Turbilhão de pensamentos

Foi um dos dias mais felizes da minha vida. O pequeno Harry tinha chegado, com seus enormes olhos verdes. Lílian e Tiago estavam radiantes. Acho que nem por um minuto deixaram de se abraçar.

- Você acertou, Diana. É um lindo menino.

- Sim, Lílian. Muito lindo.

- E foi só o primeiro! Eu quero mais dois pelo menos, certo, Li?

- Ora, Tiago. Acalme-se. Acabei de passar por um parto.

- Mas teremos mais, não teremos?

- Claro que sim.

Os dois se beijaram, o bebê nos braços da mãe. A família, completa, feliz, esperançosa. Um quadro que seria lindo... Se eu vivesse naquela época.

Tive que sair do quarto.

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- Por que você está chorando, senhorita Anderson? Achei que esse fosse um dia de grande felicidade. O nascimento do pequeno Potter. O herdeiro da arrogância e prepotência...

- Por favor, Snape! Pare!

- Cuidado, senhorita Anderson. O seu tom está muito alto para um hospital.

- E sua atitude não poderia ser mais insensível.

- Por que está chorando?

- Não é da sua conta.

Ele me dirigiu um olhar fuzilante.

- É isso mesmo. – resisti – Você nem deveria estar por aqui, não é exatamente seu dia de comemoração, é?

- Não. – ele respondeu, seco.

- Então, por que vir atrapalhar o dia de Lílian e Tiago? Deixe-os aproveitar este momento! – parei, ofegante. Acrescentei, em voz baixa – Resta-lhes tão pouco tempo.

Não sei dizer se Snape pôde me ouvir. Mas, no instante seguinte, ele lançou-se para muito próximo de mim. Encostada na parede como eu estava, fiquei encurralada. Ele levantou meu rosto segurando meu queixo de maneira bruta.

- Não sei o que é, mas algo está errado com você.

Ao dizer isso, com a mão que tinha livre, contornou minha cintura e puxou-me para junto dele. Moveu a mão que estava em meu queixo para o meu pescoço e me apertou num beijo duro.

No primeiro instante, deixe meus braços largados ao longo do meu corpo. Achei que o beijo seria curto, mas não foi. E, de repente, eu também não queria que fosse. Abracei-o.

Em meio ao torpor a que aquele beijo me conduzia, um pensamento explodiu em minha cabeça. Livrei-me bruscamente dele no pouco espaço entre nós e a parede.

Tonks!

Eu queria voltar imediatamente para o quarto de Lílian. Snape ficou confuso com o modo como tentei fugir dele. Tão confuso que eu pude sair sem dificuldade do pequeno espaço onde eu estava. Eu já tinha me afastado alguns passos quando senti a mão dele segurar meu pulso.

- O que foi isso? – ele perguntou, sério.

- Você não devia me atacar no meio do hospital.

Ele abriu um sorrido cínico:

- Você parecia estar aceitando muito bem.

- Você me enoja. – livrei meu braço dele e corri para o quarto.

Ele tinha razão, eu tinha me deixado levar. Até... Até lembrar que ele estava com Tonks. Ou estaria. Num futuro que, para ele, ainda iria demorar 16 anos e, para mim, muito menos.

Sentia-me culpada. Mas será que aquilo era uma traição? Afinal, era outro tempo, ele estava sozinho naquela época! E era muito difícil resistir. Desde a primeira vez, aquele olhar, a reprovação no rosto dele tinham a cruel capacidade de me atrair. Maldição!

E se eu me entregasse? E se eu passasse aquele tempo, aquele passado com ele? Meu pensamento estava dividido. Uma parte de mim dizia que eu queria aquilo e não seria fácil resistir. Mas uma outra parte, uma parte tímida, mas insistente, me segurava. Como se quisesse dizer que eu estava enganada e que meu verdadeiro desejo estava em outro lugar.

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- Por Merlin, Diana! Você me assustou! O que aconteceu para sair do quarto daquele jeito? – Lílian virou-se para mim num sobressalto quando eu entrei.

Encostei na porta atrás de mim por um instante e dei um longo suspiro antes de falar:

- Eu... Não me sinto bem.

Caminhei até o sofá e só então me dei conta de que havia mais uma pessoa no quarto, Lupin. Ele levantou-se e me ofereceu apoio.

- Venha, Diana. Sente-se.

- Obrigada. – ele me ajudou a sentar delicadamente no sofá. Por um instante, o turbilhão que passava em minha mente parou.

Mas foi só para voltar ainda mais forte. Quando Lupin sentou-se ao meu lado e arrumou uma das almofadas atrás de mim, o turbilhão voltou acompanhado de um aperto no meu peito.

- Remo – Tiago disse de repente -, por que você não leva Diana de volta à sede? Ela já está aqui há bastante tempo, precisa descansar.

- Boa idéia, Tiago. O que você acha, Diana?

- Ora, eu... Eu não gostaria de ficar na sede sozinha. Eu sei que você vai voltar para cá, Remo, que vai passar a noite aqui.

- Não ficará sozinha. – disse Lílian. – Snape fará a guarda lá esta noite.

Eu tenho certeza de que minha expressão foi a de maior espanto possível, pois Lupin olhou para mim com olhos tristes:

- Sei que parece ruim, mas você deve descansar e Snape vai garantir que você esteja segura.

- Você pode ir direto para o quarto, não precisa jantar com ele. – Tiago olhou para mim e piscou.

- Tiago...

- Ora, Lílian, é verdade!

- Diana – Lílian lançou um olhar reprovador para o marido e voltou-se para mim -, você precisa descansar querida. Vá.

- Não será tão ruim, você verá. – Lupin levantou-se e ofereceu a mão para me ajudar.

Aceitei, com uma estranha sensação de borboletas em meu estômago. Saímos do quarto, ele fechando a porta que tinha aberto para que eu passasse. Ofereceu-me o braço e saímos do hospital.

Confusa, muito confusa. A sede vazia, a noite inteira com Snape. Uma parte de mim divertia-se por antecipação.

Lupin olhou para mim enquanto andávamos e sinto que fiquei vermelha. Como se meu pensamento fosse vergonhoso, como se Lupin não pudesse saber dele. Senti-me uma traidora.

A parte tímida da minha consciência veio à tona. Caminhando pelas ruas calmas que levavam até a sede sob o agradável clima do verão, apertei com mais força o braço que estava preso ao de Lupin, fechei os olhos e inclinei um pouco a cabeça para o lado dele. Deus, como eu gostaria que Remo não tivesse que voltar ao hospital naquela noite!