Capítulo 28:
De volta a Smallville
Já era de manhã, quando uma dramática perseguição acontecia na estrada deserta da rota comercial leste de Arkadia.
Uma improvisada caravana - composta por duas carroças, sete cavalos e dois jumentos - penosamente tentava manter distância de um grupo de quatorze Wolfraiders dirigidos por soldados orcs de elite, sedentos de sangue.
Os membros da caravana haviam cavalgado durante quase doze horas seguidas, com exceção de um curtíssimo intervalo para pegar água e comer rapidamente. Todos eles estavam cansados, famintos e sem dormir a várias horas.
Embora seus perseguidores tivessem partido mais tarde, a diferença atual era mínima, pois os Wolfraiders tinham montarias mais velozes, estavam mais descansados e motivados a derramar sangue, custasse o que custasse.
- Vamos, mais depressa! Só faltam mais doze quilômetros para chegar à cidade! - Exclama a condutora loira de uma das carroças, tentando incentivar os seus companheiros, embora soubesse que todos estavam exaustos.
- Não dá mais, Yuri! Se forçarmos mais os cavalos, eles irão morrer, derrubando a gente no chão! - Grita Greg, ex-prisioneiro dos orcs e o condutor da outra carroça com os fugitivos que vieram junto com ele.
- Bem, só resta uma coisa a fazer... - Diz Yuri, embora seu comentário fosse quase inaudível devido ao troar dos cascos.
- Não, não faça o que estiver pensando! - Greg percebe o pensamento da Ranger e tenta inutilmente impedi-la.
- Yuri-san, não! - Exclama Motoko enquanto tenta limpar o abundante suor que escorre de sua testa com a manga de seu Gii.
- Vou tentar atrasá-los. Fujam o mais depressa que puderem! Não esperem por mim, aconteça o que acontecer! Adeus! - A jovem loira estava disposta a tudo para fazer o derradeiro sacrifício para que todos os demais pudessem chegar à cidade sãos e salvos.
Ordenando a um dos homens de Greg que tome o comando da carroça que dirigia, Yuri salta instintivamente num dos cavalos de reserva - que também estava cansado.
Ela dá um último olhar para Keitarô - que tentava inutilmente gritar para ela, pedindo que parasse com aquela loucura - e despedindo-se mentalmente dele, esporeia o cavalo para a direção oposta, com o Sol nascente quase cegando seus olhos.
A valente ranger arma a sua besta de carregamento rápido e constata que somente resta pouca munição na sua alijava. Menos de dez virotes. A única vantagem é que se tratavam de projéteis incendiários, capazes de causar terríveis danos às suas vítimas.
Os Wolfraiders aparecem no horizonte, como sombras ameaçadoras, gritando e uivando selvagemente. Todos eles estão bem armados, cada qual com um arco curto composto (ideal para tiro montado), uma alijava com vinte flechas, uma afiada cimitarra e um punhal longo.
E não era à toa que eles se tratavam de uma tropa de elite, temida pelos próprios orcs. Além de lutar e atirar muito bem, os Wolfraiders podiam fazer ataques-surpresa e incursões ferozes dentro de qualquer território inimigo, sem se intimidar com nada. E suas ferozes montarias lupinas causavam medo e terror nos cavalos dos humanos, dando-lhes vantagem tática e iniciativa.
Nesta altura, eles estavam a quatrocentros metros de distância da caravana de fugitivos do platô e esta distância vinha decrescendo lenta, mas nitidamente.
Yuri tenta acelerar sua exausta montaria, avançando corajosamente na direção aos seus inimigos. Quando ela estava a cerca de duzentos metros, ela dispara com maestria - praticamente no limite do alcance de sua arma.
O primeiro tiro acerta na cabeça de um dos Worgs, matando-o e fazendo cair o seu mestre. Os outros Wolfraiders sacam os seus arcos e começam a atirar contra a loira. Contudo, a maioria dos disparos passa longe.
Lutando para que o Sol não a ofuscasse, Yuri arma a sua besta e atira outra vez. O seu disparo resvala na ombreira de um oficial orc, só que o impacto é forte o suficiente para fazê-lo cair, quebrando-lhe o pescoço no solo pedregoso. Usando um conhecido truque "Ranger", ela em seguida se equilibra ao lado de sua montaria, procurando dificultar a mira dos inimigos.
Contudo a distância entre ela e os seus inimigos fica mais próxima e os orcs começam a atirar, em grupos de quatro. Os disparos ficam cada vez mais próximos e por fim, o último deles acerta o pescoço de seu cavalo, ferindo-o mortalmente.
Antes que o animal caísse - fraturando as patas em seguida - Yuri salta a tempo como se fosse uma gata, rolando habilmente no chão. Em seguida, a jovem aventureira levanta-se, ficando em posição de combate.
Tudo parece estar perdido. Sozinha, ela não seria páreo para o esquadrão que está se aproximando perigosamente. Ainda assim, ela está disposta a sacrificar a sua vida para dar tempo dos outros fugirem para a cidade.
Ela rapidamente arma a sua besta e fica em posição de tiro. A espada curta e a adaga ficam ao alcance de sua mão, presas na cintura.
- Keitarô... É uma pena... - Com um suspiro, ela pensa no simpático rapaz que conhecera e que lhe dera alguns momentos de alegria. Ela se concentra, preparando para enfrentar a sua última batalha.
O impossível acontece. Assim que ela dispara o seu primeiro - e derradeiro - tiro, matando o Wolfraider mais adiantado, todos os demais fogem em disparada, em pleno caos... Mas os Wolfraiders não costumavam abandonar a sua presa mesmo diante de um inimigo feroz... Seria um milagre?
Não se tratava de um milagre. Ao escutar um ruído poderoso como dezenas de tambores tocando ao mesmo tempo, Yuri mal tem tempo de se desviar para não ser atropelada. Neste instante, cerca de trinta e seis cavaleiros fortemente armados estavam investindo com suas lanças pesadas contra os Wolfraiders, que ficaram em súbita desvantagem tática e numérica.
Rapidamente, a loira olha para trás e percebe que o pessoal parou de fugir há vários metros de distância. Estavam lá atrás parados - vigiados por mais cinco cavaleiros.
Yuri repara no brasão de armas e nos estandartes da singular tropa. Não. Não eram os homens de Eldrick, mas sim uma patrulha de mercenários a serviço do Barão de Strongald! Será que na correria eles entraram em território errado?
O Hinata Attack Team e os prisioneiros liderados por Greg haviam saído da frigideira para cair no fogo!
Em poucos instantes, a desigual batalha termina. Com apenas cinco feridos, os cavaleiros de Strongald eliminam todos os Wolfraiders e as suas montarias.
Apenas um sobrevivente orc fugiu rumo à vastidão, para nunca ser mais visto. De fato, o infeliz não seria louco de voltar à aldeia para contar a um irado Grommir que foi o único sobrevivente do massacre.
Yuri tenta caminhar de volta à caravana - de forma penosa - mas o cansaço, a fadiga e o calor acabam por fazê-la cair ao chão árido e pedregoso.
Antes de perder a consciência, ela vê um vulto se aproximando dela:
- Keitarô? - suspira Yuri enquanto tenta vagamente umedecer com a língua os lábios ressecados.
- Shhh... Fique tranquila. Você está entre amigos. - Fala uma voz tranqüila e serena, mas estranhamente familiar. Ela fecha os olhos, se entregando ao mundo dos sonhos.
*****
Vários minutos mais tarde, Yuri, a Ranger, acorda repentinamente, e ela percebe que está deitada numa maca improvisada. Pela posição do Sol, já devia ser próximo das onze horas. Ou seja, havia dormido quase três horas sem interrupção. A sua fronte estava umedecida por um pano limpo molhado e alguém lhe dá um cantil cheio de água e uma marmita com um pedaço de carne defumada para comer.
- Quem... Quem são vocês? - Diz ela numa voz sumida e débil, quase febril.
- Ora, ora, Senhorita Yuri, não se lembra mais dos seus amigos? - Responde em tom jovial o vulto que o salvara momentos atrás.
- Jake?! É você! - Yuri identifica o líder dos cavaleiros. Um rapaz por volta de 23 anos, de cabelos castanho-escuros, cabelos despenteados, nariz pontudo e olhos azuis como o do céu, sendo bem alto - e tendo com um sorriso irreverente estampado no rosto.
- Sim. E aqui está o seu outro amigo... - Jake se afasta um pouco e dá passagem para um jovem da mesma idade que a sua, vestido com o uniforme de oficial da milícia particular de Strongald.
- Sammy! - Yuri não acredita no que vê, enquanto que lembranças recentes de um passado quase esquecido vêm à tona.
- Olá, Yuri. - Identifica-se o companheiro de Jake, que tinha cabelos encaracolados, rosto sardento, um pouco acima do peso e de estatura média, mas bastante simpático.
- Mas... O que fazem aqui? E por que estão usando os uniformes e o estandarte de Strongald? - Pergunta a jovem, tentando encaixar os fatos em sua mente e agradecendo aos céus por ter encontrado seus ex-amigos de anos atrás e não um irascível e grosseiro mercenário de Strongald.
- Ora, querida... São coisas da vida! A vida no quartel da guarda real de Brightstone estava meio monótona e a gente resolveu dar baixa para virarmos "free-lancers", como você. - Fala Jake enquanto despeja o conteúdo rubro de um odre de vinho numa caneca.
- Normalmente as nossas patrulhas não costumam fazer rondas fora do limite das fazendas do nosso patrão atual, mas estávamos na pista de um bando de orcs que invadiram o local, dias atrás... - Complementa Sammy, aproveitando a deixa para mordiscar um pedaço de pão com carne dentro que estava sem dono por perto.
- E topamos com vocês fugindo daqueles Wolfraiders... Uau! O que fizeram com eles para atrair este vespeiro a menos de dez quilômetros da cidade? - Pergunta Jake, gesticulando de forma exagerada.
- Bem... É uma longa história... - Sorri Yuri meio sem graça, tentando filtrar em sua mente o que poderia contar para seus amigos e o que deveria manter em sigilo.
- E pelo visto, você arranjou um bocado de novos amigos, não? - Jake dá uma gargalhada e aponta para um grupinho, onde estavam Keitarô, Naru (agora decentemente coberta com um manto emprestado por um soldado para disfarçar o horrível "vestido de casamento" que ainda estava usando) e as outras meninas.
-
O embaraço de Yuri era tanto que qualquer um podia perceber que Jake não era um mero conhecido da jovem.
- Mais ou menos... - Yuri tenta disfarçar um emaranhado de emoções conflitantes e apanha o odre de vinho, tomando um rápido gole "de bico".
- Bem... senhor oficial, o meu nome é Greg, da guilda de mercadores de Smallville. E estes são meus companheiros de caravana. A senhorita Yuri e o seu grupo nos libertou das garras dos orcs... - Adianta-se o mercador Greg cumprimentando o oficial Jake, sem se importar com o fato de que ele era um homem de Strongald.
- Ai, esqueci de apresentar vocês... Greg, estes são Jake e Sammy, meus velhos amigos e ex-companheiros da guarda real de Brightstone. Pessoal, este é Greg, chefe das caravanas da guilda de mercadores de Smallville...
- Fique fria, gatinha! Mas vocês estão seguros agora, meus amigos! Bem, se não se importarem, iremos escoltá-los até a cidade, depois que descansarem mais um pouco. - Jake não se incomoda pela súbita interrupção e até parece satisfeito pelo feito heróico do dia.
Apesar de suas feições severas e do aspecto implacável, os demais soldados não importunaram os fugitivos da cidadela de Grommir e muito menos Keitarô, Naru e as garotas.
Diferentemente dos homens de Khazar, os soldados de Strongald eram mais disciplinados e educados, embora igualmente ferozes em batalha.
A uma ordem do oficial Jake, os cavaleiros haviam recebido ordem de desmontar e descansar uma hora, num pequeno arroio perto de umas árvores meio secas, antes de voltarem em definitivo para a cidade.
Todos começam a fazer uma rápida refeição, acendendo uma fogueira e alguns deles compartilham suas rações com os ex-prisioneiros e com as garotas da Pensão Hinata.
Logo após ter tratado dos ferimentos dos cavaleiros que enfrentaram os Wolfraiders e dos fugitivos de Greg, a jovem Shinobu tem uma surpresa: Um dos homens de Jake gentilmente oferece uma linda maçã ainda fresca para ela, o qual aceita, mal disfarçando um sorriso tímido - típico dela.
O jovem militar, um jovem moreno de uns dezessete anos e com feições latinas, retribui o sorriso e diz um elogio com sotaque nitidamente espanhol para a jovem adolescente, em seguida voltando para a companhia dos seus amigos, cantarolando uma música de sua terra natal.
Motoko permanece calada - num silêncio tenso e quase hostil - enquanto Kitsune e a Mutsumi começam a jogar conversa fora, contando piadas e puxando conversa com os soldados mais novos - e mais atraentes - arrancando risadas e palavras de encorajamento.
- Sempai, será que estes homens não irão fazer mal a gente? - Pergunta timidamente Shinobu para Keitarô, ainda desconcertada com a reação do desconhecido soldado.
- Bem... Creio que não. Senão eles teriam nos atacado quando cruzamos com esta patrulha. - - Responde Keitarô
- Bem... Espero que ninguém seja atrevido a ponto de mexer comigo ou com uma das meninas, senão... - Motoko comenta, apertando nervosamente o cabo de sua Shisui, visivelmente incomodada com a presença dos homens de Strongald.
- Fique tranqüila, Motoko-chan. Acho que estes soldados devem ser bem disciplinados. Mas se alguém bancar o gostosão... Pode ter certeza que o infeliz vai ver estrelas! - Diz Naru, dando um soco no ar.
Narusegawa se empolga em seu gesto e acerta sem querer o pobre Keitarô. Apesar do golpe ter saído fraco, a porrada é suficiente para fazê-lo voar pelos ares, causando surpresa e espanto a todos os presentes que nunca viram o Naru-Punch em ação. Até Greg e o seu pessoal ficam assustados quando o infeliz rapaz aterrissa dolorosamente de cabeça no solo seco como se fosse um foguete descontrolado.
Yuri vê a cena e tenta se levantar, mas constata que o seu corpo estava totalmente dolorido devido ao esforço para evitar a queda qee sofrera horas atrás e pragueja no íntimo o fato de não ter podido evitar aquele golpe. Mas na próxima vez...
- Ops... Foi mal, Keitarô! - Fala Naru, visivelmente, constrangida com a reação de todos, numa das raras vezes em que pedia desculpas ao jovem Urashima.
- Buááá... O que fiz desta vez para merecer isto?
Yuri continua semideitada na maca improvisada, enquanto Kaolla e Sarah ficam brincando e fazendo bagunça no meio dos soldados.
O oficial Jake se aproxima, entregando-lhe uma pequena marmita contendo um pouco de carne assada com feijão preto, legumes e algumas batatas cozidas.
- Não é a receita da Cantina da Mamma Lorenza, mas dá para quebrar o galho! - Responde Jake se referindo a um dos melhores lugares para se comer da capital Brightstone.
- Não fique incomodado... Após a gente cavalgar durante quase doze horas saindo do platô dos orcs, isto é mais do que bem vindo. - Sorri Yuri mordiscando com vontade um pedaço de carne seca.
- Bem, o que vocês faziam perdidos naquele fim de mundo? - Indaga Jake.
- Iria fazer a mesma pergunta para você, seu bobo. - Sorri a loira, tentando ganhar um pouco de tempo enquanto organiza os seus pensamentos em sua mente.
- Primeiro as damas! Lembremos que estamos numa era de igualdade de direitos para ambos os sexos! - Jake não se faz de rogado e dá um tapinha do ombro da loira.
- Bem... Após eu sair de Brightstone e tentar sem sucesso arranjar serviço nas cidades vizinhas, fui contratada pelo Condestável Eldrick para investigar as circunstâncias dos ataques orcs às caravanas de Smallville. Eu e parte do grupo do Keitarô mal havíamos nos infiltrado na aldeia quando fomos capturados pelos mesmos. - Yuri muda de tom e, com uma expressão séria, narra resumidamente o ocorrido.
- Admiro o fato de não terem virado comida de abutre no poste das torturas deles... Os orcs andam muito bonzinhos ou vocês conseguiram fugir deles antes que os mandassem para o poste?
- Bem... Quem nos salvou foram aquelas garotas - Responde Yuri apontando para Kitsune, Mutsumi, Tama, Kaolla e Sarah. Jake e Sammy ficam espantados ao ver que as supostas salvadoras eram garotas comuns, sem qualquer traço de experiência militar.
- Não acredito, baby! Você e o seu pessoal conseguiram fugir com vida daquele platô fortificado com uma porção de orcs armados até os dentes? - Coça a cabeça Sammy.
- Podemos dizer que sim. Felizmente as meninas tinham um pouco de artilharia pesada... - Yuri esboça um meio sorriso e aproveita para tomar mais um gole de vinho.
- Nunca ouvi falar de algum caso em que os Wolfraiders foram bem longe de sua base... Geralmente eles ficam no máximo a um raio de quinze quilômetros, patrulhando a área. - Comenta Jake, todo sério.
- Também, depois do fuzuê que fizemos lá, eles devem estar fulos da vida até agora! - Diz Yuri, ironizando a confusão da véspera.
- Bem, imagino que você e seu grupo estão ansiosos para voltar até a cidade. Aceita uma?... - Pergunta Jake ao notar a impaciência de seu colega e subordinado imediato Sammy.
- Agradeço a sua ajuda de vocês, Jake e Sammy, mas acho que dá para a gente voltar tranqüilo... Suponho que vocês vão ter que voltar ao Castelo Strongald. Sei que o patrão de vocês não gosta que seus empregados fiquem zanzando fora de seus domínios por muito tempo... - Responde Yuri.
- Bem, se me permite, querida, podemos escoltá-los até o Quartel do Eldrick. - Diz Jake, adotando um tom de voz mais íntimo e suave.
- O quê? Mas... - Yuri fica incrédula ao ouvir isto, já que Strongald e Eldrick nunca estiveram bem, pessoal e profissionalmente.
- Ora, não está com saudades de mim, gatinha? - Jake sorri, fazendo um gesto estendendo os dois braços ao mesmo tempo como se fosse abraçar a loira, numa atitude íntima para um mero conhecido.
- Eheh, vejo que você não mudou nada, Jake, mas e quanto às suas ordens superiores? - Comenta a aventureira loira, afagando de leve os cabelos de Jake.
- Além de patrulhar as vizinhanças do feudo, a gente ficou de buscar o velho Marius Strongald agora. - Responde Jake, tentando se recompor ao perceber que Sammy olhava para ambos com um ar de quem disesse: "Dá para vocês disfarçarem um pouco? Os soldados estão começando a bisbilhotar!"
- Sério? - Yuri pergunta, algo intrigada.
- O patrão foi conversar com o condestável e o prefeito da cidade. E não me parecia que estava com bom humor nesta manhã. Parece-me que o seu assessor Tarsius... Faleceu de forma inesperada há poucos dias atrás. Rumores dizem que um grupo de aventureiros invadiu a mansão do velhote e transformou-o em picolé! Segundo o que o povo estava comentando na cidade, o feito pela morte do velho Tarsius foi de um grupo de aventureiros novatos e jovens, que nem os seus amigos... E certamente, havia alguém que deveria ser uma maga ou sorcerer bem radical para derrotar aquele velhão! - Diz o oficial dos mercenários, gesticulando muito e enfatizando sua narrativa.
- Bem, eu imagino que... - Yuri engole em seco, ao notar que Jake ficou subitamente com uma expressão séria no seu rosto.
- Calma lá, baby. Não que eu morra de amores pelo finado Tarsius. Eu pessoalmente achava que aquele mago sacana não passava de um velhote mal-humorado e cheio de frescuras, mas o barão confiava nele mais do que o próprio filho. E certamente o velho Strongald irá descarregar a sua raiva no trouxa do Eldrick. - Continua Jake, falando num tom um pouco mais sério do que o seu usual.
- Bem, isto não é comigo. Quando vocês pretendem levantar acampamento? - Yuri dá de ombros e notando que a maioria dos soldados estava conversando e batendo papo, percebe que eles estão quase prontos para ir para Smallville.
- Daqui uma meia hora. Chegaremos no início da tarde. - Complementa Jake.
*****
Enquanto tais acontecimentos se desenrolavam, a muitos quilômetros de distância - após o fracassado casamento e o vitorioso ataque do Hinata Attack Team à aldeia do platô dos orcs - Grommir estava simplesmente furioso.
Não tendo dormido direito durante a noite, o Chefe de Guerra não tinha recebido notícias dos seus guerreiros Wolfraiders e para piorar, o seu aliado Khazar - que estava se recuperando dos machucados que levara na confusão da véspera, na sua tenda particular - estava claramente indisposto com o seu fracasso.
Desde quando os prisioneiros fugiram, o velho feiticeiro Mogul e aquele covarde do Finneas não haviam sido vistos. A não ser que...
Um pensamento paranóico percorreu a cabeça do obtuso líder orc. Ele podia ser um pouco burro, mas não era idiota a ponto de deixar passar algumas coisas óbvias demais.
Reunindo um pelotão de dez orcs Warlords fortemente armados, Grommir - devidamente armado e trajando sua armadura de batalha - caminha com passos inquietos rumo ao templo de Mogul.
O perverso santuário havia somente recebido danos superficiais do ataque com os foguetes medievais da Kaolla, ao contrário do quartel das tropas e do próprio palácio de Grommir, que foram gravemente danificados.
Ao perceber que a grossa porta de madeira estava trancada por dentro, o impetuoso líder de guerra ordena a seus soldados que a abram, usando um aríete improvisado. Em minutos a porta vem abaixo e Grommir adentra o escuro salão, gritando como um possesso:
- Mogul! Finneas! Seus filhos de uma ogra! Apareçam ou vão se ver comigo! - Para ele, era claro que se não foram indiretamente responsáveis pela fuga dos presos, a dupla também não fez nada para impedi-los.
Os poucos acólitos que estavam parados no salão, tentam impedir o cortejo de avançar rumo à câmara privada de Mogul, mas sem sucesso. As espadas e os machados que os guardas de Grommir ostentavam em seus punhos eram mais do que convincentes.
- Não! Pelo amor dos deuses, milorde! Não podem interromper o grande Mogul agora! Ele nos deu ordens expressas para não ser... Aughhhhh! - Tenta argumentar um acólito diante de uma porta localizada na extremidade norte do templo. Mas no instante seguinte, ele é suspenso pelo pescoço com apenas uma das mãos do gigantesco líder de guerra.
- Cão! Eu vou aonde eu quero ir! E nem os Nove Infernos podem me impedir de ver aquele verme leproso AGORA! - Dito isto, Grommir quebra o pescoço do infeliz acólito com um aperto e joga o seu corpo como se fosse uma boneca de pano desarticulada a uns cinco metros de distância - Homens! Abram esta maldita porta agora! Quero ver aqueles covardes!
Os orcs Warlords arrombam a porta com facilidade. O chefe tribal orc, ao adentrar de forma arrogante na bizarra câmara, fica estarrecido pela visão que tem.
Finneas e Mogul haviam completado há poucos minutos o ritual necromântico que ressuscitara a lenda viva Dralok.
Das suas cinzas, o corpo do legendário rei dos orcs foi revivificado, pelas energias arcanas combinadas dos dois magos, usando o antigo machado de guerra como uma espécie de foco mágico.
Um feitiço extra - lançado por Finneas - fez com que Dralok recuperasse sua memória, além de informá-lo quem eles eram e o motivo de sua ressurreição. Tal medida era necessária para evitar que o redivivo líder atacasse-os, quando ficasse consciente.
Dralok tinha acabado de se levantar do altar aonde foi ressuscitado. Ele era ainda mais imponente e forte do que Grommir, causando profundo temor e respeito por parte dos poucos acólitos presentes à câmara. Mesmo Finneas ficara impressionado com o poder da aura que emanava do redivivo rei humanóide.
Com o seu machado de batalha mágico, o antigo Rei dos Orcs parecia ainda mais poderoso e terrível, sendo dotado de um carisma do qual Grommir carecia.
- Mogul, seu miserável! Quem é este guerreiro e o que você e o humano estão tramando contra mim? - Vocifera Grommir, visivelmente desconcertado.
- Caro Grommir, nós acabamos de reviver o poderoso Dralok. - Responde Mogul sem demonstrar o menor sinal de temor.
- O quê? Pelo grande Grunnch! Isto é impossível! - O líder militar arregala os olhos ao mesmo tempo em que invoca o nome da divindade profana dos membros de sua raça e recusa a acreditar nos fatos à sua frente.
- Sob a liderança iluminada dele, finalmente nossos planos de conquista terão início! - Mogul finalmente abre o jogo, mostrando as suas tramas, confiante na incapacidade de Grommir reverter a situação.
- Nunca! Eu não me tornei chefe de guerra dos Rancapeles e Quebraossos para entregar o MEU posto para um bastardo morto! - O Chefe de Guerra Orc protesta, enquanto pensamentos assassinos ecoam na sua mente primitiva.
- Guerreiro! Eu sou Dralok, o Rei de todos os Orcs de Arkadia. Dê-me o comando das suas tribos e preste o juramento de fidelidade a mim! Você terá um lugar glorioso como comandante das minhas tropas! - Dralok responde, com uma voz imponente e profunda, causando um misto de medo, temor, respeito e adminiração em todos os presentes.
- Não! Nunca! Você é uma múmia animada por feitiçarias e jamais irei largar o que é MEU! Guardas! Matem este impostor e estes dois traidores! - Grita Grommir, a ponto de explodir de puro ódio.
- Então prefere lutar? - Dralok deixa escapar um suspiro de decepção e dá de ombros, como se subestimasse o seu desafiante.
Mogul e Finneas permanecem impassíveis, enquanto seus subordinados encolhem-se de medo, ante à presença dos Warlords.
Três dos soldados mais fiéis de Grommir avançam de espada em punho, dispostos a retalhar o suposto Dralok. Este aguarda calmamente o ataque. O primeiro Warlord toma a iniciativa, preparando um poderoso golpe com sua lâmina afiada, mas Dralok intercepta o braço direito de seu adversário habilmente, enquanto esmaga-lhe o peito com um soco de potência letal.
No instante seguinte, o rei morto-vivo esquiva-se habilmente dos golpes dos Warlords restantes. Grommir, Mogul, Finneas e os demais assistem à batalha, todos prendendo a respiração.
Provando que era mais do que uma mera múmia animada, o legendário líder massacra os infelizes guardas de elite usando apenas seus punhos e chutes. Em nenhum momento chegou a sacar o seu poderoso machado de guerra mágico, embora o pudesse fazer tranqüilamente.
Grommir rosna ferozmente ao ver o resultado do massacre e treme de ódio ao ver o suposto último rei orc olhar para ele com uma atitude desdenhosa.
- Guardas! O que estão esperando? Matem estes traidores!
Só que nenhum dos seus subordinados se atreve a mexer, paralisados por uma onda de medo e respeito pelo desconhecido inimigo.
- Isto é inútil, Grommir! Você está perdido. Só resta a você desafiar Dralok num combate individual, segundo nossas tradições sagradas. - Explica friamente Mogul, lembrando os costumes orcs de sucessão.
- Maldito seja, Mogul! Vá para os Nove Infernos! - Grommir saca sua adaga da bainha e atira a lâmina em direção ao pescoço de Mogul. Este não se abala e no instante seguinte, desintegra a arma com um projétil mágico.
Praguejando a covardia de seus soldados, o líder desafiado decide lutar contra Dralok, sacando rapidamente a sua espada. Esta era uma arma encantada que pertencera a um guerreiro humano morto por ele há vários anos atrás. E Grommir nunca foi derrotado em combate empunhando ela, Especialmente no dia em que foi sagrado como Chefe de Guerra, matando o seu concorrente da tribo dos Quebraossos.
O primeiro golpe desferido pelo líder desafiado visa a cortar o pescoço de seu adversário. Surpreendentemente Dralok não se esquiva e apara o curso da espada de Grommir, bloqueando-a com o ultra-resistente bracelete que usava numa das mãos. Com um movimento brusco, o rei orc obriga o seu gigantesco adversário a recuar.
Grommir - aturdido por tamanha ousadia e força - avança segurando sua espada com as duas mãos, agora visando a perfurar o coração daquele "Fantasma". Dralok espera o último instante e se esquiva, ao mesmo tempo em que saca o seu machado.
Um risco de fogo preenche o ar e o antigo líder orc tira o primeiro sangue, acertando de raspão o braço esquerdo de Grommir que grita de pura dor. Além do machado de batalha ser afiadíssimo, parecia que a lâmina estava avermelhada de calor, como se estivesse em chamas.
Era a lendária arma conhecida por Erebus na língua comum humana ou Ur-Khazan na linguagem primitiva dos orcs.
Grommir não se dá por vencido e em seguida troca vários golpes com Dralok. A luta segue equilibrada, digna dos dois líderes. O duelo faz gelar o sangue dos presentes tamanha a técnica, poder e ferocidade demonstradas - com a surpreendente exceção de Mogul e seu estranho corvo, que grasna de satisfação.
Poucos segundos depois, ao constatar que seu adversário era mais experimentado do que imaginava, Grommir lança um ataque impetuoso, visando acertar a cabeça do redivivo soberano.
Por sorte, a lâmina da espada do Chefe de Guerra foi bloqueada pelo diadema real de Dralok, uma peça rudimentar mais resistente do que o aço. A coroa primitiva apenas ficou riscada, mas isto é suficiente para que Dralok ficasse furioso de verdade.
Ele começa a lutar como um possesso, forçando Grommir a recuar mais e mais. Os soldados orcs e os acólitos de Mogul assistem ao duelo de seus líderes com silêncio e tensão crescentes.
Num dado momento, ambos os duelistas avançam com suas armas em riste como que para decidir a contenda. A espada mágica de Grommir e o machado lendário de Dralok se chocam, produzindo um forte barulho estridente e agudo.
Com grande assombro, os presentes testemunham a expressão de medo e incredulidade do rosto de Grommir ao ver sua poderosa espada de duas mãos se estilhaçar como se fosse feita de metal barato. Ele imediatamente larga o que restou dela, ao sentir o calor insuportável transmitido pelo machado de Dralok.
Quanto à arma do rei orc, ela está inteira e imaculada. Ao ver seu inimigo moralmente derrotado - Dralok larga o seu machado, como se entendesse que a luta terminara naquele momento.
Vencido, humilhado e derrotado, Grommir fica em desespero. Só lhe restavam as alternativas de uma rendição humilhante ou do suicídio. Já que perderia fatalmente o respeito dos seus guerreiros. Com os olhos transtornados de ódio e frustração, ele pensa num estratagema desesperado.
Rapidamente ele saca um punhal escondido no interior de sua bota e avança contra Dralok, antes que ele pense em pegar de volta o machado.
- Você não vai me humilhar, cão bastardo! Quero ver se um morto vive duas vezes! - Grita Grommir com o brilho delirante da loucura em seu olhar, dando o bote para cima de seu adversário.
- Pois saiba que eu, sou mestre tanto com armas e meus punhos! - Responde o antigo rei.
Dralok intercepta o braço armado de seu oponente em pleno ar, apertando-o firmemente, ao passo que - com a outra mão - ele agarra fortemente no pescoço de Grommir.
Torcendo de forma violenta, o rei orc obriga o humilhado chefe de guerra a largar seu punhal. Sentindo uma dor horrível, Grommir tenta gritar, mas a sua voz não sai.
Um estalido seco rompe o silêncio do ambiente e logo em seguida, o corpo do infeliz chefe de guerra orc é arremessado a uma distância de sete metros ao pilar de pedra mais próximo.
O líder humanóide se espatifa com o choque, rachando o pilar. Ele está morto ao tombar no chão. Um murmúrio de respeito e admiração toma conta do ambiente.
- Homens de Grommir! Querem seguir o triste caminho dele ou preferem jurar lealdade a mim? - Exclama Dralok com uma voz imponente e vibrante, em nada semelhante ao ser que derrotara.
Vendo o resultado inevitável, os soldados superam a indecisão inicial. Ainda que todos atacassem ao mesmo tempo, era óbvio que teriam o mesmo destino de seus companheiros mortos e do ex-chefe.
Além de ser muito mais forte do que o finado Grommir, uma aura de autoridade e carisma emanava da personalidade de Dralok, como se ele fosse um semideus.
Em seguida, um entusiasmo coletivo toma conta do salão. Tanto os acólitos de Mogul, como os guardas de Grommir brandem suas armas para o alto, saudando o novo rei:
- Vida longa ao rei Dralok! Que ele seja nosso líder na batalha e na vitória!
- Guerreiros orcs! Vocês viram o poder do nosso Rei! Dralok será empossado como novo chefe de guerra de nossas tribos e como Supremo Rei de todos os orcs. Que as tribos da fronteira se unam a ele e que nossos inimigos sejam calcados ao pó! - Mogul Blackhand aproveita a deixa para que a guarda pessoal de Grommir seja a primeira a ser convertida à nova causa.
- Dralok! Dralok é o nosso rei! - Gritam todos os presentes.
Finneas assiste a tudo, um pouco aliviado com a morte de Grommir, mas também satisfeito com o rumo que as coisas estavam tomando. Logo, logo ele também teria a sua vingança. Mais um pouco e ele ficaria livre de ter que abaixar a cabeça para aquele gordo arrogante que se autodenominava seu patrão. Este seria o primeiro passo rumo ao poder e a glória que ele pretendia alcançar.
Escrito por: Calerom
Ultima Versão: 16/01/2004.
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De volta a Smallville
Já era de manhã, quando uma dramática perseguição acontecia na estrada deserta da rota comercial leste de Arkadia.
Uma improvisada caravana - composta por duas carroças, sete cavalos e dois jumentos - penosamente tentava manter distância de um grupo de quatorze Wolfraiders dirigidos por soldados orcs de elite, sedentos de sangue.
Os membros da caravana haviam cavalgado durante quase doze horas seguidas, com exceção de um curtíssimo intervalo para pegar água e comer rapidamente. Todos eles estavam cansados, famintos e sem dormir a várias horas.
Embora seus perseguidores tivessem partido mais tarde, a diferença atual era mínima, pois os Wolfraiders tinham montarias mais velozes, estavam mais descansados e motivados a derramar sangue, custasse o que custasse.
- Vamos, mais depressa! Só faltam mais doze quilômetros para chegar à cidade! - Exclama a condutora loira de uma das carroças, tentando incentivar os seus companheiros, embora soubesse que todos estavam exaustos.
- Não dá mais, Yuri! Se forçarmos mais os cavalos, eles irão morrer, derrubando a gente no chão! - Grita Greg, ex-prisioneiro dos orcs e o condutor da outra carroça com os fugitivos que vieram junto com ele.
- Bem, só resta uma coisa a fazer... - Diz Yuri, embora seu comentário fosse quase inaudível devido ao troar dos cascos.
- Não, não faça o que estiver pensando! - Greg percebe o pensamento da Ranger e tenta inutilmente impedi-la.
- Yuri-san, não! - Exclama Motoko enquanto tenta limpar o abundante suor que escorre de sua testa com a manga de seu Gii.
- Vou tentar atrasá-los. Fujam o mais depressa que puderem! Não esperem por mim, aconteça o que acontecer! Adeus! - A jovem loira estava disposta a tudo para fazer o derradeiro sacrifício para que todos os demais pudessem chegar à cidade sãos e salvos.
Ordenando a um dos homens de Greg que tome o comando da carroça que dirigia, Yuri salta instintivamente num dos cavalos de reserva - que também estava cansado.
Ela dá um último olhar para Keitarô - que tentava inutilmente gritar para ela, pedindo que parasse com aquela loucura - e despedindo-se mentalmente dele, esporeia o cavalo para a direção oposta, com o Sol nascente quase cegando seus olhos.
A valente ranger arma a sua besta de carregamento rápido e constata que somente resta pouca munição na sua alijava. Menos de dez virotes. A única vantagem é que se tratavam de projéteis incendiários, capazes de causar terríveis danos às suas vítimas.
Os Wolfraiders aparecem no horizonte, como sombras ameaçadoras, gritando e uivando selvagemente. Todos eles estão bem armados, cada qual com um arco curto composto (ideal para tiro montado), uma alijava com vinte flechas, uma afiada cimitarra e um punhal longo.
E não era à toa que eles se tratavam de uma tropa de elite, temida pelos próprios orcs. Além de lutar e atirar muito bem, os Wolfraiders podiam fazer ataques-surpresa e incursões ferozes dentro de qualquer território inimigo, sem se intimidar com nada. E suas ferozes montarias lupinas causavam medo e terror nos cavalos dos humanos, dando-lhes vantagem tática e iniciativa.
Nesta altura, eles estavam a quatrocentros metros de distância da caravana de fugitivos do platô e esta distância vinha decrescendo lenta, mas nitidamente.
Yuri tenta acelerar sua exausta montaria, avançando corajosamente na direção aos seus inimigos. Quando ela estava a cerca de duzentos metros, ela dispara com maestria - praticamente no limite do alcance de sua arma.
O primeiro tiro acerta na cabeça de um dos Worgs, matando-o e fazendo cair o seu mestre. Os outros Wolfraiders sacam os seus arcos e começam a atirar contra a loira. Contudo, a maioria dos disparos passa longe.
Lutando para que o Sol não a ofuscasse, Yuri arma a sua besta e atira outra vez. O seu disparo resvala na ombreira de um oficial orc, só que o impacto é forte o suficiente para fazê-lo cair, quebrando-lhe o pescoço no solo pedregoso. Usando um conhecido truque "Ranger", ela em seguida se equilibra ao lado de sua montaria, procurando dificultar a mira dos inimigos.
Contudo a distância entre ela e os seus inimigos fica mais próxima e os orcs começam a atirar, em grupos de quatro. Os disparos ficam cada vez mais próximos e por fim, o último deles acerta o pescoço de seu cavalo, ferindo-o mortalmente.
Antes que o animal caísse - fraturando as patas em seguida - Yuri salta a tempo como se fosse uma gata, rolando habilmente no chão. Em seguida, a jovem aventureira levanta-se, ficando em posição de combate.
Tudo parece estar perdido. Sozinha, ela não seria páreo para o esquadrão que está se aproximando perigosamente. Ainda assim, ela está disposta a sacrificar a sua vida para dar tempo dos outros fugirem para a cidade.
Ela rapidamente arma a sua besta e fica em posição de tiro. A espada curta e a adaga ficam ao alcance de sua mão, presas na cintura.
- Keitarô... É uma pena... - Com um suspiro, ela pensa no simpático rapaz que conhecera e que lhe dera alguns momentos de alegria. Ela se concentra, preparando para enfrentar a sua última batalha.
O impossível acontece. Assim que ela dispara o seu primeiro - e derradeiro - tiro, matando o Wolfraider mais adiantado, todos os demais fogem em disparada, em pleno caos... Mas os Wolfraiders não costumavam abandonar a sua presa mesmo diante de um inimigo feroz... Seria um milagre?
Não se tratava de um milagre. Ao escutar um ruído poderoso como dezenas de tambores tocando ao mesmo tempo, Yuri mal tem tempo de se desviar para não ser atropelada. Neste instante, cerca de trinta e seis cavaleiros fortemente armados estavam investindo com suas lanças pesadas contra os Wolfraiders, que ficaram em súbita desvantagem tática e numérica.
Rapidamente, a loira olha para trás e percebe que o pessoal parou de fugir há vários metros de distância. Estavam lá atrás parados - vigiados por mais cinco cavaleiros.
Yuri repara no brasão de armas e nos estandartes da singular tropa. Não. Não eram os homens de Eldrick, mas sim uma patrulha de mercenários a serviço do Barão de Strongald! Será que na correria eles entraram em território errado?
O Hinata Attack Team e os prisioneiros liderados por Greg haviam saído da frigideira para cair no fogo!
Em poucos instantes, a desigual batalha termina. Com apenas cinco feridos, os cavaleiros de Strongald eliminam todos os Wolfraiders e as suas montarias.
Apenas um sobrevivente orc fugiu rumo à vastidão, para nunca ser mais visto. De fato, o infeliz não seria louco de voltar à aldeia para contar a um irado Grommir que foi o único sobrevivente do massacre.
Yuri tenta caminhar de volta à caravana - de forma penosa - mas o cansaço, a fadiga e o calor acabam por fazê-la cair ao chão árido e pedregoso.
Antes de perder a consciência, ela vê um vulto se aproximando dela:
- Keitarô? - suspira Yuri enquanto tenta vagamente umedecer com a língua os lábios ressecados.
- Shhh... Fique tranquila. Você está entre amigos. - Fala uma voz tranqüila e serena, mas estranhamente familiar. Ela fecha os olhos, se entregando ao mundo dos sonhos.
*****
Vários minutos mais tarde, Yuri, a Ranger, acorda repentinamente, e ela percebe que está deitada numa maca improvisada. Pela posição do Sol, já devia ser próximo das onze horas. Ou seja, havia dormido quase três horas sem interrupção. A sua fronte estava umedecida por um pano limpo molhado e alguém lhe dá um cantil cheio de água e uma marmita com um pedaço de carne defumada para comer.
- Quem... Quem são vocês? - Diz ela numa voz sumida e débil, quase febril.
- Ora, ora, Senhorita Yuri, não se lembra mais dos seus amigos? - Responde em tom jovial o vulto que o salvara momentos atrás.
- Jake?! É você! - Yuri identifica o líder dos cavaleiros. Um rapaz por volta de 23 anos, de cabelos castanho-escuros, cabelos despenteados, nariz pontudo e olhos azuis como o do céu, sendo bem alto - e tendo com um sorriso irreverente estampado no rosto.
- Sim. E aqui está o seu outro amigo... - Jake se afasta um pouco e dá passagem para um jovem da mesma idade que a sua, vestido com o uniforme de oficial da milícia particular de Strongald.
- Sammy! - Yuri não acredita no que vê, enquanto que lembranças recentes de um passado quase esquecido vêm à tona.
- Olá, Yuri. - Identifica-se o companheiro de Jake, que tinha cabelos encaracolados, rosto sardento, um pouco acima do peso e de estatura média, mas bastante simpático.
- Mas... O que fazem aqui? E por que estão usando os uniformes e o estandarte de Strongald? - Pergunta a jovem, tentando encaixar os fatos em sua mente e agradecendo aos céus por ter encontrado seus ex-amigos de anos atrás e não um irascível e grosseiro mercenário de Strongald.
- Ora, querida... São coisas da vida! A vida no quartel da guarda real de Brightstone estava meio monótona e a gente resolveu dar baixa para virarmos "free-lancers", como você. - Fala Jake enquanto despeja o conteúdo rubro de um odre de vinho numa caneca.
- Normalmente as nossas patrulhas não costumam fazer rondas fora do limite das fazendas do nosso patrão atual, mas estávamos na pista de um bando de orcs que invadiram o local, dias atrás... - Complementa Sammy, aproveitando a deixa para mordiscar um pedaço de pão com carne dentro que estava sem dono por perto.
- E topamos com vocês fugindo daqueles Wolfraiders... Uau! O que fizeram com eles para atrair este vespeiro a menos de dez quilômetros da cidade? - Pergunta Jake, gesticulando de forma exagerada.
- Bem... É uma longa história... - Sorri Yuri meio sem graça, tentando filtrar em sua mente o que poderia contar para seus amigos e o que deveria manter em sigilo.
- E pelo visto, você arranjou um bocado de novos amigos, não? - Jake dá uma gargalhada e aponta para um grupinho, onde estavam Keitarô, Naru (agora decentemente coberta com um manto emprestado por um soldado para disfarçar o horrível "vestido de casamento" que ainda estava usando) e as outras meninas.
-
O embaraço de Yuri era tanto que qualquer um podia perceber que Jake não era um mero conhecido da jovem.
- Mais ou menos... - Yuri tenta disfarçar um emaranhado de emoções conflitantes e apanha o odre de vinho, tomando um rápido gole "de bico".
- Bem... senhor oficial, o meu nome é Greg, da guilda de mercadores de Smallville. E estes são meus companheiros de caravana. A senhorita Yuri e o seu grupo nos libertou das garras dos orcs... - Adianta-se o mercador Greg cumprimentando o oficial Jake, sem se importar com o fato de que ele era um homem de Strongald.
- Ai, esqueci de apresentar vocês... Greg, estes são Jake e Sammy, meus velhos amigos e ex-companheiros da guarda real de Brightstone. Pessoal, este é Greg, chefe das caravanas da guilda de mercadores de Smallville...
- Fique fria, gatinha! Mas vocês estão seguros agora, meus amigos! Bem, se não se importarem, iremos escoltá-los até a cidade, depois que descansarem mais um pouco. - Jake não se incomoda pela súbita interrupção e até parece satisfeito pelo feito heróico do dia.
Apesar de suas feições severas e do aspecto implacável, os demais soldados não importunaram os fugitivos da cidadela de Grommir e muito menos Keitarô, Naru e as garotas.
Diferentemente dos homens de Khazar, os soldados de Strongald eram mais disciplinados e educados, embora igualmente ferozes em batalha.
A uma ordem do oficial Jake, os cavaleiros haviam recebido ordem de desmontar e descansar uma hora, num pequeno arroio perto de umas árvores meio secas, antes de voltarem em definitivo para a cidade.
Todos começam a fazer uma rápida refeição, acendendo uma fogueira e alguns deles compartilham suas rações com os ex-prisioneiros e com as garotas da Pensão Hinata.
Logo após ter tratado dos ferimentos dos cavaleiros que enfrentaram os Wolfraiders e dos fugitivos de Greg, a jovem Shinobu tem uma surpresa: Um dos homens de Jake gentilmente oferece uma linda maçã ainda fresca para ela, o qual aceita, mal disfarçando um sorriso tímido - típico dela.
O jovem militar, um jovem moreno de uns dezessete anos e com feições latinas, retribui o sorriso e diz um elogio com sotaque nitidamente espanhol para a jovem adolescente, em seguida voltando para a companhia dos seus amigos, cantarolando uma música de sua terra natal.
Motoko permanece calada - num silêncio tenso e quase hostil - enquanto Kitsune e a Mutsumi começam a jogar conversa fora, contando piadas e puxando conversa com os soldados mais novos - e mais atraentes - arrancando risadas e palavras de encorajamento.
- Sempai, será que estes homens não irão fazer mal a gente? - Pergunta timidamente Shinobu para Keitarô, ainda desconcertada com a reação do desconhecido soldado.
- Bem... Creio que não. Senão eles teriam nos atacado quando cruzamos com esta patrulha. - - Responde Keitarô
- Bem... Espero que ninguém seja atrevido a ponto de mexer comigo ou com uma das meninas, senão... - Motoko comenta, apertando nervosamente o cabo de sua Shisui, visivelmente incomodada com a presença dos homens de Strongald.
- Fique tranqüila, Motoko-chan. Acho que estes soldados devem ser bem disciplinados. Mas se alguém bancar o gostosão... Pode ter certeza que o infeliz vai ver estrelas! - Diz Naru, dando um soco no ar.
Narusegawa se empolga em seu gesto e acerta sem querer o pobre Keitarô. Apesar do golpe ter saído fraco, a porrada é suficiente para fazê-lo voar pelos ares, causando surpresa e espanto a todos os presentes que nunca viram o Naru-Punch em ação. Até Greg e o seu pessoal ficam assustados quando o infeliz rapaz aterrissa dolorosamente de cabeça no solo seco como se fosse um foguete descontrolado.
Yuri vê a cena e tenta se levantar, mas constata que o seu corpo estava totalmente dolorido devido ao esforço para evitar a queda qee sofrera horas atrás e pragueja no íntimo o fato de não ter podido evitar aquele golpe. Mas na próxima vez...
- Ops... Foi mal, Keitarô! - Fala Naru, visivelmente, constrangida com a reação de todos, numa das raras vezes em que pedia desculpas ao jovem Urashima.
- Buááá... O que fiz desta vez para merecer isto?
Yuri continua semideitada na maca improvisada, enquanto Kaolla e Sarah ficam brincando e fazendo bagunça no meio dos soldados.
O oficial Jake se aproxima, entregando-lhe uma pequena marmita contendo um pouco de carne assada com feijão preto, legumes e algumas batatas cozidas.
- Não é a receita da Cantina da Mamma Lorenza, mas dá para quebrar o galho! - Responde Jake se referindo a um dos melhores lugares para se comer da capital Brightstone.
- Não fique incomodado... Após a gente cavalgar durante quase doze horas saindo do platô dos orcs, isto é mais do que bem vindo. - Sorri Yuri mordiscando com vontade um pedaço de carne seca.
- Bem, o que vocês faziam perdidos naquele fim de mundo? - Indaga Jake.
- Iria fazer a mesma pergunta para você, seu bobo. - Sorri a loira, tentando ganhar um pouco de tempo enquanto organiza os seus pensamentos em sua mente.
- Primeiro as damas! Lembremos que estamos numa era de igualdade de direitos para ambos os sexos! - Jake não se faz de rogado e dá um tapinha do ombro da loira.
- Bem... Após eu sair de Brightstone e tentar sem sucesso arranjar serviço nas cidades vizinhas, fui contratada pelo Condestável Eldrick para investigar as circunstâncias dos ataques orcs às caravanas de Smallville. Eu e parte do grupo do Keitarô mal havíamos nos infiltrado na aldeia quando fomos capturados pelos mesmos. - Yuri muda de tom e, com uma expressão séria, narra resumidamente o ocorrido.
- Admiro o fato de não terem virado comida de abutre no poste das torturas deles... Os orcs andam muito bonzinhos ou vocês conseguiram fugir deles antes que os mandassem para o poste?
- Bem... Quem nos salvou foram aquelas garotas - Responde Yuri apontando para Kitsune, Mutsumi, Tama, Kaolla e Sarah. Jake e Sammy ficam espantados ao ver que as supostas salvadoras eram garotas comuns, sem qualquer traço de experiência militar.
- Não acredito, baby! Você e o seu pessoal conseguiram fugir com vida daquele platô fortificado com uma porção de orcs armados até os dentes? - Coça a cabeça Sammy.
- Podemos dizer que sim. Felizmente as meninas tinham um pouco de artilharia pesada... - Yuri esboça um meio sorriso e aproveita para tomar mais um gole de vinho.
- Nunca ouvi falar de algum caso em que os Wolfraiders foram bem longe de sua base... Geralmente eles ficam no máximo a um raio de quinze quilômetros, patrulhando a área. - Comenta Jake, todo sério.
- Também, depois do fuzuê que fizemos lá, eles devem estar fulos da vida até agora! - Diz Yuri, ironizando a confusão da véspera.
- Bem, imagino que você e seu grupo estão ansiosos para voltar até a cidade. Aceita uma?... - Pergunta Jake ao notar a impaciência de seu colega e subordinado imediato Sammy.
- Agradeço a sua ajuda de vocês, Jake e Sammy, mas acho que dá para a gente voltar tranqüilo... Suponho que vocês vão ter que voltar ao Castelo Strongald. Sei que o patrão de vocês não gosta que seus empregados fiquem zanzando fora de seus domínios por muito tempo... - Responde Yuri.
- Bem, se me permite, querida, podemos escoltá-los até o Quartel do Eldrick. - Diz Jake, adotando um tom de voz mais íntimo e suave.
- O quê? Mas... - Yuri fica incrédula ao ouvir isto, já que Strongald e Eldrick nunca estiveram bem, pessoal e profissionalmente.
- Ora, não está com saudades de mim, gatinha? - Jake sorri, fazendo um gesto estendendo os dois braços ao mesmo tempo como se fosse abraçar a loira, numa atitude íntima para um mero conhecido.
- Eheh, vejo que você não mudou nada, Jake, mas e quanto às suas ordens superiores? - Comenta a aventureira loira, afagando de leve os cabelos de Jake.
- Além de patrulhar as vizinhanças do feudo, a gente ficou de buscar o velho Marius Strongald agora. - Responde Jake, tentando se recompor ao perceber que Sammy olhava para ambos com um ar de quem disesse: "Dá para vocês disfarçarem um pouco? Os soldados estão começando a bisbilhotar!"
- Sério? - Yuri pergunta, algo intrigada.
- O patrão foi conversar com o condestável e o prefeito da cidade. E não me parecia que estava com bom humor nesta manhã. Parece-me que o seu assessor Tarsius... Faleceu de forma inesperada há poucos dias atrás. Rumores dizem que um grupo de aventureiros invadiu a mansão do velhote e transformou-o em picolé! Segundo o que o povo estava comentando na cidade, o feito pela morte do velho Tarsius foi de um grupo de aventureiros novatos e jovens, que nem os seus amigos... E certamente, havia alguém que deveria ser uma maga ou sorcerer bem radical para derrotar aquele velhão! - Diz o oficial dos mercenários, gesticulando muito e enfatizando sua narrativa.
- Bem, eu imagino que... - Yuri engole em seco, ao notar que Jake ficou subitamente com uma expressão séria no seu rosto.
- Calma lá, baby. Não que eu morra de amores pelo finado Tarsius. Eu pessoalmente achava que aquele mago sacana não passava de um velhote mal-humorado e cheio de frescuras, mas o barão confiava nele mais do que o próprio filho. E certamente o velho Strongald irá descarregar a sua raiva no trouxa do Eldrick. - Continua Jake, falando num tom um pouco mais sério do que o seu usual.
- Bem, isto não é comigo. Quando vocês pretendem levantar acampamento? - Yuri dá de ombros e notando que a maioria dos soldados estava conversando e batendo papo, percebe que eles estão quase prontos para ir para Smallville.
- Daqui uma meia hora. Chegaremos no início da tarde. - Complementa Jake.
*****
Enquanto tais acontecimentos se desenrolavam, a muitos quilômetros de distância - após o fracassado casamento e o vitorioso ataque do Hinata Attack Team à aldeia do platô dos orcs - Grommir estava simplesmente furioso.
Não tendo dormido direito durante a noite, o Chefe de Guerra não tinha recebido notícias dos seus guerreiros Wolfraiders e para piorar, o seu aliado Khazar - que estava se recuperando dos machucados que levara na confusão da véspera, na sua tenda particular - estava claramente indisposto com o seu fracasso.
Desde quando os prisioneiros fugiram, o velho feiticeiro Mogul e aquele covarde do Finneas não haviam sido vistos. A não ser que...
Um pensamento paranóico percorreu a cabeça do obtuso líder orc. Ele podia ser um pouco burro, mas não era idiota a ponto de deixar passar algumas coisas óbvias demais.
Reunindo um pelotão de dez orcs Warlords fortemente armados, Grommir - devidamente armado e trajando sua armadura de batalha - caminha com passos inquietos rumo ao templo de Mogul.
O perverso santuário havia somente recebido danos superficiais do ataque com os foguetes medievais da Kaolla, ao contrário do quartel das tropas e do próprio palácio de Grommir, que foram gravemente danificados.
Ao perceber que a grossa porta de madeira estava trancada por dentro, o impetuoso líder de guerra ordena a seus soldados que a abram, usando um aríete improvisado. Em minutos a porta vem abaixo e Grommir adentra o escuro salão, gritando como um possesso:
- Mogul! Finneas! Seus filhos de uma ogra! Apareçam ou vão se ver comigo! - Para ele, era claro que se não foram indiretamente responsáveis pela fuga dos presos, a dupla também não fez nada para impedi-los.
Os poucos acólitos que estavam parados no salão, tentam impedir o cortejo de avançar rumo à câmara privada de Mogul, mas sem sucesso. As espadas e os machados que os guardas de Grommir ostentavam em seus punhos eram mais do que convincentes.
- Não! Pelo amor dos deuses, milorde! Não podem interromper o grande Mogul agora! Ele nos deu ordens expressas para não ser... Aughhhhh! - Tenta argumentar um acólito diante de uma porta localizada na extremidade norte do templo. Mas no instante seguinte, ele é suspenso pelo pescoço com apenas uma das mãos do gigantesco líder de guerra.
- Cão! Eu vou aonde eu quero ir! E nem os Nove Infernos podem me impedir de ver aquele verme leproso AGORA! - Dito isto, Grommir quebra o pescoço do infeliz acólito com um aperto e joga o seu corpo como se fosse uma boneca de pano desarticulada a uns cinco metros de distância - Homens! Abram esta maldita porta agora! Quero ver aqueles covardes!
Os orcs Warlords arrombam a porta com facilidade. O chefe tribal orc, ao adentrar de forma arrogante na bizarra câmara, fica estarrecido pela visão que tem.
Finneas e Mogul haviam completado há poucos minutos o ritual necromântico que ressuscitara a lenda viva Dralok.
Das suas cinzas, o corpo do legendário rei dos orcs foi revivificado, pelas energias arcanas combinadas dos dois magos, usando o antigo machado de guerra como uma espécie de foco mágico.
Um feitiço extra - lançado por Finneas - fez com que Dralok recuperasse sua memória, além de informá-lo quem eles eram e o motivo de sua ressurreição. Tal medida era necessária para evitar que o redivivo líder atacasse-os, quando ficasse consciente.
Dralok tinha acabado de se levantar do altar aonde foi ressuscitado. Ele era ainda mais imponente e forte do que Grommir, causando profundo temor e respeito por parte dos poucos acólitos presentes à câmara. Mesmo Finneas ficara impressionado com o poder da aura que emanava do redivivo rei humanóide.
Com o seu machado de batalha mágico, o antigo Rei dos Orcs parecia ainda mais poderoso e terrível, sendo dotado de um carisma do qual Grommir carecia.
- Mogul, seu miserável! Quem é este guerreiro e o que você e o humano estão tramando contra mim? - Vocifera Grommir, visivelmente desconcertado.
- Caro Grommir, nós acabamos de reviver o poderoso Dralok. - Responde Mogul sem demonstrar o menor sinal de temor.
- O quê? Pelo grande Grunnch! Isto é impossível! - O líder militar arregala os olhos ao mesmo tempo em que invoca o nome da divindade profana dos membros de sua raça e recusa a acreditar nos fatos à sua frente.
- Sob a liderança iluminada dele, finalmente nossos planos de conquista terão início! - Mogul finalmente abre o jogo, mostrando as suas tramas, confiante na incapacidade de Grommir reverter a situação.
- Nunca! Eu não me tornei chefe de guerra dos Rancapeles e Quebraossos para entregar o MEU posto para um bastardo morto! - O Chefe de Guerra Orc protesta, enquanto pensamentos assassinos ecoam na sua mente primitiva.
- Guerreiro! Eu sou Dralok, o Rei de todos os Orcs de Arkadia. Dê-me o comando das suas tribos e preste o juramento de fidelidade a mim! Você terá um lugar glorioso como comandante das minhas tropas! - Dralok responde, com uma voz imponente e profunda, causando um misto de medo, temor, respeito e adminiração em todos os presentes.
- Não! Nunca! Você é uma múmia animada por feitiçarias e jamais irei largar o que é MEU! Guardas! Matem este impostor e estes dois traidores! - Grita Grommir, a ponto de explodir de puro ódio.
- Então prefere lutar? - Dralok deixa escapar um suspiro de decepção e dá de ombros, como se subestimasse o seu desafiante.
Mogul e Finneas permanecem impassíveis, enquanto seus subordinados encolhem-se de medo, ante à presença dos Warlords.
Três dos soldados mais fiéis de Grommir avançam de espada em punho, dispostos a retalhar o suposto Dralok. Este aguarda calmamente o ataque. O primeiro Warlord toma a iniciativa, preparando um poderoso golpe com sua lâmina afiada, mas Dralok intercepta o braço direito de seu adversário habilmente, enquanto esmaga-lhe o peito com um soco de potência letal.
No instante seguinte, o rei morto-vivo esquiva-se habilmente dos golpes dos Warlords restantes. Grommir, Mogul, Finneas e os demais assistem à batalha, todos prendendo a respiração.
Provando que era mais do que uma mera múmia animada, o legendário líder massacra os infelizes guardas de elite usando apenas seus punhos e chutes. Em nenhum momento chegou a sacar o seu poderoso machado de guerra mágico, embora o pudesse fazer tranqüilamente.
Grommir rosna ferozmente ao ver o resultado do massacre e treme de ódio ao ver o suposto último rei orc olhar para ele com uma atitude desdenhosa.
- Guardas! O que estão esperando? Matem estes traidores!
Só que nenhum dos seus subordinados se atreve a mexer, paralisados por uma onda de medo e respeito pelo desconhecido inimigo.
- Isto é inútil, Grommir! Você está perdido. Só resta a você desafiar Dralok num combate individual, segundo nossas tradições sagradas. - Explica friamente Mogul, lembrando os costumes orcs de sucessão.
- Maldito seja, Mogul! Vá para os Nove Infernos! - Grommir saca sua adaga da bainha e atira a lâmina em direção ao pescoço de Mogul. Este não se abala e no instante seguinte, desintegra a arma com um projétil mágico.
Praguejando a covardia de seus soldados, o líder desafiado decide lutar contra Dralok, sacando rapidamente a sua espada. Esta era uma arma encantada que pertencera a um guerreiro humano morto por ele há vários anos atrás. E Grommir nunca foi derrotado em combate empunhando ela, Especialmente no dia em que foi sagrado como Chefe de Guerra, matando o seu concorrente da tribo dos Quebraossos.
O primeiro golpe desferido pelo líder desafiado visa a cortar o pescoço de seu adversário. Surpreendentemente Dralok não se esquiva e apara o curso da espada de Grommir, bloqueando-a com o ultra-resistente bracelete que usava numa das mãos. Com um movimento brusco, o rei orc obriga o seu gigantesco adversário a recuar.
Grommir - aturdido por tamanha ousadia e força - avança segurando sua espada com as duas mãos, agora visando a perfurar o coração daquele "Fantasma". Dralok espera o último instante e se esquiva, ao mesmo tempo em que saca o seu machado.
Um risco de fogo preenche o ar e o antigo líder orc tira o primeiro sangue, acertando de raspão o braço esquerdo de Grommir que grita de pura dor. Além do machado de batalha ser afiadíssimo, parecia que a lâmina estava avermelhada de calor, como se estivesse em chamas.
Era a lendária arma conhecida por Erebus na língua comum humana ou Ur-Khazan na linguagem primitiva dos orcs.
Grommir não se dá por vencido e em seguida troca vários golpes com Dralok. A luta segue equilibrada, digna dos dois líderes. O duelo faz gelar o sangue dos presentes tamanha a técnica, poder e ferocidade demonstradas - com a surpreendente exceção de Mogul e seu estranho corvo, que grasna de satisfação.
Poucos segundos depois, ao constatar que seu adversário era mais experimentado do que imaginava, Grommir lança um ataque impetuoso, visando acertar a cabeça do redivivo soberano.
Por sorte, a lâmina da espada do Chefe de Guerra foi bloqueada pelo diadema real de Dralok, uma peça rudimentar mais resistente do que o aço. A coroa primitiva apenas ficou riscada, mas isto é suficiente para que Dralok ficasse furioso de verdade.
Ele começa a lutar como um possesso, forçando Grommir a recuar mais e mais. Os soldados orcs e os acólitos de Mogul assistem ao duelo de seus líderes com silêncio e tensão crescentes.
Num dado momento, ambos os duelistas avançam com suas armas em riste como que para decidir a contenda. A espada mágica de Grommir e o machado lendário de Dralok se chocam, produzindo um forte barulho estridente e agudo.
Com grande assombro, os presentes testemunham a expressão de medo e incredulidade do rosto de Grommir ao ver sua poderosa espada de duas mãos se estilhaçar como se fosse feita de metal barato. Ele imediatamente larga o que restou dela, ao sentir o calor insuportável transmitido pelo machado de Dralok.
Quanto à arma do rei orc, ela está inteira e imaculada. Ao ver seu inimigo moralmente derrotado - Dralok larga o seu machado, como se entendesse que a luta terminara naquele momento.
Vencido, humilhado e derrotado, Grommir fica em desespero. Só lhe restavam as alternativas de uma rendição humilhante ou do suicídio. Já que perderia fatalmente o respeito dos seus guerreiros. Com os olhos transtornados de ódio e frustração, ele pensa num estratagema desesperado.
Rapidamente ele saca um punhal escondido no interior de sua bota e avança contra Dralok, antes que ele pense em pegar de volta o machado.
- Você não vai me humilhar, cão bastardo! Quero ver se um morto vive duas vezes! - Grita Grommir com o brilho delirante da loucura em seu olhar, dando o bote para cima de seu adversário.
- Pois saiba que eu, sou mestre tanto com armas e meus punhos! - Responde o antigo rei.
Dralok intercepta o braço armado de seu oponente em pleno ar, apertando-o firmemente, ao passo que - com a outra mão - ele agarra fortemente no pescoço de Grommir.
Torcendo de forma violenta, o rei orc obriga o humilhado chefe de guerra a largar seu punhal. Sentindo uma dor horrível, Grommir tenta gritar, mas a sua voz não sai.
Um estalido seco rompe o silêncio do ambiente e logo em seguida, o corpo do infeliz chefe de guerra orc é arremessado a uma distância de sete metros ao pilar de pedra mais próximo.
O líder humanóide se espatifa com o choque, rachando o pilar. Ele está morto ao tombar no chão. Um murmúrio de respeito e admiração toma conta do ambiente.
- Homens de Grommir! Querem seguir o triste caminho dele ou preferem jurar lealdade a mim? - Exclama Dralok com uma voz imponente e vibrante, em nada semelhante ao ser que derrotara.
Vendo o resultado inevitável, os soldados superam a indecisão inicial. Ainda que todos atacassem ao mesmo tempo, era óbvio que teriam o mesmo destino de seus companheiros mortos e do ex-chefe.
Além de ser muito mais forte do que o finado Grommir, uma aura de autoridade e carisma emanava da personalidade de Dralok, como se ele fosse um semideus.
Em seguida, um entusiasmo coletivo toma conta do salão. Tanto os acólitos de Mogul, como os guardas de Grommir brandem suas armas para o alto, saudando o novo rei:
- Vida longa ao rei Dralok! Que ele seja nosso líder na batalha e na vitória!
- Guerreiros orcs! Vocês viram o poder do nosso Rei! Dralok será empossado como novo chefe de guerra de nossas tribos e como Supremo Rei de todos os orcs. Que as tribos da fronteira se unam a ele e que nossos inimigos sejam calcados ao pó! - Mogul Blackhand aproveita a deixa para que a guarda pessoal de Grommir seja a primeira a ser convertida à nova causa.
- Dralok! Dralok é o nosso rei! - Gritam todos os presentes.
Finneas assiste a tudo, um pouco aliviado com a morte de Grommir, mas também satisfeito com o rumo que as coisas estavam tomando. Logo, logo ele também teria a sua vingança. Mais um pouco e ele ficaria livre de ter que abaixar a cabeça para aquele gordo arrogante que se autodenominava seu patrão. Este seria o primeiro passo rumo ao poder e a glória que ele pretendia alcançar.
Escrito por: Calerom
Ultima Versão: 16/01/2004.
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