Capítulo 3 – Beijando Lilá Brown
"Aquele gosto amargo do seu corpo
Ficou na minha boca por mais tempo
De amargo então, salgado virou doce"
Os lábios de Lilá ficaram sobre os seus por apenas alguns segundos antes que se afastassem novamente. Padma manteve os olhos fechados, eufórica, sem coragem de abrir os olhos e se encontrar em sua cama, despertando de mais um sonho. Quando finalmente abriu os olhos, pode ver os olhos azuis da amiga a encarando com um sorrisinho tímido.
Sentia como se pudesse pular, gritar, cantarolar, tudo ao mesmo tempo para que pudesse demonstrar o tamanho do que estava sentindo. Tentou sorrir mas o sorriso desapareceu do seu rosto quando a impossibilidade do que tinha acabado de acontecer a atingiu.
- Porque você fez isso? – Sussurrou ainda tonta.
- Eu achei que você queria... – Respondeu confusa
- Eu queria... – Padma soltou um suspiro alto. – Lilá, Lilá, me escute... Você não pode simplesmente chegar e me beijar porque eu gostaria disso! [i]Voc[/i] tem que querer me beijar, entende? Tem que ser recíproco!
Por um instante o silêncio foi completo, enquanto Padma encarava a outra de forma parcialmente chocada. Não era possível que ela realmente desejasse beijá-la. Não podia ser verdade, um beijo de verdade, como o de quem está apaixonada. Porque Lilá Brown jamais corresponderia seus sentimentos, não. Ela diria que Padma estava confundindo as coisas, que gostava realmente de Simas, que aquilo não era certo.
- Você realmente acha que eu não queria te beijar? – a voz suave da menina a chamava de volta a realidade, ainda que pudesse reparar na mágoa que transparecia em suas perguntas. – Acha mesmo que eu brincaria assim com você?
- Lilá, não é isso... – tentou se consertar.
- Eu não sou assim, sabe?
- Desculpe! – ela pediu falando um pouco mais alto. – Mas é tudo tão... Perfeito e inacreditável que...
- Shh... Não fale demais... Palavras demais no momento errado podem estragar tudo.
Padma sorriu, e pôs a mão sobre o rosto da amiga, aproximando-se dela.
- Eu vou me lembrar disso, pode ter certeza.
Então, tão delicadamente quanto conseguiu, ela chegou seu rosto mais perto do da outra garota, e pôs tocou os lábios de Lilá com os seus. O toque da boca de Lilá era macio e suave, embora levemente mais seco do que estava acostumada. Havia muito mais gentileza do que quando beijava um rapaz, mais doçura, como se houvesse mais carinho do que desejo. Passou o braço em volta das costas da amiga, puxando-o para mais perto de si enquanto esta abria a boca e as duas línguas se encostavam. Quando seus dedos encostaram a pele da nuca de Lilá, se surpreendeu com como a sua pele era lisa e o quanto era bom tocá-la.
Todos os dias, desde que tinha percebido seu interesse na amiga, se sentia como se fosse perseguida incessantemente pela lembrança do cheiro de seus cabelos, do brilho de seus olhos azuis... E agora tudo aquilo era embriagante, o cheiro de sabonete e perfume feminino, os pequenos sons que sua boca fazia enquanto pressionada contra a dela, o gosto refrescante e mentolado, todas as pequenas coisas que antes tinham sido uma forma de tortura agora eram um deleite, a revelação de um prazer desconhecido.
Por muitas vezes tinha se apaixonado por rapazes – ou pensado se apaixonar por rapazes – e sempre tinha conseguido o que queria, mas por mais apaixonada que estivesse, nunca lhe parecera que a espera tinha sido tão bem recompensada. Seus dedos tremiam enquanto passava a mão pelos ombros nus de Lilá, e seu estômago se encheu de excitação quando a grifinória a abraçou de volta, pressionando um corpo contra o outro.
Mais uma vez lhe pareceu estranho o contato com o corpo da outra garota, embora não fosse incomodo, de maneira alguma. O beijo pareceu se aprofundar, se tornando um pouco mais semelhante a um beijo comum, mas logo a cabeça da corvinal se afastou.
- Você beija bem... – Comentou sem jeito.
- Eu venho praticando – falou a loira, rindo de leve. – Não me entenda mal, claro, eu nunca beijei uma garota antes, não sabia como agir, fiquei pensando que você, tão experiente...
- Eu nunca beijei nenhuma garota, Lilá – Falou a morena com um tom um pouco indignado na voz. – Nenhuma garota jamais me interessou, a não ser você.
Apesar de estarem na penumbra, Padma viu a menina corar depois da afirmação, e se sentar mais reta, encarando-a.
- Você não vai contar nada a ninguém, não é?
- Porque eu contaria? – A corvinal ergueu a sobrancelha em entender.
- Eu tenho medo... O que Parvati diria...?
- Parvati vai saber mesmo que a gente não conte à ela. Ela sempre sabe. Ela sabia que eu era a fim de você, mesmo antes de eu...
- Eu lamento muito interromper, mas isso era meio óbvio, sabia? – Parvati falava, ainda deitada e virada para parede. - Eu não tenho a menor idéia de como Lilá não descobriu.
- Você estava acordada o tempo todo...? – Padma perguntou, incrédula.
- Na verdade, eu acordei na parte em que você estava pedindo desculpas por sei lá o quê... Vocês falam gritando!
- Ninguém está gritando.
- Bem, parecem gritos quando você está dormindo. Agora, vocês podem fazer o favor de calarem a boca ou eu vou ser obrigada a agüentar essa melação mais muito tempo?
- Conversamos amanhã – Falou Lilá beijando a testa da amiga e levantando da cama.
***
Acordar no dia seguinte e perceber que não havia sonhado tudo aquilo foi uma das maiores alegrias que Padma veio a conhecer em sua vida. Parvati e Lilá já estavam lavando os rostos e escovando os dentes para irem tomar o café da manhã, e assim que entrou no banheiro para fazer o mesmo, Parvati saiu enquanto Lilá e ela se encaravam, um sorriso tímido brincando com os lábios da loira. Nesse momento, Padma se perguntou como ela poderia ser tão bela, era como se jamais fosse se acostumar a visão daquele rosto sem ficar sem ar.
Sem uma palavra, como se apenas seus olhares revelassem tudo que poderia haver para ser dito, os rostos das duas se aproximaram até que suas bocas se tocassem em um beijo de leve.
- Encontro você lá embaixo... – Foi tudo que a grifinória falou antes de sair do banheiro.
As pequenas coisas afetavam tanto a mente de Padma que ela derrubou todas as coisas que estavam no caminho de suas mãos enquanto ia buscar sua escova de dentes. Lavou o rosto ainda pensando naquele beijo delicado, e desceu para tomar café mais sorridente que o normal. Não que sua mãe fosse notar. Ela nunca notava nada.
- Eu ainda não comprei nada do que precisava comprar... – ouviu Lilá dizer à Parvati. – Estava realmente pensando em ir ao Beco Diagonal.
- Então está combinado, vamos hoje! – respondeu a gêmea enquanto Padma sentava na mesa de frente para Parvati. – Tudo bem por você, Padma?
- Podemos ir quando vocês quiserem... Vamos hoje, sim, afinal, não temos nada mesmo pra fazer...
Padma e Lilá trocaram um sorriso tímido, que só poderia ser percebido por um observador atento e malicioso.A mãe das meninas lançou um olhar preocupado as três garotas sentadas na mesa por detrás da sua xícara de chá.
- Desde que tenham juízo e cuidado! Não estamos no que eu chamaria de melhor dos momentos para se sair desprotegida por aí.
- Mamãe, não sei porque tanta preocupação – falou Padma enquanto colocava leite no seu chá. – Fomos bem treinadas em Defesa Contra Artes das Trevas e somos maiores de idade, portanto, podemos nos defender perfeitamente bem.
- Você realmente acha que meia dúzia de contra-feitiços básicos que aquele Harry Potter ensinou a vocês anos atrás é o suficiente para te proteger dos comensais da morte? Você é tão boba às vezes, Padma, que eu não consigo entender como é que você foi parar na Corvinal.
Padma parou no meio do movimento, ainda com o bule suspenso, encarando a mãe incrédula.
A Sra. Patil era muito bonita, em sua meia-idade. Tinha os mesmos cabelos negros das filhas, mas seus olhos eram muito verdes, como duas esmeraldas brilhantes. Tinha lábios grossos, constantemente pintados de um tom de rosa que parecia natural, era bastante alta e magra, sem apresentar nenhum traço de que aquela gravidez tivesse realmente afetado sua forma física. Mas mantinha no rosto uma constante expressão de desgosto, como se para ela nada nunca estivesse feito de forma suficientemente boa.
- A senhora está sendo injusta – retrucou Lilá, falando um pouco mais alto do que o de costume. – Nós aprendemos muita coisa e não só com Harry, mas também com os professores, e Dumbledore.
- Bobagem! – ela respondeu. – Vocês não sabem de nada, vocês não entendem a gravidade da situação! O Ministério nunca vai conseguir deter o Lord das Trevas se ele realmente estiver disposto a voltar a sua antiga forma!
Padma voltou a cuidar de seu café da manhã, pondo açúcar na xícara, mas Lilá continuou parada encarando a mulher. Pode ver que Parvati estava usando todo seu bom senso para não falar nada.
- Você nos trata como se fossemos crianças!
- E vocês são o que então, Lavender? – falou Sra. Patil não chamando a menina pelo apelido pela primeira vez em muitos anos. – Vocês realmente acham que são adultas? Que estão aptas para...
- Se você não acha que somos adultas, mamãe, ao menos nossas leis acham – cortou Parvati, irritada – Agora se me dão licença, eu vou me trocar para sair.
E jogou seu guardanapo sobre o prato vazio, saindo irritada, seguida de perto por Lilá.
- Parvati... Parvati! – chamou a mulher, sem sucesso, então, virou-se para a outra filha. – Está vendo o que você fez?!
Padma se recusou a comentar mais sobre o assunto e terminou de tomar seu café em absoluto silêncio, tentando com toda força não pensar no que mais de desagradável sua mãe poderia fazer na presença de Lilá.
***
- Você chamou Mandy? – perguntou Parvati enquanto trançava o cabelo pela terceira vez.
Padma pareceu despertar de seu devaneio para observar a irmã.
- Ah... Achei que você fosse chamá-la!
- Então vá logo, eu não quero sair de vela! – reclamou a gêmea, desfazendo a trança e começando a refazê-la.
Padma ainda pode ver Lilá corando violentamente enquanto escrevia o bilhete rapidamente e mandava Missy, sua coruja, levá-lo até Mandy.
- Parvati, você já refez isso quatro vezes! – reclamou Lilá, sentada na beira da cama de Padma.
- Mas meu cabelo fica embaraçado! – reclamou a morena, tornando a escovar os cabelos antes de tentar trançá-los.
- Bom, qual a importância disso se eles estiverem presos? – perguntou Padma olhando para a irmã, meio espantada.
A resposta de Parvati foi uma cara de extremo desgosto que fez Lilá começar a rir da cena.
- Você nunca reparou o quanto sua irmã é paranóica com o cabelo?!
- Não sou paranóica! – ela respondeu a contra gosto.
- É paranóica sim! Ela acorda antes até da Hermione Granger, só pra pentear o cabelo!
- Coisa que a Hermione não faz – murmurou Parvati, e Lilá teve um novo ataque de risinhos.
- Não seja tão má, Parvati! – falou a loirinha rindo – Ela o penteia sim... Eles só são um pouco rebeldes...
- Ela é quase pior que a Luna Lovegood! – retrucou Parvati, sacudindo a cabeça inconsolável.
- Nossa, não faça esse tipo de comparação! – Padma ainda parecia espantada. – E seu cabelo está ótimo...
Parvati lhe lançou mais um olhar mortal, e continuou a refazer a trança pela milésima vez.
- Vem cá...
Lilá puxou a amiga pela mão e as duas se sentaram na cama, se encarando. Aquilo tudo ainda era muito novo e muito excitante. Hesitou por um instante em se aproximar da garota, mas acabou resolvendo arriscar.
- Não adianta ficar dizendo a ela que está ótimo... – Lilá falou baixinho sorrindo – Ela demora muito pra se conformar...
Padma pousou um dedo sobre os lábios da menina, a calando e foi aproximando o rosto do dela devagar. Antes de fechar os próprios olhos, teve a visão da menina de olhos fechados, à espera do beijo... A corvinal encostou a boca na da outra, seu lábio inferior roçando o dela delicadamente, e um barulhinho estalado como resposta da pressão que tinha posto no beijo. Lilá virou o rosto para o lado, retribuindo o beijo, enquanto Padma começava a separar os lábios...
A campainha tocou fazendo com que as duas se separassem rapidamente olhando assustadas para Parvati.
- Deve ser a Mandy... Vamos...
***
- Então...?
- Ok! Ok! – Padma se serviu mais uma vez de seu sorvete de creme antes de responder a pergunta. – Eu beijei sim aquele cara de Beauxbatons. Mas não foi no baile!
Lilá parou de andar se virando para a menina ao seu lado.
- Como é que você nunca me contou! Sua vaca!
As duas passeavam juntas pelo Beco Diagonal, separadas de Parvati e Mandy. A outra corvinal não estranhara a divisão, uma vez que Padma e Lilá iriam comprar presentes para Parvati e vice-versa. O aniversário das duas seria apenas no inicio de setembro mas provavelmente elas não poderiam voltar as galerias.
- Bem... Eu...
- Você não me contou! – Lilá sacudia a cabeça incrédula –
- Eu... Eu contei a Parvati. Ela é... é que não te contou!... – tentou explicar meio gaguejante.
Lilá soltou um suspiro e olhou pro céu.
- Eu só beijei o Simas até hoje.
- Ah, obrigada por me transformar em ninguém – respondeu Padma, meio rindo.
- Deixe de ser boba! – Lilá deu um empurrãzinho mínimo na amiga. – Eu estava falando de rapazes!
- Eu sei... – Padma sorriu para Lilá, genuinamente feliz por alguns instantes, e se aproximou mais da amiga antes de parar. – Ah, que saco...
As duas se encararam e a grifinória mordeu o lábio inferior.
- Eu queria poder... – falou a morena fazendo biquinho.
A loira assentiu com a cabeça revirando os olhos e continuaram andando lado a lado.
- Me diga uma coisa... – Padma se virou para a amiga atenta. – Eu devo considerar isso um compromisso?
- O quê?! - a corvinal parou de andar, totalmente estática, com os olhos arregalados.
- O que você não entendeu? – Perguntou a loira parando também e se voltando para a morena. – Isso é um compromisso ou não? É um relacionamento ou é curtição?
Padma foi andando até Lilá e a abraçou, como se não se vissem a séculos, rindo que nem boba, seus olhos brilhando de alegria.
- Você quer que seja um relacionamento?
- Eu perguntei primeiro...
- É o que eu mais quero... – Padma encarou Lilá de perto por alguns instantes.
- Então, será um relacionamento.
A corvinal deu um beijo estalado na bochecha da amiga antes de deixá-la sair do abraço.
- Eu nem acredito que você falou isso...
- Bem... Eu falei!
- Eu não estava esperando... Quero dizer, que você falasse...
- Bom, eu sou a grifinória da questão, não é? Eu quem tenho que ousar aqui... E se eu não falasse nada, você nunca falaria.
- Como você pode saber? – perguntou indignada.
- Porque eu te conheço, Padma Patil – ela deu uma batidinha com seu dedo na ponta do seu nariz.
- Eu não sou covarde! – reclamou a corvinal.
- Eu não disse que você era. Eu só disse que você nunca iria perguntar...
- Mas isso é a mesma coisa que...
- Shhh... – Lilá pôs o dedo na frente dos próprios lábios. – Eu já te disse que palavras demais no momento errado podem estragar tudo...
E depois de trocarem um sorriso, as duas continuaram a andar pela rua, tomando seus sorvetes já meio derretidos.
N/A: Oks, eu bati meu recorde de coisas hiper cute! Obrigada pelos reviews, me ajudaram bastante! Obrigada especialmente a Lu por ter ficado me enchendo o saco para escrever mais e mais da fic, a Keks pelo incentivo repentino e a Má, porque mesmo não lendo slash ela pegou TE pra ler... ^^ Espero que vocês tenham gostado, e assim que eu acabar OE20, pego o capítulo 4 ^^ (aliás, foi por isso que esse demorou, eu estava acabando OE19 =P, mas não se preocupem, eu já tenho OE 20 quase todo feito ^^)
