Capítulo 8

Babysitter

            Enquanto eu permanecia sentada no sofá da sala de Lílian e Tiago com o pequeno Harry adormecido em meus braços, a casa estava em enorme agitação. Os membros da Ordem estavam se organizando para uma nova missão, uma missão muito importante. Lílian caminhou em minha direção e beijou o filho.

            - Lílian, eu não entendo. – eu disse, segurando-a pelo braço para que não fosse embora – Por que você tem que ir? Por que os outros não podem cuidar disso? Você ainda está fraca e... E o Harry.

            Eu não sabia se deveria fazer isso. Afinal, Lílian e Tiago iriam morrer em sua própria casa, e ainda não era a hora de isso acontecer. Eu deveria ficar tranqüila sabendo que nenhum deles corria risco na missão dessa noite, mas era tudo muito confuso. Talvez fosse meu dever impedir que Lílian fosse nessa missão, talvez ela fosse morta nessa noite se eu não evitasse que ela saísse. E, se isso acontecesse, ela não estaria em casa quando Vocês-sabem-quem fosse tentar matar Harry. Isso mudaria tudo! Então, talvez fosse mesmo minha obrigação impedi-la de sair naquela noite.

            Não adiantou. Lílian tentou explicar que só ela poderia realizar uma parte importante daquela missão. Despediu-se de mim e do bebê e saiu com Tiago. Dumbledore, Sirius e muitos outros bruxos saíram com eles. Vi Snape já do lado de fora, ele tinha acabado de chegar e evitou entrar na casa. Esperou que todos saíssem para acompanhá-los. Não olhou sequer uma vez para onde eu estava.

            Sentada no sofá com o bebê no colo. Sozinha. A casa dos Potter, antes tão acolhedora, estava me dando mais medo do que a escuridão do Largo Grimmauld.

            Eles eram loucos! Como eu poderia proteger a casa sozinha. E se algo acontecesse? E o bebê?

            - Você já jantou, Diana?

            Eu dei um berro tão alto que Harry começou a chorar. Tentando acalmá-lo, levantei e fui até a porta da cozinha, de onde tinha vindo a voz.

            - Remo? – disse, ainda assustada. – Você ficou?

            Ele me olhava também assustado, com o meu berro provavelmente.

            - Pensei que você soubesse... – ele começou, sem jeito.

            - Temos uma enorme falha de comunicação dentro da Ordem. – eu disse, dando um suspiro. Fui até a sala e peguei o carrinho de bebê de Harry. Coloquei-o lá e trouxe-o comigo de volta a cozinha. Ele já não chorava.

            - Você está usando um avental. – eu disse ao reparar melhor em Lupin, não sem deixar escapar um sorriso.

            - Bem, eu pensei que gostaria de provar minha receita especial.

            - Ah, você cozinha? – perguntei, sentando-me em uma das cadeiras, onde Sirius estivera sentado na noite anterior.

            - Entre outras habilidades. – ele respondeu, sorrindo e levando as sobrancelhas.

            Eu olhei para ele, sorrindo e apoiando a cabeça na minha mão esquerda.

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            - Não acredito! – eu ria tanto que quase não conseguia articular as palavras.

            - É a mais pura verdade. – Lupin também estava rindo. – Veja bem, Sirius e Tiago não eram os alunos mais exemplares de Hogwarts.

            - Não é possível, pobres sonserinos...

            - Aqui não temos pena de sonserinos, senhorita Anderson. – Lupin disse, quase num sussurro, levantando-se da mesa e retirando seu prato.

            Balancei a cabeça, ainda me recuperando das gargalhadas. Tomei o último gole da minha taça de vinho e me levantei.

            - Não, não, não. - Eu disse, tirando a louça das mãos dele. – Você cozinhou, eu lavo. – ele abriu a boca para contestar. – Ah-ah. Eu insisto.

            Ele concordou e virou-se em direção ao carrinho de Harry. O bebê estava dormindo fazia bastante tempo e tudo tinha sido muito tranqüilo até aquele momento.

            Eu tinha concordado em tomar o vinho, mas insistido que fosse pouco. Afinal, estávamos tomando conta de Harry. Mas ainda assim, parecia que a pequena dose estava fazendo efeito, eu começava a ficar com sono.

            Sabia que não podia dormir e, por isso, decide fazer um café assim que terminei de lavar a louça. Abri os armários em busca de um pouco de pó de café. Lupin estava sentado na mesa observando o bebê e contando mais casos engraçados da época que estava em Hogwarts. Eu já não conseguia prestar muita atenção por causa do sono. Apoiei-me na pia por um instante antes de continuar procurando pelo café e fechei os olhos.

            Quando tornei a abri-los, a casa tinha mergulhado na escuridão.

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            - Lumus. – eu e Lupin dissemos ao mesmo tempo, acendendo, assim, a ponta de nossas varinhas. Ele já estava com Harry no colo.

            Permanecemos em silêncio por alguns instantes, mas não ouvimos nenhum barulho suspeito. Lupin fez um sinal para a sala e nós nos dirigimos para lá. Com as varinhas, iluminamos cada canto, sem encontrar ninguém.

            Eu estava quase convencida de que se tratava apenas de um blecaute quando uma voz veio do topo da escada, à nossa direita.

            - O jantar estava bom?

            Olhamos na direção da voz. Um comensal da morte, coberto inteiramente de preto apontava sua varinha para nós. Com um barulho, mais dois comensais aparataram, cada um de um dos lados de fora da casa, no jardim. Com quase nenhum esforço, arrombaram a porta, à nossa esquerda.

            Com varinhas apontadas em nossa direção dos dois lados, bastou um aceno de Lupin para que eu entendesse o que fazer. Em um segundo, eu e ele saltamos, eu para trás e ele para a frente, protegendo Harry em seu colo e escondendo-se atrás do sofá onde eu estivera no começo da noite. Do outro lado da sala, eu procurei abrigo atrás de uma cômoda.

            O comensal que estava na escada começou a descer. Os outros dois uniram-se a ele no centro da sala. Os três nos observavam, dois procurando ver Lupin e um olhando para onde eu estava. Eu me arriscava a olhá-los rapidamente e voltava a me esconder.

            O comensal que estava me olhando ficou parado enquanto os outros dois foram para perto do sofá.  Cada um contornou o móvel por um lado, querendo cercar Lupin. Com um gesto rápido, ele conseguiu lançar um feito estuporante em um deles. O comensal que estava me vigiando virou-se para trás com o barulho e eu levantei e lancei um impedimenta naquele que ainda estava perto do sofá.

            O meu vigia virou-se rapidamente com a varinha em punho para me atingir com um expeliarmus. Com o golpe, fui jogada contra a parede e caí no chão, minha varinha rolando para baixo de uma pequena mesa, distante de onde eu estava. Fiquei zonza e sem poder me mexer por alguns instantes. Por sorte, tinha caído atrás da cômoda que me protegia.

            Com os dois comensais que estavam atrás dele ainda caídos no chão, Lupin correu em direção ao que tinha me atacado, atingindo-o também com um estupefaça.

            Ele correu em minha direção. Eu consegui me sentar enquanto piscava sem parar, ainda zonza. Lupin entregou Harry em meus braços, agachado e protegido pela cômoda. Ouvimos um dos comensais levantar-se, provavelmente o que eu tinha atingido com impedimenta, já que os outros estava desacordados.

            Eu e Lupin olhamos por sobre a cômoda, o comensal tinha procurado abrigo também atrás do sofá. Em poucos instantes, ouvimos sua voz dizendo 'enevarte' e o seu colega, caído perto do sofá, levantou-se escondeu-se com ele.

            - Você precisa sair da casa. – Lupin disse para mim, sussurrando.

            - Você também. – eu respondi.

            - Não, preciso evitar que eles a sigam. – ele completou, com tom de ordem. - A única saída para você é a janela. – ele disse, olhando fundo em meus olhos. – Harry. Proteja Harry.

            Eu consenti com a cabeça e o observei sair da proteção da cômoda para esconder-se atrás da pequena mesa debaixo da qual estava minha varinha. A atenção dos comensais foi desviada para aquele lado e eles lançaram alguns feitiços, nenhum dos quais, porém, atingiu Lupin.

            Vendo que eu não poderia fazer outra coisa a não ser fugir com Harry, olhei em direção à janela que estava atrás de mim. A tranca era muito forte, eu não teria como abri-la sem a minha varinha. Tirei o casaco que eu estava usando e enrolei Harry muito bem dentro dele, não deixando qualquer parte para fora, nem mesmo a cabeça.

            'Esse tecido é bem groso, deve protegê-lo.' pensei.

            Abraçando-o e protegendo-o o máximo que podia com meu próprio corpo, atravessei o vidro de uma das janelas da sala, correndo rapidamente para o jardim.

            Os sons que ouvi na sala foram horríveis. Os comensais, estarrecidos com minha fuga, devem ter tentado me seguir, mas Lupin os estava impedindo com feitiços. E mais feitiços. E mais feitiços. Já era impossível distinguir as vozes e eu tinha muito medo do que poderia ter acontecido a Lupin.

            Ao dar a volta na casa, percebi uma escada levando até a janela do quarto de Harry. Com certeza, foi assim que o primeiro comensal tinha entrado na casa. Aparatar era muito arriscado, nós poderíamos ouvi-lo. Imaginei quanto tempo ele devetia ter ficado na casa antes de conseguir desligar a força.

            Livrei Harry do pesado casaco que tinha colocado sobre ele e conferi que não estava ferido. Eu, por outro lado, tinha diversos cortes nos braços, que eu tinha usado para proteger o bebê. Sabia também que tinha machucado meu rosto, porque sentia a dor e o sangue escorrendo.

            Sem me importar com isso, subi a escada que levava ao quarto e, ao entrar, tranquei a janela, que o comensal provavelmente tinha aberto com magia.

            O quarto havia uma lareira. Não precisei pensar por muito tempo, com um pouco de Pó de Flu, transportei a mim e Harry para sede da Ordem da Fênix.

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            - Diana!

            Lílian correu em minha direção no momento em que cheguei à Ordem. Estavam todos retornando da missão, pude ver que Tiago estava ferido e Sirius mancava no momento em que também veio até mim.

            - Comensais, na sua casa! – disse sem fôlego, entregando Harry à sua mãe. Virei para Sirius e segurei-o pela camisa. – Remo está lá!

            Sirius não demorou a desaparecer pela lareira em direção à casa dos Potter. Quando eu caminhei para fazer o mesmo, senti uma mão e segurando. Virei-me e vi Snape, um grande rasgo em sua blusa, sem capa e com sangue escorrendo da mão que segurava meu braço.

            - A senhorita não pode voltar lá. Nesse estado.

            - Por Merlim, Severo! Remo ficou sozinho.

            - Sirius já foi e eu... Eu irei também. Fique aqui. – ele me largou e foi para a lareira. Desapareceu.

            Olhei para Lílian e Tiago, que estava deitado em uma cadeira, visivelmente incapaz de se levantar.

            - Ah, mas não fico mesmo. – eu disse e voltei para a lareira.

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            Quando voltei à casa dos Potter, só o luar iluminava o local. Saí do quarto de Harry silenciosamente, tão silenciosa quanto estava a casa. Parecia vazia. De repente, ouvi um gemido de dor no andar de baixo. Corri para a escada.

            Sirius e Snape estavam agachados no chão, Lupin, deitado. Desci os degraus correndo, meu coração parecia ter parado, meu corpo estava a ponto de despencar.

            Ajoelhei-me perto de Lupin com violência, os outros dois olharam para mim.

            - Como ele está? – perguntei com a voz faca.

            - Muito machucado, temos que levá-lo para o Saint Mungus... Agora! – Sirius disse, levantando-se e olhando para os lados. – Preciso de alguns panos para estancar o sangue por enquanto.

            - Tem um armário com toalhas limpas no andar de cima. – eu respondi, ainda olhando Lupin.

            Sirius subiu correndo e Snape foi até a cozinha. Voltou de lá com alguns frascos e um copo. Despejou partes dos conteúdos no copo, completando, pude perceber, com algumas gostas de vinho. Do mesmo vinho que tínhamos tomado no jantar.

            - Lupin, tome um pouco disto. Alivia a dor. – Snape disse, estendendo o copo.

            Lupin abriu os olhos e fez uma tentativa de se levantar. Eu ajudei-o e apoiei sua cabeça no meu colo. Peguei o copo e ajudei-o a beber. Ele fechou os olhos e sua cabeça tombou para o lado.

            - O que... – eu comecei.

            - Ele adormeceu. – Snape respondeu, seco. – Não se preocupe, isso apenas vai poupá-lo de sentir dor e vai ajudar a conservar suas energias.

            Eu continuei segurando-o em meu colo até Sirius voltar com as toalhas. Ele e Snape cobriram alguns dos ferimentos de Lupin, e, conjurando uma maca, dirigiram-se para a lareira da sala.

            - Vamos levá-lo ao Saint Mungus pela rede de Flu. Diana, venha conosco, você precisa de cuidados também. – disse Sirius.

            Eu concordei com a cabeça e vi os dois desaparecerem pela lareira. Mas não me levantei, fiquei olhando o chão da sala, manchado com o sangue de Lupin. Descontroladamente, comecei a chorar. Estava com muito medo, não podia nem me mover. Olhando para o lado, percebi que estava perto da mesa debaixo da qual estava minha varinha. Estiquei-me para pegá-la e murmurei o feitiço para acender sua luz. Iluminei cada canto da sala tentando reconstruir a batalha que havia sido travada ali.  Ainda com as lágrimas escorrendo, fechei os olhos e pensei em Lupin. Ele não poderia morrer, não. Eu o tinha visto no futuro. Mas como saber se eu não tinha alterado nada. Se, na hora em que fugi com Harry para a sede da Ordem eu deveria, ao contrário, ter voltado à sala e salvado Lupin. Abri os olhos, fixos no sangue no chão.

            - Nox.

            Escuridão.