Todos Cedem
"Às vezes eu penso se não deveria ter ficado junto com eles. Pelo menos aquilo tudo era uma estabilidade e um lugar onde eu tinha certeza que, se de alguma forma me sentisse sozinha, eu teria pessoas à minha volta que me acolheriam, e agora, olhando pela janela desse trem, que logo vai partir, eu vejo que não posso mais me sentir assim, porque não vou poder recorrer à ninguém. É Gina e apenas Gina, ninguém mais e ninguém próximo. Sem confusões, implicâncias e brigas, mas também sem carinho, aconchego e calor humano.
Ontem aquele sonho me intrigou, eu ainda vou me vingar. A noite do Baile não vai passar em branco, mas por um momento eu tive medo, se quer saber. Tive medo de me envolver e tive, acima de tudo, medo de não querer me soltar dele. Eu ainda acho que no jogo, as duas partes aproveitam, mas uma das partes pode sair um pouco lesada. Eu fico feliz por saber que eu não consegui, porque ontem, enquanto chorava internamente as minhas mágoas, eram os braços dele que eu queria para me envolver, e isso, além de não estar certo, não faz sentido. Ele um dia me usou, e tenho certeza, não evitaria em fazer isso de novo. Eu preciso me acostumar. Agora eu serei a minha própria companhia. Eu, a mochila, o diário e minha mente."
A tranqüilidade do sono na cabina de Weasley fora atordoada por uma confusão no trem. Ela olhou pelo vidro e viu apenas reflexos difusos de corpos sendo arrastados e uma mulher branca gritando por algum motivo contra os Agentes Ministeriais. Estranho, se não soubesse que Malfoy e Parkinson estavam na Escócia, apostaria qualquer coisa que aquilo era o ganido da garota. Apenas virou-se para o lado e adormeceu novamente.
Acordou com o Sol invadindo o quadrado em que estava. Franziu o cenho e fechou as cortinas, porém não conseguiu dormir. Precisava comer alguma coisa. Aparentemente estava clareando, o que queria dizer que em algumas poucas horas estariam chegando à Londres, o que a aliviava muito, pois teria muito a resolver quando lá chegasse.
Uma música trouxa tocava no interior do Vagão de Alimentação, e Gina vinha andando ao compasso da música, com um sobretudo preto por cima da camisa e soltando os cabelos de um nó. Sentou-se à cadeira mais à frente de uma janela e pediu um Suco de Abóbora com muito gelo. Sem perceber, se pegou pensando novamente no corpo loiro de Malfoy, e se imaginou em contato com os ombros e peito daquele homem.
' Ginevra Molly Weasley, novamente nos encontramos. É decididamente nosso destino. – O sorriso conhecido era agradável e surpreendente, Malfoy e seu sorriso de lábios finos e atraentes.
' Draco Malfoy, o que faz aqui? – Gentilmente e mais cordial do que nunca, ainda com o garoto nos pensamentos e sua materialização logo à frente, Gina empurrou a cadeira à frente com o pé, convidando o loiro a sentar-se.
' Digamos que eu tive de voltar à Londres antes do previsto. – Um sorriso lateral transpassou o rosto do Sonserino e, o que seria normal em outro homem, parecia um ato de extremo galantismo; Malfoy jogou os cabelos, que lhe caíam nos olhos, para trás, com um movimento único das mãos.
' Então. Os gritos durante a viagem eram mesmo os de Pansy. – O sorriso deliciante dos lábios grossos e bem delineados de Gina, pareceu amornar o olhar de Draco por alguns instantes, visto que os seus olhos acompanhavam os movimentos da Grifinória com desejo.
' É, nós precisamos voltar por causa de uma... síncope nervosa dela. – O Galante revirou os olhos e fez uma expressão de nojo ao falar na crise, o que fez Gina rir abertamente.
Os movimentos de Draco por baixo da mesa, por vezes tocando o tornozelo, pé e pernas de Gina, faziam-a sorrir; enquanto ela o provocava inocentemente brincando com os cubos de gelo do seu copo de Suco. Os olhos de Malfoy pareciam acompanhar cada movimento do rosto, boca e mãos de Gina, que sorria e continuava distraída a manipular as pedras de gelo na boca, como um chocolate, apreciando-as até que derretessem em sua boca.
' Eu não consigo sentir minha boca. Eu acho que está um pouco... dormente. – Gina falou sorrindo e brincando com a voz um tanto chiada, pela dormência causada pela temperatura muito baixa do gelo na sua língua.
' Não consegue sentir a boca, Gina? – Os olhos de Malfoy pareciam diminuir a cada palavra da Ruiva, e quando menos perceberam, os olhos estavam tão próximos que poderiam se medir as pupilas.
O contraste dos lábios finos e grossos do casal parecia sorrir aos que olhavam. A língua de Draco encontrava os lábios de Gina fora de sua boca e brincava de delineá-los novamente, como se seguisse o contorno dela; a língua de Gina movia-se delicadamente para encontro da do Malfoy, e os finos lábios de um Malfoy se mostraram também ter uma pele macia e cobiçantes. Draco chupava delicadamente a língua de Gina, e delicadamente sentia o gosto adocicado da boca da menina. A língua gélida era esquentada pelos macios lábios quentes do menino Sonserino, que aos poucos deixava os lábios dos dois encostarem. Em poucos segundos os lábios devoravam-se ardentemente entre mordidas e leves deliciares de línguas. Os movimentos dos rostos chamavam atenção a quem passasse, e os olhos firmemente fechados pareciam imaginar loucuras. Aos poucos as mãos encontravam-se sobre a mesa e, entrelaçadas, dançavam ao som de um romântico clipe antigo. Um estrondo e os lábios voltando a si. O copo ao chão e o líquido alaranjado tingindo o tapete do chão. Os olhos constrangidos por terem cedido aos jogos de sedução mútuos.
Um silêncio mórbido rondou a mesa por alguns minutos, enquanto o funcionário tratava de limpar magicamente o chão e recolher os cacos. Os olhares evitavam o rosto alheio e Gina não parava de pensar no porquê de ter feito aquilo. No porquê de ter cedido aos encantos dos olhos e pés do rapaz traiçoeiro que estava sentado logo em frente.
' Você beija bem, Weasley. – Os olhos estreitos de Malfoy focaram as bochechas, agora rosadas, de Gina.
' Você nem tanto, Malfoy. – O "Weasley" a fez lembrar de quem estava sentado à sua frente, e lembrar também que não seria ele o homem com o qual ela seria indulgente, muito menos carinhosa.
Aparentemente Malfoy fora ofendido, porque saíra com um olhar de ódio e uma expressão fuirosa no rosto, empurrando cadeiras e com os cabelos sacudindo adoidados enquanto rumava para o seu vagão; o que fez Gina se sentir facilmente triunfante por tê-lo deixado, no mínimo, atordoado. Agora só teria de aproveitar as últimas horas da viagem para calcular como faria para tê-lo nas mãos, e o pior, como faria para não estar nas mãos d'Ele.
