CAPÍTULO 31: SEDUÇÃO E DESEJOS - PARTE 1

Somente ao subir de volta ao andar de cima, Keitarô descobre o motivo pelo qual Tama-chan, Mutsumi e Kitsune não apareceram no incidente. As duas garotas e a tartaruga onsen fêmea estavam dormindo a sono solto - completamente bêbadas e esgotadas. O trio havia conseguido esvaziar metade de uma enorme garrafa de licor de frutas, extremamente adocicado e forte. Motoko levou a chorosa Shinobu - ainda abalada pela violência que testemunhara durante o duelo contra os capangas de Khazar - para o quarto e em seguida sai para tentar dar uma bronca na Kaolla e Sarah, que haviam dado uma escapada pelo telhado, para fazerem as suas estripulias.
Aproveitando a deixa - já que temiam escandalizar a puritana filha de samurais - Naru e Yuri acompanharam Keitarô ao seu quarto.

- Keitarô, sua anta! Se você morresse agora a pouco, nunca iria me perdoar! Você é um burro, sabia? - Protesta Naru dando croques no pobre rapaz.
- Mas, Naruse... - Keitarô estava começando a demonstrar uma quase imperceptível irritação, somente percebida pela Yuri. Mas, diferentemente do seu comportamento habitual, ele estava mais interessado em descansar e analisar seus pensamentos do que tentar argumentar com a ruiva. - Mas, por outro lado... - De repente a expressão do rosto de Naru muda, alternando entre ternura e severidade, como se estivesse havendo um debate interior entre sentimentos conflitantes.
- Hã? - Antes que Keitarô reaja, a aventureira loira que os acompanhava é a primeira a expressar sua curiosidade.
- Até que você está ficando mais homem ultimamente... - O tom de voz da ruiva se altera e ela fita Keitarô com admiração.
- O que quer dizer com isto? - Pergunta o abobalhado rapaz, voltando a ser o mesmo Keitarô Urashima de sempre.
- A Naru está te elogiando, Keitarô. A gente ouviu a briga lá fora, e tentamos ir o mais rápido possível, mas perdemos um pouco de tempo ... Coisas de mulher, entende? - Sorri Yuri, piscando com o seu olho direito. Em seguida, dá um tapa meio forte no ombro do estudante da Toudai - Você ganhou um tempo precioso para que chegássemos antes que aqueles gorilas matassem o pobre coitado!
- Mas... - Keitarô ia argumentar, mas Naru percebe o que ele ia dizer e dá outro croque - na cabeça do tapado. - Você não queria que nós saíssemos peladas na rua, né, seu tarado? - Diz ela com um tom meio de brava, mas também um pouco irônica consigo mesma.
- Ai, Naru, esta doeu! - Keitarô pelo menos está contente por não ter levado um Naru-Punch.

O herói do dia finalmente chega ao seu quarto, cansado e ainda tenso pela luta, mas em melhor situação do que os capangas de Khazar ficaram. Devido ao esforço, Keitarô estava sentindo uma forte dor no ombro direito e nas costas. Yuri percebe a tina vazia e a ausência de apetrechos de tomar banho. Olhando para o rapaz, sente um pouco de pena dele ter que ficar sozinho naquele quarto desconfortável e resolve propor algo inusitado:

- Ei, Naru, que tal a gente providenciar água quente, toalhas e sabão para o nosso herói? Se o Keitarô concordar, a gente vai dar a ele um tratamento de primeira! - Sorri a loira.
- Yuri-san! O que você está pensando? - Naru fica estupefata diante da ousadia da proposta da Yuri. Como aquela garota podia ser tão liberal assim?
- Nada de mais, querida amiga. A gente vai ajudar ele a relaxar um pouco e vamos aproveitar para fazer uma massagem caprichada em suas costas, como vi num filme sobre o seu país e seus costumes. - Explica Yuri, com o tom mais inocente que lhe era possível fazer. - Hummm... Que idéia? Mas... O que os outros irão achar disto? - Como sempre, Naru começa a enrolar, não tanto com medo da reação dos outros, mas dela mesma. - Naru, não vamos fazer nada de errado. Em primeiro lugar, iremos juntas e depois, devidamente vestidas com nossos trajes de banho. O que o Keitarô precisa é apenas de um pouco de companhia! E a gente aproveita para por as conversas em dia! - Só se você ficar junto comigo, Yuri-san! Para garantir que não vai haver safadezas da parte dele. Vou lhe avisando, o Keitarô tem esta cara de santo, mas ele não me engana não! - Retruca Narusegawa desconfiada. Se o autor desta proposta tivesse sido o Keitarô, ele teria ido parar no campanário da Igreja. - Mas eu não fiz nada, Narusegawa! - Intervém Keitarô, meio rindo, meio soltando lágrimas, não sabendo se fica contente ou se ficava bravo com a proposta maluca vinda por parte de sua ex-parceira de quarto.

Calafrios percorriam o seu corpo só de pensar naquela noite alucinante que ambos tiveram no primeiro pernoite dele naquele mundo virtual.
Do jeito que se julgava ser azarado, Urashima acreditava que no mínimo ele ia sair pior do que teria acontecido se tivesse continuado a luta com os capangas do Drasius.

- Nestes últimos dias, até que posso concordar que andou comportando bem, mas sei do que você é capaz! E pare de ficar me olhando com este sorriso tolo! - Retruca a ruiva, com uma expressão de incomodada, com a visível cara de bobo alegre do sortudo kanrinin de Hinata-Sou. - Bem, vou avisar o estalajeiro para providenciar água quente, toalhas, sais de banho e sabão para nós. Naru-san, fique à vontade com o nosso herói. - Sorrindo, Yuri dá meia volta e vai ao andar térreo dando um tchauzinho meio safado para os dois.

É claro que ela adoraria ficar a sós com Keitarô depois de tudo que passaram na aldeia dos orcs, mas sabia que se fosse depender da lerda e tapada da Narusegawa, nada de concreto iria sair.

- Ei, Yuri, espere! - Naru tenta ainda ainda convencer Yuri da insanidade daquele esquema, só que a loira já havia saido, com passos rápidos.

Antes que Keitarô tivesse outro de seus ataques de covardia, ele repara que Yuri havia conseguido o que queria. Pela primeira vez em vários dias, Keitarô tinha um momento de privacidade com Narusegawa, o que não iria acontecer sempre daqui para frente. A ciumenta Motoko estava caçando as endiabradas Sarah e Kaolla - que haviam aproveitado a confusão do incidente da rua para dar uma escapulida - e a pequena Shinobu - tão desejosa de atenção do seu sempai - estava descansando no quarto, ansiando por uma ocasião de privacidade com o seu amado. Mutsumi, Tama e Kitsune estavam completamente nocauteadas devido ao cansaço da viagem e da bebida. Por um momento, Naru e Keitarô ficaram olhando um para o outro, sem saber o que dizer. Ambos estavam meio que acanhados e envergonhados. Queriam falar muito e nada ao mesmo tempo, diante da ansiedade reprimida.

- Keitarô... - Naru, por incrível que pareça, é a primeira a quebrar o transe mental. Sua expressão era entre terna e lasciva. Embora ela não desse a mínima para ele quando as outras estavam por perto - para manter a sua pose e o seu orgulho - aquele era um momento todo especial. Pela primeira vez desde a viagem à aldeia dos orcs, eles podiam gozar de um momento a sós.
- Sim, Naruse... - Keitarô pensa em colocar a sua mão direita no ombro da amada, mas - um pouco envergonhado pelo que passara com Yuri e com a Mutsumi dias atrás - ele desiste. Não, ele não era digno de merecer ternura e consideração. - Pode parar por algum tempo de me chamar pelo sobrenome? Quase todo mundo me chama apenas de Naru! - Sorri Naru dando um croque de leve na cabeça de Keitarô, com ar de criança sapeca. Embora no fundo ela tivesse vontade de beijar e abraçar, ainda o seu lado racional estava no controle. - Iau! - Geme de dor o infeliz rapaz, mais pela surpresa que pelo impacto em si.
- Desculpe-me, é a força do hábito! Mas acho que te interrompi... - Sorri a ruiva, desta vez afagando a cabeça do rapaz.
- Tudo bem, eu já estou acostumado. - Resigna o jovem kanrinin da Pensão Hinata.
- Diga-me uma coisa, com sinceridade... Você acha que a gente sai inteiros desta? - Naru volta a ficar com um olhar incerto e preocupado, como se tentasse inutilmente vislumbrar o que o futuro os reservava. - Você quer dizer, da gente voltar para a casa junto com o pessoal? - Pergunta Urashima, visivelmente intrigado com as complexas reações de sua amada. - Sim. É que... Queria tanto voltar para casa.
- Bem, vamos ver o que vai acontecer, mas pelo visto, é quase certo que Eldrick nos libere para viajarmos à capital deles.
- Você acha que esta história de Warp Point é verdade ou é uma lorota de aventureiros bêbados? - A Expressão facial da ruiva fica mais séria e ansiosa. - Bem, a gente nunca viu um, mas não acho tão impossível. Nestes tipos de RPG, sempre tem algo deste tipo, uma passagem secreta... - Responde o rapaz, tentando se basear em seus conhecimentos apenas genéricos de jogos de videogame.
- Bem, espero que seja verdade... mas... - Naru vira o seu rosto, evitando olhar para o seu companheiro. Keitarô sente um suspiro reprimido da parte de sua parceira.
- O que foi, Narusegawa?
- Mesmo se a gente... não conseguir voltar... - Naru volta a fitar o rosto ainda sujo de Keitarô, com uma expressão visivelmente insegura e angustiada. Uma discreta lágrima escorre de um de seus olhos.
- Não diga uma coisa destas! A gente vai conseguir. - Diz Urashima, extraindo uma coragem insuspeita do fundo de sua alma. Embora no dia a dia ele fosse um chorão e covarde, havia momentos em que ele parecia crescer e transcender os seus limites. E aquele momento era um deles.
- É que... Apesar de todos os perigos, daqueles monstros horríveis, de toda esta confusão, do risco da gente ficar perdida para sempre... - Ela prossegue, mostrando o seu verdadeiro eu, como raras vezes fazia diante dele, se esforçando para não chorar.
- Naru... Narusegawa!
- Tenho medo de que o que passamos aqui... Seja em vão! - Por um instante, ela desvia a sua face daquele olhar tão sereno e cheio de vida, momentaneamente envergonhada de suas atitudes infantis e possessivas. - O que quer dizer com isto, Naruse?
- Estou começando a perder a vontade de voltar para o nosso mundo real. De passar uma borracha em todos os momentos que passamos, de esquecer tudo isto... - Ela não sabe o que dizer ao certo, mas tenta se expressar da melhor maneira possível.
- O quê?
- De tudo que vivemos juntos... - Após um momento de hesitação, a sua resposta sai como um sussurro do vento.
- Mas, Naruse.
- Sim. Eu sei que o fato de que ficamos perdidas neste game maluco não é culpa sua. Eu é que convenci você a ir comigo. Se não acontecesse naquele dia, poderia ser ter sido em outro... - O tom de voz dela estava mais íntimo e confessional.
- Não se sinta culpada. Aquilo já passou. - Sabe, eu te admiro... Keitarô. - De repente, ela começa a esboçar um leve sorriso, enxugando suas lágrimas. - Mas, por quê?
- Você pode ser um bobão, uma anta, e até um desastrado completo! Mas desde que chagamos aqui... Você tem feito força... Para ser um aventureiro... Como o Seta-San é na vida real! - Naru ainda tenta zombar de si mesma e de seus sentimentos passados, mas acaba soltando outro elogio indireto ao rapaz que ela amava.
- Ah, não diga uma coisa destas. Não posso me comparar ao Seta-San... - Responde Keitarô dando de ombros.
- Eu... achava que era uma pessoa forte e decidida, desde que comecei a batalhar pelo vestibular. mas desde... desde... - De repente sua expressão muda e volta a ficar novamente triste e incerta.
- Naruse.
- Nossa viagem recente nas ilhas Pararacelso e nas férias que passamos em Okinawa com a Mutsumi... Tenho achado você mais vivo, mais corajoso. Sei lá, mais forte... - A mente de Naru parece perdida em imagens das aventuras que ela e a turma passaram juntos, misturando o passado recente com o presente de agora.
- Mas nós prometemos uns aos outros que sairíamos desta, não? - Lembra-se o rapaz de uma promessa feita naqueles momentos.
- Sabe, senti muito medo, muito medo mesmo quando fomos capturados e aquele gorila do Grommir invocou de querer casar comigo. Tudo bem que todo nosso pessoal deu uma força, mas se não fosse por você... - Finalmente dois filetes cristalinos de lágrimas abrem caminho, purificando aquela alma atormentada por incertezas.
- Não chore, Narusegawa... - Diz Keitarô, aproximando-se da ruiva e com a ponta de um de seus dedos, capturando um dos filetes.
- Não sei se estaria aqui... - Ela esconde a cabeça entre os joelhos, um pouco com vergonha de estar chorando diante dele e um em parte por causa dos seus desejos, que começavam a aflorar. - Olha, Narusegawa, prometo que vamos dar um jeito de sairmos sãos e salvos daqui. Nem que tenhamos que vasculhar este mundo todo.
- Seu bobão! E se eu ficar velha e feia? Você me abandonaria? - Naru dá um tapinha de brincadeira, tentando zombar da situação atual como se fosse uma piada, mas que acaba mostrando um fundo de verdade.

O medo que ela sentia por dentro. De ser rejeitada. De acabar ficando sozinha no final das contas.

- "Se você ficar aqui, eu também fico. Nem que isto leve meses ou anos. Mas isto não muda..." - Keitarô parece estar mais descontraído. Longe de Yuri e de outros, ele não se sentia mais inibido.

- "Kei..." - Naru ia proferir outra provocação, mas no meio de seus argumentos ela pára.

- "O sentimento que..." - De fato, o jovem universitário não se sentia tão inibido em deixar aflorar os seus sentimentos que sentia por aquela garota tão geniosa como bela.

- "Ta..." - Aquele momento era mágico e especial. E parecia estar congelado na eternidade.

- "Eu tenho por você..." - Como o seu coração adolescente nunca havia feito com tanta força.

- "Rô... me faça um favor..." - Naru sussurra de forma sensual e fortemente provocante, e começa se aproximar do rapaz.

- "O, o quê, Naruse..." - Desde aquele dia em que ele - Keitarô Urashima - havia declarado o seu amor por ela no Hospital. Nunca havia sentido novamente aquele aperto no coração.

- "Como meu parceiro e guarda-costas, me abrace. Eu estou precisando..." - A jovem finalmente se aproxima dele, sem receios, frescuras, hipocrisias ou máscaras.

- "Narusegawa..."

Keitarô afaga ternamente os longos cabelos avermelhados da Naru. Ela pela primeira vez, não se importa com seus pudores e escrúpulos. Estava se sentindo muito carente e precisava desabafar todas as emoções e o desgaste acumulados desde quando foram sair naquele Domingo, quando saíram em direção ao Deserto dos Orcs. A jovem de cabelos longos fecha os olhos e sente os braços aquecidos do rapaz envolverem o seu corpo. Ela não oferece a menor resistência e para completar o clima romântico, oferece o seu rosto e os seus lábios para ser beijada, seduzida e amada. Keitarô percebe este gesto e ele fica sem saber o que fazer direito. Seu amor finalmente está começando a admitir seus sentimentos? Ele sente um arrepio percorrer por todo o seu corpo e uma discreta lágrima umedece o seu olho direito. Aproximando-se com todo o cuidado, ele inclina a sua cabeça para retribuir o gesto de Naru. Os segundos voam dentro da Eternidade.

- "Keitarô... Por favor... Me beije..." - Assim parecia dizer Naru, que estava começando a ficar impaciente por tanta hesitação do tímido rapaz. Não havia ninguém para interrompê-los naquele mágico momento.

Vencendo o medo de fazer algum gesto desastrosamente desajeitado (tipo o nariz de Naru, ou pisar no pé), lentamente o rosto de Urashima se aproxima ao de sua amada. Por fim de angustiantes segundos, os dois trocam um breve, mas apaixonado beijo de boca. Não chegou a ser um beijo completo, mas por um milésimo de segundos, as pontas de suas línguas chegaram a se tocar, quando os lábios se separaram. Aquele momento - que ficaria marcado pelo resto de suas vidas - era deles e somente deles. Não se sabe quanto tempo aquele beijo durou. Mas a intensidade dele valia por mil eternidades.

NOTAS DO CAPÍTULO:

01 - Após um longo e tenebroso inverno, estamos de volta, com mais um capítulo de LHEF. Em primeiro lugar, peço desculpas para todos os leitores, devido a interrupção desta saga e de outras fanfics desde o final de Abril, devido a uma série de circunstâncias fora de nossa vontade, na vida offline. Mas espero que, a partir de diante, as coisas transcorram com maior regularidade.

02 - Este capítulo começou a ser esboçado no início deste ano, até tomar sua forma definitiva por volta de Abril. De lá para cá, só retomei a revisáo do mesmo em Agosto, quando foram corrigidos alguns detalhes, acrescentados outros, bem como os diálogos foram mais aprimorados.

03 - Meus agradecimentos ao colega Alleran pelo comentário que ele colocou sobre a saga no Já recebi vários comentários, mas o seu review foi o que mais me tocou até agora. E, realmente, suas análises sobre o Eldrick, Mieko e a misteriosa Yuri fazem bastante sentido. Espero que adore este capítulo. Valeu!!!

04 - Embora neste capítulo náo tenha qualquer indício de luta, movimentos militares ou intriga, aproveitei para detalhar mais o relacionamento Naru-Yuri-Keitarô, bem como atualizar a questáo dos sentimentos da Motoko pelo atrapalhado kanrinin da pensão Hinata. Espero que as coisas comecem a engrenar daqui para a frente.

05 - Dedico este capítulo a uma pessoa muito especial e que fez e faz parte da minha vida. Sei que não pode comentar formalmente nenhuma de minhas fics, mas fiquei especialmente comovido com os dois e-mails que vocême enviou. E sim, coloquei um pequeno segredo, um pequeno mimo especial neste capítulo trinta e um. Espero que você adore. E... seja sempre feliz, aonde estiver.

Escrito por: Calerom

E-Mail:

Data: 15/08/2004. 14:00 Hrs.