Era domingo e as três tinham o dia livre.
- O que vamos fazer hoje? - pergunto u Kat.
Virgínia não fazia idéia:
- Está um dia tão bonito! Porque não vamos ao Tree Park? Podíamos arranjar qualquer coisa e fazer um piquenique ao ar livre.
- Isso é bom. - respondeu Honey.
- Vamos! - concordou Kat.
O telefone tocou. As três olharam para ele.
-Merlin! - disse Kat. - Não atendam. É a nossa folga.
- Não temos folgas. - lembrou Virgínia.
Kat dirigiu-se ao telefone e levantou-o:
- Doutora Hunter. - Escutou por momentos e entregou o telefone a Virgínia. - É para você, doutora Weasley.
Virgínia concordou, resignadamente:
- Está bem. - Pegou o telefone e respondeu:
- Doutora Weasley... Olá, Tom... O quê?... Não, estava de saída... Entendi... Está bem. Estarei aí dentro de quinze minutos. - Colocou o telefone no lugar.
"Lá se vai o piquenique," - pensou.
- É grave? - perguntou Honey.
- Sim, estamos prestes a perder um doente. Vou tentar estar de volta para jantar.
Quando Virgínia chegou ao hospital, dirigiu-se ao ao estacionamento dos medi-bruxos e estacionou ao lado do Ferrari vermelho.
"Quantas operações terão sido precisas para comprar aquilo?"
Vinte minutos mais tarde, Virgínia dirigia-se à sala de espera das visitas. Um homem de cabelo escuro estava sentado numa cadeira olhando pela janela.
- Senhor Newton?
Este levantou-se:
- Sim?
- Sou a doutora Weasley. Acabei de examinar o seu filhinho. Deu entrada por estar sofrendo de dores abdominais.
- Sim. Vou levá-lo para casa.
- Creio que não. Peter tem uma rotura no baço. Necessita de uma transfusão imediata e de ser operado ou morrerá. Newton abanou a cabeça:
- Somos testemunhas de Jeová. Deus não deixará que ele morra e eu não vou permitir que o contaminem com o sangue de mais alguém. Foi a minha mulher quem o trouxe para aqui. Será castigada por isso.
- Senhor Newton, penso que não está compreendendo bem a gravidade da situação. Se não operarmos imediatamente, o seu filho morrerá.
O homem olhou para ela e sorriu:
- A senhora não conhece os desígnios de Deus, conhece?
Virgínia estava furiosa:
- Posso não saber muito acerca dos desígnios do seu Deus, mas sei bastante sobre um baço rebentado. - Pegou numa folha de papel. - Ele é menor; por isso, terá de assinar este termo de responsabilidade. - E entregou-lhe a folha.
- E se eu não assinar?
- Porquê... Então não poderemos operar.
Ele concordou:
- Julga que os seus poderes são mais fortes do que os de Deus?
Virgínia olhou para ele:
- Não vai assinar, não é?
- Não. Um poder mais forte que o seu irá ajudar o meu filho. Verá.
Quando Virgínia regressou à ala, o pequeno Peter Newton de seis anos tinha perdido a consciência.
- Não vai conseguir se salvar. - disse Chang. - Perdeu muito sangue. O que quer fazer?
Virgínia tomou a decisão:
- Levem-no para a sala de operações um. Stat.
Chang olhou para ela, surpreendido:
- O pai mudou de idéia?
Virgínia concordou:
- Sim. Mudou de idéia. Vamos!
- Ainda bem! Falei com ele durante uma hora e não consegui convencê-lo. Disse que Deus iria cuidar do caso.
- Deus está tratando do caso. - garantiu-lhe Virgínia.
Duas horas e dois litros de sangue mais tarde, a operação tinha terminado com êxito. Todos os sinais vitais do rapaz eram fortes.
Virgínia afagou-lhe suavemente a testa:
- Vai ficar bom.
Um empregado entrou precipitadamente na sala de operações:
- Doutora Weasley? O doutor Schober quer vê-la imediatamente.
Benjamin Schober estava tão furioso que a voz lhe falhava:
- Como foi capaz de tomar uma atitude tão ultrajante? Fez-lhe uma transfusão de sangue e operou-o sem autorização? Foi contra a lei.
- Salvei a vida do menino!
Schober respirou profundamente:
- Devia ter obtido uma Ordem do Ministério.
- Não havia tempo. - respondeu Virgínia. - Mais dez minutos e ele estaria morto. Esse Deus que ele tanto falou, estava ocupado em outro lugar.
Schober caminhava para a frente e para trás:
- E agora, o que vamos fazer?
- Obter a ordem do Ministério.
- Para quê? A senhora já efetuou a operação.
- Atraso um dia a ordem do tribunal. Ninguém notará a diferença.
Schober olhou para ela e começou a arfar:
- Por Merlin! - Franziu as sobrancelhas. - Isto poderá me custar o emprego.
Virgínia olhou para ele durante um longo momento. Em seguida, voltou-se e avançou para a porta.
- Virgínia...
- Sim? - respondeu, parando.
- Nunca mais repita isto, ouviu bem?
- Só se não houver outra solução. - garantiu-lhe Virgínia.
Todos os hospitais tnham problemas com roubos de drogas. Por lei, cada narcótico retirado do dispensário tinha de ser requisitado, mas, por mais severa que seja a segurança, os toxicodependentes quase invariavelmente descobriam uma maneira de o conseguírem.
O Hospital St. Mungus estava enfrentando um grande problema. Margaret Spencer foi conversar com Ben Schober.
- Não sei o que fazer, doutor. O nosso fentanil está sempre desaparecendo. O fentanil é um narcótico que cria grande dependência e uma droga anestésica.
- Quanto é que desapareceu?
- Uma grande quantidade. Se fossem apenas alguns frascos poderia haver uma explicação inocente para o caso, mas está acontecendo com regularidade. Estão desaparecendo mais de uma dúzia de frascos por semana.
- Tem idéia de quem poderá estar tirando?
- Não, senhor. Já falei com a segurança. Não sabem de nada.
- Quem tem acesso ao dispensário?
- Aí é que está o problema. Grande parte dos anestesistas têm acesso livre, para além da maioria das enfermeiras e cirurgiões.
Schober ficou pensativo:
- Obrigado por me ter informado. Vou tratar do assunto.
- Obrigada, doutor. - E a enfermeira Spencer saiu.
"Só me faltava isto" - pensou Schober, furioso. Estava aproximando-se uma reunião da direção do hospital e já havia problemas suficientes para serem tratados. Ben Schober conhecia bem as estatísticas. Mais de dez por cento dos medi-bruxos viciavam-se, em drogas ou álcool. O fácil acesso a drogas tornava-as tentadoras. Era fácil um medi-bruxo abrir um armário, tirar a droga de que necessitava e utilizar um torniquete e seringa para a injectar. Um viciado poderia necessitar de uma quantidade fixa, de duas em duas horas.
Isso estava acontecendo também no seu hospital. Tinha de se fazer qualquer coisa antes da reunião. "Ficaria mal na minha ficha."
Ben Schober não sabia bem em quem confiar para o ajudar a encontrar o culpado. Tinha de ser cauteloso. Estava certo de que nem a Dra. Weasley nem a Dra. Hunter estavam envolvidas e, depois de muito pensar, decidiu servir-se delas.
Mandou-as chamar:
- Tenho um pedido para fazer. - disse explicando tudo sobre o desaparecimento do fentanil. - Quero que mantenham os olhos bem abertos. Se algum dos medi-bruxos com quem trabalham, no meio de uma operação, tiver de sair por momentos da sala ou apresentar sinais de vício, quero que me informem. Estejam atentas a quaisquer mudanças de personalidade... depressão ou alterações de disposição... atrasos ou faltas. Peço-lhes que mantenham isto estritamente confidencial.
Quando saíram do gabinete, Kat disse:
- Este hospital é enorme. Vamos precisar de Sherlock Holmes.
- Não, não vamos - respondeu Virgínia com ar infeliz.
- Sei quem é.
Mitch Campbell era um dos medi-bruxos favoritos de Virgínia. O Dr. Campbell era um cinquentenário de cabelos grisalhos, sempre bem-disposto e um dos melhores cirurgiões do hospital. Virgínia reparara que nos últimos tempos chegava sempre alguns minutos atrasado para uma operação e que tinha desenvolvido uma tremura notável. Servia-se de Virgínia para o assistir sempre que possível e normalmente deixava-a fazer a maior parte da cirurgia. No meio de uma operação, as mãos começavam a tremer e entregava o bisturi a Virgínia.
- Não me sinto bem - murmurava. - Não se importa de continuar?
E abandonava a sala de operações.
Virgínia andava preocupada com o que pudesse estar acontecendo-lhe. Agora já sabia. Pensou no que havia de fazer.
Sabia que se desse essa informação a Schober, o Dr. Campbell seria despedido, ou pior, a sua carreira ficaria destruída.
Por outro lado, se nada fizesse, colocaria em perigo a vida de alguns doentes.
"Talvez seja melhor falar com ele" - pensou. "Contar-lhe o que sei e insistir para que se trate."
Discutiu o assunto com Kat.
- É um problema - concordou Kat. - É uma pessoa agradável e um bom medi-bruxo. Se disser alguma coisa acabar com ele, mas se não o fizer terá de pensar no mal que possa vir a fazer. O que acha que irá acontecer se falasse com ele?
- Provavelmente irá negar, Kat. É o que geralmente acontece.
- Sim. É um caso difícil.
No dia seguinte, Virgínia tinha uma operação marcada com o Dr. Campbell.
"Queira Merlin que esteja errada" - rezou Virgínia. - "Não o deixe chegar atrasado e não permita que saia durante a operação."
Campbell chegou quinze minutos atrasado e a meio da operação disse:
- Por favor, Virgínia, pode continuar? Já volto.
"Tenho de falar com ele" - decidiu Virgínia. "Não posso destruir a sua carreira."
N/A: E ae galerinha, o que vocês acharam desse capítulo? Eu estou amando fazer essa fic. Tomara q estejam gostando tanto quanto eu!!! Bjus e até mais!!!
