Epílogo

I grieve

N/A: Todos os reconhecíveis personagens, cenários, circunstâncias, etc. pertencem a JK Rowling. Eu não possuo nem um deles nem mesmo os reivindico. A música pertence a Peter Gabriel. Não é minha. Não é minha intenção lucrar com essa história.

I grieve

Eu sofro

It was only one hour ago

Foi apenas há uma hora

It was all so different then

Era tudo tão diferente

Nothing yet has really sunk in

Nada ainda havia realmente penetrado

Looks like it always did

Parece que sempre havia sido

This flesh and bone

Como carne e osso

It's just the way that we are tied in

É simplesmente a forma como nós estamos unidos

But there's no one home

Mas não há ninguém em casa

I grieve for you

Eu sofro por voc

You leave me

Você me deixou

So hard to move on

É tão difícil desencanar

Still loving what's gone

Ainda amando o que se foi

Said life carries on...

Dizem que a vida continua

Carries on and on and on...

Continua e continua e continua...

And on

E continua

Segurando minha filha recém-nascida em meus braços, percebo que há apenas três horas que eu lhe trouxe à vida e ela já conhece a tragédia. Ela nunca irá conhecer seu pai. Claro, ela nem se dá conta disso enquanto passa seus pequenos punhos ao redor de sua cabecinha. Ela é praticamente careca, exceto pelos esparsos tufos de penugem vermelho-alaranjado. Seus cabelos serão encaracolados do jeito que Percy queria. Ele dizia que ele não se importava com a cor dos cabelos dela, contanto que fossem encaracolados como os meus. Faz apenas quatro meses que ele disse isso. Tinham acabado de nos dizer que seria uma menina. Mal sabíamos que depois de mais ou menos um mês, ele nos deixaria.

A guerra terminou um mês depois disso, portanto minha filha nasceu em tempos de paz. Primeiro bebê nascido na era pós-Voldemort, como os funcionários de St. Mungos viviam me lembrando. Todos estavam tão felizes! A guerra praticamente dizimou a população mágica britânica.

Eu tentei me manter forte durante o parto. Todos falavam sobre o quanto iria doer. Eu quase dei graças a Deus pela dor física, depois de ter passado os últimos dois meses entorpecida. Não consegui chorar no funeral, não consegui chorar depois de tudo. Mesmo quando meu trabalho de parto começou, eu ainda me sentia estranhamente à parte.

Mas quando a parte difícil realmente começou, finalmente aconteceu. A cada contração o nome dele era arrancado de meus lábios. Eu tentei me controlar, pelo bem de Molly, mas eu não pude. Apesar disso, ela não chorou. Ela apenas apertou minha mão com mais força, enquanto minha mãe enxugava meu rosto. Quando tudo terminou, minha mãe entregou o bebê para Molly com as mãos trêmulas.

Ela segurou o bebê e olhou fixamente para seu rosto como se ela fosse a oitava maravilha do mundo. Depois que eu já estava limpa, mamãe abriu a porta e deixou todos os ansiosos Weasleys entrarem. O quarto ficou um verdadeiro caos pela meia-hora seguinte, enquanto minha filha passava de mão em mão. Artur chorou abertamente no momento em que ele foi apresentado à sua neta. Todos os meninos ficaram falando sobre os pequenos tufos de cabelo vermelho. Eu não prestei muita atenção a eles, enquanto eu relembrava de outra cena que havia acontecido em outro pequeno quarto de hospital como esse. Eu fico tão concentrada em reviver a memória do pedido de casamento de Percy que eu quase não ouço quando Gina pergunta.

- Como é o nome dela, Penny?

Eu a encaro com uma expressão ilegível por alguns segundos, o que faz com que Molly aja.

- Coitadinha, ela está muito cansada. Vamos deixar a pobre garota sozinha para se recuperar.

Com isso, Molly começa a colocar todos para fora.

- Penny ainda nem segurou sua própria filha! Agora passe ela pra mãe, Rony!

Rony se levanta relutantemente de sua cadeira e lentamente se desloca até mim. Com um terno beijo na testa dela, ele a coloca gentilmente em meus braços.

- Tenha cuidado, Penny.

Depois que a última enfermeira sai, eu sou finalmente deixada sozinha com minha filha. A filha de Percy.

- Como eu vou chamá-la, pequenina? - Eu pergunto alto.

Eu queria que ela abrisse os olhos para ver se ela vai ter os olhos cor de mel do pai dela ou se vão ser azul-cinzentos como os meus. Claro que é difícil de se verificar isso nos bebês. Dói saber que Percy e eu nunca tivemos a oportunidade de discutir nomes, com todo o caos que houve nos últimos dias de guerra. E então, ele se foi. Meu estômago se contrai ao relembrar o bilhete cheio de escárnio que Lúcio Malfoy enviou ao meu sogro, vangloriando-se pelo fato de eles terem finalmente 'acertado' um Weasley.

"Vocês têm tantos filhos, com certeza um a menos não vai fazer diferença," ele escreveu.

Eu estremeço e arrumo o cobertor em torno do meu bebê. Enquanto eu amacio o leve tecido, eu acabo mirando o meu anel de noivado. Mesmo antes de Jorge entrar correndo em St. Mungos com a terrível notícia, eu já sabia. Eu estava atendendo uma outra vítima de um Comensal da Morte, um garoto de oito anos que havia sido atingido pela maldição Cruciatos. Eu esperava apavorada pra ele acordar, pois seria provavelmente eu quem teria que informá-lo que ele agora era um órfão.

Então eu senti aquilo. Foi como se uma pequena bolha de luz se acendesse, a pedra de meu anel tremeluziu por alguns segundos com um pequeno zumbido. Então ela ficou dessa cor roxo-rosado que está até hoje. Quando Jorge irrompeu depois de meia hora, ele foi guiado até a sala dos funcionários, onde eu estava sentada com minha mão esquerda segurando minha barriga crescida, encarando meu anel. Eu levantei o olhar para seu rosto aflito e registrei o fato de que eu nunca havia visto nenhum dos gêmeos com tal expressão. Era contra a natureza. Tão contra a natureza como se tornar uma viúva aos vinte e um anos de idade. Eu segurei Jorge até que os histéricos soluços que sacudiam seu corpo acalmaram.

Minha garotinha se contorce no momento em que uma grande e úmida lágrima desliza pelo meu nariz e molha sua pequena bochecha.

- Eu espero que você não tenha mais tantas tristezas em sua vida, querida. Você tem que ser forte. - eu digo, mais pra mim mesma do que para minha filha. - Então você precisa de um nome forte...

Uma hora depois, há uma tímida batida na porta.

- Quem é?

- Rony.

Adivinhando que Rony deve ficar constrangido se me olhar amamentando-a, eu digo:

- Só um segundo, - me arrumo então rapidamente – OK, pode entrar.

Ele entra timidamente pela porta.

- Penny, eu esqueci que eu havia trazido um presente para o bebê.

Ele tira as mãos de trás de suas costas e mostra um conjunto de vestes laranja horrível.

- Chudley Cannons, você gosta? - ele pergunta sem graça.

- É uma graça. - eu minto.

- Será que eu posso segurá-la mais um pouco? - ele pede timidamente.

-Claro.

Ele a pega em seus braços gentilmente.

- Olhe para esses dedos longos! - ele se maravilha.

- Isso significa que ela vai ser alta como o tio Rony e - eu hesito - como o pai dela.

Rony tira os olhos de sua sobrinha para olhar para mim. Depois de alguns segundos, ele pergunta:

- Você escolheu um nome?

- Pra falar a verdade eu já escolhi, sim. O nome dela é Pietra.

- P-Pietra? - ele gagueja.

- Sim, Pietra. E eu gosto muito desse nome, obrigada. - Eu digo com a voz firme.

- Pietra Weasley... - ele pondera. - Tudo bem, mas tem algum problema seu eu a chamar de 'Pepita'?

- Pepita? - eu pergunto, mas o pequeno ser nos braços dele cativou toda a sua atenção e eu percebo que eu vou ter muito trabalho pra impedir que o tio Rony a mime. O que me lembra...

- Rony, você pode chamá-la de Pepita, contanto que você concorde em ser o padrinho dela.

Rony ergue os olhos pra me encarar com uma expressão espantada. Suas orelhas ficam num violento tom vermelho. Do mesmo jeito de Percy.

- O Percy e eu havíamos discutido a esse respeito antes de ele... antes de ele ter sido tirado de nós. - Eu digo calmamente. - É isso que ele queria.

Rony pisca rapidamente várias vezes e engole em seco sonoramente, antes de perguntar:

- Você tem certeza, Penny?

- Sim, eu tenho certeza. E eu ficaria honrada se Hermione aceitasse ser a madrinha.

- Claro que ela vai aceitar, Penny. Ela vai ficar muito contente quando eu contar a ela. - ele olha pro pequeno pacote em seus braços. -Você ouviu isso Pepita? Eu me tornei tio e padrinho no mesmo dia!

Enquanto Rony diz coisas bobas para o bebê, eu abaixo o olhar para o meu anel e sorrio.

The news that truly shocks

As notícias que realmente chocam

Is the empty, empty page

É a página vazia, vazia

While the final rattle rocks

Enquanto o estrondo final embala

It's empty, empty cage

É uma gaiola vazia, vazia...

And I can't handle this

E eu não posso lidar com isso

I grieve...

Eu sofro...

For you

Por voc

You leave...

Você deixou...

Me

A mim

Let it out and move on

Me libertar e seguir em frente

Missing what's gone

Sentindo falta do que se foi

Said life carries on

Dizem que a vida continua

- Mais rápido, tio Carlinhos! Mais rápido!

A voz de minha neta de oito anos de idade passa pela janela aberta d'A Toca. Sua risada é como lágrimas de fênix em minha alma. Assim como as outras vozes que vem do jardim.

- Carlinhos, segure ela firme! - adverte o Rony.

- Ora, Rony! - diz Gina exasperada. - Você é muito super-protetor. Carlinhos nunca deixou a Pepita cair.

- Mas o Fred já, - salientou Jorge, seguido de um grito. Sem dúvida seu irmão gêmeo havia o esmurrado ou jogado algo nele.

- Só aconteceu uma vez e isso foi há três anos! Além do mais, ela não se machucou, - grita Fred de forma petulante.

- Não, mas ela quicou até a garagem do papai. - disse Gina.

- Só tenha cuidado, certo? - adverte Rony, em um tom de voz que me compele a olhar pela janela para ver se sua preocupação se justifica.

A maior parte da minha prole está envolvida em um barulhento e turbulento jogo de Quadribol. Carlinhos está com minha neta sentada em frente a ele em sua vassoura. Sem ter seus próprios filhos, ele se afeiçoou muito à Pietra e isso é evidente na forma com que ele a segura protetoramente com um braço. As únicas que estão no chão são Gina e Hermione. Os demais: Jorge, Fred, Harry e Rony estão voando ao redor de Carlinhos e Pietra. Para o meu horror, minha nora Angelina também está no ar, apesar do fato de que ela está com seis meses de gravidez! Eu estremeço. Essas jovens bruxas de hoje em dia...

Mas é bom ter a casa cheia novamente. Eles estão sempre tão ocupados que nós não conseguimos nos reunir dessa forma com freqüência. Gui e Fleur passaram por aqui mais cedo, mas já foram embora para que Fleur pudesse descansar. Ela está esperando o nascimento do segundo filho deles pra qualquer dia desses. O Guiminha tem 5 anos de idade. Carlinhos vem bastante aqui para casa desde o seu divórcio. Ele mora em Londres com Jorge. Esses dois são solteirões incorrigíveis. Fred e Angelina estão esperando gêmeos para daqui a três meses. Eles moram em Hogsmead, pois dessa forma Angelina fica mais perto de Hogwarts, onde ela é instrutora de vôo e técnica de Quadribol. Rony e Hermione também estão em Londres. Eles finalmente irão se casar depois de um noivado de cinco anos. Por que eles teriam pressa em se casar? Eles já estão morando juntos por sete anos! Hmph.

Gina e Harry são os mais próximos, tendo se mudado para a vila de Ottery St. Catchpole. Eles surpreenderam a nós todos quando casaram dois anos após o término da guerra. Rony ficou furioso. Ele confrontou Harry e o acusou de se casar com Gina porque ela estava grávida. Mas ela não estava. Eu acho que o Harry finalmente percebeu o quanto Gina realmente o amava e o quanto ele queria se estabelecer e ter a família que ele nunca teve a oportunidade de ter. Mas até agora eles ainda não tiveram nenhum filho. O que é muito bom porque eles estão se divertindo como nunca, compensando a adolescência que a guerra interrompeu.

A guerra, eu penso sombriamente. A guerra é a razão pela qual minha neta não tem um pai. Meu Percy teria ficado tão orgulhoso de sua filha. Ela é uma coisinha linda com longos cabelos ondulados e ruivos, brilhantes olhos azul-cinzentos e um raciocínio aguçado que ela herdou dos pais. Infelizmente, ela puxou muito dos tios também. Em sua última visita, ela causou uma grande comoção ao invadir a garagem do Artur e libertando uma de suas engenhocas trouxas. Eu acho que era um tal de cortador de grama, só que o Artur o havia enfeitiçado para jogar os gnomos para fora do jardim. Ele acreditava que era uma forma boa e humana de se livrar daquelas pequenas pestes. Infelizmente, Pietra ligou a maldita coisa no nível mais alto, o que fez com que chovessem dezenas de gnomos sobre Ottery St. Catchpole.

Vou contar, nós tivemos um trabalhão para fazer feitiços de memória em todos os trouxas que viram aquilo. A mãe dela ficou horrorizada, mas os tios dela acharam tudo brilhante. Eu mesma sorrio com a memória.

- É bom tê-los aqui, não é Molly?

Eu me viro em direção a Artur, que me beija a bochecha. Ele sai, provavelmente para se juntar aos meninos ou então pra mexer nas suas engenhocas trouxas...

Eu me levanto para fazer o jantar, já que as crianças provavelmente vão estar famintas daqui a pouco. Todas as meninas me ofereceram ajuda, mas eu insisti para que elas saíssem e se divertissem. A razão que fez com que todos nós nos reuníssemos hoje foi que nós acabamos de voltar do casamento de Penny. Penny casou com Dave, um colega médico de St. Mungos. Ela estava namorando-o pelos últimos três anos. Eu me lembro como foi difícil para ela nos contar que ela estava interessada em voltar a namorar. Mas nós não poderíamos culpá-la de nada, Percy já tinha partido fazia cinco anos. Mesmo assim, ela soluçou quando contou a mim e a Artur, insistindo que ela sempre amaria Percy. Ela até mesmo tentou me devolver o anel de noivado, já que era uma herança de família, mas eu me recusei tomá-lo de volta. Eu disse para Penny que o anel deveria pertencer a Pietra. Ela finalmente cedeu.

O casamento foi lindo, assim como a noiva. Eu sei que ela será muito feliz com Dave e ele adora Pietra, quase tanto como nós a adoramos. Nós todos fomos ao casamento para mostrar nosso apoio a Penny e Pietra, apesar de ser claro que isso foi muito doloroso para nós. Artur foi quem a conduziu até o altar, já que o pai de Penny havia falecido alguns anos atrás. Foi algo amargo para todos nós. E agora nós ficaremos com Pietra por duas semanas, enquanto Penny e Dave estão em lua-de-mel. Eu suspeito que foi por isso que todos ficaram por mais tempo n'A Toca ao invés de correrem para as suas casas depois do casamento... E eu devo dizer que pra quem gosta tanto de ter Pietra por perto, eles não tem nenhuma pressa em ter seus próprios filhos. Eu acho que Artur realmente ensinou pra esses meninos como se fazer um feitiço Contraceptus. Sete filhos e até agora apenas dois netos. É certo que há três a caminho.

O barulho lá fora aumenta muito e eu olho pela janela bem a tempo de ver Carlinhos, ainda em sua vassoura, segurando a Pietra pelos tornozelos de cabeça para baixo. Ela está dando gritinhos de contentamento. Rony está lívido, voando bem perto, abaixo deles, pronto para agarrar Pietra, caso necessário. Hermione está protestando, porque Pietra ainda está usando suas vestes formais do casamento, que agora estão pendendo sobre sua cabeça. Graças a Deus ela está usando roupa de baixo. Gina está rindo da preocupação de Rony. Eu acho que já está na hora de eu intervir.

- Sonorus, - eu digo, apontando a varinha para a minha garganta. - Carlinhos, já basta! Pietra, já para dentro e coloque um jeans, querida.

Carlinhos relutantemente vira Pietra e a entrega para Rony, que a agarra firmemente. Dois minutos depois Pietra está na cozinha, as bochechas coradas, os olhos brilhando e os longos cabelos bagunçados.

- Vovó! Você me viu? O tio Carlinhos me segurou de cabeça para baixo! Foi tão legal! Eu posso voltar lá pra fora depois que eu me trocar? - Ela não pára de falar nem para respirar.

- Tudo bem, mas nada de ficar voando de cabeça para baixo, certo?

Ela se aborrece por um segundo antes de responder:

- Certo! – e sobe correndo as escadas.

- Ah, e Pietra? Quando tiver terminado volte aqui para a sala pra que eu possa fazer uma trança em seu cabelo.

Eu me sento na minha confortável poltrona para esperar por Pietra. Ela retorna em um espaço de tempo surpreendentemente curto, vestindo jeans e uma camiseta laranja com as palavras 'Chuddley Cannons' estampadas sobre o peito. Outro presente de seu padrinho. Ela ajoelha no chão, à minha frente, e eu começo a correr meus dedos por seu cabelo.

- Vó, eu gosto quando a senhora faz trança em mim. A senhora nunca puxa como a mamãe.

- Sim, bem, - eu murmuro suavemente um feitiço desembaraçador - eu pratiquei bastante na sua tia Gina.

Enquanto vou arrumando os suaves caracóis de Pietra, ela aponta de repente para o relógio na sala de estar.

- Veja vovó, quase todos os ponteiros estão apontando para Quadribol.

Com clareza, eu vejo que os ponteiros de Gina, Rony, Fred, Jorge e Carlinhos estão apontando na mesma direção. Eu sorrio, apesar de ser doloroso, porque eu recordo vividamente da noite em que Percy instalou a palavra 'Quadribol' no relógio. Ele estava substituindo a frase 'você não quer saber'. Nós estávamos rindo, trabalhando no feitiço juntos. Não parece que foi há tanto tempo. É também muito doloroso relembrar que há um ponteiro faltando no relógio. Meu Percy.

Eu faço no cabelo de Pietra uma grossa trança à francesa. Quando eu alcanço a base de seu pescoço, eu noto um colar brilhante de ouro ao redor de seu pescoço.

- O que é isso, querida? - eu pergunto, enquanto arremato o final de sua trança com um laço rosa.

- Isso? - ela coloca a mão dentro da camisa e puxa a corrente. Eu seguro minha respiração na hora. - Mamãe me deu isso antes do casamento. Ela enfeitiçou a corrente para que eu não o perca. Eu não gostaria de perder esse anel, porque ele é muito especial.

- Eu sei, - eu digo gentilmente, correndo meus dedos sobre a grande pedra cor de rosa no anel que pende do colar.

- Meu pai deve ter amado muito a mamãe, pra ter dado pra ela um anel tão bonito. A senhora não acha?

Eu balanço a cabeça silenciosamente, em um sinal afirmativo, com a certeza de que se eu abrisse minha boca, eu perderia o controle.

- E sabe, vovó? Ter esse anel faz com que eu sinta como se o papai estivesse perto de mim.

Eu seguro seu pequeno rosto em minhas mãos.

- Sim, Pietra, eu sei.

Life carries on in the people I meet

A vida continua nas pessoas que eu conheço

In every one that's out on the street

Em cada um que está lá fora na rua

In all the dogs and cats

Em todos os cachorros e gatos

In the flies and rats

Nas moscas e ratos

In the ashes and the dust

Nas cinzas e na poeira

Life carries on and on and on...

A vida continua e continua e continua...

Life carries on and on and on...

A vida continua e continua e continua...

And on

E continua

- Você está nervosa?

- Tio Rony, pára de me perguntar isso!

Minha sobrinha Pietra brinca com o anel que pende de um cordão ao redor de seu pescoço, e olha para fora da janela do táxi. A Londres trouxa passa em flashes pela janela borrada pela chuva. Hermione, que está sentada à minha direita, me cutuca nas costelas.

- O que é? - eu sussurro.

Ela levanta uma sobrancelha me direcionando o olhar 'Rony-Você-Está-Sendo-Um-Grande-Idiota'. Aparentemente, ela acha que pode fazer melhor. Ela limpa a garganta, arruma o vestido sobre sua redonda barriga de oito meses e diz:

- Pietra, querida, você vai se divertir muito em Hogwarts! A diretora McGonagall é maravilhosa e o castelo está ainda mais bonito desde que eles o reconstruíram depois da guerra.

Minha sobrinha olha através de mim, para Hermione.

- Sério?

- É claro! E quando você chegar ao salão comunal da Grifinória, certifique-se de olhar a placa em homenagem ao seu pai. Angelina disse que está bem acima da entrada do dormitório dos garotos. Eles dedicaram toda aquela ala em homenagem aos homens da Grifinória, que perderam suas vidas durante a guerra.

Nós ficamos quietos por um segundo. Tentando animar as coisas, eu digo:

- Só não vá se meter sorrateiramente dentro do dormitório dos meninos, certo?

Hermione e Pietra me lançam idênticos olhares intimidadores, e eu levo outra cotovelada nas costelas. O olhar intimidador de Pietra muda de repente para um olhar aflito.

- Mas e se eu não for para a Grifinória?

-Besteira! Você é uma Weasley! - eu protesto. Lá vem Hermione com outra cotovelada. - O quê?

- Ela também é uma Clearwater, lembra-se? Então também há a possibilidade de ela ficar na Corvinal.

- Ah, tá, bem, melhor a Corvinal do que – ooouu!

Droga de cotovelo!

- Pietra, querida, não importa a casa em que você fique, você vai ficar bem. E pense nas pessoas que você já conhece por lá: o Professor Lupin e a tia Angelina.

Penny nos pediu para levar Pietra para King's Cross. Ela deu a luz a um menino ontem e ainda está no hospital se recuperando. O marido de Penny, Dave, poderia tê-la trazido, mas eu realmente queria fazer isso. Hermione e eu somos os padrinhos dela, puxa vida! Nós também a levamos para o Beco Diagonal para fazer as compras para escola, semana passada. A Hermione reclamou sobre os itens extras que eu comprei para ela, dizendo que nós deveríamos nos ater à lista de Hogwarts. Mas, pelo amor de Deus, só três robes são o suficiente para uma garotinha? E crianças precisam de sapatos e meias extras.

Além do mais, Hermione não sabe nem a metade da história. Ela não sabe nada sobre a Firebolt LX que eu transfigurei em uma meia roxa, para que assim, ela pudesse escondê-la em seu malão. Ela foi programada para voltar a ser uma vassoura à meia-noite. Eu sei que Fred e Jorge a puxaram para o lado durante sua festa de despedida n'A Toca e deram para ela um grande saco de logros e doces da Gemialidades Weasleys. Fred a fez prometer que ela não as usaria nas aulas de tia Angelina, porque ele não gostava de dormir no sofá. Harry até sugeriu que nós déssemos a ela o Mapa do Maroto, mas eu vetei essa idéia. Eu tinha que colocar um limite em algum lugar.

A coruja de Pietra, que está em uma gaiola no meu colo, dá um suave pio. A coruja é branca com manchas pratas. Pietra arrulha gentilmente com ela e então me pergunta:

- O papai levou um animal de estimação para Hogwarts também? Eu sei que mamãe tinha um gato, mas o que papai teve?

- Ele... - eu começo.

Hermione nota minha hesitação e desliza sua mão na minha, apertando-a levemente. Eu não vou conseguir falar para ela sobre Perebas, o patife que eventualmente acabou assassinando meu irmão.

- Ele ganhou uma coruja de mamãe e papai, quando ele se tornou monitor no quinto ano dele. Era um animal muito esperto, o nome dele era Hermes. Você já se decidiu em como vai chamá-la, Pepita?

- Hum, ainda não. E, tio Rony? Eu já disse pro senhor que eu já estou bem crescidinha pra ser chamada de Pepita. Eu agora quero ser chamada de apenas Pietra.

- Ah, - eu exclamo levemente desapontado. - Certo, então que seja Apenas Pietra. Ou você prefere que eu abrevie por AP?

- Tio Rony!

Por sorte, nós acabamos de chegar em King's Cross, então eu rapidamente me esquivo do cotovelo letal de Hermione. Eu digo a ela para ir na frente e atravessar a barreira da Plataforma 9 ½, enquanto eu vou buscar um carrinho pra bagagem dela. Quando eu finalmente chego na barreira, o Expresso de Hogwarts está soltando nuvens de fumaça por sobre a multidão de pais e estudantes. Hermione tem um braço em volta de Pietra que, de repente, parece bem mais nova do que seus onze anos. Percy era desse jeito também. Ele sempre parecia mais novo quando ele estava com medo ou preocupado. Subitamente, eu tenho um momento de pânico. Isso é algo bárbaro! Como mamãe suportava nos enviar pra longe por meses? Pietra é ainda muito pequena. Ela vai ficar sozinha. E se ela não comer verdura? E se por acaso ela não usar o casaco quando fizer frio? E se...

- Rony - Hermione me chama abruptamente.

Eu acho que o pânico estava começando a se mostrar em minha face, porque ela está me dando um olhar significativo e aponta para Pietra. Eu me abaixo e a envolvo em um abraço apertado, desejando que eu nunca tivesse que deixá-la. Mas eu me afasto e pigarreio.

- Então... - eu começo enquanto Pietra olha para mim com expectativa. - Então, aqui vai o último aviso: nunca entre no galpão das vassouras com um garoto.

Pietra olha para mim como se eu tivesse enlouquecido. A expressão de Hermione é uma mistura de choque, raiva e um sorriso, nos olhos arregalados.

- O que foi? É escuro lá dentro, e... e tem aranhas, e...

- Tudo bem tio Rony, - ela pega a gaiola da coruja e se volta em direção a um vagão. No momento em que ela está quase subindo, ela vira de volta para nós.

- Ah, eu já pensei em um nome pra minha coruja: Chudley -ela sorri. - Gostou?

- Você sabe que sim - eu digo com a voz rouca.

Eu olho enquanto ela sobe no trem, pega um lugar à janela e joga um beijo para mim. Eu não paro de olhar até que o trem faz uma curva e desaparece de vista, levando minha Pepita com ele.

Life carries on and on and on...

A vida continua e continua e continua

Just the car that we ride in

Apenas o carro em que nós dirigimos

The home we reside in

A casa em que nós moramos

The face that we hide in

A face em que nós nos escondemos

The way we are tied in

A forma como nós combinamos

As life carries on and on and on...

Enquanto a vida continua e continua e continua

And on

E continua

N/A 2: Obrigada a todos aqueles que acompanharam/gostaram dessa história. Este é o fim. É triste e meloso. Eu tenho que dar crédito a quem merece. A idéia de Perebas matando Percy veio da maravilhosa história da Arabella e Zsenya, 'After the End' (Depois do Fim). Obrigada à Zsenya pela betagem e pela postagem. Apesar de esse ser o fim dessa história em particular, como muitas pessoas expressaram surpresa pela idéia de Penny e Percy terem tido um interlúdio romântico no galpão das vassouras, eu decidi escrever uma curta história de uma parte sobre esse incidente. Logo será lançada (eu espero)

Nota da tradutora: Bem gente, acho que deu pra perceber que eu tentei ser bastante fiel à autora, tanto que nem suas notas eu retirei. Mais uma vez, venho pedir a vocês que enviem feedback, eu tenho certeza que a Poppy P vai adorar; eu sei que eu adorarei! Vou começar a tradução da fic 'After the end', que foi a fic de onde a Poppy tirou a idéia da morte do Percy. Se vocês quiserem, eu posso traduzir as outras fics as quais ela faz referência, é só me dizerem. Mais uma vez, obrigada a Amanda SaturnVenus e Malévola Malfoy pela paciência que tiveram comigo. Beijos!