A Espada do Coração

Capítulo 2: O Tigre à espreita e o Lobo de Mibu



Os dois homens ficaram durante algum tempo se observando. Olhares gélidos e sorrisos sarcásticos eram lançados e devolvidos com expressões que ambas as partes entendiam bem. Entre eles, não era necessário palavras para se fazer entender, ambos eram homens frios, sem sentimentos, capazes de passar por cima de tudo e de todos regidos pelo seu código de honra.

Enishi virou sua cadeira de costas para o policial, ficando diante da imensa parede de vidro que cobria os fundos do recinto. Dali, podia então observar o seu belo jardim oriental, que há anos atrás sua querida irmã arquitetara.

- Então, senhor Saito, espero que tudo esteja saindo como o planejado.

- Tudo está sob controle. – Saito respondeu sem pestanejar.

Enishi sorriu e ajeitou os pequenos óculos escuros.

- Então o que faz aqui? Que eu saiba, informei ao senhor que apenas assuntos de extrema urgência seriam tratados pessoalmente.

- Não está cumprindo com o combinado, Yukishiro. – o policial fez uma pausa para acender um cigarro – quero Battoussai fora da cadeia.

Enishi voltou sua cadeira em direção a Saito e depois levantou-se com as mão cruzadas para trás.

- Mas, por quê a pressa, senhor Saito? Deixe que Battoussai definhe na prisão. Depois, terei o prazer de libertá-lo para entregá-lo aos seus cuidados.

- Quero que Battoussai esteja vivo e em boas condições. Um morto vivo não me interessa.

O anfitrião levou a mão direita ao queixo, acariciando-o de leve e começou a percorrer o escritório em passos lentos.

- Entendo...o senhor quer que Battoussai esteja em condições de luta, para que assim possam travar um combate.- o homem de cabelos brancos sorriu de forma meiga, como se apreciasse aquela conversa – pelo visto, o prisioneiro tem muitos inimigos. Não se preocupe, eu não trairei o senhor. Pelo menos não ainda.

Enishi parou diante de uma imensa estante de mogno, repleta de livros e objetos de arte. Mas o que realmente chamou sua atenção foi o retrato de uma bela jovem, que possuía os cabelos negros presos em um alto rabo de cavalo e olhos intensamente azuis. Sorriu novamente.

- Eu tenho outros assuntos a tratar. Depois disso, terá Battoussai para você, contanto que o coloque na cadeia novamente, quando terminar.

Saito encostou-se na parede próxima a porta, e jogou o toco de cigarro no chão.

- Case-se logo com a garota Kamyia e solte Himura. Eu não tenho tempo a perder com as suas encenações idiotas.

O jovem de cabelos brancos gargalhou alto ao ouvir tal afirmação.

- O senhor é um tanto ansioso! Tenha calma... tudo sairá como o previsto. Apenas espere que eu me case e então Battoussai será assunto seu. Eu acho que já terminei com ele.

Formou-se um pequeno sorriso no canto dos lábios do policial. Ele levantou o rosto, cruzou os braços e fitou o homem a sua frente.

- Por que tudo isso? Por acaso tem medo que Himura lhe roube a noiva?

Enishi abriu um pequeno sorriso sarcástico, e mirou os olhos do policial.

- Senhor Saito, acho que esse assunto não lhe interessa. Mas se insinuar novamente que temo o idiota do Battoussai, - o sorriso se abriu ainda mais e ele concluiu calmamente – terei o prazer de mandá-lo para a cadeia junto com ele.

Saito deu de ombros. Afinal, aquilo tudo não lhe interessava realmente... tinha um único objetivo quando fora se encontrar com Yukishiro Enishi.

- E quanto a fragata do Shishio Makoto? A polícia japonesa está perto de descobrir o cais, no qual você escondeu-a. Acho mais seguro retirá-la de lá.

- Tem razão. Realmente, o senhor é muito perspicaz. Não se preocupe, já mandei retirá-la de lá e levarem-na para a minha ilha nas proximidades de Tóquio. Tenho certeza de que lá, a fragata estará segura. Em todo o caso, se algo acontecer e atrasar a retirada da fragata, tenho certeza de que o senhor poderá dar um jeito. Suborne alguns policiais, eu pago o preço.

Saito descruzou os braços e abriu a porta, indicando que a conversa estava encerrada.

- Como quiser, Yukishiro. Mas lembre-se, eu quero o Himura solto logo depois de Ter os seus assuntos resolvidos. – Dizendo isso, o policial saiu e fechou a porta, deixando para trás um Enishi sorridente. As coisas estavam saindo como ele planejara. Finalmente , a sua Justiça dos Homens estava se realizando.





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Yahico percorria o centro de Tóquio com um graveto nas mãos, deslizando-o nas grades de um parque. Estava assobiando uma canção qualquer quando ouviu alguém lhe chamando. Virou-se para trás e viu correndo em sua direção, a sua colega de classe e grande amiga, Tsubame.

- Caramba, Yahico - ela falava enquanto mantinha as mãos no lado esquerdo do peito, tentando tomar fôlego. – Você anda rápido mesmo. Eu estou há um tempão tentando te alcançar. Aonde vai a essa hora, por acaso esqueceu que temos aula depois do almoço?

- Claro que não! Eu sei muito bem das aulas – ele começou a andar novamente – simplesmente não estou afim de assistir hoje.

A garota correu novamente até ele e segurou seu braço, impedindo-o de se afastar dela.

- Por que faz isso?

- Por que faço o quê?

- Por que mata aulas fingindo que é um garoto rebelde, sendo que não é? Eu sei que o assunto dos seus pais te incomoda muito, assim como o casamento da sua irmã, mas não acha que está tomando atitudes muito infantis?

O garoto piscou uma centena de vezes, tentando assimilar o fato de Tsubame saber tanto sobre ele. Como ela percebia tudo isso? Será que os seus sentimentos eram transparentes por acaso? Se recompondo rapidamente, para que a garota não percebesse a surpresa nos seus olhos, puxou seu braço e voltou a caminhar, só que desta vez, mais calmamente.

- Não tem nada a ver o que você disse. Eu simplesmente não estou afim hoje, só isso. Agora, acho melhor você voltar, se não quer se atrasar para a aula.

- Você mente muito mal, sabia? – a garota voltou a se aproximar dele – mas tudo bem se não quer falar sobre isso. O que você vai fazer agora?

O garoto estava boquiaberto. Ela tinha percebido que ele mentira. Mas como? Ele sempre enganava todo mundo com as suas mentiras, como ela conseguira perceber? Antes que pudesse continuar pensando, a garota disse algo que o fez voltar sua atenção à ela.

- Eu vou com você.

- O que?

- Eu vou com você, aonde você for. - ela completou calmamente.

- Você vai matar aula?

- Não é bem assim. As próximas aulas são de biologia.. eu não curto muito ficar abrindo sapos.

(PS: por incrível que pareça, esse é uma das atividades da aula de biologia dos japoneses do Ensino Fundamental. Quem me contou foi uma amiga japonesa que veio morar no Brasil)

- Por que vai matar aula comigo?! – O garoto falou abismado, não engolindo a desculpa da aula de biologia.

Tsubame tocou delicadamente as mãos de Yahico e olhou-o com carinho.

- Eu.. eu me preocupo com você – a garota respondeu, corando.

Yahico corou também e, para tentar esconder o rubro de sua face, virou-se de costas. Apesar disso, abriu um sorriso, era bom saber que alguém se preocupava com ele, principalmente num momento em que ele se sentia tão sozinho.

- Está bem...você quer ver como eu bato um flip de 360° e dou um olê maneiro com o skate?

(PS: Por favor, se tiver algum skatista lendo este fic, desculpe-me se escrevi algo errado.. eu não entendo muito de skates)

A garota sorriu para ele – Claro que eu gostaria, contanto que depois a gente estude um pouco para a prova de matemática que vai ter amanhã.

O garoto cruzou os braços e fez uma cara emburrada..

- Você não muda, não é, Tsubame? Sempre tentando me fazer estudar, né? – ele suspirou – tudo bem vai, desta vez passa. Vamos lá em casa para apanhar o skate.

Na verdade, não se importava em estudar um pouco, gostava da companhia da garota. Já que ela era a sua única e melhor amiga, pois, além de estudarem juntos, eles trabalhavam em um restaurante, o Akabeko. Ela, por precisar ajudar a família e ele, por insistência de seu pai que queria que o filho se acostumasse a trabalhar desde cedo.

- A sua irmã não vai estranhar de você estar saindo tão cedo do colégio?

- Que nada... essa hora ela tá na casa do "quatro olhos" – ele fez uma careta ao lembrar-se de Enishi – não tem problema. Vamos!





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- Eu não me demoro! É só pegar aquela revista para a Misao e já podemos ir.

Kaoru abriu a porta de casa apressada e subiu as escadas, enquanto gritava para Enishi que a esperava dentro do carro. Quando a moça retornou, encontrou o noivo fechando a porta de entrada.

- Eu pensei que você estivesse com pressa para me deixar na Misao e depois ir para o escritório..

Enishi se dirigiu ao sofá e sentou-se calmamente.

- Eu sei, mas eu liguei para lá e me disseram que a minha reunião foi adiada. Além do mais, - afrouxou a gravata antes de responder – eu não tive uma manhã muito agradável, Koishi.

- Algum problema sério? – a garota perguntou educadamente, como se estivesse se dirigindo a um estranho.

- Nada demais. Apenas...- ele ponderou antes de continuar - digamos que não se fazem mais policiais como antigamente, como diria o seu pai. Mas não precisamos falar disso, venha aqui.

Kaoru sorriu levemente e se sentou ao lado de Enishi, tomando o cuidado em manter uma certa distância entre eles.

- O que foi, minha querida? Não vá me dizer que ainda não se sente a vontade comigo?

- Do que está falando, Enishi?

- Estou falando disso! – foi o que ele respondeu, antes de se aproximar da noiva, a enlaçando pela cintura e beijando-lhe profundamente.

Kaoru foi pega de surpresa pelo noivo, não esperava que ele a estivesse beijando daquela forma tão avassaladora. Assim que conseguiu raciocinar, colocou suas mãos nos ombros do rapaz, o afastando de si.

Enishi nem mesmo tentou responder, apenas a puxou novamente para si e, enlouquecido de desejo, começou a beijar-lhe a nuca, até que chegasse bem próximo ao seu ouvido.

- Eu sei que você quer.. – foi tudo o que ele conseguiu sussurrar.

- Não, Enishi... não desse jeito.- ela empurrou-o de forma brusca, para que o moço realmente percebesse que ela não queria.

O jovem executivo se levantou e suspirou, olhando para um ponto qualquer da imensa janela que dava para a rua. Ficou assim durante minutos, deixando Kaoru um tanto quanto assustada. Ela sabia que os homens não gostavam de serem rejeitados, principalmente homens como Enishi, que jamais são rejeitados, muito pelo contrário. Enishi sempre fora o mais desejado, o mais cobiçado, ela sabia que, desde os tempos de escola, ele saía com quem quisesse, a hora que quisesse. Todas as garotas o achavam lindo, com aquele olhar penetrante e aquele ar de superioridade que o envolvia.. para ela, o moço não tinha nada de magnífico. Acreditava que o seu olhar tinha muito mais de negro do que de penetrante, como se sua alma fosse má por natureza. A energia que o envolvia era perversa e forte, como se pudesse cortar a pele, quando ele se enfurecia. Era por essa e outras razões que Kaoru não queria se entregar a ele, sentia medo. Jamais faria amor com alguém que lhe causasse calafrios deste tipo. Mas Enishi sempre deixara claro que desejava muito mais que meros olhares doces e beijos singelos e ele havia se tornado mais insistente, desde que o sr. Kamiya falecera.

- Qual o seu problema, afinal? – ela o ouviu perguntar, com uma certa ansiedade e nervosismo na voz. Antes mesmo que ela pudesse responder, ele olho-a de forma debochada – Que pergunta mais estúpida! O que te perturba é o idiota do Himura, não é?!!!!

Enishi se aproximou da noiva e, abruptamente, a pegou pelos braços, chacoalhando-a fortemente.

- Responda! Anda, por que não me responde, ou já se esqueceu de que ele é suspeito de ter matado o seu pai, hein?!!!

- Enishi, por favor – Kaoru lacrimejava e tremia de pavor – me solte, está me machucando.

O jovem percebeu que realmente estava machucando a noiva, ao ver seus dedos marcados na pele alva dela. Soltou-a com cuidado e afastou-se. Ele não deveria perder o controle, não agora que finalmente afastara Battoussai do ser mais precioso para ele.

- E para mim também – pensou. Quando Tomoe ainda era viva, ele jamais pudera amar uma mulher de verdade. Dormira com muitas, mas apenas por diversão, por sexo. Tomoe ocupava todo o seu coração, no qual só havia espaço para o sentimento singelo e puro, destinado ao ser que sempre cuidara dele com todo o amor. Após a morte da irmã, graças ao infeliz do Battoussai, ele ficara só, totalmente só. Possuía muito dinheiro era verdade, mas jamais o dinheiro fora capaz de preencher o vazio que sentia... foi quando conheceu Kaoru, a única mulher que se comparava a sua irmã.. tudo nela era igualmente perfeito, mas Battoussai percebera isso também, porém desta vez, ele não perderia, ele venceria o homem que mais odiava na terra.

- E eu venci...- pensando isso, virou-se para a noiva com um sorriso cálido nos lábios.

- Meu amor, me desculpe.. mas eu não entendo esse seu puritanismo todo. Pra quê tudo isso se vamos nos casar em menos de três meses?

- Enishi.. eu... bem, acho que não estou preparada.

Ele sorriu de forma meiga, parecia que seria um pouco mais trabalhoso do que ele pensava. Mas nada que fosse além de dez minutos.

- Querida, eu sei que você está assustada, afinal, é a sua primeira vez. Mas você sabe que eu jamais a machucaria, não é?

Ele se ajoelhou diante dela e tomou-lhe os braços, de forma cálida, acariciando-os de leve. Aproximou-se devagar da noiva e, dizendo-lhe palavras confortantes, foi encostando os seus lábios nos dela.

- Enishi, eu...

- Shhhh... fique calma, minha querida. Eu estou aqui...

Será que ele não compreendia que esse era o problema? Ele estar perto demais? Mas ela não teve muito tempo para raciocinar.. pois ele agora, a estava empurrando, delicadamente, contra o sofá.. em pouco tempo, a moça estava deitada e Enishi, sobre ela, a beijava por todos os lados.

O que eu faço, Meu Deus?!! Tenho medo de ele se enfurecer se eu...

Enishi avançava cada vez mais pra cima da noiva, enquanto que ela se sentia assustada e acuada.

Porém, de forma inesperada, a porta da sala se abriu num estrondo, Yukishiro levantou o rosto e, com uma expressão contrariada, saiu de cima de Kaoru. A jovem, cobriu-se com a blusa, que o noivo havia tirado dela, e arregalou os olhos ao fitar Yahico, parado a porta, com os punhos fechados e a expressão séria, demonstrando uma raiva descontrolável.

- Mas que diabos está acontecendo aqui? – o garoto gritava a plenos pulmões.

- Yahico...- antes que pudesse terminar, Kaoru foi interrompida pelo noivo.

- O que você acha que estava acontecendo aqui, pirralho?

- Como você ousa encostar na minha irmã?!!

- "Como eu ouso?" Não seja estúpido!! Ela é minha noiva!! Encosto nela quantas vezes quiser!!!

- Ora seu... eu acabo com você!!! Meu pai pode não estar mais aqui, mas eu ainda sou homem para defender a minha irmã!!!

Enishi riu de forma debochada e, propositadamente alto, para irritar o garoto.

- Você? Homem para defender a sua irmã? Faz-me rir!!

Kaoru assistia a tudo meio que petrificada, mas quando percebeu que Yahico pularia no pescoço de Enishi e este, com certeza não ficaria apenas tentando se defender, resolveu agir.

- Já chega!!! Vocês dois parem agora!!! Yahico, suba já para o seu quarto!!

Ele fitou a jovem de maneira surpresa enquanto Enishi, sorria satisfeito.

- Mas como? Kaoru.. eu estava te defendendo...

- Eu não preciso que me defenda do meu próprio noivo!! Papai ficaria muito envergonhado se soubesse destas suas atitudes, mocinho!

A jovem sentiu doer o seu coração ao perceber que, no fundo do olhar do irmão, podia se ver muita dor e tristeza, devido ao que ela acabara de pronunciar...as lágrimas começaram a escorrer no rosto de ambos.

- Sabe do que eu acho que ele sentiria mais vergonha? De ter uma filha que se deixa manipular , como uma bonequinha marionete, sem vontade própria alguma!! – ele correu escada acima, em direção ao seu quarto.

- Yahico!! Yahico espere!!- Ela subiu atrás do irmão.

Enishi cruzou os braços e bufou, impacientemente. Justo agora que tinha quase conseguido dobrar a noiva, tinha que aparecer aquele pirralho idiota?!

- É.. com licença, senhorYukishiro..

Ele se virou e notou uma garotinha parada a porta com o olhar meio assustado, meio envergonhado.

- E você, quem é? – Perguntou de forma fria.

- Eu.. sou uma amiga do Yahico do colégio...- Tsubame suava frio depois de presenciar toda aquela situação.

Enishi sorriu falsamente.

- Há, claro!!! Coleguinha do Yahico, né? Entre, por favor!! Não se impressione com o que acabou de ver.. briga entre irmãos, sabe?

A jovem acenou com a cabeça e entrou, ainda meio receosa indo se sentar no sofá. Enishi colocou as mãos no bolso do terno e encostou-se na parede. Agora, além de ter que conquistar Kaoru, teria que conquistar aquele imbecil do irmão dela!!! Mas que coisa!!! Ter que aturar crianças inúteis como ele e aquela menininha!!!





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Kaoru suspirou tristemente.

- E foi isso que aconteceu, Misao...

A jovem amiga, não se conteve e começou a rir, irritando Kaoru.

- Ei! Não é para rir não viu? A situação é séria!!

- Desculpe, Kaoru, mas é que é tão fácil perceber..

- Perceber? Perceber o quê?

- Que o Yahico está com ciúmes da sua querida Onii-san!!

- Claro que não!! O Yahico nunca teve ciúmes de mim!!

- É.. isso até vocês perderem... –Misao parou o riso instantaneamente e sentiu remorso em continuar – você sabe..

- Sim, eu sei.. – A moça do rabo de cavalo fitava um ponto qualquer, para não começar a chorar. – Pode até ser, mas..

- Mas..

- Ele vive falando no.. você sabe!!

Misao respirou fundo e rodou os olhos.

- No Himura, você quer dizer..

- Não precisa falar o nome dele – Kaoru recriminava a amiga, como se ela tivesse pronunciado algo profano ou impuro.

A jovem mocinha se aproximou da outra, que até agora se mostrava sentada ao parapeito da janela. Misao chegou-se e delicadamente, segurou uma das mãos da amiga entre as suas, tentando passar confiança.

- Kaoru, você tem parar com essa obsessão pelo Himura – ela mirava a amiga com um misto de pena e misericórdia.

- E quem disse que eu ainda penso naquele baka?! – ela não havia gostado nada daquele olhar de piedade e muito menos de ver que, pela afirmação da colega, os seus sentimentos continuavam a ser transparentes, como água cristalina, através de seus lindos orbes azuis.

- Você não precisa mentir pra mim e sabe disso – Misao cruzou as mãos no peito – além do mais, mesmo que eu não te conhecesse tão bem quanto conheço, poderia adivinhar que você ainda pensa nele. Tem que parar de temê-lo, como se ele fosse tão sagrado ou asqueroso ao ponto de não conseguir pronunciar e nem sequer ouvir o nome Himura.

A verdade era que só de ouvir o nome Himura, ela já sentia calafrios por todo o corpo. Era como se uma ninfa, daquelas da mitologia grega, lhe soprasse a nuca, causando-lhe sensações indescritivelmente boas, misturadas a um medo latente, no exato momento em que a sonoridade do nome dele lhe tocava os tímpanos. Ela sentia o coração acelerar como tinha sentido na primeira vez que o viu, descompassado e rápido, muito rápido. E, como as coisas iam, parecia que se sentiria assim pelo resto de sua vida.

Todas essas lembranças lhe inundaram os olhos de saudades, fechando-lhe a garganta e acelerando a respiração de modo tão desigual, que a impedia de conseguir falar ou até de respirar naturalmente. Logo, Kaoru estava aos prantos. Se abraçou aos joelhos, tentando assim buscar as forças para cessar semelhante dor.

Misao se arrependeu de mencionar o assunto, mas sabia que, se não fosse ela a fazer Kaoru esquecer Himura, ninguém mais o faria.

- Sshhhh... não precisa chorar assim.. – Misao abraçou a amiga, lhe fazendo um cafuné na cabeça.

- Não, sou eu que peço desculpas – ela ainda tinha soluços fortes misturados a voz . Mesmo assim forçou um sorriso fraco e enxugou as lágrimas – Olha que cena que estou fazendo? E eu que tinha vindo para lhe ajudar com os preparativos do casamento.

Misao ignorou o comentário da amiga e olhou-a bem nos olhos.

- Você ainda gosta muito dele, né?

Kaoru mordeu os lábios levemente, para não sucumbir a imensa vontade de chorar novamente.

Apenas acenou um sim com a cabeça.

Misao lhe sorriu de forma doce.

- Mas sabe também que o Yukishiro a ama e muito, não sabe?

A jovem chorosa abriu um imenso "hoo" de espanto e ficou a observar Misao com os olhos arregalados, enquanto que a noiva, se levantava indo olhar-se no espelho.

- Então case-se com ele. Ele lhe fará muito feliz com toda a certeza.

- Mas e quanto ao Ken...- Kaoru ainda ao parapeito, tinha uma carinha interrogativa, mas Misao impediu-a de continuar com a pergunta.

- Kaoru, certos amores não são feitos para ser, por mais que se queira... Aprender a amar, ás vezes é necessário.

- Assim como você aprendeu a amar Aoshi?

- Não – ela sorriu docemente mais para si mesma, por se lembrar do noivo. – no nosso caso, eu sempre soube que era amor, vindo tanto de mim quanto dele. Talvez um bocado maior de mim, é verdade, mais com certeza, ele também sempre sentiu o mesmo. Eu esperaria por ele toda a vida.

Misao voltou a mirar Kaoru.

- Daí você me perguntaria por quê é diferente entre você e o Kenshin... mas eu, infelizmente, só posso te responder com outra pergunta: Sente que o amor dele ainda é verdadeiro?

Kaoru sentiu a dúvida bater-lhe o coração... por mais que não quisesse admitir, ela não tinha a resposta sim para aquela pergunta. Ela não sabia.

- Case-se com Yukishiro e aprenda a amá-lo. Você será tão feliz como se estivesse casada com o Himura. – Fez-se silêncio no quarto por instantes – E vamos parar com essa conversa e falar de coisas alegres, como por exemplo, o kimono que você usará no meu casamento...

Misao voltou a falar de forma descontrolada e sem pausa, como era geralmente, e Kaoru se perguntava como sua amiga podia parecer tão tagarela e infantil e, ao mesmo tempo, tão madura, tão cheia de si e conhecedora do amor.. muito mais do que ela própria... sentia uma pontinha de inveja dela, afinal, a amiga havia conquistado o amor do homem com o qual sonhara...hum.. conquistado não, porque, Aoshi, por detrás de toda aquela cortina fria e impenetrável, amava intensamente a noiva...por quê com ela e Kenshin não podia ser da mesma forma?

-Misao – Kaoru interrompeu a amiga – Obrigada, por tudo!! Desejo que seja muito feliz. - ela dizia mirando a noiva, enquanto se levantava e lhe apertava as mãos , como as suas tinham sido apertadas há minutos atrás.

Misao sorriu em agradecimento.





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- Ai! Não precisa apertar tanto!

- Eu aperto o quanto achar que devo apertar, Tori Atama!! – Megumi tinha uma expressão nada feliz no rosto, vendo Sano reclamar daquela maneira. Quem era ele, afinal, para falar alguma coisa, depois de aparecer quatro vezes na mesma semana, com a mesma mão direita estourada ?! Além de lhe dar um enorme trabalho!!

A enfermaria se tornou silenciosa por alguns instantes, assustando os prisioneiros que esperavam ser tratados no corredor. Geralmente, quando Sano ia ao consultório, com o punho todo ensangüentado, os dois começavam a discutir assim que se viam.. então, Megumi puxava o lutador pelo punho, fazendo-o gritar de dor, e o arrastava para dentro da sala, batendo a porta. Depois podia ouvir-se duas vozes, nervosas e alteradas, falando sem parar e ao mesmo tempo. Daí as coisas começavam a voar pela sala... tudo o que se pudesse imaginar, até cadeiras atravessavam os lados, desafiando as leis da gravidade..

- Pronto! Acabei! – ela se levantou retirando o lenço que prendia os espessos cabelos negros, utilizando-o para enxugar a testa suada.

- Espero que você tenha feito direito desta vez! As faixas que você colocou da outra vez, não duraram nem os primeiros minutos da última luta.

- Ei! Eu sou médica! Não treinadora de luta livre! – Megumi fez uma careta.

- Realmente, você não dá mesmo pra ser treinadora, ô Farmácia!

Ela serrou o cenho e os punhos, espumando de raiva.

- Farmácia?!!! Farmácia?!! Repete se você tem coragem, Tori Atama, repete que eu não sirvo pra nada e você fica sem tratamento pelos próximos seis meses!!!

- Ei calma lá! – Sanosuke se levantou de imediato. – Eu não quis dizer isso.. você sabe, né, Farmáci...digo, Megumi...

Ela olhou-o com um olhar de desprezo, cruzou os braços e, do nada, sorriu diabolicamente.

- Pelo menos não sou eu que dependo do Kenshinzinho pra me ver livre das enrascadas que me meto.

- Por acaso você não está falando de mim, não, né? – ele levantou uma sobrancelha.

- Deixa eu ver – ela colocou o dedo indicador na ponta do queixo como se estivesse pensando em algo muito complexo – quem mais seria idiota de arrumar briga toda a semana, se não tivesse um amigo que o livrasse sempre das punições? Realmente, acho que nem você seria tão estúpido dessa maneira..

Agora fora a vez de Sanosuke ficar vermelho de raiva.

- Eu nunca precisei do Kenshin pra nada!!! Sempre resolvi os meus rolos sem depender de ninguém, ouviu bem?!!!!! NINGUÉM!!!!! Se o Kenshin tem ou não as costas quentes com o delegado Uramura, isso não me interessa! Porque mesmo que seja verdade, o Kenshin nunca usaria de tal ajuda, levando vantagem sobre os outros!!! Você sabe disso!!

- Ei, ei!! Calma aí! Também não precisa ficar tão ofendido! Eu sei muito bem que você não é peso morto pro Kenshinzinho.. era brincadeirinha... além do que, vocês dois tem as costas quentes.. ou acha que um preso comum que destrói o refeitório uma vez por mês, não pega no mínimo, uma semana de solitária? Mesmo se tendo um amigo aqui dentro...mas o que realmente me intriga é o caso do Kenshin. Por que alguém como ele, viria para na prisão?

Enquanto Megumi continuava a tagarelar sobre todas as regalias que o lutador e Kenshin tinham, Sanosuke refletia em silêncio. Sabia que aquela Raposa não era boba, lógico que ela percebia que, tanto ele como Kenshin tinham tratamentos ás vezes, digamos, especiais. Mas o que ela ainda não sacava e ele muito menos, era por quê os dois tinham sido presos e nunca conseguiam com que o Tribunal fosse justo, se haviam se sacrificado tanto por aquele governo.

- Eu não sei do que você está falando..- Sano virou-se de costas.

- Lógico que o Kenshin deva ter tratamento diferenciado. Tão forte, inteligente e prestativo.. embora isso não combine mesmo com o fato dele estar aqui.. mas você? Por que um idiota como você teria regalias? – ela falava mais para si mesma, do que para o homem a sua frente

O lutador olhou meio atravessado para a médica. Mesmo tendo uma enorme vontade de responder umas poucas e boas, resolveu mudar o rumo da conversa, antes que Megumi descobrisse que ele e Kenshin trabalharam na organização secreta do governo. O ruivinho tinha razão em alguns pontos, o lutador não conseguia nunca guardar um segredo. Sorriu ao lembrar-se de um assunto que com certeza desconcertaria Megumi.

- Posso até ser um idiota.. mas pelo menos, nunca fui rejeitado por alguém que estivesse a fim.

Megumi mudou totalmente a expressão no momento em que ouviu aquilo. Seus olhos azuis se viram tristes.. com lágrimas escondidas, que queriam derramarem-se pela pele alva.

- Droga! Peguei pesado demais! E agora?!

Se aproximou dela, meio que temeroso e pousou suas fortes mãos no ombro da jovem, porém experiente doutora.

- Também não precisa fazer essa cara! Num lugar como esse, você acha que o Kenshin ia negar fogo pra uma mulher como você? E aposto que, se ainda não aconteceu, assim que acontecer, ele vai acabar te pedindo em casamento no final... sabe como o Kenshin é...

Ele nem sabia o que estava falando direito, mas Megumi ficou feliz em saber que o amigo se preocupava com ela. Virou de costas para rapidamente enxugar uma lágrima que teimou em escorrer pelo rosto.

- Você é um bom amigo, Tori Atama – encarou-o nos olhos antes de continuar – mas, mesmo depois de eu ter optado por estar ao lado dele aqui, ele ainda pensa naquela garota.





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Sanosuke saiu apressado do consultório de Megumi. Kenshin havia entrado correndo lá, e havia mandado-o segui-lo.. agora os dois andavam rápido pelos corredores imensos de uma das alas do presídio e, se ele não se enganava, os corredores pintados de azul, como eram aqueles em que eles estavam agora, levavam em direção a parte administrativa. Andaram muito, como se não houvesse fim, desceram enormes escadas durante alguns minutos. Quando finalmente pararam, estavam diante de uma porta de aço, numa área que ele, pelo menos, nunca havia estado.

- O que é isso, Kenshin? Que lugar é esse afinal, cara?

Kenshin não se limitou a responder. Apenas abriu a porta.

A sala estava meio que na penumbra, mas Sano não deixou de perceber três silhuetas e rostos muito conhecidos. Arregalou os olhos ao notar, ao lado da figura do delegado Uramura, os senhores Hajime Saito e Shinomori Aoshi.



Terá continuação



/...../


Lay Ayath: querida, eu agradeço mto pelo seu review!!! Foi o meu primeiro!!!! Eu fiquei muito feliz de recebê-lo!!!!!! Respondendo a sua pergunta, o Shishio talvez apareça sim, mas ainda não é certeza. A maioria dos outros personagens aparecerá com o tempo, e não são só esses que você viu no primeiro capítulo, eu ainda tenho que terminar de apresentar todos os outros personagens, portanto tem muito mais gente que vem por aí!!!

Madam Spooky: Oiê, Spooky!!!! Eu agradeço muito pela paciência comigo e queria dizer que você é muito legal e muito fofa!!!! Fiquei feliz pela minha chantagem ter funcionado ^.^...hehehe Viu só? Você e a Chibi atualizaram e isso me deixa imensamente feliz!!!!! Acho que vou usar desta técnica mais vezes!!!!

Primulla: Ah Pri!! Eu nem preciso dizer que a sua aprovação, é a coisa mais importante pra mim!! Eu nem tinha noção de como fazer as coisas e montar a fic.. você me ajudou em tudo!! Por isso essa fic também é um pouco sua!!! Muito obrigada!!!!

Anna Lenox: Anna, minha amiguinha fofa!!! Eu tô devendo a atenção que a sua maravilhosa fic merece. U.U mil desculpas... eu preciso me reorganizar porque quero continuar sendo a sua pre-reader oficial!!!! Eu prometo que o próximo capítulo de "Entre a Cruz e a Espada", eu reviso e ninguém tasca!!!

Rafa Himura: ai,ai,ai.. nem tenho palavras pra descrever como fiquei feliz ao ler o seu review, Rafinha (posso te chamar assim?), eu ainda não tive tempo de ler a sua fic, mas tenho certeza de que você é uma grande escritora a ser descoberta, pois já ouvi elogios ao seu respeito ^.^ Prometo arrumar um tempinho e conhecer o seu trabalho!! Muito obrigada por conhecer e opinar o meu!!!!





Oi Gente!!!!!! U.U Eu sinto muito mesmo!!! Sei que houve algumas pessoas que mandaram reviews e eu agradeço imensamente a elas!!!! Mas a verdade é que eu realmente estive sem tempo ultimamente!!! Essa porcaria de terceiro ano, somada ao cursinho tem me deixado meio biruta @__@
Fora que eu, como grande entendedora de inglês e das regras do FF.net, demorei mto até entender certos macetes ^ . ^'
Mas vamos ao capítulo... eu sei que estou sendo meio má... certo, certo.. bem má. Mas também, se eu não coloco uma "deixa" no final, quem disse que vocês lêem depois?!! ^ . ^Hehehe.. Mas realmente, eu deixei esse finalzinho, digamos, mais curioso, para entrarmos na história de fato. No próximo capítulo, eu encaminharei os focos principais da fic, (espero eu que assim seja!) satisfazendo a vontade da Spooky, que tá doida pra saber sobre os planos do Enishi.
As coisas vão começar de fato!!! E prometo atualizar mais rápido!!!!
Agradeço novamente a paciência que vocês que leram, tiveram com essa escritora biruta e novata!!! Oro! O.o
Ah!! Mas é claro que reviews também são bem-vindos.. pois, como já disse a grande Hana Himura, ( que anda sumida, para o meu total desespero e tristeza ? ) os reviews nos ajudam a escrever e a postar mais rápido, mesmo que estejamos atolados...o que é, infelizmente o meu caso .
Valeu gentem e até a próxima!!