Dias Santos

"Novamente aquele maldito Malfoy não sai dos meus sonhos. O que será que ele quer? Me deixar louca? Parece. Porque eu não penso nele durante o dia, só nos malditos sonhos que o desgraçado me aparece. E como sempre, parece não me deixar dormir, porque por mais que eu encoste a cabeça no travesseiro, eu não consigo sossegar um minuto. Só enquanto a minha mente está livre? Só quando eu penso que vou sossegar? Não bastam aqueles pacientes estranhos no St. Mungus para me encher a maldita paciência? Eu já estou irritada o bastante com os casos em que Bruxos são feridos por Trouxas. Já estou bem revoltada com o que eu ando vendo por lá, e esse maldito ainda a me atormentar? Eu não admito. Não me admito a pensar nele. Diabos!"

Aparentemente naquela manhã de Terça-Feira, Gina não havia acordado de bom humor, pois escreveu n"O Diário e o fechou com ignorância e jogou de lado. Quase que simultaneamente a lareira acendeu e o rosto de Arthur Weasley apareceu lá. O espanto de Gina foi tamanho que levou a mão à varinha, soltando em seguida, ao identificar o rosto.

' Pai! – Gina correu e ajoelhou-se de modo que pudesse ver melhor o rosto.

' Olá, filha! Tudo bem? – O pai parecia mais magro do que o habitual, os ossos do rosto pareciam estar mais aparentes e as olheiras já lhe davam um tom macabro junto com os cabelos brancos e ralos no topo da cabeça.

' Tudo, pai. Mas, e com você, como estão as coisas? – A menina procurava algum vestígio do que poderia ter acontecido ao pai, já que o virá um mês antes e ainda estava saudável.

' Bem, eu não posso explicar agora, mas eu estou empolgado. Podemos nos ver hoje? Eu estou num processo de negociação com alguns Trouxas para ver se consigo convencê-los a deixar os filhos Bruxos estudarem numa Escola Mágica. E eu terei uma conversa com eles, pessoalmente, hoje. Então eu pensei que você pudesse vir. Será as Quatro da Tarde, no Holly's Bar, sabe? – O pai falava um pouco rouco e com as palavras emboladas. A princípio e primeira estância não parecia estar tão bem quanto dizia. E muito menos tendo progresso com pais alguns.

' Okay, pai. Eu vou estar lá, pode me esperar. – A Ruiva acenou para o pai e mandou-lhe um beijo, enquanto a cabeça se despedia e sumia girando na lareira.

Gina continuou sorrindo ali, ajoelhada e esperando que o pai se materializasse na sua frente, para saber se ele realmente estava bem. Todos sabiam que a afeição maior de Gina era pelo pai, e alguns até próximos tinham conhecimento das mágoas da garota pelos Trouxas ao ver um certo ataque dos Não-Bruxos a seu pai durante uma tentativa de entendimento, por isso Gina se preocupava tanto com o bem-estar dele. Ainda mais agora, que ela estava realmente vendo de perto o que alguns Trouxas eram capazes de fazer a bruxos que não eram bem-vindos.

Faltavam quinze minutos para as Quatro Horas, e seu pai ainda não havia chegado. Ela já estava preocupada, quando ouviu uma série de barulhos em frente ao bar. Pareciam gritos e uma discussão um tanto revoltada.

' Minha senhora, não é assim tão difícil, é apenas uma escola.

' Quem é você para dizer alguma coisa?! Sua aberração. Tire as mãos de cima da minha filha, seu maldito! Tire as mãos dela.

' Mas Srª. Kluptonn, ela vai estar em boas mãos. Fique tranqüila.

Gina correu até a porta do Bar e abriu as portas. A cena que via era o pai na frente de um oficial do Ministério, que carregava uma criança se onze anos pela mão, aparentemente em transe. Uma mulher alta e magra com cabelo brancos bradando contra Arthur Weasley e o pior, um homem de Terno Branco olhando muito assustado e com fúria nos olhos em volta.

' Sr. Kluptonn, entenda. O Ministério tem um mandato. – Arthur Weasley gritava com o homem e de mãos para cima, tentando conte-lo ao passo que avançava para cima do oficial, que se distanciava.

' Gobriedge! Gobriedge! Me ajude, por favor. Me ajude aqui! Solte a criança! – Arthur Weasley tinha sido agarrado pelo pescoço e estava sendo posto dentro de um carro preto pelo homem de terno branco, enquanto a mulher tirava algo metálico de dentro da bolsa e avançava correndo na direção do oficial.

Gina estava desesperada. Olhava a cena e dos olhos brotavam lágrimas. Sempre ajudou o pai em todos os trabalhos e nunca quis acreditar no que ouvia as pessoas comentando. Ela tentou correr para alcançar o pai, mas alguém a detia pelos braços.

'Pai! PAI! – A Ruiva Grifinória gritava e tentava puxar a varinha das vestes, mas fora surpreendida por uma série de pessoas que a bloqueara.

' Ela tem uma arma! Abaixem-se! Segurem essa mulher! – Um homem gritava de dentro do bar.

' É uma Trouxa Maníaca! Ela vai matar um oficial! O Ministério merece! – Uma mulher de idade gritava ameaçadoramente dentro do bar em direção à rua.

' CUIDADO! – Um som metálico, um disparo. A arma de fogo que a mulher portara atingiu em cheio o Oficial Ministerial, fazendo-o cair no chão e soltar a criança. Não aparecia polícia alguma local.

' Socorro! SOCORRO! – Arthur Weasley estava sendo posto dentro do carro por mais dois homens enquanto alguns tratavam de bloquear o caminho para os que tentavam se aproximar.

Os olhos de Gina repentinamente escureceram e os gritos de socorro cada vez ficavam mais ausentes. Cada vez mais distantes e falsos, até que apenas as gargalhadas do velho de terno eram ouvidas. Até que uma luz forte a fez perder a imagem dos rostos.

'Srtª. Weasley? Ginevra Molly Weasley? – Uma voz feminina adocicada chamava o seu nome.

Quando abriu os olhos imediatamente identificou o lugar: St. Mungus. Aqueles uniformes verdes, só podia ser isso. Devia ter desmaiado ou algo similar. Não poderia ter acontecido nada pior.

' O que aconteceu? – A Mulher Ruiva sentou-se na maca e levou a mão à cabeça, com os olhos ainda estreitos e um pouco inchados de sono.

' Houve uma confusão naquele bar e... e a senhora desmaiou, então lhe trouxeram para cá. Está se sentindo bem? – A mulher de cabelos claros e curtos sorria amigavelmente e parecia querer ajudar, mas Gina não estava disposta a se deixar ajudar.

Os olhos avistaram a mãe, Molly Weasley, ao longe. Sentada numa cadeira e com a cabeça apoiada nas mãos, com uma aparência horrível e chorando copiosamente. Gina não falou nada, apenas desceu da maca, empurrando as funcionárias que tentavam conte-la, e abriu as portas da enfermaria, com lágrimas nos olhos e encontrando a mãe desolada na porta.

' Minha filha, ainda bem que pelo menos com você está tudo bem. – O abraço forte do corpo baixo da mãe foi o suficiente. Por aquelas palavras ela já supunha o ocorrido. O pior não poderia ter acontecido. Os Trouxas eram pessoas boas. Tinham de ser. Ela cresceu ouvindo isso. Não mudaria assim, de uma hora para outra.

' Mãe, mãe, o que aconteceu? Cadê o meu pai? Onde ele está? – A mãe segurou o rosto da filha, que chorava e tinha a expressão contorcida de dor e ódio.

' Não, não, não! Não! – O abraço foi mais forte dessa vez, e parecia durar horas a fio. Parecia que não terminaria.

' Ele está... Aqui. Mas não se espante, vai passar. Vai passar, ouviu bem?

A mãe levou Gina pelo braço até o outro extremo do corredor, onde dizia em uma placa de cobre "Casos Perdidos". Ao ler o letreiro os olhos de Gina insistiram em fechar diante tamanhas pontadas sentimentais. As pernas tremiam pela menção daquela tarja e o corpo suava frio pela cena que veria.

Um grito desesperado. A mulher de cabelos flamejantes chorava, a mais nova batia no vidro com ódio. O corpo do homem de Quarenta e pouco anos estava jogado em cima da maca, de olhos arroxeados, corpo com inchaços e de uma falta de expressão atordoante. A filha gritava o nome do pai por alguns minutos, sem perceber que mesmo que o vidro ali não estivesse, ele não a ouviria. Mesmo que não houvessem barreiras, seu pai não ouviria seus chamados.

Um grupo de Curandeiros foi chamado e a conteram com alguns feitiços atordoantes. Ela não mais fazia idéia do que estava acontecendo. Não sabia ao certo como o pai estava, sequer se ele estava vivo. Tinha medo de perde-lo e ódio por ter acreditado que Eles não fariam mal a um bruxo.

Parecia que estava presa por alguma coisa, e não fazia idéia do que era, sequer como estava; apenas sentia o gosto acre do sangue na própria boca e o corpo atado a algo gélido que a incomodava brutalmente. Olhava em volta e apenas podia ver os contornos embaçados de funcionários, ao fundo, as cortinas verdes cobriam outros pacientes. O que pensavam que ela era? Uma louca? Não deveriam a tratar assim. Era apenas uma filha desesperada. O seu alicerce se fora. Não estaria mais ali para ouvir suas façanhas ou desagrados. Não estaria mais ali para conversar quando preciso. A figura do pai que lhe ensinou valores nunca mais estaria presente. Talvez o ser que ela mais prezava. Eles haviam lhe tirado. Eles haviam lhe tomado sem pedir. Não era de direito! Malditos fossem eles. Malditos fossem aqueles que um dia ela teve como inocentes.

Malfoy acordara numa manhã de Quinta-Feira, véspera de Natal, e como sempre, sentado à mesa, abriu o Profeta Diário para saber o que a redação inventaria novamente. Talvez outro rumor de que o Lord estaria ao Norte da Índia. De certo foi o que mais o fez rir nos últimos tempos.

Na primeira página lia-se uma manchete com letras garrafais:

"Desgraça em Família tradicional

Desde que o Patriarca da Família Weasley fora atacado por uma Trouxa em Londres, durante uma missão pelo Ministério, o povo perdeu notícias de sua filha, Gina Weasley, que muitos dizem, ainda está internada na Ala Proibida do Hospital St. Mungus, sofrendo de alucinações e delírios periódicos. Enquanto isso, às vésperas do Natal, a Matriarca Weasley ainda estava chorosa, na recepção do Hospital, esperando notícias de melhoras de seu marido. Há pouco fora notificado que o sofrimento de Arthur Weasley teve seu óbito anunciado hoje, às Três Horas e Vinte Minutos. A madrugada de certo não foi boa para a Srª Weasley, e são votos da redação do Profeta Diário que essa, talvez sendo a única família inteiramente Sangue Puro do meio Bruxo Inglês, junto aos Malfoy, tenha um desfecho feliz, tendo em vista que hoje à noite comemoramos o Natal. Que essa família volte a ser feliz. Veja na Página 3 a Biografia de Arthur Weasley, o defensor dos Trouxas, agora morto por um deles."

Uma foto de Arthur Weasley acompanhava a matéria, na qual ele era visto assinando formulários e sorrindo no seu escritório com a miniatura de um carro Trouxa em sua mesa. D'outro lado a foto de Gina chorando nos braços da mãe podia ser vista.

Os olhos de Draco não acreditaram no que lia. Gina internada como inválida. Um Weasley morto. Tudo tão de repente, e hoje, véspera de Natal. Por mais que as famílias não se entendessem, eram opostos importantes para o Meio Bruxo, e a estrutura de uma das famílias era abalada por uma perda do tipo. Pela primeira vez sentiu pena daquela mulher cheia de filhos. Mas acima de tudo sentiu um grande aperto ao saber da Ruiva, internada e sem previsões de melhora. Ele precisava esquecer aquilo. Era um dia de comemorações e, como um Malfoy, teria de fazer as honras da casa para os parentes distantes que vinham sugar da riqueza de seus pais, agora que seu pai jazia morto.