"E o teu medo de ter medo de ter medo
Não faz da minha força confusão"
Padma passou sua última semana de férias se perguntando como seria sua relação com Lilá uma vez que estivessem de volta a Hogwarts. Veriam-se muito menos do que tinham começado a se habituar naquelas férias, realmente muito menos. Se ao menos fossem da mesma casa! Mas não, e sequer seus horários de aulas eram semelhantes. Encontros às escondidas, poucas vezes por semana, cheias de medo de serem descobertas e apontadas por todos. Mas ainda sim cada vez que as duas estavam próximas de se beijarem ela tinha certeza de que aquilo valia a pena.
As luzes estavam apagadas há mais de uma hora, no entanto Padma não conseguia dormir. Rolava de um lado para o outro, o tempo todo incomodada com a idéia de voltar a Hogwarts na manhã seguinte. De sua cama podia ver Lilá dormindo na cama sobressalente e se perguntava que influências a escola traria a seu relacionamento.
Levantou-se, caminhando até a garota loira e sentando-se em sua cama. Deixou seu olhar passear pelos traços suaves do rosto da amiga, pelo corpo pálido coberto apenas pela camisola. Antes que pudesse se segurar sua mão estava acariciando o rosto e o pescoço da menina, que abriu os olhos, meio assustada.
- Aconteceu alguma coisa? – perguntou, respirando de maneira ofegante.
- Não – falou Padma, sorrindo docemente. – Estava só te olhando...
- Me olhando? – perguntou preguiçosamente.
- É... Agora que estamos voltando para a escola vamos nos ver bem menos... Então quero gravar bem como você é... Sua expressão quando dorme...
As duas se olharam nos olhos, a morena ainda fazendo carinho na outra com a ponta dos dedos. Com um suspiro, Lilá falou:
- Você é tão fofa, Pad, que às vezes nem dá pra acreditar.
Ambas sorriram e a loira acariciou o braço da corvinal de leve. Esta se inclinou sobre a namorada e ainda se olharam por alguns segundos antes de se inclinar ainda mais e a beijar. Os lábios de Lilá estavam macios e quentes quando lhe beijou de volta com toda delicadeza que era tão característica da grifinória.
Mesmo depois de ter passado algum tempo ela continuava a sentir o mesmo frio na barriga que sentira na primeira vez que se beijaram. Continuara a sentir seu joelho amolecer quando ela sorria, a se deliciar com o toque das mãos pequenas da loira e com o som de sua voz. Não havia como duvidar de que era exatamente aquilo que queria. Não havia como duvidar de seus sentimentos pela menina, de seu prazer que lhe trazia tocá-la e beijá-la.
Os braços delicados de Lilá puxaram o corpo de Padma para cima de si e agora ela estava deitada sobre a garota, arrepiada pelo toque de sua pele na pele da outra. Seus lábios se esfregavam nos de Lilá, a duas respirando pesado, suas línguas se encostando levemente. Sentia suas pernas deslizando pelas pernas macias e lisas da outra, seus seios roçando os seios macios da outra conforme respiravam.
As mãos da loira acariciavam delicadamente a cintura da corvinal, o que a deixava arrepiada. Os beijos se prolongavam lentos e molhados até que a morena se ergueu sobre os cotovelos, olhando nos olhos da outra menina, que lhe sorriu.
- Eu sou apaixonada por você.
Nunca tinha incomodado tanto a Padma as obrigações de monitora. Não sentia a menor vontade de ficar em reunião enquanto se arrastava até o primeiro vagão ou de patrulhar corredores para manter a segurança dos alunos, impedindo eventuais brigas. Tradicionalmente na viagem de inicio de ano letivo o monitor e monitora-chefes faziam uma preleção para todo o grupo de monitores, para tentar fazer deles uma equipe entrosada. Nem por um instante tivera a menor esperança de que poderia ser escolhida como monitora-chefe; era evidente que Hermione Granger seria promovida. Igualmente, não tinha sido uma surpresa que Draco Malfoy tivesse sido escolhido para fazer dupla com ela nessa tarefa. Se havia uma única coisa que o sonserino sabia fazer era mandar nos outros e ser obedecido.
Os dois falaram sem que ela os desse muita atenção, os pensamentos distantes de onde seu corpo estava, e em seguida saíra para observar os outros alunos. Saíra imediatamente procurando por sua irmã e a garota loira que deveria estar com ela. A garota loira que não lhe saía da cabeça. Encontrou-as em uma cabine junto com as demais grifinórias do mesmo ano (excetuando, obviamente, Hermione Granger, que só andava com Harry Potter e Rony Weasley, quando muito falando com a irmã mais nova do ruivo, que também era monitora, mas desconhecia seu nome). Mandy também estava com elas e todas sorriram, animadas, ao verem a corvinal entrar. Imediatamente ela se dirigiu ao assento vago ao lado de Lilá.
- Então, como foi?
- Hermione Granger é monitora-chefe, claro, e Draco Malfoy. Nenhuma grande novidade. Ela falou alguma coisa sobre a necessidade de estarmos todos unidos e veio com um papo sobre a música do Chapéu Seletor quando éramos do quinto ano. Francamente! Eu não lembro nem quem ganhou a Copa das Casas quando eu era do quinto ano, quem dirá do que o chapéu seletor falou!
- Granger é assim mesmo – falou uma das grifinórias –, sabe que não somos brilhantes como ela, então faz questão de dizer essas coisas intimidadoras.
- Ela é legal – interveio Lilá – Apenas meio...
- Paranóica? Maluca? Sabe-tudo intragável? – perguntou Parvati, que estava de frente pra irmã.
Todas começaram a rir do comentário e Lilá sacudiu a cabeça, sorrindo.
- Não era nada disso que eu ia dizer, apesar de ser verdade... Não fale isso, ela pode ouvir.
- E daí? – perguntou Mandy, dando os ombros. – O que ela pode fazer?
- Aquela vez que o Rony disse que ela não tinha amigos porque era muito sabe-tudo ela se trancou no banheiro e chorou – justificou a loira.
- Tínhamos onze anos! Pelo amor de Deus! Você não acha realmente que ela ainda faria isso?
A garota pequena deu os ombros, dando uma risadinha. Padma pegou na mão da namorada e olhou direto em seus olhos antes de falar.
- Eu concordo com você.
- Obrigada, Pad – ela respondeu, desviando rapidamente o olhar e puxando a mão de volta, para longe da outra.
A morena ainda a encarou, incrédula, por alguns segundos antes de se virar para a janela e ficar quieta. Parvati olhou para o teto, suspirando, e nenhuma das garotas entendeu o clima estranho que se instalara. Naquele momento Padma tinha raiva da escola, do trem, das garotas que inibiam a loira, do preconceito da sociedade, e da timidez exagerada de Lilá.
Se alguma delas tivesse olhado para a parte de cima da janela poderia ter visto as linhas do vidro rachado involuntariamente pela corvinal.
A verdade era que Padma não estava preparada para enfrentar o namoro sob o ambiente da escola. Parecia-lhe absurdamente complicado manter as mãos longe do corpo macio de Lilá, que parecia constrangida na presença de outras pessoas. Nunca tinha imaginado o quanto era trabalhoso esconder e percebeu muitas vezes que seu olhar a denunciava.
Por tudo isso a viagem até Hogwarts foi um inferno. Acabou sentindo o maior prazer em patrulhar os corredores e ralhar com os alunos mais jovens só pra não ter que ficar ao lado da namorada, sentindo o cheiro gostoso dos seus cabelos, sentindo de leve o toque macio de sua pele, ouvindo o tom alegre de sua voz, sem poder fazer nada.
Não que só pensasse em beijá-la e abraçá-la mas a grifinória sequer mantinha os olhos nos seus por muito tempo. Aquele tipo de atitude doía muito, por mais que Padma tivesse a consciência de que não estava fazendo nada de errado, nada para machucá-la, apenas estava tentando protegê-las da sociedade preconceituosa na qual viviam.
Já estavam quase chegando em Hogsmeade quando finalmente conseguiu passar um momento a sós com a loira. Rindo, as duas correram para dentro de uma cabine vazia, cujas luzes estavam apagadas. Bateram a porta, encostando-se nela imediatamente, sem sequer olhar melhor onde estavam. Lilá comprimiu o corpo de Padma contra a madeira enquanto essa falou, rindo:
- Eu estava ficando louca sem te beijar.
- Eu também! – ofegou e no momento seguinte estavam se beijando.
Os lábios das duas começaram e se comprimir com um desespero que nunca tinham experimentado antes. Suas mãos pareciam inquietas, ora puxando a outra pela cintura ora apertando-a contra si pelas costas. Pela primeira vez podiam sentir que havia algo mais dentro do beijo, um desejo imenso de manter-se perto, de sentir o calor do corpo da outra. A saliva se misturava enquanto as línguas se encontravam em um beijo intenso.
- Que raios...? – ouviram uma voz masculina perguntar alto, parecendo tensa.
As duas se afastaram, assustadas, e Padma viu, para seu desespero, a figura alta do monitor-chefe e logo ao lado um lampejo vermelho que não poderia ser nada que não fosse um Weasley. Por um instante os quatro se encararam, espantados, e no momento seguinte as luzes estavam acesas.
Se por um instante Padma tinha imaginado que veria os dois monitores, lado a lado, em uma cena tão embaraçosa quanto a delas, se surpreendeu ao ver que quem estava ao lado dele era a menina Weasley, com as roupas um pouco amassadas e os cabelos presos em um coque, motivo pelo qual a confundira com o irmão. Os dois agora tinham quase a mesma altura e a ruiva era apenas dois dedos menor que o rapaz loiro.
- "timo, Patil, Brown, eu não conto que vocês andam se agarrando dentro do dormitório e vocês esquecem que nos viram aqui – ele falou, parecendo calmo.
- Nos agarrando no dormitório? – repetiu Padma, sem entender.
- Ah... Você é a outra Patil – ele falou, olhando para a capa da monitora. – Bem, que seja, vocês ficam caladas, nós também e todo mundo fica feliz. Agora, se vocês três me dão licença, eu tenho tarefas a cumprir – e o loiro estava fora da cabine.
As três continuaram alguns segundos em silêncio, constrangidas.
- Não se preocupe, Lilá, o Segredo de vocês está seguro comigo.
- Nós também não vamos falar nada, Gina – a loira respondeu. – Mas há quanto tempo você e Malfoy...?
- É uma longa história – suspirou a ruiva. – Quem sabe outra hora?
E, com um sorriso, a menina saiu para o corredor.
Padma estava muito cansada àquela noite. Por mais que não parecesse as festas de início de semestre sempre eram muito cansativas e depois tinha que conduzir os alunos selecionados para a Torre da Corvinal. Era praticamente evidente que um deles se desgarraria e se perderia, e quando fez a contagem dos alunos antes de mandá-los para o dormitório viu que tinham dois a menos do que tinham sido selecionados. Apenas sete dos nove primeiranistas corvinais estavam com elas. Chamou a monitora nova, cansada:
- Lisa, meu bem, estão faltando dois novatos, eu preciso achá-los, você sabe, o castelo é grande, eu queria que você fosse com o Mark...
- Mark não veio para cá, Padma, ele disse que ia tomar banho. Aliás, só estamos eu e você na torre, de resto, ninguém chegou - a menina fechou os olhos irritada.
- Ok, Lisa, nós vamos fazer isso nós mesmas. Vamos lá, se Malfoy ou Granger os acham antes de nós eu não quero nem imaginar o quanto vamos ouvir.
As duas saíram juntas do salão comunal e apenas uns duzentos metros à frente estava um dos meninos, que tinha se perdido quando passara por debaixo de uma tapeçaria. Padma mandou Lisa voltar com ele pra sala comunal e ela procuraria o outro menininho, pedindo a outra que mandasse os demais monitores em busca do corvinal. Seguiu subindo as escadas, perguntando-se em que ponto ele poderia ter se perdido, inconscientemente cada vez mais perto da Mulher Gorda e do salão comunal de sua irmã.
Seu pensamento flutuava, lembrando de quando descobrira sobre a Sala do Requerimento, enquanto passava por uma porta com aparência de parede. Seria um bom lugar para ela e Lilá se encontrarem futuramente, ou talvez pedisse a namorada pra falar com Weasley a respeito de bons lugares. Só então parou pra pensar no absurdo que tinha visto no trem e ficou se perguntando por que raios tinha ficado sabendo de algo tão curioso, tão interessante, tão bom pra ser repassado, e não podia contar a ninguém. Aquilo era tortura, ter que manter um segredo sobre algo que seria o máximo ter sido a primeira a saber.
A morena virou um corredor, já muito perto do salão comunal da Grifinória, e sentiu seus pés se prenderem no chão com o que viu. Pouco mais à frente Simas estava segurando a ex-namorada pelo braço, os dois encostados na parede, os rostos muito perto um do outro. Mesmo ali ela conseguia sentir a tensão no ar, parecia cheirar a tesão contido. O susto foi tamanho que deixou cair sua varinha com estrépito.
Os dois se viraram imediatamente mas o rapaz não deu um passo atrás, pelo contrário, comprimiu ainda mais o corpo da menina com o seu, que pareceu ainda mais incomodada enquanto os dedos dele seguravam firmemente seu braço esquerdo. Padma não conseguia se mexer.
Devia ter imaginado que Lilá não tinha esquecido o namorado de anos, que bastaria um breve encontro para que decidissem voltar, mas ainda sim tinha certeza absoluta do que queria. Mas não desistiria tão facilmente. A confusão de Lilá não seria o suficiente para fazê-la desistir.
- O que você acha que está fazendo, Finnigan?
- Estou conversando intimamente com minha namorada, Patil.
- Ela não é mais sua namorada – falou, a varinha em punho.
- Veio defender sua amada?
- Tire as mãos dela. Agora.
- Eu não estou ouvindo ela reclamar – respondeu, ácido.
- Eu vou contar até três, Finnigan...
- Você vai me amaldiçoar, vai, Patil?
- Um...
- Não vou soltar.
- Dois...
- Já disse que não vou soltar.
- Três. Lilá?
A loira sacudiu a cabeça antes de falar.
- Simas, me deixe ir. Me deixe ir...
O grifinório olhou para a loira com a cara fechada.
- Detenção, Finnigan – falou, a voz da corvinal firme. – Amanhã McGonnagall estará informada disso.
Ele soltou a grifinória, irritado, e saiu pelo corredor.
- Que se explodam vocês duas! Suas lésbicas nojentas!
As duas se olharam por um segundo enquanto ele sumia do corredor e Lilá, assustada, começava a chorar. Padma passou os braços em volta da garota. Não queria nem imaginar o que mais poderia vir.
N/A: Demorou, demorou, eu sei, me desculpem! Eu prometo tentar não demorar muito pra tornar a atualizar, mas não sei se vou conseguir! ;)
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