Capítulo 11
Entorpecida
- Já está tarde, Minerva. Eu acho que Lílian deve estar me esperando.
- Senhorita Anderson, acalme-se. – McGonagall não olhava nos meus olhos e, apesar de me pedir calma, ela mesma estava muito agitada.
Estávamos no Caldeirão Furado, um lugar que não me agrada no presente e que, com certeza, não parecia mais acolhedor no passado.
- Minerva, não entendo porque estamos aqui.
- Diana. – McGonagall finalmente me olhou nos olhos. – Eu preciso que você se acalme.
- Lílian pode estar precisando de mim. – eu tentei sussurrar, mas minha voz saiu desigual e trêmula.
- Pode ser. – ela ainda não tinha desviado o olhar. – Mas você não vai poder achá-la.
- O quê?
Mas o meu espanto inicial acabou substituído por um sopro de entendimento. Outubro estava chegando ao fim e o Feitiço Fidelius, o feitiço do segredo, seria lançado a qualquer momento. Na verdade, deveria ter sido lançado naquele momento e, por isso, McGonagall tinha me afastado da casa dos Potter.
- Os Potter estão escondidos, você não vai poder achá-los. – a professora repetiu.
Mas eu não concordava! É lógico que eu podia achá-los! Eu sabia que eles estavam escondidos em sua própria casa. Levantei, tinha intenção de ir direto para a casa de Lílian e Tiago, de passar os últimos dias com eles.
Eu nem sequer tinha podido me despedir!
Com esse pensamento, deixei meu corpo cair de novo sobre a cadeira e escondi meu rosto entre as minhas mãos, chorando.
McGonagall me observava assustada. Ela não sabia... Nem poderia saber. Então, eu não podia ir para a casa dos Potter! Eu não podia revelar que sabia ao segredo sem que o fiel tivesse me contado. O fiel. Ironicamente, Pedro Pettigrew. Em pouco tempo, aquele traste contaria tudo para seu odioso mestre. Eu sabia... E não podia fazer nada. Os Potter iam morrer... E eu não podia fazer nada. Harry ficaria sozinho... E eu não podia fazer nada. Sirius iria para Azkaban...
- Diana! - McGonagall gritou quando eu saí repentinamente.
A porta do bar bateu às minhas costas. O dia estava frio, mas tinha sol. Sol se pondo sobre Londres. Eu andei sem rumo pelas ruas por um tempo. Chorava, esbarrava nas pessoas, atravessava cruzamentos sem atenção.
Não sei ao certo quanto tempo andei assim. Acabei chegando a uma praça, sentei em um dos balanços e vi a noite cair.
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Já era tarde quando eu voltei ao Caldeirão Furado. McGonagall obviamente não estava mais lá, mas eu nem esperava que ela estivesse. Aliás, eu não queria encontrar ninguém e por isso escolhi aquele lugar. Eu tinha saído de lá de tal forma que não esperava que ninguém imaginasse que eu voltaria.
Pedi um quarto e subi. Tranquei a porta e me joguei na cama. Não sei se dormi, não sei quando amanheceu, não vi quando anoiteceu de novo. Os meus pensamentos me atormentavam e minha tristeza me impedia de levantar da cama ou mesmo de murmurar um feitiço para acender a lareira.
Em algum momento, eu desci. Comi um pouco, bebi também. Voltei para o quarto e me tranquei. A minha noção de tempo sumiu e eu não saberia dizer quantos dias passei nessa rotina.
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- Senhorita? Senhorita? – alguém batia na minha porta. Saí do meu torpor e a abri, encarei um dos funcionários do bar.
- Com licença, senhorita. Mas chegou uma coruja urgente para você. – ele me estendeu uma carta. Eu a peguei, agradeci, fechei a porta e me sentei na cama para abrir o envelope. Era uma carta de Lupin. Curta, apenas dizia que ele viria me ver ao entardecer e pedia que eu não fugisse do encontro.
Eu não fazia idéia de que horas eram, mas abri a janela e vi que o sol estava alto. Ele não devia chegar por algumas horas.
Juntei um pouco de coragem e saí. Precisava de outras roupas, estava havia dias com as mesmas. Resolvi o problema indo ao Beco Diagonal, na loja da Madame Malkin.
Quando voltei ao meu quarto, o sol começava a baixar. Eu tomei um banho e me troquei. Depois, entreguei a chave do quarto no bar, paguei a minha estadia e sentei em uma das mesas, esperando por Lupin.
Ele não demorou a aparecer, entrou no bar vestindo uma longa capa azul e tinha os cabelos despenteados por causa do vento nas ruas. Vê-lo dissipou a minha apatia. Há quanto tempo eu não me encontrava sozinha com Remo! O rosto dele, o sorriso que dirigiu a mim, tudo nele me fez perceber que um ano de desencontros em nada tinha mudado meus sentimentos.
Ele se sentou na minha mesa e pegou minha mão.
- Diana. – disse, suave. – Como nos deixou preocupados. O que aconteceu?
Eu fiquei sem reação, mas meus olhos se encheram de lágrimas.
- Diana, o que aconteceu? Não só agora... Há mais de um ano... Há mais de um ano você me ignora.
- Annie... – eu balbuciei.
- Annie? Annie Rosebaun? – ele perguntou sem parecer surpreso. – Severo sugeriu isso, mas eu não entendo.
- Quem é ela? – há quanto tempo eu queria perguntar isso a ele!
- Quando nós estávamos em Hogwarts, Sirius, Tiago, Pedro e eu – ele começou, calmamente -, nós não éramos... Alunos exemplares. Você se lembra, não? Eu lhe contei algumas histórias naquela noite em que jantamos.
- Sim. – a minha postura era arredia e ele soltou minha mão.
- Bem, muitas vezes, escapamos por pouco de sermos expulsos. E muitas dessas escapadas foram graças a um grande amigo nosso, um aluno da Grifinória um ano mais velho que nós. Esse amigo se chamava Dennis Rosebaun.
Ele fez uma pausa, eu não fiz qualquer comentário.
- Voldemort matou Dennis e seus pais.
Eu soltei uma exclamação.
- Annie é a irmã mais nova dele. Estava duas turmas atrás de nós, três do irmão, na escola. Nós temos medo de que os comensais ainda estejam atrás dela. Há algum segredo de família que eles querem.
- Por quê – eu ainda não estava convencida com a explicação -, então, Sirius não quer que você tenha contato com ela?
- Sirius é uma boa pessoa, não quero que você pense o contrário dele. Mas chegou à conclusão de que, perto de Annie, eu corria perigo. E, entre proteger a mim ou a ela, ele preferiu que eu me afastasse e ficasse em segurança. Ele ainda é imaturo em relação a algumas coisas, mas tem um grande coração...
- Sei que Sirius é bom. – eu o interrompi, impaciente. – Mas por que só você tentou manter contato com ela? – eu ainda não estava convencida.
- Porque Annie e eu fomos namorados por um tempo.
Ele soltou essa informação de uma só vez, como se assim fosse me machucar menos. Não adiantou. Todas as vezes em que eu pensara em Annie Rosebaun, eu esperava que ela, milagrosamente, se revelasse uma vizinha velha e chata, ou uma menininha de 10 anos que Remo estivesse ajudando a criar. O meu maior medo era de que houvesse uma ligação romântica. E havia.
- Era tudo o que eu precisava saber. – eu me levantei e ele me segurou.
- Sente-se, por favor, Diana. Escute até o final. – eu me sentei, contrariada - Eu fui apaixonado por Annie, mas foi na época do colégio.
- Você ainda a encontra.
Ele não respondeu, apenas me estendeu uma carta, uma daquelas que eu o tinha visto trazer tantas vezes. Abri, era de Annei Rosebaun. Ela tinha uma caligrafia trêmula, as letras eram pouco enfeitadas, corridas, nervosas, como se ela estivesse sempre com medo. Na carta, ela pedia que Lupin não a procurasse mais, mas era gentil e o agradecia por muitas coisas.
- Você não vai mais vê-la? – eu perguntei, baixando a carta.
- Se eu precisar vê-la ou ajudá-la, eu irei.- Lupin respondeu, com um suspiro. – Você não pode me pedir para parar de me importar com ela. Foi importante na minha vida, eu sempre vou querer que ela esteja bem.
Eu estava nervosa.
- Diana, eu não vou apagar Annie da minha vida, mas não vou amá-la para sempre. Mais do que isso, eu não sou mais apaixonado por ela. É alguém que sempre fará parte dos meus pensamentos, mas não quero – ele pegou de novo minha mão – ficar preso a ela para sempre.
Eu puxei a mão que ele segurava para perto de meu corpo.
- Não me diga que eu me enganei. Ah, por favor, não me diga que seus ciúmes não tinham nada a ver com seus sentimentos por mim. Não me diga que você não está apaixonada por mim porquê... – os olhos dele brilhavam em desespero.
- Por quê? – eu insisti.
- Porque eu sim estou apaixonado por você. E sofri muito nesse ano, quando você resolveu me evitar.
- O que eu deveria fazer? Você tinha Annie.
- Como amiga.
- Como namorada.
- Antiga. Não mais. Ah, Diana, não diga que você não tem outros homens no seu passado. Namorados, paixões...
- E como eu sei que agora você prefere a mim?
- Porque eu estou lhe dizendo. Dizendo a verdade, a alegria de te ver, de ouvir sua voz, de sentir sua pele. – ele passou a mão pelo meu rosto.
Eu segurei a mão dele, chorando.
- Você está enganado.
- O quê? – ele também chorava.
- Você está enganado em dizer que tenho outros no meu passado. Porque – era difícil falar – eu nunca tinha me sentido assim antes.
Lupin se aproximou de mim e me beijou. Um beijo suave, doce, apaixonado, maravilhoso.
Remo...
Na minha cabeça, em alta velocidade, passaram todos os eventos desde que eu entrara para a Ordem, de trás para frente. Um ano de sofrimento, a luta contra os comensais, a gravidez de Lílian, Dumbledore me mandando de volta no tempo. Tempo!
- Não! – eu me afastei de Lupin.
- Qual é o problema? – ele estava assustado.
Qual era o problema? Qual era o problema? Eu iria abandoná-lo, eu iria sumir por 16 anos. Ele iria perder Lílian, Tiago, Sirius e Pettigrew. Ele iria sofrer e eu não estaria lá para ajudá-lo. Mais do que isso: eu seria culpada por parte dessa dor.
- Remo, eu... Me perdoe.
- Pelo quê?
- Me perdoe. – eu chorava ainda mais e fui me afastando, levantando da cadeira.
- Diana... O quê? – os olhos dele estavam molhados também.
- Eu te amo, Remo.
- Eu também te amo, Diana. Diana! Não vá embora, Diana!
Lupin se levantou para ir atrás de mim. Eu me virei para sair do bar, mas tropecei em alguma coisa e caí.
Era uma abóbora. De repente, como se alguém tivesse acendido as luzes do bar pela primeira vez, vi que o lugar todo estava enfeitado com elas.
Caída no chão, o desespero tomando conta de mim, eu olhei para Lupin, mas não deixei que ele me levantasse.
- Que dia é hoje? – perguntei quase gritando.
- Trinta e um de outubro. Halloween. – ele não entendia.
Halloween! Lílian e Tiago! Talvez Você-sabe-quem já estivesse na casa deles, ou indo para lá.
Eu não podia mudar o passado, mas não conseguia ficar parada sabendo que eles iriam morrer. Não ia me controlar, não ia esperar para receber a notícia por outros. Não!
Levantei segurando a mão de Lupin. Apertei-a contra meus lábios e disse:
- Espere por mim.
Ele me olhou sem saber o que fazer.
Eu saí correndo e bati a porta. Precisava chegar a Godric's Hollow. À casa dos Potter.
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N/A: IMPORTANTE: Vocês estão recebendo meus e-mails com as atualizações??? Eu tenho a impressão de que está dando erro... Está?
Isabelle: Em primeiro lugar: menina, você chamou o Snape de seboso? Ah, não... Não, não, não... Numa fic minha! Não pode! De jeito nenhum! Hehehe... cuidado ;)
E quanto a não deixar a Diana e o Lupin sofrerem, sinto muito. Acho que esse capítulo foi o mais sofrido para eles até agora. "Até agora", porque, pelo que vocês puderam perceber, no próximo, a Lílian e o Tiago... Bem... Vocês sabem... :(
Marcellinha: Sim, fics com a Lílian e o Tiago e seus últimos momentos são realmente tristes. Eu pensei bastante nisso quando resolvi escrever esta. Queria mostrar bem o quanto a morte deles significava dor.
Lily Dragon: Feia? Como assim feia??? Olha lá, hein... Ainda bem que você não me chamou de gorda, porque aí sim a coisa ia ficar ruim... Hehehe. E acalme-se, apesar de você ser fã do Remo (e eu também!), não pude resolver as coisas pra ele nesse capítulo... E a Annie... bem, ela não era, afinal, algo tão simples quanto uma irmã casada...
Aliás...
Alessa e Xianya: Mistério resolvido, aí está a Annie!
E Alessa: "Crono" é um radical grego cujo sentido é tempo. Ele aparece em palavras como, por exemplo, cronologia e cronômetro. Eu dei uma enfeitada no nome, mas usei por causa desse sentido mesmo, por causa do fio condutor da fic.
A TODAS: Obrigada pela leitura e pelas reviews! MUITO!
Grandes beijos e até o próximo capítulo!
