CAPÍTULO 27:

O CASAMENTO DE NARU - 2a PARTE.

Faltando cerca de meia hora para o casamento começar, já era visível o alvoroço na clareira, cujo centro estava ocupado pelo enorme tablado erguido para uma cerimônia matrimonial.

Além de Grommir, Naru e um acólito de Mogul - que seria o celebrante do bizarro casamento - daqui a pouco estariam presentes os comandantes orcs mais graduados, o Barão de Khazar e seus oficiais e finalmente alguns convidados das tribos vizinhas - que foram avisados durante o dia por tambores orcs.

Por via das dúvidas, Grommir ordenou aos seus comandantes que dispusessem um destacamento reforçado de guardas ao redor do tablado, para que a cerimônia não fosse interrompida.

Um fortíssimo cheiro de carne e sangue preenchia o ar ao redor, devido à matança de vários porcos e carneiros para servirem de iguarias no gargantuesca festim que se iniciaria mais tarde.

Isto, sem falar nas dezenas de litros de aguardente orc que estavam sendo levados em tonéis... Aquilo seria uma comilança que não seria facilmente esquecida...

Finalmente, o ponto alto da cerimônia seria a lenta e sádica execução dos prisioneiros humanos no Poste das Torturas, cujo suplício teria que ser o mais lento e cruel possível. Os cativos teriam que durar no mínimo até a metade da madrugada, para que pagassem com juros a sua ousadia.

Naquele momento, um pelotão de dez orcs - armados com lanças e machados - comandados por um Orc Warlord estava se dirigindo à prisão. A sua missão seria fazer a troca rotineira da guarda e escoltar os prisioneiros até o centro da aldeia, aonde seriam amarrados ao poste das torturas.

Ao chegarem na entrada da cadeia, o oficial que comandava o grupo - muito mais forte e alto do que seus comandandos - grunhe de raiva ao notar a ausência das sentinelas. Onde aqueles vagabundos estariam? Tudo bem, mais tarde eles seriam exemplarmente castigados.

Com um soldado à frente empunhando uma tocha acesa, o oficial e seus homens andam cautelosamente pelo corredor escurso da prisão. Mal eles sabem que o seu destino está selado...

- "Estão vindo..." - Sussurra uma voz feminina de uma jovem guerreira empunhando sua Katana.

- "Mais um pouco... Mais um pouco..." - diz em voz quase inaudível, uma loira empunhando uma balestra curta de repetição.

- "Narusegawa... Por favor, Agüente mais um pouco. Nós estamos indo!" - Suando frio, um jovem empunha firmemente o seu bastão. Embora ele detestasse lutar e estivesse morrendo de medo, agora era a hora da decisão. Eles não podiam simplesmente falhar.

Subitamente o soldado mais adiantado pára e tira um molho de chaves de seu cinturão. Só que esta providência não era necessária, pois o portão já estava aberto. O que Será que os vigias foram fazer lá dentro?

Antes que possa pensar em outra coisa, a última visão que o anônimo orc vê é o de uma ponta afiada voando em direção ao seu rosto, terminando por se cravar no olho direito, indo até o seu cérebro.

- Agora! - Yuri dá a ordem de ataque, enquanto se prepara para recarregar a sua arma o mais rápido possível.

-

Motoko toma a iniciativa, empunhando a sua Shisui com as duas mãos, acompanhada pelo Keitarô munido de seu cajado de batalha.

A jovem guerreira sabe que não pode usar nenhuma de suas técnicas especiais do estilo Shinmei, porque o poder destrutivo da energia "Ki" liberada por elas no estreito corredor iria alertar os outros soldados orcs que estavam na aldeia. E os três precisavam acabar com este grupo antes que alguém fugisse para contar o que aconteceu.

Totalmente tomado pela fúria, o Orc Warlord ordena a todos os seus homens que avancem sem piedade contra os aventureiros, para captura-los, vivos ou mortos. Este seria o seu primeiro, último e decisivo erro.

Totalmente tomada pela fúria e pelo espírito guerreiro de seu clã, Motoko fere de morte dois lanceiros orcs adiantados, que tombam rapidamente antes que pudessem atingi-la com suas armas.

O Orc Warlord empunha a sua espada longa (somente os oficiais mais graduados dentre os de sua raça tinham este privilégio) e começa a duelar com a jovem samurai, a princípio em igualdade de condições.

Era o confronto de força bruta versus técnica refinada, e da ferocidade versus agilidade.

Simultaneamente, o outro orc investe contra Keitarô que se esquiva mais por medo que por reflexo, mas o rapaz ainda consegue dar uma forte estocada com a ponta do cajado no seu atacante - que não conseguiu parar a tempo. Este grita de dor ao sentir uma de suas costelas se partindo.

Yuri dispara mais um virote contra um infeliz soldado da retaguarda e em seguida, larga a sua balestra - que seria ineficaz a curta distância. Numa fração de segundo aparecem em suas mãos seis lâminas de aço curtas e afiadas - as temidas "kunai" ninjas - e as atira, mirando na massa de soldados que estava se acotovelando no estreito corredor.

Dois dos orcs morrem na hora e outro fica ferido ao serem atingidos pela rajada assassina.

Um dos soldados, totalmente apavorado, tenta fugir para fora, tentando salvar a sua vida. Yuri atira a sua adaga mágica, cravando-a na parte de trás do pescoço do infeliz. O humanóide verde acaba caindo de costas, como se fosse uma marionete que perdeu o seu controlador. Em seguida, sacando a sua espada curta, a loira resolve ajudar os seus amigos.

A esta altura haviam apenas sobrado o orc warlord - que estava trocando golpes de espada com a Motoko - e dois soldados, sendo que um estava ferido, devido a um corte causado por uma das lâminas atiradas por Yuri.

Keitarô estava tendo dificuldades para se esquivar dos ataques do último soldado ainda inteiro.

Aproveitando um momento de distração do inexperiente rapaz, o soldado atinge de raspão a perna direita do calouro da Toudai, fazendo - o cair. Ele salta, esperando cravar a sua meia-lança no pescoço de seu aparentemente frágil adversário, mas, no último instante, Yuri o Salva, empurrando-o de lado enquanto desfere um golpe cego com a sua lâmina.

Ambos os oponentes caem e Keitarô fica assustado ao ver uma mancha vermelha tingir o flanco direito da roupa da jovem, que fica de joelhos, se apoiando com a espada. Em contrapartida, o soldado orc tenta se levantar mas finalmente cai de vez, com o pescoço totalmente destroçado com o golpe que recebera.

O derradeiro soldado vivo tenta se levantar, enquanto com a mão direita arranca dolorosamente o dardo cravado em seu ombro. Ele saca uma machadinha da cintura e se prepara para atira-la na Yuri, que ainda não tinha se levantado por completo.

No desespero, Keitarô investe contra ele com o bastão em riste. A ponta da rústica arma atinge o peito do orc, que geme de dor e cai, com o seu corpo soltando espasmos de agonia.

O rapaz tenta retornar o cajado, mas percebe que ele está cravado. Mas, como?

Com um violento puxão, ele retorna o simples objeto em sua mão e percebe que havia aparecido uma ponta, ou melhor, uma lâmina de puro aço na sua extremidade. E havia sido ela que havia decidido o combate.

Rapidamente ele se volta para tentar ajudar Motoko, que estava levando desvantagem no momento ante a monstruosa força do Warlord.

De fato, este oficial de elite era mais forte e mais experiente do que se imaginava, a ponto de fazer a jovem samurai recuar ante à selvageria de seus ataques.

Vendo-se em desvantagem, o plano do oficial era o de matar rapidamente Motoko e em seguida derrotar rapidamente o humano, já que ele parecia ser o mais fraco de todos, para que tivesse chances de derrotar Yuri.

Com um golpe preciso, o Warlord consegue obrigar Motoko a largar a sua espada Shisui, que voa longe de suas mãos, caindo a dois metros de lado. A jovem guerreira fica com os dedos amortecidos e doloridos devido a violência da investida.

A jovem de Kyoto permanece incrédula, aguardando a morte inevitável, quando de repente exclama:

- Urashima!

Sem pensar nas conseqüências, Keitarô usa o seu cajado-lança, investindo contra o Warlord, mas este consegue-se esquivar a tempo e contra-ataca dando um poderoso murro com a sua mão livre no peito do rapaz, que cai de costas no duro chão do calabouço, ficando numa posição altamente vulnerável.

Motoko pensa em pegar a sua espada caída, mas o comandante orc é mais rápido e desfere um golpe que por pouco não a decapita, fazendo ela desequilibrar-se, sem ter conseguido o seu intento.

Contudo, isto era a chance para Yuri atacar. Aproveitando-se da confusão, ela ataca o flanco esquerdo, perfurando a armadura do abrutalhado ser com uma estocada rápida.

O Warlord geme de dor, mas consegue desferir quase no mesmo instante um poderoso golpe em arco, forçando a loira a recuar. Yuri acaba tropeçando no cajado caído de Keitarô e cai.

O monstruoso oficial ergue a sua espada, desejando encerrar o rápido combate com a morte de seus atacantes.

Contudo, um fortíssimo impacto nas suas costas o faz gemer de dor.

Ao se virar, o Warlord percebe que Motoko havia aproveitado a chance para desferir um poderoso chute de karatê. A jovem guerreira poderia ter tentado pegar a sua espada - fora do seu alcance - mas isto decretaria a morte de um de seus dois amigos, optando por atacar o seu inimigo diretamente. Só que infelizmente para ela, o corpanzil do monstro absorveu o impacto.

Girando o corpo rapidamente, com ódio em seu olhar, e sem mais importar com as ordens de levar os prisioneiros vivos, o oficial humanóide investe a sua lâmina contra a desarmada Motoko.



- Morra, cadela branca! - Grita o monstro preparando-se para cortar sua desconhecida oponente em dois.

Aguardando até o último instante com os músculos retesados pela expectativa, a guerreira do clã Aoyama espera o movimento descendente da espada se iniciar, para que ela possa executar a sua derradeira técnica defensiva.

Usando um movimento rapidíssimo, Motoko detém o curso da lâmina, segurando-a com a palma de ambas as mãos, usando sua incrível agilidade e coordenação motora.

O Orc Warlord tenta forçar a espada, mas a jovem tenazmente mantém a lâmina imobilizada com ambas as mãos.

- Grrr... Por que não morre? Largue a minha espada e te prometo que darei uma morte rápida. - Grunhe o orc, ao mesmo tempo surpreso e irritado, forçando ao máximo sua lâmina.

- Motoko-chan! - Grita Keitarô ao se levantar, vendo a dramática cena, sem saber o que fazer direito.

- Urashima... Agora! - A jovem samurai exclama enquanto tenta usar suas últimas forças para deter o curso da morte iminente.

Ao perceber que Motoko não agüentaria por mais tempo, Keitarô decide agir, catando o seu cajado caído e que ainda estava na forma de lança. Antes que o Warlord perceba, ele dá uma rápida estocada na parte de trás da coxa direita do monstruoso ser, usando a ponta afiada, cravando-a até o osso da perna.

O Warlord urra de dor. E em seguida, é a vez de uma recuperada Yuri agir, atirando rapidamente uma adaga "Kunai" que estava num dos corpos de um soldado orc morto.

O projétil atinge as costas do monstruoso oficial, que grunhe de ódio e agonia.Finalmente a terrível pressão exercida sobre Motoko se afrouxa, e ela consegue reequilibrar as forças, a ponto de lentamente recuar a lâmina da espada, afastando-a de perto de si.

Mesmo agonizante, o colosso orc ainda resiste com as forças nascidas do desespero. Mas o seu destino já estava selado.

Usando a sua espada curta, Yuri atira-a de uma distância segura, acabando por perfurar o coração do humanóide verde, que olha incrédulo para a sua agonia final, vendo o sangue jorrar através do ferimento aberto.

Para alívio da Motoko, finalmente o gigantesco oficial orc cai, para nunca mais se levantar.

- Motoko! - Exclama Yuri, com a face ao mesmo tempo tensa e aliviada.

- Motoko-chan! - Diz Keitarô enquanto tenta amparar Motoko, no que é impedido por ela de forma discreta, mas firme.

- Heh... Está tudo bem... Nunca havia usado a técnica de bloqueio da espada do Shinmeiryu antes, mas sempre há uma primeira vez para tudo... - Comenta a jovem de cabelos negros.

- Está tudo bem? - Pergunta Yuri.

- Agora posso dizer que sim. Percebi que estes oficiais têm uma força e habilidade muito maior do que a dos orcs que enfrentamos... Eu confesso que me empolguei demais e deixei a luta se prolongar além do normal. Mas, tudo bem... Lá fora, quando formos libertar a Naru-Sempai, não irei restringir as minhas técnicas como fiz aqui. - Responde a guerreira do estilo Shinmei enquanto apanha a sua Shisui e a limpa do sangue derramado de seus inimigos usando um trapo caído no chão.

- Falando nisto, temos que nos apressar. Estas trombetas... A festa está iniciando. Ughnnn... - A aventureira loira estava recolhendo sua adaga e seus dardos, mas subitamente sente-se mal.

- Mas, Yuri! Seus ferimentos... - Diz Keitarô enquanto tenta inutilmente amparar Yuri, que o afasta com uma de suas mãos, ao perceber o olhar de Motoko ardendo de ciúme.

- Por favor, dê-me um golpe da poção de cura que a Shinobu nos deixou. Vai ser o suficiente... - Diz a misteriosa guia loira, esforçando-se para sorrir, enquanto reprime um grito de dor.

- Está certo. - Responde o rapaz da Toudai enquanto se volta para apanhar um pequeno embrulho com as coisas deixadas pela Shinobu quando o pessoal veio liberta-los da prisão.

Keitarô abre a garrafinha com o líquido salvador e dá um gole da poção revigorante para a loira. Em instantes, seus sangramentos estancam a uma velocidade espantosa e ela sente novas forças nascerem de seus músculos cansados e doloridos.

- Graças a Deus! - Exclama Keitarô.

- É como eu disse, apenas um gole... - Diz Yuri enquanto dá o restante da garrafinha para que Motoko e Keitarô possam beber.

- Urashima, por favor, me empreste o seu cajado... - Diz Motoko logo após ter tomado um rápido trago do líquido revigorante, com uma expressão compenetrada em seu semblante.

- Tudo bem, Motoko-chan. - Diz o estudante da Toudai sem questionar.

- Por favor, chame-me apenas de Motoko. Não sou mais uma criança, seu bobo! - Responde a jovem Aoyama com uma expressão meio zangada e meio sapeca em seu rosto, dando um leve soquinho com os nós dos dedos nas costas do rapaz.

- (Ai, Ui!) Aqui está, Motoko-c... - Diz Keitarô interrompendo a sua forma habitual de tratar a jovem adolescente samurai com medo de levar outro croque.

- Hummm... Como eu pensei. Não se trata de um cajado comum esta arma, mas sim um cajado ninja... - Diz Motoko sorrindo ao examinar o singular cajado, enquanto Yuri descansa numa parede, enquanto tenta limpar o sangue da sua veste de combate.

- Cajado ninja? - Pergunta Keitarô, leigo em termos de armas.

- Não perceberam ainda? É uma arma versátil. Ela pode tanto combater na forma de um cajado normal como se transformar numa lança de uma ou duas pontas, dependendo do jeito que você empunha a parte central... - Comenta Motoko, satisfeita por ter reconhecido uma arma raramente usada mesmo pelos antigos membros de seu clã.

- Mas como eu podia? - Indaga novamente o estudante, totalmente confuso por não ter percebido este detalhe antes.

- Você não tinha como saber, mas se quiser aprender, está vendo esta ligeira saliência na parte central? Se você apertar firmemente com o polegar, irá sair uma lâmina na parte de cima. E se apertar duas vezes rapidamente, ela se torna uma lança dupla. Mas evidentemente você tem que tomar cuidado com quem estiver por perto. É uma arma perigosa... - Comenta Motoko enquanto mostra o funcionamento da arma de maneira didática, enquanto Yuri apenas esboça um sorriso.

- Puxa... Se bem que acho que vou demorar muito para conseguir treinar com algo deste tipo... - Diz Keitarô.

- Deixe-me ver o cajado, por favor, Motoko-san? - Intervém a loira, percebendo à distância que ainda a cerimônia não havia se iniciado.

- Tudo bem, Yuri, mas... - Motoko estende-lhe a mão e entrega o esquisito cajado-lança para Yuri, enquanto um lampejo de desconfiança percorre o seu inconsciente, alertado pelo súbito interesse da aventureira loira que lutava tão bem quanto ela.

- Se não me engano, devo ter visto uma arma deste tipo em Brightstone. Humm... Apertando a parte oposta à saliência central, ela faz as pontas se retraírem. E se torcer o setor central com ambas as mãos... - Comenta a jovem californiana enquanto segura o cajado com suas mãos, tomando o cuidado para não apontar suas pontas para a largura estreita do corredor.

De repente - para espanto de todos - as pontas do cajado se expandem, só que de uma forma diferente, fazendo ele ficar com três vezes e meia o seu tamanho normal, transformando-se numa espécie de vara de salto olímpico, fina mas muito resistente.

Em seguida, Yuri usa suas mãos para dar duas torções no centro, mas em movimento contrário. A enorme vara volta a se transformar num cajado.

- Putz, ela parece que nem o Nyoi-Bou do Son Goku! - Comenta Keitarô, se referindo ao cajado mágico de um personagem de anime.

- É realmente como imaginei, uma arma versátil. Pena que esteja além da suas atuais habilidades, Urashima... - Diz Motoko, ao mesmo tempo admirada com a arma, mas desdenhosamente fazendo um comentário a respeito da confessa imperícia de Keitarô em artes marciais.

- Mas... - Keitarô fica meio encabulado, mas constata que não adianta argumentar contra uma especialista em combate como Motoko.

- Não, não quis te ofender, mas geralmente este tipo de arma é algo bem difícil para se treinar, mesmo para um guerreiro. Fácil de se usar, mas difícil de dominar. - Motoko percebe a rudeza de seu comentário anterior, e uma pontada em seu coração a obriga a reparar em parte a sua frase infeliz.

- Bem, Keitarô, se a gente sobreviver a esta luta, você gostaria de treinar comigo? Sou uma professora paciente. - Sorri Yuri, aproveitando o breve momento à sua disposição para tirar uma casquinha do ingênuo jovem.

- Eu? Hã? Yuri-san. Quem sabe? Eheheh... - Keitarô a princípio não entende nada, mas ele se lembra do incidente da noite em que conheceu a jovem loira e por pouco quase não fala algo que não devia.

- Mas pelo menos este dispositivo me deu uma idéia de como resgatar a Naru-san das garras de Grommir. - Diz Yuri, olhando profundamente para o cajado e em seguida para o aparvalhado rapaz.

- Mas, como? - Pergunta Urashima.

- Venha cá que eu te digo. - Sorri Yuri, piscando um de seus olhos.

- "Mas é claro! Como sou idiota? Não tinha percebido isto antes... Yuri-san!" - Motoko olha para o atrapalhado kanrinin da pensão e a liberal aventureira loira e sente uma pontada de ciúme mesclada com admiração misturarem sentimentos antagônicos em sua alma.

O Sol já perdeu quase todo o seu ardor e agora se resume a uma bola vermelho-alaranjada que se extingue na imensidão azul-acinzentada do horizonte.

Uma brisa oeste - fraca e pouco refrescante - marca a sua presença, enquanto os convidados ilustres do bizarro encontro começam a aparecer, tomando lugar em seus rudes bancos de pedra.

A cerimônia do casamento do ano das Tribos Rancapeles e Quebra-Ossos está para se iniciar.

O local da cerimônia estava sendo vigiado por pelo menos quatro pelotões de quinze lanceiros orcs cada, dispostos ao redor do enorme tablado, sem contar os soldados que formavam o cordão de isolamento.

Enquanto isto, a maioria da população e algumas mulheres orcs se dedicam a preparar os pratos do imenso banquete, bem como ajuntar os tonéis de aguardente comprados dos nômades e reforçados pela bebida vinda da caravana de Khazar.

Quanto ao ambicioso nobre humano, ele estava visivelmente inquieto e impaciente, enquanto chega junto com o seu séqüito ao local.

Se dependesse da vontade dele, o obeso senhor feudal já teria ido embora desta aldeia imunda, retirando-se para o conforto de seu castelo - embora Khazar estivesse um pouco interessado para ver as torturas nos prisioneiros abelhudos de Smallville, que se iniciariam após o término das festividades.

O arrogante nobre fica mais nervoso ainda quando percebe a ausência de Finneas. Onde aquele assessor irresponsável estaria? Certamente deveria estar "trocando figurinhas" com o sombrio e pouco confiável shaman Mogul.

Reprimindo um pensamento profano e malicioso sobre o que ambos os feiticeiros estariam fazendo, Khazar toma lugar num espaço previamente combinado para o seu grupo, juntamente com seus oficiais e soldados - enquanto hipocritamente cumprimenta alguns comandantes orcs que ele sequer conhecia.

Ao todo deveriam ser mais de setenta presentes. Como tudo foi decidido às pressas, era evidente que não apareceriam todos os representantes dos clãs vizinhos, com exceção das tribos mais próximas, embora fosse duvidoso que muitos convidados comparecessem mesmo assim, já que Grommir nunca foi muito carismático entre os seus.

Logo em seguida, aparece o celebrante - um acólito de Mogul - usando ums túnica negra enfeitada com uma caveira estilizada. Ele aguarda calmamente em frente à mesa ritual a chegada dos "noivos".

A esta altura, a maioria dos mercadores nômades havia ido embora da aldeia, só que o povo está por demais entretido para perceber a presença de um certo pequeno grupo.

- Ara, quanta gente! Até parece um casamento de verdade. - Comenta uma sorridente odalisca.

- Mew! - Diz a simpática tartaruguinha semi-escondida no volumoso penteado da odalisca.

- Ai, como a Naru-sempai está? Nós precisamos fazer... - Pergunta Shinobu, visivelmente nervosa.

- Fica fria, Shinobu! A gente vai dar um jeito sim, mas primeiro nós vamos chegar o mais perto daquele tablado de madeira. - Comenta a guia Kitsune, enquanto tenta abrir caminho entre a multidão malcheirosa dos cidadãos orcs que se contentam em ver de longe o local aonde iria se realizar o casamento do ano.

- Ei, o que vocês estão fazendo aqui? Esta área é proibida para estranhos! - Diz rudemente um oficial orc ao notar o bizarro grupo se aproximando do tablado.

- Sinto muito, moço! Acho que a gente entrou na festa por engano... - Tenta justificar-se Kitsune, enquanto faz a maior cara de pau para sorrir para aquele imundo oficial.

- Vamos circulando, antes que eu os prenda e... (snif) e... (snif) - De repente um estranho aroma é sentido pelo oficial e seus soldados, e o seu raciocínio começa a ficar mais lento, mais confuso...

- E o quê, meu bravo guerreiro? - A voz da sensual guia nômade soa como uma melodia nos ouvidos do bárbaro humanóide.

- Grunf. Podem ficar, mas não atrapalhem a cerimônia, ouviram? - Dito isto, o oficial orc e seus homens se retiram, deixando o caminho livre para Kitsune e suas amigas.

- Tá legal! A gente se comporta! - Responde Otohime dando um alegre aceno ao abobalhado humanóide verde.

- "Kitsune, o que você fez aquele oficial?" - Sussurra a disfarçada Shinobu à sua companheira.

- "Nada que um pouco de persuasão feminina e o meu charme não resolvam, Shinobu." - Sorri Kitsune, ao perceber que o seu pó de carisma havia funcionado mais uma vez.

- Acho que está vindo alguém... - Comenta a jovem ginasial de cabelos negros curtos.

De repente, um som estridente de trompas primitivas anuncia a chegada do noivo. Grommir - devidamente trajado com uma armadura de gala - caminha com passos altivos e confiantes, enquanto é escoltado por uma guarda de honra. Ele apenas acena discretamente para Khazar, seu aliado, que retribui o gesto.

Assim que o chefe de guerra orc chega em frente ao altar, ele é saudado pelo sacerdote oficiante.

Em seguida, Grommir dispensa a sua guarda de honra, que volta para ajudar no cordão de segurança ao redor do tablado aonde vai ser executada a cerimônia de casamento.

O líder humanóide olha de relance para os convidados e nota rapidamente que seu desafeto Mogul não está presente nas primeiras filas.

Aquele abutre nojento... Como se atrevia a desprezar este dia tão grandioso? Mas, contendo sua ira, Grommir se acalma momentaneamente ao constatar que tudo está correndo como o previsto.

Depois, quem estava casando era ele e não aquele Shaman decrépito e impotente que só tinha aquele corvo nojento como companhia. Tanto melhor! Depois ele pensaria numa forma de se vingar diante de tal demonstração de desprezo e indiferença.

Enquanto aguarda o início da cerimônia, Grommir antecipa em sua imaginação o que virá pela frente. O seu sorriso escancarado não deixa dúvidas. Sim, está tudo correndo como ele queria!

Daqui a pouco, ele iria derramar as torrentes do seu desejo nas entranhas da cadela ruiva, enquanto os seus seguidores se encarregariam de torturar os prisioneiros abelhudos, perfurando os seus olhos, extraindo o seu couro cabeludo, as orelhas, os narizes, os lábios, bem como cortando os dedos dos pés e das mãos... Sem falar que as humanas seriam cruelmente violentadas de todas as maneiras possíveis.

Sim, seria extremamente prazeiroso escutar os gritos de dor e os inúteis pedidos de misericórdia dos condenados, enquanto ele estaria possuindo a cadela humana nos aposentos de seu Palácio.

Se ela fosse virgem, tanto melhor. E se não fosse, ela iria sentir o que é ser dominada por um macho de verdade.

Enquanto isto, Kaolla e Sarah - ainda disfarçadas - procuravam se afastar discretamente da aglomeração monstruosa que se formava no centro da aldeia para chegarem a tempo no local onde os jumentos foram posicionados, com pares de enormes caixas de madeira pendurados em suas laterais. Tais caixas foram arduamente lacradas para evitar que xeretas e curiosos violassem o seu conteúdo antes da hora.

- Agente Su, quando a diversão irá começar? - Diz Sarah, impaciente com a demora do início da ação.

- Peraí, Agente MacDougal, estou terminando de ajustar as coordenadas dos alvos no meu controle... Pronto! Todos os alvos foram enquadrados e registrados! Agora é só esperar pelo grande finale! - Diz Kaolla enquanto ela termina de inserir alguns números aleatoriamente num estranho controle primitivo parecido com um controle remoto.

- Como você conseguiu inventar este troço? Aqui não é um RPG medieval online? - Pergunta, meio espantada e meio cética a menina loira.

- Nya-ah-ah-ah! É claro que sim, mas ao ler as intruções do kit do Tecnomago, me lembrei de ter visto alguns códigos das gambiarras que os programadores do jogo fizeram nas versões beta e que eles se esqueceram de apagar! Eu sou demais! - Comenta a jovem inventora, se referindo a uns downloads de material não autorizado que ela coletou na Internet poucos dias antes de comprar o CD-Rom do Jogo Fantasy.

- Kaolla, realmente, você não é deste mundo. - Comenta Sarah com uma típica gotona enorme em sua cabecinha.

- E "nhaum" sou mesmo, Agente MacDougal. Sou uma terrestre! - Responde a jovem estrangeira com sua graça e senso de humor.

- Ei, Como a gente vai avisar o pessoal lá embaixo da hora certa para salvar a Agente Naru? Se estes troços demorarem pra acabar com tudo, o plano pode ir por... - Pondera a jovem americana enquanto ela repara nos jumentos, que estavam descansando debaixo de uma cobertura, a alguns metros de distância.

- Nhaum precisa se preocupar, Agente MacDougal. Eu tive a brilhante idéia de preparar uma pequena surpresa para o altar da cerimônia do casório daquele macaco verde! - Exclama a jovem estudante de cabelos loiro-claros, olhos verdes e pele bem morena.

- Ficou louca, Kaolla? Assim você vai acabar com a Agente Naru junto! - Diz Sarah quase se traindo chamando a atenção dos transeuntes devido ao tom de sua voz.

- Be Cool... Todos os meus movimentos são friamente calculados! Segundo minhas estimativas, o meu presentinho irá somente causar danos leves! - Responde Su, fazendo um discreto gesto para sua amiga não falar tão alto, embora poucos orcs estivessem circulando pelo local onde estavam.

- É bom mesmo, senão não vai sobrar nada da Agente Naru...

Poucos minutos depois, o toque de trombetas anuncia a chegada da noiva. A maioria dos convidados se põe de pé, tornando quase impossível para Kitsune e as meninas verem sua pobre amiga.

Naru Narusegawa, ou melhor - a "humana ruiva" destinada a ser a consorte de Grommir, estava sendo escoltada por um pelotão de orcs Warlords, devidamente amarrada.

No momento dela ser levada do palácio ao local da cerimônia, a geniosa guerreira ruiva causou um princípio de confusão ao agredir dois orcs Warlords por não querer ser tocada pelos brutamontes. Ela só foi dominada com a ajuda dos feitiços de dois acólitos de Mogul, chamados a tempo.

As garotas somente deram-se conta de que era a Naru e que ela estava por perto por causa do berreiro aberto enquanto era escoltada - leia-se empurrada - pelos orcs até o altar. Ao que tudo indicava, o efeito das magias já tinha passado e ela estava voltando ao seu "self" normal.

- Buááááá! Sou muito jovem para casar! Eu não quero aquele gorila verde como meu noivo! Eu não mereço isto! Não mereço! - Exclama Naru, chorando mais do que um bezerro desmamado.

- Calaboca humana ruiva! Considere-se afortunada por ter sido escolhida pelo grande Grommir para viver e ser a sua concorte pro resto de sua vida! hehehe - Comenta sarcasticamente um oficial orc.

O escândalo causado pela gritaria chamou a atenção de um certo pequeno grupo que estava a poucos metros de distância do altar, logo atrás do cordão de segurança formado pelos truculentos soldados orcs.

- Naru-Sem... mmmmpffff... - Tenta balbuciar Shinobu ao reconhecer a amiga, mas Kitsune a detem.

- Shhhh... Por favor, Shinobu, agüente só mais um pouco. - Sussurra Kitsune no ouvido da pequena estudante.

- "Mas temos que agir agora!" - Cochicha Shinobu, visivelmente nervosa.

- "Eu sei, mas precisamos aguardar o sinal da Kaolla. E só podemos agir quando eles estiverem distraídos". - Responde Kitsune.

- "Mas..."

- "Daqui a pouco vai estar tudo acabado." - Conclui a garota raposa, com seu característico sorriso.

Assim que Naru chega na entrada do tablado. O acólito celebrante inicia o rito matrimonial, que diferentemente dos costumes humanos, não era tão formal como os casamentows de igreja.

- Aqui nós estamos todos reúnidos para celebrar a união entre o nosso glorioso chefe de guerra Grommir e esta ruiva humana que foi escolhida para ele pelos laços do casamento, segundo as sagradas leis de nossa raça. - Diz o acólito, falando de improviso.

- Prossiga, cão. Vá direto ao que nos interessa. Chega de palavrórios. - Resmunga Grommir, intimidando o celebrante.

- Errrr... L-lorde Grommir, Grande Chefe de Guerra dos Orcs, filho de Brommar e de Garunda, aceita esta humana como legítima esposa? - Pergunta o celebrante, suando frio diante do porte ameaçador do noivo, enquanto Khazar reprime um sorriso sarcástico.

- Grunf... É claro que eu aceito! - Responde o chefe de guerra de forma arrogante.

- E você, ruiva humana, aceita o grandioso Lorde Grommir como seu legítimo esposo?

- EUUUU?! Vocês acham que sou louca? É Claro que mmmpppfffhh!... - Naru tenta se exaltar, mas Grommir é mais rápido do que ela. Neste instante, o esperto chefe de guerra tampa-lhe a boca, impedindo-a de protestar.

- É claro que a humana aceita! - Responde Grommir no lugar de Naru.

- Pois então, pela sagrada tradição orc, eu declaro-os marido e mulher! - Diz em tom solene o celebrante, ansioso para sair dali o mais rápido possível.

- Ei! Espera aí! Este casamento é uma marmelada! Eu nem tive... - Protesta Narusegawa, aproveitando que Grommir a largara momentaneamente.

- Agora é tarde demais! - Conclui o acólito.

- Isto mesmo, ruiva! Você agora é de Grommir! - Exclama o corpulento líder dos humanóides esverdeados.

- Nããooo! Oh, Keitarô, onde você está quando eu mais preciso de você? Alguém me ajude! Socorro! - Naru começa a berrar e a girar os olhos, incrédula com o resultado.

- Agora os noivos podem se beijar! - Diz maldosamente o sacerdote orc.

- Venha cá, ruiva, agora você vai ser minha! - Diz Grommir mostrando os seus horrendos lábios enquanto segurava fortemente com uma de suas mãos o braço da Naru, que tentava se afastar inutilmente de sua presença.

- IIIIKHHH! Socorro, alguém me ajude! - Diante de tão assustadora visão, a jovem universitária da Toudai sente suas pernas tremerem como varas verdes e até esquece da promessa que o seu pessoal fez de resgatá-la, diante do horror do momento.

Enquanto isto, os convidados de Grommir incentivavam o líder com assobios e palavras maliciosas de incentivo ao líder. Apenas Finneas, Khazar e Mogul assistiam a tudo, impassíveis.

No instante em que o chefe de guerra tentava arrancar um beijo de Narusegawa, os prisioneiros que estavam na mina aguardavam ansiosamente o "sinal" de Kaolla, com armas em punho.

Yuri, Motoko e Keitarô se preparavam para deixar a prisão e se unir ao grupo formado pela Mutsumi, Tama, Kitsune e Shinobu, que estavam disfarçadas e prontas para tentar resgatar a jovem Narusegawa.

Kaolla e Sarah chegaram ao local onde os jumentos estavam, só que algo inesperado acontece.

No momento em que a aloprada inventora pega dentro de uma mocnila - que estava no lombo de um dos animais - um estranho aparelho detonador, um dos soldados orcs que estava por perto repara no falso "nômade".

E ele nota que o seu bigode estava torto, caindo para um dos lados, e a cor amorenada da face estava falha em vários pontos da face.

- O quê? Você não é um mercador? - Venha aqui ou... - O guarda tenta agarrar Kaolla, que fica assustada.

- Ah, vai te catar, porco verde! - Sarah percebe que é a hora da porrada e nocauteia o soldado com um soco "lá embaixo", causando um princípio de confusão entre os presentes.

- Intrusos! Peguem-nos! - Grita outro soldado orc. O princípio de tumulto começa a se espalhar, até chegar na multidão agrupada ao redor do altar.

- Agora, Kaolla!

Enquanto Sarah despacha o soldado que dera o alerta com quatro socos rápidos e precisos, Kaolla aperta o botão vermelho do controle e imediatamente as caixas colocadas nos lombos dos jumentos se abrem, revelando vários tubos, semelhantes aos de um órgão de igreja... Ou aos tubos de um primitivo lança-foguetes.

Embora a pólvora fosse desconhecida dos europeus na época medieval, ela já era conhecida dos chineses e mengóis, que chegavam a usar foguetes primitivos em seus cercos.

No mundo de Fantasy, o domínio de explosivos primitivos, era um dos atributos dos tecnomagos.

Antes que os orcs possam saber o que estava acontecendo, os tubos disparam vários foguetes com uma pintura de um logotipo de três olhos para o alto, causando um barulho ensurdecedor.

Em menos de cinco segundos, os foguetes começam a cair em cima das torres de vigia da aldeia, no quartel dos orcs, nas concentrações de tropas e perto do altar da cerimônia de Grommir.

As explosões se sucedem, enchendo o ar de fumaça cinza-escura, além de um barulho ensurdecedor. O caos é completo e vários orcs tombam enquanto outros são pisoteados na confusão.

- Mas que diabos está acontecendo? - Grita o barão de Khazar, sacando a sua espada e se dirigindo para um abrigo seguro, sendo escoltado pelos seus guarda-costas.

Finneas - que estava chegando ao local - tenta sair no meio da multidão em pânico, tentando imaginar quem estava causando aquele ataque. Mogul aparece com seus acólitos e imediatamente faz um sinal para que o mago humano o siga. Eles buscam refúgio no templo do shaman orc. O corvo de estimação do feiticeiro humanóide grasna em tom sinistro.

- Vamos ter que agir depressa. - O experiente sacerdote orc ordena para que os seus acólitos fechem a porta do templo e começa a preparar-se para um estranho ritual.

Grommir estava simplesmente incrédulo. Um foguete caíra perto do local da cerimônia de seu "casamento" com a Naru, afugentando os convidados. O sacerdote celebrante fugira e vários de seus soldados estavam caídos no centro da aldeia. Apenas ele e a sua "noiva" estavam diante do altar semidestruído.

- Guardas! Peguem os malditos que fizeram isto! - Grita ele para os seus homens, totalmente enfurecido e confuso.

-

Naru tenta fugir, mas a borda do seu vestido fica presa numa parte quebrada do bizarro altar e ela escorrega. Grommir percebe a fuga de sua noiva.

- Você não vai embora enquanto não ser de Grommir! Eu vou te fazer minha mulher, aqui e agora! - Diz o comandante orc, agarrando Naru, que tenta inutilmente desvencilhar-se dos braços do monstro.

- Keitarô, socorro! - Grita a ruiva totalmente apavorada, ao sentir o hálito fétido e a bocarra horrorosa de Grommir. Devido ao pavor, seus socos e pontapés surtiam pouco efeito no gigantesco corpanzil do orc, que parecia gostar disto.

- Eu vou tirar o máximo prazer de... - Grommir tenta arrancar com as mãos o vestido de Naru.

- Se eu fosse você, não diria isto! - Ouve-se uma voz no dialeto de Kansai.

- O quê? Quem...

Grommir se vira e é imediatamente golpeado pela veloz Tama-chan, que dá um doloroso golpe rasante usando o seu casco no rosto do líder orc.

Ao mesmo tempo, Kitsune e Shinobu disparam suas Magic Arrows simultaneamente nas costas do humanóide, forçando-o a largar Narusegawa. Mutsumi ativa por instinto uma barreira mágica que manteria o pessoal a salvo das investidas dos guardas orcs que estavam por perto.

- Argh! Eu... Vou matar vocês! - Grita Grommir com fúria e frustração, soltando momentaneamente sua presa. A sua armadura de gala estava fumegando.

- Seu gorila pervertido, você não vai machucar minhas amigas!

Narusegawa finalmente recobra a sua coragem, ao perceber que Grommir não era tão poderoso quanto ela imaginava. Cheia de fúria, ela solta um poderoso Naru-Punch no queixo proeminente do orc, que cai de bunda no chão, a três metros de distância.

Naru tenta sair do bizarro altar, mas um orc chieftain que estava por perto surge no início da escadaria.

Kitsune e as outras acabam ficando cercadas no meio da multidão e tentando se defender da investida de dezenas de soldados leais a Grommir. E não havia sinal da presença de Kaolla, Motoko, Keitarô, Yuri ou Sarah, embora as explosões continuassem sacudindo a fortaleza de pedra orc.

Naru tenta acertar o orc chieftain com um soco, mas este é mais esperto e se esquiva, ao mesmo tempo em que a derruba com uma rasteira.

Naru cai no chão e o seu vestido extravagante é empecilho para que ela possa se levantar a tempo.

O orc chieftain avança com passos lentos em direção à jovem oriental, que grita de pavor.

- Zan-Kuu-Sen! - Uma voz conhecida se faz ouvir e uma poderosa onda de choque atinge em cheio o orc chieftain, tonteando-o.

- Motoko-chan! Eu sabia! - Grita aliviada Narusegawa.

Com um rápido dash, a poderosa guerreira samurai derrota vários soldados e oficiais orcs que estavam em seu caminho, acertando-os com sua espada Shisui, manejando-a com precisão nunca vista. Os golpes saem tão rápidos que mal podem ser vistos.

Sabendo de antemão que os orcs não eram seres vivos de verdade, mas sim controlados pela Inteligência Artificial do videogame, Motoko não reprime a sua fúria por tudo de ruim que passara no calabouço.

Em instantes, uma pilha de corpos massacrados, agonizantes e mutilados começa a se formar por onde ela andava.

Um acólito de Mogul tenta conter Motoko, começando a invocar uma magia de terror sobre ela, só que desta vez a jovem de Kyoto está prevenida.

Sem interromper o seu avanço, ela saca um de seus talismãs mágicos e atira-o contra o infeliz sacerdote orc, que é incinerado por chamas etéreas vindas do nada.

Logo atrás da poderosa samurai, Yuri avança, com sua besta numa das mãos e a espada curta em outra, derrotando quem estivesse em seu caminho. O seu objetivo não era derrotar os homens de Grommir, mas abrir caminho para se vingar de Khazar e recuperar a luneta que perdera antes.

O orc chieftain - ainda tonto e debilitado pelo Zan-Kuu-Sem - ataca Naru com seus punhos, mas a ruiva já está em pé, totalmente furiosa e dá um chutão na altura do estômago, fazendo o oficial voar pelo altar, indo parar de forma bem dolorosa numa das tendas próximas.

Só que Naru não percebe que Grommir já tinha se recuperado e estava pronto a agarrá-la pelas costas.

Antes que isto aconteça, uma pedra habilmente lançada acerta em cheio o crânio do líder orc, nocauteando-o.

Assim que o corpanzil de Grommir cai com estrondo no tablado - abrindo um buraco enorme nele - uma figura conhecida aterrisa no altar, usando o seu cajado retrátil como vara de salto olímpico.

- Keitarô, você veio me salvar! - Naru esquece de seus escrúpulos excessivos e beija o rapaz que atirara a pedra salvadora. Embora ela estivesse suja, suada, malvestida e escandalosamente maquilada, ainda era Naru Narusegawa.

- Rápido, Narusegawa, segure-se em mim, que vamos sair deste lugar. - Diz Keitarô com uma determinação raramente vista, como na aventura da Ilha Pararacelso.

- Keitarô... - Suspira romanticamente a ruiva como a mocinha dos filmes de ação.

A jovem Naru se agarra nas costas do rapaz. Esquecendo-se temporariamente de seus medos e receios, Keitarô toma impulso e - com o seu cajado - executa um salto aventuroso, aterrisando no meio da clareira, onde as outras garotas estão lutando.

Neste ínterim, a situação não estava muito fácil para elas. Tama-chan estava tentando manter os soldados afastados, mas ela já estava se cansando. Kitsune golpeava incessantemente os orcs usando o seu véu mágico, mas a onda de ataque dos soldados e oficiais inimigos parecia não ter fim.

A duração da magia de defesa Barrier - que Mutsumi havia invocado para proteger a si mesma e os seus amigos - estava para acabar e Shinobu não conseguia romper o cerco dos humanóides e dos mercenários de Khazar, mesmo com sua recém aprendida técnica Holy Blast.

Um dos orcs chieftains dá um salto resoluto e tenta acertar a jovem clériga com a sua adaga. A jovem Maehara grita de medo, mas no instante seguinte, o orc atacante voa para longe dela, bem como meia dúzia de soldados, destroçados pela técnica mortal "Hyakka-Roukan".

- Motoko-chan! - Grita Shinobu com um misto de espanto e alívio.

- Rápido. Não temos mais tempo! Vamos para as estrebarias! - Responde Motoko enquanto ela derrota mais orcs, rompendo o cerco para que seus amigos pudessem fugir.

Com a espada Shisui abrindo caminho, Motoko, Narusegawa, Keitarô, Tama, Mutsumi, Shinobu e Kitsune conseguem finalmente abrir uma brecha o suficiente para fugir e todos se dirigem para a saída da aldeia, derrotando os esparsos soldados orcs que tentam se colocar em seu caminho.

Um infeliz orc é derrubado pelo Naru-Punch, outro é golpeado pelo bastão de Keitarô, um terceiro é nocauteado pelas rasantes de Tama e os restantes são atingidos em rápida sucessão pelas magias combinadas da Kitsune, Mutsumi e Shinobu.

Após a luta com Tarsius e do treino com a Yuri em Smallville, elas estavam bem mais fortes e experientes, assim como conseguiam fazer algumas táticas conjuntas.

Em outra parte da aldeia em chamas, uma cena surreal se desenrola. Kaolla e Sarah - montadas nos jumentos lançadores de mísseis - avançam sobre os orcs, como se fossem pistoleiras de um filme do Velho Oeste.

Elas estão sendo seguidas pelos escravos humanos que libertaram das minas, que estavam armados com o equipamento capturado dos soldados já derrotados. Devido às poções que as garotas lhe deram, eles estavam em condições de correr e lutar normalmente, disparando flechas e derrotando os escassos soldados que encontram.

Os já confusos e desmoralizados soldados de Grommir não são mais páreo para detê-los e a resistência limita-se a focos isolados.

O improvisado exército de desesperados tenta abrir caminho para as estrebarias, um pouco depois da entrada da aldeia. Um pelotão de doze arqueiros orcs tenta disparar as suas flechas nos fugitivos, mas Kaolla aciona novamente seu controle "remoto" e dispara dois foguetes na tropa, fazendo os humanóides de focinho proeminente voarem para todos os lados.

Su também empunha uma espécie de lança-granadas rudimentar - feito por ela mesma, espalhando o caos nas fileiras inimigas.

Por sua vez, Sarah - montada em outro animal - derruba vários orcs usando a sua funda de combate com perícia mortal.

Em meio ao caos reinante, o Barão de Khazar e alguns de seus homens recuam em direção aos seus alojamentos. Impassível, o cruel senhor feudal caminha com sua fisionomia iluminada pelo brilho das explosões e dos incêndios provocados pela Kaolla Su. E, sem se importar com nada, ele passa por cima dos corpos agonizantes de seus aliados orcs que inutilmente imploram por ajuda.

- Malditos! Isto não pode estar acontecendo! Quando eu pegar aqueles miseráveis... - Rosna o gordo careca, rangendo os dentes, quando finalmente se aproxima da sua tenda principal.

- E porque não aproveita para me pegar, seu fracassado? - Diz sarcasticamente uma figura feminina coberta por um manto negro e muito bem armada.

A seus pés estavam os corpos dos dois torturadores que bateram nela e nos seus amigos durante o dia e o de um oficial, todos com as gargantas cortadas. E presa na sua cintura, estava a preciosa luneta mágica que ela conseguira resgatar dentro da tenda do próprio barão, após ter matado os guardas que lá estavam.

- Yuri! Mas, como?... Soldados! Matem esta vagabunda! - Grita o barão, fulo da vida.

-

Os guarda-costas de Khazar avançam silenciosamente com suas afiadas espadas em punho. Embora eles sejam bem armados e equipados com armaduras de cota de malha, os veteranos mercenários não são páreo para a perigosa adaga e a afiadíssima espada curta da jovem loira. Em segundos, os seguranças são retalhados e derrotados - sem que Yuri tenha recorrido às suas principais técnicas de luta.

- Você deveria ter contratado gente mais competente... Isto nem foi um aquecimento! - Zomba a jovem de cabelos claros ao ver a expressão de puro ódio de Khazar.

- Vou pensar nisto após dançar sob o seu túmulo! - Sem se intimidar, Khazar saca a sua espada longa, de finíssimo acabamento, mas tão mortal quanto as armas da loira.

Apesar de ser obeso e aparentar ser um poltrão, Khazar está longe de ser um fracote indefeso. Na sua juventude, ele tinha sido um espadachim de uma certa técnica e ainda treinava regularmente com suas armas nas horas de folga.

Por baixo de sua roupa elegante de nobre, ele estava protegido com uma cota de malha feita do legendário metal Mithril, que cobria seu pescoço, tronco, ombros e braços.

Esta raríssima liga de metal existente em minas remotas ao Sul de Arkadia tornava a armadura bastante leve e muito mais resistente do que o aço puro. Se ela fosse encantada, o seu usuário poderia sobreviver ao mais duro combate contra adversários comuns.

A dança de espadas segue ao seu clímax com vários golpes, fintas e esquivas. Só que a linda garota consegue impor aos poucos a sua experiência e poder, forçando Khazar a se defender de mais e mais ataques contínuos.

Finalmente, Yuri consegue romper a guarda do Barão e o acerta o seu braço esquerdo. Khazar urra de dor e nota uma leve mancha avermelhada se formando na manga de sua roupa. Contudo, ele podia-se considerar afortunado.

Se não fosse a resistente couraça de Mithril, o violento golpe de Yuri teria cortado músculos e tendões, chegando até no osso - aleijando-o permanentemente. Contudo, ele apenas causara um corte superficial, devido à proteção que ele dispunha.

Só que esta foi a derradeira vitória. Ao tentar se desviar de um furioso contraataque do barão, a jovem loira tropeça num dos cadáveres estendidos no solo e perde o equilíbrio, caindo de costas numa posição desfavorável.

- Parece-me que vou ter a sua linda cabecinha, loira. Adeus! - Khazar ergue a espada para dar o golpe de misericórdia.

Neste instante uma poderosa magia "Lightning Spark" atinge o Barão de Khazar, arremessando-o numa outra tenda a metros de distância. A barraca cai junto com o nobre.

Yuri penosamente se ergue, olhando ao redor, tentando imaginar o que havia aconhecido.

- Vocês? - Exclama a loira ao ver uma conhecida dupla.

- A Sétima Cavalaria chegou! - Grita Sarah enquanto aproveita para despachar mais soldados de Khazar que estavam vindo em sua direção com suas granadas feitas de material volátil.

- Ei, Sarge Yu, quer uma carona? - Pergunta Kaolla, a autora do disparo salvador, estendendo o seu braço para a surpresa Yuri.

- Ok. Eu aceito. - Com um salto, a experiente guerreira monta na garupa de um dos jumentos.

Minutos mais tarde, todo o grupo - incluindo os sobreviventes resgatados das caravanas - consegue-se reunir em frente à estrebaria.

Os poucos soldados que guardavam o local foram despachados providencialmente pela Naru e Motoko e os outros, com a ajuda dos prisioneiros fugitivos.

Até o momento, as baixas eram as seguintes: três dos prisioneiros estavam feridos por cortes e machucados superficiais e um estava mancando muito, devido a uma flecha perdida que resvalou na sua perna.

Yuri estava com pequenos cortes causados pelos enfrentamentos que tivera e algumas queimaduras causadas por ter atravessado o fogo que se espalhava na aldeia dos orcs.

Kaolla tinha uma mecha de cabelo ligeiramente chamuscada devido às explosões, além do seu corpo esguio estar manchado de fuligem.

Quanto a Motoko, ela estava com suas vestes em estado deplorável, bem como vários arranhões e machucados, o mesmo acontecendo com Naru.

Shinobu estava quase em estado de choque, devido à violência vista na batalha e ao grande número de cadáveres.

Keitarô estava sentindo dores pelo corpo todo, além de estar todo sujo e empoeirado.

Todos estavam cansados, famintos e esgotados pela luta infernal pela sua sobrevivência.

- Vocês, por acaso são?... - Estranha Yuri ao reparar nos anônimos acompanhantes de Kaolla e de Sarah.

- Prazer, milady! Nós somos os sobreviventes das caravanas que foram atacadas pelos orcs a mando do maldito Khazar. O Meu nome é Greg Griffen e sou representante da guilda dos mercadores de Smallville. - Responde o senhor de meia idade. Era a primeira vez que ele podia se dar ao luxo de sorrir, depois de semanas de horrores e torturas.

- Nós somos aventureiros contratados pelo condestável Eldrick de Smallville. Vocês aceitariam fazer um depoimento no tribunal contra o barão, responsabilizando-o pelos ataques às caravanas? Não que queira obrigá-los, mas precisamos de provas... - Pondera Yuri, de forma cautelosa.

- Com todo o prazer! É o mínimo que podemos fazer como agradecimento pela nossa liberdade! - Fala Greg com toda a sua convicção.

- É isto aí, Greg! Quero que aquele gordo nojento se dane! - Exclama Theleus, outro ex-prisioneiro.

- Abaixo o Barão! - Grita um terceiro ex-cativo.

- E agora, o que faremos? - Pergunta Keitarô, limpando com uma de suas mãos o suor que escorre de seu rosto, visivelmente preocupado com a calmaria temporária, enquanto rolos de fumaça e fogo se erguiam às suas costas.

- Vamos aproveitar para pegar os cavalos dos mercenários e cair fora daqui! Temos que correr o mais depressa possível para Smallville. - Diz Yuri, ajeitando as suas coisas o mais rápido que pode numa carroça vazia pertencente à caravana de Khazar.

- Mas a gente nem sabe dirigir estas coisas direito! Eu ainda não tirei a carta de motorista!... - Protesta Keitarô.

- Se me permite, milday, eu e meus homens temos experiência com carroças e animais de carga. Não precisam se preocupar - Diz Greg, colocando a sua mão forte e rija em sinal de solidariedade no ombro do rapaz da Toudai...

Num rápido exame, o pessoal decide o que fazer.

Cinco dos prisioneiros em melhores condições físicas pegam os melhores cavalos dos mercenários de Khazar à disposição no estábulo.

Kaolla e Sarah decidem ficar com os jumentos, só que Yuri acha que deveria abandonar os animais já que eles não renderiam como os cavalos. Contudo, ambas as meninas protestam - por terem gostado dos bichos - e Yuri concorda em levá-los, contanto que ambas as garotas mudem-se para uma das carroças. Um dos prisioneiros a cavalo se prontifica a escoltar os jumentos.

Greg resolve montar numa carroça com um companheiro para levar os prisioneiros que não tinham condições de montar num cavalo e finalmente Yuri e outro prisioneiro guiariam a segunda carroça com o restante do pessoal que não sabe andar a cavalo.

Por precaução, eles iriam levar mais dois cavalos selados como reserva, para evitar imprevistos durante a viagem de volta à Smallville.

O último cavalo já estava partindo quando os reforços orcs e alguns mercenários de Khazar estavam entrando na área da estrebaria.

Eles até que tentaram pegar os cavalos para iniciar a perseguição, mas o grupo teve uma desagradável surpresa.

Um dos orcs que acompanhava os mercenários viu um estranho dispositivo com um desenho de um elefante de três olhos afixado numa das paredes do local. Ele fazia um barulho estranho, uma espécie de "tic-tac". Desconfiado, o soldado até tentou avisar os demais. Só que...

- Putz, Kaolla, você não é de economizar na munição mesmo! - comenta Sarah, ao olhar para trás, vendo a enorme explosão que atirou orcs e mercenários para o ar.

- Nya-ah-ah-ah! Eu sou demais! É uma pena que não tenha trazido as minhas invenções que ficaram na pensão, senão estouraria a base toda!

- Kaolla, você tem mais algum de seus truques sobrando? Temos que passar pela barreira da entrada, ou nossa fuga terá sido totalmente em vão! - Grita Yuri.

- Infelizmente, todas as minhas bombas-foguetes e as granadas de pólvora negra já acabaram. - Kaolla faz uma cara de desapontada. Quase todos os materiais do seu kit haviam se esgotado e as poucas peças que sobravam somente eram suficientes para fazer bugigangas sem utilidade.

- Então vamos fazer a coisa de outro jeito... - Sorri Yuri olhando para Mutsumi.

- Ara? - Pergunta Mutsumi, sem saber direito o motivo.

- Mew? - Indaga Tama-chan.

O oficial dos orcs Blog - o mesmo que deixara Kitsune e as outras entrarem disfarçadas na aldeia horas atrás - ouvira as explosões e o ruído da luta que se desenrolava na aldeia. Ele e os seus homens até tiveram vontade de ver o que estava acontecendo, mas como um soldado fiel, teve que ficar em seu posto.

Ordens eram ordens e a última coisa que ele queria receber era uma bela surra de seu superior ou do próprio Grommir.

Só que os invasores iriam se arrepender amargamente do ocorrido. Mesmo tendo as guaritas armadas com seteiras destruídas pelo ataque de Kaolla, Blog ainda confiava no bloqueio da entrada da aldeia com os seus homens e a barreira formada por um enorme tronco de árvore - repleto de pontas de ferro cravadas em sua extensão - que impedia a passagem de qualquer animal ou carroça.

- Preparem-se homens! Vamos defender a posição! - Disse Blog dando ordem para os orcs formarem uma linha defensiva com suas lanças e escudos, antes da barreira.

-

Mal o escudo humano é formado, o tropel dos cavalos e das carroças fica cada vez mais nítido. Contudo, os soldados ficam com medo e se dispersam, correndo para todos os lados. Blog fica furioso:

- Voltem, seus covardes! Mas o que...

Ele mal tem tempo de se virar e o infeliz oficial orc é engolido por uma gigantesca bola de fogo que desintegra ele e a barreira num segundo.

- Ara, o que será que deu de errado? Era para ter saído uma mágica para a carroça voar por cima da barreira... - Espanta-se a jovem de Okinawa ao ver a destruição que ela causara.

- Mu-mutsumi, a gente não sabia que você era tão poderosa! - Exclamam com os olhos arregalados, Keitarô, Naru, Shinobu e Kitsune, enquanto contemplam o resultado dantesco da poderosa magia. Os orcs, bem como a barreira, haviam sido reduzidos a cinzas. Apenas Yuri estava satisfeita com o resultado.

- Acho que preciso treinar um pouco... Conclui a doce jovem de cabelos negros compridos. Diferentemente da morte de Tarsius, ela não ficou muito abalada com o fim dos orcs, pois Kaolla havia lhe dito há pouco que quase todos os monstros do jogo eram virtuais.

Ninguém estava mais no caminho deles quando a primeira carroça atravessa o portão rumo à liberdade.

Em minutos, o comboio formado pelos aventureiros do Hinata Attack Team e os fugitivos atravessam a passagem, deixando o platô para trás.

De volta à aldeia, Grommir rangia os dentes de raiva ao constatar o caos e a destruição provocada pelos aventureiros abelhudos, que escaparam impunemente. Como um punhado de humanas, uma tartaruga e um rapaz fracote puderam derrotar suas tropas?

Dezenas de seus melhores soldados estavam mortos e havia muitos feridos e desaparecidos.

O Quartel de suas tropas, os alojamentos dos soldados, os depósitos de armas e as torres estavam completamente destruídos - bem como as suas máquinas de guerra, adquiridas a muito custo. O seu palácio estava cheio de buracos no teto.

E pior, os prisioneiros das caravanas por ele massacradas haviam fugido. Logo ficaria evidente para os humanos que os assaltos aos comboios mercantes caravanas eram parte de um plano maior.

Contudo, o que ele jamais perdoaria seria o fato daquela ruiva gostosa ter fugido, e ainda, ter acertado um belo soco nas suas fuças.

Enquanto Grommir fica alimentando pensamentos devassos do que faria quando a encontrasse de novo, ele é subitamente interrompido.

- Os prisioneiros fugiram com os cavalos dos humanos! - Avisa um temeroso soldado orc para seu líder, que estava sendo medicado por um curandeiro naquele momento, enquanto alguns oficiais discutiam a situação entre si. O mensageiro sabia que o seu chefe não gostava de más notícias e infeliz daquele que fosse o portador...

- Grrrr... Que os Wolfraiders corram atrás daqueles desgraçados! Capitão da Guarda Ordukk, mande dois esquadrões de ataque e que eles não retornem enquanto não trouxerem a cabeça deles! E tragam a cadela humana ruiva SÃ E SALVA para mim ou vão se ver comigo! - Rosna Grommir, ignorando o mensageiro.

- Sim Senhor! - Responde um oficial de elite que estava por perto.

Surpreso e aliviado por não ter sido espancado ou morto, o anônimo recruta sai de mansinho, voltando para o seu posto.

Em minutos, mais de vinte soldados orcs de elite começam a montar em enormes lobos cinzentos, os Worgs, ficando em formação de batalha.

Embora estes tivessem a vantagem inicial, os wolfraiders fatalmente os alcançariam cedo ou tarde.

Além dos Worgs serem velozes e estarem descansados, havia o problema da lentidão das carroças e dos jumentos de carga dos fugitivos.

Uma hora e meia havia se passado, quando os sobreviventes da aventura reduzem um pouco o ritmo de marcha.

Yuri e Greg - o chefe dos caravaneiros - haviam forçado deliberadamente a corrida até aquele ponto, mas embora ainda estivessem no raio de ação das patrulhas orcs, não podiam arriscar mais do que fizeram.

O terreno era pedregoso e acidentado, e se qualquer animal pisasse em falso, corria o risco de fraturar a perna e precisar ser sacrificado. Eles estavam apenas levando dois cavalos de reserva, o que era totalmente insuficiente para a fuga.

O maldito platô havia ficado para trás, formando uma espécie de umbigo monstruoso que se distinguia das pequenas colinas ao horizonte. Ainda eram visíveis as fumaças do foguetório causado pela Su e pela Sarah.

Com o acréscimo de mais dez pessoas (Greg e seus companheiros), os suprimentos eram insuficientes e eles tinham ainda mais de cinqüenta quilômetros a percorrer, embora os cavalos pudessem reduzir pela metade o tempo necessário para chegarem a Smallville a salvo.

Embora houvesse ainda poções de cura, água e alimentos da viagem de ida, tudo precisava ser racionado.

Apesar dos prisioneiros e o pessoal do H.A.T. (Hinata Attack Team) estarem sedentos e famintos, não haveria tempo para preparar qualquer coisa. O jeito foi distribuir alguns biscoitos endurecidos, ração de emergência e um pouco de água para os fugitivos e para as meninas que tentavam se contentar com o que tinham.

Eles somente iriam parar naquele riacho aonde haviam estado no primeiro dia de viagem no final da madrugada e ainda assim por pouco tempo, para descansar os cavalos e repor os cantis de água. Shinobu teria que cozinhar para todo aquele povo em tempo recorde.

Keitarô e Naru faziam uma careta enquanto tentavam trincar os biscoitos já duros. Mutsumi, Tama e Shinobu estavam tentando cochilar como forma de aliviar as tensões e as emoções desta epopéia dramática.

- Putzgrila! Espero que a gente nunca mais volte a este deserto doido! - Exclama Kitsune sacando um cigarro de sua carteira, ao olhar para o deplorável estado em que se encontrava. A vaidosa jovem estava totalmente suada, cheirando mal e empoeirada, além de sentir um bocado de fome.

- Concordo, raposilda. - Responde Sarah, exausta, enquanto acaba de comer uma das poucas frutas murchas que ela e Kaolla haviam roubado dos mercadores do deserto. Nem na aventura na Pararacelso elas haviam passado por tantas dificuldades e privações.

- Buááá! Eu tô cum saudadi daquela cumida gostosa da Old Legs! Eu queru uma bisteca giganti ao molho pardo com batatas fritas e um caneco de suco de framboesa! - Exclama escandalosamente a jovem estrangeira, ao sentir seu estômago de avestruz protestar.

- Su, comporte-se! Já foi um milagre a gente ter escapado desta. - Diz Motoko - sentada num dos cantos da carroça - evidentemente exausta e faminta. Ela somente havia comido metade de um biscoito e tomado alguns goles de um cantil com água amornada. Mesmo naquela situação, ela se mantinha fiel à sua tradição estóica de samurai, evitando se queixar.

- Mas pelo menos estamos inteiros! Não se preocupe, Su-chan! Quando a gente voltar para a cidade, prometo que pago um almoço bem caprichado para você e o pessoal! - Diz Keitarô otimisticamente, consolando a jovem de pele amorenada, dando um inocente cafuné na sua cabeça.

- Olha que vou cobrar isto! - Sorri satisfeita Kaolla, enquanto Motoko, ao ver a cena, faz uma careta de insatisfação - não tanto pela atitude de sua amiga Kaolla, mas por ciúmes inconfessáveis.

- O que foi, Keitarô? Resolveu dar em cima da Su-chan? - Naru entra na conversa, parecendo estar com uma cara nada cordial.

- Narusegawa? Iiikh! Perdão! Eu só... - Keitarô fica apavorado e pálido como cera diante da expressão ameaçadora da ruiva.

- Heh, seu bobo. Eu entendi o que estava fazendo. - Narusegawa desmancha a sua expressão zangada, sorri e também acaricia a cabeça da pequena Su. A jovem estudante da Toudai estava aliviada e grata a ele por tê-la salvado do destino que Grommir havia lhe reservado.

- Narusegawa... - Suspira Keitarô, feliz da vida.

- Heh... não sou boa com palavras, mas obrigada a todos por terem me salvado daquele monstrengo verde! E quanto a você, Keitarô, eu...eu... - Diz Naru, sem saber se ria ou se chorava naquele momento.

- Naruse...

- Ai, para de olhar para mim deste jeito, seu bobo! Não vê que ainda estou com este vestido horrendo que me deram? - Naru repentinamente volta o rosto, sem saber o que pensar ou agir, ao perceber que os olhos de Urashima traduziam uma emoção fortíssima demais para ser descrita com palavras.

- Mas, Naru!

- É melhor obedecê-la, Urashima. Ela está mais desgastada do que todos nós... ughn... - Diz Motoko, mas seu comentário é interrompido por um súbito acesso de dor, que a faz curvar.

- Motoko-chan! - Exclamam Naru e Keitarô simultaneamente, preocupados com o pior.

- Não, não é nada grave, Naru-sempai. Apenas é o esforço do cansaço do dia. Mas, pelo menos, pude constatar que o estilo Shinmei permanece firme como nunca. Na eterna luta contra o mal... - Diz a jovem samurai, se esforçando para esboçar um sorriso.

- E agora, o que será de nós? - Pergunta Naru.

- Isto não sei, mas pelo menos conseguimos cumprir a missão. Depois que resolvermos o assunto com o Eldrick, nós iremos em busca do tal do "Warp Point" para podermos voltar para casa. - Comenta Kitsune enquanto termina de dar uma baforada em seu cigarro.

- Posso ir com vocês? - Pergunta uma voz vinda da parte da frente da carroça.

- Yuri, mas... e o seu serviço? - Keitarô fica vermelho, pensando nos possíveis desdobramentos de uma aventura com a ranger loira.

- Ora, esqueceram que me desvinculei da guarda de Brightstone? Se não tiverem nada contra, eu me ofereço para guia-los até a capital do reino. E de lá, nós podemos encontrar este portal para fazê-los voltar ao mundo... - Diz Yuri de forma cordial.

- Eu... concordo... Obrigada por nos ajudar a escapar desta fria! - Narusegawa sente algo estranho em seu sentimento, mas prefere esquecer o desagradável incidente do dia e agradece a proposta da americana.

- Hããã, sé-sério? - Keitarô fica chocado enquanto os seus pensamentos voltam para aquela misteriosa noite em que conheceu Yuri pela primeira vez.

- Bem, por mim, tudo bem! Você mostrou o seu valor como guerreira. - Responde Motoko, orgulhosa por ter visto a performance de Yuri, mas também pensando em cedo ou tarde descobrir o segredo da loira.

- A Sarge Yu é Dez! - Sarah faz um sinal de positivo.

- Vivaaa! - Exulta Kaolla. Apesar da guia loira parecer às vezes ser meio exigente e chata, no fundo era uma ótima pessoa.

- Heh... Keitarô, e você? Não gostou que a Yuri irá se juntar à nossa turma? Mais uma garota linda e gostosa para atazanar a sua vida! - Comenta Kitsune, sorrindo como ela só sabe fazer para o aparvalhado gerente da Pensão Hinata.

- Keitarô! - Exclama Naru, visivelmente enciumada ao ver o sorriso meio bobo do rapaz.

- Urashima... - De repente a expressão serena do rosto da jovem Aoyama muda, ficando ameaçadora.

- Keitarô-Calouro-Taradão-da-Toudai é chegado numa loira, nyaum? - Pergunta maliciosamente Kaolla, se lembrando de certas coisas que vira nas revistas que Urashima tentara esconder inutilmente de sua vista na primeira vez que ela entrou em seus aposentos.

- "Yeah! Blonde is Cool!" - Exclama Sarah.

- N-Não é o q-que v-você e-está pensando, Kitsune! - Gagueja inutilmente Keitarô, sem saber como reagir diante da insinuação da jovem Mitsune Konno.

- Hehehe... Se for assim, eu prometo que quando visitarmos Brightstone vou te mostrar para você os melhores lugares para cair na balada à noite, Keitarô Urashima! E aconselho você a tomar bastante catuaba com ovo de codorna porque lá... - Yuri também decide entrar na brincadeira, provocando o pobre rapaz diante das garotas de Hinata-Sou.

- Yu-Yuri! - O rosto de Urashima estava corado como um pimentão.

- Yuri-san, não encoraja este tarado pervertido não! Você nem tem idéia do que ele é c... - Naru protesta, mal imaginando que a sua nova amiga era também competidora pela atenção e pelos afetos do rapaz que nunca teve uma namorada.

- Hehehe, foi só uma brincadeirinha, Naru... Epa, cuidado com o ...! - Yuri fica momentaneamente distraída e quando ela volta a sua atenção na estrada, tenta diminuir a marcha, mas é tarde demais.

A carroça acaba passando por uma súbita depressão no terreno irregular do deserto, causando um solavanco que faz Mutsumi, Tama e Shinobu acordarem de forma brusca.

Keitarô cai de forma desajeitada de costas, no centro da carroça e quanto ele tenta se levantar, ele se apóia na primeira coisa que está ao alcance de suas mãos.

Algo grande, macio, volumoso e que balançava ao toque de seus dedos...

Quando ele se dá conta, percebe que estava segurando num dos seios de Narusegawa com a mão esquerda e no peito da Motoko com a direita. Ambas as garotas estavam-no fuzilando com olhares faiscantes de raiva, enquanto todos observavam a constrangedora cena.

- Keitarô! Você não toma jeito!!! Seu tarado! Pervertido!! Safado!!! - Exaltava-se uma irada Naru.

- Urashimaaaa!!! Hoje você não me escapa!!! Morraaaa!!! - Motoko estava fora de si, quase em estado "berserker".

- IIIIKHHH, Socorro! "Por que só acontece isto comigo?"

No instante seguinte, a carroça se transformava numa arena de luta, onde Motoko e Naru estavam esganando um azarado Keitarô - sob o olhar zombeteiro de Kitsune, da animada "torcida" de Kaolla e Sarah, da chorosa Shinobu e da desligada Mutsumi, enquanto uma gotona saía da cabecinha de Tama-chan.

Sem poder ajudar Keitarô, Yuri continuava dirigindo a carroça, deixando escapar um suspiro, enquanto pensava em como que ele conseguia "agüentar" todo aquele massacre.

Escrito por: Calerom.

Última Revisão: 27/12/2003.

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