O pai de Honey organizou tudo de forma que ela ficasse em Knoxville na casa de um primo seu, o reverendo Douglas Lipton.
Douglas Lipton era padre na Igreja de São João Baptista. Tinha cerca de sessenta anos e era casado com uma mulher dez anos mais velha.
O padre ficou feliz por ter Honey em sua casa.
- Ela é como uma ventania de ar fresco - disse à esposa.
Nunca tinha visto ninguém tão ansioso por satisfazer.
Honey saiu-se razoavelmente bem na faculdade de medicina, mas faltava-lhe a dedicação. Estava ali apenas para agradar ao pai.
Os professores simpatizavam com ela. Havia nela uma tal bondade genuína que os professores desejavam que tivesse êxito.
Por ironia, Honey era particularmente fraca em anatomia. Durante a oitava semana, o professor da disciplina chamou-a.
- Receio ter de reprová-la. - disse com ar infeliz.
"Não posso reprovar" - pensou Honey. "Não posso deixar o meu pai ficar mal perante toda essa gente."
Honey aproximou-se do professor:
- Vim para esta escola por sua causa. Ouvi tanta coisa a seu respeito. - Aproximou-se ainda mais. - Quero ser como o senhor. - E ainda mais perto. - Ser medi-bruxa significa tudo para mim. - E mais perto ainda. - Por favor, ajude-me.
Uma hora mais tarde, quando Honey saiu do gabinete, tinha as respostas para o exame seguinte.
Antes de Honey terminar a faculdade de medicina, seduziu vários dos seus professores. Havia em si um ar de desamparo tal que ninguém conseguia resistir. Todos tinham a impressão de que eram eles que a seduziam e sentiam-se culpados por abusarem da sua inocência.
O Dr. Jim Pearson foi o último a sucumbir a Honey.
Ficou intrigado com as informações que ouviu acerca dela; rumores sobre as suas extraordinárias habilidades sexuais. Um dia, mandou chamar Honey para conversarem sobre as notas. Esta levou consigo uma pequena caixa de açúcar em pó e, antes da tarde terminar, o Dr. Pearson estava tão engatado quanto os outros. Honey fez ele se sentir jovem e insaciável. Fez ele pensar que era um rei que a tinha subjugado e tornado sua escrava. Ele procurou não pensar na mulher e nos filhos.
Honey gostava genuinamente do reverendo Douglas Lipton e sentia-se aborrecida por a esposa ser uma mulher fria e frígida que estava sempre criticando-o. Honey sentiu pena do padre. "Ele não merece isso" - pensou. - "Precisa de conforto".
À meia noite, quando a Sra. Lipton se encontrava de volta, Honey entrou no quarto do padre. Estava nua.
- Douglas...
Os olhos abriram-se:
- Honey? Sente-se bem?
- Não - respondeu. - Posso conversar contigo?
- Claro. - Estendeu o braço para acender o candeeiro.
- Não acenda a luz. - Meteu-se na cama ao seu lado.
- O que se passa? Não se sente bem?
- Estou preocupada.
- Com quê?
- Com o senhor. O senhor merece ser amado. Quero fazer amor com o senhor.
Ele ficou totalmente desperto:
- Meu Deus! - disse. - Ainda é uma criança. Não pode estar falando sério.
- Estou. A sua mulher não lhe dá amor...
- Honey, isto é impossível! É melhor regressar já para o seu quarto e...
Sentia o corpo dela contra o seu.
- Honey, não podemos fazer isto. Eu...
Os lábios dela estavam sobre os seus e o corpo em cima do seu, deixando-o completamente extasiado. Honey passou a noite na cama dele.
Às seis da manhã, a porta para o quarto abriu-se e a Sra. Lipton entrou. Permaneceu ali, a olhar para os dois e seguidamente saiu sem dizer uma palavra.
Duas horas mais tarde, o reverendo Douglas Lipton suicidou-se na garagem.
Quando Honey soube da notícia, ficou devastada e incapaz de acreditar no que sucedera.
Um representante do Ministério da Magia foi até lá assim que soube do ocorrido e teve uma conversa com a viúva.
Quando terminou, foi procurar Honey:
- Por respeito à família, vamos declarar a morte do reverendo Douglas Lipton como "suicídio por razões desconhecidas" - mas sugiro que deixe imediatamente a cidade e nunca mais cá volte.
Honey foi para o Hospital St. Mungus, em Londres. Com as brilhantes recomendações do Dr. Jim Pearson.
Um belo dia, quando chegara do trabalho, viu a coruja branca de Harry na sacada da janela.
- Olá Edwiges. Trouxe para mim o Harry é? Não, Não é... Você ainda não consegue fazer isso.
Kat e Honey chegaram e ficaram intrigadas com a carta.
Gina pegou a carta da patinha da coruja e começou a ler.
Não sei como lhe dizer isso, está sendo bem difícil para mim. Na verdade, acho que se eu fosse direto seria melhor. Bem, estamos há muito tempo separados e Karen Philborn apareceu na minha vida. Estamos namorando. Peço que reconstrua sua vida e não guarde mágoa de mim.
Com amor, Harry
- Não acredito. Disse Gina embasbacada.
Kat e Honey pegaram a carta e também ficaram abobadas.
- Não fique assim, Gina. Nenhum homem merece nossas lágrimas. - disse Kat.
- Desculpe. -disse Gina já chorando. - Vou para o meu quarto.
Muito tempo se passou e para Gina, esse mesmo tempo tinha perdido todo o significado. Não havia princípio nem fim e os dias e as noites sucediam-se no mesmo ritmo. O hospital tinha se transformado em toda a sua vida. O mundo exterior não era mais do que um planeta estranho e distante.
O Natal chegou e passou, dando início ao Ano Novo. No mundo exterior ao hospital, as tropas do Ministério caçavam os Comensais remanescentes.
Nunca mais tinha ouvido nada de Harry. "Ele vai descobrir que cometeu um erro" - pensou Virgínia. - "Regressará para mim."
As irritantes chamadas telefônicas matinais tinham parado tão repentinamente como haviam começado. Virgínia se sentia aliviada por nunca mais se ter visto envolvida em incidentes
Misteriosos ou ameaçadores. Era quase como se tivessem sido apenas um pesadelo... Exceto é claro, o fato de não ter sido assim.
A rotina continuou a ser frenética. Não havia tempo para conhecer melhor os doentes. Eram simplesmente vesículas ou fígados rebentados, fêmures fraturados e costelas partidas.
O hospital era uma selva cheia de demônios mecânicos - respiradores, monitores do ritmo cardíaco, equipamento de ecografia, raios X, caldeirões para poções ... E cada uma possuía o seu próprio som.
Havia apitos, campainhas e a conversa constante dos sistemas de altofalantes, todos eles misturando-se numa dissonância ruidosa e louca.
O segundo ano de residência foi um ritual de passagem. Os residentes começaram a ter tarefas mais exigentes e a vigiar o novo grupo, sentindo um misto de desprezo e arrogância destes.
- Pobres diabos. - disse Kat a Virgínia. - Nem sonham o que lhes espera.
- Em breve irão descobrir.
Virgínia e Honey começaram a ficar preocupadas com Kat. Estava perdendo e parecia deprimida. No meio de uma conversa, perceberam que Kat tinha um olhar vazio.. De tempos em tempos, recebia uma chamada misteriosa e, após cada uma delas, a sua depressão parecia piorar.
Virgínia e Honey sentaram-se a fim de terem uma conversa com ela.
- Está tudo bem? - perguntou Virgínia. - Sabe que gostamos de você e se tiver algum problema gostaríamos de ajudar.
- Obrigada. Agradeço a preocupação de vocês, mas não há nada que possam fazer. É um problema de dinheiro.
Honey olhou para ela, surpreendida:
- Para que precisa de dinheiro? Nunca saímos. Não temos tempo para comprar nada. Nós...
- Não é para mim. É para o meu irmão. - Kat nunca lhes dissera que tinha um irmão.
- Não sabia que tinha um irmão - disse Virgínia.
- Vive em FarmsBellow? - perguntou Honey.
Kat hesitou:
- Não. Vive aqui nos Estados Unidos. Terão de conhecê-lo, um dia.
- Gostaríamos muito. O que é que ele faz?
- É uma espécie de empresário - respondeu Kat, vagamente. - Neste momento anda com pouca sorte, mas Mike irá se recompor. Ele consegue sempre.
"Deus queira que esteja certa" - pensou ela.
Petter Bowman tinha sido transferido de um programa residencial de Iowa. Era uma pessoa bem-humorada e sempre bem-disposta, que saíra da rota para ser agradável aos outros.
Um dia, disse à Virgínia:
- Amanhã à noite dou uma pequena festa. Se a senhora e as doutoras Hunter e Taft estiverem livres, por que não aparecem por lá? Acredito que será divertido.
- Tudo bem. - respondeu Virgínia. - O que devemos levar?
Bowman deu uma gargalhada:
- Não tragam nada.
- Tem certeza? - perguntou Virgínia. - Uma garrafa de vinho ou... E Bowman acabou por ser um apartamento de cobertura com 10 quartos e todo mobilado à antiga.
As três mulheres entraram e olharam surpreendidas.
- Meu Deus! - espantou-se Kat. - De onde veio isto tudo?
- Fui suficientemente esperto para ter um pai inteligente. - respondeu Bowman. - Me deixou todo o seu dinheiro.
- Esqueçam! Vai ser no meu pequeno apartamento.
- E porque você trabalha? - perguntou Kat, maravilhada.
Bowman sorriu:
- Gosto de ser medi-bruxo.
O buffet era constituído por caviar Beluga Malossol, patê de campagne, salmão escocês fumado, ostras na concha, pernas de caranguejo, crudités com molho vinagrete e champanhe Cristal.
Bowman tivera razão. Na realidade, as três divertiram-se bastante.
- Nem sei como agradecer. - disse Virgínia a Bowman no final da noite, quando estavam de saída.
- Estão livres no sábado? - perguntou.
- Sim.
- Tenho um pequeno barco a motor. Vou levá-las para um passeio.
- Parece ótimo...
Às quatro da manhã Kat foi acordada, quando dormia profundamente no quarto dos medi-bruxos de serviço.
- Doutora Hunter, Sala de Urgências três... Doutora Hunter, Urgências três.
Kat levantou-se, tentando lutar contra o cansaço. Esfregando os olhos para afastar o sono, apanhou o elevador para baixo até à sala de urgências.
Um empregado cumprimentou-a à porta:
- Ele está ali no canto. Está cheio de dores.
Kat caminhou para o doente:
- Sou a doutora Hunter - disse, sonolenta.
Este resmungou:
- Por Merlin. Tem de fazer qualquer coisa. As minhas costas estão me matando.
Kat bocejou:
- Há quanto tempo tem dores?
- Desde há cerca de duas semanas.
Kat olhou para ele, confusa:
- Duas semanas? Porque não veio logo?
O doente tentou mexer-se e estremeceu:
- Para dizer a verdade, detesto hospitais.
- Então por que veio agora?
Com um ar mais alegre, respondeu:
- Vai haver um grande torneio de golfe e se não tratar das minhas costas não poderei estar presente.
Kat respirou profundamente:
- Um torneio de golfe.
- Sim.
Teve de se esforçar para se controlar:
- Vou dizer-lhe o que deve fazer. Vá para casa. Tome duas poções das que eu vou lhe dar e, se de manhã não estiver melhor, me telefone.
- Voltou-se e saiu rapidamente da sala, deixando-o gesticular.
O pequeno barco a motor de Petter Bowman era uma suave lancha-cruzeiro de quinze metros.
- Bem-vindas a bordo! - disse ele, quando cumprimentou Virgínia, Kat e Honey no cais.
As mulheres olharam com admiração para o barco.
- É lindo. - disse Virgínia. - Você gosta mesmo dessas coisas trouxas, não é?
- Adoro tudo que é bonito. Virgínia.
Deram um passeio pela baía durante três horas, saboreando o dia quente. Era a primeira vez que qualquer uma delas descansava há semanas.
Enquanto estavam ancorados ao largo da ilha Angel, a comer um almoço delicioso, Kat disse:
- Isto é que é viver. Não vamos regressar para terra.
- Bem pensado - afirmou Honey.
Em resumo, tinha sido um dia divinal.
Quando regressaram ao cais, Virgínia disse:
- Não encontro as palavras para descrever o quanto me diverti hoje.
- O prazer foi meu. - Bowman deu umas palmadinhas no braço dela. - Vamos repetir. Qualquer dia. Vocês três são sempre bem-vindas.
"Que homem encantador" - pensou Virgínia. - "Será que eu estou conseguindo esquecer o Harry? Rezo a Merlin que sim."
Honey gostava de trabalhar na obstetrícia. Era uma ala cheia de vida e esperança novas, num ritual alegre e interminável.
As novas mães estavam ansiosas e apreensivas. As veteranas ansiavam que tudo passasse.
Uma das mulheres que estava prestes a ter o bebê disse a Honey:
- Graças a Deus! Vou poder ver de novo os meus pés.
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Se Virgínia tivesse um diário, teria marcado o dia quinze de Agosto como um dia especial. Foi o dia em que Jimmy Ford entrara na sua vida.
Jimmy era empregado do hospital, não era medi-bruxo ou qualquer coisa do gênero, era uma espécie de Entrega-Recados. Tinha o sorriso mais franco e a melhor disposição que Virgínia jamais vira. Era baixo e magro e parecia ter dezessete anos. Tinha vinte e cinco e movia-se pelos corredores do hospital como um alegre furacão. Para ele, nada representava um problema.
Entregava recados para todos o dia inteiro. Não tinha qualquer sentido de condição social e tratava do mesmo modo medi-bruxos, enfermeiras e zeladores.
Jimmy Ford adorava contar anedotas.
- Sabe daquela sobre o doente com o corpo engessado? O doente da cama ao lado perguntou-lhe o que fazia para viver.
Ele respondeu: "Lavava as janelas do Empire State Building."
O outro perguntou: "Quando é que deixou de trabalhar?"
- "Quando estava descendo."
E Jimmy arreganhava os dentes e apressava-se para ajudar mais alguém.
Adorava Virgínia:
- Um dia serei medi-bruxo. Quero ser como a senhora.
Levava-lhe pequenos presentes, chocolates e brinquedos insignificantes. A cada um dos presentes juntava uma piada.
- Em Houston, um homem perguntou a um peão:
"Qual é o caminho mais rápido para o hospital?"
O outro respondeu:
"Diga mal do Texas."
As anedotas eram terríveis, mas Jimmy as contava de um modo engraçado.
Chegava de vassoura ao hospital ao mesmo tempo em que Virgínia e aproximava-se rapidamente dela, contando uma de suas horríveis piadas.
N/A: ÉEEEE, já estamos no décimo capítulo... Essa fic deve ter uns vinte e poucos, só pra adiantar a vcs... Está ficando legal, não é? Bjks e até o próximo... Obrigada pelos reviews.
