CAPÍTULO 26:
O CASAMENTO DE NARU - 1a PARTE.
Embora os orcs fossem mais primitivos e menos evoluídos do que os membros da raça humana, eles tinham algumas peculiaridades semelhantes.
Uma destas peculiaridades era que a cerimônia de casamento de ambas as raças tinham certas similaridades.
E a outra era o fato de ser proibido ao noivo de ver a sua consorte pouco antes da cerimônia de casamento começar.
Mesmo um bronco assumido como o líder Grommir entendia estas tradições e não podia fugir delas.
Enquanto ele estava descansando em seus aposentos no monstruoso palácio de pedra que lhe servia de morada, os seus servos estavam dando os últimos retoques na sua armadura de gala - uma paródia das armaduras cerimoniais que os reis e príncipes usavam em ocasiões festivas.
Enquanto raça, os orcs compunham uma sociedade machista.
As mulheres orcs tinham como principal função cuidar do lar, providenciar alimentos, além de gerar filhos fortes e saudáveis para que eles se tornassem caçadores e guerreiros.
Raras vezes uma fêmea orc conseguia alcançar uma posição social razoável, mesmo se fosse proveniente da classe mais elevada.
O máximo que elas podiam ambicionar era de se tornar curandeiras, shamans ou feiticeiras.
Embora houvesse um simulacro de contrato matrimonial entre os orcs, os costumes deles mostravam o grau de machismo existente nesta sociedade: As mulheres orcs não tinham o direito de recusar uma proposta de casamento, ainda mais se imposta pelo patriarca da família. Elas somente podiam casar-se uma vez e o adultério feminino costumava ser punido com mutilação na primeira vez e apedrejamento em caso de reincidência.
Da parte dos membros masculinos desta raça humanóide, o contrário não era necessariamente verdadeiro. Os orcs podiam casar-se com quem quiser - desde que os pais da "noiva" concordassem - podiam repudiar a mulher por qualquer motivo e a infidelidade nesta raça - tão luxuriosa como belicosa - era uma regra geral.
Um guerreiro orc podia tomar a mulher alheia em caso de ganhar em apostas de jogos, brigas ou simplesmente raptando-a.
Por causa deste motivo, as rixas entre tribos diferentes ou mesmo entre clãs da mesma tribo eram comuns e discussões banais degeneravam em conflitos abertos, com vários mortos e feridos.
Para a sorte desta raça, as mulheres orcs costumavam ser bastante férteis e o período de gestação era bem mais rápido do que as das mulheres humanas.
Também o crescimento dos orcs era relativamente rápido. Um orc normalmente atingia a idade adulta por volta dos quatorze anos, contra dezoito a vinte dos humanos.
Os orcs também tinham a fama de serem luxuriosos e devassos. Várias de suas festas - coroação de um líder, casamento de um membro da casta elevada, vitória obtida numa guerra - degeneravam em orgias e bebedeiras.
Contudo, o homossexualismo de ambos os lados era terminantemente proibido entre os de sua raça.
Tal prática era castigada com a mutilação ritual e o banimento da tribo.
A sua luxúria não se restringia entre si, mas também aos seus inimigos.
Suas vítimas costumavam ser elfas ou humanas, embora os orcs preferissem as seguindas, por serem ligeiramente mais resistentes e mais luxuriosas, em sua opinião.
Quando saqueavam uma cidade ou caravana, as mulheres humanas sobreviventes eram repetidamente violentadas pela soldadesca.
Muitas morriam pela violência e maus tratos recebidos. Contudo, as mais bonitas eram levadas como cativas para servirem de escravas do prazer entre os líderes orcs.
Se a mulher fosse excepcionalmente bela - e esperta - poderia viver o resto de seus dias cono concumbina de algum chefe de guerra e até ter certas regalias, embora seus eventuais filhos não tivessem direito pelas leis orcs de sucessão.
Como fruto destas uniões, muitas vezes apareciam híbridos conhecidos como meio-orcs. Eles eram mais fortes e resistentes do que os humanos e mais inteligentes do que os orcs.
Contudo, entre os de sua raça, os meio-orcs -independentemente de sua origem - eram discriminados abertamente e até hostilizados, embora alguns pudessem ascender pelos seus próprios méritos, como guerreiros.
Entre os humanos, os meio-orcs eram vistos com um misto de ressentimento, desprezo, pena e medo.
A maioria destes casos eram resultados de estupros, embora já tivessem sido registrados casos em que não somente a mulher consentiu como quis ter tão bizarra união.
Durante o período das guerras entre Arkadia e o império orc de Dralok, estes nascimentos eram relativamente comuns, tanto em tempo de paz como de guerra, especialmente nas áreas fronteiriças.
De início, houve uma enorme perseguição racial aonde as mulheres grávidas eram incentivadas a abortar e os bebês meio-orcs eram impiedosamente massacrados.
Contudo, um decreto real bem como declarações de membros do clero de que os meio-orcs deviam ser vistos com benevolência e piedade, amenizaram este clima de ódio e perseguição.
Contudo, nem por isto a vida de um meio-orc criado entre os humanos era mais fácil do que seus semelhantes que viviam entre os orcs. Eles eram abertamente discriminados no mercado de trabalho, cabendo as tarefas mais braçais e desprezíveis.
O único modo de um meio-orc subir de vida era tornar-se aventureiro, soldado, guarda-costas ou mercenário ou ainda entrar numa guilda de ladrões.
Muito raramente os meio-orcs acabavam se tornando monges, clérigos, feiticeiros e magos e achar um paladino ou bardo orc era tão provável quanto achar um Dragão de Alabastro com Olhos Azuis.
Embora ignorasse estes costumes, uma conhecida figura estava simplesmente aterrorizada diante de seu destino.
Naru chorava sem parar num dos aposentos do palácio de pedra de Grommir, umedecendo a pele de Worg que lhe servia de leito.
Fugir era impossível, porque as janelas do quarto tinham grades de ferro e a grossa porta de madeira reforçada estava trancada por fora.
O bizarro cômodo era decorado com tapetes feitos de peles de animais e um ou outro objeto coletado nos saques das caravanas. Quase não havia algum móvel, exceto por um tablado de pedra que servia de mesa e uma tina rudimentar de madeira, que era usado para tomar banho.
Apesar de estar relativamente limpo para os padrões humanos, o cômodo tinha um odor animal desagradável.
Embora fosse pouco mais do que uma prisioneira, ainda assim, a futura consorte de Grommir foi contemplada com algumas regalidas.
Naru pôde saciar a fome e a sede lancinantes que sentia desde quando foi capturada de manhã junto com os outros.
Haviam trazido para ela uma bandeja com frutas e guloseimas - compradas dos negociantes do deserto, bem como um odre de vinho de El-Quattara.
De todo o pessoal, ela foi a única que não nofreu maus tratos e nem foi posta a ferros.
Contudo, nada disto significava diante do sofrimento que a jovem estudante da Toudai sentia no coração de ver os seus amigos espancados e torturados e ela não poder fazer nada.
Contudo, o pior era a perspectiva dela ter que desposas um ser monstruoso como Grommir e o pior, ver Yuri, Motoko e principalmente Keitarô serem mortos com requintes de crueldade na sua frente.
A jovem ruiva somente sai do seu estado de depressão e auto-piedade quando entram na cela três criadas orcs - todas com cara de desprezo e mau-humor - escoltadas por orcs Warlords.
A mais velha trazia em seus braços um vestido humano - remanescente de um saque contra caravanas - enquanto que as outras traziam água, panos e estranhos potes com tinturas e cremes.
Naru é obrigada a se despir e entrar na tina com água quente, sob o olhar malicioso dos seguranças orcs, que vigiavam a porta com suas lanças.
As duas criadas mais jovens ensaboam e esfregam com notória falta de jeito e rudeza o corpo nu da ruiva, que protesta inutilmente contra o péssimo tratamento.
Embora Naru sentisse ódio por esta situação desoladora, ela não podia simplesmente lutar contra os seguranças e sair dali, pois era evidente que não sairia da fortaleza e os seus amigos iriam sofrer por tudo que ela aprontasse, de modo que teve que se resignar a fazer as votnades de seus captores.
Terminado o rudimentar "banho" - os orcs não primavam pela higiene - Naru fica escandalizada quando as duas criadas untam o seu corpo nu com uma espécie de creme feito de gordura animal, extratos de ervas e outros ingredientes bizarros. O estranho creme era malcheiroso para o olfato humano, apesar de ser bastante atraente para a estética daquela raça.
E ela somente consentiu naquilo pela louca esperança de ver Keitarô e os outros vivos e torcer para que eles conseguissem algum jeito de se libertar.
Contudo, o susto maior estava ainda para vir. A aia mais velha se adianta e lhe mostra o vestido, que parecia pertencer a uma prostituta do uma princesa. Aquilo era humilhação demais.
- Não! Nunca! Jamais! Eu NÃO vou usar esta coisa horrorosa, seus gorilas verdes!
Sem se fazer de rogada, outra criada orc simplesmente toma as vestes de aventureira de Naru, com exceção das botas e das suas roupas íntimas.
- Buáááá! Por que eu fui me meter nesta aventura doida? Keitarô, a culpa é toda sua, seu tonho!!! E da maluca da Yuri também! Eu devia ter dado ouvidos a Kitsune e ter fugido enquanto era tempo daquela cidadezinha! Ahhhhhhhhh!
Enquanto uma desesperada Naru chorava histericamente como um bezerro desmamado - em outra parte da aldeia situada no platô - um encontro acontece numa viela muito pouco freqüentada.
- Agente Ali Rallah Sphirrah e agente Sarah "Mister Popo" se apresentando à comandante Kitsune... - Fala Kaolla disfarçada à sua chefe provisória antes que a temperamental Sarah dê uma cotovelada de leve nas suas costas por ela ter chamado com o nome de um personagem de um certo anime, devido a largueza de suas calças no estilo otomano.
- Mew! Mew! - Apresenta-se a pequena tartaruga Tama, em cima da cabeça da Sarah, prestando continência.
- Oi, garotas, temos novidades, mas contem primeiro o que fizeram. - Diz a astuta garota de Osaka, acompanhada das disfarçadas Shinobu e Mutsumi.
- Já assinalei todos os alvos do platô: Desde o palácio daqueles buldogues verdes, o quartel-general das tropas e o lugar onde vai ser feito o casamento da Agente capturada Naru! - Disse Kaolla, falando baixo, mas toda entusiasmada.
- Viu, você incluiu as torres de guarda com seteiras e a guarita por onde a gente entrou? - Pergunta Kitsune lembrando-se da recomendação feita pela Yuri.
- Nya, as torres sim, mas acho que "nossa pequena surpresa" não será suficiente para derrubar a guarita. Vamos ter que usar magia para passar por lá na volta. - responde a jovem "hindu" com raro senso de realismo.
- Bem, sobre isto a Mutsumi e você dá um jeito. - Conclui a esperta garota de Osaka.
- Hihihi, falou comigo? - Pergunta Mutsumi, um pouco distraída ao que se passava ao redor.
- Sim, Mutsumi, você não tem no seu repertório algum truque para a gente voar quando fugirmos? - Indaga Kitsune torcendo para que a atrapalhada Sorcerer tivesse algo de útil no seu repertório.
- Ara... Nunca tentei isto, mas acho que posso tentar... - Responde Mutsumi com uma gotona de embaraço na sua cabeça.
Subitamente só de pensar nesta possibilidade, Kitsune percebe que Mutsumi está mais alta, mas como? Então a Shinobu percebe que a jovem de Okinawa estava flutuando.
- E-ei, Mutsumi-san, a-acho que você consegue! Rápido, desconcentre antes que algum guarda perceba que você não é uma dançarina normal. - Fala Shinobu ao constatar que Mutsumi já havia passado de nível de habilidade há tempos e não sabia disto.
- Hai, Shinobu-chan... Ei... Upffff! - Obedece a doce e atrapalhada Otohime.
A desastrada Sorcerer interrompe a sua concentração bruscamente e cai de bunda no chão, fazendo as outras garotas e Tama-chan ficarem com aquelas gotonas na cabeça.
- E não é só isto, pessoal. Descobrimos uma coisa bem interessante... Existem cerca de dez prisioneiros dos orcs nas minas de ferro. Nós derrotamos os guardas e os libertamos. - Comenta Sarah apontando para a área onde ficavam as minas para o restante do pessoal.
- Putz, não esperava por isto, agora nossa fuga vai ficar mais difícil... - Comenta Kitsune imaginando a complicação resultante deste fato inesperado.
- A não ser que a gente roube os cavalos daquele tal de Khazar que estão perto da entrada da aldeia... - Rebate Sarah.
- Bem, de qualquer maneira a gente vai ter que fazer isto... Você combinou alguma coisa com eles, Kaolla? - Fala Kitsune dirigindo-se à sua jovem amiga.
- Nya, Nós entregamos as armas dos orcs que derrotamos bem como alguma comida. Eu e a Sarah apoiaremos a fuga deles quando a hora de salvar a Naru chegar... - Complementa Su toda entusiasmada. Para a jovem morena não havia tempo ruim.
- Bem, se de um lado complica a gente, por outro, isto pode ser de alguma ajuda na hora de derrotar os guardas do portão... - Pondera Kitsune botando sua proverbial esperteza para funcionar.
- Ei, comandante raposilda... Como estão a Kendô-girl, a Sarge Yu e o boboca do Keitarô? - Pergunta Sarah, já que até então a Kitsune não havia falado nada a respeito deles.
- Sarah-chan, o sempai não é boboca! - Tenta protestar Shinobu, por motivos óbvios.
- Nyahhh... A Shinomu está começando a gostar do Keitarô! - Comenta Kaolla voltando ser a criançona de sempre.
- Não! Não é isto que você está pensando! - Tenta rebater Shinobu embora fosse óbvia a sua reação. Todas sabiam que a jovem gostava do Keitarô, inclusive Mutsumi.
- A gente conseguiu entrar na prisão, mas passamos apertado pelos guardas. A sorte é que a Shinobu ficou mais forte, desenvolvendo uma nova técnica de luta... - Elogia a jovem Konno referindo-se à sua parceira.
- É isto aí, agente Shinomu! Sabia que você iria ser uma boa clériga! - Concorda Kaolla abraçando uma constrangida Maehara.
- Valeu, Shinobu! - Sarah faz um gesto de positivo.
- Mew! - Tama-chan parece concordar.
- Eheh... Não foi bem assim, a Kitsune-san e a Mutsumi-san também lutaram bem... - Shinobu sente-se ao mesmo tempo envaidecida e envergonhada diante de tantos elogios.
- Mas... e então? - Sarah volta a perguntar como foi o ocorrido.
- Então conseguimos chegar na cela onde estavam e soltamos todos eles. Só que vamos ter que esperar... - Responde Kitsune com um ligeiro ar de preocupação em sua cabeça.
- Esperar, mas como? - Indaga a impaciente Sarah.
- A Yuri nos disse que eles somente irão agir quando houver a troca da guarda da prisão, um pouco antes do casamento da Naru com o mandachuva daqui ocorrer... E pediu para que nós todas ficássemos perto do tablado aonde vai acontecer o casório... Mas já que tem os prisioneiros, acho melhor que você, Kaolla e a Sarah, fiquem preparadas na entrada das minas para escoltá-los até a saída. - Fala Kitsune tentando lembrar o máximo de informações que a Yuri e os outros haviam lhe passado e tentando combiná-las com a melhor maneira de salvar Naru e os prisioneiros das minas.
- Então como vai ser o nosso plano de fuga? - Pergunta Shinobu, preocupada com o momento decisivo.
- Quando chegar a hora do casório, quase ninguém vai prestar atenção na gente... Quando o gorilão que pegou a Naru tentar beijá-la, vocês - Kaolla e Sarah - façam o máximo de confusão possível com suas armas secretas. A gente - Tama-chan, Mutsumi, Shinobu e eu - iremos resgatar nossa amiga, atirando a todo custo no chefão dos orcs e em seus convidados. - Explica Kitsune detalhando o seu plano. Embora ela não fosse de planejar as coisas detalhadamente, confiando em sua sorte, as circunstâncias a impeliam a isto.
- Mas e quanto ao sempai, a Motoko-san e a Yuri-san? - Pergunta de novo Shinobu.
- Heh? Não precisa se preocupar muito com eles... Tenho quase certeza que a Motoko vai atacar com força total e não vai deixar ninguém de pé por onde ela passar. E a nossa guia pode perfeitamente cuidar de si mesma... Com as duas o Keitarô não vai precisar se preocupar...
- E depois, o que faremos? - Pergunta Sarah.
- A esta altura, vamos ter metade da aldeia correndo atrás de nossos calcanhares. Vamos nos reunir nas estrebarias, roubar os cavalos que tiverem e dar no pé deste lugar. - Resume de forma simplista a esperta garota de Osaka.
- Mas a gente não sabe dirigir nem uma carroça sequer! - Tenta contra-argumentar Shinobu morrendo de medo de levar um coice de cavalo ou cair dos mesmos.
- Heh... Acho que tem uma primeira vez para tudo... Desconfio que a Yuri deve saber de alguma coisa, apesar de não ter falado nada para a gente... - Supõe a jovem Mitsune Konno.
- Ei, Comandante Raposilda, pelo que me lembro, os prisioneiros que resgatamos eram todos caravaneiros e um deles era o chefe do comboio, acho que com isto não precisamos se preocupar. - Tenta tranqüilizar Sarah com algo que ela havia lembrado do inesperado encontro com Eldrick e seus parceiros.
- A Sarah está certa... - Fala Kaolla, impaciente para entrar em ação.
- Estamos Combinados? - Conclui Kitsune.
- Está certo. - Sarah faz um sinal de "OK".
- Ara, o que iremos fazer agora? - Pergunta Otohime, um tanto quanto despreocupada.
- Bem... Sarah e Kaolla podem preparar os jumentos nas posições que deverão ficar e aguardar a hora do casório. A gente vai tentar dar um jeito de avisar Keitarô e os outros, bem como a Naru, se possível. Acho que estes bichos só vão começar a cerimônia depois que o sol de por já que o tablado ainda não está 100% pronto... - Responde a jovem Konno.
- Certo, Kitsune! - Concorda Shinobu demonstrando em seus olhos puros e inocentes uma rara determinação.
- Valeu, Raposilda. Vamos nesta! - Fala Sarah, sendo uma das raríssimas vezes que concordava com a garota de cabelos castanho-claros que ainda gostava de seu pai adotivo, com o qual era extremamente ciumenta.
O grupo se afasta discretamente, enquanto que Kaolla recolhe um pequeno objeto deixado no chão semelhante a um radinho de pilha.
Na realidade este era outra de suas geringonças, um embaralhador de sinais para evitar que os transeuntes ouvissem a conversa delas.
Para quem estivesse passando, o aparelhinho fazia o pessoal acreditar que eles estivessem falando algum dialeto exótico típico das tribos do deserto. De qualquer maneira, ninguém de fora acabou ouvindo nada mesmo.
Já estava começando a entardecer e a temperatura estava mais amena. Uma brisa vinda do Oeste refrescava a aridez do enorme platô. Em pouco menos de uma hora, a cerimônia de casamento de Grommir iria se iniciar.
Havia uma última tarefa a ser feita. Sem serem notadas, Kaolla, Tama e Sarah resolvem dar uma volta nas redondezas do enorme palácio de Grommir, numa tentativa de achar e eventualmente avisar Naru a respeito do plano. Só que as coisas não pareciam ser tão simples, porque todo o local adjacente ao prédio estava fortemente vigiado por soldados e oficiais orcs.
Para não atrair suspeitas, as duas garotas disfarçadas levavam um cesto de frutas - previamente roubadas dos verdadeiros nômades - enquanto rodeavam discretamente o prédio.
A sua cautela finalmente teve efeitos. Finalmente elas conseguiram avistar uma desolada Naru de uma das janelas do andar superior.
- Ahn... Como vamos fazer para subirmos até lá em cima? Entrar no palácio será quase que impossível... - Comenta Sarah reparando na extrema dificuldade da tarefa.
- Mew! Mew! - Tama-chan concorda com a jovem americana loira.
- Não se preocupe, Sarah, eu tenho uma ótima idéia... Vou ver se arranjo no meu kit um papel e algo para escrever. - Diz Kaolla com um estranho brilho em seu olhar.
Minutos mais tarde, Naru recebe uma visita inesperada. Ela estava se observando o final da tarde pela janela, totalmente envolvida em pensamentos pessimistas e sombrios quando ela vê uma pequena figura ultrapassando as grades de ferro da janela.
- Tama-chan, é você? - Um fio de esperança começa a brilhar nos tristes olhos da ruiva. Se a tartaruguinha estava ali...
- Mew! - Responde a pequena Tartaruga Onsen, um pouco assustada pela forma bizarra como Naru estava vestida e maquilada.
- E a Kitsune, e os outras, estão bem? Conseguiram libertar Keitarô?
- "Sim". - Responde Tama mostrando uma de suas características tabuletas escritas.
- Escuta, vocês me precisam salvar de qualquer jeito! Eu não quero ficar aqui para casar com aquele gorila verde! - Diz aflita, a jovem estudante, torcendo para que nenhum vigia estivesse por perto.
- "Tenho uma coisa para você" - A pequena tartaruga mostra outra tabuleca e apontando com uma de suas patas, mostra um pequeno bilhete pregado em seu casco com fita durex.
- Hã? Algo para mim... Tudo bem...
Naru abre o bilhete, escrito com uma letra infantil:
"Naru:
A raposilda planejou tudo para a gente tentar te salvar na hora do casório.
A turma estará reunida na parte de baixo do tablado ao redor do altar feito por estes gorilas babões.
Quanto à Sarge Yu, a Kendo-Girl e o Toudai, eles já estão bem e a salvo, só aguardando nosso sinal para agir.
O sinal será dado pela Kaolla e vai ser um estouro - hehe, você sabe como ela é...
Depois que resgatarmos você, fugiremos até as estrebarias e lá a gente terá que roubar uns cavalos do pessoal de Finneas.
Por enquanto é só. Não se desespere e fica fria, chefe!
Sarah Mac Dougal"
- Hummm, eu entendi, Tama... Que bom... - Naru queria chorar novamente, mas de alegria, só de saber que o pessoal estava bem, especialmente Keitarô. Mas ao mesmo tempo ela estava apreensiva e insegura, já que faltava menos de uma hora para a cerimônia começar.
- Mew?
- Sim, eu sei, você não pode ficar aqui por muito tempo... Acho que as meninas estão te esperando... Eu não tenho como responder, mas obrigada por tudo. E, por favor, não me abandonem nesta hora horrível... Estou contando com você...
- "Fique tranqüila. Tudo vai dar certo" - Tama ergue outra tabuleta escrita por ela mesma para sua dona entender.
- Obrigada, Tama, e não esqueçam de mim...
Naru vê melancolicamente a tartaruguinha se despedir e sair pelas grades de onde entrara. De sua improvisada prisão, a ruiva vê a pequena Tama voar até onde supostamente estavam suas amigas. Ela sente uma vontade imensa de gritar, mas sabe que isto seria inútil. Uma lágrima, mista de ansiedade e esperança, brota de seu rosto.
Enquanto isto, no bizarro templo orc, Mogul e Finneas conversavam numa das criptas. O astuto shaman orc havia acabado de receber a legendária arma Erebus (ou Ur-Khazam na língua orc), que havia pertencido a Dralok, o lendário rei dos orcs.
Tal arma era maior e mais pesada do que um machado de batalha comum e somente podia ser bem empunhada por um homem muito forte.
Feito de uma espécie de ferro negro muito resistente e enfeitado com filigranas e detalhes diabólicos em sua empunhadura e cabo, a legendária arma parecia irradiar poder e maldade sem limites.
Mogul havia acabado de terminar a identificação da arma com a ajuda de seus poderes e havia concluído de que era legítima. Agora somente bastava completar o ritual utilizando os poderes negros do machado como foco mágico, a fim de ressuscitar o grandioso líder orc que uma vez espalhara medo e horros entre seus inimigos há mais de 80 anos atrás.
Mas para isto, ele precisava de uma ajuda adicional, a do poder arcano de um jovem e ganancioso mago. Finneas, o traidor.
- Muito bem, muito bem, Mogul, como andam os preparativos? - Diz Finneas sem nada esconder, pois a esta hora ele e o shaman orc estavam metidos até o pescoço nisto.
- Acabamos de traduzir os pergaminhos da antiga magia orc e estamos terminando de destravar os selos mágicos que separam o mundo dos vivos com o dos mortos... - Diz solenemente Mogul, enquanto o seu corvo negro repousa num poleiro, olhando agourentamente para Finneas.
- Ótimo, ótimo. Então nós estamos muito próximos de alcançarmos o que queremos? - Os olhos do jovem mago pareciam brilhar com a luz da lúcida insanidade de sua alma.
- Sim, mas precisarei de sua colaboração para isto. Enquanto o imbecil do Grommir e seus lacaios estiverem se divertindo vendo a tortura agonizante dos prisioneiros, eu mandarei um mensageiro te buscar para completarmos o ritual que trará Dralok à vida... - Comenta Grommir em tom sombrio.
- Mas e quanto aos outros, eles não ficarão desconfiados?
- Não. Para começo de conversa, os meus lacaios são totalmente leais a mim. E depois tenho mais aliados que você possa imaginar. - Diz Mogul em voz baixa, mas convicta.
- É bom mesmo... Se Khazar descobrir o meu envolvimento, ele irá querer a minha cabeça. - Comenta o escorregadio e traiçoeiro mago.
- Quanto a isto não se preocupe. Se aliar a nós, você terá um lugar de honra garantido, humano. - Diz Mogul.
- E quanto a Grommir? O que será dele quando Dralok ressuscitar?
- Se ele for sensato o bastante terá que se conformar em abdicar do trono e contentar ser apenas um dos generais do grande rei. Mas, conhecendo ele, desconfio que apenas um dos dois sairá vivo ao amanhecer... - Comenta Mogul com um meio sorriso sarcástico.
- Mas...
- Não se preocupe. Grommir pode ser muito forte, maws Dralok é invencível. - Diz ele, procurando tranqüilizar o seu aliado humano.
- Bem, pelo menos o fato da festa de casamento do nosso "grande líder" ser ao ar livre vai ser um empecilho a menos...
- O templo nunca é usado para isto, como os costumes de vocês, humanos. Aqui fazemos nossos sacrifícios e rituais. Quanto mais gente estiver distraída com as festividades, melhor para nós. - Conclui Mogul.
- Hehe... Nunca pude imaginar que Grommir tivesse um fraco por mulheres humanas... - Malicia Finneas.
- Ele sempre teve isto. A primeira vez foi quando estuprou uma humana aos quatorze anos, durante um ataque a uma fazenda, e parece ter gostado muito disto. Desde lá, ele sempre preferiu as fêmeas de sua raça, chegando no ponto de repudiar duas noivas orcs... - Comenta o shaman orc com visível antipatia.
- Desculpe-me pela curiosidade, mas... Ele já teve outras parceiras? - Pergunta Finneas, imaginando as cenas devassas em sua mente.
- Sim. Se bem que a maioria delas não durava mais do que duas semanas... A que mais durou morreu por complicaçòes durante o parto. Uma outra cometeu suicídio e a grande maioria morreu por maus tratos ou... como poderia dizer... Por excesso de entusiasmo da parte dele. - Responde Mogul com evidente nojo do líder orc.
- Hehehe, fico imaginando o pobre destino daquela cadela ruiva... A propósito, você vai liderar a cerimônia de casamento de nosso amigo Grommir? - Ironiza Finneas, começando a compreender a relação de desprezo e antipatia mútua que existiam entre os dois líderes orcs.
- Hah! E por que iria perder tempo com uma besteira destas? Ordenei a um dos meus acólitos para celebrar a cerimônia... A grande maioria dos convidados só vai comparecer para comer, beber e ver os prisioneiros serem mortos. - Respnjde Mugul, começando a ficar cansado daquela lenga-lenga.
- Mas suponho que isto seja uma desfeita para nosso chefe de guerra.
- Pode ser. Mas o fato é que até o amanhecer, as tribos orcs da Vastidão terão um novo rei... - Conclui Mogul.
A urna funerária contendo as cinzas de Dralok é levada por dois acólitos à câmara interna do tempo e posta em cima de um tablado de pedra. Em seguida, dois servos trazem a legendária arma, colocando-a cuidadosamente no tablado. Enquanto isto, seis acólitos - em posição de transe - recitam orações e lamentos em orc arcaico, enquanto um outro despeja incenso num braseiro que expele fumaça...
A fumaça nauseabunda sai do braseiro, formando figuras aleatórias e logo em seguida alcança o teto da bizarra estrutura de pedra, como uma oração sinistra que sobe aos céus.
Em breve, muito em breve, a conspiração teria início, marcando o início do fim do domínio humano em Arkádia. O antigo rei retornaria, para unificar sob a sua bandeira manchada de sangue todas as tribos orcs do deserto, trazendo dor, caos e devastação sobre as terras férteis do continente fantástico. Eles não perderiam por esperar...
Escrito por: Calerom.
Ultrima Revisão: 02/12/2003;
Myamauchi1969@yahoo.com.br
O CASAMENTO DE NARU - 1a PARTE.
Embora os orcs fossem mais primitivos e menos evoluídos do que os membros da raça humana, eles tinham algumas peculiaridades semelhantes.
Uma destas peculiaridades era que a cerimônia de casamento de ambas as raças tinham certas similaridades.
E a outra era o fato de ser proibido ao noivo de ver a sua consorte pouco antes da cerimônia de casamento começar.
Mesmo um bronco assumido como o líder Grommir entendia estas tradições e não podia fugir delas.
Enquanto ele estava descansando em seus aposentos no monstruoso palácio de pedra que lhe servia de morada, os seus servos estavam dando os últimos retoques na sua armadura de gala - uma paródia das armaduras cerimoniais que os reis e príncipes usavam em ocasiões festivas.
Enquanto raça, os orcs compunham uma sociedade machista.
As mulheres orcs tinham como principal função cuidar do lar, providenciar alimentos, além de gerar filhos fortes e saudáveis para que eles se tornassem caçadores e guerreiros.
Raras vezes uma fêmea orc conseguia alcançar uma posição social razoável, mesmo se fosse proveniente da classe mais elevada.
O máximo que elas podiam ambicionar era de se tornar curandeiras, shamans ou feiticeiras.
Embora houvesse um simulacro de contrato matrimonial entre os orcs, os costumes deles mostravam o grau de machismo existente nesta sociedade: As mulheres orcs não tinham o direito de recusar uma proposta de casamento, ainda mais se imposta pelo patriarca da família. Elas somente podiam casar-se uma vez e o adultério feminino costumava ser punido com mutilação na primeira vez e apedrejamento em caso de reincidência.
Da parte dos membros masculinos desta raça humanóide, o contrário não era necessariamente verdadeiro. Os orcs podiam casar-se com quem quiser - desde que os pais da "noiva" concordassem - podiam repudiar a mulher por qualquer motivo e a infidelidade nesta raça - tão luxuriosa como belicosa - era uma regra geral.
Um guerreiro orc podia tomar a mulher alheia em caso de ganhar em apostas de jogos, brigas ou simplesmente raptando-a.
Por causa deste motivo, as rixas entre tribos diferentes ou mesmo entre clãs da mesma tribo eram comuns e discussões banais degeneravam em conflitos abertos, com vários mortos e feridos.
Para a sorte desta raça, as mulheres orcs costumavam ser bastante férteis e o período de gestação era bem mais rápido do que as das mulheres humanas.
Também o crescimento dos orcs era relativamente rápido. Um orc normalmente atingia a idade adulta por volta dos quatorze anos, contra dezoito a vinte dos humanos.
Os orcs também tinham a fama de serem luxuriosos e devassos. Várias de suas festas - coroação de um líder, casamento de um membro da casta elevada, vitória obtida numa guerra - degeneravam em orgias e bebedeiras.
Contudo, o homossexualismo de ambos os lados era terminantemente proibido entre os de sua raça.
Tal prática era castigada com a mutilação ritual e o banimento da tribo.
A sua luxúria não se restringia entre si, mas também aos seus inimigos.
Suas vítimas costumavam ser elfas ou humanas, embora os orcs preferissem as seguindas, por serem ligeiramente mais resistentes e mais luxuriosas, em sua opinião.
Quando saqueavam uma cidade ou caravana, as mulheres humanas sobreviventes eram repetidamente violentadas pela soldadesca.
Muitas morriam pela violência e maus tratos recebidos. Contudo, as mais bonitas eram levadas como cativas para servirem de escravas do prazer entre os líderes orcs.
Se a mulher fosse excepcionalmente bela - e esperta - poderia viver o resto de seus dias cono concumbina de algum chefe de guerra e até ter certas regalias, embora seus eventuais filhos não tivessem direito pelas leis orcs de sucessão.
Como fruto destas uniões, muitas vezes apareciam híbridos conhecidos como meio-orcs. Eles eram mais fortes e resistentes do que os humanos e mais inteligentes do que os orcs.
Contudo, entre os de sua raça, os meio-orcs -independentemente de sua origem - eram discriminados abertamente e até hostilizados, embora alguns pudessem ascender pelos seus próprios méritos, como guerreiros.
Entre os humanos, os meio-orcs eram vistos com um misto de ressentimento, desprezo, pena e medo.
A maioria destes casos eram resultados de estupros, embora já tivessem sido registrados casos em que não somente a mulher consentiu como quis ter tão bizarra união.
Durante o período das guerras entre Arkadia e o império orc de Dralok, estes nascimentos eram relativamente comuns, tanto em tempo de paz como de guerra, especialmente nas áreas fronteiriças.
De início, houve uma enorme perseguição racial aonde as mulheres grávidas eram incentivadas a abortar e os bebês meio-orcs eram impiedosamente massacrados.
Contudo, um decreto real bem como declarações de membros do clero de que os meio-orcs deviam ser vistos com benevolência e piedade, amenizaram este clima de ódio e perseguição.
Contudo, nem por isto a vida de um meio-orc criado entre os humanos era mais fácil do que seus semelhantes que viviam entre os orcs. Eles eram abertamente discriminados no mercado de trabalho, cabendo as tarefas mais braçais e desprezíveis.
O único modo de um meio-orc subir de vida era tornar-se aventureiro, soldado, guarda-costas ou mercenário ou ainda entrar numa guilda de ladrões.
Muito raramente os meio-orcs acabavam se tornando monges, clérigos, feiticeiros e magos e achar um paladino ou bardo orc era tão provável quanto achar um Dragão de Alabastro com Olhos Azuis.
Embora ignorasse estes costumes, uma conhecida figura estava simplesmente aterrorizada diante de seu destino.
Naru chorava sem parar num dos aposentos do palácio de pedra de Grommir, umedecendo a pele de Worg que lhe servia de leito.
Fugir era impossível, porque as janelas do quarto tinham grades de ferro e a grossa porta de madeira reforçada estava trancada por fora.
O bizarro cômodo era decorado com tapetes feitos de peles de animais e um ou outro objeto coletado nos saques das caravanas. Quase não havia algum móvel, exceto por um tablado de pedra que servia de mesa e uma tina rudimentar de madeira, que era usado para tomar banho.
Apesar de estar relativamente limpo para os padrões humanos, o cômodo tinha um odor animal desagradável.
Embora fosse pouco mais do que uma prisioneira, ainda assim, a futura consorte de Grommir foi contemplada com algumas regalidas.
Naru pôde saciar a fome e a sede lancinantes que sentia desde quando foi capturada de manhã junto com os outros.
Haviam trazido para ela uma bandeja com frutas e guloseimas - compradas dos negociantes do deserto, bem como um odre de vinho de El-Quattara.
De todo o pessoal, ela foi a única que não nofreu maus tratos e nem foi posta a ferros.
Contudo, nada disto significava diante do sofrimento que a jovem estudante da Toudai sentia no coração de ver os seus amigos espancados e torturados e ela não poder fazer nada.
Contudo, o pior era a perspectiva dela ter que desposas um ser monstruoso como Grommir e o pior, ver Yuri, Motoko e principalmente Keitarô serem mortos com requintes de crueldade na sua frente.
A jovem ruiva somente sai do seu estado de depressão e auto-piedade quando entram na cela três criadas orcs - todas com cara de desprezo e mau-humor - escoltadas por orcs Warlords.
A mais velha trazia em seus braços um vestido humano - remanescente de um saque contra caravanas - enquanto que as outras traziam água, panos e estranhos potes com tinturas e cremes.
Naru é obrigada a se despir e entrar na tina com água quente, sob o olhar malicioso dos seguranças orcs, que vigiavam a porta com suas lanças.
As duas criadas mais jovens ensaboam e esfregam com notória falta de jeito e rudeza o corpo nu da ruiva, que protesta inutilmente contra o péssimo tratamento.
Embora Naru sentisse ódio por esta situação desoladora, ela não podia simplesmente lutar contra os seguranças e sair dali, pois era evidente que não sairia da fortaleza e os seus amigos iriam sofrer por tudo que ela aprontasse, de modo que teve que se resignar a fazer as votnades de seus captores.
Terminado o rudimentar "banho" - os orcs não primavam pela higiene - Naru fica escandalizada quando as duas criadas untam o seu corpo nu com uma espécie de creme feito de gordura animal, extratos de ervas e outros ingredientes bizarros. O estranho creme era malcheiroso para o olfato humano, apesar de ser bastante atraente para a estética daquela raça.
E ela somente consentiu naquilo pela louca esperança de ver Keitarô e os outros vivos e torcer para que eles conseguissem algum jeito de se libertar.
Contudo, o susto maior estava ainda para vir. A aia mais velha se adianta e lhe mostra o vestido, que parecia pertencer a uma prostituta do uma princesa. Aquilo era humilhação demais.
- Não! Nunca! Jamais! Eu NÃO vou usar esta coisa horrorosa, seus gorilas verdes!
Sem se fazer de rogada, outra criada orc simplesmente toma as vestes de aventureira de Naru, com exceção das botas e das suas roupas íntimas.
- Buáááá! Por que eu fui me meter nesta aventura doida? Keitarô, a culpa é toda sua, seu tonho!!! E da maluca da Yuri também! Eu devia ter dado ouvidos a Kitsune e ter fugido enquanto era tempo daquela cidadezinha! Ahhhhhhhhh!
Enquanto uma desesperada Naru chorava histericamente como um bezerro desmamado - em outra parte da aldeia situada no platô - um encontro acontece numa viela muito pouco freqüentada.
- Agente Ali Rallah Sphirrah e agente Sarah "Mister Popo" se apresentando à comandante Kitsune... - Fala Kaolla disfarçada à sua chefe provisória antes que a temperamental Sarah dê uma cotovelada de leve nas suas costas por ela ter chamado com o nome de um personagem de um certo anime, devido a largueza de suas calças no estilo otomano.
- Mew! Mew! - Apresenta-se a pequena tartaruga Tama, em cima da cabeça da Sarah, prestando continência.
- Oi, garotas, temos novidades, mas contem primeiro o que fizeram. - Diz a astuta garota de Osaka, acompanhada das disfarçadas Shinobu e Mutsumi.
- Já assinalei todos os alvos do platô: Desde o palácio daqueles buldogues verdes, o quartel-general das tropas e o lugar onde vai ser feito o casamento da Agente capturada Naru! - Disse Kaolla, falando baixo, mas toda entusiasmada.
- Viu, você incluiu as torres de guarda com seteiras e a guarita por onde a gente entrou? - Pergunta Kitsune lembrando-se da recomendação feita pela Yuri.
- Nya, as torres sim, mas acho que "nossa pequena surpresa" não será suficiente para derrubar a guarita. Vamos ter que usar magia para passar por lá na volta. - responde a jovem "hindu" com raro senso de realismo.
- Bem, sobre isto a Mutsumi e você dá um jeito. - Conclui a esperta garota de Osaka.
- Hihihi, falou comigo? - Pergunta Mutsumi, um pouco distraída ao que se passava ao redor.
- Sim, Mutsumi, você não tem no seu repertório algum truque para a gente voar quando fugirmos? - Indaga Kitsune torcendo para que a atrapalhada Sorcerer tivesse algo de útil no seu repertório.
- Ara... Nunca tentei isto, mas acho que posso tentar... - Responde Mutsumi com uma gotona de embaraço na sua cabeça.
Subitamente só de pensar nesta possibilidade, Kitsune percebe que Mutsumi está mais alta, mas como? Então a Shinobu percebe que a jovem de Okinawa estava flutuando.
- E-ei, Mutsumi-san, a-acho que você consegue! Rápido, desconcentre antes que algum guarda perceba que você não é uma dançarina normal. - Fala Shinobu ao constatar que Mutsumi já havia passado de nível de habilidade há tempos e não sabia disto.
- Hai, Shinobu-chan... Ei... Upffff! - Obedece a doce e atrapalhada Otohime.
A desastrada Sorcerer interrompe a sua concentração bruscamente e cai de bunda no chão, fazendo as outras garotas e Tama-chan ficarem com aquelas gotonas na cabeça.
- E não é só isto, pessoal. Descobrimos uma coisa bem interessante... Existem cerca de dez prisioneiros dos orcs nas minas de ferro. Nós derrotamos os guardas e os libertamos. - Comenta Sarah apontando para a área onde ficavam as minas para o restante do pessoal.
- Putz, não esperava por isto, agora nossa fuga vai ficar mais difícil... - Comenta Kitsune imaginando a complicação resultante deste fato inesperado.
- A não ser que a gente roube os cavalos daquele tal de Khazar que estão perto da entrada da aldeia... - Rebate Sarah.
- Bem, de qualquer maneira a gente vai ter que fazer isto... Você combinou alguma coisa com eles, Kaolla? - Fala Kitsune dirigindo-se à sua jovem amiga.
- Nya, Nós entregamos as armas dos orcs que derrotamos bem como alguma comida. Eu e a Sarah apoiaremos a fuga deles quando a hora de salvar a Naru chegar... - Complementa Su toda entusiasmada. Para a jovem morena não havia tempo ruim.
- Bem, se de um lado complica a gente, por outro, isto pode ser de alguma ajuda na hora de derrotar os guardas do portão... - Pondera Kitsune botando sua proverbial esperteza para funcionar.
- Ei, comandante raposilda... Como estão a Kendô-girl, a Sarge Yu e o boboca do Keitarô? - Pergunta Sarah, já que até então a Kitsune não havia falado nada a respeito deles.
- Sarah-chan, o sempai não é boboca! - Tenta protestar Shinobu, por motivos óbvios.
- Nyahhh... A Shinomu está começando a gostar do Keitarô! - Comenta Kaolla voltando ser a criançona de sempre.
- Não! Não é isto que você está pensando! - Tenta rebater Shinobu embora fosse óbvia a sua reação. Todas sabiam que a jovem gostava do Keitarô, inclusive Mutsumi.
- A gente conseguiu entrar na prisão, mas passamos apertado pelos guardas. A sorte é que a Shinobu ficou mais forte, desenvolvendo uma nova técnica de luta... - Elogia a jovem Konno referindo-se à sua parceira.
- É isto aí, agente Shinomu! Sabia que você iria ser uma boa clériga! - Concorda Kaolla abraçando uma constrangida Maehara.
- Valeu, Shinobu! - Sarah faz um gesto de positivo.
- Mew! - Tama-chan parece concordar.
- Eheh... Não foi bem assim, a Kitsune-san e a Mutsumi-san também lutaram bem... - Shinobu sente-se ao mesmo tempo envaidecida e envergonhada diante de tantos elogios.
- Mas... e então? - Sarah volta a perguntar como foi o ocorrido.
- Então conseguimos chegar na cela onde estavam e soltamos todos eles. Só que vamos ter que esperar... - Responde Kitsune com um ligeiro ar de preocupação em sua cabeça.
- Esperar, mas como? - Indaga a impaciente Sarah.
- A Yuri nos disse que eles somente irão agir quando houver a troca da guarda da prisão, um pouco antes do casamento da Naru com o mandachuva daqui ocorrer... E pediu para que nós todas ficássemos perto do tablado aonde vai acontecer o casório... Mas já que tem os prisioneiros, acho melhor que você, Kaolla e a Sarah, fiquem preparadas na entrada das minas para escoltá-los até a saída. - Fala Kitsune tentando lembrar o máximo de informações que a Yuri e os outros haviam lhe passado e tentando combiná-las com a melhor maneira de salvar Naru e os prisioneiros das minas.
- Então como vai ser o nosso plano de fuga? - Pergunta Shinobu, preocupada com o momento decisivo.
- Quando chegar a hora do casório, quase ninguém vai prestar atenção na gente... Quando o gorilão que pegou a Naru tentar beijá-la, vocês - Kaolla e Sarah - façam o máximo de confusão possível com suas armas secretas. A gente - Tama-chan, Mutsumi, Shinobu e eu - iremos resgatar nossa amiga, atirando a todo custo no chefão dos orcs e em seus convidados. - Explica Kitsune detalhando o seu plano. Embora ela não fosse de planejar as coisas detalhadamente, confiando em sua sorte, as circunstâncias a impeliam a isto.
- Mas e quanto ao sempai, a Motoko-san e a Yuri-san? - Pergunta de novo Shinobu.
- Heh? Não precisa se preocupar muito com eles... Tenho quase certeza que a Motoko vai atacar com força total e não vai deixar ninguém de pé por onde ela passar. E a nossa guia pode perfeitamente cuidar de si mesma... Com as duas o Keitarô não vai precisar se preocupar...
- E depois, o que faremos? - Pergunta Sarah.
- A esta altura, vamos ter metade da aldeia correndo atrás de nossos calcanhares. Vamos nos reunir nas estrebarias, roubar os cavalos que tiverem e dar no pé deste lugar. - Resume de forma simplista a esperta garota de Osaka.
- Mas a gente não sabe dirigir nem uma carroça sequer! - Tenta contra-argumentar Shinobu morrendo de medo de levar um coice de cavalo ou cair dos mesmos.
- Heh... Acho que tem uma primeira vez para tudo... Desconfio que a Yuri deve saber de alguma coisa, apesar de não ter falado nada para a gente... - Supõe a jovem Mitsune Konno.
- Ei, Comandante Raposilda, pelo que me lembro, os prisioneiros que resgatamos eram todos caravaneiros e um deles era o chefe do comboio, acho que com isto não precisamos se preocupar. - Tenta tranqüilizar Sarah com algo que ela havia lembrado do inesperado encontro com Eldrick e seus parceiros.
- A Sarah está certa... - Fala Kaolla, impaciente para entrar em ação.
- Estamos Combinados? - Conclui Kitsune.
- Está certo. - Sarah faz um sinal de "OK".
- Ara, o que iremos fazer agora? - Pergunta Otohime, um tanto quanto despreocupada.
- Bem... Sarah e Kaolla podem preparar os jumentos nas posições que deverão ficar e aguardar a hora do casório. A gente vai tentar dar um jeito de avisar Keitarô e os outros, bem como a Naru, se possível. Acho que estes bichos só vão começar a cerimônia depois que o sol de por já que o tablado ainda não está 100% pronto... - Responde a jovem Konno.
- Certo, Kitsune! - Concorda Shinobu demonstrando em seus olhos puros e inocentes uma rara determinação.
- Valeu, Raposilda. Vamos nesta! - Fala Sarah, sendo uma das raríssimas vezes que concordava com a garota de cabelos castanho-claros que ainda gostava de seu pai adotivo, com o qual era extremamente ciumenta.
O grupo se afasta discretamente, enquanto que Kaolla recolhe um pequeno objeto deixado no chão semelhante a um radinho de pilha.
Na realidade este era outra de suas geringonças, um embaralhador de sinais para evitar que os transeuntes ouvissem a conversa delas.
Para quem estivesse passando, o aparelhinho fazia o pessoal acreditar que eles estivessem falando algum dialeto exótico típico das tribos do deserto. De qualquer maneira, ninguém de fora acabou ouvindo nada mesmo.
Já estava começando a entardecer e a temperatura estava mais amena. Uma brisa vinda do Oeste refrescava a aridez do enorme platô. Em pouco menos de uma hora, a cerimônia de casamento de Grommir iria se iniciar.
Havia uma última tarefa a ser feita. Sem serem notadas, Kaolla, Tama e Sarah resolvem dar uma volta nas redondezas do enorme palácio de Grommir, numa tentativa de achar e eventualmente avisar Naru a respeito do plano. Só que as coisas não pareciam ser tão simples, porque todo o local adjacente ao prédio estava fortemente vigiado por soldados e oficiais orcs.
Para não atrair suspeitas, as duas garotas disfarçadas levavam um cesto de frutas - previamente roubadas dos verdadeiros nômades - enquanto rodeavam discretamente o prédio.
A sua cautela finalmente teve efeitos. Finalmente elas conseguiram avistar uma desolada Naru de uma das janelas do andar superior.
- Ahn... Como vamos fazer para subirmos até lá em cima? Entrar no palácio será quase que impossível... - Comenta Sarah reparando na extrema dificuldade da tarefa.
- Mew! Mew! - Tama-chan concorda com a jovem americana loira.
- Não se preocupe, Sarah, eu tenho uma ótima idéia... Vou ver se arranjo no meu kit um papel e algo para escrever. - Diz Kaolla com um estranho brilho em seu olhar.
Minutos mais tarde, Naru recebe uma visita inesperada. Ela estava se observando o final da tarde pela janela, totalmente envolvida em pensamentos pessimistas e sombrios quando ela vê uma pequena figura ultrapassando as grades de ferro da janela.
- Tama-chan, é você? - Um fio de esperança começa a brilhar nos tristes olhos da ruiva. Se a tartaruguinha estava ali...
- Mew! - Responde a pequena Tartaruga Onsen, um pouco assustada pela forma bizarra como Naru estava vestida e maquilada.
- E a Kitsune, e os outras, estão bem? Conseguiram libertar Keitarô?
- "Sim". - Responde Tama mostrando uma de suas características tabuletas escritas.
- Escuta, vocês me precisam salvar de qualquer jeito! Eu não quero ficar aqui para casar com aquele gorila verde! - Diz aflita, a jovem estudante, torcendo para que nenhum vigia estivesse por perto.
- "Tenho uma coisa para você" - A pequena tartaruga mostra outra tabuleca e apontando com uma de suas patas, mostra um pequeno bilhete pregado em seu casco com fita durex.
- Hã? Algo para mim... Tudo bem...
Naru abre o bilhete, escrito com uma letra infantil:
"Naru:
A raposilda planejou tudo para a gente tentar te salvar na hora do casório.
A turma estará reunida na parte de baixo do tablado ao redor do altar feito por estes gorilas babões.
Quanto à Sarge Yu, a Kendo-Girl e o Toudai, eles já estão bem e a salvo, só aguardando nosso sinal para agir.
O sinal será dado pela Kaolla e vai ser um estouro - hehe, você sabe como ela é...
Depois que resgatarmos você, fugiremos até as estrebarias e lá a gente terá que roubar uns cavalos do pessoal de Finneas.
Por enquanto é só. Não se desespere e fica fria, chefe!
Sarah Mac Dougal"
- Hummm, eu entendi, Tama... Que bom... - Naru queria chorar novamente, mas de alegria, só de saber que o pessoal estava bem, especialmente Keitarô. Mas ao mesmo tempo ela estava apreensiva e insegura, já que faltava menos de uma hora para a cerimônia começar.
- Mew?
- Sim, eu sei, você não pode ficar aqui por muito tempo... Acho que as meninas estão te esperando... Eu não tenho como responder, mas obrigada por tudo. E, por favor, não me abandonem nesta hora horrível... Estou contando com você...
- "Fique tranqüila. Tudo vai dar certo" - Tama ergue outra tabuleta escrita por ela mesma para sua dona entender.
- Obrigada, Tama, e não esqueçam de mim...
Naru vê melancolicamente a tartaruguinha se despedir e sair pelas grades de onde entrara. De sua improvisada prisão, a ruiva vê a pequena Tama voar até onde supostamente estavam suas amigas. Ela sente uma vontade imensa de gritar, mas sabe que isto seria inútil. Uma lágrima, mista de ansiedade e esperança, brota de seu rosto.
Enquanto isto, no bizarro templo orc, Mogul e Finneas conversavam numa das criptas. O astuto shaman orc havia acabado de receber a legendária arma Erebus (ou Ur-Khazam na língua orc), que havia pertencido a Dralok, o lendário rei dos orcs.
Tal arma era maior e mais pesada do que um machado de batalha comum e somente podia ser bem empunhada por um homem muito forte.
Feito de uma espécie de ferro negro muito resistente e enfeitado com filigranas e detalhes diabólicos em sua empunhadura e cabo, a legendária arma parecia irradiar poder e maldade sem limites.
Mogul havia acabado de terminar a identificação da arma com a ajuda de seus poderes e havia concluído de que era legítima. Agora somente bastava completar o ritual utilizando os poderes negros do machado como foco mágico, a fim de ressuscitar o grandioso líder orc que uma vez espalhara medo e horros entre seus inimigos há mais de 80 anos atrás.
Mas para isto, ele precisava de uma ajuda adicional, a do poder arcano de um jovem e ganancioso mago. Finneas, o traidor.
- Muito bem, muito bem, Mogul, como andam os preparativos? - Diz Finneas sem nada esconder, pois a esta hora ele e o shaman orc estavam metidos até o pescoço nisto.
- Acabamos de traduzir os pergaminhos da antiga magia orc e estamos terminando de destravar os selos mágicos que separam o mundo dos vivos com o dos mortos... - Diz solenemente Mogul, enquanto o seu corvo negro repousa num poleiro, olhando agourentamente para Finneas.
- Ótimo, ótimo. Então nós estamos muito próximos de alcançarmos o que queremos? - Os olhos do jovem mago pareciam brilhar com a luz da lúcida insanidade de sua alma.
- Sim, mas precisarei de sua colaboração para isto. Enquanto o imbecil do Grommir e seus lacaios estiverem se divertindo vendo a tortura agonizante dos prisioneiros, eu mandarei um mensageiro te buscar para completarmos o ritual que trará Dralok à vida... - Comenta Grommir em tom sombrio.
- Mas e quanto aos outros, eles não ficarão desconfiados?
- Não. Para começo de conversa, os meus lacaios são totalmente leais a mim. E depois tenho mais aliados que você possa imaginar. - Diz Mogul em voz baixa, mas convicta.
- É bom mesmo... Se Khazar descobrir o meu envolvimento, ele irá querer a minha cabeça. - Comenta o escorregadio e traiçoeiro mago.
- Quanto a isto não se preocupe. Se aliar a nós, você terá um lugar de honra garantido, humano. - Diz Mogul.
- E quanto a Grommir? O que será dele quando Dralok ressuscitar?
- Se ele for sensato o bastante terá que se conformar em abdicar do trono e contentar ser apenas um dos generais do grande rei. Mas, conhecendo ele, desconfio que apenas um dos dois sairá vivo ao amanhecer... - Comenta Mogul com um meio sorriso sarcástico.
- Mas...
- Não se preocupe. Grommir pode ser muito forte, maws Dralok é invencível. - Diz ele, procurando tranqüilizar o seu aliado humano.
- Bem, pelo menos o fato da festa de casamento do nosso "grande líder" ser ao ar livre vai ser um empecilho a menos...
- O templo nunca é usado para isto, como os costumes de vocês, humanos. Aqui fazemos nossos sacrifícios e rituais. Quanto mais gente estiver distraída com as festividades, melhor para nós. - Conclui Mogul.
- Hehe... Nunca pude imaginar que Grommir tivesse um fraco por mulheres humanas... - Malicia Finneas.
- Ele sempre teve isto. A primeira vez foi quando estuprou uma humana aos quatorze anos, durante um ataque a uma fazenda, e parece ter gostado muito disto. Desde lá, ele sempre preferiu as fêmeas de sua raça, chegando no ponto de repudiar duas noivas orcs... - Comenta o shaman orc com visível antipatia.
- Desculpe-me pela curiosidade, mas... Ele já teve outras parceiras? - Pergunta Finneas, imaginando as cenas devassas em sua mente.
- Sim. Se bem que a maioria delas não durava mais do que duas semanas... A que mais durou morreu por complicaçòes durante o parto. Uma outra cometeu suicídio e a grande maioria morreu por maus tratos ou... como poderia dizer... Por excesso de entusiasmo da parte dele. - Responde Mogul com evidente nojo do líder orc.
- Hehehe, fico imaginando o pobre destino daquela cadela ruiva... A propósito, você vai liderar a cerimônia de casamento de nosso amigo Grommir? - Ironiza Finneas, começando a compreender a relação de desprezo e antipatia mútua que existiam entre os dois líderes orcs.
- Hah! E por que iria perder tempo com uma besteira destas? Ordenei a um dos meus acólitos para celebrar a cerimônia... A grande maioria dos convidados só vai comparecer para comer, beber e ver os prisioneiros serem mortos. - Respnjde Mugul, começando a ficar cansado daquela lenga-lenga.
- Mas suponho que isto seja uma desfeita para nosso chefe de guerra.
- Pode ser. Mas o fato é que até o amanhecer, as tribos orcs da Vastidão terão um novo rei... - Conclui Mogul.
A urna funerária contendo as cinzas de Dralok é levada por dois acólitos à câmara interna do tempo e posta em cima de um tablado de pedra. Em seguida, dois servos trazem a legendária arma, colocando-a cuidadosamente no tablado. Enquanto isto, seis acólitos - em posição de transe - recitam orações e lamentos em orc arcaico, enquanto um outro despeja incenso num braseiro que expele fumaça...
A fumaça nauseabunda sai do braseiro, formando figuras aleatórias e logo em seguida alcança o teto da bizarra estrutura de pedra, como uma oração sinistra que sobe aos céus.
Em breve, muito em breve, a conspiração teria início, marcando o início do fim do domínio humano em Arkádia. O antigo rei retornaria, para unificar sob a sua bandeira manchada de sangue todas as tribos orcs do deserto, trazendo dor, caos e devastação sobre as terras férteis do continente fantástico. Eles não perderiam por esperar...
Escrito por: Calerom.
Ultrima Revisão: 02/12/2003;
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