Na manhã seguinte, Virgínia e Honey estacionaram no parque dos medi-bruxos, Petter Bowman parou o Ferrari vermelho ao lado delas.
- Que carro bonito. - disse Honey. - Quanto custa?
Bowman deu uma gargalhada:
- Como resposta, digo que não é para a sua bolso.
Mas Virgínia não estava ouvindo. Olhava para o carro e pensando no apartamento de cobertura, nas grandes festas e no barco. "Fui suficientemente esperto para ter um pai inteligente. Deixou-me todo o seu dinheiro." - E, contudo, Bowman trabalhava num hospital. Porquê?
Dez minutos mais tarde, Virgínia estava na secção de pessoal a falar com Karen, a secretária responsável pelas fichas.
- É capaz de me fazer um favor, Karen? Cá para nós, Petter Bowman convidou-me para sair e tenho o pressentimento de que é casado. Deixa-me dar uma vista de olhos na ficha dele?
- Com certeza. Que grandes filhos da mãe! Nunca ficam satisfeitos, não é? Tenho todo o prazer em mostrar-lhe a ficha dele. - Dirigiu-se ao armário e retirou o que procurava.
Entregou alguns papéis a Virgínia.
E deu uma rápida vista de olhos. A candidatura do Dr. Petter Bowman mostrava que vinha de uma pequena universidade do Médio Oeste e que, segundo a ficha, tinha conseguido abrir caminho na faculdade de medicina. Era anestesista. O pai era barbeiro.
Honey Taft era um enigma para a maioria dos medi-bruxos do Hospital St. Mungus. Durante as rondas da manhã, parecia não estar segura de si própria. Mas nas rondas da tarde, parecia uma pessoa diferente. Surpreendentemente, sabia tudo sobre cada um dos doentes e era clara e eficiente nos diagnósticos.
Um dos residentes chefes falava dela com um dos colegas.
- Não compreendo. - disse. - De manhã, as queixas sobre a doutora Taft são cada vez mais frequentes. Comete muitos erros.
- Bem, esse é o retrato da doutora Taft. Mas, à tarde, ela é absolutamente brilhante. Os diagnósticos são corretos, os apontamentos são maravilhosos e responde sem a mínima hesitação. Deve tomar algum comprimido milagroso que atua somente à tarde. - Coçou a cabeça. - Estou bastante intrigado.
O Dr. Nathan Ritter era um homem que vivia e trabalhava segundo as regras. Embora lhe faltasse o brilho da inteligência, era uma pessoa apta e dedicada que esperava ver as mesmas qualidades naqueles que trabalhavam com ele.
Honey teve o azar de ser designada para a sua equipe.
A primeira parada foi numa ala que continha uma dúzia de doentes. Um deles estava terminando o café da manhã. Ritter olhou para o gráfico aos pés da cama.
- Doutora Taft, o gráfico diz que é seu doente.
- Sim - concordou Honey.
- Ele vai fazer uma broncoscopia esta manhã.
Honey afirmou, abanando a cabeça:
- Correto.
- E permite que ele coma? - perguntou o Dr. Ritter. - Antes de uma broncoscopia?
Honey respondeu:
- O pobrezinho não come desde...
Nathan Ritter voltou-se para o assistente:
- Adie o exame. - Começou a dizer algo a Honey e depois controlou-se. - Vamos continuar.
O doente seguinte era um porto-riquenho que tossia muito. O Dr. Ritter examinou-o.
- De quem é este doente?
- Meu - disse Honey.
Franziu a sobrancelha:
- A infecção dele já devia ter melhorado. - Olhou para o gráfico. - Está dando-lhe cinquenta miligramas de ampicilina quatro vezes ao dia?
- Exato.
- Não é nada exato. Está errado! Tem que dar quinhentos miligramas quatro vezes ao dia. Você cortou um zero.
- Peço desculpa, eu...
- Não é de admirar que o doente não esteja melhor! Quero que altere isso imediatamente.
- Sim, doutor.
Quando se aproximaram de outro doente de Honey, o Dr. Ritter disse impacientemente:
- Ele tem uma colonoscopia marcada. Onde está o relatório de radiologia?
- O relatório de radiologia? Oh. Esqueci-me de mandar fazer.
Ritter deitou um longo olhar especulativo a Honey.
A partir daí, a manhã correu normalmente.
O doente que viram a seguir lamentava-se de dores:
- Tenho tantas dores. O que se passa comigo?
- Não sabemos. - respondeu Honey.
O Dr. Ritter olhou para ela:
- Doutora Taft, pode chegar um momento aqui fora? - No corredor, disse: - Nunca, nunca diga a um doente que você não sabe. A senhora é a pessoa que eles esperam que os ajude! E se não souber a resposta, invente uma. Compreendeu?
- Não me parece justo...
- Não lhe perguntei se parecia justo. Faça apenas o que lhe foi dito.
Examinaram uma hérnia hiatal, um doente que tinha feito feitiços em si mesmo, um doente que sofria da doença de Alzheimer e duas dúzias de outros.
Assim que a ronda terminou, o Dr. Ritter dirigiu-se ao gabinete de Benjamin Schober.
- Temos um problema - disse Ritter.
- O que se passa, Nathan?
- É um dos nossos residentes. Honey Taft.
" Outra vez!"
- O que há com ela?
- É um desastre.
- Mas teve tão boas recomendações!
- Ben, é melhor livrar-se dela antes que o hospital se envolva num problema grave; antes que ela mate um ou dois doentes.
Schober pensou nisso durante um momento e depois tomou uma decisão.
- Certo. Vou mandá-la embora.
Virgínia esteve ocupada operando durante quase toda a manhã.
Assim que ficou livre, foi conversar com o Dr. Schober a fim de o informar das suas suspeitas sobre Petter Bowman.
- Bowman? Tem a certeza. Quero dizer... Não vi sinais de vício.
- Ele não a usa - explicou Virgínia. - Vende-o. Vive como um milionário com um salário de residente.
Ben Schober concordou:
- Muito bem. Vou verificar. Obrigado, Virgínia.
Schober mandou chamar Bruce Anderson, chefe da segurança.
- Talvez já tenhamos identificado o ladrão da droga - disse-lhe Schober. - Quero que vigie o doutor Petter Bowman.
- Bowman? - Anderson procurou esconder o espanto. O Dr. Bowman estava sempre oferecendo charutos cubanos e outros pequenos presentes. Todos gostavam dele.
- Se ele entrar no pocionário, reviste-o quando sair.
- Sim, senhor.
Petter Bowman dirigia-se ao pocionário. Tinha ordens a cumprir. Muitas ordens. Tudo começara como um acidente oportuno. Trabalhara num pequeno hospital de Ames, lutando para sobreviver com o salário de um residente. Gostava de champanhe e de cerveja e, por fim, o destino tinha-lhe sorrido.
Um dos seus doentes que recebera alta do hospital, telefonou-lhe uma manhã.
- Doutor, estou cheio de dores. Tem de me dar qualquer coisa.
- Quer baixar outra vez?
- Não quero deixar a minha casa. Não me pode trazer qualquer coisa?
Bowman pensou no caso:
- Está bem. Passarei aí quando sair.
Quando visitou o doente, levava um frasco de fentanil. O doente agarrou nele:
- Que maravilha! - disse, sacando um maço de notas. - Tome.
Bowman olhou para ele, surpreendido:
- Não tem de me pagar nada.
- Está brincando comigo? Isto aqui é como ouro. Tenho muitos amigos que lhe pagarão uma fortuna se lhes trouxer disto.
E foi assim que tudo começou. No espaço de dois meses, Bowman fazia dinheiro como jamais tinha sonhado ser possível. Infelizmente, o diretor do hospital soubera o que estava se passando. Temendo um escândalo público, disse a Bowman que se ele saísse sem alarde, nada ficaria registado na sua ficha.
"Ainda bem que saí" - pensou Bowman. "Londres tem um mercado muito maior."
Chegou ao dispensário. Bruce Anderson, um bruxo de quase dois metros de altura, estava de pé no lado de fora. Bowman cumprimentou-o:
- Olá, Bruce.
- Boa tarde, doutor Bowman.
Cinco minutos mais tarde, quando Bowman saiu do pocionário, Anderson disse:
- Desculpe, mas vou ter de revistá-lo.
Petter Bowman olhou para ele:
- Me revistar? De que é que está falando, Bruce?
- Peço desculpa, doutor. Temos ordens para revistar todos os que utilizam o pocionário. - mentiu Anderson.
Bowman estava indignado:
- Nunca ouvi tal coisa. Recuso-me totalmente!
- Então terei de lhe pedir que me acompanhe ao gabinete do doutor Schober.
- Tudo bem! Ele vai ficar furioso quando souber disto.
Bowman entrou de rompante no gabinete de Schober:
- O que se passa, Ben? Este homem quis me revistar!
- E você recusou-se a ser revistado?
- Com certeza.
- Está bem. - Schober pegou no telefone. - Vou permitir que o Ministério venha fazê-lo. - E começou a discar.
Bowman entrou em pânico:
- Espere! Não é necessário. - O rosto ficou subitamente mais sereno. - Oh! Já sei do que é que se trata! - Meteu a mão no bolso e tirou um frasco de fentanil. - Fui buscar isto para utilizar numa operação e... Schober disse calmamente:
- Esvazie os bolsos.
Um olhar de desespero surgiu no rosto de Bowman:
- Não há motivo para...
- Esvazie os bolsos!
Duas horas mais tarde, o Serviço de combate às drogas do Ministério da Magia recebia uma confissão escrita e os nomes das pessoas a quem Bowman tinha vendido drogas.
N/A: Ui,ui quem diria que o Petter tava roubando Fentanil... Nem eu desconfiava hehe! Bem não sou muito boa para escrever aqui então tchauzinhu e até o próximo. Não esqueçam de deixar reviews.
