O seu futuro é o meu passado
- Posso entrar?
- Claro.
Eu estava muito confusa. Tinha me sentado em um dos quartos para pensar um pouco, sozinha. Estava com um pêndulo, um objeto mágico que sempre carrego. Ele tem um poder especial, mas o principal motivo de tê-lo sempre comigo é afetivo. Ganhei de minha avó paterna, pouco antes de ela falecer. Parece bobagem, mas acho que ele, além de tudo, ele traz proteção.
Mas eu não tinha fechado a porta do quarto. E a companhia de Remo Lupin me pareceu bastante agradável naquele momento. Permiti que ele entrasse, mas escondi o pêndulo atrás de mim, sobre a cama na qual eu estava sentada. A maioria das pessoas não acredita em objetos tratados como amuletos. E eu prefiro nunca revelar que eu tenho um.
- Você parece muito assustada.
- E estou, Lupin. Estou.
- Pode me chamar de Remo...
- E você pode me chamar de Diana.
- Não precisa ficar tão preocupada, Diana. Você vai se sair bem, tenho certeza.
- Eu vou ao encontro de Lílian e Tiago Potter pouco antes do final da primeira guerra. Remo, você sabe o que isso significa? Eu vou ter que ver os Potter morrerem.
- Eu sei. Eu estava lá.
Claro que ele estava. Eu ainda não tinha pensado nisso, mas Arthur tinha me contado que Lupin era um grande amigo de Tiago. Foi nesse momento que eu compreendi:
- Remo, você vai estar lá! Quando eu chegar, quando eu voltar no tempo.
- Eu sei. Eu... Eu me lembro de você.
- Lembra?
- Diana, isso vai ser um pouco complicado de entender. O seu futuro é o meu passado. Você vai para a missão, eu já estive lá. Claro que, na época, eu não sabia que você estava lá em serviço para a Ordem. Afinal, a própria Ordem já existia e eu já fazia parte dela, você, não.
Um pouco complicado de entender? Eu tinha me perdido na explicação dele. Parecia óbvio que eu iria encontrar o Lupin 16 anos mais novo. Mas ele já tinha essa lembrança? Então, quando eu voltasse no tempo, eu iria fazer exatamente o que já estava na memória dele.
- Então, você pode me contar como eu vou me sair. Você já sabe! Você já sabe o que eu vou fazer, pode me contar!
- Não pode, não. – aquela voz sempre me assustava. Ainda mais agora, que eu tão indiscretamente descobrira seu segredo com Tonks.
- Professor Snape, não tinha visto o senhor.
- Pode esquecer as formalidades comigo, Diana.
- O quê...
- Severo também estava lá. – Lupin me ajudou. – Na época que você vai voltar, ele já tinha deixado os comensais e era membro da primeira Ordem.
- Exatamente. Mas você só deve receber as informações necessárias. Lembre-se de que, quando você voltar no tempo, não vai ser recebida como membro da Ordem. Nem da primeira e muito menos da segunda. Não vai poder dizer que já nos conhece nem qual será o destino dos Potter.
- Você vai fazer o que está na nossa lembrança, mas eu não posso contar o que vai ser. – Lupin se aproximou de mim e segurou minhas mãos. – Confie em você mesma.
- Lupin, vamos. Com licença, Diana, temos uma outra missão agora.
Os dois começaram a caminhar para a porta. Eu levantei da cama num salto e segurei de volta uma das mãos de Lupin. Ele parou e virou-se para trás. Snape também olhou na minha direção.
- Esperem! Mas, se eu vou estar lá, eu vou saber. Quero dizer, vou saber que Pettigrew vai entregar os Potter a Vocês-Sabem-Quem. Vou saber que será melhor fazer de você, Lupin, ou de Sirius o fiel do segredo. Por que eu...
Snape passou à frente de Lupin, ficando entre nós dois, bem próximo de mim:
- Você não pode, em hipótese nenhuma, usar o que sabe para alterar o passado. Nem... Pense... Nisso.
Se não bastasse o medo que eu sentia do professor só ao ouvir sua voz, aquela conversa não ajudou. O rosto dele inclinado na minha direção, o tom rude, a represália. Lupin afastou Snape calmamente e me olhou com delicadeza:
- Poucas pessoas gostariam mais do que eu de trazer Lílian e Tiago de volta. Mas não podemos. Se eles não fossem atacados, se tivessem conseguido manter o pequeno Harry sempre longe de Voldemort, a guerra não teria acabado.
- Não temos dimensão de como estaria o mundo agora. – completou Snape, com o olhar perdido sobre a cama vazia.
- Não tem outro jeito. Mudar o rumo da História pode trazer conseqüências terríveis e imprevisíveis.
Foi o momento em que mais tive medo da minha missão. De falhar, de estragar o rumo dos acontecimentos, de condenar o mundo, de ver os Potter serem traídos.
- Não voltarei a vê-la antes que parta. Diana, você vai se sair bem.
- Obrigada, Remo.
Ele segurou novamente uma das minhas mãos e a beijou. Eu sorri.
- Até breve, nós iremos nos encontrar no passado.
Percebi que, nesse momento, Snape ensaiou um sorriso cínico.
Os dois caminharam para a porta pela segunda vez. Lupin passou, Snape parou e olhou para trás:
- Guarde o seu pêndulo antes que o perca. Será uma viagem longa e você nunca sai sem ele.
