Visitas em casa
No dia em que Lílian recebeu alta, Dumbledore me chamou para conversar do lado de fora do quarto onde ela tinha ficado.
- Senhorita Anderson, como sabe, queremos que fique na casa dos Potter para ajudar Lílian com o bebê.
- Sim, professor.
- Você sabe que terá responsabilidades maiores considerando... As circunstâncias.
- Claro, claro. Estarei atenta.
- Tiago provavelmente ficará fora de casa por muito tempo. E Lílian ainda não pode fazer grandes esforços.
- Professor – eu me inclinei para perto dele e falei com voz baixa -, não se preocupe. Eu tenho treinamento, sou formada. Sou enfermeira, lembra-se?
Dumbledore inclinou-se mais ainda:
- Não, não é, senhorita Lullaby.
A voz dele estava calma, como sempre, mas seu efeito sobre mim foi devastador. Apoiei-me na parede com a mão direita e tapei minha boca com a esquerda. Achei que fosse gritar. Eu tinha alterado o passado? Eu tinha sido revelada para alguém anos antes? Mas como? O que eu tinha feito de errado?
- Não se desespere, eu já sabia. – ele disse, como se tivesse lido meus pensamentos. – E estou feliz que esteja conosco. Agora, tenho que ir. – olhou para mim sobre os óculos de meia lua – Engraçado como funciona o tempo, não?
Dumbledore se afastou rapidamente. Eu ainda estava apoiada na parede. Como ele poderia saber? Eu estava vivendo o tempo invertido, vivendo o passado. E ele? Foi quando, como uma luz, lembrei-me do famoso mago Merlin. Ele vivia ao contrário. O tempo ao contrário. Primeiro o passado, depois o futuro. Será... Dumbledore? Isso explicaria muitas coisas, mas não explicaria outras. Acho que ninguém sabe ainda como ele faz isso, como ele sempre sabe de tudo.
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A casa era linda! Pequena, mas aconchegante. Os móveis clássicos, as cortinas claras. Um delicioso cheiro de flores invadia o lugar. Não pude deixar de imaginar como seria bom se Harry pudesse crescer ali. Uma bela casa, o amor dos pais, magia desde criança e, finalmente, Hogwarts.
Precisei respirar fundo, esse pensamento me deixou a ponto de chorar.
- Diana? – Lílian me chamou, ela já estava no quarto, deitada em sua cama. Harry estava num berço ao seu lado.
- Estou subindo, Lílian!
Fui para o quarto, no andar de cima. Tiago estava ajeitando os cobertores do bebê e Lílian, deitada, admirava o marido com um doce sorriso.
- Não é engraçado, Diana? – ela me perguntou quando entrei. – Como os homens ficam derretidos com bebês?
Concordei com a cabeça e um sorriso.
- Remo, por exemplo. – ela continuou e eu senti meu coração dar um pulo ao ouvir o nome dele – Não pôde deixar de carregar Harry no colo durante toda a noite que passou lá conosco. Lembra, Diana? A noite em que você teve que ir para a sede.
Claro que eu lembrava essa noite. Não fazia tanto tempo e, ainda que fizesse, não poderia esquecê-la. Desde que tinha acontecido, eu não conseguia mais ficar à vontade com Snape. Nem com Lupin...
Enquanto meus pensamentos estavam perdidos naquela noite, ouvimos a porta de entrada da casa ser aberta com violência e passinhos no andar de baixo.
- Nini! Não corra! Cuidado com esse...
Um barulho de algo sendo quebrado.
- Vaso. – a voz era de Sirius.
Os passinhos continuaram, cada vez mais rápidos. Em pouco tempo, uma linda menininha de longos cabelos azuis entrou correndo pelo quarto de Lílian.
- Tia, Lili! Onde está o bebê?
Uma elegante mulher loira apareceu na porta, pouco depois da menininha. Sirius estava com ela. Com uma voz de ordem, a mulher falou:
- Ninfadora, minha filha, comporte-se.
Arregalei os olhos com a descoberta, aquela menininha era Tonks. Tonks! Aquela garota quase da minha idade que eu tinha conhecido na sede da segunda Ordem da Fênix. Aquela garota que havia me ajudado e sido tão hospitaleira. Aquela garota que tinha beijado Snape na porta do Largo Grimmauld!
Aquela garota estava agora com cinco ou seis anos e pulava nas laterais do berço de Harry para tentar vê-lo. Depois de um tempo, Tiago resolveu pegá-la no colo e deixou que ela arrumasse o travesseiro do bebê. Mas, quando ela se endireitou para ver se seu trabalho estava bom, prendeu o lacinho que usava no topo da cabeça no móbile pendurado sobre o berço. Ao abaixar-se de novo para voltar a arrumar o travesseiro, acabou arrancando o móbile, que caiu no chão fazendo um grande barulho.
Andrômeda, que estava se apresentando para mim, rodou sobre seus sapatos de salto e foi até a filha. Tirou-a do colo de Tiago e disse:
- Você fica aqui agora, sentada na cama.
Ela fez Tonks se sentar na cama de Lílian, mas a garotinha não ficou quieta nem por dois segundos. Logo tinha engatinhado até perto da nova mamãe e brincava com os cabelos dela. Tentava transformá-los, achando que poderia fazer com os outros o que fazia com sua própria aparência. Mas a única coisa que estava conseguindo era mudar a cor de seus próprios cabelos sem parar. Eles foram do azul ao laranja, depois rosa, vermelho, verde e branco. Andrômeda afastou-a de Lílian quando a garotinha já estava confusa e sem conseguir enxergar nada sob uma vasta cabeleira afro.
Sirius, que estava rindo das brincadeiras da prima, tirou uma máquina fotográfica do bolso e foi até o berço de Harry. Bateu uma foto dele. Depois, tirou-o de lá e levou-o para Lílian.
- Segure-o um pouco. – pediu. – Tiago, sente-se ao lado dela.
Bateu mais uma foto. Nesse momento, tive uma idéia e pedi a câmera emprestada. Sirius entregou-a para mim.
- Ninfadora? – chamei. – Venha aqui um minutinho.
A menininha veio pulando e tropeçou na ponta da cama no caminho. Equilibrou-se para não cair e chegou perto de mim. Eu ajeitei Harry entre alguns travesseiros sobre a grande cama de seus pais e pedi que ela se sentasse ao lado dele. Queria bater uma foto dos dois, para mostrar a eles mais tarde, no futuro. Tonks ajeitou seus cabelos, já azuis de novo.
Quando terminei de bater a foto, Tiago recolocou Harry no berço. Tonks veio até mim e pediu que eu abaixasse. Ela me abraçou e me deu um beijo. Depois, olhando séria, falou:
- Não é Ninfadora, é Tonks.
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No final da tarde, Lílian e Tiago adormeceram. Para que eles pudessem descansar, eu peguei Harry e fechei a porta do quarto.
Sirius estava na cozinha da casa. Andrômeda e Tonks já tinham ido embora e ele estava sozinho. Entrei e sentei na cadeira em frente a ele. Ele abriu um sorriso ao olhar o bebê e depois disse:
- Foi uma sorte termos encontrado a senhorita. Lílian realmente vai precisar de ajuda.
- Não precisa me chamar de senhorita, Sirius. É Diana.
- Bem, Diana, espero que você saiba a confusão em que se meteu. Quero dizer, a Ordem.
- Não sei ainda, mas posso imaginar e estou preparada. Com essa guerra acontecendo, Sirius, eu não poderia simplesmente ignorar.
Ele me lançou um olhar de aprovação.
- Fico feliz que pense assim. Agora... Está uma tarde tão linda e logo vamos ter mais uma deliciosa noite de verão. O que a senhorita... Digo, o que você, Diana, me diz de levarmos o pequeno Harry um pouco para varanda?
Fomos. Enquanto Lílian e Tiago aproveitavam o merecido descanso, passei horas conversando com Sirius. Tão novo e já tão maduro. Não morava na casa dos pais havia anos, a casa que seria usada como sede da segunda Ordem. Por isso, cuidava muito bem de si mesmo. E a guerra tinha lhe acrescentado mais experiência.
O mais bonito e charmoso dos marotos, sem dúvida. Mas Sirius não agia como se quisesse mostrar que era superior. O olhar arrogante que eu tinha percebido no dia em que fui interrogada pela primeira Ordem da Fênix agora parecia um erro de julgamento meu. Talvez ele tivesse sido arrogante na adolescência, mas não havia vestígios disso em sua personalidade naquele momento. A conversa foi imensamente agradável. E eu tive inveja de Tonks, desejando ter um primo como ele.
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Tarde da noite, quando eu já estava em minha cama tentado dormir, um triste pensamento me atingiu. Sentei-me e comecei a chorar. Depois daquele dia, eu entendia perfeitamente a tristeza que significava, 16 anos no futuro, a morte de Sirius Black.
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N/A: Em primeiríssimo lugar, muito obrigada por todas as reviews! Obrigada pelos elogios, pelas críticas e pelas correções!
Em segundo: sei que demorei demais para postar, mas fim de semestre é assim mesmo, não podia sentar no computador sem ter um trabalho ou uma reportagem para escrever. Mas o capítulo sete está aí, espero que vocês gostem!
Quanto ao tamanho dos capítulos: Eu gosto de fazê-los curtos porque acho mais confortável. Gosto de ler fics de capítulos curtos porque acho que eles não cansam o leitor e sempre deixam gostinho de quero-mais!
Mary Sue: a Diana não é. Pode parecer, ela é jornalista, o texto é em primeira pessoa. Mas não tive intenção de fazer Mary Sue nem quero que ela seja linda, perfeita e maravilhosa e tenha todos os homens aos seus pés. Como eu costumo dizer para a minha amiga Mari: Mary Sue, pra mim, é Tonks. E acho que vocês podem perceber a enorme simpatia que tenho por ela, não???!
E o shipper??? Ah, meninas! Não vou contar! Quer dizer, vou parafrasear a JK quando perguntada sobre os possíveis romances Harry/Hermione ou Rony/Hermione: "vocês já tem pistas o suficiente, não?!" (Ok, ok, a JK deixa pistas menos confusas do que as minhas – o Rony e a Mione se amam e ponto – mas eu também procuro deixar. Prestem atenção em quem está sempre o pensamento da Diana.)
Ah, sim! Mais uma coisinha: coloquei a fic no shipper Tiago/Lílian porque não achei a opção com Personagem Original. Agora acho isso bom, pois todo mundo ficou curioso, hehe! Eles não são personagens centrais na fic, mas, ah, vai... Tem várias cenas lindas protagonizadas pelos dois ;)
