadora experiente, ela sabia que este RPG seguia em parte a filosofia do conhecido "Everquest Adventures". O player de sucesso tinha chances de não apenas conquistar artefatos raríssimos e exclusivos, como também amealhar uma riqueza virtual imensa, podendo comprar lotes de terras, casas, mansões e até castelos, bem como montar a sua própria guilda virtual de aventureiros.

No momento, Alicia optou por jogar na dificílima "Fronteira Sul" para conseguir achar poderosos artefatos que a tornariam praticamente invencível, além de ter a possibilidade de vender itens raríssimos a colecionadores afoitos por uma bela quantidade de verdinhas.

Sim, ela pretendia colecionar certos artefatos e ganhar uma bela grana vendendo a trouxas endinheirados na Internet.

E já montara um esquema em sua ardilosa mente usando de informações confidenciais que saqueara em parte num forum privado de programadores do jogo Fantasy e em outra parte, de informações coletadas de outros aventureiros que assassinara.

Só que no momento, a sua preocupação imediata não era com fama, riqueza e poder, mas sim em satisfazer os seus desejos carnais.

Embora gostasse de rapazes, Alícia também não desdenhava garotas, em especial lindas jovens de pele macia e toque agradável, como Mieko.

Alícia tinha um corpo bem proporcionado, cabelos loiros encaracolados, e uma aparência digna de uma modelo de revista.

Apenas o seu olhar tinha um certo quê de dureza e cinismo quando ela estava zangada ou séria, embora fosse alegre e vibrante quando estava de bom humor.

Ainda dormindo e ronronando como uma gata, Alícia tenta instintivamente se abraçar à sua nova protegida Mieko, a quem salvara a dias antes de uma emboscada tramada por caçadores de recompensas após a colegial ter exterminado um grupo de aventureiros.

Se Alícia não estivesse na área e ter rastreado com antecedência a pista dos perseguidores, a pobre Mieko teria virado uma mera estatística de jogador eliminado no servidor da enorme rede mundial que compunha o jogo online.

Embora fosse poderosa e conhecesse bem as manhas de um RPG, Mieko cometera o erro de não acumular poções de restauração de fadiga num cenário aonde o ambiente era terrivelmente hostil e as possibilidades de se achar um abrigo ou uma loja de itens era extremamente escassa, ainda mais para um player que acabou de cometer atos malignos.

Após a breve e violenta luta, Alícia levou a jovem japonesa para a sua caverna-abrigo, aonde esta retribuiu o seu inesperado salvamento, dando lhe uma noite de prazeres indescritíveis.

Diferentemente de qualquer menina da Pensão Hinata - exceto talvez pela Kitsune - Mieko não era nenhuma inexperiente e sabia como agradar aos homens e mulheres. Ela havia perdido sua inocência ao ter relações com o seu antigo primeiro namorado e ex-noivo, bem como a jovem universitária com a qual tinha tido um caso que a marcou para o resto da vida.

Tanto ela como Alicia conheciam os abismos que a paixão e o amor podiam levar uma mulher, e dentro de sua alma haviam feridas e cicatrizes incuráveis, marcadas pelo sofrimento, descepção, ilusão e a eterna busca pelo Amor, impelida pelo sentimento.

Tateando a esmo, Alicia percebe que a sua linda maga não estava junto com ela. Um pouco decepcionada, ela preguiçosamente se levanta, revelando o seu corpo seminu.

Em poucos minutos, ela veste o seu traje de batalha e a sua capa, bem como se equipa com as suas armas. Instintivamente ela escuta um ruído vindo de fora da caverna, semelhante a um zunido. Seria algum inimigo?

Avançando cautelosamente com o arco longo composto empunhado em suas mãos, ela lentamente sai do seu refúgio, temendo que algum inimigo ou predador tenha se aproximado da caverna. Só que o anel de detecção de perigo - que trazia em sua mão esquerda - não acusava nada...

Ao sair da caverna, ela caminha de forma cautelosa até a uma pequena clareira embaixo, perto de um riacho semicongelado.

E vê a sua pequena companheira Mieko.

A jovem maga estava vestida com o seu robe branco e aparentemente estava indiferente ao frio cortante ao seu redor.

De diferente, ela estava com uma estranha máscara que lhe encobria o seu rosto, tão belo quanto atormentado.

A máscara era relativamente simples, com dois visores para os olhos. Ela não transmitia nenhuma expressão facial, seja de poder, de alegria, de ódio ou medo... Contudo, ela parecia ter estranhos poderes, os quais a admiradora da samurai Motoko Aoyama estava experimentando agora.

Além de lhe conferir a capacidade de flutuar acima do chão de forma ilimitada e de vôo, este artefato aumentava não somente os pontos de magia que Mieko já dispunha, como também a potência de suas magias de ataque.

A esta altura, Mieko já estava bem mais poderosa do que a sua rival Kaolla Su, a ainda inexperiente Otohime ou a amadora Kitsune.

Já estava indo quase para o level 6, embora o seu real poder de combate lhe permitisse enfrentar de igual para igual um feiticeiro do calibre de Tarsius sem precisar de ajuda, devido aos poderosos itens que carregava.

Afora a máscara, Mieko contava com o seu robe mágico (que lhe dava certa proteção contra magias ofensivas e ataques de armas) um anel de proteção e outro anel que ativava um campo de força com duração limitada.

A adaga simples que ela usava foi substituída por um cajado mágico achado nos saques anteriores de Alícia. O cajado lhe habilitava a conjutar algumas magias do elemento Gelo, independentemente das que ela possuía.

O progresso alcançado nos últimos dias era visível. Mieko já era capaz de disparar duas Magic Arrows de uma vez só e a sua Energy Blast era bem mais poderosa do que as que Otohime e da Kitsune sabiam usar.

E ainda dispunha das magias Ice Beam (Raio Congelante), Ice Cage (Prisão de Gelo) e Ice Storm (Tempestade de Gelo).

Para evitar ainda ser apanhada de surpresa, Mieko aprendera as magias Fire Blast e Fireball para usá-las contra monstros e criaturas naturalmente resistentes ou imunes ao frio.

Por outro lado, também ampliara o seu repertório defensivo, adicionando novas magias de proteção através dos pergaminhos que Alicia confiscara dos aventureiros que matara antes.

Diferente do Sorcerer, cujas magias eram inatas; e do technomage, que dependiam de cristais energizados; o mago tradicional de Fantasy precisava pesquisar o seu repertório de magias. Embora esta parte fosse tediosa e desvantajosa para os novatos, os esforços eram recompensadores a médio prazo, já que mais tarde o mago poderia ter um repertório mais amplo e mais devastador do que o Technomage e o Sorcerer.

Testando as suas técnicas, Mieko já era capaz de desintegrar sem muitos problemas uma grande pedra coma Energy blast ou mesmo derrubar um tronco grosso de árvore com sua dupla Magic Arrow. Em seguida, ziguezagueia a alta velocidade, voando entre os troncos das árvores da floresta ao redor.

Alícia fica embevecida ao ver a performance de sua amiga. Realmente ela estava levando a sério o treinamento a que se propora a fazer de vontade própria.

Sorrindo, Alícia retesa o seu poderoso arco e mira na aparentemente concentrada maga. A flecha encantada é disparada de forma precisa. Daquela distância não havia como errar.

Mieko percebe o perigo e antes que a flecha atinja-a, perfurando sua carne e ossos, ela ativa instintivamente a sua magia de proteçào Barrier, que é mais do que suficiente para defletir a flecha, que cai na neve, com a ponta totalmente arrebentada.

- Alicia-chan! Você quase me assustou! Por que você fez isto? Não gosta mais de mim? - Grita assustada Mieko. Sua aliada e amante de ocasião era suficientemente louca para fazer uma coisa destas.

- Eheh... Vejo que você aprimorou bem a sua técnica de vôo... "my darling" Mieko... - Responde a guerreira Silverstar, se dirigindo a sua pequena protegida.

- Alícia-baka! - Exclama a jovem japonesa.

A jovem maga vem, flutuando no ar e abraça a sua salvadora e mestra, beijando a ternamente no rosto. Embora ela se sentisse parcialmente culpada por estar traindo - fisicamente - Motoko-chan, Mieko devia certa gratidão ao fato da americana tê-la salvado. E depois ela não era de se jogar fora...

Alicia aproveita o treino e faz um ligeiro aquecimento, matando não somente um coelho da neve a duzentos metros de distância com o seu arco como também acerta em vários alvos fictícios criados pela magia ilusória de Mieko, com a sua Rapier.

Algumas horas mais tarde, a dupla faz o almoço do dia, usando o coelho que a exímia arqueira havia abatido.

Mieko sentiu um pouco de nojo ao ver sua amiga retirando a pele e as vísceras do animal, antes de temperar e cortar a carne do mesmo, mas ela não tinha muita escolha... Afinal de contas não havia restaurantes finos ou fast foods por perto...

Certificando-se de que não seriam interrompidas por visitantes incômodos, as duas iniciam uma refeição simples, mas saborosa. Após isto, a experiente guerreira enterra os restos do almoço e o que sobrou do animal, para não atrair predadores ao local.

Certos animais, como os temíveis lobos da neve poderiam sentir o cheiro de carne e sangue frescos a centenas de metros de distância.

Ao final desta singular refeição, as aventureiras voltam à caverna para descansar. Daqui a poucas horas, o céu iria escurecer de novo. A noite por aquelas bandas era bastante surreal, devido à localização.

O Sol nunca chegava a ficar no meio do céu durante o meio-dia e no inverno, ele quase que era visto contornando o horizonte. As noites - quando não havia tempestades de neve - eram iluminadas por uma estranha aurora boreal no horizonte.

Após terem tomado um rápido banho com água morna e trocado de roupa, dentro da macia coberta aquecida, as duas aventureiras começam a dialogar:

- Você me disse naquele dia em que nos encontramos que precisaria de mim, Alicia-chan... Se não me engano, para se apoderar de um tesouro... - Comenta Mieko com a sua voz tímida.

- Mieko, my fiancée, você promete me ajudar, custe o que custar? - Alicia a fita bem dentro de seus olhos, não respondendo de imediato.

- Sim. Eu devo a minha vida a você e... Acho que é o mínimo que posso fazer... - Responde Mieko, um tanto intrigada.

- Que bom, meu pequeno anjo... - A loira acaricia os cabelos curtos elegantemente cortados da colegial.

- Em que posso ser útil aos seus planos? - Indaga Mieko

- Nós duas iremos nos apropriar dos legendários artefatos dos anões de Stonehall... - Responde Alicia.

- Mas... Será possível? Nós duas apenas... - Mieko tem um princípio de dúvida, que é imediatamente apartado por um abraço de sua companheira.

- Vamos precisar recrutar um pequeno exército, com a sua ajuda. E com o seu poder e a minha astúcia, conseguiremos facilmente... - Sorri a jovem de New York.

- Como?

- Precisamos de gente que se sacrifique por nós para derrotar o destacamento de anões que guarda Stonehall. - Desta vez, o tom de sua voz sai sério e duro.

- Um grupo de mercenários?... Mas...

- Não exatamente isto. Muita gente atrapalha, além de haver risco de traições... O tesouro de lá será apenas para você e para mim... - Alicia acaricia com o dorso de sua mão a face ligeiramente ruborizada da maga.

- Diga-me a sua idéia.

- Existe nas redondezas uma tribo humanóide de homens do gelo. Eles são seres muito primitivos, mas estão adaptados perfeitamente ao clima e as condições daqui. Além do mais, são inimigos mortais dos anões. Parece-me que eles eram de origem subterrânea e competiam por território dentro das galerias das montanhas. Só que com sua experiência militar e armas mais aprimoradas, os anões expulsaram estes homens do gelo para a superfície... - Alicia finalmente expõe o que sabe.

- Como eles são?...

- Os homens de gelo são de estatura baixa e corpo atarracado, pele azulada, cabelos brancos e não enxergam bem com o Sol do Meio-Dia. Em compensação, são capazes de enxergar perfeitamente no escuro e mesmo sob severas tempestades de neve, por causa de uma membrana transparente que protege os olhos. - Alicia termina a sua breve descrição abraçando a sua amiga.

- E como você, ou melhor, a gente, pretende recrutá-los?

- Com a sua ajuda, naturalmente. - Sorri enigmaticamente a ambiciosa aventureira Silverstar.

- Mas... Como?

- Conta uma lenda que estes seres foram governados por uma rainha muito poderosa, chamada Karelia. Ela possuía poderes mágicos enormes e era muito poderosa, tranzendo-lhe os rudimentos da civilização aos homens do gelo. Ela era venerada praticamente como uma deusa, possuindo uma beleza fora do comum, bem como inteligência e sabedoria muito acima deles. Contudo, um certo dia ela desapareceu de forma misteriosa. Estes seres primitivos acreditam que um dia ela voltará de novo para guiá-los para a vitória definitiva sobre os anões. - Sussurra Alicia no ouvido de Mieko, causando-lhe arrepios.

- Você quer que eu passe por esta tal de Karelia? - Finalmente Mieko havia entendido o plano de sua ambiciosa amiga.

- Exatamente. - Sorri Alicia fechando os olhos com um ar de inocência que ela definitivamente não tinha.

- Mas não é arriscado? Eu posso usar algumas ilusões e magias para simular alguns de seus poderes, mas eles jamais irão ser totalmente convencidos. Olhe a minha estatura e o meu corpo... Eu...

- Querida Mieko-chan, você se subestima muito... Sabe esta máscara arcana que você está usando? Além dos poderes que você conhece, ela se trata de um suposto artefato daquele povo de gelo e deve ter pertencido à própria Karelia... E segundo os pergaminhos que roubei de um mago que tive que matar, esta máscara possui a capacidade de controlar a mente daqueles infelizes sem qualquer indicações.

- Então... Você acha que... - Alicia não deixa Mieko continuar falando.

- De deusa a tal da Karelia não tinha nada, devia ser uma tremenda duma espertalhona. - Comenta com certa ironia a loira.

- Será que este plano vai dar certo? Deixe-me ver se eu entendi. Vou ter que me fazer passar pela Karelia e você será minha arauta... Nós convenceremos os homens de gelo a atacarem a fortaleza dos anões e se der tudo certo, saquearemos os artefatos e o tesouro...

- Vai dar certo.

- Mas a minha magia... Sinto que ainda não é o bastante... - O tom da voz de Mieko volta a ser triste e preocupado.

- Bobagem, minha querida. A máscara e os acessórios que cedi a você são mais do que suficientes para aumentar os seus poderes e viabilizar nosso "teatro"... E, com certeza, na aldeia dos homens de gelo e na fortaleza anã existem artefatos que te farão praticamente invencível.

- Mas e se os primitivos tiverem algum tipo de teste ou prova para se certificarem de que não estão lidando com alguma impostora... - Indaga Mieko se lembrando de alguns filmes de aventura que assistira.

- Sei disto. Só que se eles pensam que vão passar a perna na gente, vão se dar mal. A máscara torna o seu usuário imune a qualquer magia de detecção de mentiras ou identificação e quaisquer testes ou provas falharão, já que você possui um objeto legítimo da rainha-deusa daqueles trogloditas.

- E estes seres não possuem algum feiticeiro ou shaman que nos poderia atrapalhar com seus poderes?

- Pode até ser que sim, mas ele não será páreo para o seu poder e a influência que o artefato lhe dará.

- E depois?...

- Shhh... Já está escurecendo. Venha, minha linda Mieko...

Reprimindo um suspiro e imaginando em seus devaneios estar diante de sua amada Motoko-chan, Mieko permite ser abraçada e beijada por Alicia, que não desconfia de nada.

Na manhã seguinte, reunindo o que podia carregar, Alicia e Mieko saem da segurança de seu refúgio para a vastidão branca. Elas teriam que andar durante vários quilômetros - até entrar na região aonde moravam os supersticiosos homens do gelo.

Havia relativamente poucos monstros e predadores naquela desolação branca, mas todos eles muito perigosos: iétis (conhecido como o abominável homem das neves), trolls do gelo, lobos da neve, panteras brancas e algumas espécies ainda mais exóticas.

Dependendo da região poderiam se deparar ainda com espécies raras de mortos-vivos, produtos de maldições antigas ou de almas inquietas de aventureiros mortos naquelas paragens, como esqueletos, ghouls e as misteriosas mulheres de gelo, que apareciam em fortíssimas tempestades.

Embora não nevasse e um pálido Sol iluminasse o dia naquelas paragens, fazia bastante frio.

Mieko tiritava de frio enquanto sua companheira avançava lenta e cautelosamente, carregando uma pesada mochila às suas costas e empunhando o seu poderoso arco composto, vasculhando em busca de prováveis inimigos com o seu olhar de águia.

Após terem caminhado por dezenas de quilômetros, enfrentando o frio e a solidão enlouquecedora, as duas fazem uma pausa para almoçar e descansar, ao abrigo de um pequeno vale.

Alicia toma um trago de bebida alcoólica e em seguida dá a garrafinha para a sua jovem amiga. Reprimindo uma careta de nojo, Mieko toma o restante do conteúdo da garrafa. Em seguida, as duas comem um pouco de carne e uma espécie de mingau feito com barras de rações concentradas.

Terminado o descanso, a dupla segue o seu caminho, adentrando ainda mais em território desconhecido. Já deveria ser bem de tarde quando as duas caminhavam por uma trilha que havia dentro de um estreito vale que rasgava em dois a cordilheira das montanhas Stormwind.

Mieko caminhava, ou melhor, flutuava vagarosamente, visivelmente inquieta. Se não fosse pela presença da companheira, ela teria certamente se arrependido de ter escolhido a "Fronteira Sul" para jogar. A solidão, o barulho do vento cortante e a desolada paisagem branca eram simplesmente assustadores para principiantes. E mesmo um grupo numeroso agindo conjuntamente não era garantia de sobrevivência naquelas paragens.

Alicia olhava para a jovem maga com certa pena, mas paciência. Ela tinha que ser forte o suficiente para que o seu ambicioso plano tivesse sucesso.

De repente, ela pára e ordena com um gesto que Mieko também faça o mesmo. O seu anel de detecção de inimigos começa a piscar insanamente, embora nada seja visto no raio de dezenas de metros.

A tensão cresce no rosto da arqueira, enquanto seus olhos de águia vasculham a vastidão branca. Até ela sentir um cheiro estranho quase indistinguível...

- Alicia-san, o quê foi?... - Mieko fica estática, sem saber o que fazer direito.

- Rápido, acione suas magias de defesa. Temos Companhia!... - Responde sua companheira retesando o seu arco composto.

- Mas... - A colegial não havia entendido o motivo desta ordem.

- Não temos tempo! Faça! - Alícia responde rispidamente, com visível nervosismo.

Sem querer levar nova bronca de sua companheira, Mieko invoca silenciosamente as magias "Escudo Arcano", "Borrão" e "Imagem Etérea" em si mesma, e em seguida as magias "Proteção contra Projéteis", "armadura arcana" e "Proteção Mágica" em sua amiga, em questão de segundos.

O "Escudo Arcano" era uma espécie de campo de força que podia se movimentar conforme o desejo da mente do usuário, protegendo-o contra magias e ataques de longa distância com projéteis.

"Borrão" era uma magia ilusória que distorcia os sentidos dos inimigos, aumentando drasticamente a chance deles errarem o alvo caso usassem arcos ou bestas, além de dar certa proteção em combate corporal.

E finalmente "Imagem Etérea" fazia com que as chances de acerto do inimigo em combate corpo a corpo caíssem para 50% ou menos e que seu portador ficasse totalmente imune a armas normais não mágicas.

Quanto às magias recebidas por Alicia, a "Proteção Contra Projéteis" fazia com que ataques de flechas, dardos, virotes e besta e similares fossem defletidas, bem como certos ataques a distância que certos animais e bestas possuíam. Ela somente não protegia de ataques mágicos.

A "Armadura Arcana" era uma poderosa magia que não impedia o alvo de receber golpes dos seus inimigos, mas tornava imune a dor e reduzia o dano causado enquanto ela durasse.

E "Proteção Mágica" dava certa resistência extra contra magias controladoras da mente, bem como aumentava a chance das magias de ataque não causarem dano ou causarem danos mínimos.

Terminada a conjuração, Mieko aciona magicamente a sua máscara-artefato, apesar de não entender direito o motivo das ordens de Alicia. Subitamente a loira de cabelos encaracolados dispara o seu arco como por instinto. Um gemido surdo rompe o silêncio da vastidão, revelando a posição de um vulto humanóide. Mas estranhamente o alvo atingido não cai.

- São mortos vivos! Os Ghouls da Neve! Não deixem que eles se aproximem!- Exclama Alicia, enquanto saca uma outra flecha encantada de sua alijava.

Mieko reprime um grito de horror quando ela vê cerca de oito corpos deformados e pálidos se erguerem do chão encoberto pela neve.

Os ghouls lembravam cadáveres ambulantes animados, só que com feições inumanas, dentes afiadíssimos e línguas ásperas horrivelmente deformadas.

Uma maldade sem fim emanava daqueles olhos opacos e sem vida.

Segundo as antigas lendas, os cadáveres de aventureiros malignos que tivessem morrido sem receber um funeral religioso tinham grandes chances de se tornarem ghouls, continuando suas maldades no além vida.

Outros diziam que os ghouls eram os corpos de homens e mulheres que teriam tido o hediondo hábito de comer carne humana quando em vida e haviam sido amaldiçoados pelas divindades.

Diferentemente dos zumbis comuns animados por magia, os ghouls tinham uma inteligência primitiva e podiam usar táticas simples de emboscada. Embora tecnicamente fossem mortos-vivos, os ghouls se alimentavam de carne - principalmente humana - para sustentar suas carcaças pútridas e atacavam suas vítimas usando as suas presas e suas garras, devorando por completo uma pessoa em questão de poucos minutos.

O maior perigo desta raça maldita, no entanto, residia no fortíssimo cheiro de carne putrefata que eles emitiam, que era capaz de atordoar guerreiros experimentados a curta distância, deixando-os à sua mercê.

Haviam várias subespécies destes mortos-vivos, de acordo com o habitat aonde eram encontrados. Contudo, a raça dos Ghouls da Neve era uma das mais temidas por três motivos:

Primeiro, eles podiam se confundir facilmente na neve, devido à sua pele esbranquiçada.

Segundo, eles podiam controlar a emanação de seu odor putrefato quando quisessem, somente liberando-o com força total para atacar suas vítimas.

E em terceiro, eles eram totalmente imunes às magias de gelo e eletricidade, ao contrário dos seus parentes mais comuns, que apenas tinham resistência parcial, isto é, sofriam apenas metade do dano causado por estas magias.

Avançando em silêncio, os ghouls estavam começando a cercar Alicia e Mieko. Não havia como eles escaparem do estreito vale. Eles estavam em total superioridade numérica.

Sem se deixar levar pelo pânico, Alicia atira uma segunda flecha no ghoul mais adiantado, que estava a menos de trinta metros de distância. A poderosa flecha encantada atinge-o na cabeça e ele cai com um baque seco. Contudo, em menos de três segundos, ele se levanta de novo, ainda que o poder mágico do projétil tenha causado um bom dano nele.

Mieko se concentra e do seu lado, ela dispara uma magia - a Ice Bolt - num dos mortos-vivos, esperando congelá-lo. Só que para o seu horror, a monstruosidade facilmente escapa da sua prisão de gelo, parecendo estar furiosa com ela.

- Não, Mieko! Use qualquer magia, menos as do gelo! - Grita Alicia, ao perceber o erro que a maga cometera.

- Mas!... - Mieko não entende a advertência de sua parceira.

- Eles são imunes a isto!

Naquele instante dois mortos vivos estavam a menos de dez metros de onde a colegial japonesa estava. Mieko faz uma nova tentativa, disparando uma potente Energy Blast. A esfera de pura energia mágica atinge em cheio o mais adiantado destes, fazendo-o cair.

A jovem japonesa fica assustada ao ver o ghoul atingido tentar se erguer de novo - sem a cabeça, e com parte do tronco destruída - mas fica aliviada quando ele cai em definitivo.

Enquanto isto, Alicia tem tempo de disparar mais três flechas em outros atacantes, abatendo finalmente os dois primeiros ghouls que acertara antes e ferindo um terceiro. Logo elas teriam que enfrentar os remanescentes no corpo a corpo, tendo de correr o risco de lidar com o odor horrível e nauseante destas aberrações.

Mieko atira uma Magic Arrow dupla que destrói em pedaços o segundo ghoul dos quatro que estava avançando em sua direção. Mas ela tem dificuldades para se concentrar devido ao mau cheiro crescente. Quando se dá conta, os dois mortos-vivos restantes estão a menos de dez metros de distância, aparentemente avançando sem dificuldades no terreno nevado.

Alicia já havia exterminado três dos cinco ghouls da neve pelo seu lado. E, largando no chão o seu poderoso arco, ela saca a sua Rapier e o Gládio de combate para enfrentar os restantes.

Ambas as armas eram mágicas. O seu Gládio era altamente resistente e podia atravessar facilmente uma armadura simples.

E a sua Rapier era uma arma extremamente veloz, dando um bônus de um ataque extra. Embora nenhuma das armas fosse específica contra mortos-vivos, o seu dano mágico era de grande valia para romper as defesas dos mesmos contra armas convencionais.

Lutando contra o medo e a sensação crescente de náusea, Mieko consegue disparar uma Magic Arrow no terceiro ghoul, conseguindo sua derradeira vitória.

Quando ela ia pensar em disparar outra magia, ela quase desmaia devido ao odor penetrante do monstro remanescente. Suas magias de defesa podiam ser eficazes contra ataques mágicos, mas não contra esta habilidade natural da aberração.

Alicia, por outro lado, não podia ajudá-la. Ela estava prestes a enfrentar sozinha os seus dois inimigos restantes que avançavam a passos largos, atraídos pelo odor de carne fresca e humana. Esperando até o último instante, a loira solta um grito selvagem e ataca o mais adiantado deles, que ativa o seu ataque atordoante. Alicia não consegue enxergar direito dentro da nuvem de odor pútrido, mas desfere um golpe às cegas com a rapier. Um gemido inumano é a única prova que seu desesperado ataque deu certo.

Reprimindo uma terrível sensação de nojo e de vômito, Mieko tenta recuar, mas as garras do monstro quase a atingem, somente errando por pouco devido ao efeito da magia "Borrão". Ela desfere um golpe com o seu cajado mágico na cabeça do Ghoul da Neve, que geme de dor.

Contudo, o impacto é insuficiente para derrubá-lo e o morto-vivo agarra o cajado, disputando-o com a apavorada garota.

Lutando contra a sensação de ardido e de prodridão que ameaça tomar conta de seus sentidos, Alicia se esquiva a esmo das garras dos ghouls remanescentes. Um deles quase acerta o seu ombro direito, enquanto ela faz um contraataque com o seu gládio, acertando-o na barriga.

Só que para o seu azar, a arma fica cravada dentro das entranhas do monstro e ela é obrigada a largar devido ao odor e o gás esverdeado que emana do ferimento, ficando somente com a sua Rapier.

Por outro lado, Mieko tenta se manter consciente, em que pese o forte odor de carne podre que emana de seu oponente. Ambos os contendores disputavam a posse do cajado mágico. A jovem solta um grito de puro horror quando a aberração estica o pescoço tentando mordê-la. A visão daquela bocarra aberta, com dentes podres e uma língua proeminente é simplesmente horrível.

Distraída pelo grito de sua companheira, Alícia abre a guarda por um instante, o que é suficiente para o Ghoul que estava enfrentando tentar agarrá-la com suas unhas imundas.

A mercenária crava a Rapier no peito do monstro instintivamente, a quatro dedos acima de onde havia ferido o monstro com o seu gládio.

Se fosse uma criatura comum, o ghoul estaria morto. Só que ele não tinha um coração e órgãos vitais funcionando naquela paródia de humanidade.

Alícia sente as garras do ghoul atravessando sua armadura leve de combate, como se ela fosse feita de tecido barato. O toque daqueles membros profanos é terrível e uma sensação entorpecedora de frio começa a invadir os seus sentidos. Gritando forte e tentando-se manter em pé, ela tenta com uma de suas mãos retirar a sua Rapier que ficou cravada entre as costelas do ghoul enquanto que com a outra tenta manter afastada aquela cabeça hedionda faminta por carne humana.

Do outro canto do cenário de batalha, Mieko estava quase prestes a desmaiar, ficando a mercê do seu inimigo quando em sua mente ela sente a imagem de sua amada Motoko.

A visão daqueles cabelos negros sedosos, a pele macia e o sorriso da garota-samurai impecavelmente vestida com aquele conjunto de Gii branco e Hakama vermelho-escuro e vencendo suas rivais nos campeonatos de kendô fazem com que ela se esforce ao máximo para não ser vencida.

O cajado mágico que a maga branca empunhava começa a brilhar e de repente a carcaça do ghoul começa a refletir os raios que emanam do mesmo. Pontos de luz dourada começam a se formar em volta de seu hediondo tronco...

A explosão é imensa e Alícia percebe que sua pequena protegida vencera a batalha. Mieko aprendera mais uma nova técnica de luta, no desespero da luta de vida e morte. A jovem japonesa está estendida na neve, atordoada e tentando se recompor, enquanto tenta esquecer a horrível visão dos destroços sem vida do seu oponente.

Enquanto isto, Alícia finalmente consegue se desvencilhar das garras do seu oponente. Reunindo suas últimas força, ela afasta o morto-vivo com um empurrão violento seguido de um chute, enquanto recupera a sua Rapier, assumindo posição de combate. Somente a dor de seus arranhões mantém acordada sua mente - apesar do insuportável odor que empesteia o local.

O Ghoul faz uma nova investida, mas Alícia corta o seu braço direito como se fosse um galho apodrecido. Em seguida, com um gesto rápido, ela decapita o monstro.

Com a sua cabeça presa ao tronco apenas por um pedaço fino de pele e carne, o morto-vivo começa a cambalear e finalmente cai para o seu descanso eterno, tingindo a neve com um líquido vermelho-esverdeado que escorria de seus ferimentos, numa imitação grotesca do sangue humano.

Alicia - completamente exausta pela desesperada batalha - deixa-se descansar no solo duro coberto pela neve, enquanto que uma brisa gelada começava a afastar os odores pútridos daqueles corpos sem vida.

A alguns metros de distância - Mieko extravasava o medo e o nervosismo sofridos, chorando baixinho, balbuciando palavras em Japonês, como se estivesse conversando com sua amada Motoko.

Depois de poucos minutos, Alícia finalmente se levanta devagar e retira o seu gládio de combate da carcaça morta de seu oponente. Depois, lenta e metodicamente, começa a decapitar uma por uma as cabeças dos derrotados ghouls para garantir que eles permaneceriam mortos pela eternidade.

Mieko em seguida vem para abraçar a sua protetora e companheira íntima, mas ela solta um grito ao ver o estado que ficou a sua amiga. A capa de proteção estava rasgada e as costas estavam severamente arranhadas pelas garras do Ghoul. O sangue escorria pelos rasgos de sua armadura, tingindo a sua capa de vermelho, além dela apresentar marcas de arranhões pelo rosto.

- Não, Alícia-chan!

- Shhh... Rápido, pegue uma poção de cura... - Tenta manter a calma a veterana aventureira, apesar da dor lancinante, sabendo que cada segundo era importante.

Mieko obedece e entrega o frasco com o líquido salvador à sua amiga. Alícia ingere aproximadamente dois terços do conteúdo, restaurando a sua vitalidade perdida e eliminando as cicatrizes das feridas.

Só que isto não era o bastante. Tendo que suportar o frio intenso, ela penosamente retira a parte de cima de sua armadura, ajudada pela sua parceira, que vence a sensação de pavor e de nojo de ver o sangue, pensando na sua amada Motoko Aoyama.

Embora não tivessem atingido algum osso ou órgão interno, as garras do ghoul haviam feito um belo estrago nas costas da loira.

Mas o mais importante seria desinfetar aquelas feridas antes que ela contraísse uma doença mortal causada pelas garras imundas e infectas da criatura.

Usando um pouco de neve e uma de suas magias menores, Mieko ferve um pouco de água numa caneca retirada de uma das mochilas e a pedido de alícia, despeja o restante da poção, diluindo-a numa espécie de soro.

Com um pano limpo, ela passa o soro improvisado pelas feridas, de forma cuidadosa. Como que por um milagre, o sangramento cessa e os machucados começam a se fechar. Com um pouco de sorte e de repouso, seria uma questão de tempo para até mesmo as cicatrizes da luta desapareceriam.

Mieko ingere um pouco de poção e desinfeta os arranhões que sofrera. Por sorte, ela estava em melhores condições do que sua amiga, embora ainda estivesse impressionada com o poder dos mortos-vivos.

Terminando de enrolar o tronco nu de sua amiga com bandagens improvisadas a partir de uma camisa rasgada, Mieko ajuda Alícia a se vestir o seu uniforme antes que ela fique congelada.

Não havia mais tempo para mais nada. Quase cinquenta minutos mais tarde depois da fatídica luta, a dupla se retira do perigoso vale, deixando para trás os destroços do bando de ghouls estirados pelo caminho.

As duas ambiciosas aventureiras apertam o passo e acabam acampando na base de um rochedo enorme no final do entardecer. Seria muito perigoso arriscar aventurando-se pela floresta à sua frente, ainda mais na escuridão da noite surreal que prevalecia naquele mundo.

O formato peculiar do rochedo garantia uma certa proteção contra o vento - que começava a se tornar cada vez mais frio e cortante - bem como a neve. A dupla finalmente achou um vão na maciça rocha aonde poderiam descansar, protegidas do clima e dos predadores.

Enquanto a sua amiga descansava, Mieko pena um bocado para fazer uma refeição naquele frio desolador. Mesmo com a ajuda de seus novos poderes, ela não era uma cozinheira muito boa e estava por demais acostumada com comida pronta e com restaurantes.

O máximo que ela conseguiu fazer com seus limitados talentos foi uma sopa magra, usando água, carne seca e alguns tabletes de rações diluídas. Mas nas condições que elas estavam, não tinham sequer o direito de reclamar.

O jantar foi rápido e quase sem palavras. Tendo repousado o bastante, Alicia estuda o mapa da região junto com a sua parceira. Ambas haviam percorrido cerca de 24 quilômetros neste dia. Faltavam mais 17 quilômetros para chegarem ao território dos homens da neve.

- Alicia-san... - Pergunta Mieko enquanto alumiava com uma de suas magias a escuridão ao seu redor.

- O que foi, querida? - Alicia desvia os olhos do mapa e fita com ternura a sua amiga.

- Como você conseguiu manter os seus nervos diante daqueles monstros? Eu... Nunca vi nada parecido na minha vida... Desculpe-me por não ter te ajudado... - Balbucia timidamente a colegial.

- Já vi nesta vida cada coisa... Mas você não sentiu medo quando acabou com aqueles aventureiros dias atrás, não? - Sorri a loira de cabelos encaracolados.

- Bem... Enfrentar seres humanos é uma coisa, lutar contra mortos-vivos é outra... Sempre morri de medo de assistir filmes de vampiros e fantasmas... Me perdoe... Acho que você deve estar pensando que sou uma boba... - O rosto de Mieko fica corado de vergonha.

- Heh, não fique assim, eu devia ter te avisado antes a respeito dos perigos destas encostas... - Alicia tenta aclamar sua amiga fazendo um cafuné na cabeça.

- Você chegou a andar aqui antes?

- Não. É a primeira vez. Só que já escutei relatos de outros viajantes, além de ter roubado um guia de viagem de um aventureiro que eliminei... - O olhar da guerreira loira volta a ficar sombrio diante das lembranças recentes.

- Bem, mas já passou o pior, não?

- Se você chama os mortos-vivos de pior, sim. Só que tivemos a sorte de não encontrarmos com feras selvagens por enquanto, mas amanhã será diferente... - Responde Alicia medindo suas palavras para não assustar a amiga.

- Que tipo de feras você se refere?

- Os perigosos leopardos da neve que são capazes de perseguir as suas presas por quilômetros numa tempestade, o abominável homem das neves com três metros de altura e meia tonelada de músculos, os lobos brancos que soltam um hálito capaz de congelar uma pessoa, o urso pré-histórico que é bem maior e mais feroz do que o seu similar moderno e... - Explica de forma algo didática a loira.

- E?

- O dragão branco, o ser mais temível e inteligente destas regiões.

- Temos alguma chance de encontrarmos outras raças semi-humanas na região? - Suspira Mieko, preocupada.

- É quase impossível. Veremos elfos e gnomos só se forem aventureiros. Os anòes raramente se aventuram além das montanhas. Só encontraremos pela frente os homens da neve, cuja aldeia deve ficar a um dia e meio de viagem daqui... - Termina de explicar Alicia enquanto toma um rápido trago de aguardente numa garrafa.

- Eles... São hostis?

- Bem... Vai depender de nosso pequeno teatro... - Sorri maliciosamente a astuta guerreira.

- Como assim?

- Se nós formos até eles deste jeito, seremos provavelmente mortas antes de falarmos qualquer coisa. O meu plano é o seguinte... Amanhã irei me disfarçar de uma feiticeira primitiva, uma shaman quando chegarmos perto de lá. Você deverá me acompanhar, só que invisível, usando os poderes adquiridos com a máscara-artefato de Karelia. - Evidentemente Alicia tinha já planejado a farsa nos mínimos detalhes. Contudo, tinha que garantir que sua jovem amiga não iria falhar. Do contrário estariam mortas.

- Você não está querendo que... - Mieko estava assustada diante da ousadia da americana maluca.

- Sim. Você terá que se passar por Karelia. Mas não se preocupe. Já nos conhecemos o suficiente para termos um elo psíquico... - Neste momento, a mão de Alicia começa a acariciar novamente os cabelos negros e ondulados de Mieko.

- Como assim, elo psíquico?

- Se você usar a máscara e se concentrar, poderá entender o que penso sem que a gente precise conversar verbalmente... - Sorri a loira.

- Se encontrarmos os selvagens, como você pretende agir?

- Eles são crédulos e supersticiosos. Mesmo sabendo que sou humana, os homens da neve hesitarão em matar-me, já que pela crença deles, matar um shaman traz azar à tribo inteira, ainda que ele seja inimigo. Vou enganá-los neste momento, dizendo ser a profetisa do retorno de Karelia. Aí você aparecerá com o seu rosto coberto pela máscara, flutuando no ar... - Finalmente o plano começava a fazer sentido.

- Mas isto não será suficiente para eles acreditarem. Só conheço o que você me disse desta Karelia... - Mieko hesita, mostrando que não era nenhuma bobinha. Ela era inteligente o suficiente para saber que se tratava de um plano arriscado.

- Não se preocupe. Já pensei nisto. Sabe este pergaminho aqui? Ela contém uma magia arcana chamada "Legends Lore". Se você a memorizar e utilizá-la em alguma relíquia ou artefato mágico antigo, não apenas conhecerá toda a história pregressa referente ao mesmo, como também poderá usar alguns de seus poderes mesmo sem ter o nível necessário para isto... - Mas evidentemente sua amiga era tão esperta quanto ela era inteligente.

- Mas mesmo que a farsa tenha sucesso, ainda acho que sempre haverá algum indivíduo que irá duvidar de nossa... palavra... - Tenta argumentar a garota japonesa.

- Como eles encaram qualquer tipo de magia com muito temor, bastará a você fazer uma pequena... Demonstração de suas habilidades. Isto será o suficiente para aqueles seres primitivos nos levarem até a sua aldeia, onde seremos recebidas com honras... - Ri a loira.

- Mas... Decerto eles devem ter um chefe de aldeia e um feiticeiro... E eles não irão duvidar da farsa?

- Ahahah, você é bem perspicaz, menina... Porque você acha que te escolhi para ser minha parceira? Caso os líderes duvidarem, você poderá persuadi-los permanentemente... com as suas magias de gelo. - Responde com certo tom de ironia a sua amiga.

- Sabe, Alicia-chan, às vezes eu tenho um pouco de medo de você... Você pensa em tudo... - Finalmente Mieko dá o braço a torcer.

- Acho que já contei um pouco de minha vida para você durante a noite passada, Mieko, my darling. Nesta vida, se a gente quiser alguma coisa, temos que conquistá-la mesmo que tenhamos que tomar de alguém... - De fato, a filosofia da aventureira americana era tão pragmática quanto desprovida de qualquer preocupação ética.

- Entendo...

- Suponho que você tenha uma excelente educação e um padrão de vida invejável... Mieko, você é uma garota de classe e adoraria um dia conhecê-la intimamente na vida real... - Alicia fecha o mapa e resolve se distrair com outras coisas.

- Alicia-chan...

- Você pode me achar meio rude e grosseira, mas nem sempre fui assim... Já tive de tudo e era para ter me dado bem na vida... Até o dia em que aqueles malditos... Acabaram com papai e levaram a minha família na m... - O tom de sua voz saía maculado com o fel da amargura e do ressentimento de anos.

- Por favor, Alicia-chan, eu sou sua amiga, não irei te abandonar. - Embora as duas fossem bem diferentes, Mieko compreende o sofrimento de sua parceira. Ambas eram párias, apesar de terem nacionalidades, vivências e pontos de vista diferentes.

- Não mesmo? - Por um breve instante a máscara de auto-confiança e temeridade de Alicia desaparece e aqueles olhos sombrios voltam a ter o brilho da criança desamparada e inocente que um dia já fora.

- Eu... Admiro muito você. E queria ser como você para conseguir o que eu quero. - Embora o seu coração e mente fosse de Motoko, Mieko temia falar qualquer coisa que desagradasse sua parceira, por não conhecê-la direito.

- Saiba de uma coisa, Mieko... Neste mundo existem os fortes e os fracos. Os fracos ficam estendidos no chão, chorando e sendo pisados. Somente sendo fortes podemos conseguir o que queremos... - Responde Alicia, sussurrando no ouvido de sua amiga.

- Eu não quero ficar no lado dos fracos. Já sofri muito por causa disto... É por isto que a gente irá dominar aqueles selvagens?

- Sim. De um jeito ou de outro estaremos prestando um favor a aqueles imbecis, fazendo-os avançar mais do que sonhariam...

- Tudo isto... Para tomar uma câmara de tesouro? - Para Mieko ouro e tesouros nada significavam... Ela sabia que riqueza não trazia felicidade.

- Não, não tesouros comuns, mas artefatos lendários que permitirão a gente ser invencíveis e vivermos como princesas...

- Nem tenho idéia de como seria...

- Esta máscara, para ter uma idéia, é o menor artefato da coleção. Se você tiver em mãos os artefatos lendários de Karelia, você se transformará praticamente numa arquimaga... - Sorri a loira.

- Mas... Você não está se arriscando apenas por causa de um tesouro e de equipamentos, não, Alicia-chan? - Mieko ao mesmo tempo admirava e temia a ambição que incendiava a alma da loira.

- Existe algo infinitamente mais precioso naquela câmara... Um artefato... Capaz... De realizar qualquer desejo que você imaginar... - Sussurra Alicia, mal imaginando o impacto que estas palavras traziam na alma da Mieko, apesar das reações de sua amiga aparentarem o contrário.

- Mas, isto é impossível! - Protesta a jovem oriental, embora no seu íntimo desejasse que isto fosse verdade, para realizar o seu sonho.

- Também achava isto, só que este artefato misterioso deve ser a chave que garantiu a existência do reino dos anões por séculos... Se a obtivermos, nada impedirá da gente conquistar o que quer... Você não quer isto, meu anjo? - Os olhos de Alicia reluziam de ambição, desejo e ganância desmedidas.

- Sim... Eu quero, eu desejo, Alicia-chan. - Sussurra a jovem magra de cabelos curtos, embora no fundo pensasse na sua Motoko-chan. O vento lá fora começava a tornar-se mais intenso, fustigando as duas aventureiras.

- Que bom, meu pequeno anjo... Sabe, a gente foi feita uma para a outra, não?

- Está tão frio... Alicia-san...

- Não gostaria de me aquecer?

Um pouco confusa com o ambicioso e quase insano plano de sua amiga e com várias dúvidas em sua cabeça, a jovem Mieko bem que gostaria de ficar um pouco a sós para meditar e esclarecer suas dúvidas dentro de si mesma...

Só que a solidão e a carência que corrói a sua alma por dentro fala mais alta e com movimentos lentos, ela se deita ao lado da loira, que retribui com uma carícia em seu rosto. Após alguns beijos e abraços mútuos, as duas aventureiras resolvem descansar.

No dia seguinte, após um rápido café da manhã, Alicia aproveita para checar as coordenadas do seu mapa e traçar uma rota que lhe permitisse se aproximar da aldeia dos homens da neve sem se exporem tanto.

Ela sai do rochedo onde ficaram hospedadas e ela sorri ao notar que o forte vento frio de ontem cessara. Apesar da temperatura estar pouco acima de zero grau centígrado, fazia um tempo bom. O céu azul ausente de nuvens e o Sol brilhando preguiçosamente naquela vastidão contrastava com a paisagem coberta com um branco quase que permanente.

Mieko por outro lado, também estava encerrando os seus preparativos. Ela havia aprendido a magia "Legends Lore" (Conhecimento de Lendas) e já dominara boa parte dos poderes da estranha máscara de Karelia.

A questão do elo psíquico já havia deixado de ser um problema, após um pequeno treino aonde a colegial japonesa conseguiu adivinhar os pensamentos da sua colega americana, ficando corada de vergonha quando acertou a última coisa no qual ela imaginou.

O lendário artefato também tinha o poder de transfigurar as roupas que Mieko usava, transformando-as nas mesmas vestes que Karelia usava quando era viva, bem como alterar a sua aparência física ficando semelhante à da lendária rainha do gelo que reinou há séculos na Fronteira Sul.

Apesar de Mieko ter ficado mais forte, contudo, ainda não podia usar com força total o poder do artefato.

Para isto, ela teria que aumentar o seu nível de experiência acumulada, assim como encontrar os demais itens que Karelia utilizava e que agora estavam guardados na Fortaleza dos Anões em Stormwind.

Usando de paciência e muita improvisação, Alicia confeccionou umas vestes rústicas a partir de trapos, criando um traje e um manto de uma sacerdotisa shaman típica.

Um pouco de tinturas faciais, bem como uma tatuagem ritual falsa ajudou a completar o disfarce da "Profetisa de Karelia". Para evitar que fosse desmascarada, Mieko ajudou-a invocando as magias arcanas "Aparência Ilusória", que criava ilusões irrefutáveis para seres com inteligência normal para baixa e "Esplendor" que melhorava a capacidade de persuasão, a modulação da voz e o carisma da temperamental Alicia.

Estas magias tinham a vantagem de serem relativamente fáceis de serem invocadas, além de durarem pelo menos um dia inteiro antes de perder o efeito.

Com os preparativos feitos, a Mieko lança sobre si mesma uma magia de aparência etérea, ficando semelhante a um fantasma. Apenas Alicia podia vê-la e ouvi-la.

Após uma curta pausa para descanso, a ambiciosa dupla reinicia de novo a sua viagem esperando encontrar os homens de gelo na expectativa de finalmente dominarem Stonehall e alcançarem um feito que até então nenhum aventureiro do game Fantasy havia obtido, o de conquistar artefatos capazes de influir decisivamente no rumo da história!

Escrito por: Calerom

Revisado em: 04/11/2003

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