Desejos

"O que foi aquilo? Eu não cedi, juro que não. Pelo menos não muito, mas que ele foi o autor da iniciativa não há dúvidas. Ele estava me provocando até onde conseguia, mas eu venci e consegui faze-lo esquecer dos atos por ao menos um minuto. A primeira parte da vingança está feita. O estranho é que eu não me sinto bem por tê-lo manipulado. Eu me sinto igualmente envolvida, e por mais que eu diga que não, eu sei que, no final, eu vou estar sentindo muito mais do que ele. Isso vai ser bom... Para ele, e para mim. Assim eu aprendo a controlar os meus sentimentos, e principalmente os meus desejos."

Gina guardou O Diário na gaveta da cômoda e se largou na cadeira. Chegara em casa há alguns minutos e estava feliz por saber que ele não havia conseguido vê-la na saída do trem, assim evitariam mais encontros e o deixaria com um desejo maior. Nem ela mesma sabia o porquê de estar levando tudo tão longe. Poderia parecer pouco, para os outros, não para ela. Nunca havia estado num Jogo de Sedução antes, e agora que estava envolvida, sentia que uma hora não poderia evitar. Que fosse, mas ao menos teria Draco Malfoy em suas mãos pelo menos por algum tempo. Agora, quem dava as cartas era ela. Agora, apesar de dar as cartas, Gina ainda pensava, parada, naquele beijo. Em como os lábios haviam se tocado e em como era doce ter a boca do Loiro em contato com a sua.

Aquela semana seria uma semana de reestruturação. De algum modo, Gina precisava se incorporar a algum corpo de trabalho, e mesmo estando apenas a seis dias do Natal, não lhe custava nada oferecer os serviços de Técnica Curandeira aos funcionários do St. Mungus, visto que no local estavam abrindo vagas para voluntariado.

' Eu tenho medo, tio. Eu não consigo me esquecer das lembranças daquele beijo. Não consigo me desater ao fato de que eu toquei os lábios dela por uma vez, que eu cedi aos joguinhos baratos de sedução dela... – Draco estava parado na Mansão Malfoy, em Londres, dentro da biblioteca, sentado em frente ao pequeno quadro de um ancestral Malfoy com vestes medievais.

' Meu caro Sobrinho-Tataraneto, devo vos adiantar que nas artes de amores e desamores não sou um mestre, mas posso dizer-te que as moçoilas, enquanto estive vivo, nunca dantes fizeram tais jogos ou atitudes que... – Os olhos de Draco já não mais focalizavam a expressão dos bigodes daquele velho que, de repente, se tornara apenas mais um quadro como tantos outros na imensa Mansão.

' Draco? Meu filho, o que te aflige? – O olhar indagador do quadro ao ver o homem sonhador e absorto em pensamentos, de pronta, e afinando os bigodes, o questionou com uma expressão de ofensa.

' Nada que venha ao caso. Boa noite. – O Garoto Loiro levantou-se e andou a passos lentos e pouco posturais até a porta.

Caminhou lentamente até o seu quarto, no andar superior da Mansão. Não entendia o porquê de tanta preocupação. Era uma Sangue-Puro, e apenas mais um beijo, como em tantas. Mais um jogo de sedução no qual estava envolvido. E ponto. Apenas isso. Não tinha que esperar mais disso, nem de si mesmo, muito menos dela. E não queria isso, não queria maiores envolvimentos exceto o mundano e corporal. O prazer e a excitação que dois corpos de sexos opostos e igualmente atraentes provocam. Apenas e somente proporção de prazer mútuo. Não se apaixonava há alguns anos, e não seria agora, e muito menos com uma Weasley, que isso iria acontecer. Porque caso fosse, ele mesmo faria questão de terminar com isso. Faria questão de esquecer, afinal era um Malfoy, e como todos, ele conseguiria facilmente.

Nos sonhos não via conexão com nada. Apenas Lucius, seu pai, falecido há um ano, que lhe ordenava execuções que hoje eram mandadas por Narcisa e Bellatrix, as duas irmãs que, atualmente, controlavam os passos dos Comensais da Morte que restaram após a aparente morte de Lord Voldemort. Mas algo de estranho acontecia com a imagem de seu pai em seus sonhos. Aos poucos estava ficando difusa, até que dava lugar aos quadris chamativos e rebolar particular daquela mulher ruiva, de corpo magro e ilíacos saltados, que tanto o excitava e o fascinava. O seu olhar era maldoso e o corpo estava coberto pela túnica Comensal habitual de seu pai. Parecia que vinha com o sorriso malicioso típico de um Malfoy, e ao lado dela ele se via caminhando igualmente triunfante e com Vestes Comensais, os dois apontando as varinhas para algo que insistia em os fazer rir, por mais que não quisessem. Quando os olhares entrecruzavam-se, tudo parecia clarear e uma luz forte ofuscava a imagem dos dois.

'Draco! Acorde! Ande logo, homem! – Era sua mãe, Narcisa, provavelmente querendo notícias de como foi executada a ordem dada pela irmã.

' Argh! Fehce essa maldita cortina, sua velha insuportável, caso contrário não lhe conto nada. – Draco levantou-se e pôs as mãos sobre os olhos. Ainda estava de cuecas, como habitualmente dormia, e o lençol estava no chão, como sempre, mostrando o sono agitado que o Malfoy tinha.

' Maldito seja você e o gênio do seu pai. Agora me conte como foi. – A mulher de longos cabelos loiros e expressão rudemente enojada fechava as cortinas e acendia as velas do quarto com um movimento da varinha.