O silêncio que agora tomava conta de seus ouvidos o assustou. Harry acordou quase pulando pra fora de onde estava, e isso assustou também a pessoa que estava sentada ao seu lado, numa poltrona.

- Oh, Harry querido, cuidado para não cair meu bem...

A voz familiar fê-lo olhar para o lado e então viu, para seu total alívio, que tratava-se de Molly Weasley, a mãe de seu melhor amigo Ron. Ela não mudara em nada, continuava pequenina, seus cabelos vermelhos até o ombro e feição extremamente amigável, o que fazia Harry considerar ter tido um grande pesadelo e que na verdade estava tudo bem. Mas não estava. Primeiro porque aquele lugar não era nem de longe a Toca.

- Onde eu estou?! O que aconteceu?!! Cadê meus tios??- ele se sentia estúpido por estar fazendo o que todos fazem ao acordar de um acidente ou coisa assim, mas não pôde evitar.

- Você é um menino adorável, Harry- dizia a senhora Weasley lhe afagando a cabeça, com um sorriso tenro- Mesmo com uns tios tão insuportáveis ainda consegue se preocupar com eles... Mas acalme-se, logo você vai estar a par de tudo.

Harry sentia a respiração fluir pesada dentro do peito, e sua garganta arranhava como se tivesse engolido fumaça. E foi aí que tudo veio à sua mente; o fogaréu, a fumaça... e até o sonho que tivera antes de tudo isso. Não podia ficar calmo, pois sabia que aquilo tudo que estava acontecendo não era normal. Mas se não podia acalmar-se, ao menos não demonstraria isso, para não ficar sendo mandado ficar calmo por todos que aparecessem.

- Eu estou bem, senhora Weasley. Só quero saber o que aconteceu...- falou serenamente, sem entonar a menor afobação.

- Bem, querido.... a casa de seus tios pegou fogo. Os vizinhos dizem que um raio a atingira segundos antes do incêndio começar. Mas não se preocupe, eles estão bem. Os... err, os homens que apagam fogo chegaram rápidamente.

- Bombeiros, Molly, bombeiros.- era Arthur Weasley que adentrava o aposento, que Harry nem tivera tempo de reparar mas se tratava de um quarto de hospital.- Mesmo assim, a casa teve perda total. Foi totalmente consumida pelo fogo.... mas você está bem, não está Harry?

Harry não respondeu. Seu olhar se perdera no horizonte enquanto uma palavra dita pela senhora Weasley ecoava em sua mente, e que ele reproduziu meio que sem querer.

- Raio...

Os Weasley se entreolharam estranhando a atitude do garoto. Diante disso, a intenção dele de fazer-se parecer calmo ia por água abaixo.

- Sim, foi um raio pelo o que disseram os trouxas que chamaram os... homens para apagar o fogo- ela viu de esguelha seu marido torcer os lábios por causa da palavra que ela não guardava- Você se lembra de alguma coisa, Harry?

- Não!- respondeu o garoto, já totalmente afoito.

- Escute rapazinho, é melhor você descansar enquanto tem tempo.- disse Arthur, no que sua esposa agora lhe dirigia um olhar repreensivo. Antes que pudesse retirar o que disse, Harry perguntou:

- Enquanto tenho tempo? Por que??

- Ahn... porque logo estaremos saindo daqui para A Toca, querido!- respondeu Molly sorridente.

- Estamos num hospital?

- Estamos em St. Mungus Harry. Creio que você ainda não tinha tido o desprazer de conhecer este lugar pessoalmente.- afirmou o senhor Weasley.

A Harry não parecia um lugar ruim, ao contrário, era muito aprazível e até aconchegante, onde tudo era predominantemente branco e cheio de luz do dia entrando pela janela. Mas era um hospital, de qualquer forma, e hospitais não são lugares que você queira conhecer pessoalmente.

- Ah, sei o que está pensando. Esse quarto é bonitinho mas isso é porque eu sou do Ministério e você é Harry Potter. Não queira ser internado na ala de pacientes carentes... aquilo é pior do que ser atendido na rua, pode apostar.

Harry já estava se preparando para ser deixado sozinho quando a porta do aposento se abriu e dela irromperam Ron, Hermione, Giny, Fred e George, todos parecendo muito preocupados mas assim que o viram acordado, abriram sorrisos de orelha a orelha. O senhor e a senhora Weasley logo se mostraram descontentes com a invasão, confirmando a Harry que seria deixado sozinho para descansar.

- Crianças, Harry precisa descansar agora, vamos deixá-lo em paz...- disse Molly mas era tarde, todos já estavam amontoados sobre Harry em abraços e até beijos vindos de Giny. Harry ficou corado. A menina, depois de perceber o que tinha feito, também ficou.

- Harry, você está bem amigão?!- perguntava Ron, dando tapinhas em sua cabeça.

- Oh, Harry, que bom que você já acordou!- exclamava Hermione, exasperada, como se tivesse tirado chumbo das costas.

- Cara, era só isso mesmo que te faltava hein, um incêndio no currículo de herói....- zombava Fred, fazendo todos rirem, inclusive Harry. Era ótimo rever seus amigos, e apesar das circunstâncias, ele agradecia por poder ter esse prazer mais cedo este ano.

- Vamos crianças, deixem-o descansar...

- Eu estou realmente bem, senhora Weasley.- interrompeu o paciente- E acho que nada me fará mais bem do que ter a companhia de meus amigos...

Ele sorriu, e diante de tal argumento Molly não pôde contrariá-lo.

- Oh, tudo bem querido, se você está dizendo... mas nada de grandes exaltações hein? Você pode sentir dificuldade pra respirar se ficar muito agitado.

- Pode deixar, eu não vou querer morrer sufocado...

Então, dando um tapinha nas costas de Ron e Hermione, como passando a eles a responsabilidade de olhar por Harry, a senhora Weasley os deixou, seguida por seu marido Arthur.

Tão logo a porta se fechou e todos começaram a falar ao mesmo tempo, e Mione, assumindo realmente a responsabilidade deixada pela senhora Weasley, tratou de mandar todo mundo ficar quieto e falar um de cada vez.

- O que foi que aconteceu dessa vez, Harry?- era Ron perguntando

- Eu... sinceramente não sei... eu não vi quando o fogo começou, estava dormindo. Sua mãe disse que os vizinhos viram um raio cair na casa antes do incêndio... deve ter sido isso mesmo... um raio... ai!- ele leva a mão até a cicatriz que começava a arder repentinamente. Todos o olham com espanto, como se aquilo fosse um antecedente para algo ruim acontecer.

- Harry, o que foi?!- Hermione estava já quase debruçada sobre o garoto tanta era sua preocupação.

- Nada não Mione... já passou...

Harry sentia a necessidade de contar-lhes o que havia visto em suas duas visões, mas para isso teria de ser indelicado o bastante para pedir aos outros que se retirassem.

- Fred, George, Giny... eu estaria sendo muito grosso se lhes pedisse licença pra falar a sós com os dois?

- Ahn... claro que não Harry, nós entendemos.- respondeu George. Os três então rumaram para a saída.

- O que foi, Harry? Há algo que você queira nos contar??- perguntou Mione intrigada, assim que ficaram a sós. No fundo ela tinha certeza que sim.

- Primeiro eu queria perguntar há quanto tempo estou aqui?

- Ah, não faz nem um dia direito... o incêndio foi ontem à noite, mas até agora você permaneceu desacordado.- respondeu-lhe Ron.

- Mas então, Harry... o que foi? Tem algo a ver com a carta que você nos mandou?

- Vocês chegaram a receber?

- Sim, e nem uma hora depois ficamos sabendo do acontecido. Papai nos comunicou pela lareira, eu avisei à Mione, e então nós viemos para cá, pra onde você foi trazido por intermédio de alguns bruxos disfarçados que moram no seu bairro.

- Bruxos disfarçados?!- estranhou Harry

- É mas isso não interessa agora.

- Exatamente- continuou a garota- Respondendo à pergunta que você nos fez por carta, não, nada de anormal acontecendo no mundo mágico, além claro do calor que nenhum ser humano já viu na vida. Os termômetros às vezes ultrapassam os quarenta e cinco graus!

- Isso pode ter ajudado no incêndio da casa dele.- comentou Ron

Mas Harry não ligava pro incêndio em si, mas sim pela causa dele... embora tenha perdido todas suas coisas, o que não lhe saía da cabeça era o maldito raio que ele vira no seu sonho e que os vizinhos diziam ter caído na casa. Neste instante, uma coruja grande e branca pousava no batente da janela. Era Hedwig. Harry sorriu ao ver que ela também estava bem e até feliz, já que agora não havia mais gaiola onde pudesse ficar presa.

- Só não entendemos o que você quis dizer com sonho ou visão que você teve...

- É, eu não quis dar muitos detalhes por carta. Quando eu escrevi pra vocês tinha tido uma visão muito estranha com uma garota, e logo quando acordei estava com a Marca Negra estampada no pensamento... até ali eu não tinha certeza daquilo ter sido ou não apenas uma alucinação da minha cabeça. Mas depois eu tive outra....e quando acordei tudo estava pegando fogo...

- Garota?- indagou Ron- Que garota?

Harry então expôs o conteúdo das duas visões que teve no dia anterior, tentando não deixar escapar um detalhe sequer. Seus dois amigos o ouviam atentamente, demonstrando estarem tentando acompanhar a descrição dada por ele.

Após terminar, eles pareciam estar assimilando e interligando os fatos que lhes foram contados.

- De uma coisa eu tenho certeza- afirmou Ron- isso não foi alucinação sua, Harry. Isso foi real.

- Eu já desconfiava, Ron... mas não entendo... quem poderia ser aquela garota? O que Voldemort tem a ver com ela?- indagou Harry sem nunca se lembrar que os amigos não tinham tanto costume em ouvir o nome do Lord das Trevas.

- Harry, se você viu a Marca, é porque ele está por perto...

- Não Mione. Se ele estivesse por perto minha cicatriz não pararia de arder um segundo sequer. Se eu vi a Marca é porque ele fez algo.

- Ele fez algo com a garota...- concluía Ron

- Será?- Mione não estava tão certa de que essa garota realmente existia.- E se ela for apenas uma personagem ilustrativa? E se for um disfarce que Você-Sabe-Quem usou para não mostrar a pessoa realmente por trás de tudo?

Ron fez uma cara de quem pensava na hipótese.

- A verdade- dizia Harry- é que nós nunca vamos saber até que algo concreto aconteça. Concordam?

- Com certeza.- respondeu o amigo.

- E eu sinceramente passei os últimos anos da minha vida sempre tentando adivinhar o que ia acontecer. Pois dessa vez vai ser diferente. Eu não quero saber o que tudo isso significa. Eu não quero saber se foi Voldemort que fez aquele raio cair na casa dos meus tios. Não quero saber quem é ou deixa de ser aquela garota... vou começar a viver as coisas na ordem em que elas acontecem, sem ficar me adiantando ou tentando fazer isso. Cansei.

- Ah, Harry, a quem você quer enganar?!- perguntava Hermione, com as mãos na cintura e cara de desconfiada.

- Não Mione, não quero enganar ninguém. É o que eu quero e é o que vou fazer. Se vamos para a Toca, vamos para a Toca e eu não pensarei mais nisso.

Hermione e Ron se entreolharam apreensivos de repente, e isso chamou a atenção dele.

- O que foi? Não é pra lá que nós vamos?- perguntou Harry, confuso.

- Bem... na verdade nós- Ron apontou para si e Mione- vamos. Você ainda vai ter mais uma escala antes disso...

- Escala? Escala onde??

- Ministério da Magia.

Harry arregalou os olhos olhando de um para outro, mas ambos matinham a expressão afetada como se estivessem com pena.

- O quê??? O que foi que eu fiz???

- Bem Harry, não que você tenha feito, mas eles detectaram uma alta carga de magia num lugar onde não poderia haver nenhuma...- respondeu Hermione

- O raio! Só pode ter sido o raio!!- Harry se exaltou e tão logo começou a tossir feito um cachorro, o pulmão subindo e descendo dentro do peito pedindo por ar. Hermione o acudiu abanando seu rosto e culpada por tê-lo deixado ficar neste estado. Passado o acesso, Harry recostou de olhos fechados na cabiceira da cama, sentindo-se muito mal e angustiado. Sabia que esses assuntos de Ministério eram muito burocráticos e chatos, e o pior de tudo era não ter culpa disso. Será que Dumbledore sabia do que estava acontecendo? Foi o que perguntou.

- E desde quando Dumbledore não sabe de alguma coisa?- respondeu a garota, inquieta- Não apenas sabe como está no Ministério averigüando sua situação.

- Ah...- Harry suspirou enfadonho, indignado- Eles acham que fui eu que fiz isso....

- Acham- respondeu Ron- Mas não se preocupe. Todos nós, inclusive Dumbledore, sabemos que não foi você. E nem poderia ter sido, só se você fosse o deus do trovão que tivesse o poder de soltar raios por aí...

- Vai ver que eles acham que eu sou isso.- retrucou Harry impaciente.

- Pode ser, mas Dumbledore vai provar que não é. Acredite, tudo se resolverá mais rápido do que você imagina.- completou o ruivo.

- Vou tentar... só de pensar em Ministério eu estou mais cansado do que estive depois de tudo isso... aliás, quando é que eu terei de ir?

- Assim que os médi-bruxos lhe derem alta, o que será hoje de tarde, provavelmente.- disse Hermione em resposta.

- Ótimo, quanto antes eu for e eles souberem que eu sou a vítima nessa história, mais rápido me livro disso. Agora eu vou seguir o conselho de sua mãe e descansar...

- Ok, é melhor mesmo.- afirmou a garota- Vamos Ron, ah, logo alguém virá lhe trazer o almoço.

- Ah não, comida de hospital??? Era só o que faltava...

Algum tempo depois de ter engolido a muito contra-gosto a comida insosa e insípida que lhe trouxeram, Harry Potter jazia sentado na cama, as costas apoiadas no travesseiro, refletindo sobre os últimos fatos ocorridos. Dali a pouco os médi-bruxos viriam lhe fazer o último exame de pulmão para ver se estava tudo em ordem, e então com certeza ele sairia do hospital. Mas enquanto todos iam para A Toca, ele seguiria talvez com o senhor Weasley para o Ministério. A única vantagem nisso seria rever o diretor da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, Albus Dumbledore, que lá estaria em sua defesa. Afinal, como é que eles achavam que ele poderia ter produzido aquele raio? Em sua própria casa? Em contraponto também, como ele provaria não ter tido nada a ver com isso? Talvez o fato de que sua varinha estava dentro do malão, e que ela pegou fogo junto com tudo o que havia nele e em seu quarto pudesse favorecer seu argumento... fora isso, a única coisa que poderia dizer é que estava dormindo e que nem vira o tal raio caindo na casa.... o que não era muito verdade, mas ele não podia nem cogitar a possibilidade de tocar no assunto do sonho de maneira nenhuma! Ou então ele passaria os próximos dias tendo que explicar detalhe por detalhe de algo que não podia explicar nem para si mesmo... talvez nem Dumbledore devesse ter conhecimento disso, enquanto ele não soubesse o por que de ter tido essas visões.

Neste momento Harry deu um tapa consideravelmente forte na própria testa. Não foi ele mesmo que disse que não pensaria mais nisso!?? Será que Hermione estava certa em dizer que ele não enganaria ninguém com essa desculpa? Mas sua intenção não era mesmo enganar ninguém, e sim deixar sua mente livre de pressões... é claro que isso não seria fácil. Assim que pisasse naquele Ministério, Harry tinha a certeza de que começaria a sentir o clima que devia estar muito tenso devido a todos os rumores sobre Voldemort. Assim que voltasse de vez à vida no mundo mágico ele começaria a saber o que se passava em relação aos acontecimentos do fim do último ano letivo em Hogwarts. Ele saberia o que Dumbledore e o Ministério pretendiam fazer para evitar o que parecia iminente, e também o que Voldemort estava tramando para retomar o poder. E sua mente nunca ficaria livre de pressões. Mas Harry achava-se no direito de querer um pouco de paz. Pelo menos até o Lord das Trevas resolver recomeçar a caça ao Potter... E dessa vez Harry não pretendia correr atrás da própria forca, mesmo com todas as arapucas plantadas em sua mente. Se Voldemort o queria, teria de buscá-lo. E ele não era valente á esse ponto....

Tendo decidido o que fazer, agora era só esperar. Harry ainda conseguiu tirar um cochilo, livre de qualquer sonho ou visão, antes que batessem à porta de seu quarto e entrasse. Uma bonita médi-bruxa de cabelos pretos amarrados em coque, que usava um delicado óculos meia-lua como o de Dumbledore e portava apenas varinha e prancheta entrou, acompanhada do senhor e senhora Weasley.

- Olá Harry- cumprimentou-o a mãe de Ron, sorridente como de praxe- Espero que tenha descansado bem, meu querido...

- É bom mesmo.- disse a médi-bruxa- Seu pulmão estava realmente precisando. Foram várias Poções de Oxigênio para normalizar sua respiração, pela quantidade de fumaça que você aspirou.

- Eu tomei isso??- indagou Harry sem se lembrar de nada

- Durante esta noite foi de uma em uma hora.- respondeu a doutora- E você não sabe o quanto é difícil fazer alguém desacordado beber alguma coisa.

Harry imaginava mesmo. A mulher pediu para que se sentasse com os pés para fora da cama, ficou ao seu lado, e apontando a varinha para suas costas disse "Sonorus". De repente todos podiam ouvir as batidas do coração de Harry.

- Respire profunda e pausadamente.- instruiu ela. Quando ele o fez, pôde-se escutar bem de leve um chiado.

- Está ouvindo?- perguntou a médi-bruxa. Harry afirmou- Isso significa que você está quase bom.

Nessa hora ele pensou que teria de passar mais uma noite ali, mas antes de criar expectatitvas ela continuou.

- Mas nada que você não possa curar em casa, não é mesmo?- a doutora e os dois Weasley sorriram. Com a varinha ainda apontada para as costas de Harry ela pronunciou "Quietus", e depois, conforme ditava uma receita, uma pena pôs-se a escrever na prancheta. Ao terminar, ela destacou a folha de pergaminho e entregou-a a senhora Weasley.

- Está aí, a receita da Poção de Oxigênio. O garoto tem de tomar um cálice de oito em oito horas, até o chiado do seu peito cessar completamente.

- Muito obrigada, doutora.- agradecia a senhora Weasley, apertando a mão da médi-bruxa- Seguiremos todas as instruções, logo ele vai sarar por completo.

O senhor Weasley também a cumprimentou.

- O paciente tem alta. Só passem na recepção antes de irem para os últimos acertos.- ela finalizou antes de sair. Harry sentiu um aperto no coração. A hora estava chegando.

Assim que a doutora saiu o batalhão de gente que esperava lá fora entrou.

- Pronto mamãe, ele já pode ir?!- era Giny perguntando.

- Sim, doçura, Harry já está de alta.

Uma exclamação uníssona de felicidade foi ouvida e Harry ficou muito contente, por segundos esquecendo do que viria a seguir.

- Mas agora será que vocês poderiam deixá-lo se trocar para irmos embora?- Arthur perguntou, e Harry pela primeira vez viu as vestes que lhe trouxeram. Estavam sobre a poltrona e incluíam calça preta de tecido social, camiseta branca de abotoar que lhe parecia bem leve (e agradeceu por terem pensado no calor que fazia) e um sapato preto com meias brancas.

- Te vemos lá fora Harry!- exclamava Fred

- Ahn, mãe, será que eu e a Mione podemos dar uma palavrinha com ele antes?- pediu Ron, quase sussurrando no ouvido da mãe.

- De novo Ron?- ela o encarou desconfiada. Ele fez uma negativa com a cabeça, e ela torcendo os lábios concordou. Então os dois ficaram a sós novamente com o paciente.

- Por que seus pais não falaram no Ministério ainda, Ron?

- Não sei amigão, acho que pra te poupar.- respondeu o ruivo, no que Harry pensou em qual seria a vantagem de saber antes ou em cima da hora.

- Está totalmente recuperado?- perguntou Hermione

- Quase. Ainda terei de tomar uma tal de Poção do Oxigênio por algum tempo...

- Então Harry, só pra te avisar, você irá com meu pai para o Ministério.- disse o amigo, mas Harry já tinha quase certeza disso.

- E temos uma notícia boa e uma ruim pra te dar.- completou Mione- Qual primeiro?

- Sei lá, a boa?

- A boa é que o senhor Weasley estará na sua defesa.

Harry sorriu.

- E a má?

- Bem, a má é que Lucius Malfoy também estará lá, e não creio que seja pra te ajudar...

- Lucius Malfoy??! O que ele tem a ver com isso?!?!- indagou Harry, de novo exaltado.

- O Ministério o nomeou chefe da Comissão Contra as Artes das Trevas...- respondeu Ron sem absolutamente nenhum entusiasmo.

- Não, peraí, chefe de uma comissão contra as Artes das Trevas?!? Mas será possível que eles não enxergam que têm um Comensal da Morte fingindo trabalhar para eles?!

Harry estava quase pulando pra fora da cama de novo, e antes que Hermione pudesse impedir que ele berrasse a porta se abriu e a mãe de Ron entrou vermelhinha como uma pimenta malagueta.

- Não acredito que mal o pobre garoto teve alta e vocês estão deixando-o nervoso?!

- Não senhora Weasley- negou Harry se recompondo- não foi isso, é que...

- Vocês dois não ficam aqui nem mais um segundo!- inquiriu ela- E você Harry troque de roupa para irmos embora, ok?

Molly arrastou os dois para fora e fechou a porta atrás de si. Harry agora podia socar o travesseiro à vontade, embora apenas isso o tivesse levado à total falta de ar. Definitivamente ele não estava em forma pra abusar de seu pulmão. Mas não conseguia manter a postura diante de um absurdo desses! A visão de Lucius Malfoy naquela roda de comensais quando foi preso por Voldemort o perturbava, e saber que não só ele como outros comensais possuíam altos cargos no Ministério da Magia era de enlouquecer! Nesse momento ele jurava a si mesmo que iria desmascarar esses canalhas perante todo o mundo mágico, ou não se chamava Harry Potter!